Tratamento de Tabagismo em Pacientes com Câncer Centro de Estudos para Tratamento da Dependência à Nicotina do INCA Cristina Cantarino BH, Agosto de 2007 Tratamento de Tabagismo em Pacientes com Câncer 25 milhões de pessoas sobreviveram ao câncer no mundo 1/3 destas continuaram fumando após o diagnóstico Continuar fumando após o diagnóstico proporciona impacto negativo na sobrevida e qualidade de vida. A literatura sobre as características comportamentais deste grupo especial na cessação de tabagismo é escassa J. Nutr.2007;137(1): S 243-48 Tratamento de Tabagismo em Pacientes com Câncer Mas sabemos: os mais motivados para deixar de fumar são: Os de > auto-confiança Os de > percepção do risco de fumar e dos benefícios da cessação Os de < dependência à nicotina Os que identificam o cigarro como o principal responsável pela doença Maior chance de sucesso na cessação: Logo após o conhecimento do diagnóstico (3m) Acolhimento Farmacoterapia deve ser sempre oferecida se ñ houver contra-indicação Exercício ameniza a síndrome de abstinência Addiction 2007; 102(4):534-43 , BMC Public Health 2006, 6:300 e Psycho-Oncology 2004;13 (5):346-58 Tratamento de Tabagismo em Pacientes com Câncer Os riscos para a saúde ao continuar fumando e claros benefícios da cessação, tornam imperativo do ponto de vista ético oferecer tratamento de tabagismo para pacientes com câncer. ( Cancer 2003; 98:632-44 ) Ao tomar conhecimento do diagnóstico o paciente fica mais sensível para promover mudança de hábitos. A motivação para cessação aumenta, principalmente nos portadores de tumores de pulmão e de CeP. Os médicos ainda deixam escapar a grande oportunidade que este momento oferece para incentivar pacientes e seus familiares. (Cancer 2006;106:17-27) Tratamento de Tabagismo em Pacientes com Câncer Experiência do Instituto Nacional de Câncer. Objetivos: Abordagem integral do paciente com câncer Coerência com a proposta do INCA de Humanização Facilitar a cessação com a inclusão de familiares Tornar a casa do paciente livre do tabaco (controle do tabagismo passivo) Diminuir efeitos colaterais da quimioterapia e radioterapia Diminuir complicações per e pós operatórias Melhorar a qualidade de vida dos pacientes Tratamento de Tabagismo para Pacientes do INCA Início do atendimento em março de 2004. População atendida no Centro de Estudos para Tratamento da Dependência à Nicotina do INCA com mais de 6 meses de tratamento até abril /2006 = 529 Distribuição quanto à origem: Funcionários 82 (Incluídos 308 pacientes com câncer) n = 308 Familiares 139 Pacientes 308 Tratamento de Tabagismo em Pacientes com Câncer O tratamento foi baseado no Programa Nacional de Controle de Tabagismo ( PNCT / INCA / MS ) Composto de 04 sessões estruturadas de 90 minutos, semanais, em grupo, seguidas de 02 extras de acordo com a necessidade de cada grupo. Os abstinentes seguem para 02 controles quinzenais. Posteriormente fazemos encontros mensais até completar 1 ano de abstinência. Incluímos sessões semanais de fisioterapia respiratória e alongamento, por no mínimo 4 semanas consecutivas. Cada paciente recebe um incentivador respiratório à fluxo, com orientação para utilizar nos momentos de fissura. Tratamento de Tabagismo em Pacientes com Câncer Distribuição segundo o gênero: Masculino 48% Fem inino 52% n = 308 Tratamento de Tabagismo em Pacientes com Câncer Distribuição segundo escolaridade: Nível Superior 9% 2º Grau 31% n = 308 Analfabeto 4% 1º Grau 56% Tratamento de Tabagismo em Pacientes com Câncer Distribuição segundo a clínica de origem do paciente: Tórax 16,67% Dermatologia 1,39% Ginecologia 8,69% TOC 0,34% Cabeça e Pescoço 40,98% Mastologia 13,55% Pediatria 0,34% Urologia 5,20% n = 308 Abdome 8,68% Oncologia Clinica 2,78% Tratamento de Tabagismo em Pacientes com Câncer Distribuição segundo o grau de dependência química à nicotina ( teste de Fagerstrom ) Baixo e Muito Baixo 19% Elevado e Muito Elevado 66% Como 66% dos pacientes apresentaram grau elevado ou muito elevado, usamos apoio medicamentoso na quase totalidade dos casos, algumas vezes associamos TRN e bupropiona. Médio 15% Tratamento de Tabagismo em Pacientes com Câncer Distribuição segundo abstinência ao término do tratamento ( 04 sessões ) Fumando 30,20% Sem Fumar 69,80% n = 308 Tratamento de Tabagismo em Pacientes com Câncer Distribuição segundo o índice de cessação após 6 meses de tratamento Fumando 32,60% Sem fumar 67,40% n = 308 Tratamento de Tabagismo em Pacientes com Câncer Benefícios especiais na cessação de tabagismo em pacientes com câncer: Melhora da respiração e circulação Melhora do sistema imunológico e do metabolismo Melhora sono, apetite, humor e auto estima Diminuição dos efeitos colaterais da quimioterapia e radioterapia Diminuição de complicações per e pós operatórias Melhora a cicatrização da ferida cirúrgica Diminuição de recidivas tumorais Diminuição da incidência de segundo tumor primário tabaco relacionado Melhora da sobrevida e qualidade de vida. Tratamento de Tabagismo em Pacientes com Câncer Dados da Literatura: Continuar fumando após o diagnóstico de câncer altera a efetividade do tratamento, sobrevida, risco de segundo tumor primário e qualidade de vida em portadores de tumores tabaco relacionados e não tabaco relacionados. ( Cancer 2006;106:17-27 ) Pacientes com tumores de CeP e pulmão apresentam maiores índices de cessação de tabagismo do que pacientes com tumores não tabaco relacionados. ( J Clin Onc 2003;21:355-365 ) Como fumar aumenta o metabolismo hepático de muitas drogas, continuar fumando pode diminuir a eficácia terapêutica da quimioterapia ( Lung Cancer 2001;34:315-323 ) Tratamento de Tabagismo em Pacientes com Câncer Dados da Literatura: Portadores de tumor de pequenas células de pulmão livres de doença por mais de dois anos que pararam de fumar, têm risco reduzido de apresentarem 2° tumor primário tabaco relacionado. (British Journal of Cancer 1998; 78(3):409-412 ) Programas de cessação de tabagismo podem ter um efeito substancial na mortalidade subsequente mesmo quando bem sucedidos numa minoria de participantes. ( Ann Intern Med.2005;142:233-239 ) Fumar aumenta o risco de metástase pulmonar em pacientes com câncer de mama. ( Chest 2001;119:1635-1640) Tratamento de Tabagismo em Pacientes com Câncer Conclusões: Apesar do alto grau de dependência química de nossos pacientes, 66% com grau elevado ou muito elevado, conseguimos um bom índice de cessação em 6 meses, 67,40%. Entendemos este resultado favorável devido aos seguintes fatores: 1 - Pacientes com câncer, especialmente no momento do diagnóstico, estão mais receptivos para mudar comportamentos, buscando a reconquista da saúde, tornando-se muito mais motivados para a cessação. 2 - A maioria dos pacientes, 57.65%, é de portadores de tumores de CeP e pulmão. De acordo com a literatura, estes são os pacientes mais motivados para a cessação, por reconhecerem o uso tabaco como o principal fator responsável pela sua doença. Tratamento de Tabagismo em Pacientes com Câncer Conclusões: 3 - A equipe está disponível no hospital, para qualquer esclarecimento, mesmo fora dos horários de atendimento dos grupos. 4 - O envolvimento da fisioterapia, oferecendo mais recursos para vencer a fissura, e facilitando o relaxamento. Como proporciona um segundo encontro semanal, torna a abordagem mais intensiva. 5 - Fornecimento de apoio medicamentoso na grande maioria dos pacientes, incluindo terapia combinada (TRN + bupropiona). 6 - Busca ativa por telefone quando o paciente falta alguma sessão,inclusive nos controles quinzenais e mensais. Tratamento de Tabagismo em Pacientes com Câncer Conclusões: 7 - O que mais nos chama a atenção ao término do tratamento é a alegria dos abstinentes ao perceberem os benefícios da cessação. Sobretudo quando constatam que muitas das queixas que antes atribuíam ao câncer melhoraram ou desapareceram: (tosse, expectoração, fadiga, falta de apetite, dispnéia). Este prazer vai contagiando os outros pacientes, facilitando a adesão ao tratamento. Tratamento de Tabagismo em Pacientes com Câncer Equipe: Coordenação: Cristina Cantarino (médica) Carlos Alberto Souza Martins (médico) Ricardo H. S. Meirelles (médico) Sandra Marques da Silva (médica) Claudia Dias (fisioterapeuta) Eliane Estalino (assistente social) Vera Borges (psicóloga) Nelma Barcelos (secretária) [email protected]