Universidade Federal do Paraná
Setor de Tecnologia
Depto de Engenharia Química
Prof. Dr. Mário José Dallavalli
BIOMATERIAIS E BIOMECÂNICA
TQ-064
Biomateriais Metálicos
PROPRIEDADES MECÂNICAS
Propriedades Mecânicas
de Metais
Como os metais são materiais estruturais, o
conhecimento de suas propriedades mecânicas
é fundamental para sua aplicação.
Um grande número de propriedades pode ser
derivado de um único tipo de experimento, o
teste de tração.
Neste tipo de teste um material é tracionado e se
deforma até fraturar. Mede-se o valor da força e
do elongamento a cada instante, e gera-se uma
curva tensão-deformação.
Curva Tensão-Deformação
Célula de Carga
Carga (103N)
100
50
0
0
Amostra
500
Tensão, (MPa)
Gage
Length
Tração
5
Normalização para
eliminar influência
da geometria da
amostra
250
0
1
2
3
4
Elongamento (mm)
0
0.02 0.04 0.05 0.08
Deformação, (mm/mm)
0.10
Curva Tensão-Deformação
(cont.)
Normalização
– = P/A0 onde P é a carga e A0 é a seção reta da amostra
– = (L-L0)/L0 onde L é o comprimento para uma dada carga e
L0 é o comprimento original
A curva pode ser dividida em duas regiões.
– Região elástica
é proporcional a => =EE=módulo de Young
A deformação é reversível.
Ligações atômicas são alongadas mas não se rompem.
– Região plástica
não é linearmente proporcional a .
A deformação é quase toda não reversível.
Ligações atômicas são alongadas e se rompem.
Curva Tensão-Deformação
(cont.)
Elástica
Tensão, (MPa)
500
Limite de escoamento
Plástica
250
fratura
0
0
0.02
0.04
0.05
0.08
Deformação, (mm/mm)
O Módulo de Young, E, (ou módulo de
elasticidade) é dado pela derivada da
curva na região linear.
0.002 0.004 0.005 0.008 0.010
Deformação, (mm/mm)
Como não existe um limite claro entre as regiões
elástica e plástica, define-se o Limite de
escoamento, como a tensão que, após liberada,
causa uma pequena deformação residual de
0.2%.
0.10
0
Cisalhamento
Uma tensão cisalhante causa uma deformação
cisalhante, de forma análoga a uma tração.
– Tensão cisalhante
= F/A0
onde A0 é a área paralela a
aplicação da força.
– Deformação cisalhante
= tan = y/z0
onde é o ângulo de
deformação
Módulo de cisalhamento G
= G
Coeficiente de Poisson
Quando ocorre elongamento ao longo de
uma direção, ocorre contração no plano
perpendicular.
A Relação entre as deformações é dada
pelo coeficiente de Poisson .
= - x / z = - y / z
– o sinal negativo apenas indica que uma
extensão gera uma contração e viceversa
– Os valores de para diversos metais
estão entre
0.25 e 0.35.
E = 2G(1+)
Estricção e limite de
resistência
Tensão,
Limite de
resistência
estricção
A partir do limite de
resistência começa a ocorrer
um estricção no corpo de
prova. A tensão se
concentra nesta região,
levando à fratura.
Deformação,
Ductilidade
Ductilidade é uma medida da extensão da
deformação que ocorre até a fratura.
Ductilidade pode ser definida como
– Elongamento percentual %EL = 100 x (Lf - L0)/L0
onde Lf é o elongamento na fratura
uma fração substancial da deformação se concentra na
estricção, o que faz com que %EL dependa do comprimento
do corpo de prova. Assim o valor de L0 deve ser citado.
– Redução de área percentual %AR = 100 x(A0 - Af)/A0
onde A0 e Af se referem à área da seção reta original e na
fratura.
Independente de A0 e L0 e em geral de EL%
Resiliência
Resiliência é a capacidade que o material possui de
absorver energia elástica sob tração e devolvê-la
quando relaxado.
– área sob a curva dada pelo limite de escoamento e
pela deformação no escoamento.
– Módulo de resiliência Ur = d com limites de 0 a
y
– Na região linear Ur =yy /2 =y(y /E)/2 = y2/2E
– Assim, materiais de alta resiliência possuem alto
limite de escoamento e baixo módulo de
elasticidade.
– Estes materiais seriam ideais para uso em molas.
Tenacidade
Tenacidade (toughness) é a capacidade que o material
possui de absorver energia mecânica até a fratura.
– área sob a curva até a fratura.
Frágil
Tensão,
Dúctil
O material frágil tem maior
limite de escoamento e maior
limite de resistência. No entanto,
tem menor tenacidade devido a
falta de ductilidade (a área sob a
curva correspondente é muito
menor).
Deformação,
Resumo da curva e
propriedades
– Região elástica (deformação reversível) e região plástica
(deformação quase toda irreversível).
– Módulo de Young ou módulo de elasticidade => derivada da
curva na região elástica (linear).
– Limite de escoamento (yield strength) => define a transição
entre região elástica e plástica => tensão que, liberada, gera
uma deformação residual de 0.2%.
– Limite de resistência (tensile strength) => tensão máxima
na curva de engenharia.
– Ductilidade => medida da deformabilidade do material
– Resiliência => medida da capacidade de absorver e devolver
energia mecânica => área sob a região linear.
– Tenacidade (toughness) => medida da capacidade de
absorver energia mecânica até a fratura=> área sob a curva
até a fratura.
A curva real
fratura
– A curva obtida experimentalmente é
denominada curva de engenharia.
Esta curva passa por um máximo de
tensão, parecendo indicar que, a partir
deste valor, o material se torna mais
fraco, o que não é verdade.
Isto, na verdade, é uma consequência
da estricção, que concentra o esforço
numa área menor.
– Pode-se corrigir este efeito levando em
conta a diminuição de área, gerando
assim a curva real.
curva real
curva de engenharia
fratura
Sistemas de deslizamento
(rev.)
Estrutura
Cristalin
a
Planos de
Deslizamento
Direções de
Deslizamento
Número de
Sistemas de
Deslizamento
CCC
{110}
{211}
{321}
<111>
6x2 = 12
12
24
-Fe, Mo,
W
CFC
{111}
<110>
4x3 = 12
Al, Cu,
-Fe, Ni
<1120>
3
3
6
Cd, Mg,
-Ti, Zn
HC
{0001}
{1010}
{1011}
Geometria da
Célula
Unitária
Exemplo
s
A tabela mostra os sistemas de deslizamento das 3 redes básicas. Em branco aparecem os
sistemas principais. Em cinza aparecem os secundários. Por exemplo: Como a rede CFC tem 4
vezes mais sistemas primários que a HC, ela será muito mais dúctil.
Deslizamento em monocristais
A aplicação de tração ou compressão uniaxais
trará componentes de cisalhamento em planos
e direções que não sejam paralelos ou normais
ao eixo de aplicação da tensão.
Isto explica a relação entre a curva e a
resposta mecânica de discordâncias, que só se
movem sob a aplicação de tensões
cisalhantes.
Para estabelecer numericamente a relação
entre tração (ou compressão) e tensão
cisalhante, deve-se projetar a tração (ou
compressão) no plano e direção de
deslizamento.
Tensão cisalhante resolvida
F
Plano de
deslizamento
Direção de
deslizamento
– O sistema de deslizamento
que sofrer a maior R, será
o primeiro a operar.
R = cos cos – A deformação plástica
começa a ocorrer quando a
onde
tração excede a tensão
= F/A
cisalhante resolvida
crítica (CRSS - critical
resolved shear stress).
F
Deformação plástica em materiais
policristalinos
A deformação em materiais policristalinos é mais
complexa porque diferentes grãos estarão
orientados diferentemente em relação a direção
de aplicação da tensão.
Além disso, os grãos estão unidos por fronteiras
de grão que se mantém íntegras, o que coloca
mais restrições a deformação de cada grão.
Materiais policristalinos são mais resistentes do
que seus mono-cristais, exigindo maiores
tensões para gerar deformação plástica.
Mecanismos de Aumento de
Resistência
A deformação plástica depende diretamente do
movimento das discordâncias. Quanto maior a
facilidade de movimento, menos resistente é o
material.
Para aumentar a resistência, procura-se
restringir o movimento das discordâncias. Os
mecanismos básicos para isso são:
– Redução de tamanho de grão
– Solução sólida
– Deformação a frio (encruamento, trabalho a
frio)
Redução de tamanho de grão
As fronteiras de grão funcionam como barreiras para o
movimento de discordâncias. Isto porque:
– Ao passar de um grão com uma certa orientação para outro
com orientação muito diferente (fronteiras de alto ângulo) a
discordância tem que mudar de direção, o que envolve
muitas distorções locais na rede cristalina.
– A fronteira é uma região desordenada, o que faz com que os
planos de deslizamento sofram descontinuidades.
Como um material com grãos menores tem mais fronteiras de
grão, ele será mais resistente.
Redução de tamanho de grão
(cont.)
Latão
(70Cu-30Zn)
d-1/2 (mm-1/2)
Limite de escoamento (MPa)
– onde 0 e ky são
constantes para um
dado material
d (mm)
Limite de escoamento (kpsi)
Para muitos materiais,
é possível encontrar
uma relação entre o
limite de escoamento,
y, e o tamanho médio
de grão, d.
y = 0 + kyd-1/2
Solução sólida
Liga Cu-Zn
Concentração de Zn (%)
Limite de resistência (MPa)
Limite de resistência (kpsi)
Nesta técnica, a presença de impurezas substitucionais ou
intersticiais leva a um aumento da resistência do material.
Metais ultra puros são sempre mais macios e fracos do que
suas ligas.
Deformação a frio
O aumento de resistência por deformação
mecânica (strain hardening) ocorre porque:
– o número de discordâncias aumenta com a
deformação
– isto causa maior interação entre as discordâncias
– o que, por sua vez, dificulta o movimento das
discordâncias, aumentando a resistência.
Como este tipo de deformação se dá a
temperaturas muito abaixo da temperatura de
fusão, costuma-se denominar este método
deformação a frio (cold work).
Deformação a frio (cont.)
%CW=100x(A0-Ad)/A0
Cobre
% Trabalho a frio (%CW)
Ductilidade (%EL)
Latão
Limite de escoamento (MPa)
Limite de escoamento (kpsi)
Aço 1040
Latão
Cobre
Aço
1040
% Trabalho a frio (%CW)
Recuperação e Recristalização
Como já vimos, a deformação plástica de materiais a
baixas temperaturas causa mudanças microestruturais e
de propriedades.
Estes efeitos podem ser revertidos, e as propriedades
restauradas, através de tratamentos térmicos a altas
temperaturas.
Os dois processos básicos para que isto ocorra são
– Recuperação - uma parte das deformações
acumuladas é eliminada através do movimento de
discordâncias, facilitado por maior difusão a altas
temperaturas.
– Recristalização - formação de novos grãos, não
deformados, que crescem até substituir
completamente o material original.
Crescimento de grão
Como os contornos de grão são regiões
deformadas do material, existe uma energia
mecânica associada a eles.
O crescimento de grãos ocorre porque desta
forma a área total de contornos se reduz,
reduzindo a energia mecânica associada.
No crescimento de grão, grãos grandes crescem
às expensas de grãos pequenos que diminuem.
Desta forma o tamanho médio de grão aumenta
com o tempo.
Crescimento de grão (cont.)
dn - d0n =Kt
– onde d0 é o diâmetro
original (t=0)
– K e n são constantes e
em geral n2
Diâmetro de grão (mm)
Para muitos materiais
poli-cristalinos vale a
seguinte relação para
o diâmetro médio de
grão d, em função do
tempo t.
Tempo (min)
Fim
Até a próxima aula