Carmela, a galinha que queria ver o mar Christian Jolibois escreveu Christian Heinrich ilustrou No poleiro, é o momento de as galinhas porem os ovos! Sob o olhar enternecido da mamã, as franguitas aplicam-se e entregam-se à tarefa de alma e coração. Apenas Carmela recusa pôr o seu ovo. - Pôr ovos, sempre pôr ovos! – protesta ela, levantando a crista. - Há coisas mais interessantes para fazer na vida! Carmela prefere ouvir Pedro, o albatroz, falar-lhe do mar. Pedro viajou muito! E embora ele seja um pouco inventor, Carmela adora as histórias maravilhosas que ele conta. “Um dia também irei ver o mar”, pensa ela. Uma tardinha, no momento de voltar ao poleiro para dormir, Carmela revolta-se: - Recuso deitar-me com as galinhas! Quero ir ver o mar! - Ir ver o mar? E já agora também aproveitas e vais viajar, não?! O pai de Carmela nunca tinha ouvido semelhante tolice. - Achas que eu viajo? - Ouve bem, Carmela, o mar não é um lugar adequado para uma franganita. Já para o ninho imediatamente! Naquela noite, Carmela não consegue dormir. De repente, não aguentando mais, levanta-se. - Está decidido, vou deixá-los! Vou-me embora ver o mar! Carmela olha uma última vez para o seu papá, para a sua mamã, irmãos, irmãs, primos, primas e deixa, sem barulho, o galinheiro. Corajosamente, Carmela sai de casa ainda de noite… Caminha tanto que depressa deixa de sentir as suas patinhas. Mas, de manhã, todo o seu esforço é recompensado. Chegada ao cimo de uma duna, ela vê enfim… … o mar! Carmela fica deslumbrada pelo maravilhoso espectáculo que os seus olhos vêem. - Que bonito! – exclama. – Ainda mais belo do que o Pedro me contou! Impressionada pelas ondas enormes, Carmela hesita em entrar na água. Começa por fazer castelos de areia, apanha conchas, prova camarões. Em seguida, deita-se ao mar. Bebe água sem querer, tosse, cospe, fica a boiar, nada, mergulha, escorrega e até faz chichi na água … E ri … A tarde aproxima-se e Carmela sonha em voltar para o galinheiro. Mas que aflição! A costa desapareceu! Impossível encontrar terra firme. - Papá! Mamã! – grita Carmela. Ninguém responde. Muito cansada, ela adormece na imensidão do oceano. De repente, Carmela acorda com uns gritos ensurdecedores: - Galinha! Galinha ao mar! Três navios formidáveis acabavam de aparecer. Três bonitas caravelas. É o grande Cristóvão Colombo em pessoa que se dirige ao Novo Mundo. De súbito, uma onda enorme projecta Carmela para o convés do Santa Maria. - Depenem esta ave e ponham-na a cozinhar! – ordena o capitão. Carmela recusa-se a ser comida! Narra então a sua incrível viagem para impressionar Cristóvão Colombo. - Chega! – disse, exaltado, o capitão. - Para a panela! - Espere, capitão – pediu Carmela. Um ovo! Prometo pôr um ovo fresco cada manhã para o seu pequeno-almoço. Será o ovo de Colombo. Carmela logo morde a língua! – Pôr um ovo? Eu nunca fiz isso! E a mamã que não está aqui para me ensinar como se faz! - Oh! Não deve ser assim tão complicado! E, sem hesitar, mete mãos à obra. - Já está! Consegui! Fácil! Pus um ovo! A bordo da caravela as semanas passam. Uma manhã, quando acaba de pôr o seu trigésimo primeiro ovo, Carmela avista uma praia e uma imensa floresta no horizonte. Ela acaba de descobrir a América. - Depressa! Tenho de encontrar um bom sítio para esgravatar! Há algumas semanas que sonho comer uma boa minhoca fresquinha! À sombra de grandes árvores, um jovem galo observa-a: - Olha-me esta! Uma franguinha toda branca! Carmela avança um pouco intimidada. - Bom-dia! Chamo-me Carmela … - Eu sou o Piticok … - Venho de um galinheiro distante, lá do outro lado do mar … - Não me digas! Vens de longe! - Como és vermelho Piticok! … - Como és linda, Carmela! Anda, vou apresentar-te aos meus pais. - Papá, mamã! Adivinhem quem vem jantar? Naquela noite, fez-se uma festa no galinheiro em honra de Carmela. -Piticok? Queria perguntar-te … Porque é que as galinhas do teu país não têm penas no rabo? - É o costume. Os índios utilizam as nossas penas mais bonitas para se embelezarem! - Vem comigo ao meu esconderijo secreto Carmela, ficaremos mais sossegados! - Que bom! Olha, posso comer estes bombons amarelos? - Não são bombons, é milho! Piticok quer saber tudo sobre Carmela. - Tens irmãos? Irmãs? Como é a tua casa? Carmela fala-lhe do seu velho galinheiro e o seu grande amigo Pedro, o albatroz. “Como é gira,” pensa Piticok. - Euh … Carmela … - Sim, Piticok … - Se quiseres, amanhã levo-te a visitar o meu país. E lá foram os dois sob a orientação de Piticok. Com o passar dos dias, descobrem que têm os mesmos gostos. Nunca foram tão felizes. - Piticok, ouves o tambor dos índios? - Não, é o meu coração que bate muito depressa por estares ao meu lado … Carmela e Piticok estão de volta ao galinheiro das galinhas vermelhas. Nunca mais se separaram. - Umm, olh’ós pombinhos …! O tempo passa depressa. Cristóvão Colombo manda içar as velas do seu navio. É hora de embarcar! Piticok ama tanto Carmela que decide partir com ela. Despede-se de toda a sua família. A mamã choraminga. - Criámos um filho, para depois nos abandonar. Depois de várias semanas, Piticok e Carmela chegam, por fim ao velho galinheiro. - Ei! Olhem quem está de volta! - É a Carmela! Carmela está de volta! - Mamã! - Minha filhinha! Deixame olhar para ti. Como cresceste! Tornaste-te numa verdadeira senhora. - E quem é este jovem galo tão encantador? - Chamo-me Piticok, senhor. - Bem-vindo ao nosso galinheiro, meu rapaz! Na Primavera seguinte, Carmela e Piticok assistem, muito emocionados, ao nascimento do primeiro filho, um lindo pintainho que eles decidiram chamar Carmelito. Alguns meses mais tarde … - Carmelito? É hora de entrar! - Já? Só mais um bocadinho, mamã, estou a ver as estrelas do céu a cintilarem na noite. - É hora de ir dormir! - Dormir, sempre dormir! Recuso deitar-me com as galinhas – protesta Carmelito. – Há coisas mais interessantes para fazer na vida. Fim Carmela, a galinha que queria ver o mar Texto de Christian Jolibois Ilustrações de Christian Heinrich Trabalho realizado por Carlos Samina Projecto de Desenvolvimento das BE/CRE’s das EB1 e JI do AVE de Palmela Ano Lectivo 2006/2007