Capítulo III
Ferramentas e Conceitos Úteis
para Macroeconomia
PRODEMA
Curso de Nivelamento
Prof. Rogério César P. de Araújo
Janeiro - 2008
1. Novas ferramentas para compreensão

Para explicar um fenômeno macroeconômico consiste em se usar três
modos de investigação: Empírica, Teórica e Histórica.

Investigação Empírica:


É a observação e registro de acontecimentos específicos no mundo, que podem
ser descritos em termos de dados numéricos, palavras ou imagens.
Investigação Teórica:




Refere-se às afirmações que são feitas tendo como base as construções e
processos mentais, tais como suposições e lógica dedutiva.
As teorias macroeconômicas baseiam-se em “experimentos pensados” que
consistem em suposições sobre os agentes econômicos e instituições, a partir do
qual tira-se implicações potenciais sobre o comportamento econômico.
Um modelo é uma ferramenta analítica que salienta alguns aspectos da realidade
enquanto ignora outros (estória simplificada, imagem, figura, gráfico, equações).
Ceteris paribus: expressão em Latin que significa “outras coisas permanecendo
igual” ou “tudo o mais constante”.

Investigação histórica:

É o estudo de eventos passados que consiste do conhecimento de eventos
históricos – observações de acontecimentos no passado próximo ou distante,
dentro do contexto do que vem antes e do que vem depois, que são mais amplos
do que a mais estreita investigação empírica.
2. Dilemas econômicos

Como indivíduos, e como membros de uma sociedade, as pessoas
fazem escolhas sobre o que deve ser produzido, como deve ser
produzido e para quem deve ser produzido.

Sobre os dilemas econômicos serão tratados:



Conceito de abundância e escassez;
Fronteira de Possibilidade de Produção (FPP);
Dilemas ao longo do tempo.
2.1. Abundância e Escassez

Abundância: os recursos são abundantes na medida que existe
oferta suficiente para atender as várias metas;

Escassez: mesmo com todos os recursos disponíveis, nem tudo
que é socialmente desejável pode ser realizado, pelo menos não de
uma só vez.

Exemplo: um dado recurso, como uma hora do seu tempo, quando
dedicado a uma atividade útil (como estudar) estará indisponível
para certas outras atividades úteis (como relaxar com os amigos).
Portanto, escolhas têm que ser feitas.
2.2. Fronteira de Possibilidade de Produção
(FPP)

A FPP é utilizada para ilustrar o conceito de escassez, dilemas,
escolhas, pleno emprego e eficiência.

Modelo de uma economia em que se deve alocar os recursos
produtivos na produção de dois fluxos de produtos: “armas” e
“manteiga”.


Em termos mais gerais, podemos considerar os pontos A e B, que
estão na FPP, como refletindo produção socialmente eficiente, por
que, por definição, a fronteira de possibilidade de produção é um
conjunto de pontos que atendem a três requerimentos socialmente
importantes:

Nenhum desemprego involuntário ou capacidade produtiva ociosa
indesejável.

Aplicação de tecnologia e organização social ótimas.

Alocação eficiente de recursos.
Custo de Oportunidade:
 O custo de oportunidade de uma ação é o valor da próxima
melhor alternativa – isto é, o valor do que poderia ter sido feito
usando os mesmos recursos.
2.3. Dilemas ao longo do tempo

Se considerarmos que alcançar o bem-estar também envolve
questões de como e para quem, bem como atividades de
manutenção dos recursos, produção, distribuição e consumo, então
a questão se torna mais complexa – e mais interessante.

Atividades de manutenção de recursos:





Investimento na indústria e equipamentos
Bens e serviços que protegem o ambiente
Novas formas de conhecimento e organização social
Progresso tecnológico
Na medida em que a produção é deste tipo, a produção pode
adicionar às possibilidades de produção para o futuro. A FPP pode
se expandir ao longo do tempo, para a direita, fazendo pontos
anteriormente inatingíveis em atingíveis, como mostra a Figura 2.6.

Atividades que esgotam os recursos naturais ou degradam o
ambiente:




Uso intensivo de combustíveis fósseis
Degradação do qualidade do ar
Processos produtivos que destroem as bacias hidrográficas e habitats
aquáticos
Degradação dos recursos humanos

Tomando uma visão de longo prazo, então, fica claro que obter a
maior produção absoluta, agora, a partir dos recursos disponíveis
não é uma meta social inteligente. As decisões como armas vs.
manteiga precisam ser acompanhadas por outra decisão sobre
agora vs. depois.

A Figura 2.7 mostra a fronteira de produção/manutenção, que ilustra
o dilemas entre produção do tipo recursos-degradadora e atividades
de manutenção de recursos (o último incluem ambos conservação e
investimento).
3. O Papel do Mercado
O que os economistas entendem por “mercados”?

3.1.O Significado de Mercados
Mercado (primeiro significado): um lugar físico onde existe uma
expectativa razoável de encontrar ambos compradores e
vendedores de produtos e serviços.


Exemplos: Mercado São Sebastião, Shopping Iguatemi, Feira-livre do
Benfica, Feira-livra de Juazeiro etc.

Mercado (segundo significado): uma instituição que reúne
compradores e vendedores para comunicar-se entre si,
estruturando e coordenando suas ações.

Instituições: formas de estruturar as interações entre indivíduos e
grupos, incluindo ambos arranjos constituídas formalmente e
padrões geralmente reconhecidos de organização incorporadas nos
costumes, hábitos e leis.

Um hospital pode ser considerado uma instituição que estrutura
as interações entre médicos e pacientes.

Uma universidade é uma instituição que estrutura as interações
entre professores e estudantes.


“O mercado” (terceiro significado): uma frase que as pessoas
usam para significar uma situação abstrata de pura troca ou um
sistema global de relações de troca.
Tomando os mercados como instituições, existem várias formas de
discutir mercados particulares:

Mercados institucionais de bens específicos (preços, quantidade
transacionadas e previsões futuras para o petróleo, soja, trigo, milho);

Mercados institucionais cobrindo um certo número de localidades físicas
(mercados regionais, mercado de Fortaleza);
3.2. O Modelo Básico Neoclássico

A eficiência social e econômica do mercado é dita surgir porque:

Os preços estabelecidos pelas forças de oferta e demanda no
mercado funcionando perfeitamente carrega sinais por toda a
economia, coordenando as ações de muitos tomadores de
decisões numa forma descentralizada.

Os lucros dão às firmas perfeitamente competitivas os incentivos
para buscar insumos de baixo custo e convertê-los em produtos
de elevado valor. As decisões de produção são, portanto feitas
de tal forma que os recursos são aplicados nos seus usos mais
valiosos.

As decisões de consumo feitas pelos indivíduos e famílias são
consideras maximizarem a “utilidade” ou satisfação dos
consumidores.

A maximização do valor da produção é considerado ser um proxy
razoável para a maximização do bem-estar.
3.3. As Vantagens dos Mercados

Vantagens dos mercados:

Informação e tomada de decisão na economia de mercado é
descentralizada;

Os produtores têm o incentivo para responder aos desejos dos
consumidores;

Os sistemas de mercado podem conduzir a um uso mais eficiente dos
recursos do que os sistemas econômicos de planejamento centralizado;

As trocas no mercado são voluntárias, não coercitivas;

Os sistemas de mercado geralmente oferecem às pessoas escolhas de
onde trabalhar e o que comprar;

Os incentivos financeiros de mercado incentivam às pessoas a serem
criativas, inovadoras e integradas uma com as outras.
3.4. As Exigências Institucionais dos
Mercados

Os economistas identificaram um certo número de
instituições básicas que as instituições de mercado
exigem para funcionar. Podem ser classificadas em
quatro grupos:




Instituições individualistas relacionadas à propriedade e
tomada de decisão;
Instituições sociais de confiabilidade;
Infra-estrutura para o fluxo perfeito de bens e informação;
e
Dinheiro como meio de troca.
Instituições individualistas relacionada à
propriedade e tomada de decisão:

Para os mercados funcionarem, as pessoas precisam saber o
que pertencem à elas.

A propriedade privada é a posse de bens físicos e financeiros
pelos atores econômicos não-governamentais.

Aos atores deve ser permitido também tomar suas próprias
decisões sobre como alocar e trocar os recursos.

As instituições de direito de propriedade privada e tomada de
decisão individual existem ambos formalmente, como nos
códigos de lei, e informalmente, nas normas sociais.
Instituições sociais de confiabilidade:

Para os mercados funcionarem, algum grau de confiança entre
compradores e vendedores deve existir.

Quando um comprador faz seu pagamento, ele deve confiar que o
vendedor irá entregar uma mercadoria e que será de boa qualidade.
Um vendedor deve confiar que o pagamento oferecido é válido, seja na
forma de dinheiro, cheque pessoal, cartão de crédito ou outro tipo de
promessa futura de pagamento.

Instituições sociais devem ser criadas para reduzir o risco envolvido
nas transações e no mercado.

Confiança é uma instituição que existe tanto estabelecidas em normas
sociais quanto formalmente. Normas culturais e códigos de ética e
religião podem ajudar a estabelecer e manter uma atmosfera de
confiança.

Em economias de mercado muitas outras instituições evoluíram para
tratar com questões de confiabilidade: DECON, SPS, SERASA etc.
Infra-estrutura para o fluxo perfeito de bens e
informação:

Infra-estrutura física para transporte e armazenamento
que provém a fundação básica para escoar a produção
(estradas, portos, ferrovias e armazéns)

Infra-estrutura para o fluxo de informação:

Produtores e vendedores precisam de informação sobre o que, e
quanto, seus consumidores querem comprar;

Consumidores precisam saber o que está disponível, e quanto
de outras coisas terão de abandonar para obterem os produtos
que estão no mercado.
Dinheiro como um médio de troca:

Precisa que o dinheiro seja amplamente aceito como meio de troca.

O dinheiro é também uma instituição social de confiabilidade, bem
como parte da infra-estrutura para o funcionamento do mercado.
3.5. As Limitações de Mercado

As economias de mercado atualmente frequentemente incluem uma
mistura de tomadas de decisão privada descentralizadas e tomadas
de decisões voltadas para o público ou social.

Fatores complexos que não são levados em consideração no
modelo neoclássico:






Bens públicos;
Externalidades;
Custos de transação;
Poder de mercado;
Questões de informação e expectativas; e
Preocupação com as necessidades humanas e eqüidade.
Bens Públicos

Bens públicos: são bens que (1) seu uso por uma pessoa não
diminui a sua utilidade para outras, e (2) seria difícil excluir qualquer
um de se beneficiar dele.

Exemplos: segurança, estradas públicas, segurança nacional,
educação, assistência infantil, proteção ambiental.

Características do bem público: não rivalidade e não
exclusividade.

Free rider: pessoas que procuram desfrutar dos benefícios de um
bem público sem pagar por ele.
Externalidades

Externalidades: efeitos secundários ou conseqüências não-intencionais,
seja positiva ou negativa, que afetam as pessoas, ou entidades tais como o
ambiente, que não estão entre os atores econômicos diretamente
envolvidos na atividade econômica que causou o efeito.

As externalidades podem ser positivas ou negativas:

Externalidades positivas ou benefícios externos:


apicultura beneficiando a cajucultura pelo aumento da produção; beleza
paisagística dos plantios das fazendas beneficiando o agroturismo; educação
formando cidadãos e beneficiando a sociedade como um todo; vacinação contra
doenças transmissíveis evitando a disseminação na população.
Externalidades negativas ou custos externos:

indústria depejando poluentes num rio afetando a população ribeirinha; bar
tocando música com som alto incomodando a vizinhança; fabricas poluindo o ar e
causando problemas respiratórios na população do entorno; sobre-pesca e
consequente redução dos estoques afetando o nível de renda dos pescadores.
Custos de Transação

Custos de transação: custos de organizar uma atividade econômica.

No modelo básico neoclássico, os custos de transação são considerados zero,
pois o único custo envolvido é o pagamento do salário.

Custos de transação envolvidos na economia:

Para contratar mão-de-obra: pesquisa, anúncios, tempo de funcionários em
entrevistas, contratação de serviços de recrutamento, capacitação;

Para procurar emprego: cursos de capacitação, tranporte, curriculo vítae, entrevista,
estágio.

Para mudanças de regras (institucionais, estruturais):

O tempo necessário para alcançar um acordo coletivo entre os atores sociais;

O tempo e gastos envolvidos na obtenção da aprovação por mudanças;

O tempo e esforço necessário para implementar uma nova regra na sociedade;

O tempo e esforço necessário para monitorar a aplicação das regras e garantir obediência; e

O tempo e esforço necessário para resolver conflitos quando disputas eclodem com relação a
como novas regras são impostas.
Poder de Mercado

Poder de mercado: a habilidade de controlar, ou pelo menos afetar, os termos e condições de
trocas em que participa.

No modelo básico neoclássico, todos os mercados são considerados “perfeitamente
competitivos” de forma que nenhum comprador ou vendedor tem poder para influenciar os preços
ou outras condições de mercado.

Exemplos de poder de mercado:

Uma firma (um monopolista) ou poucas firmas (oligopolísta) vendendo um bem,
podem ser capazes de usar seu poder para aumentar seus preços e lucros, criando
alocações ineficientes dos recursos no processo;

Trabalhadores podem também ser capazes de ganhar certo poder de mercado ao
unirem-se para negociar como um sindicato;

Um governo atuando como monopsônio, ou seja, quando torna-se o único comprador
de um bem ofertado pelo setor privado;

Corporações multinacionais afetando decisões governamentais quanto ao nível de
emprego, crescimento econômico, padrão de vida, e estabilidade econômica de
regiões e países.
Informação e expectativas

No modelo básico neoclássico, em que as decisões puramente
descentralizadas conduzem à resultados eficientes, assume-se que as
pessoas tem fácil acesso a todas informações que precisam para fazer
boas escolhas (análise estática).

Esta análise é estática; isto é, trata de um caso idealizado sem considerar o
aspecto temporal.

Tempo que levaria para uma pessoa tomar uma decisão;

Tempo que poderia levar para uma fábrica engajar na produção de um bem.

No mundo real, dinâmico, a obtenção de boa informação pode ser difícil, e
planejar para um futuro incerto é parte da tomada de decisão de qualquer
agente econômico.

Numa análise dinâmica, os tomadores de decisão terão que formar uma
expectativa futuras que podem ser corretas ou incorretas, otimistas ou
pessimistas.
Necessidades humanas e equidade

No modelo básico neoclássico, as únicas demandas do consumidor que conta
são aquelas que podem ser garantidas pela habilidade do consumidor de pagar
pelos bens.

Implicações:

Nada existe no modelo que assegure que os recursos são distribuídos de tal
forma que as pessoas possam atender suas necessidades básicas;

O modelo não leva em consideração os bens e serviços de não-mercado, tais
como cuidados dados às crianças, pessoas doentes e idosos, pelos familiares e
amigos;

Problemas tipo desemprego e inflação usualmente tendem a afetar algumas
pessoas mais do que outras.

Falha de mercado: uma situação em que os mercados resultados ineficientes
ou inapropriados.

Até certo ponto as instituições de não-mercado privados podem ajudar a remediar as
“falhas de mercado”?
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