BOLETIM DE PESQUISA INTERFACES O Boletim de Pesquisa Interfaces é uma publicação dos professores da FACE/PUCRS e contempla temas diversos nas áreas de economia e negócios. Seus textos são curtos, objetivos e ilustrados com pelo menos um gráfico, figura ou tabela. A ideia é divulgar conhecimentos, estimular o debate e intensificar a interação entre a Universidade, as Empresas e o Governo. Entende-se que esta é uma forma de contribuir para o desenvolvimento da sociedade. Porto Alegre: FACE/PUCRS, Vol. 1, Núm. 4, 2014. Gestão do Conhecimento em Micro, Pequenas e Médias Empresas Mirian Oliveira ([email protected]) - FACE/PUCRS Cristiane Drebes Pedron ([email protected]) - UNINOVE Felipe Nodari ([email protected]) - FACE/PUCRS Rodolfo Ribeiro ([email protected]) - UNINOVE Resumo: este texto tem como objetivo descrever a avaliação da gestão do conhecimento em um grupo de micro, pequenas e médias empresas do Rio Grande do Sul e de São Paulo. Os dados analisados foram coletados através de um questionário, o qual foi respondido pelo gestor em 232 empresas. Iniciativas de gestão do conhecimento foram identificadas nas empresas, assim como aspectos a serem aprimorados, entre os quais se destaca a necessidade das empresas investirem na documentação do conhecimento (armazenamento do conhecimento e conhecimento explícito) e no relacionamento com parceiros (associações, universidades, etc.). O conhecimento é um ativo intangível, que pode contribuir para a obtenção de vantagem competitiva sustentável. A gestão do conhecimento (GC) é um “conjunto de processos para a criação, compartilhamento e utilização do conhecimento, que contribuem para que a empresa alcance seus objetivos organizacionais” (Lee; Yang, 2000, p.798). A avaliação da GC nas empresas permite que cada empresa analise sua evolução ao longo do tempo, e que sejam criados valores de referência, os quais permitem que cada empresa possa conhecer sua posição em relação à média do setor, assim como podem servir para ações setoriais. Em geral, as micro, pequenas e médias empresas, quando comparadas às grandes empresas, apresentam reduzido número de funcionários, assim como gestores com menos tempo de experiência na função. Isto faz com que as micro, pequenas e médias empresas tenham uma maior necessidade de obter conhecimento externo à empresa. A obtenção de conhecimento externo pode ocorrer, por exemplo, através de reuniões com clientes e fornecedores, participação em congressos, conversas informais com pessoas de outras empresas, reuniões de lições aprendidas, etc. A GC em micro, pequenas e médias empresas é favorecida pelo menor número de níveis hierárquicos, o que facilita o compartilhamento do conhecimento entre as pessoas (Wee; Chua, 2013). Por outro lado, a menor documentação nestas empresas é uma barreira para a GC, pois o conhecimento pode ser perdido com a saída do funcionário da empresa (Durst; Edvardsson, 2012; Wee and Chua, 2013). Os resultados dessa pesquisa são baseados em questionários respondidos por gestores em 232 empresas. O questionário utilizado para a coleta de dados está detalhado em Oliveira, Pedron, Nodari e Rodolfo (2014). Cada item do questionário foi respondido por um gestor da empresa através de uma escala de cinco pontos que vai de 1 (discordo fortemente) até 5 (concordo fortemente). Em relação ao perfil das empresas que participaram da pesquisa, pode-se dizer: 106 empresas são da indústria, 53 do comércio e 73 de serviço; sendo que 117 empresas possuem até 9 funcionários, 67 empresas possuem de 10 a 19 funcionários, 39 empresas possuem de 20 a 49 funcionários e 9 empresas possuem de 50 a 99 funcionários. A análise foi realizada pela comparação do resultado obtido para cada aspecto relacionado com a GC, como mostra a Figura 1, o que permite identificar os pontos que necessitam de mais atenção. O gestor considerou de 3 a 6 itens para avaliar cada um dos aspectos, e a média destes foi utilizada na Figura 1. Suporte da alta administração 5 Compartilhamento Tecnologia da informação 4 3 Armazenamento Conhecimento explícito 2 1 Criação Conhecimento tácito Parceiros Clientes Fornecedores Figura 1 – Visão geral O suporte da alta administração e a tecnologia da informação são aspectos relacionados com o ambiente interno da empresa. A GC é percebida positivamente pelas empresas que responderam o questionário, considerando que a média dos itens que medem o suporte da alta administração foi 4,19 (de um máximo de 5). A alta administração acreditar no valor do conhecimento é relevante, mas também é necessário ela demonstrar isto através de ações, ou seja, fornecendo aos funcionários condições, em termos de processos e tecnologia da informação. A tecnologia da informação é medida através de 5 itens, sendo que a média obtida foi 2,96 (de um máximo de 5). O item que mede o uso da tecnologia da informação como suporte para o compartilhamento do conhecimento com pessoas de outras empresas obteve o menor resultado (2,52). Considerando que necessitar de conhecimento externo é uma característica das micro, pequenas e médias empresas, o uso da Tecnologia da Informação pode contribuir para aumentar o relacionamento com o ambiente externo. O conhecimento tácito, que considera o conhecimento que está na mente das pessoas e é dificilmente documentado, e o conhecimento explícito, aquele conhecimento que está documentado, são aspectos relacionados com o conteúdo. Para alavancar o conhecimento tácito, os gestores podem criar ambientes que favoreçam conversas informais, estimular a realização de “happy hour”, definir um calendário de reuniões, propiciar a participação de funcionários em congressos, etc. A média obtida para o conhecimento tácito (3,48) foi significativamente superior a do conhecimento explícito (2,85), o que mostra que nestas empresas a documentação não é a prioridade. Para aumentar o conhecimento explícito, estas empresas podem estimular a documentação de procedimentos, soluções de problemas, etc. O processo é avaliado através da criação, armazenamento e compartilhamento do conhecimento. A média obtida para a criação do conhecimento foi 2,63 (de um máximo de 5). A criação do conhecimento em empresas com reduzido número de funcionários é difícil, pois a diversidade é menor. Neste caso, estimular a interação com o ambiente externo pode contribuir para aumentar a criação do conhecimento. O armazenamento do conhecimento está relacionado com o conhecimento explícito, ou seja, o conhecimento documentado. Não documentar o conhecimento da empresa pode facilitar a perda do mesmo pela saída de funcionários da empresa. A média para o armazenamento do conhecimento foi 2,43 (de um máximo de 5). O compartilhamento do conhecimento considera os funcionários que fornecem o seu conhecimento assim como os que buscam determinado conhecimento. A média obtida para o compartilhamento do conhecimento foi 3,71, a maior dos três processos (criação, armazenamento e compartilhamento). Mecanismos que podem contribuir para o compartilhamento do conhecimento são: reuniões de lições aprendidas, conversas informais, comunidades de prática, diretório com especialistas, etc. O ambiente externo é avaliado através do relacionamento com clientes, fornecedores e parceiros. O relacionamento com fornecedores e clientes pode ser motivado pela melhoria de processos e produtos. Enquanto o relacionamento com parceiros pode contribuir para aumentar o compartilhamento e a criação de conhecimento. A média obtida para o relacionamento com os parceiros (2,65) foi inferior a obtida para o relacionamento com clientes (3,57) e fornecedores (3,36). A avaliação da GC em um grupo de micro, pequenas e médias empresas brasileiras permitiu identificar quais os aspectos que necessitam maior atenção, assim como aqueles que já estão sendo desenvolvidos pelas empresas. Estes aspectos foram agrupados em quatro dimensões, que são ambiente interno, conteúdo, processo e ambiente externo. Em relação ao ambiente interno, o suporte da alta administração mostrou melhor resultado que a tecnologia da informação, a qual merece receber atenção por parte dos gestores. Na dimensão conteúdo, destaca-se a necessidade de investir na documentação do conhecimento (conhecimento explícito), para que ele não seja perdido com a saída de funcionários ou possa ser facilmente acessado quando o número de funcionários da empresa crescer. O conhecimento tácito obteve melhor resultado que o conhecimento explícito, mas mesmo assim ainda há espaço para que ele seja estimulado nas empresas, o que pode ocorrer facilitando a participação de funcionários em comunidades de prática, congressos, etc. Em relação à dimensão processo, observa-se que a criação e o armazenamento do conhecimento são dois aspectos que as empresas podem aprimorar seus resultados. Na dimensão ambiente externo, destaca-se que o aspecto parceiros pode ser uma oportunidade a ser considerada pelas empresas, além de aumentar a relação com fornecedores e clientes. Além de avaliar a GC, a aplicação do instrumento gerou valores de referência para que outras empresas possam comparar seus resultados. Estes resultados também podem ser utilizados por associações para o desenvolvimento de ações que beneficiem o desenvolvimento de grupos de empresas. Referências Durst, S.; Edvardsson, I.R. Knowledge management in SMEs: a literature review. Journal of Knowledge Management, v. 16, n. 6, 2012, p. 879-903. Lee, C.C.; Yang, J. Knowledge value chain. Journal of Management, v. 19, n. 9, 2000, p. 783793. Oliveira, M.; Pedron, C. D.; Nodari, F.; Rodolfo, R. Knowledge management in small and micro enterprises: applying a maturity model. In: European Conference on Knowledge Management, 2014, Santarém. European Conference on Knowledge Management - ECKM 2014. London: ACPI, 2014. v. 2. p.757-764. Wee, J.C.N.; Chua, A.Y.K. The peculiarities of knowledge management processes in SMEs: the case of Singapore. Journal of Knowledge Management, v. 17, n. 6, 2013, p. 958-972.