Aprendendo a viver com TOC TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO Barbara L. Van Noppen, M. S. W., Michele T. Pato, M. D., Steven Rasmussen, M. D. Versão da 4a edição americana para o português por Ana Hounie Roseli Gedanke Shavitt Maria Claudia Bravo Daniela Rozados Sérgio A. Brotto, Yara Garzuzi Rosemar Prota Eurípedes C. Miguel Departamento de Psiquiatria da FMUSP São Paulo, 1a edição, 2000. Nós não estamos sozinhos! Finalmente, depois de anos sem saber para onde se dirigir, alguém deu a isto um nome. Um membro da família foi diagnosticado portador de Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) e você quer aprender tudo o que puder sobre esse transtorno. Preocupado com seu familiar com TOC, você, sem dúvida, perguntou-se ―O que posso fazer para ajudar?‖. Estranhamente, agir por instinto nem sempre é o melhor para o seu familiar. Desistir, reassegurar ou discutir nem sempre são formas construtivas de ajudar a diminuir os sintomas do TOC e podem não transmitir apoio para o portador. Sabendo que seu familiar tem um transtorno definido pode promover algum alívio: ―pelo menos agora nós sabemos como chamar isso e podemos encontrar alguém que nos ajude!‖. Reconhecer que alguém da família tem TOC é o primeiro passo para entender como lidar com os sintomas. Leva tempo e esforço para realmente entender o TOC, para aceitar que alguém que se ama tem TOC e para aprender a lidar com o problema de maneira eficaz. Os sintomas do TOC não vão simplesmente embora, mas com o tratamento e o apoio da família a maioria dos pacientes experimentam alguma melhora. Você pode tornar-se hábil no manejo do TOC; as relações familiares podem melhorar e os sintomas podem diminuir. Entretanto, há estágios para alcançar esses objetivos e, lembre-se: leva tempo. Depois de anos de trabalho com famílias que têm um membro com TOC, nós encontramos alguns temas que se repetem: sentimentos de isolamento, frustração, vergonha, questionamentos do tipo ―Por que eles simplesmente não param?. Antes de tudo há um pedido de ajuda. ―O que devemos fazer?―. Os familiares geralmente se sentem perturbados, confusos, oprimidos e frustrados. Em um esforço para ajudar, você provavelmente tentou exigir que a pessoa com TOC interrompesse seu comportamento ―tolo‖, ou ajudou na realização dos rituais ou, ainda, para ―manter a paz‖, fê-los você mesmo. Qualquer dos extremos tem um efeito disruptivo no funcionamento familiar e pode levar a um aumento nos sintomas obsessivo-compulsivos. O conflito familiar é inevitável. Como suas tentativas de ―ajudar‖ a pessoa com TOC são rejeitadas ou ineficazes, você começa a se sentir desesperado e impotente. Você pode fazer diferença! Uma mulher de 40 anos com uma história de TOC de 20 anos e sua mãe de 60 anos, começaram a participar de um grupo de psicoeducação familiar. Elas disseram que ―tinham um bom relacionamento e podiam falar de qualquer coisa, exceto de TOC‖. Na terceira sessão elas contaram ao grupo alegremente que ―agora podiam falar abertamente do TOC‖. Quando os outros perguntaram o que havia feito a diferença, a mulher com TOC disse ‖pelo fato da minha mãe vir aos grupos, ter lido informações sobre TOC e escutado outros portadores de TOC falarem de sua experiência, eu sinto que ela está começando a entender o TOC e o que eu estou sofrendo‖. 2 Nós temos observado que a educação e a compreensão emocional do que seja experimentar sintomas de TOC devem acompanhar os esforços familiares de intervenção. Como muitas pessoas com TOC são, por outro lado, muito funcionais, não é de se admirar que você tenda a considerar as compulsões como comportamentos que também estão sob controle da vontade. Esse é um engano comum. Aceitar que um membro familiar tem ―algo errado‖ que requer ajuda profissional pode ser um processo doloroso. Antes de ser capaz de ajudar, você precisa aprender sobre TOC. Você deve saber o que é o problema antes de tentar resolvê-lo! Educação é o primeiro passo. À medida que alguém aprende mais sobre TOC, ele começa a sentir mais esperança de que pode fazer coisas para ajudar a pessoa que tem TOC. O TOC envolve um distúrbio bioquímico com sintomas clínicos que vão além de traços de personalidade. À medida que seu conhecimento aumenta, você vai ser capaz de ver os comportamentos irracionais de uma perspectiva não pessoal. Suas relações familiares irão melhorar e a pessoa com TOC se sentirá mais apoiada. Relações familiares positivas e sentirse compreendido aumentam muito os benefícios terapêuticos dos tratamentos (medicação, terapia comportamental). Agora que nós sabemos como chamá-lo.... Como saber quando os sintomas obsessivo-compulsivos requerem atenção profissional? Quando você começar a aprender sobre TOC, você vai-se pegar pensando ―Isso parece comigo!‖ ou ―Eu faço isso!‖. Confundir traços de personalidade com sintomas é um engano comum porque à primeira vista eles parecem iguais. Entretanto, a razão dos comportamentos é muito diferente. Por exemplo, um pai que tinha dificuldade em entender por que seu filho não conseguia parar de se lavar e sair para o trabalho comentou que ele também tinha ―hábitos‖ de limpeza e, se ele podia parar, por que seu filho não podia? Isso enfureceu seu filho, deixando-o mais sintomático. Ele se sentiu chateado porque seu pai não entendeu a diferença entre um hábito e uma compulsão. A distinção entre traços e sintomas obsessivo-compulsivos é importante. Estudos mostram que a maioria das pessoas têm um ritual ou dois. A diferença reside no grau de ansiedade e na convicção de que a compulsão deve ser realizada. Pessoas com TOC sentem que não conseguem controlar sua ansiedade de outra forma que não fazendo rituais. Seus cérebros dizem a eles que seus medos vão diminuir se eles fizerem os rituais. É mais fácil não admitir ou não identificar esse comportamento como um sintoma e considerá-lo um defeito. Nós todos temos um ou dois rituais, mas esses comportamentos se transformam em sintomas se eles não são desejados e interferem com a nossa vida social e/ou ocupacional. Quando a pessoa não consegue controlar as compulsões é importante não culpála. Por outro lado, as compulsões não devem tornar-se uma desculpa para incapacidade ocupacional. Algumas vezes, uma vez que o TOC é identificado, as 3 pessoas esperam dos familiares que assumam suas responsabilidades para evitar certas situações. Isso raramente é benéfico para o portador de TOC. O que causa o TOC? Eu tenho culpa? Alguns familiares têm perguntado ―Se eu tenho traços obsessivo-compulsivos eu terei TOC?‖. Não há evidências científicas que sustentem essa associação. De fato, muitas pessoas têm traços obsessivo-compulsivos a vida inteira e nunca desenvolvem TOC. Fatores ambientais e genéticos parecem contribuir para o desenvolvimento de sintomas obsessivo-compulsivos (SOC). Estudos genéticos recentes, associados a pesquisas de anormalidades neuroquímicas em portadores de TOC, têm sugerido que o TOC ocorre em famílias. Assim, muitos membros de uma mesma família podem ser afetados com TOC e/ou transtornos relacionados, como a Síndrome de Tourette (ST). Diferentes membros de uma família podem ter uma variedade de sintomas, obsessões e compulsões, ansiedade generalizada, transtorno do pânico e tiques complexos motores e vocais (Síndrome de Tourette). Estudos genéticos encontraram maior taxa de concordância de TOC em gêmeos monozigóticos (idênticos)1 (cerca de 65%) do que em dizigóticos (cerca de 15%). Não foram feitos estudos de adotados até o momento ou estudos de gêmeos criados separados (estes estudos servem para definir até que ponto a doença é genética ou ambiental). Parece que pessoas com TOC têm uma vulnerabilidade genética que é desencadeada por estressores ou fatores ambientais que resultam na expressão dos sintomas. Enquanto a maioria das anormalidades apontam para um neurotransmissor, a serotonina, outros neurotransmissores podem estar envolvidos. Pesquisas adicionais têm implicado regiões específicas do cérebro na causa dos SOC. Essas regiões cerebrais são geralmente ricas em receptores de serotonina e estão envolvidas no aprendizado processual e no comportamento de aproximação/esquiva. Correlatos do TOC nos animais também têm sido identificados. Um transtorno de excesso de cuidados instintivos de limpeza 2, o distúrbio de lambedura de extremidades, pode afetar cães, gatos e até pássaros. Leva a uma perda de pêlos ou plumas pela lambedura excessiva, comportamento que se assemelha ao compulsivo. O dano causado à pele subjacente pode levar a infecção e perigo de vida ao animal em casos extremos. Felizmente, esses animais respondem às mesmas medicações que são usadas para tratar o TOC! Estas atuam na serotonina, como um dos principais mecanismos de ação. Enquanto muito da pesquisa científica têm-se focalizado em fatores biológicos, há muita literatura a respeito de modelos para o TOC baseados na teoria do aprendizado. O modelo mais conhecido deriva da teoria de Mowrer, dos dois estágios de aquisição e manutenção do medo e do comportamento de esquiva. No primeiro estágio, o da aquisição, objetos neutros (assento sanitário, tesouras), 1 As notas entre parênteses e em itálico são dos tradutores, para facilitar a compreensão. Grooming é o comportamento de lamber as patas, as penas e os pêlos apresentados por alguns animais e que não apresenta termo adequado para tradução para o português. 2 4 pensamentos (alguém vai machucar-se) ou imagens (o diabo) são associados a medo/ansiedade por acoplarem-se a estímulos aversivos que provocam desconforto. No segundo estágio, o de manutenção, a esquiva dos desencadeantes (situações, objetos) é reforçada porque a ansiedade é reduzida. Essa explicação é simplista e os interessados podem procurar as referências bibliográficas sugeridas ao final deste livreto para maiores informações. Estímulos internos (pensamentos, imagens, impulsos) podem provocar desconforto e desencadear as compulsões. Além disso, as compulsões nem sempre são evidentes. De fato, muitas pessoas com TOC descrevem compulsões mentais, como contar, relembrar uma conversação ou verificar a disposição dos móveis do quarto no pensamento. Assim, modelos cognitivos que apontam para um processamento cognitivo ―defeituoso‖ complementam os comportamentais ou de aprendizado na explicação do TOC. Embora os pensamentos que são problemáticos para as pessoas com TOC sejam comuns à maioria de nós, aqueles com TOC experimentam um desconforto exagerado, temem uma catástrofe e têm maior dificuldade em evitar esses pensamentos. Pesquisadores na área cognitiva estão examinando os fenômenos cognitivos (crenças, memória, processamento de informação, percepções) para distinguir entre processos obsessivo-compulsivos de pensamento e a maneira ―normal de pensar‖. É importante saber que a pessoa que tem TOC não tem culpa disso. Da mesma forma, como membro da família, você deve aprender que não ―causou‖ o TOC; ele não é causado pela ―criação‖ ou educação. Os pais com TOC temem que seus filhos ―aprendam‖ o TOC. Um pai com rituais de lavagem pode ter um filho com rituais de verificação. Embora a genética tenha um papel no TOC e as crianças tendam a imitar seus pais, elas não podem aprender a sentir a ansiedade que acompanha o TOC de seus pais. Talvez seja da natureza humana sentir-se responsável por fenômenos psicológicos que não têm uma explicação simples. Você pode perguntar-se ―Bom, se eu não causei , o que causou? ―. No momento, a melhor explicação é a seguinte: uma predisposição genética que provavelmente envolve o neurotransmissor serotonina pode tornar uma pessoa vulnerável a desenvolver TOC. Alguns valores, a ética e certas crenças podem ter uma contribuição, mas os pais não causam TOC. As famílias geralmente sentem-se culpadas pela maneira como educaram seus filhos ou responderam aos seus esposos. Culpar os familiares é improdutivo. Ao contrário, os familiares podem vir a aprender como se envolver eficazmente no tratamento do TOC e podem desempenhar um papel importante na melhora dos sintomas ao invés de perpetuá-los. Aprendendo comportamentos de apoio que o retirem das compulsões, como membro da família, você pode fazer a diferença no curso dos sintomas daquele ente querido e na sua vida. O TOC vai embora? A maioria das pessoas com TOC apresenta um vaivém dos sintomas. Você pode se desapontar se tiver a expectativa de que se os sintomas forem embora, isso será para sempre. Algumas pessoas podem ter um episódio único e permanecer 5 livres de sintomas pelo resto da vida. Entretanto, é melhor estar preparado para que os sintomas voltem em períodos estressantes da vida ou durante períodos de mudanças e ajudar a pessoa com TOC a estar preparada também. O curso flutuante do TOC é influenciado por diversos eventos, mais freqüentemente o estresse. Eventos estressantes podem ser qualquer coisa, inclusive alegrias e ocasiões positivas. Pessoas com TOC geralmente comentam que não gostam de mudanças e têm dificuldade de mudar. Até o presente momento não existe ―cura‖ garantida para o TOC. Há formas efetivas de tratamento que podem permitir a pessoa a levar uma ―vida normal‖. Como membro da família, você pode aprender o que esperar e como responder a esses altos e baixos. Tratamento . Clínicos experientes concordam em que um tratamento multimodal que inclui medicação, terapia comportamental e educação e apoio familiar é o melhor. Muitas medicações que estão disponíveis no mercado têm efeito benéfico para os portadores de TOC. Essas medicações incluem: clomipramina (Anafranil), fluvoxamina (Luvox), sertralina (Tolrest, Zoloft), fluoxetina (Prozac, Eufor, Daforin, Verotina, Fluxene) e paroxetina (Aropax e Pondera). Essas medicações provocam mudanças no sistema que envolve a serotonina cerebral. Essa medicações são comercializadas como antidepressivos. Isso é uma vantagem, pois muitos pacientes com TOC também têm sintomas de depressão, como perda de interesse e energia, pouca concentração, dificuldade no sono, e até idéias de suicídio. Nem sempre fica claro se esses sintomas são secundários ao TOC, ou seja, se são uma resposta ao sofrimento pelo fato de viver com TOC ou uma doença separada (depressão primária). Felizmente, as medicações prescritas tratam tanto o TOC como os sintomas depressivos. É importante para as pessoas que têm TOC e os seus familiares que reconheçam que apenas a medicação raramente é eficaz em afastar os sintomas totalmente. Adicionar outras modalidades de tratamento ajudam a pessoa com TOC a controlá-los melhor. Até o momento, parece que a medicação apenas atua no controle e não na cura dos sintomas. Quando as medicações são efetivas, a maioria dos portadores diz que estas ajudam a rejeitar as preocupações e a resistir às compulsões mais facilmente. Assim, algum esforço por parte do portador é necessário para diminuir os sintomas e a medicação ajuda nesse processo. Quando a medicação é interrompida, entretanto, os sintomas tendem a retornar dentro de algumas semanas ou meses e novamente torna-se mais difícil resistir à necessidade de realizar as compulsões. Adicionando outras técnicas terapêuticas, particularmente a terapia comportamental, temos maiores chances de conseguir tratar os sintomas com menos medicação ou até sem medicação a longo prazo. A terapia comportamental é mais efetiva que a psicoterapia psicodinâmica tradicional no controle dos sintomas. Ao contrário da psicoterapia, que procura no passado a ―raiz’ do problema, a terapia comportamental utiliza uma abordagem 6 prática do ―aqui e agora‖ para eliminar comportamentos indesejáveis. É recomendado inicialmente estabelecer uma hierarquia ou lista de situações evitadas/temidas, desencadeantes externos e pensamentos, imagens ou impulsos que provoquem desconforto. Cada item é então graduado numa escala de 0 a 100 em termos de quantidade de desconforto que gera (isso é chamado unidade subjetiva de desconforto - USD). A principal técnica comportamental é chamada ―exposição e prevenção de resposta‖. Para eliminar os sintomas, a pessoa com TOC deve se expor a essas situações que são temidas e evitadas. A exposição é melhor realizada de modo gradual, iniciando-se com os itens que provocam menos desconforto, de acordo com o escore na escala de USD. Em seguida, a pessoa é encorajada a resistir às compulsões que se sente impelida a realizar para evitar uma conseqüência temida ou o aumento da ansiedade. Essa parte é chamada ―prevenção de resposta‖. À medida que a exposição e a prevenção de resposta é realizada continuamente, a pessoa com TOC aprende ―que nada de ruim acontece‖ quando o ritual não é realizado. No início, a ansiedade cresce por conta do medo irracional de que aconteça alguma catástrofe. Com o tempo, a pessoa com TOC poderá dizer: ―eu me lavei apenas uma vez e ninguém se machucou‖. Para aqueles com sensação de ―incompletude‖ ou sensação de que não ficarão bem se não fizerem as compulsões, a exposição aos eventos desencadeantes e a resistência aos rituais, com o tempo, levam à diminuição da ansiedade da mesma forma. A exposição e a prevenção de resposta freqüentemente evocam um aumento inicial da ansiedade. Entretanto, com o tempo e a prática, ocorre a redução do desconforto e uma maior habilidade em resistir aos rituais. Não se desesperem; através da repetição e longos períodos de prática, a ansiedade diminui. Esse princípio é chamado habituação. A terapia comportamental exige um enorme montante de prática e paciência, assim como uma forte motivação para tolerar níveis crescentes de ansiedade. Uma boa analogia para a exposição e a prevenção de resposta é o exercício. Quando uma pessoa começa a correr, por exemplo, começa com passo lento e pequena distância. À medida que mais força e resistência são alcançadas, distâncias maiores podem ser percorridas a passos mais rápidos. Dores musculares são interpretadas como sinais de bom uso de áreas que estavam sendo mal condicionadas. Da mesma forma, quando uma pessoa começa a terapia comportamental, um aumento inicial de ansiedade é considerado como ―estou fazendo algo errado, pois isto deveria fazer sentir-me bem‖ em vez de ―esta ansiedade é um bom sinal de que estou-me confrontando com coisas que me estressam, então sinto mais ansiedade no início". Muito freqüentemente, as pessoas interrompem o tratamento comportamental por conta desse aumento inicial de ansiedade, sem considerar que o processo de habituação leva um certo tempo para ocorrer. Comparando o tempo que a pessoa com TOC sofreu com seus sintomas, a diminuição do desconforto e das compulsões ocorre relativamente rápido. Apesar disso, a maioria das pessoas fica impaciente e espera que suas preocupações vão embora mais rapidamente do que é realista esperar. Mesmo quando as compulsões param, as preocupações persistem, pois comportamentos mudam mais rapidamente que pensamentos e 7 sentimentos. Entender tudo isto ajuda você, enquanto pessoa de apoio, a ser um melhor amparo. A intervenção da família é um importante complemento aos tratamentos farmacológico e comportamental. Uma forma de tratamento que tem sido efetiva é o grupo de apoio psicoeducacional multifamiliar. Este é um grupo formado por membros da família e pessoas com TOC com o propósito de aprender sobre TOC, o seu impacto nas famílias e estratégias para lidar com isso. Calvocoressi e suas colegas relataram que 88% dos familiares que eles entrevistaram participavam de alguma maneira na manutenção dos sintomas. Nesse estudo, a participação familiar nos sintomas estava significativamente correlacionada com a disfunção familiar e com atitudes negativas em relação à pessoa com TOC. Essas características podem servir para manter a gravidade dos SOC e grupos de famílias podem ajudar a lidar com essas dificuldades que podem afetar a recuperação do indivíduo com TOC. Grupos de Apoio Psicoeducacionais Multifamiliares são únicos no sentido de que oferecem a rara oportunidade aos envolvidos de se sentirem menos isolados. É um processo enriquecedor aprender sobre TOC, compartilhar experiências e discutir abordagens alternativas para a resolução de problemas. Você se sentirá aliviado em saber que outros lutam com os mesmos medos, preocupações, questionamentos e conflitos relacionados ao TOC. Esses grupos de suporte podem ser facilitados por profissionais ou fundados nos princípios dos grupos de auto-ajuda. Se você está pensando em iniciar um desses grupos por sua conta, é aconselhável que consulte profissionais para obter informações clínicas adequadas. Além disso, os familiares podem aprender por meio de fitas de vídeo e da literatura3. Outra abordagem multifamiliar que incorpora familiares/pessoas de apoio ao tratamento é o tratamento comportamental multifamiliar (TCM). O TCM que nós desenvolvemos é composto por 6-7 famílias e inclui a pessoa com TOC. Há dois encontros particulares com cada família antes de se iniciar o grupo. Cada sessão dura uma hora e meia e o propósito é angariar informações e descrever o TCM detalhadamente. A seguir, há doze sessões semanais multifamiliares de duas horas e seis sessões mensais de entrada de novos membros. Durante as doze sessões semanais são fornecidas psicoeducação sobre TOC e tratamento comportamental. O tratamento é modelado de acordo com a terapia comportamental individual e consiste na exposição in vivo e na prevenção de resposta, além de tarefas em casa e auto-monitoração. Além disso, as famílias observam os exercícios de exposição e prevenção de resposta, compartilhando experiências e estratégias de resolução de problemas com outras famílias, aprendendo a negociar acordos com o portador de TOC de maneira adequada. Esses acordos são chamados contratos comportamentais. 3 A ASTOC pode fornecer informações a esse respeito aqui no Brasil. Para maiores informações veja o apêndice no final deste livro. 8 O objetivo primário dos contratos comportamentais é promover o trabalho conjunto da família na elaboração de planos específicos para o manejo dos SOC em termos comportamentais. Isso reduz o conflito e preserva a convivência. Ao melhorar a comunicação e o desenvolvimento de uma maior compreensão da perspectiva do outro, fica mais fácil para o indivíduo com TOC aceitar ajuda dos membros da sua família no controle dos sintomas. A experiência tem mostrado que a terapia familiar comportamental mais efetiva resulta dos contratos entre os indivíduos com TOC e seus familiares. Algumas famílias são capazes de fazer isso por conta própria, enquanto a maioria necessita de instrução profissional. A idéia por trás do contrato familiar é que objetivos realistas sejam estabelecidos pela pessoa com TOC juntamente com as pessoas que o apoiam. O processo em si é reassegurador e válido para o portador de TOC. A mensagem da família é: ―Nós reconhecemos que algo está errado e nós trabalharemos juntos para melhorá-lo!‖. Por exemplo, a pessoa com TOC pode escolher o objetivo de escolher lavar algumas roupas ―contaminadas‖. Então discutirá com os membros da família como eles poderão ajudar na tarefa. Isso pode significar: 1) acompanhar a pessoa com TOC enquanto realiza a tarefa, 2) concordar que a pessoa com TOC somente será reassegurada uma vez pelos familiares em relação ao fato das roupas não estarem contaminadas, 3) prover algum tipo de recompensa após a tarefa ser concluída (jantar fora, elogiar) como reforço positivo. Um exemplo de como um contrato comportamental de família funciona pode ser ilustrado com o caso de um homem de 35 anos com compulsão de colecionismo. Ele guardava suas roupas da adolescência que não usava há mais de 20 anos. Devido ao seu guarda-roupas estar lotado, o seu quarto e outros quartos da casa estavam abarrotados e insuportáveis. Ele e sua esposa concordaram em que ele se desfaria de uma roupa diariamente por um mês. Como é muito difícil para colecionadores desfazer-se de coisas, limites devem ser estabelecidos. Se às oito da noite ele não tivesse dado uma roupa à esposa ela teria permissão para abrir seu armário e escolher três peças, das quais ele selecionaria uma. Se às 8:30 ele ainda não tivesse escolhido, ela então escolheria. Assim, a pessoa com TOC é firmemente encorajada pela família mas lhe é dada a responsabilidade de se confrontar com seus medos e compulsões de evitação. Uma palavra de cautela antes de empregar estas estratégias por sua conta: todos os objetivos e contingências devem ser claramente definidos, entendidos e aceitos por todos os membros envolvidos nas tarefas. Famílias que decidem reforçar ―as regras do TOC‖ sem discuti-las antes com o portador, descobrem que ―o tiro sai pela culatra‖. Implementar um programa para modificar comportamentos deve ser algo planejado e discutido passo a passo. Após participar dos grupos de educação familiar e grupos de apoio pela primeira vez, um marido deixou a mensagem de que se recusaria a participar dos rituais da esposa. Após 20 anos ajudando a esposa ―para manter a paz‖, o marido foi para casa e parou de ―ajudar‖ nas compulsões. Você pode imaginar a ira que despertou na esposa e o marido voltou ao velho estilo, sentindo-se confuso, com raiva, desinformado, e impotente mais uma vez. O marido levou para casa a mensagem correta, o problema foi a 9 maneira de colocá-la em prática. Todos aqueles que se sentiram impelidos a fechar a chave de água para impedir compulsões de lavagem, ou a remover interruptores ou maçanetas para evitar verificações, poderão pensar agora que interromper a compulsão para por um fim no problema geralmente resulta em intenso conflito familiar que é freqüentemente tão doloroso quanto viver com os SOC. Assim, o ponto de maior importância é que antes dos familiares intervirem deve haver discussões, negociação e acordo entre a pessoa com TOC e a família para levar o plano adiante. Para a terapia comportamental familiar funcionar, esse processo é crucial. A exceção é quando ocorre uma situação de ameaça à vida ou perigosa.Neste momento, você poderá ser obrigado a agir apesar das “regras do TOC”. Em alguns casos, a terapia comportamental individual pode ser particularmente útil para aqueles que necessitam de atenção profissional mais intensiva do que a que pode ser dada em grupo. Quando a pessoa com TOC não o reconhece. Tenho recebido ligações e cartas descrevendo talvez a mais difícil das situações: quando familiares reconhecem os sintomas de TOC e a pessoa com TOC não aceita e se recusa a receber ajuda. O ideal nem sempre é a realidade. Alguns de vocês podem ter um membro da família que recusa absolutamente qualquer tratamento ou pode até negar que os sintomas existam. Essas são situações extremamente desafiantes, que evocam sentimentos de desespero. Algumas vezes você pode não ter escolha, a não ser continuar levando a sua vida adiante, enquanto lembra ao sofredor periodicamente que deseja ajudar, que reconhece seu sofrimento e que as pessoas ficam melhores do seu TOC. Em geral, pessoas com TOC não podem começar a terapia comportamental ou a medicação enquanto não desejem. Algumas vezes, quando o desconforto ou a incapacitação fica tão grande que prejudica o trabalho, os relacionamentos, o gozo da vida, a pessoa com TOC passará a aceitar o aconselhamento profissional. As famílias vêm relatando como chegaram ao ―fundo do poço‖ e como as coisas deterioraram antes que seu ente querido admitisse ter um problema. Esse é um processo doloroso e, como pessoa de apoio, você tem opções. Freqüentemente, admitir um problema não significa aceitar que se têm um problema. Para toda a família, aceitar é um processo que leva tempo. Como membro da família, seu objetivo é duplo - 1) obter apoio e se ajudar e 2) tentar ajudar a pessoa a aprender sobre o TOC e os tratamentos disponíveis. O primeiro passo é que um dos pais ou alguém da família reconheça o TOC. A seguir, é importante aprender o máximo possível a respeito do TOC. Além disso, participar de grupos de apoio disponíveis, tornar-se membro de associações como a OCD Foundation4 e receber material informativo. Conversar com outras famílias para compartilhar sentimentos de raiva, tristeza e isolamento é muito importante. Discutir como outras famílias manejam os sintomas e receber opiniões de como se 4 No Brasil, existe a ASTOC, Associação Brasileira de Portadores de Síndrome de Tourette, Tiques e Transtorno Obsessivo Compulsivo, com sede em São Paulo. 10 deve lidar com o TOC fará com que você pense mais criticamente sobre suas respostas e oferecerá alternativas. Em geral você deveria: 1. Trazer literatura, video-teipes e fitas cassete sobre TOC para sua casa. Oferecer a informação à pessoa ou deixá-la estrategicamente à mão para que possa ser lida/vista individualmente. 2. Informar a pessoa que tem TOC que é para seu benefício que se envolverá o mínimo possível com os comportamentos que eles se sentem obrigados a realizar. Você está lá para ajudá-lo a resistir às compulsões, não para ajudar nelas ou fazê-las. Explicar que você está fazendo tudo para entender o sofrimento dele, mas que você está desistindo das demandas sem sentido que apenas pioram a situação. 3. Explicar que, por meio do tratamento adequado, a maioria das pessoas percebe um decréscimo significativo dos sintomas. Existe ajuda e há outras pessoas com o mesmo problema. 4. Sugerir à pessoa com TOC que freqüente grupos de apoio com ou sem você e que converse com um colega com TOC (através das Associações) ou que fale com um profissional em uma clínica especializada. Se a pessoa com TOC ainda se recusa a reconhecer que há algo errado, você pode tomar uma atitude definitiva. Essas ações incluem: 1) Continue o seu apoio por conta própria e, se disponível, procure aconselhamento com um profissional especializado em TOC. 2) Recuse-se a se envolver com o TOC - não dê reasseguramento, não verifique, não evite. Reduzir sua participação nos rituais pode fazer o indivíduo com TOC ficar mais hostil. Novamente, explique gentilmente que você se oferece a procurar ajuda profissional com ele mas que não pode continuar a viver sob as regras do TOC. Lembre-o de que se você fizer o que ele pede pode fazer com que, temporariamente, ele se sinta melhor, mas que isso não ajuda os sintomas a diminuírem. Esta é geralmente a pior parte para a família seguir...é difícil estabelecer limites com empatia. Além disso, se você continuar a ajudá-lo a sentirse confortável reduzindo sua ansiedade, como é que ele vai querer encarar a aparentemente intransponível tarefa de mudar? Se você reconhece ter sido até agora um cúmplice do TOC, gradualmente vá deixando de ser. Por outro lado, se você tem se recusado a participar de qualquer modo do TOC a não ser por gritar ―deixe disso‖, você deve parar isso também e informar-se mais sobre o problema para poder dizer a mesma coisa mas de uma forma que seja de apoio e que mostre que compreende a luta por que ele está passando. De qualquer modo, o importante é ser consistente. Isso significa conversar com os outros membros da família para assegurar uma abordagem unificada, caso contrário, suas boas intenções poderão perder força. Por exemplo, em uma família, a mãe parou de lavar as roupas para seu filho de 28 anos mas o marido passou a fazê-lo no seu lugar porque eles não estabeleceram um plano antes sobre como lidar com os sintomas obsessivo-compulsivos. 11 Em alguns casos muito graves, a pessoa com TOC pode, eventualmente, escolher sair de casa. Se a pessoa não for um menor, mora sozinho e não oferece perigo a si ou a outros, talvez haja pouco a se fazer para convencer a pessoa a procurar ajuda. Isso não significa que você deva parar sua terapia ou parar de tentar. Algumas vezes leva anos de perseverança. Mais uma vez, lembre que aceitar o TOC e beneficiar-se do tratamento é um processo. Guia para viver com TOC As reações das famílias às pessoas com TOC variam. Há cinco reações típicas: 1) famílias que ajudam nos rituais para manter a paz; 2) famílias que não participam, mas permitem as compulsões; 3) famílias que se recusam a tomar conhecimento ou permitem as compulsões na sua presença; 4) famílias que se dividem na sua reação- alguns membros ajudam e outros se recusam; 5) famílias cujos membros oscilam entre um extremo e outro, tentando encontrar a solução ―certa‖. Em qualquer caso, reações familiares extremadas ou inconsistentes geram mais sentimentos de frustração e desesperança na medida em que os SOC aumentam. A tendência natural de pôr os sinais de alerta do TOC de lado parece retardar a procura de ajuda profissional. À medida que mais se sabe sobre o TOC, mais se pode ser otimista em relação ao tratamento e à recuperação. Em um esforço para ajudar as famílias, a lista de diretrizes a seguir foi desenvolvida por familiares e pessoas com TOC que experimentaram dificuldade de lidar com a situação no início. Diretrizes Gerais 1. Aprender a reconhecer os sinais que indicam que a pessoa está tendo problemas. 2. Modificar as expectativas em períodos de estresse. 3. Medir o progresso de acordo com o nível de funcionamento da pessoa. 4. Não fazer comparações dia a dia. 5. Reconhecer pequenas melhoras. 6. Criar um ambiente acolhedor em casa. 7. Manter a comunicação clara e simples. 8. Aderir firmemente ao contrato comportamental. 9. Estabelecer limites, mas ser sensível às mudanças de humor da pessoa. 10. Manter a rotina da família ―normal‖. 11. Usar o humor para lidar com a situação. 12. Apoiar o regime medicamentoso. 13. Separar tempo para outros membros da família é importante. 14. Os membros familiares devem ser flexíveis. o modelo de Diretrizes foi adaptado da obra Esquizofrenia e a Família de Carol Anderson, Ph.D.: Douglas Reiss, Ph.D.: Gerard Hogarty, MSW, The Guilford Press, NY, 1986. 12 (1) Reconhecendo os sinais A primeira diretriz para a família ressalta que seus membros devem reconhecer os ―sinais de alarme‖ do TOC. Algumas pessoas com TOC pensam coisas das quais você não tem conhecimento e que fazem parte do TOC, então você deve observar mudanças no comportamento. A lista dos doze sinais não é de modo algum exaustiva. Não considere alterações significativas como ―é só a personalidade dele‖. Lembre que as mudanças podem ser graduais, mas muito diferentes de como a pessoa se comportava no passado. Quando é solicitado listar os comportamentos percebidos como mudanças ou particularidades que começam a interferir no funcionamento social e/ou ocupacional, as famílias geralmente relatam perceber a existência de períodos inexplicáveis de tempo em que a pessoa fica sozinha (no banheiro, vestindo-se, fazendo tarefas), esquiva, irritabilidade e indecisão. Esses comportamentos podem facilmente ser confundidos com preguiça ou manipulação. É essencial que você aprenda a ver essas características como sinais do TOC e não traços de personalidade. Dessa forma, você pode juntar-se à pessoa com TOC na luta contra os sintomas em vez de ficar alienado. Pessoas com TOC geralmente referem que quanto mais criticados são , mais os sintomas pioram! Os sinais que devem ser observados incluem: 1. Longos períodos de tempo inexplicáveis. 2. Fazer coisas repetidas vezes. 3. Questionamentos constantes acerca da própria reasseguramento. 4. Tarefas simples levando mais tempo que o usual. 5. Atrasos permanentes. 6. Preocupação exagerada com detalhes e coisas menores. 7. Reações emocionais extremas a coisas menores. 8. Incapacidade de dormir adequadamente. 9. Ficar acordado até tarde para terminar de fazer coisas. 10. Mudança significativa nos hábitos alimentares. 11. O dia a dia se transforma numa luta. 12. Evitação. necessidade de (2) Modificando Expectativas Consistentemente, as pessoas com TOC referem que mudanças de qualquer tipo (mesmo positivas) são experimentadas como estressantes. É durante essas fases que os sintomas afloram. Além de identificar os SOC, você pode ajudar a moderar o estresse modificando suas expectativas em fases de transição. Em vez de expressar um frustrante ―deixe disso!‖, uma frase como ―não é surpreendente que seus sintomas estejam piores, veja as mudanças por que está passando‖ funciona 13 como apoio e cria uma aliança positiva. Além disso, o conflito familiar apenas alimenta a fogueira e promove a piora dos sintomas. Ajuda a ser flexível com o programa comportamental durante períodos estressantes. (3) As pessoas ficam melhores em velocidades diferentes. A gravidade dos SOC é um continuum. A gravidade é medida geralmente pelo grau de perturbação emocional e o grau de prejuízo funcional. Há uma grande variação na gravidade dos sintomas entre os indivíduos. Você deve medir o progresso de acordo com o nível de funcionamento da pessoa, não compará-lo com outras. Você deve encorajar a pessoa a se forçar ao máximo a funcionar o melhor possível. Entretanto, se a pressão para funcionar otimamente é maior do que a capacidade da pessoa, cria-se um estresse que leva a mais sintomas. Por exemplo, você deve ter observado diferenças entre indivíduos com SOC e pode ter comentado (ou pensado): ―Bom, se aquela pessoa consegue arcar com as responsabilidades familiares e trabalhar, por que você não pode?‖ Isso pode ser uma expectativa não razoável, dado o padrão e o curso da doença do indivíduo. Assim como há ampla variação entre a gravidade dos sintomas, há também variação em quão rapidamente os indivíduos respondem ao tratamento. Seja paciente. Uma melhora lenta e gradual pode ser preferível no final, se se conseguirem evitar recaídas. (3) Evitar comparações diárias. Freqüentemente, pessoas com TOC se sentem como se eles voltassem à estaca zero em períodos de crise. Você pode ter-se enganado em comparar o progresso do seu familiar com o seu funcionamento na época em que ele ainda não tinha desenvolvido o TOC. Devido ao curso flutuante do TOC, é importante observar todas as mudanças desde que o tratamento teve início. Comparações dia após dia não são adequadas pois não refletem a melhora. Ajude a pessoa a desenvolver ―pontos de referência‖ internos para medir o progresso. Nos dias em que a pessoa ―escorregar‖, você pode lembrá-lo de que ―amanhã é um outro dia para tentar‖ de modo que o aumento de rituais não seja encarado como um fracasso. Sentir-se como um fracasso é autodestrutivo: leva a sentimentos de culpa. Essas distorções criam um estresse que pode exacerbar sintomas e levar ao sentimento de ―perda do controle‖. Pode fazer diferença lembrar à pessoa o quanto já progrediu desde o pior episódio e desde que iniciou o tratamento. (5) Reconhecendo “Pequenos” Progressos. Pessoas com TOC costumam queixar-se de que os membros da família não entendem como custa realizar algo como fechar o chuveiro por cinco minutos ou resistir a pedir reasseguramento mais uma vez. Enquanto isso parece insignificante para os outros membros da família, para elas é um grande passo. Tomar conhecimento desses aparentemente ―pequenos‖ feitos é uma arma poderosa que encoraja a pessoas com TOC a continuar tentando. Isso permite à 14 pessoa saber que o esforço para melhorar é reconhecido por você. Elogios verbais são um forte reforçador positivo. Não hesite em usá-los!! (6) Crie um Ambiente Acolhedor Quanto mais você evita críticas pessoais, melhor. É o TOC que ―dá nos nervos‖. Tente aprender o máximo que puder sobre o TOC. Seu parente necessita do seu encorajamento e aceitação como pessoa. Lembre que aceitação e apoio não significam ignorar o comportamento compulsivo. Faça o possível para não participar das compulsões. Sem hostilidade, explique que as compulsões são sintomas do TOC, com o qual você não vai cooperar, porque quer que a própria pessoa resista. Isso promove uma atitude de não julgamento que reflete aceitação da pessoa com TOC. (7) Mantenha a Comunicação Clara e Simples Evite explicações longas. Isto geralmente é mais fácil de ser dito do que feito, porque a maioria das pessoas com TOC constantemente pedem àqueles ao seu redor reasseguramento: ―Tem certeza de que eu fechei a porta?‖ Posso ficar certo de que limpei o suficiente? ―. Certamente você já percebeu que quanto mais tenta provar que não há necessidade de preocupação, mais refutações você recebe. Mesmo as explicações mais sofisticadas não funcionam. Sempre há aquele hesitante ―Mas e se...?‖. (8) Atenha-se ao Contrato Comportamental Nos seus esforços para ajudar a reduzir as compulsões, você pode facilmente ser considerado como ―mau ou aquele que rejeita‖, embora esteja tentando ser um ―apoio‖. Pode parecer óbvio que estão todos trabalhando com o objetivo de reduzir os sintomas, mas as formas pelas quais as pessoas fazem isso varia. Primeiro, deve haver um acordo entre os diversos membros da família e a pessoa com TOC de que a não participação nos rituais (incluindo não responder a incessantes questionamentos) é para o seu benefício. O ideal é que todos concordem nesse ponto. Geralmente, participar de um grupo educacional e de apoio à família ou de terapia familiar especializados em TOC facilita a comunicação familiar. Como regra geral , respostas curtas e simples são as melhores. (9) Estabelecer Limites mas ser Sensível às Mudanças de Humor. Com o objetivo de trabalhar juntos para diminuir as compulsões, os familiares perceberão que eles devem ser firmes a respeito de: 1) acordos prévios em relação à participação nas compulsões, 2) quanto tempo será gasto discutindo o TOC, 3) quanto de reasseguramento será dado ou, 4) o quanto as compulsões interferem na vida das outras pessoas. É comumente relatado que o humor dita o grau em que as pessoas conseguem desviar-se das obsessões e resistir às compulsões. Da mesma forma, os familiares têm comentado que eles percebem 15 quando a pessoa está ―tendo um dia ruim‖. Aqueles são os dias em que a família necessita ―dar um tempo‖, a não ser que haja uma situação potencial de ameaça à vida ou de agressão. Em ―dias bons‖, os membros da família deveriam encorajar a pessoa a resistir às compulsões o máximo possível. (10) Mantenha a Rotina “Normal” Geralmente as famílias perguntam como ―desfazer‖ todos os efeitos de meses ou anos de convivência com os SOC. Por exemplo, para ―manter a paz‖, um marido permitiu que o medo de contaminação da sua esposa proibisse seus cinco filhos de receber colegas em casa. Uma tentativa inicial de evitar o conflito por meio da desistência de enfrentar apenas piora o problema. As obsessões e compulsões devem ser contidas. É importante que crianças recebam amigos em casa e que qualquer membro da família possa usar qualquer cadeira, pia, etc. Através da negociação e do estabelecimento de limites, a vida familiar e a ―rotina‖ podem ser preservadas. Lembre que é no interesse da pessoa com TOC que ela deve tolerar a exposição aos seus medos e ser lembrada das necessidades dos outros. À medida que eles começam a recuperar funções, desejam ser capazes de maiores progressos. (11) Use o Humor A habilidade de distanciar-se de medos irracionais e rir é saudável, especialmente quando é feito em companhia. Isso pode ser de grande alívio. Novamente, ser sensível aos humores deve ser considerado antes de ―zombar‖ do TOC. Embora o humor venha sendo reconhecido pelas propriedades curativas durante anos, pode não ser bom brincar quando os sintomas estiverem agudos. (12) Apoie o Regime Medicamentoso Sempre se informe com o médico a respeito de dúvidas, efeitos colaterais e mudanças que você perceber. Não mine as instruções a respeito da medicação que os médicos ou os profissionais de saúde fornecerem. Todas as medicações têm efeitos colaterais que variam de gravidade. Algumas são muito incômodas (boca seca, constipação). Discuta-as com o médico e avalie os riscos e benefícios. Para pessoas que não podem pagar pela medicação, existe a possibilidade de conseguir algumas medicações no Sistema Único de Saúde (SUS). (13) Reservar Tempo é Importante Freqüentemente, os familiares têm uma tendência a sentir que devem proteger o seu parente com TOC estando junto a ele o tempo inteiro. Isso pode ser destrutivo, porque todos precisam de um tempo para si próprios. Dê a mensagem de que a pessoa pode ficar sozinha e cuidar de si própria. Além disso, o TOC não pode conduzir a vida de todo mundo; você tem outras responsabilidades além de ser ―babá‖. 16 (14) Seja Flexível Acima de tudo, estas são apenas diretrizes! Sempre considere a gravidade dos SOC e o humor da pessoa, assim como o grau de estresse quando for tomar decisões a respeito da imposição de limites. Seja razoável e tente transmitir carinho e preocupação nas suas ações. Diretrizes para Educadores e Empregadores. As seções precedentes foram escritas para os familiares, mas muitas das sugestões são aplicáveis para educadores, conselheiros e empregadores. Entretanto, estes últimos estão numa situação particular de ajudar ou direcionar pacientes para o tratamento sem estarem envolvidos emocionalmente. Como as famílias, os educadores e conselheiros podem considerar os sintomas como falhas no caráter ou alterações do comportamento que podem ser facilmente evitados. Freqüentemente os sintomas não são reconhecidos ou são mal interpretados. Pessoas com TOC se preocupam com sua performance escolar e/ou no trabalho e se preocupam com que outros ―descubram‖ seu TOC. Suas preocupações criam ansiedade adicional, exacerbando os sintomas e criando maior incapacidade. Enquanto nem todos os educadores ou empregadores sejam receptivos a aprender sobre TOC, aqueles que o são podem ajudar as pessoas com TOC a manter o funcionamento e a auto-estima enquanto lutam contra seus sintomas. Um ambiente acadêmico ou de trabalho que seja acolhedor e trate a pessoa com dignidade é o ideal. Tente trabalhar com o indivíduo para permitir alguma flexibilidade, quando possível, para maximizar o sucesso. Isto não significa necessariamente reduzir padrões ou requerimentos. Por exemplo, um estudante universitário com TOC me pediu que falasse com uma de suas professoras por sentir que ela estava dando-lhe menores notas do que merecia porque ele incluía mais detalhes nos seus trabalhos do que o necessário, pedia-lhe que repetisse os exercícios ditados para certificar-se de que ouvira corretamente e pedia reasseguramento para certificar-se de que estava dizendo ―a coisa certa‖. Depois de obter consentimento por escrito eu contatei a professora, a qual estava reconhecendo alguns comportamentos de seus estudantes como obsessivos, e esta me confidenciou que um parente seu tinha TOC. Ela reconheceu que algumas das suas reações haviam sido bruscas e foram na tentativa de pôr um fim às aparentemente intermináveis questões. Conversando, discutimos alguns dos princípios da terapia comportamental e decidimos que a professora daria ao estudante reuniões semanais de quinze minutos para discutir suas questões e preocupações. Fora desse tempo, o estudante teria que resistir a perguntar. Se ele perguntasse, a professora o lembraria do acordo. O estudante convidou a professora para participar do nosso grupo de apoio mensal se estivesse interessada em aprender mais. Este é um bom exemplo de como o contrato comportamental foi utilizado fora de casa. Exemplos semelhantes no ambiente de 17 trabalho, assim como no ambiente acadêmico, podem ser encontrados. Novamente, é importante ser flexível. Pessoas com TOC costumam ser escrupulosas, esforçadas e se preocupam em fazer as coisas bem feitas. Embora isso às vezes possa tornar-se um problema, empregadores complacentes podem utilizar isso como vantagem e manter um empregado confiável trabalhando até mesmo em períodos de exacerbação de sintomas. Os empregadores devem estar cientes que em 26 de Julho de 1992, o Título I do Ato Americanos com Incapacidade foi aprovado. Essa lei exige que os empregadores ―acomodem racionalmente‖ as pessoas com transtornos mentais, a não ser que as acomodações imponham ―esforço excessivo‖ do empregador. É proibida a discriminação no processo seletivo de empregos, nas contratações, promoções e demissões. (A OCD Foundation publicou um livreto para orientar como os empregadores podem acomodar razoavelmente pessoas com TOC). 5 Diretrizes Especiais para Crianças e Adolescentes ―Quando meus pais me chamam de estúpido, as coisas pioram. Eu sei que não sou estúpido, mas não consigo evitar de fazer essas coisas estúpidas‖ Muitos adultos conseguem traçar o início do seu TOC na infância. Ao lembrar de sentimentos de vergonha, isolamento e medo, os adultos dizem desejar que alguém tivesse naquela época sentado com eles e conversado a respeito dos seus comportamentos estranhos em vez de criticá-los. As crianças estão atentas ao fato de fazerem coisas que seus colegas da mesma idade não fazem. De fato, eles são terrivelmente conscientes disso. Eles têm medo de contar aos pais (ou figuras de autoridade) sobre suas rotinas para vestir-se, escovar os dentes certo número de vezes, ―germes‖, cruzar os ―T‖ corretamente, acertar a bola até que um ―bom‖ pensamento substitua um ―mau‖ pensamento. Crianças (como adolescentes e adultos) tentam esconder os comportamentos compulsivos por medo de que se alguém descobrisse ―Eles iam internar-me‖, ―Saberiam que estou louco‖, ―Levarme-iam embora‖. Desconhecendo que existe tratamento psiquiátrico, crianças assumem que há algo de muito errado com elas e que não pode ser corrigido. Assim como os adultos, elas pensam que são as únicas que vivem dessa forma. O primeiro passo é reconhecer o comportamento excessivo ritualizado. Fique atento, entretanto, que a maioria das crianças passa por uma fase do desenvolvimento que é calcada em rituais. Rituais para dormir e orações promovem uma sensação de conforto e segurança.; o mesmo ocorre com amuletos da sorte, organizar brinquedos, colecionar itens ―especiais‖. Quando os rituais e ―rotinas‖ começam a interferir no funcionamento social e escolar da criança - ficar em casa para terminar determinada tarefa, reduzir atividades costumeiras- um sinal de alerta deve acender. Além disso, se a interrupção dessa ―rotina‖ cria muita ansiedade, frustração e hostilidade, provavelmente é hora de procurar aconselhamento psiquiátrico. 5 Veja o apêndice sobre a legislação brasileira no final do livreto. 18 Um comentário de uma mulher com TOC que agora tem 34 anos aponta para a questão que é freqüentemente encarada quando se é uma criança com TOC. Ela lembra do grande sofrimento que tinha com as obsessões agressivas (medo de ferir alguém). A pior parte era manter seus medos para si, pois seus pais esperavam que ela ―deixasse disso‖ e ―colaborasse‖. Ela afirma fortemente, assim como outros fazem, que os pais deveriam abrir a porta para discussão. Fazer uma tentativa de conectar-se com a criança num nível emocional fornece a elas uma oportunidade de responder; é como estender uma mão. As crianças necessitam receber alguma estrutura para entender o que lhes está acontecendo. Algumas vezes elas não têm a habilidade de explicar a não ser que os adultos ofereçam algumas possibilidades. Uma criança pode dizer com alívio, ―Uau! Isso é exatamente o que acontece comigo...como você sabia? ― Este fenômeno não é exclusivo das crianças. Ocorre em qualquer idade quando uma pessoa se sente desesperadamente sozinha na sua experiência e encontra alguém que sente o mesmo ou a compreende. Algumas sugestões para os pais a respeito de como iniciar discussões com seus filhos que possam ter TOC incluem: ―Ei, você tem estado tão preocupado ultimamente, poderia nos contar o que está pensando? ―. ―Todas as pessoas têm preocupações e é bom que você nos possa falar das suas‖. ―Nós percebemos que você repete a mesma ação, você também percebe?‖. Você tem medo de que algo aconteça? Pode tentar fazer apenas uma vez? O que acontece então? Não parece correto?‖ Para ajudar a aumentar o entendimento da luta solitária de uma criança com TOC, o vídeo ―A Árvore que Tocava‖, baseado numa experiência pessoal, foi produzido pela OCD Foundation. Pode ajudar crianças com TOC a procurar ajuda e é um instrumento educativo para pais e educadores. ―Meus pais não me entendem. Eu quero lidar com isto sozinho. Se eles não interromperem meus rituais fica tudo bem.‖ Dos adolescentes, ao contrário das crianças, espera-se maior responsabilidade e ―maturidade’. De fato, o termo adolescente deriva do latim adolescere, que significa crescer. Ainda assim, persiste uma tremenda dependência dos pais para uma série de coisas. Para crianças pequenas não é estranho que os pais façam tarefas que deveriam ser feitas por elas, ou as ajudem a trocar de roupa, tomar banho, alimentar-se. Entretanto, à medida que vai-se crescendo, o prejuízo no funcionamento torna-se muito perturbador para os pais e o adolescente com TOC. A esperança de que a criança cresça e se livre dos comportamentos vai ficando menos provável. A interferência no funcionamento diário por conta dos SOC é menos tolerada. Em vez de discutir incansavelmente ameaçando punir, uma consulta psiquiátrica pode ser de maior benefício. Sabendo que a tarefa é afastar-se dos pais emocionalmente, o adolescente com TOC é pego numa situação difícil, necessita dos adultos mais que seus colegas e, 19 ao mesmo tempo, ressente-se disso. Sentimentos de raiva e hostilidade podem ser mais freqüentes que o esperado. Preocupar-se excessivamente com o que os outros pensam e tentar manter seus sintomas em segredo pode interromper o processo do adolescente de desenvolver uma identidade positiva e de autorespeito. O estigma social em relação a doenças mentais pode adicionar-se à pressão que existe normalmente no adolescente para ―adaptar-se‖. A tendência dos adolescentes formarem grupos muito unidos é indispensável para o processo de diminuir o egocentrismo. Compartilhando idéias com os colegas, os adolescentes experimentam suas teorias e descobrem suas fraquezas. O grupo de colegas provê alguns dos confortos familiares adicionado de uma sensação de independência. Além disso, é uma época de ponderar sobre assuntos como vocação e sexualidade. Muitos desses processos do desenvolvimento normal são retardados ou interrompidos pelo TOC. Adolescentes com TOC freqüentemente se sentem extremamente isolados e inadequados. Eles perdem essa experiência de pertencer a um grupo e posterior individuação. É comum que eles sejam medrosos e se perguntem ‖Como serei capaz de trabalhar?‖ e se envergonhem de seus comportamentos: ―Quem casaria comigo? ―. Um conflito interno maior e um sentimento de alienação que são aumentados por lidar com os SOC são particularmente dolorosos para os adolescentes quando as tarefas ―normais‖ do desenvolvimento estão fazendo sua pressão. ―Mas mãe, todos os outros estão fazendo ...‖. Mas nem todos os colegas têm TOC. Pode ser legal ter um brinco na orelha mas não é legal ter as mãos esfoladas por lavagem ou ter que ir a um terapeuta! Adolescentes podem ter dificuldade em se engajar no tratamento. Entrar em um grupo de apoio com adolescentes pode ajudar. Do mesmo modo, os pais dos adolescentes com TOC podem esquecer que são os pais e devem estabelecer limites. As expectativas em relação a tarefas domésticas ou a participação em atividades em família não devem ser alteradas para acomodar o TOC. Antes que os sintomas saiam do controle, há alguns passos que a família pode dar para evitar uma situação desesperada: 1) Faça a sua tarefa e aprenda o mais que puder sobre TOC. Entre num grupo de apoio. Fale com outros pais e famílias. 2) Sem julgar, encoraje o seu adolescente a falar sobre suas ―preocupações‖. Compartilhe suas informações com ele e tente levá-lo a um grupo de apoio com ou sem você. 3) Não altere sua rotina ou expectativas em relação à casa. Se sua filha colocava o lixo fora e parou por medo de contaminação, não continue dando simplesmente ―por que ela tem um problema‖. Não faça o dever de casa de seus filhos. Se eles geralmente lavam suas roupas, e param porque ―sentem que não podem‖, não faça por eles. Esteja lá para treiná-los, mas não assuma tarefas que eles deveriam estar fazendo. Lembre, esta é uma fase de desenvolvimento em que eles devem ganhar independência, não perder. Além disso, os irmãos se ressentem de ter tarefas extras que não deveriam estar fazendo. 4) A família estabelece os papéis e um senso comum de solução de problemas e é essencial em ajudar a estabelecer limites. A família deve estar atenta a questões próprias de adolescentes e como o TOC intensifica preocupações normais- especialmente 20 estabelecer limites como por exemplo- quando insistir e quando desistir. Quando um dos pais diz uma coisa e o outro diz o oposto também cria problemas. É recomendável que os pais estejam de acordo com as regras e expectativas (que podem necessitar de revisão dependendo da gravidade do TOC). 5) A Terapia comportamental individual pode ajudar o adolescente com o processo de separação e controle de sintomas. 6) A medicação pode reduzir os sintomas a um grau manejável, assim toda a família pode lidar melhor com eles. 7) Grupos de apoio educacional multifamiliares podem fornecer apoio e direcionamento à pessoa com TOC e a todos da família. 8) Conhecer um ―colega‖ com TOC pode oferecer outro tipo de apoio. Uma vez que a recuperação dos sintomas do TOC começa, facilita a família analisar realisticamente suas expectativas. Se a pessoa ―perdeu‖ alguns anos da adolescência por conta do TOC, não viveu a experiência completa da adolescência. Pode levar um pouco de tempo para obter a habilitação para dirigir, um emprego, uma turma, uma amigo íntimo, decidir que carreira seguir. Isto pode ser desencorajador para a pessoa ao olhar a seu redor e ver seus colegas realizando todas as coisas que parecem tão distantes dele. Isso pode desencadear sentimentos de desesperança e menos valia. Se você reconhece isso ou o seu filho consegue falar sobre isso, cumprimente-o por estar superando o TOC. Lembre-o, com otimismo, das qualidades que adquiriram ao se ajudar e que ele conseguirá ―alcançar ―os outros. Com paciência e perseverança, você pode ajudá-lo a seguir em frente. Aconselhamento pode ser benéfico para a pessoa e /ou sua família. Novamente, não esqueça dos grupos de apoio! Se um adolescente se recusa a ver um profissional (com ou sem parentes), os pais não devem esquecer que eles podem insistir. Isso requer um compromisso sério da parte dos pais de realmente apoiar seus filhos com TOC a aprender tudo o que puderem sobre TOC e procurar ajuda profissional. Você necessitará estar preparado para impor conseqüências se sua vida familiar está deteriorando por conta de um TOC difícil de manejar. Se você chega a este ponto, é crucial ser firme, consistente e seguir em frente. As conseqüências de não procurar tratamento variam dependendo das situações individuais. Às vezes, os sintomas podem ser tão graves que o adolescente poderá ter que viver em outro local ou ser encaminhado a um hospital contra a sua vontade, caso os sintomas se tornem uma perigosa ameaça à sua vida ou à dos que vivem com ele. Isto deve ser determinado por um psiquiatra com experiência em TOC. Conclusão Como membros da família, pode ser que vocês nunca se livrem completamente dos sentimentos de isolamento e frustração que acompanham a luta diária de tentar lidar com os desafios apresentados pelo TOC. Compartilhar esses sentimentos com outros que vivem com TOC, oferecer apoio, aumentam muito o processo de cura. Aprender o máximo que puder e utilizar as diretrizes propostas pode responder a perguntas como ―Por que eles não param?―. Os membros de 21 uma família podem fazer uma grande diferença através da educação e do contrato comportamental na ajuda do seu querido parente a superar o TOC. Pode ser útil para as famílias manter em mente que não é incomum para as pessoas com TOC beneficiarem-se de psicoterapias depois que o TOC foi tratado. Sintomas de depressão, conflitos de ajustamento conjugal, sentimentos de estar ―fora do passo‖ em relação aos colegas são típicos e necessitam de atenção particular. Depois que os sintomas do TOC diminuem, a pessoa pode começar a perceber o quanto da vida perderam. Os membros da família freqüentemente ficam confusos com isto por presumirem que depois da melhora do TOC tudo mais ficaria bem também! Novamente, os sintomas e sentimentos mencionados acima são comuns e fazem parte do processo de recuperação. O processo de recuperação se dá com ajuda profissional, compreensão de familiares e amigos e com o tempo. Leitura Sugerida O menino que não conseguia parar de se lavar: Experiência e Tratamento do Transtorno Obsessivo Compulsivo. Judith Rapoport, MD Tradução José Ricardo Brandão Azevedo-Rio de Janeiro: Marques Saraiva, 1990. Transtornos Obsessivo-Compulsivos: Conselho aos Pacientes e Seus Familiares * Livreto editado pelo Conselho Internacional de TOC com a ajuda do Grupo Farmacêutico Internacional de Pfizer Inc. Outubro , 1997. Transtorno Obsessivo-Compulsivo * Traduzido do original em inglês ‖Obsessive-Compulsive Disorder‖ publicado pelo National Institute of Mental Health (NIMH) (Instituto Nacional de Saúde Mental). Pânico, fobias e obsessões – A experiência do projeto AMBAN Gentim, V., Lotufo-Neto, F., e Bernik, M.A. org. –São Paulo, Edusp: 1997. Transtornos do Espectro Obsessivo-Compulsivo: diagnóstico e tratamento Miguel, E.C. – Rio de Janeiro, Editora Guanabara Koogan: 1996. Livreto da ASTOC* * Disponíveis na ASTOC. 22 Organizações Nacionais e Serviços Especializados ASTOC Associação dos Portadores de Transtorno Obsessivo-Compulsivo e Síndrome de Tourette Instituto de Psiquiatria Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Rua Ovídeo Pires de Campos s/n São Paulo—SP—05403-010 Fone (11) 2809198 PRODOC Programa de Ensino, Pesquisa e Assistência do Distúrbio Obsessivocompulsivo Escola Paulista de Medicina Instituto de Psiquiatria R. Machado Bittencourt 222 Vila Clementino - Metrô Santa Cruz São Paulo – SP - 04044-000 Fone: 570-6784 Ambulatório de TOC e quadros correlatos Disciplina de Psiquiatria Responsável: Dra. Albina Rodrigues Torres Faculdade de Medicina de Botucatu - UNESP Distrito de Rubião Jr. Botucatu (SP) CEP: 18.618-970 Serviço de TOC tel (21) 221-4896 R. Santa Luzia 206 Santa Casa - Castelo Serviço de Psiquiatria Rio de Janeiro - RJ - 20020-200 Ambulatório do Espectro Obsessivo compulsivo Responsável: Dra Kátia Petribú Hospital das Clínicas da UFPE Av. Prof. Moraes do Rego. Cidade Universitária Recife-PE fone: 4543692 23 Apêndice 1 A ASTOC (Associação Brasileira dos Portadores de Síndrome de Tourette, Tiques e Transtorno Obsessivo-Compulsivo) é uma organização voluntária, sem fins lucrativos, que foi constituída com base no modelo americano, em maio de 1996, em São Paulo, organizada pelo PROTOC (Projeto Transtorno do Espectro Obsessivo-Compulsivo). A Tourette Syndrome Association TSA-USA e a OCD foundation oferecem material e total apoio à ASTOC, que é formada por pessoas com Síndrome de Tourette, Tiques e Transtorno Obsessivo Compulsivo, seus familiares e também por pessoas interessadas em ajudar. É dedicada a identificar a causa, buscar a cura e controlar os efeitos das enfermidades, e para conseguir isso , a ASTOC desenvolve e distribui material educativo aos portadores e a profissionais de saúde; dirige grupos de apoio e outros serviços para ajudar os portadores e seus familiares, para que possam suportar os problemas decorrentes das enfermidades; e buscar melhores tratamentos. A ASTOC também pretende oferecer ajuda direta às famílias com Síndrome de Tourette (ST) e Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) em situações de crise, com um serviço de informações e referência; organizar trabalhos e simpósios para pesquisadores, médicos e outros profissionais que trabalham no campo da ST e TOC; manter um cadastro atualizado dos portadores de ST e TOC; distribuir material didático sobre ST e TOC em conferências, para que os profissionais de saúde conheçam e estejam bem informados sobre o TOC e a ST; e organizar reuniões nacionais, prestando assistência, estimulando e apoiando novos grupos em todos os estados brasileiros. A proposta da ASTOC para os associados é de auxiliar a lidar com a enfermidade, através de reuniões com outros pacientes e familiares para discutir problemas comuns e oferecer apoio mútuo; ajudá-los na identificação precoce e no tratamento adequado da ST e do TOC; informá-los, através de boletins, dos mais recentes tratamentos, programas de pesquisa e descobertas científicas; apoiar programas dedicados aos pacientes. A ASTOC também visita e orienta educadores em escolas, publica panfletos, artigos em revistas e boletins para divulgação da enfermidade e orientação, e também tem um projeto piloto para tratamento e encaminhamento dos portadores do TOC e ST para a rede pública. Atualmente, a ASTOC busca arrecadar doações para formação de um fundo de pesquisa que atenda às necessidades dos pacientes, e trabalha para que haja uma ampla divulgação de seus trabalhos para os profissionais de saúde mental, médicos e psicólogos, e para os portadores. A diretoria da ASTOC é constituída por: Cristina de Luca-Presidente, Maura Carvalho-VicePresidente, Cordelia Lanas e Maria Cecília Labate-Diretoras. Para maiores informações sobre a ASTOC, visite o site www.mtecnetsp.com.br/toc ou entre em contato pelo telefone (0X11)280-9198 e fax (0X11) 280-0842. Apêndice 2 No Brasil, não há uma lei específica que proteja pessoas com transtornos psiquiátricos. Em linhas gerais pode-se dizer o seguinte: em relação a pessoas vinculadas ao regime jurídico dos servidores públicos federais, caso estas venham a sofrer incapacidade física ou mental, estarão sujeitas à readaptação, a qual, segundo o art. 24 da Lei 8.112/90 "é a investidura do servidor em cargo de atribuições e responsabilidades compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua capacidade física ou mental verificada em inspeção médica". Quanto àqueles cuja relação de trabalho está subordinada à C.L.T. -Consolidação das Leis do Trabalho – (empregados sem vínculo público), haverá concessão de auxílio-doença para o que contrair enfermidade que o impossibilite de exercer suas funções habituais por mais de 15 dias consecutivos (art. 59 da Lei 8.213/91). Enquanto gozar do auxílio doença, considerar-se-á o empregado em licença. O trabalhador que estiver em gozo de auxílio-doença, ou ainda quando esta for convertida em aposentadoria por invalidez, caso recupere a capacidade para exercer sua atividade habitual, terá ele direito a retornar ao emprego, mas é facultado ao empregador indenizálo na forma da legislação trabalhista. Ou seja, ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos, no 24 Brasil, o empregador não é obrigado a aceitar o portador de transtorno psiquiátrico de volta ao trabalho. Já o trabalhador em gozo do auxílio-doença insusceptível de recuperação para sua atividade habitual, estará sujeito às mesmas regras acima explanadas, com a ressalva de que deverá se submeter à reabilitação profissional para o exercício de outra atividade, como estabelece o art. 62 da Lei 8.213/91. Vale ressalvar que o artigo atinente à reabilitação (que fala dos modos de reabilitação, como utilização de próteses) (art. 89 da Lei 8213/910) faz menção apenas aos trabalhadores que sofreram limitações físicas, não incluindo nenhuma hipótese de reabilitação para os que sofreram incapacidade mental. Isso não significa que a lei não possa ser extrapolada para os portadores de transtorno psiquiátrico. Ou seja, em tese, o portador de transtorno psiquiátrico poderia ser recolocado em outra função desde que reabilitado. Sobre os Autores Barbara Livingston Van Noppen, M.S.W. é assistente social da Clínica de TOC do Hospital Butler. É Pesquisadora Associada do Departamento de Psiquiatria e Comportamento Humano, Divisão de Biologia e Medicina na Universidade de Brown, Nova Iorque. Ela é internacionalmente reconhecida pela sua experiência no tratamento de famílias com TOC. Em 1986 desenvolveu um programa de tratamento comportamental multifamiliar na clínica de TOC do hospital Butler. Além disso, publicou trabalhos sobre o funcionamento familiar no TOC e intervenção familiar. Michele Tortora Pato, M.D. é psiquiatra especializada no tratamento de TOC. É Professora Associada na Universidade Estadual de Nova Iorque em Buffalo. Ela é diretora do Serviço de Ambulatório e do Programa em TOC do Hospital Geral de Buffalo e Diretora do programa de residência do Departamento de Psiquiatria. Escreveu extensivamente sobre TOC e editou um livro ―Tratamento Atual do TOC, editado pela Associação Psiquiátrica Americana. Ela tem particular interesse no tratamento a longo prazo de pacientes com TOC. Steven Rasmussen, M.D. é psiquiatra e Diretor da Clínica de TOC no Hospital Butler. No decorrer de vários anos ele tem desenvolvido experiência no tratamento multimodal do TOC. Ele é Professor Assistente de Psiquiatria e Comportamento Humano na Universidade de Brown e publicou numerosos artigos sobre TOC. Ele, a Sra. Van Hoppen e Richard Marsland, R.N. conduzem um grupo mensal mutifamiliar de suporte no Hospital Butler. O Hospital Butler, fundado em 1847, é um hospital psiquiátrico particular em Providence, Rhode Island, Nova Iorque. É o maior hospital-escola psiquiátrico da Universidade de Brown. Agradecimentos Nós gostaríamos de agradecer especialmente a todos aqueles que tem TOC e suas famílias que tornaram este projeto possível pelo compartilhamento de seus sentimentos e experiências conosco. Nós apreciamos a relação de colaboração 25 que desenvolvemos com a OCD Foundation (Milford, Conneticut), seu apoio financeiro e o encorajamento que nos deram para desenvolver tratamentos psicossociais alternativos para o TOC. Sobre os Tradutores Ana Gabriela Hounie é médica psiquiatra, aluna da pós-graduação do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. É colaboradora do Projeto Transtornos do Espectro Obsessivo-Compulsivo (PROTOC). Eurípedes Miguel é médico psiquiatra, Coordenador do PROTOC e Professor Assistente-Doutor do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Roseli Gedanke Shavitt é médica psiquiatra, aluna da pós-graduação do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. É colaboradora do Projeto Transtornos do Espectro Obsessivo-Compulsivo (PROTOC). Sérgio A. Brotto é médico psiquiatra, colaborador do PROTOC. Maria Claudia Bravo é psicóloga, aluna da pós-graduação em psicologia na Universidade de São Paulo. É colaboradora do PROTOC. Daniela Rozados, Rosemar Prota e Yara Garzuzi são estudantes de psicologia e colaboram com o PROTOC. Agradecimentos Agradeço a Santiago Gabriel Hounie pelas informações referentes a como são tratados os portadores de transtornos psiquiátricos na Legislação Brasileira. 26