Língua Portuguesa
1.
Analise a tira apresentada para responder à questão a seguir.
Allan Sieber. Folha de S. Paulo, 25/9/2005.
A referência ao escritor maldito, presente no último quadrinho, pode ser relacionada a um período literário que, da Alemanha
e da França, no século XIX, espalhou-se por todo o ocidente, tendo representado no Brasil o fim da literatura colonial e o
início do período nacional da nossa literatura. Assinale a alternativa em que se encontram o nome desse estilo de época e
o de um de seus mais significativos autores no Brasil.
a)Barroco, levando-se em conta, principalmente, os textos conceptistas do Padre Antônio Vieira.
b)Romantismo, sobretudo se forem considerados os autores da poesia do mal do século, por exemplo, Álvares de Azevedo.
c)Naturalismo, na medida em que se considera o uso, na literatura, do determinismo ambiental para caracterizar ambientes decadentes descritos nas obras de autores como Aluísio Azevedo.
d)Parnasianismo, pois foi um movimento rechaçado pelos modernistas que o consideravam alienado e por demais preso
aos rigores técnicos da poesia clássica.
e)Modernismo, movimento que rompia com o passado artístico e pregava a liberdade total de expressão, como se pode
observar na obra de Oswald de Andrade.
2.
Leia os fragmentos a seguir, retirados da obra Vidas secas, de Graciliano Ramos.
Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas
manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia
inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente
andavam pouco, mas como haviam repousado bastante
na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas.
Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos
juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da
caatinga rala.
Arrastaram-se para lá, devagar, Sinhá Vitória com o
filho mais novo escanchado no quarto e o baú de folha na
cabeça; Fabiano sombrio, cambaio, o aió a tiracolo, a cuia
pendurada numa correia presa ao cinturão, a espingarda
de pederneira no ombro. O menino mais velho e a cachorra
Baleia iam atrás.
(...)
A caatinga estendia-se, de um vermelho indeciso,
salpicado de manchas brancas que eram ossadas. O vôo
negro dos urubus fazia círculos altos em redor de bichos
moribundos.
– Anda, excomungado.
O pirralho não se mexeu, e Fabiano desejou matá-lo.
Tinha o coração grosso, queria responsabilizar alguém pela
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sua desgraça. A seca parecia-lhe como um fato necessário
— e a obstinação da criança irritava-o. Certamente esse
obstáculo miúdo não era culpado, mas dificultava a marcha,
e o vaqueiro precisava chegar, não sabia onde.
Tinham deixado os caminhos, cheios de espinhos e
seixos, fazia horas que pisavam a margem do rio, a lama
seca e rachada que escaldava os pés.
Pelo espírito atribulado do sertanejo passou a ideia
de abandonar o filho naquele descampado. Pensou nos
urubus, nas ossadas, coçou a barba ruiva e suja, irresoluto, examinou os arredores. Sinhá Vitória estirou o beiço
indicando vagamente uma direção e afirmou com alguns
sons guturais que estavam perto. Fabiano meteu a faca
na bainha, guardou-a no cinturão, acocorou-se, pegou no
pulso do menino, que se encolhia, os joelhos encostados ao
estômago, frio como um defunto. Aí a cólera desapareceu
e Fabiano teve pena. Impossível abandonar o anjinho aos
bichos do mato. Entregou a espingarda a Sinhá Vitória, pôs
o filho no cangote, levantou-se, agarrou os bracinhos que
lhe caíam sobre o peito, moles, finos como cambitos. Sinhá
Vitória aprovou esse arranjo, lançou de novo a interjeição
gutural, designou os juazeiros invisíveis.
1
O estilo de Graciliano Ramos, somado à temática do livro
Vidas secas, fez resultar um texto claro, direto e denotativo,
parecido com textos produzidos pelos realistas do século
XIX; no entanto, apesar disso, é possível identificarmos
algumas conotações no fragmento lido anteriormente.
Após análise, marque o item em que o trecho é puramente
denotativo.
a)“...os juazeiros alargavam duas manchas verdes.”
b)“O vôo negro dos urubus...”
c)“Tinha o coração grosso...”
d)“...e o vaqueiro precisava chegar, não sabia onde.”
e)“Impossível abandonar o anjinho aos bichos do mato.”
3.
As tirinhas fazem uso da união harmônica entre linguagem
verbal e linguagem não verbal. Por meio dessa junção, os
desenhistas conseguem o humor característico desse estilo.
A partir dessa afirmação e da análise das tiras a seguir, da
autoria de Fernando Gonsales, assinale o que for correto.
5 tuguês, que me ensinou a fazer análise lógica e gramatical
10
15
20
25
Texto I
30
Texto II
35
40
a)As palavras “barata” (3o quadrinho) e “prende” foram
empregadas em sentido ambíguo.
b)Em histórias curtas como essas, o uso intenso de verbos agiliza a ação, tanto que todos os quadrinhos que
têm fala de personagens apresentam explicitamente
alguma forma verbal.
c)Fica evidente a semelhança entre a personagem rabugenta da primeira tira e o homem da segunda.
d)O humor das duas tirinhas só se evidencia pela presença de uma baratinha letrada e viciada em naftalina.
e)Nas duas tiras, as imagens são dispensáveis para o
entendimento do texto.
4.
Leia o texto a seguir para responder à questão.
1
2
Alguém fala errado?
Sei muito bem que, de acordo com a linguística moderna, não existem o certo e o errado no uso do idioma
nacional, ou melhor, não existe o errado, o que significa
que tudo está certo e que minha antiga professora do por-
45
das proposições em língua portuguesa, era uma louca, uma
vez que a língua não tem lógica como ela supunha e a gramática é de fato um instrumento de repressão; perdeu seu
tempo, dona Rosinha, ensinando-me que o verbo concorda
com o sujeito, e os adjetivos com os substantivos, como
também concordam com estes artigos, ou seja, que não
se deve dizer dois dúzias de ovos, uma vez que dúzia é
palavra feminina, donde ter que dizer “dois dúzias de ovos”,
o que era, como sei agora, um ensinamento errôneo ou,
no máximo, correto apenas naquela época, pois hoje ouço
na televisão e leio nos jornais “as 6 milhões de pessoas”,
construção indiscutivelmente correta hoje, quando os
artigos não têm mais que concordar com os substantivos
e tampouco com o verbo, como me ensinara ela, pois me
corrigia quando eu dizia “ele foi um dos que fez barulho”,
afirmando que eu deveria dizer “um dos que fizeram barulho”, e me explicava que era como se dissesse “foi um
dos três que fizeram barulho”, explicação antiquada, do
mesmo modo que aquela referente à regência dos verbos
e que eu, burroide, entendi como certa quando, na verdade, o certo não é, por exemplo, dizer “a comida de que
ela necessita” ou “o problema de que falou o presidente”,
e sim, “o problema que falou o presidente”, frase que, no
meu antiquado entendimento, resulta estranha, pois parece
dizer não que o presidente falou do problema, mas que o
problema falou do presidente, donde se conclui que sou
realmente um sujeito maluco, que já está até ouvindo
“vozes” e, além de maluco, fora de moda, porque não se
conforma com o fato de terem praticamente eliminado de
nossa língua as palavras “este” e “esta”, que foram substituídas por “esse” e “essa”, pois sem nenhuma dúvida é
uma tolice querer que o locutor de televisão, referindo-se
à noite em que fala, diga “no programa dessa noite”, que,
dentro do critério de que o errado é certo, está certíssimo,
ao contrário do que exige minha birra, culpa da professora
Rosinha, por ter insistido em nos convencer de que “este”
designa algo que está perto de mim, “esse”, algo que
está perto de você e “aquele”, o que está longe dos dois,
e ainda a minha teimosia em achar que essas palavras
correspondem a situações reais da vida, não são meras
invenções de gramáticos; (...)
GULLAR, Ferreira. Folha de S. Paulo, 25/9/2005.
Nas linhas 7 e 8, ainda que ironicamente, Ferreira Gullar
diz: “...a gramática é de fato um instrumento de repressão...”. Essa afirmação se deve ao fato de que:
a)as normas gramaticais, inúmeras e muitas delas bastante rigorosas, oprimem os usuários da língua portuguesa.
b)só os professores de português têm real domínio sobre as regras gramaticais.
c)no tempo em que o autor fez o curso secundário, o
ensino era mesmo rigoroso.
d)o autor relacionou o ensino da gramática à “loucura”
de sua professora.
e)a língua pátria é aprendida, inicialmente, de forma
aleatória, por isso se torna difícil.
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5.
Leia e analise a peça publicitária a seguir para responder
à questão.
6.
A obra Vidas secas, publicada em 1938, segue a tendência
do romance regionalista da segunda geração modernista e
utiliza uma linguagem seca e enxuta, tipicamente nordestina. O espaço da narrativa é o sertão nordestino. Assinale
a alternativa em que não se verifica a temática da obra
nas telas reproduzidas.
a)
Clóvis Graciano
b)
Folha de S. Paulo, 17/9/2005
No contexto formado pela imagem e pelos dois primeiros
períodos do texto da peça publicitária, ocorrem, intencionalmente, duas ambiguidades. Aponte a alternativa que
as localiza devidamente.
a)Nas expressões “+ 1 amigo” e “por R$ 2,90”.
b)Na pulseira sobre a cabeça da menina e na expressão “Apae de São Paulo”.
c)Nas expressões “alguém muito especial” e “por
R$ 2,90”.
d)Na pulseira sobre a cabeça da menina e na expressão “alguém muito especial”.
e)Nas expressões “Guia da Apae” e “+ 1 amigo”.
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Fulvio Pennacchi
3
7.
c)
Sérgio Jorge
d)
(...) havia no Lobo Neves certa dignidade fundamental, uma camada de rocha que resistia ao comércio dos
homens. As outras, as camadas de cima, terra solta e
areia, levou-lhe a vida, que é enxurro perpétuo. Se o leitor
ainda se lembra do capítulo XXIII, observará que é agora
a Segunda vez que eu comparo a vida e um enxurro; mas
também há de reparar que desta vez acrescento-lhe um
adjetivo – perpétuo. E deus sabe a força de um adjetivo,
principalmente em países novos e cálidos.
Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis,
obra publicada em 1881, apresenta traços de modernidade, que a fazem antecipadora da narrativa do século XX.
Assinale a alternativa em que se enuncia um elemento do
texto que não se caracterize como fator gerador dessa
modernidade.
a)A reflexão crítica do narrador sobre o seu próprio
discurso.
b)A prática da narração com um processo de autorrevisão.
c)O uso constante de comparações.
d)O estímulo à participação do leitor na dinâmica da
composição da obra.
e)A paródia, como no último período, aos lugares-comuns da eloquência brasileira.
8.
Leia aspassagens abaixo, extraídas de Sentimento do
mundo, de Carlos Drummond de Andrade.
I.
Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
“Sentimento do mundo”
Cândido Portinari
e)
II.
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói.
“Confidência do itabirano”
III.
Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto de me contar.
Por isso me dispo, por isso grito,
por isso frequento os jornais, me expondo cruamente
[nas livrarias
preciso de todos.
“Mundo grande”
Pablo Picasso
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IV. Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum
[exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes de calor e frio, falta dinheiro, fome e desejo
[sexual.
10.
Velho tema
Só a leve esperança, em toda a vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada;
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.
“Elegia 1938”
V. Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista
[da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por
[serafins.
“Mãos dadas”
Apesar do tom intimista e quase confessional da poesia de
Carlos Drummond de Andrade, podemos encontrar alguns
traços em que se desenvolve certa experiência histórica.
Assinale a alternativa em que as três passagens ilustram
a vivência das transformações sociais e econômicas por
parte do sujeito lírico.
a)I, III e IV.
b)I, III e V.
c)II, III e V.
d)II, III e IV.
e)I, II e IV.
9.
Professor e alunos trafegam de carro pela Av. Ceará quando,
nas proximidades do Cine João Paulo, se deparam com uma
placa fixada na parede de uma casa, com os dizeres:
Dá-se aulas de português.
Então um dos alunos indaga:
— E aí, mestre, o que dizer da placa?
E o professor:
— Eis uma das razões por que os alunos não aprendem
gramática.
A resposta do professor deveu-se ao fato de a placa conter
um inaceitável erro de:
a)acentuação.
b)colocação.
c)concordância.
d)regência.
e)ortografia.
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O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.
Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa, que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,
Existe, sim: mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.
Vicente de Carvalho
Qual dos provérbios abaixo possui íntima relação com o
texto?
a)Quem corre, cansa; quem anda, alcança.
b)Quem foi rei nunca perde a majestade.
c)A esperança é a última que morre.
d)Quanto maior a nau, maior a tormenta.
e)Quem ama o feio, bonito lhe parece.
11.
Leia com atenção o texto e, a seguir, marque a alternativa
que melhor identifica as funções da linguagem que nele
ocorrem.
O menu é uma lista das seleções disponíveis. Este
celular possui 9 menus principais. Cada um contém vários
submenus que lhe permitem usar a agenda, trocar o tom do
toque, e assim por diante. Use os menus e os submenus
de duas maneiras: percorra a lista ou utilize atalhos.
Extraído de um Manual do usuário de celular.
a)Referencial / conativa
b)Metalinguística / conativa
c)Referencial / metalinguística / fática
d)Emotiva / conativa
e)Metalinguística / referencial / conativa
5
12.
Lágrimas de crocodilo
Lágrimas de crocodilo é uma expressão bastante conhecida. O crocodilo quando ingere um alimento faz forte pressão
contra o céu da boca, comprimindo as glândulas lacrimais. Assim, ele “chora” enquanto devora uma vítima.
Marcelo Duarte. Guia dos curiosos, 2003.
Observa-se que:
I. Para explicar o sentido da “lágrimas de crocodilo”, o texto faz uso de uma linguagem conotativa, comum aos
dicionários.
II. A função metalinguística da linguagem predomina no texto, visto que há uma intenção de deixar claro ao leitor o significado
da expressão “lágimas de crocodilo”.
III. As lágrimas de crocodilo são sinceras, pois são resultantes de forte dor no céu da boca do animal.
Pode-se afirmar que:
a)todas as proposições estão corretas.
b)I e II estão corretas.
c)apenas I está correta.
d)apenas II está correta.
e)II e III estão corretas.
13.
Analise as charges para responder à questão.
Texto 1
Texto 2
www.charges.com
www.charges.com
Considere apenas uma alternativa incorreta com base nos textos 1 e 2.
a)A expressão “grande coisa” refere-se às palavras: sequestrador, traficante e assaltante (texto 1).
b)No texto 2, a palavra “ladrão” está relacionada às características dos governantes, enquanto que “chefe de quadrilha”
está ligado à bandidagem.
c)No texto 1, a fala entre os garotos sugere uma inversão de valores sociais.
d)Os textos 1 e 2 apontam que determinados cargos governamentais, como deputado, prefeito e governador, perderam
seu valor no contexto social e estão equiparados a criminosos comuns: ladrões, assaltantes de bancos e traficantes,
por exemplo.
e)Nos textos 1 e 2, a qualificação atribuída aos governantes pode ser entendida como um reflexo do comportamento
deles na atualidade. Isso se deve, provavelmente, aos diversos escândalos que surgem em Brasília.
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14.
Leia atentamente o trecho de uma música de Caetano Veloso e, em seguida, assinale a alternativa correta.
Um amor assim delicado
Você pega e despreza
Não o devia ter desprezado
Ajoelha e não reza
Dessa coisa que mete medo
Pela sua grandeza
Não sou o único culpado
Disso eu tenho a certeza
Princesa
Surpresa
Você me arrasou
Serpente
Nem sente que me envenenou
Senhora, e agora
Me diga onde eu vou
Senhora
Serpente
Princesa
(...)
a)O texto remete ao lirismo trovadoresco presente nas cantigas de amigo.
b)O texto apresenta uma clara postura de vassalagem amorosa.
c)O texto é moderno, com referência clara às raízes da poesia palaciana.
d)A presença do vocativo Senhora remete ao amor platônico, típico do período feudal.
e)O homem posiciona-se como um herói perante a mulher amada.
15.
16.
A polissemia é um recurso expressivo que consiste em
utilizar palavras que possam ter mais de um significado
no contexto em que foram utilizadas. Assinale a alternativa
que não apresenta esse recurso.
a)Tá na cara que ela fez a escolha certa. Consultou um
dermatologista.
b)Coisa fina! DVD Ultra-slim da Toshiba. Apenas 3,9 cm
de altura.
c)Chegou a nova Chevrolet S10 Sertões. Essa vai longe.
d)Chegou Stilo Connect. O primeiro carro nacional que
faz ligações usando apenas o comando de voz.
e)Novas suítes da Maternidade São Luiz. Para quem
tem o rei na barriga.
17.
Leia atentamente os dois excertos a seguir e responda à
questão.
Texto I
Quando ouvimos a fala de alguém, principalmente se
se trata de pessoa diferente de nós (mais pobre, mais ignorante, ed outra região do país), certamente perceberemos
em sua fala algumas características que nos chamam a
atenção. A algumas dessas características estamos acostumados a chamar de erro.
POSSENTI, Sírio. Ilustrada, 10/7/2006.
Pode-se afirmar que a intenção mais evidente da autora
é:
a)analisar, em profundidade, a psicologia feminina.
b)apontar, de forma bem humorada, os pontos fracos
femininos.
c)caracterizar, de forma irônica, as mulheres inseguras.
d)demonstrar, racionalmente, a confusão mental feminina.
e)comparar, criticamente, os comportamentos femininos.
Texto II
(...)
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada.(...)
BANDEIRA, Manuel. Libertinagem. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.
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7
Os dois textos abordam o emprego da língua no registro
cotidiano. Assinale a afirmação incorreta a respeito de
seu conteúdo.
a)No texto I, implicitamente, interpreta-se como discriminação o que costumamos chamar de erro.
b)O texto II enfoca a espontaneidade da “língua do povo” e denuncia o preconceito e o desapreço às formas
populares de expressão.
c)No texto II, o verso “Porque ele é que fala gostoso o
português do Brasil” focaliza o aspecto da oralidade
na comunicação.
d)Há, em ambos os textos, um zelo purista com o uso
da língua portuguesa, que se junta a um protesto
contra o descaso de muitos falantes.
e)Os textos mostram que não há “erro” na fala, mas
“diferença” em relação a padrões sociais, culturais ou
regionais a que estamos ligados.
18.
Leia o poema Itabira, de Carlos Drummond de Andrade,
para responder à questão.
Cada um de nós tem seu pedaço no pico do Cauê.
Na cidade toda de ferro.
As ferramentas batem como sinos.
Os meninos seguem para a escola.
Os homens olham para o chão.
Os ingleses compram a mina.
Só, na porta da venda, Tutu caramujo cisma na
[derrota incomparável.
...e numa mistura de gíria comum com dialetos usados
por funqueiros, surfistas, malandros, policiais e caubóis:
Aí, Zé Mané, pra não afrouxar e dar o prego, se liga
na fita, que você pode ser um macaco velho; mas não vai
viajar na maionese, saca que, por mais que você se toque,
mói faiado a xavecar pra ver a paina voar. QSL.
Folha de S. Paulo. “Sinapse”, 24/6/2003.
Assinale a alternativa que melhor sintetiza a relação entre
o título e o texto.
a)Sempre há um código linguístico observado pelos
falantes em dada situação.
b)Existe uma dificuldade da língua portuguesa entre
Brasil e Portugal, devida à histórica diversidade Brasil-Portugal.
c)Os “dialetos” dos malandros, policiais e caubóis demonstram uma tendência mundial da linguagem: a simplificação estrutural e a facilidade de comunicação.
d)As variações linguísticas são grandes, quando levadas em conta as diferentes identidades socioculturais
dos falantes em contextos históricos distintos.
e)As variações linguísticas, embora significativas, não
afetam a compreensão.
20.
Assinale a afirmação inadequada acerca das obras
abaixo.
A crítica de caráter político encontrada no texto de Drummond está expressa no verso:
a)Cada um de nós tem seu pedaço no pico do Cauê.
b)As ferraduras batem como sinos.
c)Os ingleses compram a mina.
d)Na cidade toda de ferro.
e)Os meninos seguem para a escola.
19.
Torre de Babel
Para não arrefecerdes, imaginai que podeis vir a saber
tudo; para não presumirdes, refleti que, por muito que souberdes, mui pouco tereis chegado a saber. (Rui Barbosa).
A frase de Rui Barbosa (1849-1923) que inspira a brincadeira a seguir é um alerta contra a soberba, embora soe,
hoje, como afetação linguística. Foi retirada do “Discurso
no Colégio Anchieta, Palavras à Juventude” (1903). Confira
como ficaria a mesma frase...
...no economês:
Para não gerar uma crise de confiabilidade, aplique o
modelo segundo o qual é possível estocar todo o conhecimento hoje em circulação; mas controle as expectativas,
porque, por mais alto que seja o índice de sabedoria,
sempre existirão demandas não atendidas.
8
a)O primeiro quadro, de Leonardo da Vinci, é uma obra
exponencial do Renascimento italiano.
b)O segundo quadro é uma paródia, uma brincadeira
que remete à obra de Leonardo da Vinci, e possui
flagrante caráter crítico.
c)O primeiro quadro prima pela riqueza de detalhes,
pelo jogo do claro e do escuro, características marcantes da escola renascentista.
d)O segundo quadro insere-se na estética contemporânea, em que a liberdade formal e crítica impera.
e)Os dois quadros são ícones de movimentos estético-culturais, notadamente o segundo, uma das obras
mais valiosas do modernismo brasileiro.
COC Simulado ENEM 2009
21.
d)o conjunto organizado de movimentos do corpo, com
ritmo determinado por instrumentos musicais, ruídos,
cantos, emoções etc.
e) o movimento diretamente ligado ao psiquismo do indivíduo e, por consequência, ao seu desenvolvimento
intelectual e à sua cultura.
Laerte. Folha de S. Paulo.
O tom humorístico dos quadrinhos deve-se essencialmente
ao fato de:
a)Messias conhecer mais sobre a vida do que o próprio
pai.
b)o pai de Messias se recusar a falar sobre o que é a
vida.
c)a palavra “vida” ter sido usada pelo pai com valor
semântico diferente daquele entendido por Messias.
d)a palavra “discussão” não ter o menor cabimento e
ser empregada de forma incorreta.
e)a palavra “vida”, na visão do pai, corresponder aos
corações no videogame, enquanto, para Messias,
corresponde ao valor filosófico da existência.
22.
A dança e a alma
A dança? Não é movimento,
súbito gesto musical.
É concentração, num momento,
da humana graça natural.
No solo não, no éter pairamos,
nele amaríamos ficar.
A dança – não vento nos ramos:
seiva, força, perene estar.
Um estar entre céu e chão
novo domínio conquistado,
onde busque nossa paixão
libertar-se por todo lado...
Onde a alma possa descrever
suas mais divinas parábolas
sem fugir à forma do ser,
por sobre o mistério das fábulas.
Carlos Drummond de Andrade. Obra completa.
Rio de Janeiro: Aguilar, 1964, p. 366.
A definição de dança, em linguagem de dicionário, que mais
se aproxima do que está expresso no poema é:
a)a mais antiga das artes, sevindo como elemento de
comunicação e afirmação do homem em todos os
momentos de sua existência.
b)a forma de expressão corporal que ultrapassa os limites físicos, possibilitando ao homem a liberação de
seu espírito.
c)a manifestação do ser humano, formada por uma
sequência de gestos, passos e movimentos desconcertados.
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23.
— Falar português não é difícil – me diz um francês residente no Brasil –, o diabo é que, mal consigo aprender, a
língua portuguesa já ficou diferente. Está sempre mudando.
E como! No Brasil, as palavras envelhecem e caem como
folhas secas. Ainda bem a gente não conseguiu aprender
uma nova expressão, já vem o pessoal com outra.
Não é somente pela gíria que a gente é apanhado.
(Aliás, já não se usa mais a primeira pessoa, tanto do singular como do plural: tudo é ‘a gente’.) A própria linguagem
corrente vai-se renovando, e a cada dia uma parte do léxico
cai em desuso. É preciso ficar atento, para não continuar
usando palavras que já morreram, vocabulário de velho
que só velho entende.
Os que falariam ainda em cinematógrafo, auto-ônibus,
aeroplano, estes também já morreram e não sabem. Mas
uma amiga minha, que vive preocupada com este assunto,
me chama a atenção para os que falam assim:
— Assisti a uma fita de cinema com um artista que
representa muito bem.
Os que acharem natural esta frase, cuidado! Não saberão dizer que viram um filme com um ator que trabalha
bem. E irão ao banho de mar em vez de ir à praia, vestidos
de roupa de banho em vez de calção ou biquíni, carregando
guarda-sol em vez de barraca. Comprarão um automóvel
em vez de comprar um carro, pegarão um defluxo em vez
de um resfriado, vão andar no passeio em vez de passear na calçada e percorrer um quarteirão em vez de uma
quadra. Viajarão de trem de ferro acompanhados de sua
esposa ou sua senhora em vez de sua mulher.
A lista poderia ser enorme, mas vou ficando por aqui,
pois entre escrever e publicar há tempo suficiente para que
tudo que eu disser caia em desuso – é dito e feito.
Fernando Sabino. Folha de S. Paulo, 13/4/1984.
Está em consonância com o texto a seguinte ideia:
a)a dificuldade identificada na língua portuguesa é consequência do uso corrente de palavras e expressões
que já caíram em desuso.
b)o uso de palavras como ‘cinematógrafo’, ‘auto-ônibus’, ‘aeroplano’, dentre outras, revela, no Brasil de
hoje, um esforço de adequação cultural.
c)a instabilidade do vocabulário, verificada na língua
portuguesa, decorre da introdução, nessa língua, de
uma grande quantidade de gírias.
d)a língua com que as pessoas se comunicam cotidianamente preserva suas formas de uso, a fim de
possibilitar a intercomunicação social.
e)devemos atentar para as novas palavras que são
introduzidas na língua a todo momento; do contrário
podemos ser incompreendidos.
9
24.
Em português, há casos em que as normas gramaticais
permitem flexibilidade no que se refere à concordância
verbal. Indique qual dos enunciados permite flexibilidade
quanto ao uso singular ou plural da forma verbal.
a)A maior parte das notícias são veiculadas de maneira
responsável e inteligente.
b)Cada uma das notícias divulgadas precisam ser profundamente investigadas.
c)Na imprensa nacional e internacional, devem haver
informações manipuladas e falseadas.
d)Nenhuma das agências publicitárias estão isentas da
responsabilidade social e ética.
e)O resultado das últimas pesquisas mostraram que o
jornalismo é bastante respeitado pela sociedade.
25.
Desenho desanimado
A Organização das Nações Unidas gravou todos os
dias, durante uma semana, em agosto deste ano, os supostamente inocentes desenhos animados transmitidos
na televisão brasileira. O objetivo era medir a quantidade
de violência destilada para as crianças.
Analisados todos os desenhos de seis emissoras de
canal aberto, os pesquisadores coletaram uma montanha
de 196 fitas, somando 1.667 horas.
Cada cena foi catalogada, a partir de determinado
tipo de violência, envolvendo de assalto a estupro, numa
investigação acompanhada por sociólogos, juristas e
educadores.
Concluído na sexta-feira passada, o levantamento detectou um total de 1.432 crimes durante aquela semana.
Uma criança que assista a duas horas diárias de desenho animado (o que já está subestimado) será exposta a
40 cenas de violência. Num mês, a estatística sobe para
1.200; num ano, 14.400.
Dos tipos de violência, está em primeiro lugar a lesão
corporal (57%) e, em segundo, o homicídio (30%).
Notem que a pesquisa se limita aos desenhos, nem
sequer estamos falando dos filmes ou dos programas de
auditório, onde a baixaria é o ponto alto.
Até que ponto essa pancadaria influencia o comportamento dos telespectadores?
Ao decidir coletar esses dados, o Ilanud, entidade da
ONU dedicada a prevenir a violência, está atrás de uma
resposta para essa questão.
É fato que a violência está disseminada nos meios
de comunicação – e o desenho animado é apenas um
pálido sinal.
Mas é motivo de intensa polêmica até onde esse bombardeio determina a atitude.
“Temos sólidas suspeitas de que uma programação
violenta reforça atitudes antissociais, especialmente em
ambientes mais conturbados”, afirma o sociólogo Túlio
Khan, responsável pela metodologia da pesquisa.
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Os pesquisadores da ONU perceberam um detalhe dos
desenhos animados que reforça um dos males nacionais:
a impunidade.
A justiça dos cartoons é na base do “olho por olho” e
não existe punição ao delito.
Tolice imaginar que vamos melhorar o comportamento
agressivo da população apenas com mudanças nos meios
de comunicação – como é tolice imaginar que vai se mudar
a segurança sem passar pelos meios de comunicação.
Gilberto Dimenstein. “Cotidiano”, Folha de S. Paulo, 25/10/1998. Adaptado.
É possível distinguir, no texto, os seguintes recursos na
estruturação das informações:
1. relato dos detalhes da pesquisa;
2. comentários das pessoas envolvidas na pesquisa;
3. comentários do autor de “Desenho desanimado”.
Numere os segmentos a seguir, de acordo com esses
recursos.
( ) “(…) detectou um total de 1.432 crimes (…)”
( ) “Notem que a pesquisa se limita aos desenhos...”
( ) “Temos sólidas suspeitas de que uma programação
violenta reforça atitudes antissociais (…)”
( ) “É fato que a violência está disseminada nos meios
de comunicação...”
( ) “Tolice imaginar que vamos melhorar o comportamento
agressivo da população apenas com mudanças nos
meios de comunicação...”
A sequência correta é:
a)1 – 3 – 2 – 3 – 3.
d) 3 – 2 – 1 – 3 – 3.
b)2 – 3 – 1 – 2 – 2.
e) 3 – 2 – 2 – 1 – 1.
c)1 – 2 – 3 – 3 – 2.
26.
Texto 1
Capítulo CVII (em que se declara que bicho é o que
se chama preguiça):
‘‘Nestes matos se cria um animal mui estranho, a que
os índios chamam ‘‘aí’’, e os portugueses preguiça, nome
certo mui acomodado a este animal, pois não há fome,
calma, frio, água, fogo, nem outro perigo que veja diante,
que o faça mover uma hora mais que outra; (...) e são
estes animais tão vagarosos que posto um ao pé de uma
árvore, não chega ao meio dela desde pela manhã até as
vésperas.’’
Gabriel S. de Sousa. Tratado descritivo do Brasil, 1587.
Texto 2
Festa da raça
Hu certo animal se acha também nestas partes
A que chamam Preguiça
Tem hua guedelha grande no toutiço
E se move com passos tam vagorosos
Que ainda que ande quinze dias aturado
Não vencerá a distância de hu tiro de pedra
Oswald de Andrade. Poesias reunidas.
COC Simulado ENEM 2009
Sobre os textos 1 e 2, qual alternativa é incorreta?
a)O texto de Gabriel de Sousa utiliza o recurso da comparação para dar conta da realidade com que se defronta na terra
ultramarina e transmiti-la aos europeus.
b)O poema de Oswald de Andrade ilustra um procedimento comum aos nossos modernistas de primeira hora; o de tomar
a literatura quinhentista como fonte de inspiração temática e formal.
c)É inegável o tom jocoso e irônico de Oswald de Andrade ao fazer, com o título de seu poema, uma alusão à suposta
preguiça do brasileiro.
d)No texto 1, o objetivo é ressaltar as peculiaridades da terra tropical, paradisíaca, recém-descoberta; já no texto 2, o
poeta busca resgatar a língua original do Brasil colônia.
e)A linguagem dos dois textos apresenta pontos em comum, não só no léxico como também na sintaxe. Mas a intenção
era diversa: o primeiro queria encantar, seduzir, e o segundo, parodiar.
27.
Cândido Portinari (1903-1962), em seu livro Retalhos de minha vida de infância, descreve os pés dos trabalhadores.
Pés disformes. Pés que podem contar uma história. Confundiam-se com as pedras e os espinhos. Pés semelhantes
aos mapas: com montes e vales, vincos como rios. (...) Pés sofridos com muitos e muitos quilômetros de marcha. Pés que
só os santos têm. Sobre a terra, difícil era distingui-los. Agarrados ao solo, eram como alicerces, muitas vezes suportavam
apenas um corpo franzino e doente.
Cândido Portinari, Retrospectiva, Catálogo MASP.
As fantasias sobre o Novo Mundo, a diversidade da natureza e do homem americano e a crítica social foram temas que
inspiraram muitos artistas ao longo de nossa história. Dentre estas imagens, a que melhor caracteriza a crítica social contida
no texto de Portinari é:
a)
c)
d)
b)
e)
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28.
Depois de um bom jantar: feijão com carne-seca, orelha
de porco e couve com angu, arroz-mole engordurado, carne
de vento assada no espeto, torresmo enxuto de toicinho da
barriga, viradinho de milho verde e um prato de caldo de
couve, jantar encerrado por um prato fundo de canjica com
torrões de açúcar, Nhô Tomé saboreou o café forte e se
estendeu na rede. A mão direita sob a cabeça, à guisa de
travesseiro, o indefectível cigarro de palha entre as pontas
do indicador e do polegar, envernizados pela fumaça, de
unhas encanoadas e longas, ficou-se de pança para o ar,
modorrento, a olhar para as ripas do telhado.
Quem come e não deita, a comida não aproveita,
pensava Nhô Tomé... E pôs-se a cochilar. A sua modorra
durou pouco; Tia Policena, ao passar pela sala, bradou
assombrada:
– Êêh! Sinhô! Vai drumi agora? Não! Num presta... Dá
pisadêra e póde morrê de ataque de cabeça! Despois do
armoço num far-má... mais despois da janta?!”
Cornélio Pires. Conversas ao pé do fogo.
São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1987.
Nesse trecho, extraído de texto publicado originalmente
em 1921, o narrador:
a)apresenta, sem explicitar juízos de valor, costumes
da época, descrevendo os pratos servidos no jantar
e a atitude de Nhô Tomé e de Tia Policena.
b)desvaloriza a norma culta da língua porque incorpora
à narrativa usos próprios da linguagem regional das
personagens.
c)condena os hábitos descritos, dando voz a Tia Policena, que tenta impedir Nhô Tomé de deitar-se após
as refeições.
d)utiliza a diversidade sociocultural e linguística para
demonstrar seu desrespeito às populações das zonas rurais do início do século XX.
e)manifesta preconceito em relação a Tia Policena ao
transcrever a fala dela com os erros próprios da região.
12
29.
No poema “Procura da poesia”, Carlos Drummond de
Andrade expressa a concepção estética de se fazer com
palavras o que o escultor Michelângelo fazia com mármore.
O fragmento abaixo exemplifica essa afirmação.
(...)
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
(...)
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível que lhe deres:
trouxeste a chave?
ANDRADE, Carlos Drummond de. A rosa do povo. Rio de Janeiro:
Record Editora, 1997.
Esse fragmento poético ilustra o seguinte tema, constante
entre autores modernistas:
a)a nostalgia do passado colonialista revisitado.
b)a preocupação com o engajamento político e social
da literatura.
c)o trabalho quase artesanal com as palavras, despertando sentidos novos.
d)a produção de sentidos herméticos na busca da perfeição poética.
e)a contemplação da natureza brasileira na perspectiva
ufanista da pátria.
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30.
Em defesa da razão
Durante décadas, lutei para trazer a racionalidade
às gerações que me sucediam, acreditando na ciência e
em suas conquistas. A caminhada do homem na Lua, as
fotos dos planetas distantes, os computadores, a televisão
direta dos satélites, as vacinas que eliminaram da face da
Terra a varíola, a poliomielite, os remédios desenhados
em computadores que curam câncer quando detectado a
tempo, os transplantes de coração e rins, a biotecnologia
gerando plantas mais resistentes e mais produtivas, que
liquidaram com a profecia de Malthus, afastando o perigo
da fome universal. E apesar disso, o que colhemos? Uma
geração de crédulos sem capacidade crítica.
Até mesmo pessoas que seguiram carreira técnico-científica não entenderam a racionalidade da ciência.
Consomem toneladas de pseudomedicamentos sem nenhum efeito positivo no organismo. Engolem comprimidos
de vitaminas que serão eliminadas na urina. Consomem
extratos de plantas com substâncias tóxicas e abandonam
o tratamento médico. Gastam fortunas com diferentes marcas de xampu que contêm sempre o mesmo detergente,
mas anunciam “alimentos” para os cabelos, quando estes
recebem nutrientes diretamente do sangue que irriga suas
raízes. Há os que untam o rosto com colágenos – geleia de
mocotó – e ovos e acham que estão rejuvenescendo (...)
Fico pasmo ao ver que, às portas do ano de 2000,
as pessoas leem horóscopo sem jamais comparar as
previsões da véspera com o que realmente aconteceu.
Desconfiam dos cientistas, mas acreditam nas cartomantes, que prevêem o óbvio. Formamos uma geração de
pseudoeducados, que querem ser enganados nas farmácias, pelos curandeiros que enfiam agulhas em seus pés
e manipulam a sua coluna, pelos ufologistas, que veem
extraterrestres chegar e sair sem serem detectados pelos
radares. Uma geração que se deixa levar por benzedeiras
e charlatães com suas poções, por anúncios desonestos
na televisão e por pregadores a quem entregam parte do
salário. Saem as descobertas e as experiências e entram
os duendes, anjos e bruxos.
Isaías Raw, Veja
Sobre o texto, é correto afirmar que:
a)crenças populares, comumente, interferem no bom
desempenho da ciência, que, muitas vezes, fica desvalorizada e incompreendida.
b)as crenças populares são benéficas e proveitosas
para toda e qualquer sociedade.
c)a falta de capacidade crítica está diretamente associada ao mau desempenho da ciência.
d)as propagandas interferem na opinião crítica das pessoas e o mercado não divulga os avanços tecnológicos e seus benéficos.
e)nem tudo que é divulgado deve ser adotado como
verdadeiro; muitas descobertas científicas não trouxeram melhorias e foram muito valorizadas.
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