COMUNICAÇÃO DE PESQUISA AS INTELIGENCIAS MÚLTIPLAS E O DESENVOLVIMENTO DA EXPRESSÃO GRÁFICA ENTRE ADOLESCENTES NA ESCOLA DE PAULISTA (PE) Ana Lídia Paixão e Silva Mestranda do Programa de Pós –Graduação em Artes Visuais (PPGAV- UFPB/UFPE) Resumo Esta pesquisa de mestrado investiga o desenvolvimento da expressão gráfica em alunos da 8ª série de uma escola pública, localizada em Paulista, Pernambuco, após a introdução, nas aulas de Artes Visuais, de jogos e estratégias planejados para ampliar as inteligências espacial e cinestésico-corporal. A modalidade da linguagem visual escolhida é o desenho, muito utilizado nas escolas públicas, pelo seu fácil acesso econômico. A teoria das Inteligências Múltiplas (teoria das I. M.) e obras afins serviram de base para esta pesquisa, pela importância conferida por esta teoria à educação artística, associando-a a cognição. A pesquisa utiliza jogos e estratégias que tem uma aproximação teórica com as I. M. Os jogos e estratégias foram planejados e aplicados com o professor de Artes. Utilizamos entrevistas com os alunos, sua produção gráfica e também observações realizadas durante o processo de execução das atividades propostas. PALAVRAS-CHAVE: Escola; desenho; inteligências. 1 - INTRODUÇÃO Atuando na rede pública estadual há mais de dez anos, percebemos que entre as quatro linguagens artísticas recomendadas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN's) que traz “... A critério das escolas e respectivos professores é preciso variar as formas artísticas propostas ao longo da escolaridade, quando serão trabalhadas Artes Visuais1, Dança, Música ou Teatro...” (BRASIL, p. 57) é provável que na maioria das escolas predomine como linguagem artística as Artes Visuais. As razões para tal escolha provavelmente residem na pequena quantidade de professores habilitados, o que perpetua a idéia de que o conteúdo de Artes se limita e se resume a atividades artísticas tais como desenho, pintura, recorte e colagem. Além disso, a estrutura física inadequada para a prática de atividades artísticas diversificadas e de material artístico nas escolas determina o desenho como prática artística da disciplina de Artes, mesmo para professores habilitados. Pressupõe-se daí a predominância do desenho na escola pública. 1 O termo „Arte‟ fará referência à disciplina de Artes Visuais no restante do texto. Juntamente com essas pontuações, observamos a dificuldade de expressão através do desenho, principalmente entre os adolescentes. Nesta fase, a autocrítica e a crítica estão no auge, aliadas ao fato de que desde o início da alfabetização a expressão plástica é colocada em plano inferior, dando uma ênfase maior ao domínio e aquisição da escrita, em detrimento da expressão plástica. De acordo com Bertol e Souza: Acreditar ser a adolescência uma fase de construção identitária possibilita a representação do adolescente como rebelde, em constante oposição aos valores da sociedade e às tradições. Entretanto, perguntamos se essas características atribuídas aos denominados adolescentes são naturais e constitutivas dessa fase da organização subjetiva ou se são produzidas por esse sujeito como resposta ao lugar que a sociedade lhe destina. (BERTOL; SOUZA, 2010) O desenho também é ferramenta básica para profissionais como o arquiteto, o engenheiro, marceneiros, mestres de obras, além de atividades cotidianas como desenhar ou ler um mapa com instruções para se chegar a algum lugar (DERDICK, 1989). Essas atividades necessitam do domínio de certas convenções do desenho, e a escola seria por excelência o local onde estas convenções seriam adquiridas (WILSON; WILSON, 2001). Entretanto, dentro da área de Artes, especificamente as Artes Visuais, ainda se luta contra o mito do “dom” e do domínio da técnica para chegar à representação realista do desenho, o que dá pouco espaço para a criatividade e a inventividade. A cultura ocidental é narrada por imagens que buscam produzir realidades muito convincentes. Isto é confirmado por Suzana Vieira da Cunha2, ao visitar uma região da Espanha, chamada Alhandra, invadida pelos mouros no século V, quando da conquista muçulmana da Península Ibérica. Apesar de saber da iconoclastia da cultura moura, a ausência de imagens deixou Suzana chocada, pois ela se deu conta do quanto a cultura ocidental é figurativa e representativa, e alimenta assim a crença no poder de verdade das imagens. Os tetos dos prédios do conjunto arquitetônico mouro são compostos de uma minuciosa e rica decoração, e o chão, fontes e jardins, são ornamentados com azulejos e ladrilhos. Fig. 1- Portal do Hotel Plaza Nueva em Granada /Espanha 2 Pesquisadora e professora doutora da Faculdade de Educação da UFRGS. S/d. Fig. 2 – Interior de mesquita em Córdoba, Espanha Estas considerações nos ajudam a compreender a frustração do adolescente com o seu desenho pouco realista na nossa cultura. A valorização de professores e de alunos ao desenho que corresponde à exigência realista, tradicional, estabelece padrões estéticos rígidos à prática do desenho na escola. Como adolescentes, eles se vêem compelidos a contrariar a tradição, mas ao mesmo tempo, desejavam ser aceitos no grupo “tradicional” da escola, o que é admirado em exposições da escola, por seus desenhos realistas. Ou criam outro grupo, que se opõem diretamente a estas tradições, na impossibilidade de atender aos pré-requisitos do grupo tradicional, alardeando, inclusive, que “desenho era coisa de criança”. Para entender esta postura dos nossos alunos adolescentes recorremos novamente às autoras citadas acima, ao explicarem que “... os sujeitos aprendem que, para se realizar e obter reconhecimento, é preciso se reinventar, quebrar as tradições, criar, o que colide com a demanda hierárquica e com as práticas de normatização postas na e pela escolarização”. (BERTOL;SOUZA, 2010). (grifo nosso). Diante desta realidade, acreditamos que o desenho deveria ser rediscutido na escola, o que nos leva em busca de uma maior compreensão desta prática. 2) ARTE E COGNIÇÃO – A TEORIA DAS I. M. Na década de 90 a teoria das Inteligências Múltiplas (I. M.) começa a se difundir entre os educadores brasileiros com a publicação no Brasil do livro de Howard Gardner “Estruturas da Mente – A teoria das Inteligências Múltiplas”. O fato de esta teoria ter nascido de um projeto (Projeto Zero, em Harvard, EUA) que pesquisava sistemas simbólicos artísticos, contribui para uma reflexão sobre o ensino da Arte diante da estrutura organizativa e disciplinar do sistema educativo brasileiro, que ainda privilegia as disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática. Aprofundando um pouco mais estas idéias surgiu a motivação para realizar uma pesquisa que tivesse a base teórica nas reflexões da teoria das Inteligências Múltiplas, que também foi estudada e divulgada em palestras, textos e livros pelo professor brasileiro Celso Antunes. Entretanto, segundo Gardner (1998), a escola, da forma como ela se constitui, privilegia a inteligência acadêmica, centrada no domínio de estruturas lógicomatemáticas e linguísticas, e este é um dos fatores que estimulam esta forma de inteligência, em detrimento de outras. Nesta escola, “a expressão e a avaliação de outras disciplinas escolares ainda passa pelo crivo do domínio lingüístico e matemático” (ANTUNES, 2006, p. 15). Assim, motivados pelo interesse nesta temática, nós desenvolvemos no curso de especialização um trabalho monográfico, com o título "Contribuições das Inteligências Múltiplas para o Ensino Contemporâneo das Artes Visuais no Ensino Fundamental II"3, através de uma pesquisa bibliográfica. Naquela ocasião verificamos que muito ainda havia por se investigar na relação entre cognição e arte, e que a associação destas duas áreas forneceria subsídios para aprofundar o conhecimento no campo da Arte/Educação. Desta forma, no momento nossa pretensão é darmos continuidade a este estudo, desenvolvendo uma pesquisa empírica, investigando se a expressão gráfica dos alunos pode ser ampliada através da aplicação de jogos e estratégias embasados na teoria das inteligências múltiplas. Um dos autores brasileiros que popularizou e divulgou a teoria das I. M. (Inteligências Múltiplas) foi o professor Celso Antunes, através de textos, palestras e livros. A teoria das I. M. foi o resultado de longos estudos sobre a aprendizagem e a cognição, que desafiou a noção universal de Q.I. (quociente de inteligência), buscando provar que havia outros sistemas simbólicos utilizados pelos seres humanos que eram tão ou mais eficientes que os sistemas lingüísticos e lógicos, como os utilizados nas artes, e que utilizam o lado direito do cérebro. Nascida do Projeto Zero, que há mais de 30 anos reúne um grupo de pesquisadores que investigam as capacidades do cérebro humano, buscando ampliar a noção simplista de inteligência, que predomina desde o início do século XX. Na apresentação original da teoria, foram sugeridos sete tipos diferentes de inteligências, que não agem individualmente, mas se combinam, em menor ou maior grau, para bem executar uma tarefa, ou resolver um problema, ou desenvolver um produto. São elas: inteligência musical, inteligência lingüística, inteligência lógico-matemática, inteligência espacial, inteligência corporal cinestésica e as duas inteligências pessoais (intrapessoal e interpessoal). Na vida cotidiana, estas inteligências, de acordo com Gardner (1994), trabalham em harmonia, diferentemente da forma como são tratadas na escola, que isola as diversas inteligências, e conseqüentemente, os diversos saberes, através das disciplinas escolares. Entretanto, segundo o autor, as características peculiares de cada inteligência são observáveis, mas de forma elaborada cientificamente, com o objetivo de conhecer estas suas características. Elas podem ser investigadas e estimuladas separadamente, mas serão requisitadas a trabalharem de forma integrada para resolver problemas, ou criar produtos. Das sete inteligências, a que tem mais relação com a expressão gráfica e plástica é a inteligência espacial. Esta é a habilidade para manipular objetos, tanto em duas quanto em três 3 Universidade Católica de Pernambuco, 2011. Orientadora Profª Ms. Olga Matilde Borges Correia de Albuquerque. dimensões, de forma mental ou real; habilidade para se orientar em um lugar, criando um mapa mental deste lugar. É a habilidade desenvolvida pelos cegos, segundo Gardner, e por esta razão, ele evita associá-la ao sentido da visão. Crianças com esta habilidade são observadoras, registram os mínimos detalhes de objetos e lugares, tem facilidade para quebra cabeças. A inteligência espacial e a inteligência lingüística foram as mais estudadas na área da neuropsicologia, sendo uma considerada como o oposto da outra, já que uma usa um código verbal, localizado no hemisfério esquerdo do cérebro, e a outra um código imagético, localizado no hemisfério direito do cérebro (GARDNER, 1994). Piaget viu a inteligência espacial como parte do pensamento lógico matemático, talvez pelo fato de as duas derivarem da ação sobre os objetos. Entretanto, há diferenças notáveis em relação ao desenvolvimento de cada uma delas: enquanto a lógico-matemática vai se tornando gradativamente mais abstrata, a inteligência espacial permanece ligada aos objetos do mundo concreto, e a sua localização neste mundo. A maioria dos estudiosos contemporâneos da inteligência como Robert Siegler, Mike Anderson e Robert Sternberg, apesar da prevalência das inteligências lógico-matemática e lingüística, não se convencem de que a capacidade espacial tenha alguma relação com estas outras duas inteligências. Eles a consideram especial e independente das demais, englobando vários aspectos, tais como memória visual, orientação espacial, aptidão gráfica bi ou tridimensional, discernimento dos elementos da linguagem visual (cor, linha, formas, etc.), entre outras. Sustentam ainda que estes aspectos interajam entre si, isto é, o desenvolvimento em um deles afetaria de igual maneira os outros (GARDNER, 1994). Também as inteligências cinestésico corporal e pessoais têm relação direta com a linguagem gráfica. Optamos neste trabalho por investigar, além da inteligência espacial, a inteligência cinestésico corporal, pois estas duas inteligências se originam nas ações sobre o mundo (bem como a inteligência lógico-matemática, mas esta vai se tornando abstrata, e se afastando da linguagem gráfica, como comentamos acima). A inteligência pessoal, no nosso entendimento, extrapolaria os limites temporais deste trabalho, pois a mesma envolve dimensões complexas e diferenciadas. A inteligência cinestésico corporal é a capacidade de trabalhar ou se expressar habilmente com o corpo ou partes do corpo, como o movimento delicado das mãos ao trabalhar com objetos ou o movimento coordenado das várias partes do corpo, com uma noção bem aguçada de ritmo. Nas crianças pequenas, se manifesta através de movimentos graciosos e surpreendentemente bem ritmados. É encontrada em atletas, dançarinos, cirurgiões. 2.1 - A busca do desenho realista Desde que as crianças começam a experimentar as primeiras garatujas, como forma de explorar o mundo da comunicação, as expectativas sobre os seus desenhos, primeiramente por parte dos seus pais, as conduzem a busca pelo reconhecimento da representação realista dos mesmos. As perguntas feitas a respeito do que as crianças desenham (“o que você está desenhando?; o que é isso, é a mamãe?”) despertam nelas o compromisso de bem representar o que vêem. Esta exigência se torna cada vez mais importante conforme a criança vai adquirindo, com o amadurecimento, uma consciência de seu meio sócio- cultural, principalmente na escola (COX, 2001). Marjorie Wilson e Brent Wilson (2001), entretanto, constataram que o ambiente escolar não propicia o desenvolvimento do desenho, já que este usa um sistema simbólico imagético, diferente do que é utilizado na linguagem oral/ escrita ou na linguagem lógico matemática, que são mais valorizados (e por isso mais estimulados) que o primeiro. Pesquisas realizadas pelos autores revelaram que “... as imagens usadas pelos jovens não derivam de instrução artística.”. (WILSON; WILSON, 2001, p.74) de onde se conclui que a escola não participa desse processo, não é nas aulas de arte que os alunos aprendem a desenhar, mas “... a partir de imagens derivadas dos mídias populares e de ilustrações...” (WILSON; WILSON, 2001, p.61). Entretanto, o desenvolvimento de signos visuais inventivos e criativos, que habilitaria os alunos a desenvolver sua expressão gráfica e plástica, necessita de instruções específicas sobre as convenções do desenho, e a escola seria por excelência o local onde estas instruções seriam adquiridas. Segundo os autores os jovens que aprendem a desenhar tão somente a partir de imagens derivadas de mídias populares e de ilustrações, têm limitada sua capacidade de expressão através do desenho. Para a teoria das I. M., a meta da educação contemporânea deve ser fazer com que todos os alunos tenham sucesso na escola, seja qual for o campo de conhecimento ou disciplina, ou sistema escolar. Para alcançar essa meta, o sistema escolar deveria reconhecer que os indivíduos têm forças diferentes, aprendem de maneiras diferentes e também tem diferentes formas de demonstrar seu entendimento, não apenas através do sistema simbólico linguístico ou do notacional matemático. A linguagem artística bem demonstra isso: para se comunicar, utiliza um sistema específico, todo seu. É deste ponto que parte o Projeto Zero, que tanto interessou a Gardner, ajudando-o a desenvolver a teoria das I. M. O psicólogo observou que os artistas utilizam uma grande variedade de sistemas simbólicos, tanto tradicional quando inovadores, lhes sendo possível construírem diversas formas de representação mental. A arte tem a capacidade de ampliar os tradicionais sistemas simbólicos, que operam com a inteligência linguística e lógico-matemática, criando novos sistemas simbólicos. Para Gardner, é desta forma que a escola pode contribuir na formação de cidadãos mais participativos, pois estas pessoas se sentem mais engajadas e competentes no que fazem, sendo mais criativas em domínios específicos (GARDNER, 1994). Em tempos mais recentes a ênfase na produção artística tem convivido com a necessidade de obtenção pelo aluno de um pensamento crítico e reflexivo a respeito das artes, através da discussão e análise da produção artística e conhecimento do contexto em que foi criada. Entretanto, a tendência mais comum é optar por uma forma de aprendizagem e excluir a outra. Elas não são mutuamente excludentes, elas são complementares. Uma convivência adaptativa das duas formas de aprendizagem (uma prática, a outra teórica) se faz necessária. Esta adaptação vai depender dos recursos disponíveis, do contexto de aprendizagem, e do aprendiz e seu mestre. Segundo Gardner (2000), o ensino aprendizagem de arte é historicamente pautado na observação direta e reflexiva, na reprodução do modelo do mestre, até a recriação deste modelo, culminando com sua própria criação, a partir de acertos e descompassos desta reprodução, entre tantos outros atos, para surpresa de seu criador. Contudo, os pesquisadores do Projeto Zero defendem que é inevitável e indispensável a inclusão de história da arte ou estética no ensino de artes, entre outras disciplinas, o que não significa que defendam a idéia de disciplinarização da educação artística. A autora da Proposta Triangular tem o mesmo cuidado, ao alertar para o retorno ao academicismo, separando-se áreas que compõem o ensino de arte (BARBOSA, 1996, p.37). Diante deste quadro, a teoria das I. M. atraiu a atenção dos professores, que percebendo que as crianças têm mentes e formas diferentes de aprender e que, portanto, a mente humana é múltipla, buscavam outra concepção de aprendizagem. A escola que temos ainda privilegia os sistemas lingüísticos e lógicos, desperdiçando grande parte do potencial dos alunos. A pesquisa será fundamentada na teoria das Inteligências Múltiplas de Howard Gardner, e de outros teóricos que discutem o assunto, tais como Celso Antunes e Nilson Machado, além de outros autores relacionados ao ensino de Arte, como Ana Mae Barbosa, Brent Wilson e Marjorie Wilson, Fayga Ostrower, entre outros. 3 – A PESQUISA Nosso campo de investigação é a Escola Estadual de Paulista, localizada no município de Paulista – Pernambuco. Esta escola atende a alunos do ensino fundamental II e ensino médio, adolescentes. A adolescência é um período de decisão e de crise em relação a expressão gráfica e plástica, refletidos na aguçada crítica e auto crítica, no questionamento e rebeldia, extravasados através da pichação e da grafitagem, por exemplo, expressões gráficas e plásticas por excelência (BARBOSA, 1998; FRANZ; KUGLER, 2010). Assim, nos pareceu adequado realizar uma intervenção através de atividades e exercícios elaborados com base na teoria das I. M., que será registrada através de fotografias e filmagens, além da observação de campo. Escolhemos a pesquisa descritiva para acompanhar a intervenção em uma turma da 7ª série (ou 8º ano), com todos os alunos da referida turma (em torno de 35 alunos) por um período de dois bimestres (aproximadamente quatro meses), já que a pesquisa descritiva tem como objetivo primordial a descrição das características de determinada população, grupo ou fenômeno, ou ainda estabelecer as associações existentes entre determinadas variáveis, o que se coaduna com nosso objeto de pesquisa. São inúmeros os estudos que podem ser classificados sob o título de pesquisa descritiva e uma de suas características mais significativas está na utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados, que coadjuvam a descoberta de fenômenos latentes, tais como observação participante, história ou relatos de vida, entrevistas não-diretivas (GIL,1999). O método de investigação adotado na pesquisa que se encontra em andamento será o método da pesquisa qualitativa e empírica. Diferentemente da pesquisa quantitativa, a qualitativa busca uma compreensão particular daquilo que estuda: o foco da sua atenção é centrado no específico, no peculiar, no individual, almejando sempre a compreensão e não a explicação dos fenômenos estudados A pesquisa qualitativa parte de pressupostos estabelecidos pelo método dialético e o fenomenológico, e tem se preocupado com o significado dos fenômenos e processos sociais, levando em consideração as motivações, crenças, valores, representações sociais, que permeiam a rede de relações sociais. Com o desenvolvimento das investigações nas ciências humanas, as chamadas pesquisas qualitativas procuraram consolidar procedimentos que pudessem superar os limites das análises meramente quantitativas, empregadas nas ciências exatas e naturais (PÁDUA, 2002). Nesta pesquisa, utilizaremos a entrevista não-diretiva e a observação participante, com alguns instrumentos de coletas de dados, como fotografias e filmagens das atividades realizadas pelos alunos (fontes documentais). Inicialmente, estamos no processo de coleta de dados, e isso contempla uma série de atividades que foram realizadas pelos alunos antes da intervenção dos jogos baseados na teoria das I. M. Apresentamos aqui alguns dos desenhos realizados pelos alunos pesquisados. Fig. 3 – Desenho de paisagem feito a grafite. Fig. 4 – Desenho de paisagem com giz de cera . Ambos os desenhos representam claramente uma paisagem natural, mas é possível perceber diferenças entre eles. O primeiro tem características mais realistas, observadas através do uso da perspectiva (as árvores mais distantes são menores, enquanto as que se aproximam da vista do observador, são maiores) e do claro-escuro, a perspectiva é mostrada somente de um ângulo (domínio da técnica da perspectiva). O segundo desenho, bem colorido, busca através das cores (árvores com folhas verdes e troncos marrons, água azul-esverdeada etc.) uma maior aproximação com um desenho realista. No entanto, a dificuldade de representar a paisagem em perspectiva, sob um ponto de vista único (a árvore à esquerda, em cima, sugere um ponto de perspectiva diferente do restante do desenho, assim como o sol também parece ser visto de uma perspectiva aérea). Além disso, o desenho pedagógico do sol (uma carinha sorridente) confere ao desenho características infantis, além da ausência do domínio da técnica da pintura, afastando-o da representação realista. Além dos desenhos que estão em processo de coleta e organização, realizamos uma entrevista inicial com a professora que ministra Arte na turma selecionada para nosso estudo. A professora tem 18 anos de experiência, entretanto é a primeira vez que ensina a disciplina de Arte. Formada em Pedagogia, ela comentou que para estimular o desenho da paisagem, mostrou aos alunos imagens de paisagens naturais e construídas, e depois pediu que escolhessem uma delas para desenhar. Não foi dada nenhuma instrução específica sobre a técnica da perspectiva. Este primeiro contato serviu para investigar elementos de sua prática pedagógica e seu conhecimento sobre a teoria das I. M., esclarecer os objetivos e as bases teóricas da pesquisa e planejar conjuntamente aulas de desenho tendo como base a teoria das I. M., anteriormente ao início da observação de campo, de forma a colocá-la a par dos objetivos e finalidades da pesquisa. Também serão realizadas entrevistas com os alunos que terão por objetivo conhecer sua trajetória pessoal (família e escola) em relação a sua prática de desenho e seu conhecimento prévio informal (derivado do senso comum) sobre o que seja inteligência. A observação de campo será feita nas aulas de Arte, antes, durante e após a execução dos desenhos. Observação é o uso dos sentidos para a percepção direta dos fatos, sem intermediação, de modo que a subjetividade, comum a todo processo investigativo, seja reduzida. Entre as várias formas de observação, utilizaremos nesta pesquisa a observação participante, chamada também de observação ativa. Consiste na participação real do conhecimento na vida da comunidade, do grupo ou de uma situação determinada, vivida no interior destes. A observação participante pode ser natural, ou artificial. É natural quando o observador pertence à mesma comunidade ou grupo que investiga; e é artificial quando o observador se integra ao grupo com o objetivo de realizar uma investigação (GIL, 1999). Posteriormente será feita uma análise dos desenhos produzidos pelos alunos antes e depois da aplicação dos jogos e estratégias baseados nas I. M, bem como uma análise das fotografias e imagens (análise documental) e entrevistas. REFERÊNCIAS ANTUNES, Celso. Inteligências múltiplas e seus jogos. Vol. 1. 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