AÇÕES AFIRMATIVAS E FORMAÇÃO DE PROFESSORES: REFLEXÃO A PARTIR DE UM CURSO DE PEDAGOGIA Carla Fernandes Chiericatti Silvani dos Santos Valentim Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais CEFET-MG Mestrado em Educação Tecnológica RESUMO: O objetivo deste trabalho é discutir o currículo escolar do profissional de pedagogia, em uma esfera da construção das relações sociais, culturais e raciais. A estratégia metodológica utilizada foi uma discussão sobre as cotas raciais nas Universidades Públicas, por meio da análise dos registros de uma atividade, júri simulado, e de uma pesquisa semiestruturada realizada pelos alunos do curso de pedagogia de um Centro Universitário de Belo Horizonte envolvendo professores e estudantes. Nesta linha, foram levantados alguns questionamentos a respeito das políticas afirmativas das cotas raciais. Serão analisados o conhecimento por parte dos estudantes de pedagogia, a opinião dos professores do ensino superior, a credibilidade e o conhecimento sobre o modo como são oferecidas as cotas raciais nas universidades, ou ainda as dúvidas sobre o objetivo das mesmas. Enfim, esse trabalho não pretende ter um fim em si mesmo, mas ser um condutor de reflexão das práticas pedagógicas na formação do profissional da educação, principalmente no que diz respeito a se tornarem críticos e reflexivos acerca de temas tão relevantes. PALAVRAS-CHAVES: Professor; Formação; Políticas afirmativas. 1. Introdução Este trabalho tem por objetivo discutir o currículo escolar do profissional de pedagogia em seu processo de articulação entre a teoria e a prática em uma esfera da construção das relações sociais, culturais e raciais. Nesta esfera, surgem indagações a respeito das práticas aliada à teoria, de forma crítica e reflexiva, principalmente no que tange às políticas afirmativas, a respeito das cotas raciais nas Universidades Públicas. Busca-se, também, o questionamento da formação dos estudantes do curso de pedagogia para essas questões. Nesta linha, foram levantados alguns pontos: os estudantes de pedagogia possuem embasamentos sólidos a respeito das políticas afirmativas das cotas raciais? Possuem uma posição clara em relação a essa temática? Defendem ou são contra? O que os professores do ensino superior acham a respeito das cotas raciais? Movendo-se por essas indagações, e na preocupação com a formação crítica e reflexiva do estudante de pedagogia a respeito das políticas afirmativas, propôs-se ao quarto período, do curso de pedagogia, de um Centro Universitário de Belo Horizonte, que desenvolvessem um júri simulado, tendo sido a turma em questão dividida em dois grupos: um para defender as cotas nas Universidades Públicas e o outro para serem contra. Essa estratégia didática foi no intuito de nutri-los de informações para se posicionarem a respeito do fato, de forma crítica e reflexiva. Paralelamente, os alunos fizeram uma pesquisa em forma de um questionário semiestruturado, a fim de verificar qual a percepção dos professores e alunos do ensino superior a respeito das cotas raciais. Tal prática possuía como estratégia pensar a construção das relações sociais e o domínio da força de determinados grupos da classe dominante em detrimento de outras classes. Essa situação gera sentidos antagônicos e, consequentemente, a discriminação e negação de outros grupos, por não deterem a mesma força da classe que “dita e norteia” as práticas sociais. É nesta trajetória que o profissional de pedagogia não pode estar aquém de críticas reflexivas, uma vez que compõe a base do processo escolar, principalmente por deter a habilitação ao ensino fundamental, nas séries iniciais e de fazer parte da gestão do processo escolar. Nesta esfera, é resgatar o processo de ensino que se baseia na educação como direito de todos e dever do estado, como reza a constituição de 1988 em seu artigo 205. A escola é tida como uma forma de solucionar os problemas da população marginalizada e discriminada, socialmente e culturalmente, no intuito de retirar da ignorância a população sem acesso à instrução, no fomento de uma pedagogia que busca um tratamento diferenciado para as diferenças individuais. Mas, conforme Saviani (1983), a escola fica com o papel de reforçar e consolidar a marginalização de determinados grupos. Para a realização deste trabalho, a pesquisa fundamenta-se, teoricamente, em Perrenoud (2000). O professor é, antes de tudo, um profissional da articulação do processo ensino-aprendizagem, em uma determinada situação, um profissional das interações, das significações partilhadas. Silva (2011) ressalta a concepção e explanação pautada pela compreensão de teoria e discurso, sendo que a primeira implicita o conceito de que há uma relação entre a teoria e a realidade. Ou seja, um reflexo da realidade, inclusive da própria formação e práxis do profissional da educação. E o estudante de pedagogia precisa despertar essa consciência crítica. De acordo com Chauí (1985), o despertar de uma consciência de si reflexiva, do ato de ser consciente, para reconhecer-se como sujeito. Para autores como Freire (1996) e Perrenoud (2000), uma educação significativa, coerente e coesa com o processo de ensino aprendizado, pressupõe um professor que atua como protagonista do ato pedagógico, reflexivo, de forma a ser capaz de articular-se e posicionar-se com propriedade, sobre as questões sociais, econômicas e políticas que o cerca, principalmente no que diz respeito à questão das políticas afirmativas. E, de acordo com Bertrand (1991), o processo de conhecer dará a consistência para o alicerce da formação do profissional da educação. Enfim, esse trabalho não pretende ter um fim em si mesmo, mas ser um condutor de reflexão das práticas pedagógicas na formação do profissional da educação, principalmente no que diz respeito a serem críticos e reflexivos sobre temas tão relevantes como as políticas afirmativas nas cotas raciais. 2. Ações afirmativas e a formação do professor A lei 10693/03 foi sancionada pelo então Presidente, Luiz Inácio da Silva, e tornou obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileiras nos currículos dos estabelecimentos de ensino da educação básica. Esta estratégia está no centro do debate das políticas afirmativas na educação, sendo uma forte conquista ao movimento social negro, sendo a Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional acrescida e explicitando-se em seus artigos como um direito social. Após um ano da lei, as escolas da educação Básica passaram a ter outro documento legal, com a Resolução 1, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico- Raciais e para o Ensino e História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Estas medidas de cunho legal vêm agregar-se na luta dos movimentos negros a favor da superação do racismo em nosso país. Porém, para muitos dos envolvidos no processo educacional e principalmente nas Instituições de ensino, esta questão passa despercebida. A legislação só é conhecida ou interpretada em seu Art. 79-B. “O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como Dia Nacional da Consciência Negra”. Esse aparente descaso deixa as reflexões e debates sobre raça/racismo e educação em nossa sociedade de olhos vendados no processo educacional, transitando no interior das instituições de ensino, despercebidos até mesmo dos próprios negros. Neste aspecto, vale ressaltar o conceito de raça e etnia. O termo raça, de acordo com Aurélio (2010, p.635) designa “Grupo de indivíduos cujos caracteres biológicos são constantes e se conservam pela geração: Raça branca, raça amarela, raça negra, raça vermelha”. Porém, esse termo vem sendo substituído gradualmente, por pesquisadores, por etnia, uma vez que, cientificamente, não há legitimidade para a compreensão de raça como uma categoria biológica dos indivíduos. O termo raça depende sim de circunstâncias sociais, ou seja, são produtos de contextos sociais, históricos, econômicos, educacionais e políticos e não consequências de sua herança biológica. Quando os estudiosos neste assunto utilizam o conceito de raça, o fazem em uma nova interpretação, que se alicerça na dimensão social e política. Há de se considerar também que a discriminação presente em nossa sociedade não se dá apenas por questões culturais, mas nos aspectos físicos observáveis em cada sujeito, o que faz com que muitos militantes nesta questão utilizem o conceito ressignificado de raça, para se reportarem a realidade do negro brasileiro. Neste sentido, recusam o sentido biológico de raça, baseando-se no sentido político e identitário. Para Praxedes (2005), a palavra “etnia” foi criada em 1896 pelo francês Vacher de Lapouge, para definir o sentimento de vinculo afetivo, o compartilhamento das crenças e costumes da vida comunitária, o repassar de uma geração a outra de suas origens e ancestralidade entre indivíduos, em seu pertencimento de uma raça de uma nação. O termo relações étnico-raciais, conforme Gomes (2005): “são relações imersas na alteridade e construídas historicamente nos contextos de poder e das hierarquias raciais brasileiras, nos quais a raça opera como forma de classificação social, demarcação de diferenças e interpretação política e identitária. Trata-se, portanto, de relações construídas no processo histórico, social, político, econômico e cultural”. (GOMES, 2005.p. 4 ) Neste âmbito, o racismo é resultado de justificações ideológicas, como forma de exploração da mão-de-obra, sendo justificado na escravidão, levando ao desenvolvimento de uma ideologia racista, adentrado aos nossos dias, deixando ao negro brasileiro a árdua tarefa de enfrentar um duplo desafio na superação das desigualdades, além das barreiras sociais e raciais. 3. A escola e a formação do professor O sistema educacional, em qualquer um de seus modelos, adota uma posição e orientação seletiva de interesses frente ao currículo que transmitem. Neste âmbito, a escola educa por meio da seleção dos conteúdos e pelas formas que elegem como importantes para tal transmissão. Assim, pode-se ver o discurso dominante na pedagogia, que reflete escolhas sociais conscientes e inconscientes, que concorda com valores e crenças dos grupos dominantes dentro da sociedade e reflete em suas práticas pedagógicas. Conceber esta práxis significa compreender que as ações se manifestam e se consolidam dentro de certas estruturas, de certas condições sociais que irrigam a formação do individuo, dentro do contexto social que o cerca, e esta, por sua vez, não está isenta e independente de quem tem o poder para construí-la, principalmente no que tange à formação do educador. Esta formação se dá frente a um sistema escolar concreto, que se cristaliza em um determinado momento histórico e cultural, dando significado real a sua formação. Essa realidade prática acontece em momentos diversos e, de acordo com o exposto por Sacristán (2000), como uma “partitura” que, em seu sentido original, é executada individualmente ou coletivamente, seguindo os acordes e compassos da educação que a rege, sendo parte de muitas realidades e de múltiplos tipos de práticas, evoluindo de um sistema histórico e social para outro, que movimenta e adentra nas práticas pedagógicas e pode ser apreciado e digerido, com mais clareza e objetividade, a cada tipo de contexto social que esteja inserido. Para Sacristán (2000, p.22), “o currículo acaba em uma prática pedagógica”, sendo esta a compilação da função social e cultural da instituição de ensino, refletindo as diferentes práticas pedagógicas do interior da escola, que por sua vez, são nutridas pelo discurso sobre a relação teórica e prática de cada indivíduo. Muitas vezes, essa relação de teoria e prática fica mais presa ao “como” ensinar do que ao “que” ensinar, levando a formação do professorado a serias consequências. A realidade cultural de um país, sobretudo para os mais desfavorecidos, cuja principal oportunidade cultural é a escolarização obrigatória, tem muito a ver com a significação dos conteúdos e do uso dos currículos escolares. A cultura geral de um povo depende da cultura que a escola torna possível enquanto se está nela, assim como nos condicionamentos positivos e negativos que se desprendem da mesma. (SACRISTÁN, 2000, p.30) A convicção no ato de educar, o respeito ao outro e o domínio das emoções são posturas necessárias ao educador e competências para o exercício da profissão. E os conhecimentos práticos nutrirão uma megacompetência, que irrigará a construção de outras competências e principalmente, para que haja uma reflexão a partir práticas e assim, por meio desta reflexão, permita a solidificação de um profissional coerente com os atributos de sua profissão. Com uma formação que favoreça a descoberta e a construção de suas próprias práticas de ensino. A partir de uma prática, aliada a teoria e sua experiência, promoverá uma capacidade de agir nas mais variadas situações e o êxito se dará quando os próprios formadores colocarem à disposição de seus aprendizes estratégias metodológicas que possibilitem o diálogo de suas experiências e os registros das mesmas. Aos estudantes de pedagogia, que é o foco em questão, seus processos de aprendizagem estão no âmbito de uma formação para ação e reflexão sobre a ação: o direcionamento da ação e os seus objetivos para a obtenção da informação para o desenvolvimento das competências profissionais, sem se esquecer que, no centro de tais competências, há o habitus de cada educador. De acordo com Perrenoud (2000, p.21), “estrutura-se desde a mais tenra infância através do conjunto de experiência de socialização vividas, como consequências tanto para o aluno quanto para o futuro professor”. E, na maioria das vezes, o habitus é inconsciente e confrontado em suas ações nos casos do cotidiano. O despertar da consciência dos futuros educadores se dá na lucidez de suas ações, direcionadas para uma prática reflexiva dos atos, em direção a uma razão pedagógica que para Maurice Tardif e Clemond Gauthier citado por Perrenoud (2000, p.31) são as habilidades profissionais que se consolidam na capacidade de refletir a própria prática, criticando e revisando, fundamentado com razões de cada ação. 4. Reflexões a partir de um curso de pedagogia e as questões das cotas raciais nas Universidades Públicas do país Pensar acerca das cotas raciais nas Universidades Púbicas, a partir de um curso de pedagogia, é refletir o desafio que a educação precisa trilhar em seu legado. No dia 26 de abril de 2012, o Supremo Tribunal Federal (SFT) validou a adoção de políticas para garantir o acesso de negros e índios a instituições públicas de ensino superior de todo o país, por meio de cotas raciais nas Universidades Públicas, a fim de corrigir o histórico de discriminação racial no Brasil. Para os ministros do STF, ações afirmativas devem ser usadas com o intuito de superar as desigualdades raciais. Essa superação precisa adentrar os muros das Instituições de ensino para exterminar a falta de informação e o preconceito, que por várias gerações sustentaram a sociedade. Educar e educar-se, na prática da liberdade, não é estender algo desde a “sede do saber”, até a “sede da ignorância” para “salvar”, com este saber, os que habitam nesta. Ao contrário, educar e educar-se, na prática da liberdade, é tarefa daqueles que sabem que poucos sabem - por isto sabem que sabem algo e podem assim chegar a saber mais – em diálogo com aqueles que, quase sempre, pensam que nada sabem, para que estes, transformando seu pensar que nada sabem em saber que pouco sabem, possa igualmente saber mais. (FREIRE, 2006. p.25). E nesta prática de liberdade, como enfatizado por Paulo Freire (2006), que tem como seu arcabouço a formação dos profissionais da educação, é que devem ser constituídas as competências necessárias ao ato de ensinar, não tendo apenas o domínio do conteúdo, mas as alçadas necessárias ao ato da profissão do professor. E as instituições de ensino superior devem desenvolver no profissional da educação uma criticidade autônoma, arraigada de conhecimentos científicos, provindos de sua formação acadêmica e nutrida pela experiência prática e reflexiva de sua ação na transformação de novas ações. De acordo com Perrenoud (2000), o educador é constituído dos conhecimentos postos em ação por práticas eficazes em uma determinada situação. E neste caso, especificamente, o professor precisa conhecer de legislação, das políticas afirmativas e seu impacto na construção de uma sociedade mais justa e igualitária, não sendo meramente reprodutor do poder velado por trás de um currículo e práticas educacionais que controlam e direcionam o educador a ficar mais preocupado em “como” ensinar do que em o “que” ensinar. Transformado de um professor profissional, pontuado por Perrenoud (2000, p.26) em um professor “capaz de analisar as suas próprias práticas, de resolver problemas, de inventar estratégias” e refletir suas ações para transformar sua concepção de professor, consolidada a partir do discurso social de posições culturais, de habitus em novas transformações de sua própria existência em prática reflexiva O conhecimento não se estende do que se julga sabedor até aqueles que se julga não saberem; o conhecimento se constitui nas relações homem-mundo, relações de transformação, e se aperfeiçoa na problematização crítica destas relações. (FREIRE, 2006, p.36). Por meio dessas várias transformações e do aperfeiçoamento, o professor pode se tornar um ator social, com o olhar além dos muros das instituições de ensino, que estão recheados de valores e conflitos culturais, tornando consciência dos problemas sociais e raciais que adentram a escola e de seu desafio na conduta de suas ações para erradicar o preconceito e a discriminação que assolam toda a sociedade brasileira. E conforme o contexto da Lei 10.693, de 2003, essa discussão deve fazer parte do processo de formação inicial do professor. Pontuado por Gomes (2010), esta luta não deve apenas partir dos órgãos legais, mas também da categoria docente, como de toda a sociedade brasileira e como tal, deve ser assumida pelo Estado e pelo povo brasileiro. Essa discussão possibilitará circular a informação, consolidar posturas étnicas e mudar o nosso olhar sobre a diversidade em um contexto de uma educação para as relações étnico-raciais. Ainda, conforme Gomes (2010, p.81) “é essa orientação que crianças, adolescentes, jovens e adultos negros e brancos deveriam receber da escola. Uma visão afirmativa que seja instrumento para a nossa libertação das amarras do racismo”. 5. Júri simulado a respeito das cotas raciais nas Universidades Públicas Acreditar em uma educação que comtemple as relações étnico-raciais é conceber um processo educativo no qual as crianças, os jovens e os adultos, ao entrarem as instituições de ensino, questionem os próprios preconceitos e se tornem dispostos a mudar posturas e práticas discriminatórias, preconceituosas e racistas, aprendendo a posicionar-se politicamente contra a discriminação, não ficando apenas no âmbito do discurso, mas mostrando-se como tal na postura e ação. Com esse objetivo, o ensino voltado para o profissional de pedagogia não poderia ficar de fora desta convicção. Nesta esfera, surgem indagações a respeito das práticas aliadas à teoria, de forma crítica e reflexiva, principalmente no que tange às políticas afirmativas, a respeito das cotas raciais nas Universidades Públicas e na formação dos estudantes de curso de pedagogia para essas questões. Neste posicionamento, foram levantados alguns questionamentos: os estudantes de pedagogia possuem conhecimentos sólidos a respeito das políticas afirmativas das cotas raciais? Adotam uma posição clara em relação a essa temática? Defendem ou são contra? O que os professores do ensino superior pensam a respeito das cotas raciais? A partir dessas indagações, surge como estratégia metodológica o júri simulado a respeito das cotas raciais nas Universidades Públicas do país, para nutrir os alunos de pedagogia de informações a respeito da temática em questão e averiguar seu posicionamento em relação a esse assunto. Como reforço, propôs-se, também, que se realizasse uma entrevista, por meio de um questionário semiestruturado, com professores e alunos do ensino superior. A turma em questão é composta de trinta alunos, do quarto período do curso de pedagogia, na modalidade à distância, de um Centro Universitário de Belo Horizonte, divididos em dois grandes grupos, a fim de promover a discussão: um para defender as cotas nas Universidades Públicas e o outro para se posicionarem contra as cotas raciais. O debate em questão contou 150 postagens. Os alunos tiveram tempo para socializar materiais de ambos os posicionamentos, compartilhando links, livros, textos, artigos e dissertações. Dentro dos posicionamentos, 93 foram contra as cotas nas Universidades Públicas e 57 defenderam a questão e a fundamentaram teoricamente. Ao início do debate, começaram timidamente, relatando fatos de vida para reafirmarem seu posicionamento a respeito da necessidade das cotas nas Universidades. Alguns associaram conceitos teóricos ao seu discurso. E nos casos em que os estudantes se colocaram contra as cotas, foram utilizados “frases prontas” a respeito do assunto como, por exemplo: “cotas de estudo devem ser por merecimento, competência e necessidade, para mim cota racial é apologia ao racismo”. Para registro desse trabalho, foram selecionados seis depoimentos diferentes dos alunos, aleatoriamente e categorizados como aluno 1, 2, 3, 4, 5 e 6. As transcrições dos registros dos alunos foram mantidas na integra. Aluno 1 – “vou contar um pouco de minha história, sou Adriana segundos relatos de minha mãe, a minha tataravó era escrava não sei muito sobre a origem, mais sei que ate hoje isto esta refletindo em nossas vidas, a cota para negros em faculdade iria ajudar ou amenizar a nossa historia, minha avo era analfabeta e assinava com o dedo, a minha mãe só e letrada desenha o nome, eu e minhas irmãs com muito sufoco conseguimos terminar o segundo grau em escolas publicas , mas a faculdade era um sonho impossível, tentamos por varias vezes as faculdades publicas mas devido a falta de preparo só conseguimos fazer a faculdade após os 30anos onde eu estou fazendo EAD, a outra e bolsista e a outra Concluiu um curso de tecnólogo, todas estamos fazendo em faculdades particular, se na época que formamos o segundo grau já existisse cotas para negros a nossa realidade seria outra. Cresci com o discurso do código restrito, segundo Bernsteis as habilidades linguísticas das crianças, que fazem parte de seu capital herdado da família, influencia em sua inserção na escola e estão muito ligadas à perpetuação da desigualdade social. Desde 10 de marco de 2008 se tornou obrigatório Ensino de Historia e Cultura Afro-Brasileira e Africana e Cultura Indígena na Educação Básica, foram muitos anos de desigualdade racial e precisamos sim mudar esta realidade com negros ocupando posições de estatus no Brasil, como o presidente Barack Obama do EUA”. Aluno 2 –“ No dia 26 de abril de 2012 houve uma votação do debate de cotas em universidades para negros e pardos, tendo como resultado de 10 a 0 a favor das cotas, nada mais justo, isso não vai mudar a historia de discriminação e injustiça mais já e um passo para a mudança, veja alguns dos depoimentos dos deputados na hora da votação: "Aos esforços de uns em prol da concretização da igualdade que contraponham os interesses de outros na manutenção do status quo, é natural que as ações afirmativas sofram o influxo dessas forças contrapostas e atraiam resistência da parte daqueles que historicamente se beneficiam da discriminação de que são vítimas os grupos minoritários. Ações afirmativas têm como objetivo neutralizar os efeitos perversos da discriminação racial", disse Barbosa em seu voto. "Aquele que sofre preconceito racial internaliza a ideia, inconscientemente, de que a sociedade o vê como desigual por baixo. E o preconceito, quando se generaliza e persiste no tempo, como é o caso do Brasil, por diversos séculos, vai fazer parte das relações sociais de bases que definem o caráter de uma sociedade", disse Ayres Britto. Aluno 3- A cor da pele não determina mais a pureza da raça, quanto as bolsas e cotas de estudo devem ser por merecimento, competência e necessidade, para mim cota racial é apologia ao racismo, principalmente no Brasil onde a maioria da população é mestiça. Segundo me consta o governo federal resolveu fazer das cotas uma espécie de justiça social, já que o negro no Brasil tem poucas oportunidades de trabalho e estudo, e isso é verdade, basta olhar para uma sala de aula em qualquer faculdade, os negros são a minoria. O governo ainda rotulou os alunos negros como descendentes dos escravos (correto), e rotulou os alunos brancos, mesmo os pobres, como descendentes dos donos de escravos, e por isso tinham que ser punidos, tendo menos vagas nas universidades para que os descendentes dos escravos, enfim, depois de 510 anos pudessem ter as oportunidades que seus antepassados não tiveram. Eu gostaria que no Brasil nos tivéssemos um ensino básico de qualidade, um ensino fundamental que estimulasse os alunos a estudarem, e um ensino médio que preparasse os alunos ou para o mercado de trabalho ou para a universidade, acho que se as coisas fossem assim não precisaríamos discutir cotas, mas como nosso pais não tem educação pública de qualidade, EU SOU A FAVOR DAS COTAS, MAS NãO AS COTAS PARA NEGROS, E SIM COTAS PARA ALUNOS POBRES, SEJAM ELES BRANCOS, NEGROS, PARDOS OU INDíGENAS.” Aluno 4 – “é necessário um investimento para uma educação de qualidade para todos e uma ampliação de vagas nas universidades e não criar cotas raciais mascarando um preconceito que sempre existiu”. Aluno 5- “Muito se fala em cotas, em direitos, em oportunidades,não é assim? Um negro carente de oportunidades se forma em uma escola pública a duras penas, consegue a tão falada cota e ingressa em uma universidade, mas e aí simplesmente são apontados como "COTISTA" não como um aluno, não como um vencedor, um batalhador. E ele além de estudar, batalhar para ter boas notas ainda tem de conviver todos os dias com os preconceitos, as piadinhas. Imagina como fica o psicológico dessa pessoa. é muito mais fácil e mais barato investir em uma suposta lei, do que investir em escolas pública melhores, salários dignos para os professores dessas mesmas escolas, batalhar por melhores condições de vida. Ao invés de cotas nas universidades por que não criar cotas então para estudar desde a infância em boas escolas particulares? Porque não deixar que o negro possa competir de igual para igual com os brancos, seria mais justo vocês não acham?” Aluno 6 – “A superação das desigualdades socioeconômicas impõe-se como uma das metas de qualquer sociedade que aspira a uma maior igualdade social. Em face aos problemas sociais, algumas alternativas são propostas para atenuação de desigualdades que mantém em condições díspares cidadãos de estratos distintos. Uma das alternativas propostas é o sistema de cotas que visaria a acelerar um processo de inclusão social de grupos à margem da sociedade.O conceito de cotização de vagas aplica-se , geralmente por tempo determinado. Estas populações podem ser grupos étnicos ou raciais, classes sociais, imigrantes, afro-descendentes, deficientes físicos, mulheres, idosos, dentre outros.A justificativa para o sistema de cotas é que certos grupos específicos, em razão de algum processo histórico depreciativo, teriam maior dificuldade para aproveitarem as oportunidades que surgem no mercado de trabalho, bem como seriam vítimas de discriminações nas suas interações com a sociedade” Ao refletir o posicionamento dos entrevistados, percebe-se que muito se precisa fazer para proporcionar a formação de educadores que entendam o que significa pensar em Políticas afirmativas e do papel do Estado em sua incumbência de esforçar-se para proporcionar condições que permitam a todos terem acesso e benefícios da igualdade de oportunidades, eliminando qualquer forma de discriminação. O posicionamento visto pelos entrevistados, em nosso país, vem através das gerações moldando a sociedade brasileira e direcionando ao traço do perfil ideológico dos indivíduos, isto acontece por se tratar de um país com dimensões tão extensas e com uma vasta diversidade cultural, que proporciona com que cada região desenvolva um tipo de ensino, desaparecendo com isso, a neutralidade da educação, e a desigualdade do conhecimento seja disseminada de formas diferentes. Na pesquisa realizada podem-se observar, por meio do discurso apresentado, frases que levam ao desmerecimento das cotas, como algo de discriminação e uma vergonha ao indivíduo. Dissemina e difunde, em um discurso ideológico e elitizado do que devem ser considerados como vencedores para a sociedade. Este tipo de discurso pode ser observado na frase de um dos entrevistados ao referir-se a tal questão: “mas e aí simplesmente são apontados como "COTISTA" não como um aluno, não como um vencedor, um batalhador”. Outro ponto a ser refletido nas entrevistas refere-se à defesa de um ensino melhor em toda a educação básica, como registrada nas frases de dois dos entrevistados: “é necessário um investimento para uma educação de qualidade para todos” e o segundo, “Ao invés de cotas nas universidades por que não criar cotas então para estudar desde a infância em boas escolas particulares?” frases como estas, refletem a reinvindicação por qualidade na educação. E está reinvindicação permeia a formação do educador que se faz presente na produção de saberes, práticos e científicos que o rodeiam para a construção de valores e representações de identidade, como apresentado por Gomes (2007): Durante toda a nossa vida realizamos aprendizagens de naturezas mais diferentes. Nesse processo, marcado pela interação contínua entre o ser humano e o meio, no contexto das relações sociais, é que construímos nosso conhecimento, valores, representações e identidades. (GOMES, 2007.p.18) E esta construção de saberes reflete o currículo que rodeia este profissional, as quais refletem diversos pontos de vistas, aliando com diferentes propriedades, discussões a cerca dos procedimentos pedagógicos, valores e identidade de seu alunado. Conforme Silva (2011), as questões curriculares permeiam posicionamento sobre verdade, poder, identidade e conhecimento, sendo produzidas no contexto das relações sociais. Conforme esse autor, o currículo não pode ser restrito a ideias, mas as práticas construídas pelos sujeitos inseridos nas relações de poder. E a construção do conhecimento, não se restringe apenas em inserir debates sobre políticas afirmativas, como no âmbito das cotas raciais nas universidades, mas sim ter consciência, enquanto docente, da relevância de tal discussão e esta por sua vez, deve estar presentes nas diferentes áreas do conhecimento. Por isso, é importante ressaltar acerca desta questão, sobre a importância que a lei e as diretrizes têm promovido para as ações pedagógicas. Ao inserir tais discussões em seu currículo, abrindo a porta para a formação reflexiva do professor e das diversidades de forma interdisciplinar, por meio dos conteúdos, será possível dialogar-se simultaneamente com outras disciplinas, que fazem parte da base da formação do profissional. Porém, os professores ainda precisam trilhar muito, a fim de consolidar sua formação na busca pela autonomia reflexiva de sua profissão, não se deixando levar por uma forma distorcida de apresentar a cultura afro-brasileira, africana e indígena como apenas cunho folclórico, sem nenhuma reflexão com seus alunos, envolvidos nesta trajetória, com o discurso pronto visto desde a educação infantil, ao se retratar a cultura indígena no pintar dos rostos das crianças, ou mesmo no fantasiar-se de índio para exibir que se está inserida, no currículo escolar, a temática e o cumprimento da legislação. As discussões propostas devem levar à mudança de posturas, a prática coletiva, solidária e humana, sem discriminação ou qualquer tipo de preconceito. 6. Entrevista com professores e alunos do ensino superior Como reforço à estratégia metodológica, a respeito das cotas raciais nas Universidades Públicas, foi solicitado aos alunos que entrevistassem 15 professores e 15 alunos do ensino superior (apresentado no item anterior), para que verificassem o posicionamento dos mesmos em relação à temática em questão. Para isso, forneceu-se o modelo de questionário semiestruturado. Os alunos fizeram a entrevista em uma instituição privada de ensino, entrevistando três doutores, oito mestres e quatro especialistas. Cinco mulheres e dez homens, que declararam sua cor, conforme critério do IBGE, como sendo oito pardos, seis brancos e um negro. Os entrevistados opinaram em relação às cotas raciais nas Universidades Públicas, sendo oito contra e sete a favor. Os que apresentaram serem contra as cotas raciais eram três mestres, dois doutores e três especialistas. Registra-se o posicionamento a respeito da temática da seguinte forma: Entrevistado 1- Absurda essa política. Se você 'oferece cotas', confirma que o negro é marginalizado e incapaz, por isso precisa de ajuda oficial e paternalista. Reafirma-se a diferença - e não o contrário, que é a necessidade de eliminá-la. A única solução decente para o ingresso democrático da juventude na universidade é lhe dar uma educação de qualidade para que - aí, sim - não haja diferença entre o aluno do colégio público e do colégio "de elite". E o que é a educação pública hoje? Uma calamidade que piora há 40 anos. Então quem discrimina, afinal? Não é o próprio Estado, que não dá preparo digno aos alunos? Entrevistado 2- Negros pobres e brancos pobres podem disputar vagas numa mesma categoria, pois não existe diferença de competição entre eles sendo que ambos estudaram em escola pública. Acredito que o problema das cotas raciais é a exclusão do branco pobre, claro algumas universidades tem os dois tipos de cotas, mas a UNB, por exemplo, só tem cotas raciais. Então, vejo assim porque o negro e o branco pobre não podem disputar numa mesma categoria ? Entrevistado 3- Sou contra, e acho um absurdo esse tipo de política, a luta é contra o racismo e não a favor, não existe isso de raça inferior, existe sim um racismo dependendo do lugar branco, negro, amarelo são vitimas de racismo ninguém precisa de cotas apenas os preguiçosos q não fazem nada da vida q querem isso se na federal, por exemplo, existe a maioria branca talvez esses ''brancos'' q tenham se esforçado mais por isso estão ali. Entrevistado 4- Sou contra as cotas raciais. Uma vez que separa um número de vagas para certa parte da população baseado em sua raça, revela-nos que não acredita-se que essa parcela da população tenha condições intelectuais para entrar em uma Universidade Federal com seus próprios esforços. Com as cotas raciais, simplesmente aumenta-se a exclusão e o racismo e, não a inclusão. Entrevistado 5- Deixa bem claro o Racismo, a desigualdade, acredito que é dar mais força para a desigualdade, é menosprezar a inteligência do outro, é dizer de forma bem clara que os negros não são capazes de passar em qualquer concurso publico ou privado. Entrevistado 6 - Eu vou votar contra porque, no meu entender, os brancos pobres não são devedores dessa dívida histórica, afirmou "Eu excluo definitivamente a cota racial e social, por entender que ela está implícita na escola pública" Entrevistado 7- As cotas raciais são um insulto aos negros que o Governo ele tem que dar cota, bolsa para aquelas pessoas que não podem pagar seja ela de qualquer etnia. Entrevistado 8- O direito de estudar é para todos. Os dados coletados são de suma importância e reflexão para o papel do educador, que precisa se formar em toda a sua esfera e principalmente no que tange à sua autonomia reflexiva. Um dos dados que levaram a grande discussão em sala de aula, foi o fato de um dos entrevistados ter em sua entrevista se declarado negro, com uma titulação acadêmica de doutor e um posicionamento contra as cotas raciais, justificando seu posicionamento em uma questão de renda, sendo este considerado um insulto aos negros. Essa declaração trouxe polêmica ao interior das práticas docentes, fazendo com que os alunos envolvidos questionassem e considerassem urgente e necessária a discussão da temática por todas as instituições de ensino. São por exemplos como estes que as construções sociais, culturais, políticas e identitárias, são forjadas desde a infância, aprendendo a olhar as diferenças e diversidades humanas, classificando-as em graus de hierarquias. É necessário desenvolver nos futuros professores a criticidade de suas ações para uma prática justa de equalizar os processos educativos. Esta disparidade pode ser vista e notada, desde a época colonial aos dias atuais, na constituição de uma sociedade dos excluídos, que se configura com o passar dos tempos de forma silenciosa adentrando ao ideológico dos indivíduos como correto. Tal posicionamento pode ser verificado na fala de um dos entrevistados “ninguém precisa de cotas apenas os preguiçosos que não fazem nada da vida que querem isso.” o pensamento da fala do entrevistado configura a herança cultural de muitos brasileiros e com isso, influencia a nossa sociedade de forma mesquinha e ditadora de permanecer a exclusão e o direito de todos terem igualdade de acesso. Outra frase muito encontrada nas falas dos entrevistados a respeito das cotas raciais nas universidades: “acredito que é dar mais força para a desigualdade, é menosprezar a inteligência do outro, é dizer de forma bem clara que os negros não são capazes de passar em qualquer concurso publico ou privado”. Este tipo de ideologia e disseminado pela sociedade e leva o sujeito negro a perder sua identidade e querer um ideológico fenotipicamente apresentado pelo discurso dos meios de comunicação, visto nas novelas e publicidade por todo o país, silenciando as condições do negro no país. Este tipo de discurso dissemina uma analogia de separação e segregação de quem deve estar no ensino superior e com isso, nega o êxito de buscar profissões mais almejadas pela sociedade, podendo ser visa em frases do tipo: “Com as cotas raciais, simplesmente aumenta-se a exclusão e o racismo e, não a inclusão”. Investimento na educação, para as questões raciais, principalmente na educação superior nos posicionamento das às ações afirmativas precisam ser cada vez mais discutidas no intuito de diminuir as desigualdades e promover a acessibilidade nas condições de vida de cada sujeito. De acordo com Gomes (2007): Um bom caminho para repensar as propostas curriculares para infância, adolescência, juventude e vida adulta poderá ser uma orientação que tenha como foco os sujeitos da educação. A grande questão é: como o conhecimento escolar poderá contribuir para o pleno desenvolvimento humano dos sujeitos? Não se trata de negar a importância do conhecimento escolar, mas de abolir o equivoco histórico da escola e da educação de ter como foco prioritariamente os “conteúdos” e não os sujeitos do processo educativo. (GOMES, 2007.p.33). Neste caminho, em nosso país, a Secretaria de Igualdade Racial, juntamente com o Governo Federal, direciona suas ações afirmativas com o foco na inclusão de negros e índios nos mais variados setores da sociedade, dentre elas encontra-se já chamada politica de cotas nas Universidades Federais com o intuito de dar igualdade ao acesso à educação de qualidade. 7. Conclusão Este trabalho tem muito a caminhar, em seu processo educativo, e reflexivo de práticas. Com a lei 10.639/03 e as diretrizes vigentes em relação a esta temática, muito se tem conquistado e discutido, porém, muito também se tem a fazer de forma a interferir pedagogicamente na construção e formação dos professores a respeito, por exemplo, da história e a cultura africana e afro-brasileira. A compreensão desta poderá nos levar a suplantar preconceitos sobre os negros, sobre nossa própria cultura e origem, transpondo para além dos muros educacionais a igualdade de direitos e o extermínio do preconceito e da discriminação. Politicas afirmativas se fazem necessárias para trilhar essa caminhada, juntamente com uma formação contínua dos docentes, no que tange ao assunto das relações étnico-raciais no Brasil, possibilitando visibilidade à produção acadêmica e principalmente, ao material didático da educação Básica, na temática africana e afro-brasileira. Outro ponto importante a ressaltar é a consciência dos educadores sobre essas questões, para que se possa difundir, por toda uma sociedade, estudar como um direito de todos, principalmente o que tange a educação e as relações étnico-raciais, fomentando ao currículo questionamento a respeito das práticas pedagógicas e a formação do profissional da educação, pois para garantir uma educação de qualidade, se faz necessário uma inserção a luta antirracista no currículo escolar, para Gomes (2007): Entendendo que a questão racial permeia toda a história social, cultural e política brasileira e que afeta a todos nós, independentemente do nosso pertencimento étnico-racial, o movimento negro brasileiro tem feito reivindicações e construído práticas pedagógicas alternativas, a fim de introduzir essa discussão nos currículos. Ricas experiências têm sido desenvolvidas em vários estados e municípios, com apoio ou não das universidades e secretarias estaduais e municipais. (GOMES, 2007 p.36). A Lei 10.639/03 vem para suplantar essa desigualdade e corrigir historicamente o legado que cai sobre nossa sociedade, na tentativa de promover o respeito às diferenças étnico-raciais, fixando raízes no imaginário, na concepção pedagógica, como também nas políticas educacionais. Referências BERTRAND, Yves. Teorias contemporâneas da educação. 2.ed. Porto Alegre: Instituto Piaget, 2001. BRASIL. Decreto 4.228, de 13 de maio 2002. Estabelece o Programa Nacional de Ações Afirmativas. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/serviços>. Acesso em: 15 julh. 2012. BRASIL. Lei nº9394, de 24 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da educação nacional. Brasília: Ministério da Educação. BRASIL. Lei nº. 10.639 de 09 de janeiro de 2003. Inclui a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” no currículo oficial da rede de ensino. Diário Oficial da União, Brasília, 2003. BRASIL. Ministério da Educação. Resolução n.01 de 17 de junho de 2004. Dispõe sobre as diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana. Brasília, julho de 2004. GOMES, Nilma Lino. Alguns termos e conceitos presentes no debate sobre relações raciais no Brasil: uma breve discussão. Educação antirracista: caminhos abertos pela Lei Federal nº 10.639/03. Brasília: MEC/SECAD, 2005. p. 39-62 GOMES, Nilma Lino. Indagações sobre currículo: diversidade e currículo . Nilma Lino Gomes; organização do documento Jeanete Beauchamp, Sandra Denise Pagel, Aricélia Ribeiro do Nascimento. – Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007. CANDAU, Vera Maria Ferrão. Multiculturalismo e educação: desafios para a prática pedagógica. In: MOREIRA, A.F.B. e CANDAU, V.M. (Orgs.). Multiculturalismo: diferenças culturais e práticas pedagógicas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. p. 13-37 CHAUÍ, M. S. Ideologia e educação. In: Revista educação e Sociedade Ano II –nº5, 1980. São Paulo: Editora Cortez, 1980. CHAUÍ, M. S. Participando do debate sobre mulher e violência. Em Perspectivas Antropológicas da Mulher (pp. 25-62). Rio de Janeiro: Zahar, 1985. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini Aurélio: dicionário da Língua Portuguesa. 8 ed. Curitiba: Positivo, 2010, p. 856 FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 19 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006. FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança. Um reencontro com a pedagogia do oprimido. 1997. Paz e Terra. São Paulo. GOMES, Nilma Lino. Educação, relações étnico-raciais e a Lei 10.639/03. 2011. Disponível em: < http://www.acordacultura.org.br/artigo-25-08-2011>. Acesso em: 20 ago. 2012. PERRENOUD, Phillipe et. al. Formando professores profissionais. Quais competências? Quais estratégias? 2. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2001. PRAXEDES. W. A questão da educação para a diversidade sócio-cultural e o etnocentrismo. In: ASSIS, V. S. Introdução à antropologia. Maringá: EDUEM, 2005. SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. 3. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2011. 156p.