ACERCA DA CONCEPÇÃO FREUDIANA DA ELEIÇÃO DO OBJETO DO AMOR, PELA PSICANÁLISE Kelone Ramos Martins Vidal Universidade Jhon F. Kennedy Maestria em Psicoanálisis Objetivo geral : Situar e discutir as definições da noção de objeto e sua importância na eleição do parceiro afetivo na teoria psicanalítica de Freud. Objeto Ligado a pulsão O objeto de amor esta intrinsecamente ligado ao complexo de Édipo que constitui uma das bases fundamentais da teoria e da clínica psicanalítica. A NOÇÃO DE OBJETO EM FREUD E SUA DIVERSIDADE Objektwahl (escolha de objeto), DeterminierungdesObjectwahl (determinação da escolha de objeto), IdentifizierungalsVorstufe der Objektwahl (identificação como grau elementar da escolha de objeto), infantileObjektwahl (escolha de objeto infantil), inzestuöseObjektwahl (escolha de objeto incestuosa), homossexueleObjektwahl (escolha de objeto homossexual), Anlehnungstypus der Objektwahl (escolha anaclítica de objeto),narzissistischeObjektwahl (escolha narcísica de objeto), Objektfindung (encontro do objeto), Objektbesetzung (investimento de objeto), Objekt-Libido (objeto de libido), Objekttriebe (objeto de pulsões), Objektliebe (objeto de amor), Objektwechsel (troca de objeto), Objektwerbung (recrutamento do objeto), Objektverlust (perda do objeto), e MutterbrustalserstesObjekt (seio materno como primeiro objetivo). (COELHO JR. 2001). “A psicanálise instituiu uma ruptura entre a ordem do humano e a ordem da natureza, de modo que o desejo humano pode ser concebido como irredutível ao desejo animal.” (GERPE 1998). Diana Rabinovich pontua os momentos das três perdas significativas de objeto que fazem parte da constituição da sexualidade humana ou do sujeito da sexualidade. Perda do objeto enquanto objeto da necessidade A perda do objeto enquanto real. Perda do objeto eleito ELEIÇÃO DO EBJETO Narcisista Anaclítica "Em um tempo em que o início da satisfação sexual ainda está vinculado ao recebimento de alimentos, a pulsão sexual encontra o objeto sexual fora do corpo da criança, na forma do seio materno"(FREUD, 1905/1972, p.125). "Existem, portanto, boas razões para que o ato de uma criança sugar o seio da mãe se torne o protótipo para toda relação de amor. Encontrar um objeto (die Objektfindung) é na realidade reencontrá-lo" (FREUD, 1905/1972, p.125-126). INTRODUÇÃO AO NARCISISMO (1914) A partir da via Narcísica: O que se é (a própria pessoa), O que se foi, O que gostaria de ser, Alguém que foi parte da própria pessoa. A partir da via Anaclítica: A mãe que alimenta, O pai que protege. Considerando também a sucessão de pessoas substitutivas que venham a ocupar seu lugar. (FREUD, 1914/1972, p. 56-57). DAS DING O Ding como o primeiro exterior, é em torno do que se orienta todo o encaminhamento do sujeito. Ainda que não seja representável, das Ding é aquilo em torno de que se constituirão todas as representações. É nessa irrepresentabilidade de das Ding, ou na morte da Coisa, que reside a possibilidade de representar, no sentido de tornar novamente presente algo que foi irremediavelmente perdido. Sem essa perda original, o que teríamos seriam apenas signos, e não significantes. (LEVATO, 2012) O que tem de inicial e primário nas ações e escolhas será sempre algo "interno" ao próprio sujeito, pode-se dizer então que faz referência ao próprio movimento pulsional. A escolha do objeto de amor parece, por vezes, pretender o retorno ao reino perdido das necessidades. É preciso investir no outro enquanto aquele que será um complemento narcísico, que possibilitará o retorno à mítica satisfação original. Mas aqui dois empecilhos já se colocam: em primeiro lugar, trata-se de uma escolha, de modo que o objeto está longe de ser necessário – foi eleito dentre um mundo de outros possíveis. Em segundo lugar, esse objeto já é efetivamente Outro, e não deixa de dar mostras dessa alteridade, destruindo gradativamente a ilusão de complementaridade narcísica, o que, via de regra, conduz à busca de novos objetos. (GERPE, 1998) INTRODUÇÃO AO NARCISISMO (1920) Diferenciação entre a escolha de objeto para o homem e para a mulher “Sobretudo nas mulheres belas nasce uma complacência delas para consigo mesmas, que as compensa das restrições impostas pela sociedade para que ela faça sua escolha de objeto. Tais mulheres só amam, na realidade a si mesmas, e com a mesma intensidade que o homem as amam. Não necessitam amar e sim ser amadas, e aceitam o homem que preenche esta condição”. (FREUD, 1920). INTRODUÇÃO AO NARCISISMO (1920) “Para as mulheres narcisistas e que permaneceram frias para com o homem, existe um caminho que as leva ao amor objetivado, sem abandonarem seu narcisismo. Este caminho é percorrido quando Tornam – se mães. E aprendem a amar seus filhos”. (1920) CONTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE ENTRE O OBJETO, O EGO E A IDENTIFICAÇÃO “Freud começa em partes a considerar o Ego como um precipitado de identificações, obtendo como modelo fundamental a figura paterna. As identificações ocorrem desde o inicio da vida, e vão preparando o caminho para o complexo de Édipo, considerado a pedra angular da constituição da subjetividade para o autor”. “Experiência após experiência os objetos vão sendo substituídos e o sucesso ou o fracasso nas substituições será determinante na formação de sintomas ou do equilíbrio e também das possibilidades criativas de cada sujeito, que irão refletir claramente na forma de cada qual levar sua vida.” A impossibilidade de substituição deste objeto é tratada em 1917, no texto Luto e Melancolia. “Fantasias e devaneios com relação ao finado objeto podem interferir no trabalho de luto e, em instâncias em que o objeto morto não pode ser apreciado realisticamente, o objeto continua a existir como um objeto introjetado inassimilável, com o qual conversações internas podem ser mantidas”. (POLLOCK, 1994, p.55) A ausência de um objeto externo caracteriza uma tensão, pois ainda é acompanhado da presença psíquica do objeto e isso é fonte de grande sofrimento. Para Freud, o objeto seria simultaneamente Empírico e Psíquico. O objeto constitui o sujeito assim como é necessário haver um sujeito para que o objeto passe a existir e ter um significado. Ou seja, sujeito e objeto são completamente interdependentes. A NOÇÃO DE OBJETO NA PSICANÁLISE FREUDIANA, E SUA POSSÍVEL ORDENAÇÃO O OBJETO DE PULSÃO Freud afirma que constitui-se como objeto da pulsão todo objeto no qual ou através do qual a pulsão consegue atingir seu alvo. O objeto é variável e indeterminado, mas é o que permite satisfação às pulsões. Não precisam ser objetos reais presentes, podem ser objetos fantasiados, o importante é que sejam objetos que garantam a satisfação. O OBJETO NO PAPEL DE ATRAÇÃO DE AMOR É através dos objetos de amor que Freud (1910/1972) elabora as passagens de fantasias infantis inconscientes para as experiências na vida real. Na infância, encontram-se objetos visados pelas pulsões parciais que efetuam seu papel para que na posteridade se atinja os objetos totais, visados pelo ego adulto. NOÇÃO DE OBJETO PARA O NARCISISMO A complexidade das relações entre as pulsões e seus objetos recoloca a questão sobre as formas de vinculação entre os objetos das pulsões sexuais e os objetos de necessidade, vinculados as pulsões de auto-conservação, ou seja, pai e mãe. OBJETO E IDENTIFICAÇÃO A importância dos objetos de identificação na constituição do sujeito, aparece principalmente a partir do texto Luto e Melancolia O objeto passa a ser considerado como elemento central na constituição da subjetividade. SUJEITO E OBJETO COMO SUPLEMENTARES A teoria freudiana parece considerar que de uma forma geral, o objeto está sempre ligado ao processo da história de vida do sujeito, ou seja, se o objeto é determinado por algo, não o é simplesmente por elementos constitucionais de cada sujeito, mas sim pela história de vida e fundamentalmente a história de vida infantil. Neste sentido, a chamada escolha de objeto, mais comumente encontrada na adolescência e na vida adulta, se não ocorre por acaso, também parece não ser concebida como completamente determinada, seja constitucionalmente, seja por uma decisão soberana da consciência ou do Ego. BIBLIOGRAFIA ABRAHAM. K. (1924) PsicoanáIisis clínico, Buenos Aires, EdicionesHormé, 1980. COELHO JUNIOR, N. E. "Inconsciente e percepção na psicanálise freudiana", Psicologia USP, v. 10. n. 1, 25-54, São Paulo, 1999 . FIGUEIREDO, L.C. "Psicanálise e Brasil: Considerações acerca do sintoma social brasileiro", in Psicanálise e colonização, SOUZA, E. A. (org.), Porto Alegre, Artes e Ofícios, 1999. "Uma lembrança infantil de Leonardo da Vinci", 1910, v. 10, p. 88-159. " Introdução ao Narcisismo", 1914, v. 3, p.37-68. "O inconsciente" , 1915, v. 3, p.119-174. "Luto e Melancolia", 1917, v. 3, p. 183-212. "O Ego e o Id", 1923, v. 3, p. 273-330. "O Fetichismo",1927, v. 3, p. 379-388. BIBLIOGRAFIA GREEN, A. "The intrapychic and intersubjective in psychoanalysis", The Psychoanalytic Quarterly, v. LXIX, n. 1 , 2000, p. 1-39. MEREA. C. "Os conceitos de objeto na obra de Freud", in Contribuições ao conceito de objeto em psicanálise, BARANGER, W. (org.), São Paulo, Casa do Psicólogo, 1994, p.118. MERLEAU-PONTY, M. Phénoménologie de la perception, Paris, Gallimard, 1945.[ Links ] Le visible etl'invisible, Paris, Gallimard, 1964. POLLOCK, G. H. "Mourning and adaptation", in Essential papers on .object loss, FRANKIEL, R. (org.), Nova York, New York University Press, 1994