1
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
O BRINCAR NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA
DE 3 A 6 ANOS
Por: ROSÁRIO DE FÁTIMA CARDOSO SANTOS
Orientador: PROF. MS. NILSON GUEDES DE FREITAS
RIO DE JANEIRO
JULHO/2004
Universidade Cândido Mendes
2
Pós Graduação “Latu Sensu”
Projeto A Vez do Mestre
O Brincar no Desenvolvimento da Criança de 3 a 6 anos
Por: Rosário de Fátima Cardoso Santos
Trabalho apresentado em cumprimento às
exigências para obtenção do grau de
especialista no curso de pós-graduação em
psicomotricidade da Universidade Cândido
Mendes-Projeto A Vez do Mestre.
Rio de Janeiro
Julho/ 2004
AGRADECIMENTOS
3
A Deus, aos meus alunos que serviram de
base e inspiração para esse trabalho. A
minha coordenadora Jacira España que no
início de minha trajetória me orientou e
incentivou a penetrar no universo infantil.
DEDICATÓRIA
4
Dedico essa monografia ao meu marido
Hamilton, sempre presente em todos os
momentos de minha vida e que tanto me
ajudou para o aperfeiçoamento desse
trabalho. Também aos meus filhos Thiago,
Daniel e Fernanda pela força e incentivo
que me deram para iniciar esse novo
desafio.em.minha.vida.
RESUMO
5
O trabalho realizado pesquisou o brincar como uma atividade
indispensável ao desenvolvimento global da criança de 3 a 6 anos. Através do brincar,
da brincadeira e do brinquedo, ela desenvolve sua capacidade potencial, aumenta sua
habilidade motora e proporciona melhor desenvolvimento psicomotor.O jogo supõe
relação e interação social e para isso a participação em jogos contribui para a formação
de atitudes sociais, respeitando o tempo e a forma de aprender de cada criança incluindo
todos nas atividades propostas. Sabendo-se que a psicomotricidade é a relação do
pensamento e da ação, presente também a emoção, podemos concluir que é brincando
que a criança exercita de forma global e equilibrada todas essas áreas. Para a realização
desse trabalho foram consultados livros de autores referentes a psicomotricidade e a
recreação. A afirmação da autora Nylse Cunha de que brincar é indispensável ao
desenvolvimento da criança foi a base deste trabalho, complementado por Leonor Rizzi
e Regina Haydt que mostraram todas as contribuições motoras, psicológicas e sociais do
jogo e finalmente o estudo de Jean Piaget sobre a evolução do jogo na criança,
elaborando classes de jogos que correspondem a três fases do desenvolvimento mental
da criança. A partir de todo este estudo concluímos que realmente o brincar trabalha o
desenvolvimento psicomotor a criança, desenvolvendo-a globalmente.
Palavras Chaves: Brincar. Jogo. Educação Infantil.
Psicomotricidade. Psicomotricidade.
Desenvolvimento Global.
6
SUMÁRIO
Pág.
INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 7
1. A RECREAÇÃO ................................................................................................. 10
2. O DESENVOLVIMENTO MOTOR .................................................................. 18
3. O JOGO ............................................................................................................... 31
4. A EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL .................................... 40
CONCLUSÃO ......................................................................................................... 46
REFÊRENCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 50
ANEXOS ................................................................................................................. 52
ÍNDICE .................................................................................................................... 53
FOLHA DE AVALIAÇÃO ..................................................................................... 55
7
INTRODUÇÃO
Tudo que as crianças fazem por puro prazer chama-se brincadeira. A
brincadeira de uma criança pode ser a maneira pela qual desenvolve não apenas suas
capacidades potenciais, mas também sua percepção da realidade, das coisas e pessoas
como realmente são.
O problema proposto foi como o ato de brincar pode trazer
significativas contribuições no entendimento que a criança mantém com o mundo
afetivo e material que a rodeia, e para pensar o brincar faz-se necessário também
pensar na criança que brinca.
A criança na faixa etária de 3 a 6 anos deve ser vista segundo a
perspectiva sócio interacionista, onde ela é vista como sujeito ativo no seu processo de
desenvolvimento, e na análise deste participam aspectos emocionais e sócio-culturais,
além dos intelectuais. O brincar e todas as atividades que propiciam prazer através do
corpo das crianças devem ser identificados como essenciais na construção de
conhecimento. Seu desenvolvimento se processa de forma dinâmica e na interação
com o ambiente físico e social, ou seja, ela é ativa no processo de construção da sua
identidade.
Através de pesquisa bibliográfica pode-se constatar, como foi proposto
no objetivo geral, a importância de identificar o brincar como uma atividade
indispensável ao desenvolvimento global da criança, sem deixar de caracterizar a
ludicidade inserida em todo brincar, pois isso seria negar a própria criança e deixar de
aproveitar os objetivos educacionais presentes em toda brincadeira.
Dentro do capítulo 1, Cacilda Velasco afirma que a criança constrói
sua personalidade brincando. Pode-se também observar que o brincar é uma atividade
social e nela a criança vivencia, atua, cria e se envolve afetivamente.O instrumento do
brincar é representado pelo brinquedo, não importando o tipo, o material, a função, a
8
cor, a forma, o tamanho e nem a origem, pois a criança é capaz de descobri-lo no
próprio corpo.Uma característica importante do brincar é que ele não existe sem regras
e elas não precisam necessariamente ser formais, podem ser regidas pelo contexto
sócio-cultural que ela se encontra.
Veremos no capítulo 2 que brincando, de forma alegre e interessante,
sozinha ou em grupo, a criança estará desenvolvendo os elementos fundamentais da
psicomotricidade: noção de tempo, orientação temporal e espacial em relação a seu
corpo, aos objetos, às pessoas, percebe sua simetria, auxiliando, assim, o seu
desenvolvimento integral. O professor José Borges descreve o desenvolvimento motor
como um processo contínuo que vai desde o nascimento até a morte, revelando-se
através das mudanças do comportamento motor, sendo necessário conhecer suas fases
e estágios. Podendo-se concluir que o ato motor é essencial no processo de
desenvolvimento das estruturas mentais da criança, entendendo-se com isso, a
necessidade de cada vez mais oferecer à criança atividades onde ela experimente todas
as formas de movimento.
No capítulo 3, o jogo foi analisado como um agente socializador e
para tanto tomamos como base o estudo de Piaget sobre a evolução do jogo na criança
que de acordo com a fase de seu desenvolvimento pode ser jogo de exercício sensóriomotor, jogo simbólico e jogo de regras. O jogo na criança é inicialmente egocêntrico e
espontâneo, depois ele vai se tornando cada vez mais uma atividade social, na qual as
relações interindividuais são fundamentais. Jogo supõe relação social, supõe interação,
por isso, a participação em jogos contribui para a formação de atitudes sociais.
E, finalmente, no capítulo 4 foi visto os principais objetivos da
Educação Física na educação infantil como o desenvolvimento do esquema corporal, a
orientação espaço-temporal e o fortalecimento de seu desenvolvimento motor,
cognitivo, afetivo e social, contribuindo para a formação de sua personalidade. João
Batista Freire diz que as habilidades motoras precisam ser desenvolvidas, sem dúvida,
mas deve estar claro quais serão as conseqüências disso do ponto de vista cognitivo,
social e afetivo. A Educação Física na educação infantil deve atender aos diferentes
interesses das crianças, respeitando suas características individuais quanto às formas de
sentir, do pensar, do comportar-se e do expressar-se. A brincadeira infantil passa a
9
ter uma importância fundamental na perspectiva do trabalho do professor de educação
física, tendo em vista a criança como sujeito histórico e social.
.
10
1. A RECREAÇÃO
A história da recreação e sua valorização seguem um caminho paralelo
ao da Educação Física. A recreação é contemporânea do homem. Na pré-história, a
recreação tem sua origem quando o homem se divertia festejando o início da temporada
de caça. As manifestações de vida humana transformavam-se em danças e rituais
sempre com um aspecto de alegria ao vencer um obstáculo. Em todos os povos e em
todas as épocas, pode-se encontrar a dimensão lúdica através de danças, música,
desenhos, etc. As crianças sempre aprenderam “imitando” os mais velhos através de
seus brinquedos.
Somente em 1774, a recreação foi sistematizada, onde um professor da
Alemanha, J.B. Basedow concebeu um estabelecimento de ensino, cujo currículo
consistia em 5 horas de matérias teóricas, 2 horas de trabalhos manuais e 3 horas de
recreação. A partir de então, a recreação tomou seu lugar junto à Educação Física,
ganhando maior valor para a faixa etária infantil. E somente no século XIX apareceram
os parques de brinquedos infantis, os “playground”. Hoje, a recreação constitui-se em
conhecimento especializado e em técnicas refinadas. A recreação compreende todas as
atividades espontâneas e criadoras que o indivíduo faz em seu tempo livre para buscar e
sentir prazer e felicidade.
O jogo pode ser entendido como uma atividade recreativa. Na
recreação o jogo é definido como função didática de acionar a criança à sociedade, por
meio de objetos e ações que imitam a vida cotidiana dos adultos. Utilizar os jogos como
recurso didático em crianças, se trata em introduzi-las no mundo da aprendizagem,
aproximando-as a níveis de conhecimentos que melhorem sua integração no meio social
em que vivem e, faze-las participar de situações educativas no desenvolver do cotidiano.
O jogo é uma das experiências mais ricas e polivalentes, é uma necessidade básica para
a idade infantil. É uma maneira de promover o apoio mútuo e cooperativo entre as
crianças, desenvolvendo o companheirismo, preocupando-se com os sentimentos dos
demais e trabalhando para superar-se, progressivamente.
11
Cunha (1984) afirma que as regras do jogo devem ser mantidas. É
através das dificuldades que a criança vai exercitar seu auto controle. O final do jogo
deve ser também aproveitado, este é o momento oportuno para fazer com que as
crianças aprendam a ganhar e perder com tranqüilidade. Esta é uma atitude importante
para formação de uma personalidade equilibrada. Ajudando as crianças a saber ganhar e
perder, estará contribuindo de maneira decisiva para o seu futuro, e a entender que quem
participa corretamente também é um vencedor.
O papel da recreação infantil vem sendo amplamente rediscutido, por
teóricos sócio-interacionistas da Educação e da Psicologia, em seus estudos sobre o
desenvolvimento infantil. Discutir a função da recreação para o desenvolvimento
infantil é de suma importância para os profissionais que lidam com crianças. Para os
profissionais da área de Educação Física essa discussão torna-se ainda mais relevante,
visto que este curso pressupõe a aplicabilidade de atividades lúdicas para esta faixa
etária. Segundo Luise Weiss (1993, p.20) “as atividades das crianças são essencialmente
lúdicas e têm como função primordial à descoberta do mundo que as rodeia: a criança se
desenvolve brincando”.
1.1. O Brincar
Brincar é uma atividade indispensável ao desenvolvimento de uma
criança. O que há de importante na expressão mais autêntica do brincar é o crescimento
humano saudável. Segundo Cunha (1984, p.15), “enquanto brinca, a criança está se
exercitando física, social e emocionalmente. Está crescendo em descobertas que vai
fazendo, experiências que vai adquirindo”.
A criança que brinca, vive a sua infância, tornar-se-á um adulto muito
equilibrado física e emocionalmente, suportará muito melhor a pressão das
responsabilidades adulta e terá criatividade para solucionar os problemas que lhe
surgirem. A criança que brinca pode adentrar o mundo do trabalho pela via de
representação e da experimentação
12
O brincar da criança conjuga-se em três tempos: passado, presente e
futuro. Quando ela utiliza do imaginário no real ela poderá está antecipando o futuro, ou
presentificando o passado ou até mesmo modificando o presente. A criação na
representatividade da criança enquanto brinca transforma o tempo, daí a infância ter
urgência. Quando brinca a criança pode elaborar uma situação desprazerosa que já
aconteceu, mas ao mesmo tempo evoca um projeto, uma forma de resolução, algo que
se situa no futuro. Nesse momento está presente uma situação passada e outra que está
por vir - ambas representadas em uma atuação que se faz no presente. A criança brinca
de vir a ser ou até ser. O tempo representa os papéis do desejo da criança ou de seus
pais. Nesse campo de representações o futuro torna-se presente e o presente pode vir a
ser o futuro.É um jogo de ensaios, de faz de conta, que sai do imaginário, passa pelo
simbólico e expressa-se no real.
Velasco (1996) afirma que brincar está no lugar entre o prazer real e
sua evocação. Enquanto o adulto realiza tarefas que lhe promovem prazer (ler, pintar,
escrever), a criança brinca. A criança constrói sua personalidade brincando. A
brincadeira é uma parcela importante da sua vida. Para a criança o brinquedo e a
brincadeira representam uma parte do mundo que ela conhece, são os personagens de
sua história atual, que irão tomar novos papéis mais tarde em sua vida.
A infância tem urgência na vida da criança. É nessa fase que o lugar
de brincar tem seu maior projeto - o ser adulto. Há três momentos na infância que
diferenciam o brincar infantil:
1. onde é fundamental função materna;
2. momento da vivência edípica, em que o pai assume-se como tal, e
3. quando a criança inicia o processo da linguagem escrita, onde ela
insere-se no simbolismo do mundo que a cerca. É nesse momento que há na criança o
registro do simbólico, do real e do imaginário.
É brincando, que a criança, nessa faixa etária, irá compreender as
características funcionais dos objetos, os elementos da natureza e ciência e os
acontecimentos sociais. “Quando nas brincadeiras infantis as outras crianças adquirem
13
um papel importante, a brincadeira torna-se um meio eficaz de socializar
conhecimentos sobre si mesmas e sobre os outros” (SEE/SP, 1994, p.19).
O brincar na escola, é de suma importância para o resgate do
repertório lúdico popular, que vem sendo constantemente substituído por outras
atividades massificadas pela mídia eletrônica e a crescente urbanização. Este processo
traz deformações no fenômeno lúdico de caráter popular, que tem em sua proposta
primeira a liberdade de expressão e autencidade cultural do sujeito. A evolução cultural
é um processo inevitável e necessário para renovação, para construção do novo, mas
não podemos esquecer do passado, pois dele retiramos subsídios para apreender o
futuro.
Pode-se também observar que o brincar é uma atividade social e nela a
criança vivencia, atua, cria e se envolve afetivamente. A criança tem um papel ativo,
pois lhe proporciona prazer, e também é prazeroso para o educador à medida que vê
resultados positivos, mas o que não se pode negar é a construção de conhecimento, por
parte dos alunos e educadores, que o brincar proporciona. Quando a criança se encontra
na pré-escola, surgem alguns desejos que não são possíveis de saciar imediatamente. A
partir dessa situação, é que surge o brincar, assumindo diferentes aspectos, dependentes
estes da idade mental em que a criança se encontra. A satisfação em chupar o dedo não
tem a mesma motivação daquele que brinca de cavalo de pau. O brincar diferencia-se
das outras atividades, pois estabelece uma situação imaginária.
Outra característica importante é a de que o brincar não existe sem
regras. Estas não precisam necessariamente ser formais, mas são regras de
comportamento contidas na situação imaginária. Podemos dizer que são regras
construídas socialmente. Numa situação de brincadeira de casinha, onde uma das
crianças assume o papel de mãe, enquanto a outra de filha, faz com que essas “atuem”
dentro das regras que o comportamento mãe-filha pressupõe. Com essa situação
estabelecida, o que no real ficou desapercebido pela criança, no brincar ela passa a
entender melhor as relações que se estabelecem entre mães e filhas. Essas regras,
ratificando o que foi dito anteriormente, são aquelas que têm sua origem na situação
imaginária, não aquelas que encontramos numa situação de jogo, onde já são préestabelecidas.
1.2. A Brincadeira
14
A brincadeira surge na vida da criança já no útero da mãe. Quando
bebê, a criança se diverte com o próprio corpo. A partir do segundo ano, brincar é
simbolizar o mundo, viajar na fantasia, lá por volta dos 4 anos o simbolismo infantil se
aproxima da realidade, imitando o adulto ou a si próprio através dos brinquedos. Nessa
evolução da brincadeira, verifica-se que a criança passa de uma situação de livre escolha
para a priorização dos interesses de um grupo.
Segundo Walskop (1997, p.25) ”a brincadeira é uma atividade humana
na qual as crianças são introduzidas constituindo-se em um modo de assimilar e recriar
a experiência sociocultural dos adultos”. A brincadeira encontra um papel educativo
importante na escolaridade das crianças que vão se desenvolvendo e conhecendo o
mundo.O jogo as brincadeiras e o faz de conta para as crianças são como os sonhos para
os adultos. Isso que a criança brinca é coisa séria, é como a criança constrói a si mesma,
a sua identidade e o mundo que a rodeia. Ela precisa de espaço e tempo para esse
crescer.
Através da brincadeira infantil, organizada de forma independente do
adulto, as crianças poderiam exercer sua posição social, reiterativa e criadora do
trabalho total da sociedade na qual estão inseridas. A brincadeira é um fato social,
espaço privilegiado de interação infantil e de constituição do sujeito-criança como
sujeito humano, produto e produtor de história e cultura.
A brincadeira, na perspectiva sócio-histórica e antropológica, é um
tipo de atividade cuja base genética é comum à da arte, ou seja, trata-se de uma
atividade social, que supõe contextos sociais e culturais, a partir dos quais a criança
recria a realidade através de utilização de sistemas simbólicos próprios. Ao mesmo
tempo, é uma atividade específica da infância, considerando que, historicamente, esta
foi ocupando um lugar diferenciado na sociedade. A brincadeira é uma forma de
comportamento social, que se destaca da atividade do trabalho e do ritmo cotidiano da
vida, reconstruindo-os para compreende-los segundo uma lógica própria, circunscrito e
organizado no tempo e no espaço.
15
Velasco (1996) diz que o brinquedo representa o instrumento do
brincar, não importando o tipo, o material, a função, a cor, a forma, o tamanho e nem a
origem. A criança é capaz de descobri-lo no próprio corpo. O brincar é tão espontâneo,
tão natural, tão próprio da criança que não haveria como entender sua vida sem
brinquedo. As brincadeiras infantis evoluem paralelamente ao desenvolvimento global
da criança. Nas brincadeiras, o brinquedo pode ser fundamental, pois traz o mundo
adulto para a realidade infantil. Isto estimula a criatividade e seu desenvolvimento
psicomotor. Não se deve oferecer brincadeiras difíceis e nem usar muita explicação
verbal, pois as crianças não entendem e não elaboram, se desligam e não prestam
atenção, chegam a se negar à execução e sugerem outra atividade ou caem na frustração.
As experiências negativas resultam em regressão ou até em agressão.
As regras encontradas na brincadeira infantil da criança, também são
regidas pelo contexto sócio-cultural que ela se encontra. Na brincadeira de casinha, tão
comum entre as crianças, podemos encontrar situações estabelecidas entre os sujeitos
que compõem esta casa. Muitos educadores esperam da criança um comportamento
burguês na representação dessas situações em brincadeiras imaginárias, ou seja, o
modelo tradicional de família: pai, mãe e filhos. Quando este modelo não é encontrado,
o educador costuma apontar para um problema psíquico da criança, sem primeiro
contextualizar a brincadeira, entende-la pelo contexto sócio-histórico-cultural que a
criança se encontra em sua vida.
A brincadeira possibilita a criança agir numa esfera cognitiva, e não
unicamente através do que representa os objetos externos. Assim, uma criança, em
idade pré-escolar (3 a 6 anos), transforma um pedaço de madeira em carrinho, avião,
etc. Ela aprende a agir independentemente daquilo que vê, a percepção imediata já não
limita seu comportamento perante a situação que a afeta, mas esta começa a possuir
significados. O objeto real se transforma no brincar: o principal passa a ser o significado
que a criança concede a ele. Mas ela também inclui ações reais e objetos reais em suas
atividades de brincadeira.
1.3. Os Brinquedos
16
Estudos arqueológicos datam 2000 a.C a existência de miniaturas de
barcos de madeiras e bonecos, possivelmente utilizados como brinquedos. Na Idade
Média, os brinquedos eram representações de figuras humanas e animais em madeira ou
argila. Durante o Renascimento os brinquedos tornaram-se mais refinados e no século
XVII apareceram os brinquedos com fins didáticos.
Dentre todos os brinquedos conhecidos, supõe-se que o primeiro a
encantar a criança tenha sido o chocalho. Muitos brinquedos surgiram da criativa
cumplicidade: de um lado o espírito infantil buscando/desenvolvendo, a seu modo,
formas e expressão, exploração, manipulação, socialização, locomoção e prazer, e de
outro, a habilidade artesanal, transformando madeiras, metais ou argila em objetos aos
quais as crianças deram a função lúdica.
Assim, aos poucos o trabalho manual foi substituído pelas máquinas,
com isso os brinquedos começaram a ser tornar cada vez mais sofisticados. Com o
progresso da ciência, o desenvolvimento industrial, os novos materiais, o mundo em
constante transformação fizeram com que as crianças solicitassem outros brinquedos,
que não mais os estáticos e inanimados, mas sim que representassem uma extensão do
seu sentido de integração no tempo, histórico e cultural. O valor que a criança dá ao
brinquedo é comandado pela sua sensibilidade, emoção e afeto. Ele pode existir
concreta e/ou abstratamente, pois ele representa o instrumento do brincar. Não importa
o tipo, o material, a função, a cor, a forma, o tamanho nem a origem. A criança é capaz
de descobri-lo no próprio corpo. Ele é um meio, uma estratégia, um caminho para a
criança entrar no mundo mágico da imaginação, de simbolizar sentimentos ou de
representar a realidade.
O brinquedo é hoje um objeto de consumo que tem como destino
satisfazer as necessidades imediatas. Tão logo preenchidas essas necessidades, vai-se
em busca de outro objeto que satisfaça uma nova necessidade. O brinquedo é importante
para o brincar da criança, sem ele não existe o brincar. É a partir do brinquedo que a
imaginação infantil cria regras momentâneas, variáveis e diversificadas que contribuem
para o enriquecimento de sua personalidade.
17
O brinquedo é capaz de revelar muitas das contradições existentes
entre a perspectiva adulta e infantil. Para os adultos, brincar, jogar, significa entreter-se
com coisas amenas, visando à fuga dos problemas da vida cotidiana e do trabalho. O
brincar permite esquecer, logo, aliena e engana. Para as crianças, brincar é descobrir, é
ter contatos e incursão no mundo com seus desafios e cabe aos adultos serem os
responsáveis pela seleção consciente do deve ou não ser assistido, ouvido, visto, ou
enfim comprado, e convivido com suas crianças.
Segundo Leite (1995, p. 50), “o brinquedo caracteriza-se pela presença
do outro. Então, brincar é estar junto com o outro. Ë sentir o gesto, o olhar, o calor do
companheiro”. O brinquedo aproxima as pessoas, as torna amiga, porque brincar
significa sentir-se feliz. O brinquedo não é o confronto e nem conflito. Tudo é fazer de
conta, simulação. Brincar é sinônimo de paz, de harmonia e de alegria.
2. O DESENVOLVIMENTO MOTOR
18
O desenvolvimento motor é um processo contínuo e demorado, mas as
mudanças mais acentuadas ocorrem nos primeiros anos de vida. As experiências que as
crianças tem do nascimento aos seis anos determinarão, em grande extensão, que tipo de
adulto a pessoa se tornará.
Para Kokobum (1988, p.37), “a seqüência do desenvolvimento motor
é a mesma para todas as crianças, apenas a velocidade de progressão varia”. A ordem
em que as atividades são dominadas depende do fator maturacional, e o grau e a
velocidade em que ocorre o domínio estão na dependência das experiências e diferenças
individuais. Há ainda, uma interdependência entre o que está se desenvolvendo e as
mudanças futuras.
As atividades lúdicas surgem para estimular, de maneira correta e
ordenada, a criança, oferecendo atividades variadas e compatíveis com as características
e necessidades dela, para que a mesma possa ter um desenvolvimento harmônico, físico
e mentalmente, integrando e contribuindo, assim, para o desenvolvimento geral. Dessa
maneira, a criança poderá se orientar, pois orientar-se é conhecer-se e conhecer-se é
dominar-se. As habilidades básicas constituem pré-requisito fundamental para que toda
aquisição posterior seja possível e efetiva e para haver uma maior capacidade de
controlar movimentos é preciso um conjunto de mudanças na seqüência de
desenvolvimento.
2.1. Habilidades Motoras
Segundo Freire (2003, p.24), “as habilidades motoras precisam ser
desenvolvidas, sem dúvida, mas deve estar claro quais serão as conseqüências disso do
ponto de vista cognitivo, social e afetivo”. As habilidades motoras devem ser
desenvolvidas num contexto de jogo, de brinquedo, no universo da cultura infantil, de
acordo com o conhecimento que a criança já possui, pois assim como a linguagem
verbal falada pela professora em sala de aula é, por vezes, incompreensível para os
19
alunos, também a linguagem corporal pode sê-lo, se não se referir, de início, à cultura
que é própria das crianças.
2.1.1 Coordenação dinâmica geral
Harmonia de movimentos voluntários dos grandes segmentos do corpo
ou capacidade de controle dos atos motores. A criança deve usar seu corpo ao mesmo
tempo em que usa a sua mente. As propostas de atividades corporais pedem o uso de
atenção, observação e memória, constituindo uma verdadeira ginástica mental.As ações,
como andar, correr, subir, descer e equilibrar-se, dependem de uma coordenação geral
de movimento, que fazem trabalhar grandes massas musculares de nosso corpo. Estas
movimentações amplas servem de base à motricidade fina e diferenciada. Exemplo de
atividade lúdica: pique-pega.
2.1.2 Coordenação dinâmica manual
É um dos tipos de coordenação motora fina. Dá-se ao nível das mãos e
dos dedos, englobando desde o ato de preensão do lápis até o traçado das linhas e das
letras. Exemplo de atividade lúdica: dar nós em um barbante deixando intervalos entre
eles.
2.1.3 Coordenação viso-motora
Compreende uma ação conjunta de certas partes do corpo e da visão.
Podem estar ligadas à movimentação ampla juntamente com o trabalho ocular ou estar
ligadas à motricidade manual, num trabalho de olho-mão. Exemplo de atividade lúdica:
arremessar uma bola numa direção determinada.
2.1.4 Imagem corporal
A criança deverá ter, através de vivências múltiplas, a oportunidade de
tomar consciência do próprio corpo, ajudando-a a construir sua imagem corporal. Esta
IMAGEM CORPORAL será a imagem que ela formará de si como ponto de referência
para todo tipo de aquisição. Servirá como ponto de partida básico para se chegar às
noções de espaço, tempo, forma, volume, etc. Exemplo de atividade lúdica: passar o giz
20
em volta do colega deitado no chão e logo após, desenhar a roupa e acessórios
pertencentes ao mesmo.
2.1.5 Orientação pessoal
O auto conhecimento é sem dúvida, um fator importante de
ajustamento pessoal. Através de uma abordagem mais direta, pretendem levar a criança
a conscientizar-se de suas referências, aspirações, experiências e condições de vida.
Exemplo de atividade lúdica: desenhar o próprio retrato e guarda-lo para futuras
comparações.
2.1.6 Comunicação
A comunicação deve ser clara, para que realmente sirva de veículo de
interação entre as pessoas. Ela pode ser: não verbal, gestual e verbal.
A- Comunicação não verbal: na criança, a comunicação não verbal
manifesta-se das mais variadas formas A espontaneidade é uma das características
infantis que dá margem à expressão dos sentimentos através de gestos, modelagens,
desenhos, pinturas, montagens, etc. Sua linguagem não verbal é revelada pelo conteúdo
de seus trabalhos, onde aparece muito do seu eu, sendo um valioso meio que dá ao
professor a possibilidade de conhecer melhor seus alunos. Exemplo de atividade lúdica:
representar objetos apontados pelo colega.
B-Comunicação gestual: a comunicação gestual usa a linguagem
corporal expressiva transmitindo mensagens posturais e mímicas, interpretáveis por
outras pessoas. A criança é espontânea, portanto a pré-escola deve procurar estimulá-la,
principalmente junto às crianças tímidas e inibidas, oferecendo oportunidade para a livre
expressão. Exemplo de atividade lúdica: representar através de gestos uma palavra ou
frase.
C - Comunicação verbal: sistema de comunicação mais usado para
transmitir o pensamento. O desenvolvimento da linguagem na fase da educação infantil
pode ser feito formalmente, mas também de maneira informal. A pronunciação correta
das palavras é importante não só para possibilitar a alfabetização, mas também por um
21
bom desempenho social da linguagem. Exemplo de atividade lúdica: iniciar uma
história e seguindo uma ordem as crianças devem dar continuidade com uma frase.
2.1.7 Estimulação sensorial
A ação da criança sobre os objetos permite explorá-los e senti-los
através da aparelhagem sensorial tato, visão, audição, olfato e gestação.As experiências
vividas pela criança levam a descobertas de propriedades dos objetos.
A- Percepção auditiva: A percepção auditiva é de grande importância
para a criança sentir o mundo que a cerca. A pré-escola é o local ideal para levar a
criança, a saber, ouvir, discriminando os sons que se apresentam à sua volta, no dia a
dia, assim como proporcionar oportunidade de reconhecimento de sons. Exemplo de
atividade lúdica: de olhos vendados, a criança deverá identificar a voz de um colega.
B-Percepção visual: A percepção visual é tão importante quanto à
percepção. As formas, os tamanhos e as cores são vistos pelas crianças e enriquecem
seus conhecimentos em todos os momentos da vida escolar. Exemplo de atividade
lúdica: a criança deverá observar os colegas, logo após deverá se retirar do local,
enquanto os colegas trocarão entre si objetos de uso pessoal. Ao voltar, ela deverá
identificar os objetos trocados.
C-Percepção olfativa: conscientizar a criança da localização e
importância do órgão olfativo e enriquecer suas experiências. Exemplo de atividade
lúdica: de olhos vendados, a criança deverá identificar diferentes odores que fazem
parte do seu cotidiano.
D - Percepção gustativa: Proporcionar o reconhecimento de diversos
paladares e conscientizar a criança da importância e da localização do órgão da
gustação. Exemplo de atividade lúdica: a criança deverá reconhecer e diferenciar, de
olhos vendados, os sabores: salgado, doce e amargo.
E - Percepção tátil: são percepções que nos chegam através da pele,
principalmente das mãos e dos pés. Exemplo de atividade lúdica: de olhos vendados, a
criança deverá identificar diversos objetos ora com as mãos, ora com os pés.
22
2.1.8 Orientação e estruturação temporal
Orientar-se no tempo é situar o presente em relação a um antes e a um
depois, é avaliar o movimento no tempo, distinguir o rápido e o lento.A orientação e a
orientação espacial dão-se de maneira integrada à formação da imagem corporal.
As noções de corpo, espaço e tempo têm que estar intimamente
ligadas se quisermos entender o movimento humano. O corpo coordena-se, movimentase continuamente dentro de um espaço determinado, em função do tempo, em relação a
um sistema de referência.
Inicialmente, a criança recebe de si própria as primeiras informações
temporais. Seu corpo fornece-lhe informações internas que recebe sem analisar, como o
ritmo cardíaco e respiratório, ritmo da fala, dos movimentos de marcha, que revelam o
ritmo individual da criança. Depois, recebe do ambiente, outros tipos de informações
temporais que lhe fornecem as noções de tempo externo: os horários básicos de sua
rotina diária, como a hora de comer, de dormir, de tomar banho, de brincar, a sucessão
contínua dos dias e das noites, etc. Este conjunto de informações vai permitir que a
criança organize sua orientação temporal.
Para uma criança aprender a ler, é necessária que possua domínio do
ritmo, uma sucessão de sons no tempo, uma memorização auditiva, uma diferenciação
de sons, um reconhecimento das freqüências e das durações dos sons das palavras. O
adulto tem capacidade de lidar com conceitos de ontem, hoje e amanhã, mas a criança
não consegue extrapolar suas ações para o passado ou o futuro.
É a orientação temporal que lhe garantirá uma experiência de
localização dos acontecimentos passados, e uma capacidade de projetar-se para o futuro,
fazendo planos e decidindo sobre sua vida. Exemplo de atividade lúdica: através de uma
história, situar a criança nas várias fases da vida conforme o passar do tempo: bebê,
criança, adulto, velhice, etc.
2.1.9 Orientação e estruturação espacial
23
Em primeiro lugar a criança percebe a posição de seu próprio corpo no
espaço.Depois, a posição dos objetos em relação a si mesma e, por fim, aprende a
perceber as relações das posições dos objetos entre si, isto é, perceber as posições,
direções, distâncias, tamanhos, o movimento, a forma dos corpos, enfim, todos os
caracteres geométricos dos corpos.
Para que uma criança perceba a posição dos objetos no espaço,
precisa, principalmente, ter uma boa imagem corporal, pois usa seu corpo como ponto
de referência. Ela só se organiza quando possui um domínio de seu corpo no espaço.
Uma orientação espacial bem estabelecida é necessária à alfabetização, como o
seguimento da direção esquerda-direita, distribuição de letras e palavras no espaço
gráfico. Exemplo de atividade lúdica: deslocamento em espaço limitado sem esbarrar
nos objetos.
2.1.10 Atenção e concentração
A atenção, a concentração e a memória são funções básicas no
processo da aprendizagem. Para que a criança entenda ou pelo menos focalize o que vai
ser aprendido é necessário um mínimo de concentração e para que retenha o que
aprendeu é indispensável à memória.
A concentração produz um estado de consciência que favorece a
criatividade e torna a associação de idéias mais proveitosa. Exemplo de atividade
lúdica: pedir a criança para fechar os olhos por um determinado tempo e questioná-la
sobre o que ela ouviu. Repetir essa ação, pedindo mais atenção e questioná-la
novamente, percebendo a diferença.
2.1.11 Memorização
A memorização está ligada à motivação. A criança memoriza melhor
quando está interessada e quando entende o que lhe está sendo apresentado. Exemplo de
atividade lúdica: posicionar as crianças em círculo, uma criança deverá executar um
24
movimento, a seguinte deverá repetir o movimento da anterior e mais um movimento e
assim sucessivamente.
2.1.12 Pensamento lógico
Para que o pensamento seja passível de ser transmitido e
compreendido pelos outros, deve ser organizado em torno de certos princípios e regras
que lhe dêem coerência, mas só a partir dos seis anos que o pensamento se torna mais
analítico. Exemplo de atividade lúdica: pedir que as crianças se organizem a partir de
uma determinada característica.
2.1.13 Imaginação e criatividade
A capacidade de criar pode e deve ser estimulada, pois ela é a chave
mestra para a adaptação do homem a um mundo em constante mudança. A criatividade
contribui para que a criança se torne um adulto mais confiante e capaz de melhor
entender seus semelhantes.
Cabe ao professor fornecer elementos a partir dos quais a criança
possa criar. Estimular a imaginação é tão necessário quanto levar a criança a manifestala. Exemplo de atividade lúdica: pedir a criança para traçar duas linhas horizontais e a
partir dessa desenhar uma cena.
2.2. Desenvolvimento psicomotor
Segundo Velasco (1996, p. 21),
O desenvolvimento psicomotor se processa de acordo com a maturação do
sistema nervoso, capacitando o organismo a responder aos estímulos de uma
maneira mais ordenada e permitindo maior elaboração dos atos motores
voluntários. A maturação do sistema nervoso, para o desenvolvimento,
refere-se ao processo de mielinização.
O desenvolvimento psicomotor obedece à estruturação de três
condutas, a saber: condutas motoras de base, condutas neuro-motoras e condutas
perceptivos-motoras.
2.2.1 Condutas motoras de base
25
- Equilíbrio: capacidade para assumir e sustentar qualquer posição do
corpo contra a lei da gravidade. Essa conduta motora começa a ser elaborada quando a
criança muda sua posição corporal da horizontal para a vertical, isto é, da quadrupedia
para a postura bípede do andar. Para que ele se estruture é necessário que o tônus
muscular e a parte afetiva e mental da criança estejam adequados. Nas brincadeiras mais
informais há a estimulação para o equilíbrio
- Coordenação dinâmica global: a maturação motora e neurológica da
criança concretiza esta conduta. Há um refinamento das sensações e percepções: visual,
auditiva, cinestésica, tátil e proprioceptiva. Isso ocorre devido à grande solicitação
motora e muscular que as atividades infantis requerem.
- Respiração consciente: é uma das condutas mais importantes. A
criança tem toda uma pulsão vital, que as energiza motoramente, daí a agitação da
criança.Quando adulto, as posturas corporais inadequadas e as tensões emocionais
modificam a mecânica do processo respiratório, gerando um desgaste energético e o não
atendimento das necessidades orgânicas.
- Coordenação motora fina: essa conduta abrange três aspectos: a
coordenação viso-motora – as atividades lúdicas estimulam a criança nesse aspecto à
medida que ao visualizar objetos ou pessoas realizam as ações de interação; a
coordenação motora fina - as atividades exigem movimentos de preensão e pinça por
interagir com objetos pequenos, quebra-cabeça, jogos de encaixe; e a coordenação
músculo facial - é aquela que a todo o momento a criança está utilizando, demonstrando
em suas expressões faciais o que lhe agrada ou desagrada.
2.2.2. Condutas neuro-motoras:
- Esquema corporal: é a consciência do próprio corpo, de suas partes,
das suas posturas e atitudes, tanto em repouso como em movimento. Para desenvolver
esta conduta é preciso três sistemas: interoceptivo - o que nos chega, proprioceptivo - o
que vem de nós, e o exteroceptivo - o que saí de nós. O brincar é de grande importância
26
para essa conduta, pois é na interação informal de grandes relações com o meio, com
os objetivos e as pessoas, que a criança reconhece as partes de seu corpo.
- Controle psicomotor: para ocorrer esse controle é necessária a
maturação orgânica e neurológica além da integração motora da criança em relação ao
meio ambiente. Nesta conduta pode ocorrer duas manifestações: paratonias - bloqueios
generalizados, de origem emocional na maioria das vezes e sincinesias – que dependem
de uma conscientização para a correção dessas posturas repetitivas ou tensionadas.
- Lateralidade: é a propensão que o ser humano possui de utilizar
preferencialmente mais um lado do corpo do que o outro em três níveis: mão, olho e pé.
Isto significa que existe um predomínio motor, ou melhor, uma dominância de um dos
lados. O lado dominante apresenta maior força muscular, mais precisão e mais rapidez.
É ele que inicia e executa a ação principal. O outro lado auxilia a ação e é igualmente
importante. Durante o crescimento, se define uma dominância lateral na criança, será
mais forte, mais ágil do lado direito ou do lado esquerdo. Essa lateralidade corresponde
a dados neurológicos e as influências sofridas por certos hábitos sociais. O brincar
oferece a possibilidade de experimentação global do corpo da criança. Com isso, ela
mais livre e espontaneamente fará opção lateral de atuação. A definição ocorre entre 6 a
7 anos, mas não significa que ela deixe de utilizar o outro lado. A criança precisa
experimentar os dois lados sem interferências. Ela precisa se descobrir. Não devemos
direcioná-la.Ela poderá ser:
• Destra (lado direito) 3 níveis – olho / mão / pé.
• Canhota (lado esquerdo) 3 níveis – olho / mão / pé.
• Ambidestra (lado esquerdo e direito).
• Lateralidade cruzada (tudo desencontrado).
2.2.3. Condutas perceptivo-motoras
- Orientação corporal: essa conduta acontece pela maturação orgânica
e neurológica. O mundo exterior é a via de acesso à identificação e interpretação das
impressões sensoriais. Estão envolvidos a memória, a concentração, o tônus e a
dissociação de movimentos na aprendizagem progressiva do domínio corporal.
27
- Orientação espacial: é através do movimento do objeto e do próprio
corpo que a criança descobre o espaço.Estar dentro / fora, em cima / embaixo, de um
lado ou de outro vai fazer com ela dimensione e descubra o espaço que a cerca.
- Orientação temporal: é pelo ritmo das ações e dos movimentos que a
criança adquire a noção temporal necessária para conviver com o antes e o depois, com
passado, presente e futuro.
2.3. O Processo de Desenvolvimento Motor
“O desenvolvimento motor é um processo contínuo do nascimento até
a morte” (BORGES, 1987, p.37). O desenvolvimento da criança apresenta alguns
padrões consistentes, definidos em função de princípios gerais: maturação –
modificações físicas e comportamentais; desenvolvimento céfalo-caudal – da cabeça
aos pés; desenvolvimento próximo distal – eixo central para periferia; desenvolvimento
individual – herança única, ritmo próprio; e prontidão – depende de influências
ambientais, as mudanças ocorrem se a criança estiver madura, pronta; desenvolvimento
filogenético – mudanças automáticas, maturação; e desenvolvimento ontogenético –
mudanças adquiridas com a aprendizagem, meio ambiente.
O processo do desenvolvimento motor revela-se através das mudanças
do comportamento motor. Sendo o movimento um meio de verificar o processo do
desenvolvimento motor, é necessário conhecer as fases e seus estágios que são: fase dos
movimentos reflexos, fase dos movimentos rudimentares e fase dos movimentos
rudimentares.
2.3.1. Fase dos movimentos reflexos: movimentos do feto são involuntários e formam
a base para as fases seguintes. Possui dois estágios:
1º- codificação de informações: colhe informações, busca alimentos e
proteção através do movimento.
2º- decodificação de informações: substitui a atividade sensóriomotora pelo comportamento perceptivo-motor.
28
2.3.2. Fase dos movimentos rudimentares: formas básicas dos movimentos
voluntários que são solicitados para a vida. Está dividida em dois estágios:
1º-estágio de inibição reflexa: reflexos primitivos e posturais são
substituídos pelo comportamento motor voluntário.
2º-estágio pré-controle: a criança ganha precisão e controle de seus
movimentos
2.3.3. Fase dos movimentos fundamentais: é um aperfeiçoamento da fase dos
movimentos rudimentares, no qual as crianças estão envolvidas, ativamente, na
experimentação e exploração de suas capacidades motoras. Esta fase se divide em três
estágios:
1º-estágio inicial: uso restrito do corpo, coordenação e fluidez rítmica
insuficientes.
2º-estágio elementar: padrão de movimento restrito ou exagerado,
ainda que melhor coordenado.
3º-estágio maduro: caracterizado pela eficiência mecânica.
A aquisição dos padrões fundamentais do movimento como andar,
correr, saltar, arremessar, chutar, rebater e quicar, é de vital importância para o domínio
das habilidades motoras. A Educação Física adquire um papel importante à medida que
ela pode estruturar o ambiente adequado para a criança, oferecendo experiências,
resultando numa grande auxiliar e promotora do desenvolvimento.
Embora os padrões fundamentais de movimento sejam de grande
importância para o ser humano, ele não nasce com o domínio sobre eles. A fase que se
estende do nascimento até mais ou menos os seis anos de idade corresponde a um
período de aquisição e, após os seis anos, a um de refinamento e combinação desses
padrões.
Henri Wallon (1942) não pensa o desenvolvimento da criança de
forma linear, ele aponta para um desenvolvimento marcado por rupturas,
29
descontinuidades, não é visto como apenas um adicionar de fases. A passagem de um
estágio para o outro se dá através de uma reformulação da criança, e não uma superação
de um estágio sobre outro. Segundo ele, no primeiro ano de vida a criança se encontra
no estágio impulsivo-emocional. Neste as primeiras experiências lúdicas da criança se
processam através do movimento corporal, ela estabelece contato com o mundo através
da emoção e do seu corpo, com os movimentos de seus segmentos corporais e o contato
destes com objetos e sujeitos que estão ao seu alcance, até o surgimento da linguagem
falada.
Seu primeiro objeto de contato para as suas atividades lúdicas é o
corpo da mãe e do pai, com estes a criança vai estabelecendo relações afetivas e
paulatinamente descobrindo que seu corpo diferencia-se do outro.
Outro estágio proposto pelo autor anteriormente citado foi o
denominado sensório-motor e projetivo. Este vai até o terceiro ano de vida
aproximadamente, e aqui a criança volta-se para a exploração sensório-motora do
mundo físico, com a busca por conhecer o mundo que a rodeia. Outro ponto
fundamental deste estágio é o surgimento da função simbólica e da linguagem.
O último estágio, dentro da faixa etária que mais nos interessa, ocorre
por volta dos três anos e segue até aproximadamente os seis anos de idade. Trata-se do
estágio personalístico. Neste período a criança passa a dominar a linguagem, e surge
com mais freqüência o emprego do pronome “eu”. Surgem também as crises de
identidade, os conflitos interpessoais. A criança briga com a outra na tentativa de
possuir um objeto, sendo que o que lhe é realmente desejado é assegurar a posse de sua
própria personalidade. Estes momentos de “brigas” são essenciais para a criança na sua
diferenciação do outro, na conquista de sua identidade.
O conhecimento deste estágio por parte dos educadores da pré-escola é
de suma importância, visto que se apresenta nestes estabelecimentos, na maioria das
vezes, é uma constante preparação da criança para a entrada no primeiro grau. Com isto
certas interações podem ser prejudicadas, pois elas são mantidas em mesas executando
atividades individuais, muitas vezes de cópia de exercícios mimeografados.
30
Pode-se concluir que o ato motor é essencial no processo de
desenvolvimento das estruturas mentais da criança. Com isso, entende-se a necessidade
de cada vez mais oferecer à criança atividades onde ela experimente todas as formas de
movimento.
31
3. O JOGO
O ser humano tem recebido várias designações: Homo sapiens porque
tem como função vital o raciocínio para apreender e conhecer o mundo; Homo faber
porque fabrica objetos e utensílios, e Homo ludens porque é capaz de dedicar-se à
atividade lúdica, isto é, ao jogo.
O ato de jogar é tão antigo quanto o próprio homem, pois este sempre
manifestou uma tendência lúdica, isto é, um impulso para o jogo. Alguns autores vão
além, afirmando que o jogo não se limita apenas à humanidade – seria anterior,
inclusive ao próprio homem, pois já era praticado por alguns animais.
Quanto à relação existente entre jogo e cultura, Huizinga fez um
estudo profundo sobre o assunto, abordando a função social do jogo desde as sociedades
primitivas até as civilizações consideradas mais complexas.De acordo com a tese desse
autor, a cultura surge sob a forma de jogo, sendo que a tendência lúdica do ser humano
está na base de muitas realizações na esfera da Filosofia, da Ciência e da Arte.
Embora o caráter lúdico dessas realizações seja mais evidente nas
sociedades arcaicas, ele aparece também nas sociedades mais complexas, muitas vezes
atenuado ou disfarçado.Explicação da concepção de Huizinga (1971, p. 53),
Mesmo as atividades que visam à satisfação imediata das necessidades vitais,
como, por exemplo, a caça, tende a assumir nas sociedades primitivas uma
forma lúdica. A vida social reveste-se de formas suprabiológicas, que lhe
conferem uma dignidade superior sob a forma de jogo, e é através deste
último que a sociedade exprime sua interpretação da vida e do mundo. Não
queremos com isto dizer que o jogo se transforma em cultura, e sim que, em
suas fases mais primitivas, a cultura possui um caráter lúdico, e que ela se
processa segundo as formas e no ambiente do jogo.
Portanto, a idéia básica desse autor é que, além dos jogos que são
normalmente incorporados à cultura de um povo, a própria cultura se forma e se
desenvolve impulsionada pelo espírito lúdico.
Sendo parte integrante da vida em geral, o jogo tem uma função vital
para o indivíduo, não só para distensão e descarga de energia, mas principalmente como
32
forma de assimilação da realidade, além de ser culturalmente útil para a sociedade
como expressão de ideais comunitários.
3.1. A evolução do jogo na criança
O ser humano possui uma tendência lúdica ou, como denominam
alguns autores, um “impulso para o jogo”. Mas, como se manifesta esta tendência ao
longo do processo de desenvolvimento? O estudo mais completo sobre a evolução do
jogo na criança é de autoria de Jean Piaget, que verificou este impulso lúdico já nos
primeiros meses de vida do bebê, na forma do chamado jogo de exercício sensóriomotor; do segundo ao sexto ano de vida predomina sob a forma de jogo simbólico, para
se manifestar, a partir da etapa seguinte, através da prática do jogo de regras.
Existem, portanto, três formas básicas de atividade lúdica que
caracterizam a evolução do jogo na criança, de acordo com a fase do desenvolvimento
em que aparecem. Mas é preciso salientar que estas três modalidades de atividade lúdica
podem coexistir de forma paralela no adulto.
3.1.1. Jogo de exercício sensório-motor
A atividade lúdica surge, primeiramente, sob a forma de simples
exercícios motores, dependendo para sua realização apenas da maturação do aparelho
motor. Sua finalidade é tão somente o próprio prazer do funcionamento. Daí dizer-se
que o que caracteriza este tipo de jogo é o prazer funcional.
Piaget (1971, p.145) diz que “quase todos os esquemas sensóriomotores dão lugar a um exercício lúdico”. Esses exercícios motores consistem na
repetição de gestos e movimentos simples, com um valor exploratório: nos primeiros
meses de vida, o bebê estica e recolhe os braços e as pernas, agita as mãos e os dedos,
toca os objetos e os sacode, produzindo sons ou ruídos.
Esses exercícios têm valor exploratório porque a criança os realiza
para explorar e exercitar os movimentos do próprio corpo, seu ritmo, cadência e
desembaraço, ou então para ver o efeito que sua ação vai produzir.É o caso das
atividades em que a criança manipula objetos, tocando, deslocando, superpondo
montando e desmontando.Movimentando-se, a criança descobre os próprios gestos e os
33
repete em busca de efeitos.
Embora os exercícios sensório-motores constituam a forma inicial do
jogo na criança, eles não são específicos dos dois primeiros anos ou da fase de condutas
pré-verbais. Eles reaparecem durante toda a infância e mesmo no adulto, sempre que um
novo poder ou uma nova capacidade são adquiridos: por exemplo, aos 5 ou 6 anos, a
criança realiza este tipo de jogo ao pular com um pé só ou tentando saltar dois ou mais
degraus da escada; aos 10 ou 12 anos tenta andar de bicicleta sem segurar no guidão.
Para exemplificar este tipo de conduta lúdica no adulto, podemos citar
o caso do indivíduo que acaba de adquirir, pela primeira vez, um aparelho de som ou
um automóvel, e se diverte fazendo funcionar o aparelho ou passeando no carro, sem
outra finalidade senão o próprio prazer de “exercitar os seus novos poderes”.
Assim sendo, essa forma de atividade lúdica, embora caracterize o
nascimento do jogo na criança na fase pré-verbal (de 0 a 2 anos ), ultrapassa largamente
os primeiros anos da infância.
3.1.2. Jogo simbólico
No período compreendido entre os 2 e os 6 anos, a tendência lúdica se
manifesta, predominantemente, sob a forma de jogo simbólico, isto é, jogo de ficção, ou
imaginação e de imitação. Nesta categoria estão incluídas as metamorfoses de objetos
(por exemplo, um cabo de vassoura se transforma num cavalo, uma caixa de fósforos
num carro e um caixote passam a ser um trem), e o desempenho de papéis (brincar de
mãe e filho, de professor e aluno, de médico, etc.).
O jogo simbólico se desenvolve a partir dos esquemas sensóriomotores que, à medida que são interiorizados, dão origem à imitação e, posteriormente,
à representação. A função desse tipo de atividade lúdica, de acordo com Piaget (1969, p.
29),
Consiste em satisfazer o eu por meio de uma transformação do real em
função dos desejos: a criança que brinca de boneca refaz sua própria vida,
corrigindo-a a sua maneira, e revive todos os prazeres ou conflitos,
34
resolvendo-os, compensando-os, ou seja, completando a realidade através
da ficção.
Portanto, o jogo simbólico, de imaginação ou imitação, tem como
função assimilar a realidade seja através da liquidação de conflitos da compensação de
necessidades não-satisfeitas, ou da simples inversão de papéis (principalmente no que se
refere aos papéis de obediência e autoridade). É o trans porte a um mundo de faz-deconta, que possibilita à criança a realização de sonhos e fantasias, revela conflitos
interiores, medos e angústias, aliviando a tensão e as frustrações.
O jogo simbólico é, simultaneamente, uma forma de assimilação do
real e um meio de auto-expressão, pois à medida que a criança brinca de casinha,
representando os papéis de mãe, pai e filho, ou brinca de escola, reproduzindo os papéis
de professor e aluno, ela está, ao mesmo tempo, criando novas cenas e também imitando
situações reais por ela vivenciadas.
A criança tende a reproduzir nesses jogos as atitudes e as relações
predominantes no seu meio ambiente: ela será autoritária ou liberal, carinhosa ou
agressiva conforme o tratamento que recebe dos adultos com os quais convive.
Por exemplo, a criança que vive numa atmosfera de repressão, onde
predominam as ordens e os castigos físicos, tende a reproduzir, nas suas brincadeiras, o
comportamento dos adultos que a cercam, manifestando o tipo de tratamento que
recebe.É o caso da menina que, brincando de casinha, grita com a boneca, dá-lhe
ordens, chama-a de desobediente e lhe dá castigos. É através desta conduta lúdica que a
criança expressa e integra as experiências já vividas.
3.1.3. Jogo de regras
A terceira forma de atividade lúdica é o jogo de regras, que começa a
se manifestar por volta dos cinco anos, mas se desenvolve principalmente depois dos
seis anos, predominando durante toda a vida do indivíduo (nos esportes, no xadrez, nos
jogos de cartas, etc.).
Os jogos de regras são jogos de combinações sensórios-motoras
(corridas, jogos com bolas, etc.) ou intelectuais (cartas, xadrez, etc.), em que há
35
competição dos indivíduos e sem o que a regra seria inútil, são regulamentados quer
por um código transmitido de geração em geração, quer por acordos momentâneos.
O que caracteriza o jogo de regras, como o próprio nome diz, é o fato
de ser regulamentado por meio de um conjunto sistemático de leis (as regras) que
asseguram a reciprocidade dos meios empregados. É uma conduta lúdica que supõe
relações sociais ou interindividuais, pois a regra é uma ordenação, uma regularidade
imposta pelo grupo, sendo que sua violação é considerada uma falta. Portanto, esta
forma de jogo pressupõe a existência de parceiros, bem como de certas obrigações
comuns (as regras), o que lhe confere um caráter eminentemente social.
Piaget (1971, p.180) diz que “a criança abandona o jogo egocêntrico
em proveito de uma aplicação efetiva de regras e do espírito de cooperação entre os
jogadores”, fazendo do jogo de regras uma atividade lúdica do ser socializado.
Como vemos, o jogo na criança, inicialmente egocêntrico e
espontâneo, vai se tornando cada vez mais uma atividade social, na qual as relações
interindividuais são fundamentais.
3.2. O jogo como recurso pedagógico
O jogo é uma atividade que tem valor educacional intrínseco.Mas
além desse valor educacional, que lhe é inerente, o jogo tem sido utilizado como recurso
pedagógico. Várias são as razões que levam os educadores a recorrer ao jogo e a utilizálo como um recurso no processo ensino-aprendizagem:
1 – O jogo corresponde a um impulso natural da criança, e neste
sentido, satisfaz uma necessidade interior, pois o ser humano apresenta uma tendência
lúdica.
2 – A atitude de jogo apresenta dois elementos que a caracterizam: o
prazer e o esforço espontâneo. Como já foi dito anteriormente, o jogo é prazer, pois sua
principal característica é a capacidade de absorver o jogador de forma intensa e total,
criando um clima de entusiasmo. É este aspecto de envolvimento emocional que torna o
36
jogo uma atividade com forte teor motivacional, capaz de gerar um estado de vibração
e euforia.
Em virtude dessa atmosfera de prazer dentro da qual se desenrola, o
jogo é portador de um interesse intrínseco, canalizando as energias no sentido de um
esforço total para a consecução de seu objetivo. Portanto, o jogo é uma atividade
excitante, mas é, também, esforço voluntário. Estes dois elementos coexistem em
situação de jogo: o prazer conduzindo ao esforço espontâneo e o esforço intensificando
o prazer.Daí ser o jogo uma atividade liberadora da espontaneidade, pois impele à ação.
3 – A situação de jogo mobiliza os esquemas mentais: sendo uma
atividade física e mental, o jogo aciona e ativa as funções psico-neurológicas e as
operações mentais, estimulando o pensamento. Quando nos referimos às características
do jogo, afirmamos que ele já é por si uma forma de ordenação do tempo, do espaço e
dos movimentos, sendo que esta ordenação se expressa principalmente através das
regras.
4 – O quarto motivo é decorrente dos anteriores, pois o jogo integra as
várias dimensões da personalidade: afetiva, motora e cognitiva. Como atividade física e
mental que mobiliza as funções e operações, o jogo aciona as esferas motora e
cognitiva, e à mediada que gera envolvimento emocional, apela para a esfera afetiva.
Neste particular, o jogo se assemelha à atividade artística, como um elemento integrador
dos vários aspectos da personalidade. O ser que brinca e joga é, também, o ser que age,
sente, pensa, aprende e se desenvolve.
A idéia de aplicar o jogo à educação difundiu-se, principalmente, a
partir do movimento da Escola Nova e da adoção dos chamados “métodos ativos”. No
entanto, esta idéia não é tão nova nem tão recente quanto possa parecer. Em 1632,
Comenius terminou de escrever sua obra Didactica Magna, através da qual apresentava
sua concepção de educação. Ele pregava a utilização de um método “de acordo com a
natureza” e recomendava a prática de jogos, devido ao seu valor formativo.
No século.XVIII, Rousseau e Pestalozzi afirmam que a educação não
deveria ser um processo artificial e repressivo, mas um processo natural, de acordo com
37
o desenvolvimento mental da criança, e levando em consideração seus interesses e suas
tendências inatas. Salientavam a importância dos jogos como instrumento formativo,
pois além de exercitar o corpo, os sentidos e as aptidões, os jogos também preparavam
para a vida em comum e para as relações sociais.
Froebel, que viveu de 1782 a 1852, pregava uma pedagogia da ação, e
mais particularmente do jogo. Ele dizia que a criança, para se desenvolver, não devia
apenas olhar e escutar, mas agir e produzir. Essa necessidade de criação, de movimento,
de jogo produtivo deveria encontrar seu canal de expansão através da educação. Como a
natureza da criança tende à ação, a instrução deveria levar em conta seus interesses e
suas atividades espontâneas. Por isso, considerava que o trabalho manual, os jogos e os
brinquedos infantis tinham uma função educativa básica: é através dos jogos e
brinquedos que a criança adquire a primeira representação do mundo e, é por meio
deles, também, que ela penetra no mundo das relações sociais, desenvolvendo um senso
de iniciativa e auxílio mútuo.
No seu trabalho docente, Froebel pôs em prática a “teoria do valor
educativo do brinquedo e do jogo”, principalmente no jardim da infância: para isso
elaborou um currículo centrado em jogos para desenvolvimento da percepção sensorial,
da expressão e para iniciação à matemática. Como vemos, alguns dos grandes
educadores do passado já reconheciam o valor pedagógico do jogo, e tentavam
aproveitá-lo como agente educativo.
Brincando e jogando, a criança aplica seus esquemas mentais à
realidade que a cerca, apreendendo-a e assimilando. Brincando e jogando, a criança
reproduz as suas vivências, transformando o real de acordo com seus desejos e
interesses. Por isso, pode-se dizer que, através do brinquedo e do jogo, a criança
expressa, assimila e constrói a sua realidade.
3.3. O jogo como agente socializador
Vendo a evolução do jogo na criança, constatamos que o jogo,
inicialmente egocêntrico e espontâneo, torna-se cada vez mais socializado.
Até os 5 anos, a criança só consegue seguir regras simples. Muitas
38
vezes ela quebra as regras do jogo, mas não o faz intencionalmente, e sim porque ainda
não consegue se lembrar de todas as regras. Neste estágio, a criança não dá muito valor
à competição, pois tem uma idéia não muito definida do que seja ganhar e perder.
Geralmente ela não joga para vencer ou superar os outros, mas pelo simples prazer da
atividade. O educador deve procurar não despertar o sentimento de competição acirrada,
aproveitando essa disposição natural da criança para jogar pelo simples prazer de jogar.
Além disso, deve selecionar jogos simples, com poucas regras, para serem praticados
pelas crianças que estão nesta fase de desenvolvimento. A interação social precisa ser
incentivada, dando-se destaque às atividades de linguagem.
Após os 5 anos, os jogos tornam-se cada vez mais coletivos e menos
individualistas, uma vez que a criança já tem noção do que seja cooperação e esforço
grupal, e exige regras definidas para regulamentar o jogo. Ela observa e controla os
outros membros do grupo para verificar se estão seguindo adequadamente as regras.
A violação das regras gera grandes discussões. Nesta fase, surge um
forte sentimento de competição. O fato de perder torna-se quase intolerável para
algumas crianças, dando origem a cenas de choro e até mesmo de agressão. O educador
deve procurar despertar o espírito de cooperação e de trabalho conjunto no sentido de
metas comuns. A criança precisa de ajuda para aprender a vencer, sem ridicularizar e
humilhar os derrotados e para saber perder esportivamente, sem se sentir diminuída ou
menosprezada.
Quando o educador manifesta uma atitude de compreensão e
aceitação, e quando o clima da sala de aula é de cooperação e respeito mútuo, a criança
sente-se segura emocionalmente e tende a aceitar mais facilmente o fato de ganhar ou
perder como algo normal, decorrente do próprio jogo. O papel do educador é
fundamental no sentido de preparar a criança para a competição sadia, na qual impera o
respeito e a consideração pelo adversário.
O espírito de competição deve ter como tônica o desejo do jogador de
superar a si próprio, empenhando-se para aperfeiçoar cada vez mais suas habilidades e
39
destrezas. A situação de jogo deve construir um estímulo desencadeador do esforço
pessoal tendo em vista o auto-aperfeiçoamento.
Jogo supõe relação social, supõe interação. Por isso, a participação em
jogos contribui para a formação de atitudes sociais: respeito mútuo, solidariedade,
cooperação, obediência às regras, senso de responsabilidade, iniciativa pessoal e grupal.
É jogando que a criança aprende o valor do grupo como força integradora e o sentido da
competição salutar e da colaboração consciente e espontânea
4. A EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
40
A educação infantil visa a criação de condições para satisfazer as
necessidades básicas da criança, oferecendo-lhe um clima de bem estar físico,
afetivo, social e intelectual, mediante a proposição de atividades lúdicas, que
promovem a curiosidade e a espontaneidade, estimulando novas descobertas e o
estabelecimento de novas relações, a partir do que já se conhece.
Segundo Borges (1987, p.3),
A educação infantil deve ir de encontro às necessidades básicas da criança,
evitando-se “pular” etapas, pois a aprendizagem é um processo contínuo e
tem uma trajetória que pressupõe o domínio de pré-requisito.
Se trabalharmos a automatização pura dos movimentos e com
repetições, estaremos prejudicando e limitando o desenvolvimento da criança em sua
melhor fase de exploração e enriquecimento, através de experiências diversificadas para
fortalecer o seu desenvolvimento motor, cognitivo, afetivo e a formação de sua
personalidade.
4.1 Características essenciais da criança na Educação Infantil
Com 3 anos, a criança já possui potenciais recebidos do meio familiar;
começa a organizar as emoções e expressá-las como sentimentos; quer fazer tudo
sozinha, procurando imitar os adultos com quem convive; muitas vezes surpreendem
com sua criatividade e originalidade; distrai-se facilmente; tem sentimento excessivo de
posse; sente prazer em correr, pular, subir e descer escadas gosta de perguntar, fala
sozinha, gosta da companhia de crianças e continua aprendendo coordenar os músculos
maiores.
Aos 4 anos, a criança já está interessada e preparada para aprender o
que é real e o “faz de conta”, devido a sua imaginação; seu pensamento trabalha por
analogia; a representação teatral é a brincadeira mais importante; tem grande prazer em
sentir que pode ajudar; começa a compreender o que implica em ser homem ou mulher;
pode ser tornar mandona ou dominadora; fica desapontada quando alguma atividade não
sai como planejara; aprende que o combate físico não é o melhor método de resolver
41
disputas e conflitos; tem consciência da própria idade, o pensamento é mais
associativo, reproduz tudo que ouve, gosta de criar e reproduzir, unilateralidade não
controlada e gosta de correr, saltar e realizar atividades motoras afins.
Uma criança de 5 anos está descobrindo as diferenças entre a realidade
e a fantasia; é capaz de se lembrar de pessoas e lugares; conflitua-se com conceitos de
certo ou errado; é capaz de fazer críticas a si própria; sua identidade é estabelecida; é
instável nas amizades; o pensamento ainda é egocêntrico; o medo é a principal causa da
mentira; a linguagem é funcional; torna-se competidora; meninos e meninas brincam
juntos, mas seus interesses começam a se diversificar; assume pequenas
responsabilidades; possui senso de vergonha; lateralidade definida, orientação temporal
e demonstra graça e habilidade inconscientes, tanto na coordenação motora grossa
quanto na fina.
A criança com 6 anos de idade está se despertando para a realidade do
mundo; aprende a explorar cada vez mais o meio que a rodeia; possui habilidades para
compreender e utilizar a linguagem; tem um pouco de seqüência lógica; tem maior
memória; organiza-se em grupos procurando se identificar com eles; existe a diferença
de interesses; não tem muito senso de humor; é afetiva e sente necessidade de carinho;
já participa de jogos com regras fixas; tem dificuldades para manipular idéias opostas,
senso de reciprocidade, expressa-se corporalmente e com palavras e sua aprendizagem
se dá por participação e por uma espécie de automotivação criativa.
Em
linhas
gerais,
a
taxonomia
piagetiana
do
período
de
desenvolvimento de preparação e de organização das operações concretas, tem inicio
com as simbolizações rudimentares que aparecem por volta dos dois anos de idade e
termina com início do pensamento formal, durante os primeiros anos da adolescência.
Mas para esse estudo, nos importa só o inicio desse período, que representa o préoperacional, que vai dos 2 aos 7 anos de idade, quando a criança realiza suas primeiras
tentativas relativamente desorganizadas e hesitantes de enfrentar um mundo novo e
estranho de símbolos.
Piaget caracterizou o pensamento pré-operacional como o meio
42
caminho entre o pensamento adulto socializado e o pensamento completamente altista e
egocêntrico que caracteriza a criança nessa fase.
A fase da educação infantil é fascinante, o progresso do
desenvolvimento global da criança é notável quanto à linguagem, o desenvolvimento
cognitivo e as habilidades motoras, é muito rico nas características individuais quanto às
formas de sentir, do pensar, do comportar-se e do expressar-se. É uma fase de
integração social onde a criança ajusta-se a um novo mundo, com amiguinhos, com
professores, etc.
A recreação na educação infantil deve, atender aos diferentes
interesses das crianças, dando-lhes a liberdade de escolha das atividades e
proporcionando-lhes sempre o prazer e o bem estar. O que deve determinar a escolha
dos brinquedos e jogos, é o interesse das crianças.
A diversificação de características comportamentais é grande, algumas
crianças são passivas, dependentes, retraídas e tímidas, já outras são ativas, líderes,
independentes, criativas, aventureiras, extrovertidas e curiosas. Independentemente de
ser passiva ou ativa, é preciso buscar o melhor desenvolvimento global para a criança. A
brincadeira infantil passa a ter uma importância fundamental na perspectiva do trabalho
da educação infantil, tendo em vista a criança como sujeito histórico e social. A
brincadeira é, primordialmente, a forma pela qual a criança começa a aprender.
A criança se comporta como um sujeito ativo na construção de seu
conhecimento, refletindo sobre o mundo que a cerca e relacionando-se com sua cultura
e com seu meio social. Ela se transforma e transforma o mundo, em uma interação
constante com o meio, e agindo de acordo com suas capacidades motoras, intelectuais,
afetivas e sociais, rompendo assim com a visão determinista de desenvolvimento
infantil e de práticas educacionais que entende a criança como mero receptor de
conteúdos, onde pelo acúmulo destes ela vai ganhando o “status” de ser pensante.
4.2. O lúdico na Educação Infantil
O professor de educação física assume papel muito importante no
43
espaço educacional, pois a ele é outorgado todo o saber sobre o brincar. Assim, quando
ele atua dentro do espaço escolar, deve estar atento para as características singulares do
desenvolvimento infantil e possibilitar atividades para as crianças mostrando que não
cabem apenas aquelas que privilegiem somente um aspecto de seu desenvolvimento,
como por exemplo, o cognitivo.
O lúdico precisa ser entendido como construidor de conhecimento,
dando a importância necessária à brincadeira. Não basta colocar a criança para correr de
um lado para o outro, ou caminhar em uma linha reta para testar seu equilíbrio.O brincar
contextualizado possibilita um significado maior ao movimento, como exemplo, ao
querermos analisar o equilíbrio da criança, a motivação ficaria bem maior se
colocarmos dentro deste contexto o mundo do circo. Imaginando o trapezista
caminhando numa corda bamba, tendo que tomar cuidado para não cair, pois está a uma
grande altura, deixa a linha desenhada no chão com uma significação maior do que ser
uma simples linha presente ali para uma avaliação estática da criança.
Na utilização de atividades com características lúdicas, através do
brincar nas aulas de Educação Física, busca-se o prazer como elemento fundamental,
não existindo a possibilidade do lazer estar desvinculado do prazer. A construção desse
saber através da linguagem corporal é de fundamental importância para o
desenvolvimento da criança, sendo através da cultura corporal do movimento que a
Educação Física se torna o principal veículo.Na escola, as crianças ao participarem de
atividades baseadas no prazer, com certeza conseguem transcender a simples repetição
de gestos e a mecanização dos movimentos.
4.3. Objetivos da Educação Física na escola
A sistematização de objetivos, conteúdos, processos de ensinoaprendizagem e avaliação tem como meta à inclusão do aluno na cultura corporal do
movimento, por meio de participação e reflexão concreta e afetiva. Busca-se reverter o
quadro histórico da área de seleção entre indivíduos aptos e inaptos para as práticas
corporais, resultantes da valorização exacerbada do desempenho.
A Educação Física Escolar deve tomar todo cuidado para não se
44
apresentar como uma disciplina excludente, onde os alunos podem ser excluídos por
diversos motivos: fracos, baixos, gordos, deficientes físicos, lentos, mulher,... enfim não
trabalhar numa concepção elitista, onde só participa e cria-se oportunidade de
desenvolvimento aos alunos que já possuem uma maior capacidade da prática proposta.
Incluir todos nas atividades propostas, dando oportunidade de
aprendizagem, respeitando o tempo e a forma de aprender que cada criança possui é o
principal objetivo dos profissionais da área de Educação Física Escolar.
Pensar que educar fisicamente é prover uma criança de gestos
qualitativamente ou tecnicamente mais complexos e eficientes é um ledo engano, o mais
importante, é a capacidade dessa criança de se relacionar com as outras crianças, e de
solucionar problemas de ordem corporal, onde questões como: domínio e conhecimento
do seu próprio corpo, velocidade de raciocínio e capacidade de se movimentar em
espaços diferenciados, respeitando as diferenças entre elas sem nenhum tipo de
preconceito ou discriminação.
Para a faixa etária de 3 a 6 anos os objetivos devem dar oportunidade
para que as crianças sejam capazes de:
•
Construir uma relação de interatividade com o meio através do diálogo, do jogo e
de atividades expressivas (desenhos, colagens, pinturas, massinhas).
•
Construir sua própria identidade (individual e grupal) em interação com o meio em
que vive através de movimentos naturais e jogos.
•
Reconhecimento dos jogos e brincadeiras como formas de sua própria atividade de
trabalho.
•
Percepção da necessidade de organização individual e coletiva (construção de
regras) para o desenvolvimento de jogos e brincadeiras.
•
Valorização de toda atividade escolar, visando à auto-estima das crianças.
•
45
Participação em jogos, brincadeiras e atividades, visando a cooperação (o seu, o
meu, o nosso); papéis complementares em encenações, produção coletiva com
variedades de tipos de materiais.
•
Compreensão das diferentes formas de comunicação com o corpo e sua evolução
através do tempo (gestos, posturas, cumprimentos, etc.).
•
Identificação da noção de tempo (lento/rápido) e reconhecimento da noção de
tempo relativo (antes, depois, ao mesmo tempo) na vivência de atividades lúdicas.
•
Aplicação das diferentes noções de tempo e espaço com o próprio corpo e com o
grupo.
•
Reconhecimento dos próprios limites e possibilidades corporais nas ações
desenvolvidas em jogos e brincadeiras, reconhecendo também as condições físicas,
cognitivas e sócio-afetivas exigidas por elas.
•
Localização do corpo no espaço com distinção de posições e eixos de orientação
(diagonal, em frente, etc.) tanto no movimento individual quanto nas atividades em
grupo.
•
Percepção do corpo como instrumento de auto-expressão e comunicação não
verbal, participando em atividades de conteúdo expressivo (danças, jogos
dramáticos, jogos recreativos) que facilitem novas relações interpessoais e
intergrupais.
•
Exploração e interação lúdica com o meio ambiente por meio de movimentos
naturais (jogos de exercício) percebendo a importância dos mesmos como
possibilidade de auto-realização e de integração com o seu grupo.
•
Jogos e brincadeiras de caráter simbólico e social que representem valores, idéias,
normas sociais, símbolos e tradições culturais de seu grupo e de outros grupos,
identificando as variadas formas de expressão corporal que caracterizam as
diferentes culturas regionais (danças folclóricas, brincadeiras, etc.).
CONCLUSÃO
46
Com o progresso das grandes cidades, houve a redução do espaço
físico e a falta de segurança para as crianças brincarem. O ritmo da vida moderna fez
diminuir o tempo reservado para as atividades lúdicas. Preservar e valorizar o brincar é
uma maneira de fazermos a nossa história e a nossa cultura. O brincar nunca deixará de
ter o seu papel importante na aprendizagem, daí a necessidade de não permitirmos suas
transformações negativas e estimularmos a existência e a permanência, autêntica e
espontânea, da atividade lúdica infantil.
O problema formulado no projeto de pesquisa, refere-se ao ato de
brincar e as significativas contribuições no entendimento que a criança mantém com o
mundo afetivo e material que a rodeia, e para pensar o brincar faz-se necessário
também pensar a criança que brinca.
Segundo a Declaração Universal dos Direitos da Criança, entre outras
coisas, a criança tem direito à recreação. Para a criança da educação infantil, brincar é
tão necessário ao seu desenvolvimento quanto o alimento e o descanso, pois este é o
meio que ela tem de travar conhecimento com o mundo e adaptar-se a tudo que a
cerca.
A hipótese presente no projeto de pesquisa de que é fundamental que a
criança tenha tempo para brincar, dentro do seu dia-a-dia, teve sua validade
comprovada ao conseguirmos a conscientização, através deste trabalho, de que é
brincando que a criança porque se apropria dos valores socialmente construídos e
numa relação dinâmica, constrói novos significados para estes. Para tal a criança deve
ter oportunidade de brincar na escola, em casa, na rua, em parques e áreas livres.
Muitas vezes ela não escolhe o lugar, pois o importante é o momento. Ela deve ter
oportunidade de brincar consigo mesma, com outras crianças da mesma idade ou de
idade diferente e com adultos, a companhia de outra pessoa é importantíssima.
Em sua vida, as crianças têm, de um lado, a necessidade de imitar e
escolher seus modelos, mas de outro, precisam expressar-se à sua maneira, serem
aceitas e respeitadas, ouvidas e levadas em conta em seus pontos de vista, necessitam
47
ser reconhecidas como pessoas distintas que são, com vida própria e potencial para
uma progressiva autonomia.
Conforme vimos no capítulo 1, o brincar sempre terá um fundo de
aprendizagem, independente dos objetivos de cada brincadeira. Brincando, a criança
desenvolve suas capacidades físicas, verbais e intelectuais, e tem maiores
possibilidades de se tornar um adulto equilibrado, consciente e afetuoso, fazendo com
que o crescimento saudável do ser humano seja o que há de mais importante na
expressão autêntica do brincar. O brincar e o brinquedo vêm de encontro às
características, às necessidades e interesses da criança, contribuindo assim para a
estimulação das habilidades motoras.
É na situação de brincar que a criança pode colocar desafios e questões
que estão além de seu comportamento diário, levantando hipóteses na tentativa de
compreender os problemas que lhe são propostos pelas pessoas e pela realidade com a
qual interage. Quando brincam, ao mesmo tempo em que desenvolvem sua
imaginação, as crianças podem construir relações reais entre elas e elaborar regras de
organização e convivência. Ao brincarem, as crianças vão construindo a consciência
da realidade, ao mesmo tempo em que já vivem uma possibilidade de modificá-la.
A recreação é uma atividade que proporciona a criança um melhor
desenvolvimento psico-social. Do ponto de vista individual, as atividades lúdicas
podem concorrer para o desenvolvimento físico e psíquico da pessoa humana,
proporcionando a cada uma mais segurança, oportunidade de reconhecimento,
prontidão em emitir respostas e aquisição de novas experiências.
Como foi visto no capítulo 3, as atividades lúdicas podem ajudar na
formação de um clima descontraído, aumentar a participação, facilitar a comunicação,
estabelecer os padrões de grupo e envolver a liderança, além de exercerem controles
sociais, criando a solidariedade e a identidade do grupo.
O jogo é uma forma de atividade social infantil cuja característica
imaginativa e diversa do significado vivido no cotidiano, fornece uma ocasião
educativa única para as crianças, pois no jogo elas podem pensar e experimentar
situações novas ou mesmo a do seu cotidiano, isentas das pressões situacionais. No
48
entanto, é importante ressaltar que, pelo seu caráter aleatório, o jogo também pode ser
o espaço de reiteração de valores retrógrados e conservadores, com os quais a maioria
das crianças se confronta diariamente.
Não devemos transpor fases de aprendizagem, as quais devem ser
ensinadas de forma simplificada, objetiva, clara e de fácil aceitação para a criança, pois
ela precisa saber o que vai fazer e também compreender. O sucesso do jogo vai
depender da intelectualização da criança.
Sabendo-se que a psicomotricidade é a relação do pensamento e da
ação, onde está presente também a emoção, podemos concluir que é brincando que a
criança exercita de forma global e equilibrada todas essas áreas. O lugar que a criança
ocupa num contexto social específico, a educação a que está submetida e o conjunto de
relações sociais que mantém com personagens do seu mundo, tudo isso permite
compreender melhor o cotidiano infantil e é nesse cotidiano que se forma a imagem da
criança e do seu brincar.
Como primeira sugestão e também para dar prosseguimento à pesquisa
feita neste trabalho seria interessante pegarmos uma faixa etária logo acima da que foi
aqui pesquisada. Na faixa etária compreendida entre os 7 e 10 anos, a criança fica mais
persistente no exercício de suas habilidades em razão da maior maturidade de seu
sistema neuromotor, tem mais desenvoltura na execução de ações motoras de maior
complexidade, existe mais crítica em relação aos acontecimentos à sua volta e tem
maior facilidade para conviver em grupo.
Minha segunda sugestão seria sobre a diferença do brincar dentro e
fora da sala de aula, levando-se em consideração que as atividades dentro da sala de
aula devem exigir menor gasto de energia, satisfazendo o desejo de conversar, brincar,
rir e competir com os colegas dentro de um espaço limitado.Essas brincadeiras devem
atender os interesses e habilidades das crianças, de forma a garantir a participação de
todos, podendo também ter um valioso papel no auxílio da aprendizagem das outras
disciplinas quando são relacionadas com os conteúdos desenvolvidos por elas.
Por fim, minha terceira sugestão, seria uma pesquisa sobre a
49
influência da competição no desenvolvimento da criança na Educação Infantil, porque
negar o fator competição nos brinquedos e jogos infantis seria o mesmo que banir o
desporto dos conteúdos de Educação Física.O jogo ou o esporte representa, num
contexto lúdico, as ações individuais e coletivas das pessoas e da sociedade, pois a
competição não nasce no jogo, mas é nele representada.O que não pode ser negado na
escola, é a existência, na cultura infantil, dos jogos competitivos, tendo-se sempre a
preocupação de não supervalorizar o vencedor em detrimento do vencido procurando
compreender e utilizar esta situação para valorizar as relações entre eles.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
50
BORGES, Célio José. Educação para o Pré-escolar. Rio de Janeiro: Sprint, 1987.
CUNHA, Nylse Helena Silva. Sistema de Estimulação na Pré-escola. São Paulo:
Supercap, 1984.
CUNHA, Nylse Helena Silva. Brincar, Pensar e Conhecer – Brinquedos, Jogos e
Atividades. São Paulo: Maltese, 1997.
FREIRE, João Batista. Educação de Corpo Inteiro. São Paulo: Scipione, 2003.
FRITZEN, Silvino José. Dinâmicas de Recreação e Jogos. Petrópolis:Vozes, 1985.
HUIZINGA, Johan. Homo Ludens – O Jogo como Elemento da Cultura. São Paulo:
Perspectiva, 1971.
KISCHIMOTO, Tizuco Morchida. Jogos Tradicionais Infantis – o jogo, a criança e
a educação. Petrópolis: Vozes, 1993.
KOKOBUM, Eduardo. Educação Física Escolar – fundamentos de uma abordagem
desenvolvimentista. São Paulo: EPU – Editora da USP, 1988.
LEITE, Disalda. Pedagogia do Brincar – jogos, brinquedos e brincadeiras da cultura
lúdica infantil. Salvador: Arte Contemporânea, 1995.
OLIVEIRA, Vitor Marinho. O que é Educação Física. São Paulo: Brasiliense, 1994.
PIAGET, Jean. Seis Estudos de Psicologia. Rio de Janeiro: Forense, 1969.
PIAGET, Jean. A Formação do Símbolo na Criança. Rio de Janeiro: Zahar, 1971.
RIZZI, Leonor e HAYDT, Regina Célia. Atividades Lúdicas da Criança. São Paulo:
Ática, 1994.
SCHMIDT, Maria Junqueira. Educar pela Recreação. Rio de Janeiro: Agir, 1969.
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Programa de
51
Expansão e Melhoria da Educação Pré-escolar na Região Metropolitana de São Paulo –
uma proposta curricular para crianças dos 4 aos 6 anos. São Paulo: FDE, 1994.
SILVA, Elizabeth Nascimento. Recreação e Jogos. Rio de Janeiro: Sprint, 1997.
VALADARES, Solange e ARAÚJO, Rogéria. Educação Física no Cotidiano
Escolar. Minas Gerais: Fapi Ltda., 1999.
WALLON, Henri. Do Ato ao Pensamento. Lisboa: Morais Editores, 1942.
WALSKOP, Gisela. Brincar na Pré-escola. São Paulo: Cortez, 1997.
WEISS, Luise. Brinquedos e Engenhocas – atividades lúdicas com sucata. São
Paulo: Scipione, 1993.
ANEXOS
52
53
ÍNDICE
INTRODUÇÃO ..............................................................................................
7
1. A RECREAÇÃO ....................................................................................... 10
1.1. O Brincar ............................................................................................. 11
1.2. A Brincadeira .......................................................................................
14
1.3. Os Brinquedos .................................................................................... 16
2. O DESENVOLVIMENTO MOTOR ......................................................... 18
2.1. Habilidades Motoras ........................................................................... 18
2.1.1. Coordenação dinâmica geral .................................................... 19
2.1.2. Coordenação dinâmica manual ................................................. 19
2.1.3. Coordenação viso-motora ......................................................... 19
2.1.4. Imagem corporal
2.1.5. Orientação pessoal
2.1.6. Comunicação
...................................................................... 19
................................................................... 20
........................................................................... 20
2.1.7. Estimulação sensorial
............................................................. 21
2.1.8. Orientação e estruturação temporal .......................................... 22
2.1.9. Orientação e estruturação espacial ..........................................
23
2.1.10. Atenção e concentração ........................................................... 23
2.1.11. Memorização ........................................................................... 23
2.1.12. Pensamento lógico ..................................................................
24
2.1.13. Imaginação e criatividade .......................................................
24
2.2. Desenvolvimento Psicomotor ...........................................................
24
2.2.1. Condutas motoras de base .....................................................
25
2.2.2. Condutas neuro-motoras .......................................................
25
2.2.3. Condutas perceptivo-motoras ...............................................
26
2.3. O Processo de Desenvolvimento Motor ..........................................
27
2.3.1. Fase dos movimentos reflexos ..............................................
27
2.3.2. Fase dos movimentos rudimentares ......................................
28
2.3.3. Fase dos movimentos fundamentais ......................................
28
3. O JOGO ..................................................................................................
31
3.1. A Evolução do Jogo na Criança .......................................................
32
3.1.1. Jogo de exercício sensório-motor ......................................
32
3.1.2. Jogo simbólico ...................................................................
33
3.1.3. Jogo de regras ....................................................................
33
3.2. O Jogo Como Recurso Pedagógico ..............................................
35
3.3. O Jogo Como Agente Socializador ..............................................
37
4. A EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL ......................
40
4.1. Características Essenciais da Criança da Educação Infantil ..........
40
4.2. O Lúdico na Educação Infantil .....................................................
42
4.3. Objetivos da Educação Física na Escola ........................................
43
CONCLUSÃO ...........................................................................................
46
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................
50
ANEXOS ...................................................................................................
52
ÍNDICE ......................................................................................................
53
FOLHA DE AVALIAÇÃO..........................................................................
55
54
55
FOLHA DE AVALIAÇÃO
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PROJETO A VEZ DO MESTRE
Pós-Graduação “Lato Sensu”
Título da Monografia: O BRINCAR NO DESENVOLVIMENTO DA
CRIANÇA DE 3 A 6 ANOS
Data da Entrega: 27 de Julho de 2004
Avaliação:
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Avaliado por: _______________________________________
Rio de Janeiro, _______ de ________________ de 2004.
Grau: ___________
56
57
.
Download

O BRINCAR NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA DE 3 A 6 ANOS