FATORES CRÍTICOS E FAVORÁVEIS NA CARCINICULTURA CATARINENSE Francisco GELINSKI NETO (1) [email protected] Nelson CASAROTTO FILHO (2) [email protected] (1) Prof. Doutorando Do Departamento de Ciências Econômicas, Centro Sócio-Econômico, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. (2) Prof. Doutor do Departamento de Engenharia de Produção, Programa de Doutorado e Mestrado do Curso de Engenharia de Produção e Sistemas, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. RESUMO: O trabalho mostra a evolução da carcinicultura no Brasil e Santa Catarina. Com base no referencial metodológico de agricluster se faz o diagnóstico dos fatores críticos e favoráveis da carcinicultura catarinense. É caracterizado o grau de maturidade do cluster com base na definição de Casarotto. PALAVRAS-CHAVE: Carcinicultura Agricluster do camarão ABSTRACT: This study shows the evolution of carciniculture in Brazil and Santa Catarina. It makes a diagnosis of the weakness/threats and strengths/opportunities of carciniculture in Santa Catarina using the methodological reference of agricluster. The degree of maturity of the cluster is characterized based on Casarotto’s definition. KEY-WORDS: Carciniculture Agricluster of the shrimp production 2 1 - INTRODUÇÃO O crescimento da aqüicultura mundial vem sendo considerado a Revolução Azul, pelos seus efeitos em termos de ganhos de produção de organismos aquáticos (desde peixes de água doce até crustáceos). Isto corre como resposta a uma decrescente oferta de pescados oriundos da pesca extrativa pelo esgotamento das reservas pesqueiras mundiais. Os anos noventa foram marcados pela redução em volume dos produtos proveniente do extrativismo pesqueiro. Por outro lado, a aqüicultura apresentou expansão de 17% no volume produzido. Entre 1994 e 1999 a aqüicultura ampliou sua produção anual de 20,8 milhões de toneladas a 32,9 milhões de toneladas. (Melo, 2002, apud Luchese e Batalha 2003). O esgotamento das reservas pesqueiras mundiais tem levado diversos países, entre eles o Brasil, a se dedicarem a pesquisas e atividades de fomento na aqüicultura. Esta é uma nova área de obtenção de proteína de alta qualidade e de elevada conversão alimentar, onde os organismos praticamente geram um quilograma de carne para cada quilograma de ração consumida. A aqüicultura se divide em dois grandes ramos: o das águas interiores, ou seja as atividades aqüícolas com animais de água doce (peixes, rãs e camarões) e o de águas marinhas (maricultura): neste ramo estão por exemplo a carcinicultura (cultivo de camarões) o cultivo de algas, o cultivo de moluscos e piscicultura. “Na aqüicultura, o cultivo de camarões marinhos é a atividade de maior destaque, no final da década de noventa movimentou US$ 6,1 bilhões por ano, o que representa 12% de toda indústria aqüícola mundial” (Nunes, 2000 apud Luchese e Batalha 2003). O Brasil, especialmente após a introdução da espécie Litopenaeus vannamei (camarão branco do pacífico) tem demonstrado excelente performance no crescimento da atividade com taxas anuais de 58,32% ao ano no período 1997 a 2002. Em Santa Catarina o crescimento da atividade é notável de 70 para 3500 toneladas entre as safras 1998/99 e 2002/2003, ou seja, uma taxa de crescimento de 118,6% ao ano no período considerado. Apesar da evolução mostrada anteriormente, o mercado passou a se retrair desde o ano de 2001, ocasionando baixa de preços no mercado internacional de um patamar em torno de US$ 7 dólares o quilograma para algo ao redor dos 4 a 5 US$. Além disto, há ameaças e limitações à atividade, como é o caso de possibilidade de ocorrência de viroses fatais1 (se não houver mecanismo sério de acompanhamento sanitário) e, restrições de ampliação de áreas e da própria atividade por imposições de ordem de legislação ambiental. O objetivo deste trabalho é diagnosticar os fatores críticos e favoráveis da carcinicultura em Santa Catarina. O diagnóstico é feito através de entrevistas (foram entrevistados: técnico local da EPAGRI, presidente do núcleo sul da ACCC, produtor de camarão, presidente da Coopersanta, dois empresários comercializadores de grande porte, engenheiro de aqüicultura e administrador de fazenda de camarão e o Coordenador do Programa estadual de Carcinocultura). O referencial teórico adotado é o conceito de agricluster, que destaca a importância da competitividade de países, regiões e setores e, que, estabelece justamente o diagnóstico como elemento essencial ao estabelecimento de plano de intervenção para o desenvolvimento.O 1 Recorde-se o caso do Equador que, nos últimos dois ou três anos, por problemas de virose teve queda acentuada na sua produção. 3 trabalho responderá se a estruturado. carcinicultura catarinense é um agricluster em nascimento ou 2 - A CARCINICULTURA NO MUNDO “No ano 2000, a produção mundial do camarão cultivado em cerca de 1,2 milhões de hectares de viveiros localizados em mais de 50 países em desenvolvimento, chegou a 865.000 toneladas.” (ABCC; DPA, 2001, p.9). Os dez principais produtores em 2002 em termos de volume são na seqüência: China, Tailândia, Vietnã, Índia, Indonésia, Bangladesh, Brasil, Equador, México e Honduras. Embora a China seja a primeira colocada em termos de volume de produção (310.750 toneladas), ela encontra-se na terceira colocação quanto à produtividade (1.158 kg/ha). (ABCC,2003). “Dentre os países latino-americanos, o Brasil pode ser apontado com um dos que vem apresentando forte ascensão em volume produzido. Tal expansão pode ser justificada, entre outras razões, pelas condições edafo-climáticas propícias à criação de camarão”. (Luchese e Batalha, 2003, p. 2). 3 - A CARCINICULTURA NO BRASIL 3.1 – A liderança brasileira O Brasil é o 7º. colocado em termos de volume produzido, mas, é o primeiro em termos de produtividade, atingindo o patamar de 5.458 kg/ha em 2002, bem acima do segundo colocado que é a Tailândia a qual obteve apenas 3.421 Kg/ha naquele ano. “(...) o cultivo do Litopenaeus vannamei, camarão branco do pacífico, no começo de 1993 foi decisivo para estimular a produção brasileira, devido a capacidade de adaptação às mais variadas condições e locais de produção. Somente no Nordeste, existe potencial de 300.000 hectares propícios para a carcinicultura marinha”.(Sbrissia e Moraes, 2003, p.2). São as temperaturas elevadas que determinam o crescimento do animal e o número de ciclos possíveis de serem executados durante o ano. Devido a isto, a região do Nordeste (96% da produção brasileira) apresenta um maior número de ciclos por ano relativamente a Santa Catarina (3% da produção), o que tem garantido à primeira produtividades acima de 5.000 kg/ha/ano ( 3 a 4 ciclos), e de apenas 3.500 Kg/ha/ano (2 ciclos) em Santa Catarina. 3.2 – A evolução da Produção brasileira de camarões cultivados A evolução da produção revela uma curva exponencial (gráfico 1), como conseqüência da melhoria continua em manejo, produção de pós-larvas e mercado francamente comprador. Gráfico 1. Evolução da produção brasileira de camarão cultivado - 1997/2002 em mil ton 60 mil ton 40 25,12 produção mil ton 15 3,61 1997 7,26 1998 1999 2000 2001 2002 4 Fonte: do autor com base em Winckler 2003. O investimento privado na carcinicultura manifestou-se depois que as pesquisas em tecnologia de manejo deram certo e o país alcançou boa produtividade. Além disso, com a tecnologia os produtores deixaram de depender de importações de pós-larvas (Pinto, 2000). Devido a isto, evoluiu-se de 20 fazendas em 1995 as quais geraram US$ 42 milhões em exportações, para mais de 250 fazendas em 2001 exportando US$ 129 milhões e, US$ 200 milhões de exportações em 2002, com produção de 60.000 toneladas. A carcinicultura já é a principal geradora de divisas dentro da pauta dos pescados, tendo atingido 48% das exportações em 2001. (Meurer e Emílio, 2002). Os principais mercados do camarão de cativeiro do Brasil são: EUA, França, Espanha, Portugal e Japão. Cada um destes mercados tem preferência pela apresentação do produto indo desde camarão sem cabeça congelado a filetes de camarão. Estímulo mais recente para a carcinicultura nacional foi a elaboração, em outubro de 2001, da Plataforma Tecnológica do Camarão Marinho Cultivado. O principal elemento da Plataforma é “(...) uma proposta das ações estratégicas que refletem o pensamento dos diversos atores envolvidos no desenvolvimento da carcinicultura nacional”. (ABCC; DPA, 2001, p. 6). A Plataforma destaca os seguintes segmentos estratégicos: 1) Desenvolvimento Científico e Tecnológico; 2) Planejamento Estratégico (Zoneamento e Regulamentação); 3) Sustentabilidade Ambiental; 4) Gestão de qualidade; 5) Biossegurança; 6) Mercado; 7) Capacitação de Recursos Humanos; 8) Carcinicultura Familiar. O documento também mostra as diversas instituições envolvidas no desenvolvimento de cada um dos segmentos estratégicos2. 4 - A CARCINICULTURA CATARINENSE O marco da carcinicultura catarinense foi o ano de 1984 com a implantação do Laboratório de Camarões Marinhos (LCM) da UFSC, em Florianópolis. (Dutra, 2003). Seiffert et al (1999 apud Dutra, 2003) relatam a importância do LCM como elemento impulsionador no desenvolvimento e aprimoramento da carcinicultura da região Sul do Brasil. As pesquisas tanto com espécies nativas quanto exóticas permitiram ao setor alcançar o atual estágio de desenvolvimento. O LCM é um centro de referência nacional em pesquisa e produção de pós-larvas de camarão marinho. Localiza-se na comunidade da Barra da Lagoa em Florianópolis. Recentemente as ampliações do LCM permitiram que aumentasse a oferta de pós-larvas de 5 milhões em 1998 para 400 milhões na safra 2002/2003. Entre 1984, e o ressurgimento da carcinicultura comercial em 1998/99, ocorreram várias tentativas de cultivo comercial mas que não lograram êxito, devido principalmente às espécies empregadas e à influência de outras variáveis como: sobrevalorização cambial, tecnologia operacional não totalmente desenvolvida e espécies inadequadas. “Em 1998 a UFSC e a EPAGRI introduziram dentro do Estado a espécie exótica Litopenaeus vannamei. Desde então foi iniciado um novo ciclo dentro da atividade na região”. (Dutra, 2003, p. 33). Esta introdução e as pesquisas executadas elevaram a produtividade ano a ano, dos 750 kg/ha em 1998, a 1700 kg/ha por ciclo em 2003. Neste contexto atua o Programa Estadual de Cultivo de Camarões Marinhos, criado em 1999, com o objetivo explícito de “implementar ações de apoio à produção de camarões marinhos 2 Sobre os segmentos estratégicos ver em www.abccam.com.br. 5 em cativeiro, como alternativa de desenvolvimento sustentável dos municípios litorâneos catarinenses”. O Programa é coordenado pela EPAGRI. (EPAGRI, s.d.) Entre as metas do programa estavam: implantação de 2500 hectares de cultivo entre 99 e 2002; geração de 1250 empregos diretos e 1750 indiretos, na cadeia produtiva. (EPAGRI, s.d.). As metas do programa estão na dependência de disponibilidade de recursos para os investimentos privados, além do licenciamento ambiental. As ações atuais do Programa estão voltadas, para a capacitação de produtores, equacionamento da questão sanitária, implantação de um laboratório sanitário na CIDASC, obtenção de certificação dos estabelecimentos tanto laboratórios quanto fazendas, e, assessoria de implantação de três laboratórios privados para produção de pós-larvas. Além destas, o Programa avançou na questão do planejamento para a atividade, especificamente na área do planejamento ambiental através das teses de doutorado e mestrado que redundaram em zoneamento para desenvolvimento da atividade. Além disso, a EPAGRI presta assistência técnica principalmente aos pequenos empreendimentos, até 10 hectares de lâmina d’água para obtenção de financiamentos e licenciamentos e elaboração do projeto técnico. São apoiados ainda os carcinicultores pela Associação Catarinense dos Criadores de Camarões. É composta por três núcleos: 1º norte na região de Joinvile; 2º centro na região de Florianópolis e 3º sul na região de Laguna. Entre as atribuições da ACCC estão: A defesa dos interesses dos produtores de camarões junto ao poder público e aos diferentes segmentos da cadeia produtiva; o estabelecimento de normas e regulamentos, visando o disciplinamento da atividade e apoio a estudos que visem a melhoria do processo produtivo e a manutenção da qualidade ambiental. A associação é filiada a Associação Brasileira de Criadores de Camarões que promove ações em prol do desenvolvimento da carcinicultura nacional. (ACCC, 2003). No Estado, além da UFSC e da EPAGRI, a FURB (Blumenau) e a UNISUL (de Tubarão) vêm desenvolvendo ensino, pesquisa e extensão na área de carcinicultura. A Evolução da Produção de camarões marinhos cultivados em SC Desde 1998/99 com a introdução e desenvolvimento de práticas de manejo e de fornecimento de pós-larvas de camarão branco no Estado, a carcinicultura logrou um notável crescimento, que também teve um comportamento exponencial, a exemplo da carcinicultura brasileira anteriormente visualizada, crescendo de 70 toneladas na safra 1998/99 a 3.500 toneladas na safra 2002/2003 e, com produtividade sempre crescente. Segundo Sérgio Winckler (2003) , coordenador do Programa Estadual de Cultivo de Camarões Marinhos, na safra 2002/2003 foram cultivados 870 hectares resultando em 3.500 toneladas e já está se prevendo para a safra 2003/2004 em torno de 1200 hectares de lâmina d’água. A área potencial para a atividade no estado, supera os 5 mil hectares. Winckler distribui as fazendas de criação de camarão em três estratos: pequenas (até 10 hectares), representariam 39% do total de fazendas, as médias (entre 10 a 30 hectares) seriam 47% e grandes (áreas superiores a 30 hectares) representariam 14% do total. As fazendas que eram apenas 4 em 1998/99 (36 ha) evoluíram para 63 em 2002/2003 (870 ha). Além do resultado econômico, a atividade é interessante também do ponto de vista social, uma vez que gera até dois empregos diretos por hectare de lâmina d’água e dois e meio empregos indiretos. 5 – O EMBASAMENTO TEÓRICO Desde 1957, com os primeiros estudos de Davis e Goldeberg, a respeito de agribusiness, a base teórica tem se ampliado. A percepção estreita (anterior a Davis e Gldberg) de se enfocar 6 apenas a eficiência da unidade produtiva ou o dentro da porteira há muito se esgotou, atualmente a ênfase está na eficiência da cadeia de produção englobando desde o fornecedor de insumos ao comercializador final no sentido de se buscar o que Wedekin (2002) denomina de parceria para a agregação de valor. Porém, há que se considerar que o agribuisiness não é composto apenas por atores diretamente envolvidos na produção, mas também há o espaço econômico e geográfico, ou seja o ambiente externo em que atuam por exemplo universidades, governo (com suas políticas macroeconômicas), institutos de pesquisa, uma rede de prestadores de serviços (financeiros, de assistência técnica e extensão rural) e outros. No ambiente geográfico há que se considerar as economias de aglomeração advindas das superposições entre os diversos atores que podem estar relacionados em redes entre as diversas cadeias de produção. Lucchese e Batalha (2002) consideraram o enfoque de cadeia produtiva para desenvolver a análise da competitividade da carcinicultura Marinha no Estado de São Paulo utilizando, para isso, um referencial metodológico adaptado por Silva e Batalha (2000). Aqueles estudaram os elos produção, processamento e distribuição utilizando-se dos direcionadores: tecnologia, insumos, ambiente de mercado, gestão, ambiente institucional e relações de mercado. De outra forma, o enfoque utilizado por Sbrissia e Moraes (2003) foi o de Sistemas Agroalimentares (SAG) e o modelo Estrutura, Conduta e Desempenho (ECD). Este trabalho adota o referencial teórico denominado por Wedekin (2001) de agricluster. Definiu agricluster “(...) como concentrações geográficas de empresas de determinado ramo do agribusiness e companhias correlatas. Estas podem ser, por exemplo, fornecedores de insumos especiais ou provedores de insumos especiais ou provedores de infra-estrutura especializada. Alguns exemplos de agriclusters muito adensados no Brasil: açúcar e álcool e laranja no estado de São Paulo e fumo e calçados no Rio Grande do Sul”. (Wedekin, 2001, p. 42). Em Santa Catarina pode-se citar entre exemplos desta classificação os agricluster de aves e suínos e o agricluster do leite. A respeito da evolução de cluster, verificou-se em Casarotto Filho (2002) que à medida que ocorre maior concentração de empresas e fortes relações comerciais há o que se denomina nascimento do cluster. Além disso, pode-se passar para uma situação intermediária denominada de desenvolvimento do cluster até a forma final de cluster estruturado, onde ocorreria a presença de consórcios formalizados, sistema local estruturado e, forte parceria público-privada. No agricluster (aglomerados ou agrupamentos de empresas e instituições ligadas ao agronegócio), a competição e a cooperação estão lado a lado. Wedekin (2002) considera ainda, que há benefícios na aglomeração de empresas concorrentes pois, a competição favorece a comparação, a mensuração do desempenho, a melhoria contínua e a busca permanente da inovação. Além disso, cria “(...) a necessidade de cooperação em torno de uma agenda comum, de sorte a enriquecer a posição do agricluster local frente a seus concorrentes nas economias nacional e global”. Wedekin (2002, p. 45). O estudo de agricluster visa melhorar a competitividade do segmento frente aos concorrentes em um mercado cada vez mais globalizado. Neste sentido, há que se construir vantagens competitivas através de melhorias de produtividade utilizando-se tecnologia e inovações. “As empresas, regiões e países podem fortalecer sua posição competitiva implementando estratégias genéricas de competitividade em três dimensões: A primeira delas é a liderança em custo (...). A segunda estratégia genérica de competitividade é a diferenciação de produtos e serviços (...). A terceira é a estratégia do enfoque (...)”. (Wedekin, 2002, p. 44). 7 A implementação das estratégias genéricas é facilitada após o estudo de agricluster. Uma das fases do estudo de agricluster é a análise dos pontos restritivos ou limitadores da atividade (fatores críticos) e dos pontos ou fatores favoráveis (oportunidades) da atividade. Este diagnóstico visa dar sustentação a processos de intervenção planejada (articulação e o desenvolvimento de um plano de ação local e regional) de forma a melhorar a eficiência de toda a cadeia de produção, como estratégia de inserção competitiva no mercado global.(Wedekin, 2002). 6 – FATORES CRÍTICOS E FAVORÁVEIS DIAGNOSTICADOS NA CARCINICULTURA EM SANTA CATARINA3 As entrevistas realizadas possibilitaram um mapeamento das necessidades do setor em Santa Catarina, luas limitações e os fatores estimuladores da mesma. 6.1 - As maiores necessidades da cadeia de camarão/limitações à atividade a) beneficiamento e industrialização – para alguns a escala e a produção cíclica inda não permitiriam a instalação de unidade de processamento e beneficiamento na região, para outros uma maneira de fortalecer o produtor frente ao poder de mercado dos compradores é estabelecer imediatamente uma planta de processamento; b) questão sanitária – necessidade de laboratório paras se fazer o monitoramento sanitário, e a certificação. As enfermidades são uma grande ameaça ao setor, pois todos os países que tiveram crise, foi devido à doenças; c) gerenciamento da atividade – necessidade de treinamentos de técnicos e produtores para o gerenciamento principalmente de custos; d) falta de pós larva – essa é uma questão conjuntural que ocorreu no primeiro ciclo 2003/2004, provocando lapso na produção de algumas propriedades; e) licenciamento ambiental e renovação – a resolução CONAMA 312 de outubro de 2002 obrigou os produtores a uma adaptação em seus tanques, além de estabelecer a obrigatoriedade de reserva legal, muitos produtores não dispõem de espaço físico para fazer as alterações necessárias, e os custos para readequação física dos tanques torna inviável; f) Necessidade de se desenvolver um esquema conjunto de negociação e comercialização com os compradores locais, com relação a preços e a classificação e acondicionamento do produto, seria o principal gargalo da atividade. 6.2 – Outras limitações à atividade em Santa Catarina a) altos custos para adquirir terras; b) linhas de crédito com volumes insuficientes; c) não há ciclo de produção de inverno; d) produção total é pequena para venda externa; e) índice DBO (Demanda biológica de Oxigênio) muito elevado. Além destes, destacam-se a relação preços pagos/preços recebidos pelos produtores está desfavorável aos produtores, dados aumentos em custos e não na receita; tendência de queda de preços reais de venda; o IBAMA multava quem estivesse instalado em “áreas de entorno”. 6.3 - Os elementos/fatores estimuladores/facilitadores para a atividade a) único estado que possui um programa estadual de carcinicultura; b) existência de engenheiros de aqüicultura, agrônomos, veterinários e biólogos já trabalhando de forma privada na atividade; c) Ocorre “vazio sanitário”, pois não se pode cultivar o camarão no inverno; d) mercado interno é 3 Relacionam-se aqui os principais fatores críticos e favoráveis. Para obter a listagem completa entrar em contato [email protected]. 8 grande no verão facilitando o escoamento; e) o camarão catarinense é de melhor qualidade, pois pode permanecer mais tempo na engorda; e outros. Além dos fatores críticos (restrições/necessidades) e pontos fortes (estimuladores) levantados nas entrevistas citam-se alguns resgatados durante a participação no O painel temático da carcinicultura4. Diagnosticaram-se os fatores limitadores e impulsionadores das fases: 1) produção; 2) transformação; 3) distribuição e comercialização. Com base nisso estabeleceram-se objetivos desejáveis visando eliminar os pontos fracos e potencializar os pontos fortes, e as alternativas para atingi-los (quadro 1). Quadro 1. Síntese dos objetivos desejáveis e alternativas para alcança-los Garantia de qualidade da água Monitoramento ambiental através de laboratórios novos ou conveniados Monitoramento da qualidade da água; Políticas de saneamento básico para as cidades Identificação das fontes poluidoras Implantar sistema de controle sanitário – HACCP – certificação do produto de qualidade (sistema controle de biossegurança Garantia do fornecimento de energia riscos e pontos críticos) 1) 2) Divulgação e fortalecimento da imagem do compra de gerador com financiamento discussão do problema com o fornecedor Assessoria de marketing produto Fonte: anotações pessoais das conclusões finais do seminário temático 12 nov. 2003, Laguna. 7 - CONCLUSÕES E SUGESTÕES Entre os fatores diagnosticados restritivos à atividade estão: necessidade de melhoria do gerenciamento na produção; restrições ambientais; baixo poder de negociação no momento da venda. Entre os fatores favoráveis diagnosticados estão: Programa Estadual de Carcinicultura; o perfil de produtores hetorogêneo; mercado interno grande; qualidade do camarão catarinense; normas de densidades ideais; “vazio sanitário” involuntário. Com relação à estratégia genérica liderança de custo, sugere-se a nível de propriedade trabalhar a gestão na operação da fazenda – por exemplo rigor nos controles de custos, definição do momento adequado da despesca, acionamento dos aeradores, e outros; relativamente à estratégia genérica de diferenciação de produtos e serviços percebe-se que há facilidade de obtenção de produto de qualidade especificamente com relação ao tamanho, uma vez que o produto catarinense não precisa ser “colhido” rapidamente dado que somente é possível se obter dois ciclos anuais; ao se aplicar a estratégia genérica do enfoque o segmento carcinicultura terá claro os mercados ou o mercado que deseja atingir (o setor vai se dedicar ao mercado interno ou 4 Dados levantados durante o painel temático no dia 12/11/04 no Iate Clube Laguna. Entidades envolvidas: Instituto Euvaldo Lodi/FIESC - moderador Ronaldo Cimetta, SEBRAE, UNISUL – palestrante Dr. Walter Muedas, EPAGRI – palestrante - Sergio Winckler, ADRAM -Agência de Desenvolvimento Regional da Amurel, produtores de camarão, técnicos em aqüicultura, consultores independentes, professores da UNISUL, professores da UFSC, vendedores. Duração aproximada do evento 8 horas. 9 ao externo ou a ambos), além disso deverá identificar claramente o desejo do consumidor relativamente às preferências de apresentação do produto. Além desses, sugere-se observar as seguintes necessidades: organizar os produtores via cooperativa fortalecendo a comercialização e o processamento. Criar e fortalecer a marca camarão de Laguna. Melhorar o controle sanitário e de certificação. Buscar a adaptação da legislação ambiental através de ação jurídica e política, dada a impossibilidade de se alcançar os elevados padrões exigidos pela legislação ambiental. Dada a juventude do setor em Santa Catarina e suas características percebidas em termos de relações intra-setor e outras instituições pode-se inferir a classificação de cluster em nascimento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABCC, DPA. Plataforma Tecnológica do Camarão Marinho Cultivado. [s.l.]: Associação Brasileira de Camarão Cultivado (ABCC)/ Departamento de Pesca e Aqüicultura do Ministério da Agricultura e Abastecimento (DPA/MA), 2001. Disponível em http://www.abccam.com.br. Acesso em 5/12/2003. ACCC. Núcleo Norte Núcleo Centro Núcleo Sul: União de esforços para geração de emprego e renda em harmonia com a natureza. Laguna, 2003, (folder). CASAROTTO FILHO, Nelson. Projeto de Negócio: estratégias e Estudos de viabilidade. São Paulo:Atlas, 2002. DUTRA, Thiago Cadorin. Carcinocultura: estudo técnico e conômico da atividade na região de Laguna- SC. Porto Alegre, UFRGS, 2003. (Monografia de Conclusão de Curso- graduação em Medicina Veterinária). EPAGRI. Programa Estadual de Cultivo de Camarões Marinhos. Florianópolis, s.d. (Folder). LUCHESE, Thelma; BATALHA, Mário Otávio. Carcinicultura marinha no estado de São Paulo: um estudo de viabilidade utilizando indicadores de competitividade de cadeia produtiva. XLI Congresso Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural (SOBER) 27 A 30 JUL. 2003. Juiz de Fora MG. CD... MELLO, R. H. Fazendas Alagadas – produção de peixes e crustáceos em cativeiro é negócio da China. Panorama da Aquicultura. Janeiro/Fevereiro, 2002. MEURER, Elmar, EMÍLIO, Paulo. Balança de pescados volta a ser positiva. Gazeta Mercantil, Curitiba, 18 de abr. 2002. Caderno B, p. 16. NUNES, A. J. P. O Cultivo de camarões marinhos no nordeste do Brasil. Panorama da Aquicultura. Maio/Junho, 2001. PINTO, Telma. Exportação de camarão deve dobrar. Gazeta Mercantil. Curitiba. 28 jan. 2000. Caderno B, p.20. SEIFFERT, W. Q.; BELTRAME, E.; ANDREATTA, E. R.; BIANCHINI, R.; PETERNSEN, R., Aspectos Relevantes sobre o Cultivo de Camarão Marinhos - um panorama mundial, do Brasil e do Estado de Santa Catarina. Florianópolis/SC, 1999. SBRISSIA, Gustavo Fischer e MORAES, Márcia A.F. Dias. Evolução da Produção Brasileira de Camarão Cultivado Estudo de Caso da Empresa CPCAM Brasil. XLI Congresso Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural (SOBER) 27 A 30 JUL. 2003. Juiz de Fora MG. CD... SILVA, C.A. BATALHA, M.O. Avaliação da eficiência e competitividade. In: SILVA, C.A., BATALHA, M.O. (org.), Estudo sobre Eficiência Econômica e Competitividade 10 da Cadeia Agroindustrial da Pecuária de Corte no Brasil. CNI – IEL/CNA/SEBRAE, 2000. WEDEKIN, Ivan.Viagem longa e profunda. Agroanalysis, FGV, v.21, n.7, p.40 – 44, jul. 2001. WEDEKIN, Ivan. Questão de hora e lugar. Agroanalyses. FGV, V.22, n. 5, p.41-48 jun./jul. 2002. WINCKLER, Sérgio. A cadeia Produtiva do Camarão. Palestra no seminário temático da carcinicultura. Laguna, 12 nov. 2003. 11