UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO DÉBORA SANCHES PROCESSO PARTICIPATIVO COMO INTRUMENTO DE MORADIA DIGNA: uma avaliação dos projetos da área central de São Paulo (1990 – 2012) São Paulo 2015 DÉBORA SANCHES PROCESSO PARTICIPATIVO COMO INTRUMENTO DE MORADIA DIGNA: uma avaliação dos projetos da área central de São Paulo (1990 – 2012) Tese apresentada ao Programa de PósGraduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito para obtenção do título de Doutor. ORIENTADORA: Prof.ª Dr.ª Angélica Aparecida Tanus Benatti Alvim. São Paulo 2015 ESTE TRABALHO FOI FINANCIADO EM PARTE PELO FUNDO MACKENZIE DE PESQUISA AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE. ASSINATURA: E-MAIL: S211p [email protected] Sanches, Débora. Processo participativo como instrumento de moradia digna : uma avaliação dos projetos da área central de São Paulo – 1990 a 2012) / Débora Sanches. – 2015. 463 f. 2 v. : il. ; 30 cm,. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2015. Referências bibliográficas: f. 326 - 341 1. Habitação social. 2. Área Central de São Paulo. 3. Movimentos sociais. 4. Assessoria técnica. 5. Processo participativo. I. Título. CDD 728.1098161 Dedico este trabalho à minha família, em especial à minha mãe e ao meu marido. Ao meu pai e minha avó, pessoas queridas que perdi ao longo do processo do Doutorado, minhas eternas saudades. Dedico, ainda, aos profissionais e movimentos de moradia que trabalham para uma cidade mais justa. AGRADECIMENTOS À minha orientadora Angélica Tanus Benatti Alvim pelas conversas esclarecedoras, consistente apoio, orientação, dedicação, paciência, incentivos para publicar artigos e principalmente estímulo para a realização da experiência de estágio no exterior em Portugal. Ao amigo António Baptista Coelho que fez o acolhimento no LNEC em Portugal com muito carinho e contribuiu com seu vasto conhecimento sobre habitação e a cidade, além das preciosas visitas aos conjuntos habitacionais. Ao amigo Carlos Marques que contribuiu com reflexões sobre a pesquisa e ajudou na concretização do estágio em Portugal. À amiga Marluci Menezes que compartilhou e apresentou-me seus conhecimentos no LNEC de Portugal, sobretudo com seu carinho e amizade. A Ricardo de Sousa Moretti e João Sette Whitaker Ferreira pela preciosa discussão e pelo carinho na banca de qualificação. Aos membros da banca de Tese António Baptista Coelho, Ricardo de Sousa Moretti, Maria Augusta Pisani, Denise Antonucci e Angélica Tanus Benatti Alvim pelas preciosas palavras e incentivo. Aos amigos Luiz Kohara, Benedito Barbosa, Franscisco Comarú, Maria dos Anjos e Sidnei Pita pelas consistentes contribuições. A Luiza Naomi que, além do apoio na pesquisa, esteve presente sempre com a sua amizade e carinho em todo o processo. Às amigas Aline Regino, Denise Pessoa e Sylvia Dobry pelo apoio e traduções. Aos funcionários, professores e reitoria do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, Arquitetura e Urbanismo em especial, Enio Moro, Antonio Rodrigues, Turguenev Oliveira, Maria Lucia Cardim e Dr. Paulo Cardim pelo incentivo e apoio. Aos amigos Luis Octavio Rocha, Denise Xavier, Ademir Pereira, Vanderlei Rossi, Nadia Cohen, Ivanir Abreu, Cássia Dias, Cristina Ecker, Roberto Mônaco, Vasco de Mello. Aos colegas, amigos e alunos do curso de Arquitetura e Urbanismo da Uninove, em especial Luciana Lessa. A Denise Fonseca pelo apoio e elaboração dos desenhos. Ao grupo SARAU pela diagramação e elaboração das fichas do inventário. A Marcelo Oliveira pela arte da Capa. A João Dualibi pelo apoio e elaboração das listas. Aos amigos e alunos Ivan Alves, Letícia Santaella, Mayara Custódio e Viviane Rodrigues pelo apoio e elaboração dos mapas. Aos amigos da vida que me acolheram em Portugal, Anabela Manteigas, Bruno Vavala, Claudio Cruz, Inês Burnay, Ciro Andrade, Alberto Saavedra, em especial Teresa Matos e Eliana Queiróz (agora agradeço o apoio no Brasil). Aos professores e funcionários do Mackenzie em especial à coordenadora Prof.ª Drª. Eunice Abascal, Prof. Dr. Valter Caldana e Vania lima pelo apoio e incentivos. Aos amigos Débora Machado e Carlos Pala pelo companheirismo durante o processo do doutorado. Aos moradores, representantes e síndicos pela acolhida nas visitas. Aos movimentos de moradia e assessorias técnicas pelos aprendizados. Aos meus pais, que sempre me incentivaram e cultivaram meus sonhos, e peço desculpas pela ausência. Ao meu marido que me incentivou, apoio e teve muita paciência em todo processo. Ao meu irmão Alexandre, Regiane, Matheus e Francisco pelo incentivo. A amiga Edilene Oliveira presente em todos os momentos, agradeço pelo apoio incondicional. A todos que participaram direta ou indiretamente para a realização deste trabalho e não listei o nome, peço perdão. Aos amigos e familiares perdão pela ausência ao longo destes quatro anos. Ao MACKPESQUISA e CAPES. Esta pesquisa contou com o apoio financeiro do Fundo MACKPESQUISA na forma de bolsa mérito, durante o período regular do curso, e com bolsa do Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior da CAPES (PDSE - CAPES) no período de janeiro a julho de 2014. Aos alunos do curso de Arquitetura e Urbanismo da Belas Artes pela contribuição e realização na pesquisa de campo: AM4AU 2014-2 - Aline Cristina Rocha, Amanda Fernandes Chilelli de Gouveia, Ana Luiza Alécio Cesário, Ana Sofia Maluf Samadello, Barbara Araujo Martins , Beatriz Berel Regos, Caroline Da Rocha Schulte, Christopher Felix Schinagl, Daniel Augusto Chuvauski Neves Vechini, Elisa Paulichenco Loureiro, Gabriela Agune Peloso, Gabriela Dutra Caiado Coelho, Gabriela Tobias Gambera, Giulia Fernandes Moca Trevisani, Graziele De Souza Olimpio, Hugo Germano Sigaud Neto, Isabella Gadotti Narciso, Jessica Yen, Juliana Pierre Schulz, Laura Monteiro Pereira, Luma Bergamini Carvalho, Mariana Fioravante Lorenzi Pereira, Mariana Fortunato Dos Santos, Phablicia Ferreira Incerti, Rafaela Sapede Razuk, Renata Aquino Jacques, Sophia Helena Nepomuceno Carvalho, Tatiane Dos Santos Vidal, Thais Luppi Cardoso, Yolanda Marie Firmiano e Silva. BM4AU 2014-2 - Adriana Ayumi Kamachi, Aline Caroline Lopes Da Rocha, Ariane Nogueira Fernandes Conde, Arysa Takeuchi, Beatriz Gazetta Bragotto, Beatriz Mota De Almeida, Beatriz Rybandt Ribeiro Dos Santos, Bianca Bertanha Nicolau, Bianca Camelo Ferreira Tomé, Bruna Montilha Blanco, Camila Dalossi, Camila Giberni, Caroline Ratao Dos Santos, Débora Barnete, Fernanda Cardoso Salgado, Flavia Galvão Felix Da Cunha Rubiano, Gabriela Satomi Yokoi, Giovanna Ferlini Dias, Giovanna Martinez Oliveira, Giovanna Penna Lima, Guilherme Martins De Oliveira Ceravolo Paoliello, Isabela De Lima Rossafa, Isabella Souza Andrade Antonucci, Julia Martinho Baffini, Lais Magalhães De Carvalho Antonio, Larissa Gonçalves Luiz, Leo Bizarro Ippolito, Luana Rodrigues De Albuquerque, Marcelo José Favoretto Ferreira Alves, Mariana Fundão Camargo, Mayra Marusso, Niki Akira Nomura, Paula Souza Barbosa, Ricardo Coji De Siqueira Ferreira, Rogerio Chantre De Oliveira Azevedo, Taisy Natalice De Lurdes Da Silva, Thaina Moredo Dos Santos, Vanessa Crevatin Martyniuk. AT4AU 2014-2- Adriana Pires Coutinho, Amabylle Eiroa Feitosa, Barbara Rebelato Di Domenico, Beatriz Regina Inacio Domingues, Caira Meg Souza Silva Dourado, Carolina De Natali Padovan, Carolina Miranda Muniz, Carolina Paschoalin De Almeida, Carolina Segretti De Azambuja, Caroline Elias Gomes Da Silva, Ciro Bertini Camargo, Daisy Francisco Pinato, Daisy Regina Pena, Debora Daniele Meleiro Terra, Deborah Yara Arruda Fonseca, Denise Das Neves Silva, Everton Pereira Da Silva, Flavia Woa Cabral Baceto, George Antonio Rizzo Lico, Helena Ribeiro Silva, Isabela Reis Rodrigues De Lima, Isabella Battistin Granata, Isabella Morata Kassawara, Janaína De Jesus Santos, Jessica Lucas Pereira, Julia Padilha Lopes, Kaliane Rosa Sakamoto Do Nascimento, Luís Felipe Faria Pacheco, Marcella França Fernandes, Mariane Costa Pacheco, Marilia Clara Granja Rodrigues, Marina Marini De Oliveira, Melissa Corrêa Geres, Michel Platini Da Silva Xavier, Natalia De Oliveira Nunes, Natália Silva Dias, Natalya Barros Teixeira, Paloma Clemente Neves, Paula Cristina Da Silva Soejima, Talitha Rodrigues Nogueira, Thais Gonçalves Jardim, Thays Alho De Almeida Arruda,Thiago Santa Cruz Silva, Vanessa Sartori Rodi AN4AU 2014-2 - Ana Carolina Donato Francisco, Ana Clara Teixeira Zorowich, Beatriz Campanhã Cruz, Beatriz Costa Beltran De Barros, Beatriz Duarte Mussarra, Bruna Sousa Barbara, Camila Santos Romero, Carlos Alberto De Andrade Junior, Carolina D'attoma De Assis, Cristiane Barroso Leite, Eduardo Rizatto Pinto, Fabio Correa Peasson, Fábio Da Silva Botelho Júnior, Fernanda Da Gama Domingues, Gabriela Bernardo Marasca, Gabriela Lumi Arimura Kitakawa, Gabriela Rodrigues Molina Dona, Gabriela Vilela De Camargo, Gustavo Washington Baldeón Palacios, Helaine Cristina Valcacio De Oliveira Leite, Hellen Kerolain Avancini, Henrique Neves Perinetto, Iago De Carvalho Freires, Isabela Fernandes Pineiro Vazquez, Juliana Mitani, Juliana Toledo Ikeda, Larissa Cardoso Benedicto, Letícia Puccinelli Redondo, Marcela Clemente Silva, Maria Isabel Furquim De Campos Soubihe, Mariana Mie Chao, Marília Naomi De Carvalho Ohnuma, Marina Amorim Da Silva E Silva, Murillo Teixeira Cesar, Natalia Dejavite Ercole, Natália Sabatini Freitas, Natasha Rodrigues Mucio, Nathalie Nisticó Tofetti, Philipi Fernandes Baceti, Priscila De Oliveira E Silva, Stephanie Orsatti, Tatiane Veit, Thais Fernandes Cintra, Thais Siqueira De Lima, Thiago De Melo Fantato, Vinícius Nassar Gomes De Oliveira, Vinicius Oliveira Fernandes, Yan Gabriel Vianna França, Yasmin Ishikawa Gasparini. BN4AU 2014-2 - Alessandra Pizetta Costa, Aline Sabes, Alisson Martins Moreno, Allan Medeiros De Barros, Ana Carolina Dos Santos, Ananda Mello de Sá, André Ferreira Langella, Andréa Manfredi Da Costa, Arthur Alves Martins, Camila Boffo De Sousa, Camilla Alves Da Costa, Caren Cristina De Moura Andrade, Carolina Barros Madi, Carolini Xavier Blanes, Charles Costa De Oliveira, Danielle Karoline Pereira Dos Santos, Danilo Martins Dos Santos Junior, Giovanna De Oliveira Melo, Giovanna Donatelli Seabra Simão, Guilherme Correa Sales Cavalcante, Gustavo Ruiz Correa, Igor Pereira Bessan, Ingrid Santos Santana De Oliveira, Izabella Galerani Castropil, Izabella Gouveia Maroni, Janaina Brito De Melo, Jenifer Michely Coelho Moura, Joice De Souza Carvalho, Katherine Viegas De Carvalho, Lucas Francisco Martins, Lucas Garcia Fontes, Luciana Guimarães Moreira, Luiza Carosini Martinez, Luiza Oliveira Felix, Marcela Soares Leite, Maria Paula Bontempi Bispo, Mariana Domingues Facchini, Mariana Raposo Viana Da Cunha, Mayara Fazio Barbosa, Nathalia Coelho De Godoy, Nathália Moura Caires Costa, Nicole Barkoczy, Priscila Pequeneza Doimo, Raphael Soares Alho, Romulo Vargas Flores, Silvia Souza Do Espirito Santo, Taina dos Santos Correia, Tatiana Marrocco, Vinicius Baldrez Zurita, Viviane Cristina Carvalho, Viviane da Silva Barbosa. [...] Precisamos nos fazer mais corajosos, mais fortes, lutadores, mais idôneos, mais competentes, nas propostas de reconstrução de nosso abrigo, em sentido amplo social, ou seja, na construção de nossas cidades [...] (TELLES, 2013). RESUMO Esta pesquisa busca compreender a importância do processo participativo na produção da habitação social na área central do município de São Paulo realizada pelo poder público e sua contribuição à conquista da moradia digna. Para tanto aborda conceitos de moradia digna, processo participativo e assessorias técnicas no contexto do projeto de habitação social. Defende-se que projetos habitacionais para a área central de São Paulo, implantados, entre os anos de 1990 e 2012, que incorporaram o processo participativo, de forma tripartite - poder público, assessoria técnica e moradores - em suas diferentes fases, desde a sua concepção ao pós morar, contribuíram para maior apropriação pelos moradores e consequente na conquista da moradia digna. O trabalho estrutura-se em seis capítulos, além da introdução e considerações finais: 1. O debate internacional e experiências inovadoras de Projeto participativo no contexto de crítica aos preceitos do Movimento Moderno nas décadas de 1960 e 1970. 2. O Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL) em Portugal, implementado em 1974, como importante referência internacional para o contexto brasileiro. 3. A comunidade, o arquiteto e a moradia digna no Brasil, com destaque para o contexto político de Reforma Urbana, do início da década de 1960, e as origens e experiências de assessorias técnicas e projetos participativos. 4. A política habitacional de São Paulo a partir de 1989, e o papel dos movimentos sociais com destaque ao Programa de Produção de Habitação por Mutirão e Autogestão realizados na gestão da prefeita Luiza Erundina (1989-1992) e seus desdobramentos. 5. Inventário dos empreendimentos de habitação social da área central de São Paulo no período de 1990 a 2012. Nesta etapa buscou aplicar um método exploratório de avaliação da participação social nos empreendimentos. 6. Estudos de caso: para maior aprofundamento foram analisados 04 empreendimentos, sendo 02 realizados de forma participativa e 02 sem a participação dos futuros moradores, onde se efetivou entrevistas qualitativas com os principais atores, tendo a finalidade de comprovar a tese. Conclui-se que os projetos que tiveram os movimentos sociais em articulação com as assessorias técnicas apresentam melhores resultados quanto à apropriação dos moradores nas diversas fases do processo de projeto. O processo participativo é um importante caminho para a conquista da moradia digna. Palavras-chave: habitação social; área central de São Paulo; movimentos sociais; assessoria técnica; processo participativo. ABSTRACT This research seeks to understand the importance of the participative process in the production of social housing in the central area of São Paulo, Brazil, promoted by the government and its contribution to the achievement of proper housing. On doing so, it approaches proper housing projects concepts, participative processes and technical advisor for social housing projects. This work defends the idea that housing projects designed in Sao Paulo’s central areas implemented between 1990 and 2012, those that incorporated a participative process in a three party way- being public sector, technical advisement and housing tenants- in various phases, from its conception to post occupation, contributed to a better appropriation of the living places. Consequently, it also contributed to conquer proper housing. The work is organized in six chapters, plus the introduction and conclusion: 1- The international debate and innovative experiences of participative design in a critical context of to the Modern Movement in the decades of 1960 and 1970. 2 - The Local Ambulatory Service (SAAL) in Portugal, implemented in 1974, as an important international reference for the Brazilian context. 3 - The community, the architects and proper housing in Brazil, with emphasis in the political context of urban reform in the beginning of the 1960s, and the backgrounds and experiences of technical advisors and participative projects. 4 - The housing politics in São Paulo in 1989, and the role of social movements specially to the Housing Production Program for self-help construction and self-management that took place in the administration of mayor Luiza Erundina (1989-1992) and its consequences. 5- An inventory of social housing projects of the central area of Sao Paulo from 1990 to 2012. At this stage, this work sought to apply an evaluation method to explain the social participation in the enterprises. 6- Case Studies: To study the subject with more depth, 4 projects were analyzed, being 2 performed in a participatory manner and 2 without the participation of future residents. In this study, interviews where made with the main actors with the purpose of proving the thesis. It is concluded that the projects that have social movements in conjunction with the technical advisors have better results regarding the appropriation of residents in various stages of the design process. Therefore, participative process is an important way to achieve proper housing. Key words: Sao Paulo central area; social movements; technical advisement, participative project. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AIL Associação dos Inquilinos Lisbonenses AML Área Metropolitana de Lisboa AUGI Áreas Urbanas de Gênese Ilegal BID Banco de Interamericano de Desenvolvimento BIP/ZIP Bairro e Zona de Intervenção Prioritária BNH Banco Nacional de Habitação CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CAPP Centro de Administração e Políticas Públicas CDHU Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado CEAU Centro de Estudos de Arquitectura e Urbanismo CEBs Comunidades Eclesiais de Base CF Constituição Federal CGGDH Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos CIAM Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna CODESCO Companhia de Desenvolvimento de Comunidades COHAB Companhia Metropolitana de Habitação DNER Departamento Nacional de Estradas e Rodagens DPH Departamento de Patrimônio Histórico EDUC Editora da Pontifícia Universidade Católica EMURB Empresa Municipal de Urbanismo ENA Encontro Nacional de Arquitetos FABES Secretaria do Bem Estar Social FAFEG Federação das Associações dos Favelados do Estado da Guanabara FAR Fundo de Arrendamento Residencial FAUUSP Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo FENACHE Federação Nacional de Cooperativas de Habitação Económica FFH Fundo de Fomento da Habitação FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Serviço FIPE Fundação Instituto de Pesquisa Econômica FMH Fundo Municipal de Habitação FNRU Fórum Nacional de Reforma Urbana FUNAPS Fundo de Atendimento à População Moradora em Habitação Subnormal GTAI Grupo Técnico de Análise de Imóveis HABI Superintendência de Habitação Popular HIS Habitação de Interesse Social HLM Federação das Cooperativas de Habitação IAB Instituto de Arquitetos do Brasil IAT Institutos de Assistência Técnica IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INA-Casa Istituto Nazionale per l'le Assicurazione IPASE Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Servidores do Estado IPTU Imposto Predial e Territorial Urbano ISCSP Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas LABFAUS Laboratório da Faculdade de Arquitetura e Urbanismos de Santos LabHab Laboratório de Habitação LNEC Laboratório Nacional de Engenharia Civil MIP Monumento de Interesse Público MMC Movimento de Moradia do Centro MNRU Movimento Nacional pela Reforma Urbana MSTC Movimento de Sem Teto do Centro NA Núcleo de Arquitetura NAU Núcleo de Arquitetura e Urbanismo NEPHU Núcleo de Estudos e Projetos Habitacionais e Urbanos NESO Núcleo de Ecologia Social NUT Núcleo de Estudos Urbanos e Territoriais ONG Organizações não governamentais ONU Organização das Nações Unidas PAC Programa de Atuação em Cortiços PAC Programa de Aceleração do Crescimento PAR Programa de Arrendamento Residencial PLH Programa Local de Habitação PMDB Partido Movimento Democrático Brasileiro PMSP Prefeitura Municipal de São Paulo PNH Política Nacional de Habitação PP Partido Progressista PSDE Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior PSF Programa de Saúde da Família PT Partido dos Trabalhadores PTB Partido Trabalhista Brasileiro PUC-SP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo SAAL Serviço de Apoio Ambulatorial Local SABESP Saneamento Básico do Estado de São Paulo SASP Sindicato dos Arquitetos de São Paulo SBPE Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo SEADE Sistema Estadual de Análise de Dados SEHAB Secretaria de Habitação da Prefeitura Municipal de São Paulo SEMPLA Secretaria Municipal de Planejamento SFH Sistema de Financiamento Habitacional SHRU Seminário de Habitação e Reforma Urbana SMDU Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano UFF Universidade Federal Fluminense UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro UH Unidade Habitacional UL Universidade de Lisboa ULC Unificação das Lutas e Cortiço UMM União dos Movimentos de Moradia UN-Habitat United Nations Human Settlements Programme UNICAMP Universidade Estadual de Campinas ZEIS Zonas Especiais de Interesse Social LISTA DE FIGURAS – capítulos Figura 1.0 Figura 1.1 Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 2.0 2.1 Figura 2.2 Figura 2.3 Figura 2.4 Figura 2.5 Figura 2.6 Figura 2.7 Figura 2.8 Figura 2.9 Figura 2.10 Figura 2.11 Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura 2.12 2.13 2.14 2.15 2.16 2.17 2.18 Figura 2.19 Figura 2.20 Figura 2.21 Figura 2.22 Figura 3.0 Figura 3.1 Mutirão Mexicali Proposta de Alison e Peter Smithson - Golden Lane Housing Robin Hood Gardens Proposta Robin Hood Gardens Implantação do Villaggio Matteotti, Terni, 1968-1974 Villaggio Matteotti, 1970 e as circulações internas Vila Nova de Gurna Desenhos do Hassan Fathy para Vila Nova de Gurna Sistema de teto abobadado Mutirão SAAL Implantação e Vista do bairro social Arco do Cego em Lisboa A Vida num Bairro de Lata - Lisboa, 1966 Perspectiva geral do estudo do conjunto de habitação cooperativa A Casa Protótipo em escala real na exposição “O Cooperativismo Habitacional no Mundo” Bloco das Águas livres e galeria de serviços, Lisboa em 1953 Torres de habitação, Olivais 1, Lisboa 1959 Torres e bandas de habitação, Olivais 1, croquis do projeto Bairro de favelas em Lagos, 1975 Estudo da “habitação evolutiva” Manifestação contra a sublocação na cidade na entrada da Câmara Municipal do Porto em novembro de 1974 Manifestação contra a lei das ocupações no Porto em 1975 Panfletos de manifestação em Lagos, 1975 Manifestações no Porto, 1975 Panfleto de manifestação Fluxograma de funcionamento do Processo SAAL Alto do Moinho e Carnaxide, Concelho Oeiras, Lisboa Bouça e São Vitor, Porto Assembleia no Porto, brigadas técnicas, moradores e Estado em 1976 Projeto Quinta da Malagueira Vistas do conjunto Vistas do conjunto e o detalhe dos aquedutos com a passagem da canalização de água e rede elétirca Vistas do conjunto e os espaços de convivência, detalhe da arquibancada multiuso Mutirão Grajaú A favela Brás de Pina na luta pela urbanização 47 55 56 56 58 58 66 67 69 72 76 78 83 83 85 85 85 91 94 97 98 99 99 103 105 108 108 110 114 114 115 115 118 130 Figura 3.2 Figura Figura Figura Figura 3.3 3.4 3.5 3.6 Figura 3.7 Figura 3.8 Figura 3.9 Figura 4.0 Figura 4.1 Figura 4.2 Figura 4.3 Figura 4.4 Figura 4.5 Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura 4.6 4.7 4.8 4.9 4.10 4.11 4.12 4.13 4.14 4.15 Figura 5.0 Figura 5.1 Figura Figura Figura Figura Figura 6.0 6.1 6.2 6.3 6.4 Debate da urbanização e a escolha dos lotes com os moradores Projeto do morador Projeto traduzido pelo arquiteto Reunião dos arquitetos no SASP e com na comunidade Os professores do Laboratório de Habitação da Belas Artes com alunos e a comunidade entre os anos de 1982 a 1985. Os professores do Laboratório de Habitação da Belas Artes com alunos entre os anos de 1982 a 1985. Ambiente montado pelo grupo, primeiro com a colocação dos móveis, depois com a inserção das paredes. Processo de projeto participativo com apresentações em papel, mídia eletrônica e maquetes. Favela do Moinho e a Barra Funda Conjunto Habitacional José Bonifácio zona leste de São Paulo Mapa dos assentamentos precários do munícipio de São Paulo e a legenda Autoconstrução zona sul Favela Jardim paraná, zona Norte de São Paulo Mapa do Município de São Paulo com a localização das oportunidades de empregos e a vulnerabilidade social Ocupação na rua Mauá em imóvel vazio no distrito Sé Favela do Moinho no distrito de Santa Cecília Cortiço no distrito da Liberdade Cortiço no distrito da Liberdade Os problemas da região central da cidade Primeira caravana da moradia para Brasília Canteiro de obras e centro comunitário Os conjuntos Rincão e São Francisco no setor VIII. Mapa dos edifícios estudados pelo GTAI Imóveis originais que foram reabilitados para habitação social Baronesa de Porto Carreiro, Senador Feijó, Asdrúbal do Nascimento, Riachuelo e Joaquim Carlos Centro de São Paulo Modelo da ficha do inventário dos empreendimentos de habitação social da área central de São Paulo de 1990 a 2012 Painel de Mosaico do Santa Cecília A (Pirineus) Vista Superior do mutirão da Celso Garcia Vista do Santa Cecília A Vista geral do Bom Retiro C Fachada principal do Pari E 132 134 134 138 140 141 148 148 153 163 166 167 167 168 171 171 172 172 176 177 183 183 193 194 197 202 252 259 264 268 272 LISTA DE FIGURAS – Apêndices Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura A A A A A A A A A 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A 1.10 1.11 1.12 1.13 1.14 1.15 1.16 1.17 1.18 1.19 1.20 1.21 1.22 1.23 1.24 1.25 1.26 1.27 1.28 1.29 1.30 1.31 1.32 1.33 1.34 1.35 1.36 1.37 1.38 Figura A 1.39 Figura A 1.40 Localização no mapa de Lisboa Fachada externa Fachada externa Vista interna Vista interna Vista interna Localização no mapa de Oeiras Vista interna Vista interna e detalhe do projeto para futura ampliação, conforme o conceito de habitação evolutiva Vista interna A praça, local de encontro e discussão comunitária Placa com a marca do processo Localização no mapa de Lisboa Vista do caminho interno Vista interna Vista interna Vista do conjunto Vista do conjunto Localização no mapa de Lisboa Casas com conceito da habitação evolutiva Casas com conceito da habitação evolutiva Casas com conceito da habitação evolutiva Desenho do vazio Presidente da associação de morador José Maria Localização no mapa do porto Vista do pátio interno Vista do pátio interno Vista do pátio interno Vista do pátio interno Pórtico da entrada Localização no mapa do porto Vista do conjunto Vista do conjunto Vista do conjunto Entrada de uma unidade habitacional Detalhe do pórtico de passagem Localização no mapa do Coimbra Vista do conjunto 346 346 346 346 346 346 347 347 347 Vista do conjunto Vista do conjunto 352 352 347 347 347 348 348 348 348 348 348 349 349 349 349 349 349 350 350 350 350 350 350 351 351 351 351 351 351 352 352 Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A 1.41 1.42 2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 2.8 2.9 2.10 2.11 2.12 2.13 2.14 2.15 2.16 2.17 2.18 2.19 2.20 2.21 2.22 2.23 2.24 2.25 2.26 2.27 2.28 2.29 2.30 2.31 2.32 2.33 2.34 2.35 2.36 2.37 2.38 2.39 2.40 2.41 No muro a marca da luta dos moradores No muro a marca da luta dos moradores Vista aérea Implantação Antigo cortiço no local Inauguração do conjunto Antigo cortiço no local Mutirão Mutirão Vista Fachada Vista pátio interno Vista da Fachada Planta do pavimento tipo Vista aérea Implantação Vista área Vista área dos terrenos antes da desapropriação com cortiços e terrenos vazios Campanha em defesa dos mutirões 1995 Vista frontal do mutirão Vista superior do mutirão Vista Fachada do mutirão Vista entre os prédios do mutirão Foto corredor circulação interno Planta do pavimento tipo Vista aérea Implantação Vista área do conjunto Praça interna Salão comunitário Vista geral Praça interna Praça interna Praça aérea Praça aérea Entrada principal Planta do pavimento tipo Vista aérea Implantação Favela do Gato r alojamentos provisórios Vista aérea Vista área do conjunto com a creche Vista geral Circulação vertical 352 352 353 353 353 353 353 353 353 353 354 354 354 355 355 355 355 355 355 355 355 356 356 356 357 357 357 357 357 357 357 357 358 358 358 358 359 359 359 359 359 359 359 Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A 2.42 2.43 2.44 2.45 2.46 2.47 2.48 2.49 2.50 2.51 2.52 2.53 2.54 2.55 2.56 2.57 2.58 2.59 2.60 2.61 2.62 2.63 2.64 2.65 2.66 2.67 2.68 2.69 2.70 2.71 2.72 2.73 2.74 2.75 2.76 2.77 2.78 Vista geral Vista da lateral dos blocos Circulação Planta do pavimento tipo Vista aérea Implantação Antigo alojamento do local Maquete eletrônica Vista Fachada Vista Fachada Planta do pavimento tipo Vista aérea Implantação Antigo cortiço Alojamento provisório no local Alojamento provisório no local Alojamento provisório no local Vista interna Vista frontal Maquete eletrônica Planta do térreo Planta primeiro pavimento Planta segundo pavimento Vista aérea Implantação Antigo cortiço Antigo cortiço Foto aérea Pátio interno Vista Fachada Planta do pavimento tipo Vista aérea Implantação Maquete eletrônica Vista Frontal Vista Fachada Plantado pavimento tipo e implantação 359 360 360 360 361 361 361 361 361 361 362 363 363 363 363 363 363 363 363 364 364 364 364 365 365 365 365 365 365 365 366 367 367 367 367 367 368 Figura Figura Figura Figura Figura Figura A A A A A A 2.79 2.80 2.81 2.82 2.83 2.84 Vista aérea Implantação Vista interna Vista interna Perspectiva Planta apartamento 369 369 369 369 369 369 Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A 2.85 2.86 2.87 2.88 2.89 2.90 2.91 2.92 2.93 2.94 2.95 2.96 2.97 2.98 2.99 2.100 2.101 2.102 2.103 2.104 2.105 2.106 2.107 2.108 2.109 2.110 2.111 2.112 2.113 2.114 2.115 2.116 2.117 2.118 2.119 Vista da Fachada Planta do pavimento tipo Vista aérea Implantação Vista Fachada Vista Fachada Planta do pavimento tipo Vista aérea Implantação Vista Fachada Vista Fachada Vista Fachada Vista interna Planta do pavimento tipo Vista aérea Implantação Fachada anterior Vista Fachada Vista Fachada Vista Fachada Planta do pavimento tipo Vista aérea Implantação Foto aérea Vista Fachada Vista Fachada Vista Fachada Vista térreo Vista Fachada Vista interna Planta do pavimento tipo Vista aérea Implantação Mutirão na demolição Prédio original ocupado em 1997 369 370 371 371 371 371 371 372 372 372 372 372 372 373 374 374 374 374 374 374 375 376 376 376 376 376 376 376 376 377 377 378 378 378 378 Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura A A A A A A A A A 2.120 2.121 2.122 2.123 2.124 2.125 2.126 2.127 2.128 Vista da Fachada Mosaico bel ruas Cobertura Planta do pavimento tipo Vista aérea Implantação Edifício Almeida antes da reforma Período da ocupação Vista da Fachada 378 378 378 379 380 380 380 380 380 Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A 2.129 2.130 2.131 2.132 2.133 2.134 2.135 2.136 2.137 2.138 2.139 2.140 2.141 2.142 2.143 2.144 2.145 2.146 2.147 2.148 2.149 2.150 2.151 2.152 2.153 2.154 2.155 2.156 2.157 2.158 2.159 2.160 Vista Fachada Vista hall Vista panorâmica Planta do pavimento tipo Vista aérea Vista aérea Implantação Vista da Fachada, visão do pedestre Fachada Vista da Fachada Vista Fachada Vista dos blocos Planta do pavimento tipo Planta do pavimento tipo Vista aérea Implantação Vista edifícios Vista edifícios Vista Fachada Vista da Fachada Vista interna Planta do pavimento tipo Vista aérea Implantação Vista visão pedestre Vista frontal Vista Fachada Planta do pavimento tipo Vista aérea Implantação Vista Fachada visão pedestre Vista Fachada lateral 380 380 380 381 382 382 382 382 382 382 382 382 383 383 384 384 384 384 384 384 384 385 386 386 386 386 386 387 388 388 388 388 Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura A A A A A A A A A A A A 2.161 2.162 2.163 2.164 2.165 2.166 2.167 2.168 2.169 2.170 2.171 2.172 Vista Fachada Vista térreo Geral Mooca a, b e c Vista Fachada Vista térreo Vista playground Planta pavimento tipo Vista aérea Implantação Fachada principal Vista térreo Vista interna 388 388 388 388 389 389 389 390 390 390 390 390 Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A 2.173 2.174 2.175 2.176 2.177 2.178 2.179 2.180 2.181 2.182 2.183 2.184 2.185 2.186 2.187 2.188 2.189 2.190 2.191 2.192 2.193 2.194 2.195 2.196 2.197 2.198 2.199 2.200 2.201 Planta do pavimento tipo Vista aérea Implantação Situação anterior ao projeto Perspectiva Perspectiva Vista Fachada Vista do conjunto Vista Fachada Planta do pavimento tipo Vista aérea Implantação Situação anterior Fachada principal Vista Fachada Fachada e entorno Planta do pavimento tipo Vista aérea Implantação Situação anterior Vista Fachada Vista do entorno, visão interna Visão lateral Mutirão Vista interna Planta do pavimento tipo Vista aérea Implantação Situação anterior, antigo cine imperial 391 392 392 392 392 392 392 392 392 393 394 394 394 394 394 394 395 396 396 396 396 396 396 396 396 397 398 398 398 Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura A A A A A A A A A A A A A A A 2.202 2.203 2.204 2.205 2.206 2.207 2.208 2.209 2.210 2.211 2.212 2.213 2.214 2.215 2.216 Antigo cine imperial Antigo cortiço Perspectiva Vista geral Vista Fachada Vista interna do condomínio Vista interna do condomínio Planta do pavimento tipo Vista aérea Situação anterior Perspectiva Geral com entorno Fachada principal Vista interna Planta do pavimento tipo 398 398 398 398 398 399 399 399 400 400 400 400 400 400 401 Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A 2.217 2.218 2.219 2.220 2.221 2.222 2.223 2.224 2.225 2.226 2.227 2.228 2.229 2.230 2.231 2.232 2.233 2.234 2.235 2.236 2.237 2.238 2.239 2.240 2.241 2.242 Vista aérea Implantação Perspectiva do projeto Situação anterior Vista lateral Vista do edifício Vista da Fachada Planta do pavimento tipo Vista aérea Implantação Situação anterior Perspectiva Vista térreo Vista Fachada Planta do pavimento térreo Vista aérea Terreno utilizado, situação anterior Perspectiva Vista lateral interna Vista frontal Vista Fachada Vista interna Vista Fachada, visão da rua Planta do pavimento tipo Vista aérea Implantação 402 402 402 402 402 402 402 403 404 404 404 404 404 404 405 406 406 406 406 406 406 406 406 407 408 408 Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura A A A A A A A A A A A A A A A A A A 2.243 2.244 2.245 2.246 2.247 2.248 2.249 2.250 2.251 2.252 2.253 2.254 2.255 2.256 2.257 2.258 2.259 2.260 Situação anterior Perspectiva Vista do empreendimento com entorno Vista do empreendimento com entorno Entrada principal Detalhe da Fachada Detalhe da Fachada Fachada lateral Vista interna Planta do pavimento tipo Vista aérea Situação anterior Perspectiva Conjunto com entorno Fachada principal Detalhe da Fachada Vista interna Vista interna 408 408 408 408 408 408 409 409 409 409 410 410 410 410 410 410 410 410 Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A 2.261 2.262 2.263 2.264 2.265 2.266 2.267 2.268 2.269 2.270 2.271 2.272 2.273 2.274 2.275 2.276 2.277 2.278 2.279 2.280 2.281 2.282 2.283 Vista interna Vista interna Vista interna Planta do pavimento tipo Vista aérea Situação anterior Perspectiva Fachada principal Circulação vertical Circulação vertical Jardim interno Jardim interno Jardim interno Planta do pavimento tipo Vista aérea Implantação Vista Fachada frontal Vista Fachada visão pedestre Vista Fachada frontal Vista do apartamento do 10º andar Lavanderia coletiva Planta do pavimento tipo Vista aérea 411 411 411 411 412 412 412 412 412 412 412 412 413 413 414 414 414 414 414 414 414 415 416 Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A 2.284 2.285 2.286 2.287 2.288 2.289 2.290 2.291 2.292 2.293 2.294 2.295 2.296 2.297 2.298 2.299 2.300 2.301 2.302 2.303 2.304 Implantação Entorno Vista Fachada Vista térreo Corredor interno Planta do pavimento tipo Vista aérea Implantação Obras em 2001 Vista Fachada frontal Vista Fachada Hall de apartamentos Planta do pavimento tipo Vista aérea Implantação Edifício antes da reforma Edifício em obras Recepção e detalhe da escada Detalhe da escada Hall de entrada Vista Fachada 416 416 416 416 416 417 418 418 418 418 418 418 419 420 420 420 420 420 420 420 420 Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A 2.305 2.306 2.307 2.308 2.309 2.310 2.311 2.312 2.313 2.314 2.315 2.316 2.317 2.318 2.319 2.320 2.321 2.322 2.323 2.324 Vista térreo Vista com entorno Planta do pavimento tipo Vista aérea Implantação Vista Fachada Entorno Vista Fachada Vista interna Vista interna Planta do pavimento tipo Vista aérea Implantação Edifício antes da reforma Entorno Vista Fachada Vista Fachada Vista Fachada Planta do pavimento tipo Vista aérea 421 421 421 422 422 422 422 422 422 422 423 424 424 424 424 424 424 424 425 426 Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura A A A A A A A A 2.325 2.326 2.327 2.328 2.329 2.330 2.331 2.332 Implantação São Paulo anos 40 Vista Fachada Vista Fachada Visão Fachada Visão Fachada Vista do pedestre Vista corredor interno Planta do pavimento tipo 426 426 426 426 426 426 426 427 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 5.1 Gráfico 5.2 Gráfico 5.3 Gráfico 5.4 Gráfico 5.5 Localização dos empreendimentos nos distritos da área central de São Paulo social da área central, no nível municipal Localização dos empreendimentos nos distritos da área central em área de ZEIS Ano de início de mobilização para efetivação e conclusão da obra dos empreendimentos de habitação Ano de início de mobilização para efetivação e conclusão da obra dos empreendimentos de habitação social da área central, no nível estadual Ano de início de mobilização para efetivação e conclusão da obra dos empreendimentos de habitação social da área central, no nível federal 221 223 224 225 226 Gráfico 5.6 Gráfico 5.7 Gráfico 5.8 Gráfico 5.9 Gráfico 5.10 Gráfico 5.11 Gráfico 5.12 Gráfico 5.13 Gráfico 5.14 Gráfico Gráfico Gráfico Gráfico Gráfico Gráfico Gráfico Gráfico Gráfico Gráfico Gráfico Gráfico Gráfico Gráfico Gráfico Gráfico Gráfico Gráfico Gráfico Gráfico 5.15 5.16 5.17 5.18 5.19 5.20 5.21 5.22 6.1 6.2 6.3 6.4 6.5 6.6 6.7 6.8 6.9 6.10 6.11 6.12 Cronologia de conclusão da obra de habitação social da área central Indica a proporção da autoria de projetos, escritório de arquitetura convencional ou assessoria técnica, divididos pelo poder público Os tipos de construção por autoria de projeto O tipo de construção por poder público e a quantidade de unidades habitacionais O tipo de construção por autoria de projeto, poder público e a quantidade de unidades habitacionais. Os tipos de origem de viabilização Tipo de origem e a porcentagem de viabilização Média da densidade líquida dos empreendimentos por poder público Média de densidade demográfica líquida pelo tipo de origem de viabilização de empreendimento Processo inicial da moradia digna – ação Mobilizar Apresenta os resultados – ação Viabilizar Apresenta os resultados – ação Projetar Apresenta os resultados – ação Construir Apresenta os resultados – ação Morar Apresenta os resultados – ação Qualificar Apresenta os resultados – ação Integrar Apresenta os resultados – ação Satisfazer Processo inicial da moradia digna – ação Mobilizar Processo inicial da moradia digna – ação Viabilizar Processo inicial da moradia digna – ação Projetar Processo inicial da moradia digna – ação Construir Processo da efetivação da moradia digna – ação Morar Processo pós-uso da moradia digna – ação Qualificar Processo pós-uso da moradia digna – ação Integrar Processo pós-uso da moradia digna – ação Satisfazer Mutirão da Celso Garcia Santa Cecília A Bom Retiro C Pari E 227 231 232 233 234 234 237 238 238 243 244 245 246 247 249 250 251 282 285 287 290 292 295 297 299 307 308 309 310 LISTA DE GRÁFICOS – Apêndice 3 Gráfico A.3.1 Gráfico A.3.2 Gráfico A.3.3 Gráfico A.3.4 Gráfico A.3.5 Processo da efetivação da moradia digna – Mutirão Celso Garcia Processo do pós uso – mutirão Celso Garcia Representação gráfica do desempenho do processo de efetivação da moradia digna e pós-uso do mutirão da Celso Garcia – gráfico tipo radar Processo da efetivação da moradia digna–Santa Cecília A Processo Pós uso da moradia digna – Santa Cecília A Representação gráfica do desempenho do processo de 432 434 435 438 439 Gráfico A.3.6 Gráfico A.3.7 Gráfico A.3.8 Gráfico A.3.9 Gráfico A.3.10 Gráfico A.3.11 Gráfico A.3.12 Gráfico A.3.13 Gráfico A.3.14 GráficoA.3.15 efetivação da moradia digna e pós-uso do Santa Cecília A – gráfico tipo radar Processo da efetivação da moradia digna – Bom Retiro C Processo do pós-uso – Bom Retiro C Representação gráfica do desempenho do processo de efetivação da moradia digna e pós-uso do Bom Retiro C – gráfico tipo radar Processo da efetivação da moradia digna– Pari E Processo do pós uso – Pari E Representação gráfica do desempenho do processo de efetivação da moradia digna e pós uso do Pari E – gráfico tipo radar Processo inicial da moradia digna – geral Processo pós-uso da moradia digna – geral Representação gráfica do desempenho do processo de efetivação da moradia digna e pós-uso do geral – gráfico tipo radar 440 443 445 446 449 451 451 454 456 457 LISTA DE QUADROS Quadro 3.1 Quadro 3.2 Quadro 4.1 Quadro 5.1 Quadro 5.2 Quadro 5.3 Quadro 5.4 Quadro 5.5 Quadro 5.6 Quadro 5.7 Quadro 5.8 Quadro 5.9 Quadro 6.1 Quadro 6.2 Definição de Assessoria Técnica Fases do método do processo para a viabilização de empreendimento do Programa Minha Casa Minha Vida Entidades Projetos do poder público municipal de requalificação da área central Entrevistas com os principais atores envolvidos na viabilização dos empreendimentos da área central de São Paulo – 1990 a 2012 Entrevistas e conversas com os principais atores envolvidos com a questão da habitação de Portugal Fases/Ações no processo inicial Fases/Ações no processo pós-uso Questionário com as fases / ações e as frases afirmativas para os moradores Síntese projetos de habitação social implantados na área central de São Paulo no período de 1990 a 2012, com suas características a partir do inventário desenvolvido nas fichas dos 38 empreendimentos Quantidade de unidades habitacionais na área central de São Paulo no período de 1990 a 2012, separados por poder público Programas e fonte de recursos dos empreendimentos de habitação social da área central de São Paulo - 1990 a 2012 Cronologia de conclusão de obra dos empreendimentos da área central Empreendimentos escolhidos como Estudo de Caso Questionário para os representantes dos empreendimentos 145 149 187 206 207 209 210 212 215 218 219 228 256 257 LISTA DE QUADRO – Apêndice 4 Quadro A.4.1 Lista das ocupações de imóveis ociosos na área central, realizadas pelos movimentos de moradia 460 LISTA DE MAPAS Mapa 5.1 Localização dos 38 empreendimentos de habitação social da área central de São Paulo no período 1990 a 2012 217 LISTA DE MAPAS – Apêndice 4 Mapa A.4.1 Mapa A.4.2 Localização das ocupações com os distritos centrais e a demarcação de ZEIS Localização das ocupações e habitação social com os distritos centrais e a demarcaçãode ZEIS 463 464 LISTA DE TABELAS Tabela 4.1 Tabela 4.2 Tabela 5.1 Tabela 6.1 Tabela 6.2 Tabela 6.3 Tabela 6.4 Tabela 6.5 Tabela 6.6 Tabela 6.7 Tabela 6.8 Estabelecimentos e empregos formais no setor de comércio, serviços, indústria de transformação e construção civil nos distritos Lapa, Pinheiros, Mooca, Ipiranga e Sé Variação do número de cortiços, domicílios, famílias e pessoas morando em cortiços na região da Luz no distrito do Bom Retiro Conjunto de retorno das entrevistas aplicado nos empreendimentos visitados Resumo do resultado do processo inicial da moradia digna – ação Mobilizar Resumo do resultado do Processo inicial da moradia digna– ação Viabilizar Resumo do resultado do Processo inicial da moradia digna– ação Projetar Resumo do resultado do Processo inicial da moradia digna– ação Construir Resumo do resultado do Processo inicial da moradia digna– ação Morar Resumo do resultado do Processo pós-uso da moradia digna– ação Qualificar Resumo do resultado do Processo pós-uso da moradia digna– ação Integrar Resumo do resultado do Processo pós-uso da moradia digna– ação Satisfazer 170 174 241 282 284 287 289 292 294 297 299 LISTA DE TABELAS – Apêndice 3 Tabela A.3.1 Tabela A.3.2 Tabela A.3.3 Tabela A.3.4 Tabela A.3.5 Tabela A.3.6 Tabela A.3.7 Tabela A.3.8 Tabela A.3.9 Tabela A.3.10 Tabela A.3.11 Tabela A.3.12 Tabela A.3.13 Tabela A.3.14 Tabela A.3.15 Tabela A.3.16 Tabela A.3.17 Tabela A.3.18 Tabela A.3.19 Tabela A.3.20 Processo da efetivação da moradia digna – Mutirão Celso Garcia Resumo do grau de concordância do mutirão Celso Garcia. Processo da efetivação da moradia digna Processo do pós uso – Mutirão Celso Garcia Resumo do grau de concordância do mutirão Celso Garcia no Processo do pós uso Processo da efetivação da moradia digna – Santa Cecília A Resumo do grau de concordância do Santa Cecília A no processo da efetivação da moradia digna Processo do pós uso – Santa Cecília A Resumo do grau de concordância do Santa Cecília A no Processo do pós uso Processo da efetivação da moradia digna – Bom Retiro C Resumo do grau de concordância doBom Retiro C no processo da efetivação da moradia digna Processo do pós uso – Bom Retiro C Resumo do grau de concordância do Bom Retiro C no Processo do pós uso Processo da efetivação da moradia digna – Pari E Resumo do grau de concordância do Pari E no processo da efetivação da moradia digna Processo do pós uso – Pari E Resumo do grau de concordância do Pari E no processo do pós uso Resultados do processo inicial da moradia digna - geral Resumo do grau de concordância no processo inicial da moradia digna Resultados do processo pós-uso da moradia digna geral Resumo do grau de concordância no processo pós-uso da moradia digna – geral 431 433 433 435 437 438 439 440 442 444 444 445 448 449 450 451 453 455 455 456 SUMÁRIO INTRODUÇÃO Capítulo 1. Moradia digna e participação social: o debate internacional 1.1 A crítica ao modelo funcionalista do Movimento Moderno e o papel da sociedade 1.2 Moradia digna e o direito à cidade 1.3 Experiências inovadoras no contexto da participação Capítulo 2. Projeto participativo em PORTUGAL: processo SAAL 2.1 Antecedentes 2.2 Linhas gerais da construção de uma política habitacional 2.3 Lançamento do Serviço de Apoio Ambulatório Local – SAAL 2.3.1 O projeto participativo: metodologia do SAAL 2.3.2 Os projetos 2.3.3 O desmonte 2.4 O legado do SAAL na política habitacional de Portugal e as influências na formaçãodas cooperativas habitacionais Capítulo 3. A comunidade, o arquiteto e a moradia digna: processo de projeto participativo e assessoria técnica no Brasil 3.1 Reforma Urbana e a luta pelo direito à cidade 3.2 Projetos participativos e origens das Assessorias Técnicas no Brasil 3.2.1 Rio de Janeiro: a experiência do Grupo Quadra e do NEPHU/UFF 3.2.2 Experiências em São Paulo: SASP e Laboratório de Habitação da Faculdade de Belas Artes 3.3 Projeto Participativo e Assessoria Técnica: conceitos 3.4 Participação social no processo de projeto participativo Capítulo 4. Habitação Social na área central de São Paulo 4.1 Breve contexto da área central e a questão habitacional 4.1.1 A expansão urbana 4.2 Razões para a habitação social na área central de São Paulo 4.3 Movimento social de moradia em São Paulo 4.4 Políticas públicas e o Programa de Produção de Habitação por Mutirão e Autogestão em São Paulo 4.5 Desdobramentos posteriores 4.5.1 Impasses e dificuldades para a produção de habitação social na área central 4.6 O apoio técnico na produção de habitação de interesse social na área central de São Paulo 33 47 51 62 65 72 75 80 100 102 107 108 112 118 121 128 129 137 143 150 153 155 162 168 176 181 186 190 192 Capítulo 5. Inventário da habitação social na área central de São Paulo (1990 a 2012) 5.1 O método da pesquisa 5.1.1 Inventário dos empreendimentos de habitação social 5.1.2 Pesquisa exploratória: o método de avaliação do grau de envolvimento e apropriação dos moradores nas fases do processo de projeto 5.2 Discussão dos Resultados 5.2.1 Os empreendimentos da área central 5.2.2 Análise dos resultados Capítulo 6. Estudos de caso 6.1 O método da escolha dos estudos de caso 6.2 A caracterização dos empreendimentos com as visitas e entrevistas 6.2.1 Os resultados da caracterização dos empreendimentos com as visitas e entrevistas com os representantes dos empreendimentos 6.3 Resultados da avaliação quanto a apropriação e envolvimento dos moradores no processo inicial e pós-uso da moradia digna dos quatro estudos de caso 6.3.1 Ação Mobilizar 6.3.2 Ação Viabilizar 6.3.3 Ação Projetar 6.3.4 Ação Construir 6.3.5 Ação Morar 6.3.6 Ação Qualificar 6.3.7 Ação Integrar 6.3.8 Ação Satisfazer 6.4 Resultados Gerais 6.4.1 A síntese do processo de viabilização e pós-uso da moradia digna CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS APÊNDICE 1 APÊNDICE 2 APÊNDICE 3 APÊNDICE 4 197 200 200 204 214 214 218 252 254 259 276 280 281 284 286 289 291 294 296 298 301 307 312 326 346 354 430 461 33 INTRODUÇÃO Esta pesquisa apresenta a trajetória do processo participativo na produção da habitação social na área central do município de São Paulo realizada pelo poder público, entre os anos de 1990 a 2012, e sua contribuição à conquista da moradia digna. O tema desta tese tem origem nas reflexões realizadas nos tempos de estudante de Arquitetura e Urbanismo na Pontifícia Universidade Católica Puc-Campinas (1990-1994), onde a autora era bolsista do programa PET (Capes)1 e participava das atividades do L’habitat2. A relação entre espaço urbano e produção habitacional foi objeto de questionamentos e de proposições que se refletiram na conclusão de curso de arquitetura e urbanismo no Trabalho de Graduação Interdisciplinar - TGI3 (1994) com tema de habitação social em área central. Naquele momento, a cidade São Paulo tinha vivido um período profícuo (gestão municipal de Luiza Erundina – 1989 a 1992) de construção de políticas públicas com programas e projetos de requalificação da área central com habitação social. 1 Programa de Educação Tutorial financiado pela Capes, que são grupos de estudantes de nível de graduação com a tutoria de um docente, cujo princípio é o trabalho integrado entre ensino, pesquisa e extensão. 2 Laboratório de habitação da PUCCAMP, cujas origens são de professores que participavam do LabHab da Belas Artes na década de 1980. 3 Trabalho de Graduação Interdisciplinar. A reflexão sobre a produção de habitação social em área central foi incorporada no projeto, cujo terreno era, e ainda é um vazio urbano localizado no centro expandido, antiga estação Guanabara de trem na cidade de Campinas. 34 A experiência profissional, primeiro como arquiteta na Companhia de Habitação - Cohab-Bandeirante em Campinas e depois como coordenadora do Grupo Técnico de Análise de Imóveis (GTAI) no Procentro na Sehab – PMSP4, por meio do programa Morar no Centro e após participar das experiências de requalificação do centro com habitação social, propiciou à autora contato direto com os movimentos sociais de moradia e as assessorias técnicas que reivindicavam, junto ao poder público, programas e soluções habitacionais na área central. Assim, a participação direta em vários processos de viabilização de habitação social em área central, desde estudos de viabilidade técnica à assinatura de contrato para obras com os agentes financeiros, contribuiu para reflexões a partir de experiência prática sobre o assunto5. Na sequência, realizou-se a dissertação de mestrado: “Gestão Condominial de Habitação de Interesse Social: estudo na área central de São Paulo”6 para entender como os empreendimentos efetivados pelo poder público se comportavam na gestão condominial. Entretanto, a partir dessa pesquisa realizada em 2008, novas questões e dúvidas foram levantadas. Sobretudo em relação ao processo de viabilização do empreendimento, nota-se diferenças entre eles: na gestão condominial e na manutenção das áreas comuns, nas relações de vizinhanças e na apropriação da moradia e dos espaços comuns. O ingresso no Doutorado permitiu aprofundar questões relacionadas ao conhecimento científico que auxiliou na reflexão sobre novas teorias e metodologias, e principalmente, sobre políticas públicas habitacionais. Neste contexto, insere-se o incentivo e aprendizado a escrever artigos científicos e a oportunidade de realizar um estágio em Portugal no âmbito 4 Procentro na Sehab – PMSP - Comissão da Coordenadoria de Programas de Reabilitação da Área Central na Secretaria Municipal de Habitação de São Paulo da Prefeitura Municipal de São Paulo, período de 2002 até 2005. 5 Atualmente a autora é membro do Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos e do Conselho Municipal de Habitação da Prefeitura de São Paulo. 6 Dissertação defendida em julho de 2008 no IPT sob orientação do Prof. Dr. Ricardo Sousa Moretti. 35 do Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior da Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (PDSE-CAPES) com acolhimento no Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) 7 em Lisboa no primeiro semestre de 2014. No decorrer desta pesquisa podese aferir o quão foi importante a troca de experiências entre Brasil e Portugal nas décadas de 1960 e 1970 na concepção de métodos participativos para habitação e urbanismo que refletiram na gestão da prefeita Luiza Erundina (1989-1992) em São Paulo, com o programa de mutirão e autogestão em integração com as assessorias técnicas. A atual pesquisa insere-se no contexto de intensa urbanização das cidades brasileiras, com ênfase no período entre os anos de 1990 e 2012, período este em que o atendimento às questões básicas como habitação se tornam cada vez mais evidentes. No entanto, é preciso considerar os antecedentes que propiciaram a ampliação da participação popular nas políticas públicas no contexto de democratização do Brasil pré e pós Constituição Federal de 1988. A experiência de projetos participativos na luta pela conquista da moradia digna surge em vários países na década de 1960. No Brasil destaca-se, nesta década, a primeira experiência de projeto participativo com a urbanização da Favela Brás de Pina, no Rio de Janeiro com o arquiteto Carlos Nelson Ferreira dos Santos. A urbanização acelerada das cidades brasileiras, principalmente aquelas localizadas na região sudeste, coloca em evidência um conjunto de problemas ligados à moradia e infraestrutura em áreas até então carentes de políticas públicas urbanas e habitacionais. Nesse cenário, é fundamental entender a trajetória de luta pela reforma urbana iniciada a partir da década de 1960, marcada pelo período em que os segmentos progressistas da sociedade reivindicavam reformas estruturais. O primeiro Seminário de Habitação e Reforma Urbana (SHRU), realizado em 1963, 7 Com supervisão do Prof. Dr. António Baptista Coelho. 36 pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) com apoio do IPASE (Instituto de Pensões e Aposentadoria dos Servidores do Estado) define o tema “O homem, sua casa, sua cidade” apresentado um diagnóstico da situação urbana e habitacional, propondo políticas públicas urbanas e habitacionais inovadoras para a ocasião. Com golpe militar de 1964 e o início da Didatura Militar (19641985), os movimentos sociais se veem com poucas alternativas, enquanto os problemas urbanos se acentuavam. Nas décadas seguintes, com a continuidade da expansão das cidades, principalmente nos grandes centros urbanos, assiste-se a precarização das periferias e redução populacional das áreas centrais. Em São Paulo, município objeto desta pesquisa, o acelerado processo de expansão urbana ocorrido a partir dos anos de 1950, fez com que houvesse uma expnsão ainda mais significativa das áreas periféricas desvinculadas da malha urbana e da vida urbana da cidade. Nas décadas de 1960 e 1970, associou-se a esse cenário um expressivo crescimento populacional na periferia e produção de massificados conjuntos habitacionais com baixa qualidade técnica, desarticulados de uma política de desenvolvimento urbano. Por outro lado, a autoconstrução, muitas vezes em loteamentos irregulares, clandestinos e favelas foi a situação encontrada pela população carente para a resolução provisória do problema habitacional. Bairros “dormitórios”, sem infraestrutura adequada, serviços e transporte público ineficiente refletiram na baixa qualidade de vida da população, que perdia (e ainda perde) muitas horas no deslocamento diário para trabalhar, estudar, ou para utilizar outros serviços que estão localizados nas áreas mais centrais da cidade. Enfim, parte de um círculo vicioso de degradação da qualidade de vida de uma população historicamente menos favorecida. Neste contexto, iniciam-se os primeiros movimentos sociais em busca da moradia digna, caracterizada pelo direito à habitação e à cidade 37 em sua amplitude, tal qual aponta Lefebvre (1968). Para Gohn (1991) e Kowarick (1994), o movimento social de moradia foi marcado, em sua origem, nas décadas de 1970 e 1980, no município de São Paulo, pelas lutas dos moradores que reivindicavam o acesso às melhorias urbanas, à moradia, incluindo a regularização de loteamentos e/ou mobilizando milhares de pessoas em ocupações de terras, nas áreas periféricas. Na região central, a luta foi pautada pelas reivindicações dos moradores de cortiços, contra as altas taxas de luz e água, contra os despejos sem aviso prévio, contra os abusos dos intermediários e pelo direito de permanência em regiões dotadas de infraestrutura e trabalho. A retomada dos ideais da Reforma Urbana aconteceu com maior força somente em 1985, após a redemocratização do país a partir do final da ditadura militar, quando diversos atores se articulam, incluindo a sociedade civil organizada em movimentos sociais e entidades, apresentando no Congresso Nacional, em 1987, uma emenda de iniciativa popular com propostas inovadoras de política urbana, fundiária e habitacional, incorporadas à nova Constituição Federal, aprovada em outubro de 1988. Entre os avanços e inovações da Constituição Federal de 1988, destacam-se: o artigo 23 que estabelece a responsabilidade de competência comum da União, dos Estados e dos Municípios para promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico, e os artigos 182 e 183, que define os princípios da política urbana, o plano diretor como o principal instrumento de desenvolvimento urbano e a função social da propriedade e da cidade. O Fórum Nacional da Reforma Urbana (FNRU) forma-se após a Constituição Federal de 1988 com objetivo de regulamentar o principal Capítulo da Política Urbana; no entanto somente treze anos depois é aprovada a Lei Federal No. 10.257 de 10 de julho de 2001, conhecida 38 como Estatuto da Cidade, que viabiliza instrumentos urbanísticos aos municípios para implementação dos princípios da política urbana. Em São Paulo por iniciativa do poder público municipal, durante a gestão da prefeita Luiza Erundina (Partido dos Trabalhadores, 19891992), foram criados programas e projetos de habitação de interesse social na área central, com recursos do Fundo Municipal (criado a partir da Constituição Federal de 1988), promovendo a integração entre a moradia digna e a infraestrutura preexistente. Com destaque à participação social no processo inserem-se a autogestão, os mutirões, os projetos participativos com os arquitetos e assessorias técnicas, entre outros. Vale destacar que a experiência que se inicia em São Paulo neste período ocorre dentro de um amplo debate internacional que tem origem nas décadas de 1960 e 1970 na Europa e nos Estados Unidos em oposição aos princípios modernistas então vigentes. Datam daquele momento experiências de projetos de habitação social desenvolvidos de forma participativa com autogestão como os exemplos dos arquitetos Hassan Fathy (Egito, 1973), Christopher Alexander (Estados Unidos, 1966), John Turner (Perú, 1968), Nuno Portas (Portugal, 1974) e a própria experiência brasileira do arquiteto Carlos Nelson Ferreira dos Santos. As assessorias técnicas (grupos de técnicos, formados principalmente por arquitetos e estudantes) são formadas a partir destas experiências e dos cursos de arquitetura como do LabHab8 da Belas Artes que desenvolveu vários projetos entre professores e estudantes em comunidades carentes de moradia (entre 1982 a 1985). Os movimentos sociais de moradia se fortalecem com a experiência promovida pela municipalidade, e ganham capacidade de articulação, bem como no aprendizado técnico a partir da vivência com as assessorias 8 Laboratório de Habitação. 39 técnicas que além do suporte técnico de projeto ensinavam o trabalho social às famílias. Entre os anos de 1993 e 2000, a participação social em projetos de habitação social é deixada em segundo plano (Gestão Paulo Maluf, 1993 1996 e Celso Pitta, 1997-2000), sendo retomada com maior envergadura durante a gestão da prefeita Marta Suplicy (2001-2004). Entre os anos de 1990 e 2012, recorte temporal desta pesquisa, foram construídos 38 empreendimentos de habitação de interesse social localizados nos distritos centrais: Sé, República, Santa Cecília, Liberdade, Bom Retiro, Cambuci, Consolação, Bela Vista, Pari, Brás, Belém, Mooca, Lapa, Barra Funda e Ipiranga. Este é o universo que será analisado nesta pesquisa. Atualmente, no município de São Paulo com seus 11.253.503 habitantes, conforme dados do Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a questão habitacional representa um dos mais graves problemas sociais. Conforme dados da Prefeitura Municipal de São Paulo são três milhões de habitantes vivendo em assentamentos precários9. Os distritos centrais do município de São Paulo abrigam 477.670 habitantes. Desde os anos de 1980, conforme dados do Censo do IBGE de 2010, vinham apresentando expressiva redução populacional: o Censo de 1991 registrou perda populacional de -13,2% em relação a 1980, e em 2000, -19,7% em relação a 1991. No entanto, na década de 2010, observa-se um aumento populacional de 15%, em relação a 2000. Ainda que historicamente a área central sempre tenha sido local de moradia, uma parcela da população, principalmente a de baixa renda, responde às necessidades habitacionais recorrendo a várias formas 9 Conforme apresentação do Secretário da Habitação em agosto de 2014, ao Conselho Municipal de Habitação, onde a autora é Conselheira representando as Universidades. 40 precárias de moradia na área central, entre elas, os cortiços, as ocupações ilegais em imóveis vazios, as favelas e, muitas vezes, a própria rua (KOHARA, 2013 e BARBOSA, 2014). Por outro lado, o Censo do IBGE de 2010 contabilizou 290 mil imóveis vazios no município de São Paulo, com inúmeros prédios inteiramente desabitados e sem uso, indo na contramão dos princípios que delineiam o Estatuto da Cidade, principalmente a função social da propriedade e da cidade10. A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 e a Constituição Federal Brasileira de 1988 estabelecem que o direito à moradia digna deva ser promovido como bem de primeira necessidade. Tal direito está na base das principais reivindicações dos movimentos sociais de moradia que atuam de forma coletiva. A luta dos movimentos sociais de moradia, que atuam na área central de São Paulo, insere-se no âmbito de promoção de programas de requalificação urbana que tem como pressuposto a inserção da moradia em regiões dotadas de infraestrutura, próximas dos serviços e dos locais de trabalho. No contexto, os movimentos sociais reivindicam principalmente projetos participativos e autogestão com o auxílio de assessorias técnicas, ou seja, grupos de profissionais, entre eles arquitetos e urbanistas, que os orientam e dão suporte em diversas fases do processo de conquista da moradia digna. A partir deste cenário, algumas perguntas norteiam esta pesquisa: Quantos empreendimentos de habitação social foram construídos entre os anos de 1990 e 2012 na área central de São Paulo? Quais destes empreendimentos contaram com o envolvimento direto dos movimentos de moradia? Quantos e quais contaram com o apoio da assessoria técnica? Quais são as etapas do processo de viabilização de um projeto de habitação social realizado de forma participativa? Os movimentos 10 Compete aos municípios delimitar áreas e/ou imóveis na cidade com infraestrutura adequada para viabilizar programas de habitação social. Contudo, ainda hoje, são poucas as experiências de aplicação dos instrumentos definidos nessa lei, nas cidades brasileiras. 41 sociais de moradia acompanham todas as etapas? Os moradores quando participam das etapas se envolvem e se apropriam da moradia? E os projetos que não são realizados de forma participativa? O processo de mobilização realizada por movimentos sociais com a população que mora de forma precária, é importante para conscientização sobre seus direitos e deveres na conquista da moradia digna? O aprendizado é refletido no pós morar, na convivência com as famílias? Tais perguntas motivaram a realização deste estudo com o objetivo de contribuir com importância do Processo de Projeto Participativo na formulação de política pública habitacional. Indo ao encontro da afirmação de Lauwe (1960): a participação da população em todo o processo é a forma mais direta de promover a apropriação e envolvimento dos moradores na habitação social. O objetivo geral desta pesquisa é analisar os processos de viabilização de habitação social para área central de São Paulo e a participação popular nos processos de produção tendo em vista contribuir para futuros programas habitacionais. A partir do estudo da produção de habitação social na área central de São Paulo, promovido com recursos do poder público, no período de 1990 a 2012, têm-se os objetivos específicos: Discutir o papel das assessorias técnicas e dos movimentos de moradia na produção do espaço da área central da cidade de São Paulo. Sistematizar e mapear os programas e projetos de habitação social da área central de São Paulo, destacando os que tiveram processos participativos. Estabelecer um método de análise, procurando verificar o processo de apropriação e envolvimento dos moradores. 42 A concretização dos programas habitacionais na área central é realizada a partir da pressão dos movimentos de moradia por políticas públicas com apoio técnico das assessorias técnicas na conquista do direito à cidade. Tem-se como pressuposto que os programas e projetos promovidos com a participação dos diferentes atores no processo de viabilização do empreendimento asseguram diferencial qualitativo, em relação: A conscientização das restrições de tamanho das unidades habitacionais em função das dificuldades da produção em área central. A integração das famílias a partir da participação na mobilização até a conquista da moradia digna e no pós morar. A apropriação do empreendimento e da moradia. Os vínculos que são traduzidos nas relações de vizinha. No sentido de pertencimento em função da melhora da autoestima, quando o morador sente parte do lugar que ajudou a conquistar. Na responsabilidade pelo empreendimento que busca a manutenção e melhoria na gestão condominial. A hipótese central desta pesquisa é a seguinte: Os processos de viabilização de projetos de habitação social na área central de São Paulo realizados de forma participativa, com suporte de assessoria técnica, entre os anos de 1990 e 2012, propiciam um maior envolvimento e 43 apropriação pelos moradores do que os projetos desenvolvidos de forma tradicional, pelo poder público, sem a participação social. A partir da hipótese principal, pretende-se defender a seguinte Tese: Os programas e projetos habitacionais para a área central de São Paulo, desenvolvidos pelo poder público, entre os anos de 1990 e 2012, que incorporaram o processo participativo, de forma tripartite poder público, assessoria técnica e moradores - em suas diferentes fases, desde a mobilização social, passando pela concepção do projeto ao pós uso dos empreendimentos, contribuíram para maior apropriação pelos moradores e consequente conquista da moradia digna. A metodologia utilizada na pesquisa percorreu várias etapas interligadas para a produção do conhecimento. Inicialmente, na primeira etapa, a pesquisa apresenta a revisão bibliográfica dos principais conceitos e autores que conformam o quadro referencial teórico da pesquisa, com ênfase no entendimento dos princípios de processo de projeto participativo e sua interface com experiências de assessorias técnicas. O estágio no LNEC, em Lisboa, no âmbito do PDSE-Capes, propiciou o contato com a experiência portuguesa e com diversos autores fundamentais para entender o debate internacional sobre habitação social e projeto participativo que influenciou o Brasil a partir dos anos de 1990. Pesquisa bibliográfica e documental foram fundamentais para completar o quadro referencial que relata as origens das assessorias técnicas no Brasil. Com base em pesquisa documental, junto aos arquivos de órgãos públicos, na segunda etapa, realizou-se um inventário de todos os empreendimentos de habitação social, construídos na área central de São Paulo, entre 1990 e 2012. O inventário é derivado de uma ampla pesquisa de campo que apresenta em forma de fichas a organização inédita dos vários empreendimentos construídos na área central, além de mapas que espacializam dados importantes dos empreendimentos. 44 A partir do inventário, na segunda fase, realizou-se uma pesquisa exploratória qualitativa que teve como propósito mensurar o grau de envolvimento e apropriação dos moradores dos empreendimentos de habitação social localizados na área central de São Paulo, cujos projetos são realizados de duas formas: com ou sem a participação dos futuros moradores. Na etapa final, a partir da definição de 04 estudos de casos (02 empreendimentos com projeto participativo e assessoria técnica e 02 empreendimentos sem participação), buscou-se aprofundar a avaliação por meio de um conjunto de entrevistas com os principais atores envolvidos na gestão dos empreendimentos. A pesquisa qualitativa com um número reduzido de moradores de diversos empreendimentos busca compreender o grau de apropriação em duas fases do processo de realização do empreendimento: fase inicial e pós-uso. Esta fase foi fundamental para o entendimento da importância do envolvimento dos moradores no processo de projeto participativo na conquista da moradia digna na área central de São Paulo. A partir dos conhecimentos adquiridos, buscou-se verificar a coerência das hipóteses e comprovação da tese. A metodologia que orientou cada etapa encontra-se detalhada nos respectivos capítulos. A tese está estruturada em introdução, seis capítulos, considerações finais, referências bibliográficas e apêndices. O capítulo 1 apresenta a questão da moradia digna e a participação social no debate internacional, a partir das críticas dos postulados universais do Movimento Moderno em relação à produção em série. Relata também algumas experiências práticas realizadas, entre os anos de 1960 e 1980, que valorizam o contexto local e a participação da população no desenvolvimento de projetos realizados de forma participativa. 45 No capítulo 2, com a oportunidade do estágio de doutorado sanduíche (PDSE-Capes), aprofundou-se o entendimento de uma experiência internacional de projeto participativo. Sintetiza-se o processo Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL) de Portugal com seus aspectos singulares de participação ativa das populações nas políticas públicas urbanas e habitacionais e da democratização da arquitetura, ocorrida no período da transição política no pós 25 de abril de 1974, com o retorno da democracia. O capitulo 3 enfoca o processo de projeto participativo e a origem da assessoria técnica. A breve contextualização da luta pela Reforma Urbana no Brasil e o papel dos movimentos sociais na conquista do direito à cidade e a habitação é parte inicial do capitulo. Resgatam-se as experiências práticas dos primeiros projetos participativos com assessorias técnicas registrados no Brasil entre os anos de 1960 e 1980. Por fim, busca-se definir o que é projeto participativo e a importância da assessoria técnica no processo. A questão da habitação social na área central de São Paulo a partir do breve contexto histórico da cidade e a expansão urbana periférica é tratada sinteticamente no capítulo 4. Para tanto, indicam-se as razões para a viabilização de habitação social, destacando os impasses e as dificuldades para a produção, o histórico do movimento social de moradia e das políticas públicas para a área central. Por fim, a importância do apoio técnico nos estudos de viabilidade técnica para projetos de habitação social de forma participativa. O capítulo 5 tem como objetivo apresentar o inventário dos empreendimentos de habitação social, construídos com recursos do poder público para a área central de São Paulo, no período 1990 a 2012, bem como a pesquisa exploratória qualitativa que busca entender o grau de envolvimento geral e apropriação dos moradores destes empreendimentos nas diversas fases que envolvem o processo de projeto. 46 Os estudos de caso são apresentados no capítulo 6 com o objetivo aprofundar o entendimento do processo de viabilização de projeto, realizado de forma participativa e o grau de envolvimento dos moradores e a sua apropriação, nas diversas fases que envolvem o processo, a partir da primeira aproximação com os empreendimentos que foram apresentados no capítulo 5. Salienta-se que não é intenção desta pesquisa discorrer em detalhes sobre o método de projeto participativo adotado por cada equipe e, sim discutir em que medida o envolvimento dos futuros moradores do empreendimento foi determinante ou não para sua apropriação e, consequente, conquista da moradia digna no decorrer do processo de projeto que pressupõe distintas fases: da concepção ao pós-uso do empreendimento. 47 48 Capítulo 1. Moradia Digna e participação social: o debate internacional A participação social no processo de produção da cidade é um debate recente. Os projetos de arquitetura e urbanismo, muitas vezes, ficam distantes dos problemas reais que a cidade e a sociedade enfrentam. De certa forma, na atualidade, o processo participativo tem sido apresentado como uma forma de enfrentar a dimensão social e política dos projetos de interesse coletivo, onde necessidades dos futuros usuários devem ser a opinião e as atendidas com a finalidade de garantir a melhor apropriação do empreendimento e dos espaços urbanos e coletivos da cidade. Durante as décadas de 1960 e 1970, diversos debates e estudos foram publicados ressaltando a importância da participação da sociedade no contexto dos problemas decorrentes da intensa urbanização das cidades ocorridas no pós Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e principalmente, em relação à habitação. Tais estudos se contrapunham aos princípios advindos do Urbanismo Moderno, amplamente difundido no período anterior, principalmente entre os anos de 1920 e 1950. Estes foram pioneiros e influenciou de certa forma, a definição de 49 procedimentos de trabalho que hoje constituem a base do processo de projeto participativo de habitação de interesse social, tema desta tese. O objetivo deste capítulo é apresentar, no âmbito do debate internacional ocorrido no período entre 1950 e 1970, inquietações e proposições de estudiosos que repensaram a cidade e a habitação num contexto emergente de urbanização e degradação socioambiental das cidades, formulando importantes críticas aos postulados “universais” do Movimento Moderno. No contexto desta pesquisa, as criticas em geral se voltam para a ausência de participação da sociedade na produção da arquitetura, com destaque à predominância da produção da habitação em série. Como importante contribuição, sintetiza-se o pensamento de alguns arquitetos que foram responsáveis por experiências pioneiras de projeto de habitação social que valorizam o contexto local e a participação da população, no âmbito da produção do empreendimento. No primeiro item, sintetizam-se os conceitos do Team X, grupo de arquitetos que resgata, na cidade tradicional, o sentido de comunidade e identidade, as relações entre moradia e espaços coletivos, valorizam o contexto urbano e a participação dos habitantes na construção do ideário de vida, com exemplos de projetos experimentais do casal de arquitetos Smithson e do arquiteto Giancarlo de Carlo ou mesmo nos postulados desenvolvidos pelo advogado Charles Abrams (Estados Unidos) que foi um estudioso dos problemas mundiais de urbanização e da realidade habitacional dos países menos desenvolvidos. Na sequência, apresenta-se o pensamento de importantes arquitetos que incorporaram de forma inovadora, no mesmo período, a participação da população no processo de projeto e produção de habitação. Sem pretender aprofundar as diversas formas e etapas de projeto "participativo" destes arquitetos, busca-se apenas contextualizar alguns princípios que orientaram as suas ações na produção da habitação social de baixa renda com envolvimento da população. São 50 eles: Hassan Fathy (Egito), Christopher Alexander (Áustria) e John Turner (Inglaterra). Acredita-se que os trabalhos destes arquitetos destacam-se como experiências pioneiras no contexto mundial de participação da comunidade no projeto e na produção de habitação social. 51 1.1 A crítica ao modelo funcionalista do Movimento Moderno e o papel da sociedade O Movimento Moderno emerge, nas primeiras décadas do século XX, de um contexto de crise urbana advindo da Revolução Industrial1 e do acelerado processo de urbanização das cidades, que tem forte repercussão nas condições de habitação. Abascal, Bruna e Alvim (2007) enfatizam que os efeitos advindos do modelo de consolidação da sociedade urbano-industrial e do progresso técnico-científico daquele período, ampliam o crescimento demográfico, a degradação das condições de habitação da população operária, a precarização das condições ambientais e estéticas, entre outros, potencializando a necessidade de implementar uma ação transformadora de modernização das cidades. Para as autoras a modernização das cidades associada ao então capital industrial ascendente, constitui a principal referência da transformação urbanística. Por essa ocasião, emergem importantes estudiosos, principalmente arquitetos, que irão propor soluções combinando métodos da industrialização da construção com elementos pré-fabricados, linguagem arquitetônica racionalizada e funcional. São elementos que elevaram a capacidade de produção em massa de habitação a partir da padronização em toda Europa, principalmente no segundo pós-guerra. Os Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna (CIAM) surgiram a partir das preocupações dos arquitetos em unir as estratégias das questões técnicas e estéticas – a ideia de purificar a nova arquitetura - entre arquitetura e planejamento urbano para um programa de transformação social. Segundo Frampton (1997), a primeira edição foi 1 Conjunto de mudanças (transformação econômica, tecnológica, política e social) iniciadas na Inglaterra em meados do século XVIII, a partir da substituição do trabalho artesanal para o uso das máquinas, contribuindo para a consolidação do capitalismo. 52 realizada em 1928, cuja temática relaciona-se com a definição do que seria uma unidade mínima de habitação, a busca por modelos novos, a racionalização da construção em série e a reestruturação do espaço urbano. Conforme Frampton (1997), os congressos dividiram-se em três temas: de 1928 a 1933 predominaram os assuntos sobre habitação mínima – padrões mínimos de vida; de 1933 a 1947, sobre urbanismo e racionalismo – formuladas na Carta de Atenas2; e de 1947 a 1959, sobre a revisão do ideário racionalista. Entre as diversas correntes que caracterizam o Movimento Moderno, pode-se dizer que a principal delas é a progressista. Seus arquitetos mais representativos elaboraram em 1933, no III Congresso Internacional de Arquitetura Moderna – CIAM (a principal referência do movimento), a então denominada Carta de Atenas, em que enunciam suas ideias de forma doutrinária. No mencionado documento prega-se a oposição entre a cidade tradicional, caracterizada pela mescla e indiferenciação dos usos do espaço urbano e por seus problemas de salubridade, higiene, altas densidades, fábricas e habitações competindo no mesmo espaço, e a cidade moderna, compreendida como racional e funcional, devendo se reger pela separação de usos e funções (ABASCAL, BRUNA e ALVIM, 2007). Reunindo os princípios urbanísticos básicos do Movimento Moderno, a Carta de Atenas destaca-se pela sistematização dos quatro pontos estruturadores de um traçado racional para a cidade: habitação, trabalho, lazer e circulação. O Urbanismo Moderno, amplamente disseminado pela Carta de Atenas, preconiza planejar e construir as cidades através dos 2 Documento emblemático que foi discutido a bordo do cruzeiro SS Paris II, no IV CIAM, na Grécia. Fundamentava uma genérica Cidade Funcional que orienta o urbanismo na sociedade, dividida por quatro ações: trabalhar, morar, circular e lazer. O texto foi assinado por vários urbanistas internacionais entre eles, em destaque, Le Corbusier. 53 diferentes usos, das distintas funções urbanas, localizadas em espaços setorizados3. Busca-se uma profunda transformação cultural capaz de contestar a divisão do trabalho, suas instituições, hábitos e interesses consolidados. Na verdade, a questão em foco não é apenas o melhor funcionamento urbano, mas uma cidade que seja capaz de prover a todos e reparta com equidade os benefícios dos possíveis melhoramentos. Nesse sentido, o urbanismo moderno aparece como um instrumento que oferece uma solução formal ou figurativa à organização espacial da cidade e que incide em sua estruturação social, propondo – do ponto de vista puramente teórico, formas de convivência que tratam de evitar os males da sociedade industrial (HALL, 2002). Frampton (1997) ressalta a dificuldade teórica do CIAM em relação aos verdadeiros problemas das cidades, salientando que o rompimento a ideias funcionalistas de Arquitetura e Urbanismo, difundidas pelo Movimento Moderno aconteceu somente em 1953, no âmbito do IX CIAM. Naquela ocasião, um grupo de jovens arquitetos pesquisou o tema do que seria o próximo encontro do CIAM. Neste sentido, resgataram princípios estruturais do desenvolvimento urbano e da unidade da célula familiar, destacando a necessidade de sensibilidade à identidade em relação ao modelo do núcleo urbano. 33 Le Corbusier, o mais significativo arquiteto moderno da corrente progressista, afirma que cada função urbana deve corresponder a um espaço distinto, defendendo a cidade segregada segundo seus usos e funções urbanas, caracterizada pela estrita separação entre habitar e trabalhar conectados pela função circular. As ideias de Le Corbusier visam a um único propósito: resolver a iminente crise habitacional e de circulação nas grandes cidades. Em seu entender o arquiteto deve priorizar um modo de alojar as pessoas de maneira decente e humana, e isso só seria possível mediante a produção industrial, a padronização e o urbanismo racional. 54 O homem pode identificar-se de imediato com o seu próprio lar, mas não se identifica facilmente com a cidade em que este está situado. “Pertencer” é uma necessidade emocional básica – suas associações são da ordem mais simples. Do “pertencer” – identidade – provém o sentido enriquecedor da urbanidade. A ruazinha estreita da favela funciona muito bem exatamente onde fracassa com frequência o redesenvolvimento espaçoso (SMITHSON et al (1953) apud FRAMPTON (1997) p. 330). O CIAM X formula importante crítica à visão ortodoxa da Carta de Atenas em 1956, em Dubrovnik. Neste momento, o grupo denominado Team X, formado pelos arquitetos Alison e Peter Simthson, Aldo van Eyck, Giancarlo de Carlo, entre outros reivindicaram novas soluções para o habitat, valorizando a identidade, o gosto e as necessidades das pessoas, e a procura de um novo humanismo. Neste sentido partem para experimentações individuais (FRAMPTON, 1997). As críticas aos postulados universais impostos pelo Movimento Moderno, a partir do urbanismo praticado e a padronização da arquitetura, são efetivadas por vários intelectuais, entre eles o grupo de arquitetos do Team X na década de 1950 e pensadores nas décadas de 1960 e 1970, que resgataram os conceitos da cidade tradicional. Barone e Dobry (2004) salientam que o Team X defende o entendimento das relações entre a arquitetura e o urbanismo, através da interação do usuário com o lugar. Para eles, morar era mais que possuir uma casa, era pertencer a um lugar, apropriar-se do lugar como parte da cidade. Apreender o lugar e pertencer era entendido como uma necessidade básica emocional. Para de Carlo, foi pelos procedimentos de projeto participativo que se desvendou uma possibilidade de resposta, para um entendimento adequado dessas relações (BARONE e DOBRY, 2004, p.19). São apresentados projetos desenvolvidos com a participação social e que valorizam o contexto local, respeitando as preexistências. 55 O casal de arquitetos ingleses Alison e Peter Smithson desenvolveu experiências a partir de uma nova linguagem de arquitetura, entre elas as ideias conceituais do concurso de 1952 Golden Lane Housing na figura 1.1 e o complexo conjunto habitacional Robin Hood Gardens de 1966-1972 nas figuras 1.2 e 1.3, a seguir: Figura 1.1: Proposta de Alison e Peter Smithson - Golden Lane HousingFonte: arqred. Disponível em http://www.arqred.mx/blog/2009/09/05/inner-circle-alison-and-petersmithson-works/golden-lane-comptetiton/. Acesso em out. de 2014. O concurso previa a reconstrução no local das ruínas, na cidade de Londres do pós-guerra. A figura 1.1 representa os desenhos de Golden Lane Housing que é uma crítica à Vila Radiosa4 e as funções da cidade funcional - trabalhar, morar, circular e lazer - como define Frampton (1997), opondo-se em categorias mais fenomenológicas5 de Casa (unidade familiar), Rua (sistema de acesso de galerias unilaterais, elevado do ar), Bairro e Cidade (eram vistos como domínio variável, fora dos limites de definição física). O plano do casal traduz uma nova forma urbana que reúne altas densidades, propondo as ruas no ar, ligando aglomerados de unidades habitacionais, pois acreditavam que a circulação de pedestres nas ruas elevadas criaria o sentido de comunidade e humanidade nas relações de vizinhanças. A seguir na figura 1.2 e 1.3 o complexo conjunto habitacional Robin Hood Gardens. 4 Le Corbusier em 1930 – projeto de uma cidade elevada acima da superfície com um parque contínuo que faz oposição ao conceito de rua tradicional, orientado por uma ideologia da velocidade, essencial para uma cidade de sucesso. 5 Esses conceitos são trabalhados também com Carlos Nelson Ferreira dos Santos, que se apresenta no capítulo 3. 56 Figura 1.2: Robin Hood Gardens Fonte: architrik. Disponível em: http://www.architrik.com/ROBIN-HOOD-GARDENSUrban-injection. Acesso em out. de 2014. Figura 1.3: Proposta Robin Hood Gardens Fonte: architrik. Disponível em: http://www.architrik.com/ROBIN-HOOD-GARDENSUrban-injection. Acesso em out. de 2014 Conforme Frampton (1997), no emblemático conjunto habitacional Robin Hood Garden em Londres, representados nas figuras 1.2 e 1.3, o desenho de implantação dos dois edifícios estão situados nas laterais do terreno, gerando no centro uma praça. A cada três pavimentos existem as ruas elevadas largas para o espaço do convívio e lazer dos moradores, cujo conceito tinha como objetivo incentivar os moradores nas relações de vizinhança e valorizar o sentimento de pertencimento, semelhantes do Golden Lane Housing destacado anteriormente. conceitos 57 O arquiteto italiano Giancarlo de Carlo vai pelo caminho da valorização do contexto urbano e da participação dos habitantes na construção do novo ideário de vida. Molina (2012) destaca que a experiência do complexo residencial para os trabalhadores de uma empresa de aço em Terni, no norte de Roma, o Villagio Matteotti, entre 1968-1975, coloca em prática os processos participativos, realizados a partir de entrevistas e reuniões para entender as necessidades dos futuros moradores no sindicato local. Solo por medio de la consulta a los habitantes se podría superar la alienante cuestión de tratar a la población más como objetos de trabajo que como organismos sociales y personales complejos y dignos de ser incorporados al proceso edificatorio. (MOLINA, 2012) Barone e Dobry (2004) descrevem o método utilizado por Giancarlo de Carlo, o arquiteto fez a proposição de cinco soluções para o Villagio Matteotti: a primeira era manter a estrutura do bairro, reformando as antigas edificações e os serviços coletivos; a segunda substituir o existente por torres residenciais; a terceira substituir por edifícios lineares alongados; a quarta e a quinta propostas mais complexas, sobrepondo os usos residenciais ao de serviços e uso comum com os fluxos de pedestres. Assim, iniciou-se a discussão no sindicato da fábrica e elegeu-se a solução mais complexa que destacavam as inter-relações espaciais do bairro e os pedestres. Posteriormente, foram apresentados aos moradores projetos residenciais de outros países (não necessariamente de baixo custo), com o objetivo de ampliar o repertório de discussão e favorecer conexão com os problemas econômicos da construção civil e políticos. [...] Essa passagem é amplamente defendida por Giancarlo de Carlo, que entende o projeto participativo como um veículo de educação e cultura (BARONE e DOBRY, 2004, P.28). 58 As figuras 1.4 e 1.5 ilustram o projeto de implantação e as circulações que permeiam o conjunto. Figura 1.4: Implantação do Villaggio Matteotti, Terni, 1968-1974. Fonte: Laciudadviva e G. Basilico. Disponível em: http://www.laciudadviva.org/blogs/?p=13907. Acesso em out. de 2014. Figura 1.5: Villaggio Matteotti, 1970 e as circulações internas. Fonte: Matteo Brancali e Laciudadviva. Disponível em: http://www.laciudadviva.org/blogs/?p=13907. Acesso em out. de 2014. 59 O projeto para o Villagio Matteotti resultou no conjunto habitacional com ampla qualidade técnica e diversidade plástica com 15 tipologias diferentes. A estruturação dos espaços coletivos foi tratada como um conjunto de camadas, a organização é realizada a partir da circulação de pedestres em nível e em passarelas, que são segregadas da circulação dos veículos, permitindo o acesso as tipologias diferentes térreas ou elevadas. A entrada principal é rodeada por grande área verde livre. Funciona com sistema de cooperativa com lojas, creche e centro social, cujos equipamentos servem também para o bairro inteiro (FRAMPTON, 1997). Os moradores se apropriaram dos espaços livres, conforme as figuras 1.4 e 1.5. Segundo Mancosu (2013)6 70% dos moradores são os originais ou são herdeiros diretos. As experiências e reflexões do Team X foram buscar na cidade tradicional o sentido de comunidade e identidade, as relações mais imediatas entre o núcleo familiar e o grupo social, as relações entre a moradia e os espaços coletivos. As referências individuais do Team X devem ser contextualizadas no âmbito da arquitetura construída, por este motivo as referências dos Smithsons e de Giancarlo de Carlo são apresentadas para indicar a nova linguagem de arquitetura. Segundo Frampton (1997), tirando as experiências anteriores, o legado do Team X é a força de sua crítica cultural conceitual através de utopias. Na França em maio de 1968, acontece a greve geral do país. Iniciada por estudantes que reivindicavam reformas no setor educacional, posteriormente cresce quando trabalhadores e a população em geral aderem ao movimento. Neste momento, a arquitetura e a cidade no meio estudantil estão no auge da crise, havia uma crítica à forma de ensinar 7 na França - a prática estava desligada do contexto real e dos problemas 6 MANCUSO, Francesca. Terni, villaggio Matteotti: un quartiere come lezione di storia e di architettura. Umbria 24, 18 de abr. de 2013. Disponível em: http://www.umbria24.it/ternivillaggio-matteotti-un-quartiere-come-lezione-di-storia-e-di-architettura/166084.html. Acesso em out. de 2014. 7 No Brasil, Carlos Nelson Ferreira dos Santos destaca a mesma crise no curso de arquitetura e urbanismo da UFRJ que realizava na década de 1960. 60 sociais das cidades – desta forma, alguns estudantes e professores explicitam a crítica na revista Melp! da escola de Belas Artes de Paris (BANDEIRINHA, 2007). A população passa por processos de gentrificação8 com as renovações urbanas dos centros das cidades no sentido higienista e passam a morar na periferia nos grandes conjuntos habitacionais ou nas chamadas bidonvilles (favelas). As lutas também são vinculadas por melhores condições de vida. Bandeirinha (1997) ressalta que os arquitetos e estudantes militantes partiram para as lutas urbanas procurando junto aos movimentos contestatórios um novo significado para a sua profissão, uma nova motivação para o exercício da arquitetura. Na década de 1960, Charles Abrams estudioso da questão fundiária nos Estados Unidos, foi convidado pelo Setor de Alojamento, Construção e Planejamento das Nações Unidas para desenvolver um levantamento da política e dos problemas das terras urbanas no mundo. Em 1964, publicou o livro “Habitação, Desenvolvimento e Urbanização” com as conclusões dos relatórios de suas pesquisas, destacando sobre os problemas mundiais de urbanização e da realidade habitacional em muitos países pobres, outros aspectos importantes como o processo de desenvolvimento. Um livro a respeito de moradias deve ser também um livro a respeito de cidades, e um livro sôbre moradias e cidades deve tratar igualmente das implicações do problema das terras urbanas. Moradia não é somente abrigo, pois faz parte da estrutura da vida do bairro e de todo o ambiente social; e também atinge muitas facetas relativas à industrialização, atividade econômica e desenvolvimento (ABRAMS, 1967, p. 6). 8 Conforme Bidou-zachariasen (2003) o termo original gentrification foi utilizado à primeira vez em 1963, por Ruth Glass para um processo de povoamento de bairros desvalorizados do centro de Londres por famílias de classe média. Para Frugolí Jr (2000) são políticas de renovação e requalificação urbana que modificam as classes sociais das áreas centrais, trazendo de volta as classes sociais mais altas e consequentemente, resulta na expulsão das classes mais pobres. 61 Desenvolveu uma crítica aos manifestos funcionalistas e aos postulados universais do Movimento Moderno. Defendia a atuação profissional dos arquitetos no contexto, aproveitando recursos, materiais e técnicas construtivas do local com ajuda mútua entre moradores e apoio técnico. Em relação à dinâmica urbana, foi pioneiro em relação à tributação de terras ociosas, acreditava nas centralidades espontâneas, na evolução econômica da população sem financiamento externo e na progressiva melhoria das condições de vida. Propõe programas habitacionais concretos nos países subdesenvolvidos. Em relação à arquitetura, tinha um posicionamento crítico ao ensino, à alienação sobre os problemas reais e à inaptidão do arquiteto para outras competências, para além do desenho. Outras reflexões foram importantes para discutir os problemas advindos da intensa urbanização das cidades pós Segunda Guerra Mundial, muitas delas se confrontando com os princípios do movimento moderno considerados para muitos como um instrumento que oferecia uma solução formal ou figurativa à organização espacial da cidade, sem reconhecer que as preexistências sócio espaciais eram determinantes para uma cidade justa. Neste contexto, a moradia digna e o direito à cidade são conceitos que emergem e ganham destaque internacionais e nos estudos da sociologia urbana. nos eventos 62 1.2 Moradia digna e o direito à cidade. O direito à habitação como bem de primeira necessidade foi efetivado na Declaração Universal dos Direitos Humanos que define os direitos humanos básicos e é adotado pela Organização das Nações Unidas desde dezembro de 1948. A crescente urbanização a partir de 1960 nos grandes centros, e consequentemente, a degradação da qualidade de vida, colocam em destaque questões relacionadas à moradia, saneamento básico, infraestrutura e meio ambiente. As Conferências e os fóruns UN-Habitat discutem as preocupações com a questão urbana frente à precariedade dos assentamentos humanos, seus problemas urbanos e ao crescimento da pobreza. Enfatiza o papel do Estado na gestão urbana e nos processos de participação e inclusão social (ANTONUCCI et al, 2009). As autoras destacam que as conferências do UN-Habitat – Vancouver (1976) e Istambul (1996) – os Fóruns Urbanos Mundiais, apresentam um panorama da análise da urbanização e interrogam os limites da mediação institucional sobre processos sociais e econômicos. O Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (UN-Habitat)9, agência da ONU (Organização das Nações Unidas) é responsável por promover o desenvolvimento social e ambientalmente sustentável dos assentamentos humanos, cuja meta principal é assegurar moradia adequada para todos. 9 Definição extraída do observatório das metrópoles. Disponível em http://www.observatoriodasmetropoles.net/index.php?option=com_content&view=article &id=150. Acesso em nov. de 2014. 63 Segundo Marques (2012), a partir da II Conferência sobre Assentamentos Humanos - a Agenda Habitat e a Declaração de Istambul – destaca-se o problema da habitação e define-se que viver de forma adequada não é apenas ter um teto, mas uma habitação adequada, que deve ser grande, luminosa, arejada e aquecida, oferecer intimidade, apresentar estrutura estável e durável, ser equipada de infraestrutura básica, e estar situada a uma distância razoável dos locais de trabalho e dos serviços básicos, por um preço acessível. Nas reflexões sociológicas sobre a cidade e as transformações urbanas ocorrida entre as décadas de 1960 e 1970, destacam-se as obras da Jane Jacobs, que salienta a necessidade de se conhecer a cidade para formular diretrizes coerentes ao planejamento urbano, Manuel Castells, Henri Lefebvre e David Harvey, autores que produzem uma renovação no debate crítico da pesquisa sobre as cidades, aliando sociologia e a geografia urbana. Jane Jacobs, jornalista americana, em seu clássico “Morte e vida nas grandes cidades norteamericanas” (The Death and Life of Great American Cities, 1961) crítica as relações de funções, usos e ocupações dos projetos de arquitetura e urbanismo que não valorizam a escala humana e enfatiza a falta de respeito com o indivíduo a partir do urbanismo moderno praticado em áreas de renovação urbana das áreas centrais e dos conjuntos habitacionais massificados de Nova York. Manuel Castells, sociólogo espanhol, em seu livro “A questão Urbana” (1972) faz uma importante análise do conflito de classes e suas lutas nos problemas urbanos. Desenvolve análises sociológicas das políticas públicas e planejamento urbano entre o Estado (capitalista) e os movimentos sociais. Henri Lefebvre, filósofo e sociólogo de origem francesa, destaca-se com importantes publicações que marcaram o período como “O direito à Cidade” (1968), “Revolução Urbana” (1970) e “O pensamento marxista e 64 a cidade” (1972), nas quais analisa a influência do sistema capitalista no espaço urbano. Para o autor, a cidade é configurada a partir de lutas e disputas entre as diferentes classes sociais, sendo que os conflitos entre os grupos reforçam o sentimento de pertencimento em relação ao meio urbano que habitam. “[...] No contexto urbano, as lutas de facções, de grupos, de classes, reforçam o sentimento de pertencer [...] Esses grupos rivalizam no amor pela sua cidade” (LEFEBVRE, [1968] 2011, p.13). David Harvey, geógrafo norteamericano, em seu clássico livro “A Justiça social e a cidade” (1973) destaca que para entender a cidade é necessário relacionar seus processos sociais e espaciais, e crítica os preceitos modernistas. Para Harvey, nos anos de 1960 e 1970, o planejamento urbano associa-se a planificação de larga escala e não considera que a cidade é composta por um tecido urbano necessariamente fragmentado, de formas passadas superpostas umas às outras, e uma colagem de usos correntes. O autor denomina esta fase de pósmodernismo, corrente que se afasta da ideia original do princípio do urbanismo moderno, onde o espaço deveria ser moldado para propósitos sociais. Ele defende que a cidade e o modo como seus espaços se organizam formam uma base a partir do qual é possível pensar, avaliar e realizar uma gama de possíveis sensações e práticas sociais. 65 1.3 Experiências inovadoras no contexto da participação No sentido de apontar um conjunto de princípios e ideias práticas sobre habitação social de baixo custo e a participação da população no processo, ocorridas nas décadas de 1960 e 1970, destacam-se algumas referências importantes de projetos executados na perspectiva da valorização do contexto urbano. São eles: Hassan Fathy, Christopher Alexander e John Turner. Hassan Fathy O arquiteto egípcio Hassan Fathy escreveu em 1973 o livro “Construindo com o povo: arquitetura para os pobres”, traduzido no Brasil em 1980, no qual relata a sua experiência quando foi contratado pelo governo em 1945 para realizar o projeto de uma nova vila perto de Luxor, no Egito, para realojar 7.000 camponeses que viviam na aldeia de Gurna, localizada sobre um sítio arqueológico. Conforme Fathy (1980) destaca, sua preocupação essencial desde o início foi desenvolver um projeto para contribuir com a melhoria de vida dos camponeses pobres do mundo, através da construção de suas moradias em sistema de cooperativas, mantendo os vínculos e a continuidade com o sistema de autoconstrução rural, reforçando o apego à obra. Para isso, resgatou a arquitetura tradicional e os materiais antigos regionais, métodos e design, com o objetivo de reviver laços comunais e respeitar sentimentos tradicionais nas aldeias carentes do Egito. A proposta visava o envolvimento dos habitantes locais no treinamento e na construção de suas próprias casas, procurando reabilitar tecnologias como o adobe. 66 O método em detalhe da participação dos moradores com os projetos de habitação não são descritos por Fathy (1973), destaca-se a forte presença do arquiteto na mediação do processo de produção de habitação. O autor relata que a vila continha também edifícios públicos, mesquita, mercado coberto, escolas e um teatro. Embora tenha ficado inacabada em função da morosidade do Estado, a Vila Nova Gurna representa a preocupação social e humana de um projeto para habitação de baixo custo, com elementos da terra. Os relatórios de Charles Abrams deram visão internacional às ideias da experiência prática de Vila Nova Gurna. Figura 1.6: Vila Nova de Gurna Fonte: arquitecturasdeterra. Disponível em: http://arquitecturasdeterra.blogspot.pt/2008/10/save-heritage-of-hassan-fathy.html. Acesso em out de 2014. 67 Figura 1.7: Desenhos do Hassan Fathy para Vila Nova de Gurna. Fonte: arquitecturasdeterra. Disponível em: http://arquitecturasdeterra.blogspot.pt/2008/10/save-heritage-of-hassan-fathy.html. Acesso em out de 2014. Christopher Alexander O matemático e arquiteto austríaco Christopher Alexander publica em Harvard, em 1964, um ensaio21 no qual formula teorias e métodos para lidar com a complexidade das necessidades humanas, a partir de grelha de possibilidades de adequação entre a forma e função, utilizando processos matemáticos e um amplo conjunto de referências que percorre diversos saberes - arquitetura, arqueologia, psicologia, sociologia e antropologia. O ensaio tornou-se um marco como método de projeto para 21 Livro a partir de seu Doutorado Notes on the synthesis of form. 68 intervenções arquitetônicas e urbanísticas, denominado de “Linguagem de Padrões”. Alexander destaca a importância do usuário final na arquitetura e urbanismo, na sua tese a questão central do projeto relaciona a forma ao contexto, onde os edifícios e as intervenções urbanas estão inseridos. As reflexões de suas formulações práticas, teóricas e a busca por paradigmas para construção e projeto, em que os espaços deveriam atender as necessidades reais humanas, são publicadas em 1966 no livro “Community and Privacy: toward a new Architecture of Humanism”. Podese entender como uma forma de contestar os recursos dos arquitetos funcionalistas, aproximando os usuários e as possibilidades de interação. A participação para Alexander justifica-se por envolver no ambiente construído as pessoas, instituindo o domínio sobre o espaço concebido e o sentimento de pertencimento. Em 1976 desenvolve uma importante experiência em Mexicali, no México, onde aplicou na prática sua concepção teórica. Sua equipe e seus alunos da Universidade da Califórnia em Berkeley foram contratados para projetar um conjunto habitacional com unidades de 60 a 70 m². A partir desta experiência, Alexander concebe o conceito de Arquiteto-Construtor, no qual o Processo de concepção e produção não deve ser fragmentado, mas sim construído a partir das necessidades dos moradores e de seu envolvimento em todas as fases (BATTAUS, 2014). Para isso, o sistema construtivo e a tecnologia devem ser de fácil manuseio para a autoconstrução. Na construção das casas e dos edifícios comunitários foram utilizados materiais da região, com uma pequena fábrica de blocos de solo-cimento sendo construída e as coberturas das casas com formato em abóbadas, as quais são montadas com tiras de treliças, depois recebem um pano de saco e tela de galinheiro grampeada, 69 formando a casca que é rebocada por cima. As tipologias das casas seguiam os anseios e necessidades de cada família. A implantação das casas foi disposta no entorno de uma área de uso coletivo para a comunidade, no sentido dos moradores utilizarem a área comum e ser ao mesmo tempo o espaço da troca, priorizando as relações humanas e garantindo o controle a manutenção destes espaços. Outro princípio importante a destacar deste processo é o canteiro do construtor, local da guarda de materiais e escritório para o encontro com os arquitetos e os moradores construtores, que na finalização das obras passaria a ser local comunitário. Conforme Battaus (2014), os princípios da Participação e Projeto Coletivo são trabalhados nos Estados Unidos a partir de 1970 em várias Universidades que tinham grupos de Assistência Técnica para inúmeros bairros. Figura 1.8: Sistema de teto abobadado Fonte: naturalbuilding. Disponível em: http://www.naturalbuildingblog.com/buildingliving-neighborhoods-mexicali/. Acesso em out. de 2014. 70 John Turner O arquiteto britânico John F. C. Turner trabalhou na reconstrução dos assentamentos precários e programas de urbanização de favelas no Peru entre 1957 e 1965. O debate sobre o desenvolvimento comunitário e a política de habitação estava em voga naquele país. Em substituição das soluções modernistas, defende a autoconstrução, ajuda mútua, autogestão dos futuros moradores ou a urbanização de favela. Segundo Bandeirinha (2007), Turner pressupõe que os atores para a realização da habitação tem seus papéis específicos: ao poder público cabe fornecer recursos, à população decidir como os utilizar, e aos arquitetos e urbanistas fornecerem o apoio técnico. Esta forma é mais eficaz para atender as necessidades da população carente de moradia digna. Turner escreveu diversos livros sobre o assunto, entre eles: Housing by people, Dwelling Resources in South America, Architecture of Democracy, Building Community. A síntese das ideias de Turner é apresentada em três frentes: - na questão do alojamento, a importância da autogestão da produção habitacional; - a valorização dos recursos pessoais e locais para o uso das tecnologias e materiais do contexto; - a autonomia dos moradores dentro do contexto do seu bairro, de sua localização e da decisão de como investir na produção (Bandeirinha, 2007). Para Turner as famílias devem acompanhar todo o processo de viabilização da produção de habitação, passando pela fase de escolha do local, na fase de desenvolvimento do projeto até a construção final. 71 Segundo Shimbo e Ino (2004) na década de 1960 outros pesquisadores realizam estudos aprofundados sobre a questão metodológica de projetos participativos no debate internacional. Destaca-se Stichten Architecten Research (SAR) uma Fundação para a Investigação de Arquitetos que desenvolve uma metodologia de projeto para estruturas de conjuntos habitacionais, criada na Holanda em 1965 por Habraken e outros. O objetivo do grupo era estudar as ferramentas para o processo de tomada de decisão do projeto de habitação com a participação e controle do futuro morador. As autoras ressaltam também, o conceito democrático de desenho participativo (relacionadas a projeto de arquitetura, urbanismo e objetos) a partir do trabalho de Snoff (1990) que se baseia na tomada de decisão no projeto de forma participativa, ou seja, as pessoas devem ser envolvidas no processo de projeto. No próximo capítulo, é apresentada uma política urbana e habitacional no âmbito nacional de Portugal, que influenciou a forma de conhecer os problemas locais, a partir de um diagnóstico realizado pela própria população e resolver a solução de forma participativa entre comunidade, apoio técnico e o Estado. Denominado de processo SAAL (1974 a 1976), seu tempo de existência foi curto, mas a sua metodologia habitacionais brasileira. de projeto daquele participativo país, bem inspirou como as cooperativas algumas experiências 72 73 Capítulo 2. Projeto participativo em PORTUGAL: processo SAAL Este capítulo apresenta o processo Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL) de Portugal, o qual se caracteriza por aspectos singulares de participação ativa da população pela luta ao direito à moradia. Trata-se de um momento singular na história das políticas públicas e da democratização da arquitetura em Portugal, no período da transição política no pós 25 de abril de 1974, com o retorno da democracia1. O primeiro item apresenta o contexto histórico de Portugal em relação às questões ligadas aos problemas urbanos e habitacionais. Na sequência, apresentam-se as linhas gerais da construção da política habitacional a partir dos diversos encontros, seminários e textos que alguns pensadores e arquitetos desenolveram naquele país até a Revolução dos Cravos em 1974. Em seguida, apresenta-se, no item 2, o lançamento do Serviço de Apoio Ambulatório Local – SAAL, e sua conjuntura histórica, que abriu espaço para o debate a partir das proposições apontadas pela luta dos movimentos sociais pelo direito à cidade e por um modelo de serviço descentralizado e desburocratizado na intervenção do Estado. Destaca-se a metodologia e a relação tripartite de trabalho que integrava o processo 1 Conhecido também como a Revolução dos Cravos, que depôs o regime ditatorial do Estado Novo, vigente desde 1933. 74 participativo de técnicos e moradores no projeto, da construção e a relação com o Estado, desse modo permitindo reflexão consciente sobre a cidade e seus processos de planejamento. Por fim, apresenta-se o desmonte do SAAL, seu legado na política habitacional e as influências na formação das cooperativas habitacionais de Portugal. Vale destacar, que a autora realizou um estágio no LNEC2 no primeiro semestre de 2014, com a bolsa Capes3 do Programa PSDE4, como parte da pesquisa em razão da importante troca de experiências entre Brasil e Portugal nas décadas de 1960 e 1970, na concepção de métodos participativos para habitação e urbanismo que refletiram na gestão da prefeita Luiza Erundina (1989-1992) em São Paulo, com o programa de mutirão e autogestão. 2 Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Lisboa, Portugal. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior 4 Bolsa de estudos da Capes do Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior (PSDE). Proc.n.99999.013868/2013-06. 3 75 2.1 Antecedentes No contexto histórico de Portugal, Pereira (1994) afirma que as condições habitacionais de miséria da classe operária são referenciadas em inquéritos desde 1881, em virtude do desenvolvimento da indústria nas cidades de Lisboa, Porto, Covilhã e Setúbal. Segundo Baptista (1999), a preocupação com a promoção da habitação social estava relacionada ao combate às moradias operárias insalubres ao longo do século XIX, promovido pelos higienistas e reformadores sociais. No contexto republicano após 1910, a preocupação da causa operária assumiu o caráter de regulamentar e normatizar medidas legislativas que instruíram a construção de bairros de habitação social5. Para o autor, no entanto, estas medidas não surtiram efeitos na constituição de política habitacional mais abrangente. O Estado passa a incentivar a construção de “casas econômicas” com o Decreto 4137 de 25 de abril de 1918, que caracteriza o número e a área mínima dos dormitórios e a existência de cozinha e banheiro a partir da renda familiar máxima, variando de Classe I até IV. Conforme Coelho (2006), na fase deste tipo de promoção que durou 15 anos (1918 a 1933) a produção foi mínima, mas com experiências tipológicas residenciais e urbanas interessantes, que possuíam equipamentos coletivos integrados à cidade e à paisagem. O autor dá como exemplo os bairros sociais Arco do Cego (destacados na figura 2.1), Ajuda e Alvita. 5 Conforme Teixeira (1992), até o final do século XIX a habitação social foi promovida em sua maioria pela iniciativa privada. 76 Figura 2.1: Implantação e vista do bairro social Arco do Cego em Lisboa. Fonte: Google Earth. Acesso em nov. de 2014. A figura 2.1 apresenta o bairro do Arco do Cego, cujo desenho de implantação integrado a cidade com equipamentos e espaços públicos equilibrados agrega tipologias diferentes de habitação com tamanhos e gabaritos diferenciados, tornando o ambiente aprazível. No âmbito do Programa “casas econômicas”, a política habitacional com discurso para as classes trabalhadoras mirava os trabalhadores da classe média, conforme Teixeira (1992). O autor comenta que, entre as décadas de 1930 e 1970, a construção de habitação para a classe média baixa, na sua maioria, era desenvolvida por promotores privados e a preços elevados para muitas famílias. A habitação social disponibilizada pelo Estado para a população de renda baixa era em número insuficiente diante das carências habitacionais. Em maio de 1969 foi criado o Fundo de Fomento da Habitação (FFH) no âmbito do plano de governo que previa a expansão industrial, pólos de desenvolvimento e planos integrados de habitação pelo país. Contudo, Coelho (1986)6 aponta que o aparelho do Estado estava centralizado, distante em relação a população e sem articulação entre os diferentes setores para realizar uma política de habitação integrada. 6 Arquiteta Margarida Coelho trabalhou no Fundo de Fomento da Habitação de 1971 a 1981. 77 Paralelamente, os dados do Censo de 1970 do Instituto Nacional de Estatística apresentaram o número de 8.663.252 indivíduos residentes em Portugal, com famílias com número médio de 3,7 indivíduos, sendo em torno de 2.341.419 de domicílios. Neste censo, conforme destaca Ferreira (1987), o déficit habitacional em Portugal girava em torno de 600 mil unidades e 25% da população morava em edifícios degradados com superlotação, sem condições de segurança, conforto e salubridade. 53% da população estavam sem energia elétrica, 52% sem abastecimento de água, 60% sem rede de esgoto e 67% sem instalações sanitárias. A crise habitacional nacional é acompanhada pelo aumento da urbanização em função do desenvolvimento industrial. Neste sentido, o surgimento das Áreas Urbanas de Génese Ilegal (AUGI)7 em Lisboa e Porto pode ser entendido como consequência da interação de um conjunto de fatores. A população da Área Metropolitana de Lisboa (AML) nos anos de 1940 pouco ultrapassava um milhão de habitantes, mas até o início dos anos de 1980 teve um crescimento muito rápido, atingindo os 2,5 milhões. AS AUGIS São marcadas pela existência de loteamentos clandestinos, com crescimento sem planejamento e de caráter especulativo pelos produtores. Entre os aspectos que incentivaram a procura por esta forma de morar, destacam-se o loteamento de baixa densidade com baixo preço dos lotes e a possibilidade de desenvolver um processo de autoconstrução evolutiva, sendo que muitos dos que residem em bairros clandestinos, tiveram nessa alternativa a única possibilidade de acesso a uma moradia (SANCHES; COELHO; MARQUES, 2014). Para Guerra (2011), nas décadas de 1970 e 1980 as AUGIs são marcadas pelo crescente aumento de construções clandestinas 8, principalmente na região metropolitana de Lisboa. Além da ausência da oferta de habitação pública, faltam equipamentos sociais e infraestrutura 7 Oficialmente são áreas demarcadas pela Lei 91/95 de 2 de setembro, alterada pela Lei nº 165/99 de 14 de setembro. 8 Segundo Guerra (2011), as estimativas demonstram que na década de 1970, 40% das construções em Portugal eram ilegais. 78 urbana. As práticas de coabitação na produção de alojamentos também estão presentes como alternativa habitacional do mercado ilegal. Vale destacar que este fenômeno urbano no Brasil9 é denominado de loteamento clandestino. Figura 2.2: A Vida num Bairro de Lata - Lisboa, 1966 Fonte: Gérald Bloncourt. Disponível em: http://pictify.com/495191/old-portugal-a-vidanum-bairro-de-lata-lisboa-1966-fotografia-de-grald-bloncourt. Acesso em nov. de 2014. A Revolução dos Cravos, em 1974, foi um movimento social, conhecido também como a Revolução do 25 de abril10, que teve apoio dos militares e tirou do poder o regime ditatorial do Estado Novo vigente desde 1933. As reivindicações que motivavam o movimento também estavam ligadas às melhorias nas condições habitacionais. Conforme Guerra (2011), as pressões pelo direito à cidade eram imensas por diversos fatores, destacando-se: déficit habitacional acumulado ao longo dos anos, a falta de infraestrutura básica, o fluxo para as grandes cidades dos migrantes rurais atrás de emprego e regresso dos “retornados” das 9 Ver BÓGUS, Lúcia; RAPOSO, Isabel; PASTERNAK, Suzana (orgs). Da irregularidade fundiária urbana à regularização: análise comparativa Portugal-Brasil. São Paulo: EDUC, editora da PUC-SP, 2010. 10 O regime democrático aprova a nova Constituição da Republica Portuguesa em 25 de abril de 1976. 79 ex-colônias11. As reivindicações na pós-revolução são marcadas pela ação de uma nova política democrática para intensificar o investimento na segurança social, saúde e educação. A partir deste breve contexto do cenário da questão urbana e habitacional de Portugal, vale salientar que a preocupação com a resolução dos problemas é debatida por um conjunto de arquitetos, apresentados a seguir, nos diversos eventos que acontecem naquele país. 11 Com a queda do regime ditatorial em 1974, o novo governo mudou a política que havia em relação às colônias portuguesas, principalmente na África, retirando as tropas militares. Contudo, retornam para Portugal as famílias que haviam imigrado, sobretudo, de Angola e Moçambique. 80 2.2 Linhas gerais da construção de uma política habitacional Segundo Tavares (2009), na Europa do pós-guerra a casa-máquina de habitar, realizada a partir da célula mínima, serviu de gênese funcional à resolução das novas estruturas familiares e dos novos modos de vida, a funcionalidade assumia, assim, um papel protagonista e muito centrado no edifício para a produção em escala da habitação. O arquiteto Nuno Teotónio Pereira será um dos principais protagonistas das questões relacionadas aos problemas habitacionais de Portugal. Em 1944, faz parte do grupo de tradutores para a língua portuguesa da Carta de Atenas12 de 1941, publicada na revista Arquitectura. Em 1948, é realizado pelo governo o “I Congresso Nacional de Arquitectura” de Portugal, cujos temas tratados são “Arquitectura no Plano Nacional” e “O problema Português da Habitação”. Nesse momento, o Governo investiu numa série de obras priorizando infraestruturas, como estradas, barragens, portos, viadutos, entre outros. Em novembro de 1946, no contexto da modernização da engenharia, o Governo cria um centro de investigação tecnológico, o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC). Tal laboratório passa a ter um papel importante na função de amparar os órgãos públicos ligados à segurança das obras, à proteção e à requalificação do patrimônio natural e construído, à modernização e à inovação tecnológica no setor da construção civil. Na sequência, na década de 1950, uma geração13 acreditava que a arquitetura tinha a capacidade de transformar o comportamento das 12 Documento publicado em 1941 (em francês), por Le Corbusier com o resultado do IV Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM) realizado em Atenas em 1933. 13 Arquitetos Nuno Teotónio Pereira, Nuno Portas, Francisco Silva Dias, Alexandre Alves Costa e Bartolomeu Costa Cabra, entre outros. 81 pessoas e de melhorar as condições de habitação para a população de menor renda. Nesse contexto, as primeiras experiências da participação dos futuros moradores são iniciadas no atelier de arquitetura de Nuno Teotónio Pereira no projeto de blocos de habitação coletiva para a Associação dos Inquilinos Lisbonenses (AIL), com a colaboração do arquiteto Bartolomeu Costa Cabral. A AIL é uma agremiação fundada em 1924 em defesa dos interesses dos arrendatários de casas. Essa associação tinha uma ideologia próxima à do Partido Comunista e propunha que os participantes não seriam proprietários, mas fariam parte de um sistema denominado “inquilinato cooperador”, no qual os cooperantes seriam inquilinos de uma cooperativa, como um dos caminhos para a resolução do problema habitacional14 (BANDEIRINHA, 2007; TAVARES, 2009). Segundo este conceito, no compromisso entre o inquilinato simples e o acesso direto à propriedade, os cooperantes não viriam a ser proprietários das habitações, mas sim inquilinos da entidade cooperativa que as promovia e as construía. Por meio da Câmara Municipal de Lisboa, foi-lhes prometido um terreno no bairro da Ajuda e o projeto de um conjunto de blocos de habitação coletiva, com 100 unidades habitacionais no total (BANDEIRINHA, 2007; TOSTÕES, 2004). Conforme Tavares (2009) na exposição “O Cooperativismo Habitacional no Mundo”, realizada pela AIL em 1957 na Sociedade Nacional de Belas Artes de Lisboa, foi apresentado um modelo de uma célula habitacional em escala real, denominada a Casa Protótipo15. Projetada pelos arquitetos Nuno Teotónio Pereira e Bartolomeu Costa Cabral com o objetivo de divulgar o novo conceito de modernidade da 14 Em 23 de junho de 1998, na entrevista realizada por José António Bandeirinha, Nuno Teotónio Pereira descreve que antes de 1957 o cooperativismo habitacional estava ligado à produção habitacional para a classe média. 15 No período de 30 de março a 7 de abril de 1957, a casa recebeu visita de cerca de 10.000 pessoas; em seguida ela foi desmontada, mas o conjunto habitacional não foi construído, porque a Câmara Municipal não fez a doação do terreno que havia prometido (TAVARES, 2009). 82 família, com impacto na disposição dos espaços da casa e, portanto, dos novos modos de habitar associados à experimentação técnica, funcional e formal16 baseada nos conceitos do movimento moderno europeu. A exposição foi orientada pelo arquiteto Frederico George e contava com a representação de dezessete países. No ciclo de conferências, a abertura foi proferida pelo arquiteto Fernando Távora, cuja apresentação tinha como o tema “O que é uma casa”. Conforme dados do boletim da AIL (número 25 de 1957), cerca de 10.000 visitantes percorreram a exposição sobre o cooperativismo habitacional nas dependências da Sociedade Nacional de Belas Artes. A Casa Protótipo foi um experimento na arquitetura da habitação como estratégia de aproximação dos usuários e do poder público. Tavares (2009) salienta que, no contexto do momento da exposição “um lar para cada família”, esta tinha a intenção de apresentar uma solução cooperativa como exemplo para ser seguido. A figura 2.3 apresenta a perspectiva geral do conjunto habitação cooperativa. O objetivo do projeto era apresentar uma solução habitacional com custo reduzido sem perder a qualidade e explorar novas formas do espaço doméstico. Tostões (2004) afirma que para facilitar o entendimento da proposta foi montada uma maquete em escala real de um apartamento, um módulo da Casa Protótipo mobiliado e equipado, para a compreensão do cidadão comum. As novidades da “nova” forma de morar estavam relacionadas à zona de serviços: separação da confecção de alimentos da área de tratamento e lavagem das roupas. 16 Semelhante à Casa do Futuro dos Smithsons em 1956, em Londres. 83 Figura 2.3: Perspectiva geral do estudo do conjunto de habitação cooperativa. Fonte: TOSTÕES (2004), p. 160. Figura 2.4: A Casa Protótipo em escala real na exposição “O Cooperativismo Habitacional no Mundo” Fonte: TOSTÕES (2004), p. 162. Conforme Tavares (2009) a participação dos usuários no inquérito após o modelo da unidade habitacional visitado em escala real e a consulta na observação das impressões no local ajudariam na melhoria do projeto ou dos futuros projetos que viriam a ser desenvolvidos. 84 A preocupação com a sociabilização dos moradores está marcada no projeto da área exterior, onde a circulação desempenhava o local de encontro e convívio. O espaço público aplicado em altura também é utilizado pelos mesmos arquitetos Nuno Teotónio Pereira e Bartolomeu Costa Cabral em outros projetos como o bloco das Águas Livres17 e nas Torres dos Olivais18, representados pelas figuras 2.5, 2.6 e 2.7. 17 O projeto de 1953, edifício multiuso com serviços coletivos, foi classificado como MIP Monumento de Interesse Público em 2012. Ver http://www.igespar.pt/pt/patrimonio/pesquisa/geral/patrimonioimovel/detail/328059/ 18 Segundo Coelho (2004), em 1967, o projeto recebeu o Prémio Valmor de Arquitetura na cidade de Lisboa. 85 Figura 2.5: Bloco das Águas livres e galeria de serviços, Lisboa em 1953. Fonte: TOSTÕES (2004), p. 156. Figura 2.6: Torres de habitação, Olivais 1, Lisboa 1959 Fonte: TOSTÕES (2004), p.171. Figura 2.7: Torres e bandas de habitação, Olivais 1, croquis do projeto Fonte: TOSTÕES (2004), p. 168. 86 O arquiteto Nuno Portas, outro protagonista fundamental para entender a história da habitação social de Portugal, participou do assunto em várias frentes. Em entrevista19, Portas comenta que o seu interesse por habitação social foi despertado no estágio que realizou no atelier da rua da Alegria com Nuno Teotónio Pereira em 1957, e que aquele era o local da discussão da política da habitação daquele momento no país. Em 1958, Nuno Portas e Nuno Teotónio Pereira viajam para o norte da Itália e visitam bairros sociais produzidos pelo programa INA-Casa20, que mais tarde influenciarão seus trabalhos no atelier da rua da Alegria e no LNEC21. Em 1959, para a obtenção do diploma de arquiteto, defende na Escola Superior de Belas Artes do Porto um trabalho no âmbito dos aspectos sociais do habitat em três volumes, que continham respectivamente: textos, esquemas e gráficos, bibliografia e fichas de cerca de duzentos casos de estudos, e o projeto de um conjunto habitacional para uma comunidade mineira em São Pedro da Cova. O trabalho é intitulado “A habitação social: proposta para a metodologia da sua arquitectura”. Revisto e publicado em 2004 pela Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (PORTAS, 2004). A abordagem que Nuno Portas faz no trabalho acima descrito, para a situação da habitação e das preocupações sociais envolventes tem como referencial teórico os fundamentos do sociólogo francês Paul-Henry Chombart de Lauwe22. Se a nossa preocupação, ao longo do suceder de problemas, foi, mais do que chegar a soluções, conseguir uma estruturação metodológica – um modo de pensar o habitat social – foi porque nos pareceu que, na actuação prática, os projectistas têm dificuldade em interpretar; a um tempo, uma grande diversidade de aspectos (PORTAS, 2004, p. 13). 19 Realizada no Porto, em 11.07.2014, pela autora (link de acesso https://www.dropbox.com/sh/crhm84r26w6qza4/AACLK2seD1N6yttwAbDUExwra?dl=0) 20 Istituto Nazionale per l'le Assicurazione, habitação publica da Itália. 21 Foi investigador entre 1963 e 1980, estudava a questão do habitat. 22 Posteriormente, as teorias irão influenciar na concepção de novas políticas habitacionais de Portugal. 87 Posteriormente, em 1960, é realizado o colóquio sobre o problema da habitação “Aspectos sociais na construção do habitat” pelo Sindicato Nacional dos Arquitetos, no Palácio Galveias, em Lisboa. O evento foi marcado pela presença do sociólogo francês Paul-Henry Chombard de Lauwe que apresentou o relatório “Sociologia da Habitação – Métodos e Perspectivas de Investigação”. Nesse trabalho apresenta a pesquisa realizada nos bairros sociais da França, argumentando que não basta aplicar técnicas e materiais avançados para abrigar os homens, mas, sim, conhecer suas necessidades, com equipes formadas por arquitetos, engenheiros e representantes das ciências humanas23. [...] Hoje, os problemas que se põem ao arquitecto, ao urbanista, ao planificador, não se limitam a mostrar harmoniosamente elementos claramente definidos. As cidades tornaram-se monstros, as crises de alojamento desorganizaram frequentemente toda uma vida social... Mas o desenvolvimento das perturbações psicológicas e sociais nas habitações recentes, a necessidade de corresponder a exigências ainda desconhecidas ou mal definidas, a inquietação pelas consequências remotas dos planos apressadamente elaborados, obrigaram a pôr os problemas de maneira totalmente diferente. Propuseram-se outras formas de pesquisa. Já não se trata apenas de encontrar os melhores meios de utilizar a matéria ao serviço dos homens. Os homens em si mesmos, escapam-nos. Antes de os alojar, é preciso conhecê-los [...] (LAUWE, 1960, apud PORTAS, 2012, p.189). Segundo Bandeirinha (2007), no mesmo colóquio o arquiteto Nuno Portas apresentou o texto “Problemas da célula familiar”, no qual enfatizou o campo da sociologia e a crítica espacial dos projetos. A principal recomendação do colóquio foi a de que os novos projetos de habitação deveriam ser desenhados em função da necessidade de cada grupo da comunidade. 23 LAUWE, Paul Chombart. Sociologia da Habitação, métodos e perspectivas de investigação. Revista Arquitectura nº 68. Lisboa, Julho 1960. p. 41-50. 88 Ao longo da década de 1960, Nuno Teotónio Pereira será o impulsionador da constituição de uma política habitacional de Portugal. Em 1965, escreveu um texto para integrar as questões habitacionais no Plano Intercalar de Fomento24 que enfatizava a necessidade da “colaboração de representantes dos utentes de todos os sectores” para construir uma política habitacional eficaz25 (PEREIRA, 1996, p. 54). Em 1967, ainda no âmbito da Associação dos Inquilinos Lisbonenses (AIL), Nuno Teotónio Pereira organiza, com outros arquitetos26 que estão envolvidos com a problemática da habitação em Portugal, o colóquio sobre o “Problema Habitacional”. Na sequência, em Funchal, 1969, é realizado o “Colóquio de Urbanismo”, ocasião em que o francês Guy Houist (vice-presidente da Federação das Cooperativas de Habitação - HLM) expôs duas conferências, uma sobre o direito à habitação e outra sobre a experiência cooperativa. Nuno Teotónio Pereira apresenta o texto “Habitações para o maior número”, cujo teor dizia que a questão habitacional não é apenas quantitativa, de escala, mas, sim, de atendimento às condições habitacionais específicas. [...] Não se trata apenas de uma questão de quantidade; existe um aspecto qualitativo igualmente importante, gerado pela mesma quantidade, e que implica alterações estruturais, impostas pela passagem de uma sociedade de rural apoiada em centros urbanos a uma sociedade de raiz urbana. A nova dimensão é assim que deve ser entendida. Quer dizer: para enfrentar o problema da habitação para o maior número, será necessário construir muitas centenas de milhar de casas – aspecto quantitativo; mas além disto, algo mais será necessário resolver: para quem as construir?; onde as construir?; como as construir?; E mais ainda: construir, não somatórios exaustivos de habitações, mas conjuntos urbanos equilibradamente organizados e equipados (PEREIRA, 1996, p. 80). 24 Política para uma nova econômica em Portugal entre 1965 e 1967. Criado em 1969, o Decreto Lei n. 49033 de 28 de maio, o Ministério das Obras Públicas cria Fundo de Fomento da Habitação, cujo objetivo é contribuir com estudos para a resolução do problema habitacional e realização da política habitacional. 26 Margarida Sousa Lobo, Nuno Portas, Carlos Duarte, Bruno Costa, Sérvulo Correia, Emídio Santana, Raúl da Silva Pereira, Nelson Montes e outros (BANDEIRINHA, 2007). 25 89 Conforme Pereira (1996), essa questão não se configura apenas em exaustivas habitações, mas em conjuntos urbanos equilibrados, organizados e equipados. Critica também a preferência por parte do poder público pelas alternativas habitacionais ligadas a soluções autoritárias, incentiva o empenho popular e potencializa o interesse pela autoconstrução, exemplificando com as experiências internacionais, como nos países do Norte da África, do Oriente Médio e da América Latina 27, que tinham a economia subdesenvolvida com grande déficit habitacional. No mesmo texto, o autor exemplifica que em um bairro de favelas nas encostas da Monsanto, em Lisboa, as edificações evoluíram para uma área quase “normal”, afirmando que as grandes extensões suburbanas das edificações clandestinas possuem os mesmos mecanismos especulativos de mercado das áreas legais. Argumenta que esses processos poderiam ser assistidos de forma técnica, para além da escala do planejamento urbano, e também para melhorias nas soluções da unidade habitacional. Desta forma, recomenda as inovadoras propostas da autoconstrução assistida. A criação do Núcleo de Arquitetura (NA) no LNEC em 1969, com a direção do arquiteto Nuno Portas28, integrou arquitetos, engenheiros e sociólogos no quadro de investigadores. Os objetivos do NA relacionavam a habitação e a arquitetura dos edifícios com as questões do espaço público, do urbanismo e da gestão territorial29. No mesmo ano em 1969, os diferentes órgãos do Poder Público que atuam com as questões 27 Experiência da Favela Brás de Pina de Carlos Nelson Ferreira dos Santos. Investigador no LNEC entre 1963 a 1980. 29 O Núcleo de Arquitetura foi renomeado Núcleo de Arquitetura e Urbanismo (NAU) em 2002 e conjuntamente com o Núcleo de Ecologia Social (NESO) estavam inseridos no Departamento de Edifícios onde desenvolveram atividade até ao final de abril de 2013, momento em que foram extintos e as suas atribuições reunidas no Núcleo de Estudos Urbanos e Territoriais (NUT), criado no âmbito da reestruturação do LNEC então ocorrida. O Núcleo de Arquitetura desde a sua criação e as unidades orgânicas que diretamente lhe sucederam desenvolveram investigações nas áreas: habitação, equipamentos coletivos, segurança ao incêndio em edifícios, desenho urbano e gestão territorial. Colaborando para o avanço dos conhecimentos sobre a construção do habitat. Os resultados obtidos têm influenciado a evolução da regulamentação técnica da habitação, do urbanismo e do ordenamento do território em Portugal. 28 90 relacionadas com habitação (Câmaras Municipais, Federação das Caixas de Previdência, Direção Geral de Urbanização, Ministério das Obras Públicas e o Laboratório Nacional de Engenharia Civil) têm no seu quadro de funcionários jovens técnicos sensíveis a resolução do problema habitacional de forma mais sistemática - engenheiros, arquitetos, economistas, assistentes sociais – que, desde o início dos anos de 1960, vão desenvolvendo trabalhos em outras vias paralelas: análises, sistematização de metodologias ou projetos, muitas vezes “dinamizando núcleos informais de formação e de especialização menos acadêmica e mais operativos que as Universidades” (BANDEIRINHA, 2007, p. 70). O Ministério das Obras Públicas, dentro desta conjuntura, em junho de 1969, realizou no LNEC o colóquio sobre “Política da Habitação”, no qual foram debatidos temas com conteúdos abrangentes relacionados a aspectos sociais, econômicos, técnicos, culturais e jurídicos, cujo relator foi Nuno Portas. Iniciando pelo cenário da situação do déficit habitacional em Portugal no período, foram caracterizadas entre 350.000 e 500.000 unidades habitacionais, passando pela identificação da produção de habitação social realizada pelo setor público (10%) e pela produção privada (90%) do total. Conforme mencionado no início deste capítulo, a população carente não tinha renda suficiente para a oferta de habitação produzida, portanto, encontrava na sublocação, na construção clandestina e nas favelas30 uma forma de morar, conforme a figura 2.8. 30 Ignácio Peres Fernandes, A. Celestino da Costa, J.M. Ferreira da Cunha, Ruy José Gomes, Nuno Portas (relator) e J.M. Alves de Sousa. Colóquio sobre Política de Habitação. Texto de base, Lisboa, Ministério das Obras Públicas, 1969. 91 Figura 2.8: Bairro de favelas em Lagos, 1975 Fonte: Acervo Alexandre Alves Costa. Disponível em: http://www.cd25a.uc.pt/index.php?r=site/page&view=itempage&p=1353. Acesso em nov. de 2014. Outros aspectos do texto referem-se às condições financeiras de empréstimo e amortização, como a possibilidade de fundo perdido, que é citada como exemplo da prática do Banco Nacional de Habitação do Brasil, o controle da especulação fundiária, a abertura às possibilidades da habitação evolutiva no desenho da autoconstrução assistida em áreas de expansão da cidade e a proposta de renovação para melhorar a salubridade nas áreas antigas e degradadas31. O texto final do colóquio descrito por Bandeirinha (2010) foi dividido em sete capítulos: Enquadramento da habitação no desenvolvimento econômico e social, integração da habitação no planejamento urbanístico, política de solos, financiamento da habitação, execução da habitação, estrutura orgânica do setor público do domínio da habitação e direito à habitação num contexto de eficácia social e econômico32. Em dezembro do 31 32 Idem. Ver Fernandes et al., 1969. 92 mesmo ano, aconteceu o Encontro Nacional de Arquitetos (ENA) na Sociedade Nacional de Belas Artes, no qual grupos de trabalho debateram cinco temas: “Sindicalismo”, “Política de Solo”, “A repercussão na atividade do arquiteto das atuais estruturas da sociedade portuguesa e a sua intervenção nessas estruturas”, “Participação popular e trabalho do arquiteto no desenvolvimento urbano” e “Comunicação como contestação”. Segundo Bandeirinha (2007), no fervor dessa conjuntura do início da década de 1970 e no seguimento das atividades, as reflexões sobre o legado dos colóquios e encontros aconteciam regularmente no atelier de Nuno Teotónio Pereira. Além dos debates de textos apresentados no ENA, outros textos eram produzidos e discutidos, como “Participação popular e actividade do arquitecto”, “Preparar as populações para o exercício dos seus direitos e preparar os quadros técnicos para o serviço dessas populações”, “Equipas de apoio local”, entre outros33. Os participantes desejavam, sobretudo, o despertar dos movimentos sociais urbanos e a transformação do contexto sócio profissional do exercício da arquitetura. Nesse período, Nuno Portas e Margarida Sousa Lobo esboçaram um modelo de intervenção técnica interdisciplinar e de habitação evolutiva, conforme a figura 2.9 com envolvimento direto da população para o bairro de lata da Quinta do Pombal. O Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) teve papel importante na pesquisa sobre cidade e habitação e, entre 1963 e 1980, contava com a presença de Nuno Portas como funcionário e investigador do laboratório, que estudava a questão do habitat. O primeiro trabalho foi realizar Inquéritos para entender como as pessoas usavam as casas iniciando pelo bairro de Alvalade e depois Olivais, com equipes formadas de arquitetos e sociólogos. Os aspectos sociológicos eram influenciados pelas ideias de Chombart de Lauwe, referência de Portas desde a sua graduação. 33 Ver Pereira, 1980. 93 Conforme Bandeirinha (2007) o inquérito originou o Relatório “Funções e exigências de área de habitação”. Foram também realizadas visitas a países que apresentavam experiências de projetos participativos como Brasil, Marrocos e Peru. Nuno Portas, ainda no âmbito do LNEC, escreveu o relatório sobre “habitação evolutiva”, com Francisco Silva Dias. Nessa mesma década, outro arquiteto, Alexandre Alves Costa, elaborou um estudo de racionalização e sistematização de projetos habitacionais com o intuito de produzir uma série tipológica para aperfeiçoar as relações espaciais. A sinergia que havia entre os projetos e discussões realizadas no atelier de Nuno Teotónio Pereira, Nuno Portas, entre outros arquitetos, no núcleo de arquitetura do LNEC, são marcados pela preocupação na construção do Habitat, nos inquéritos sobre os modos de vida da população e a arquitetura, e no entendimento dos processos urbanos da cidade. 94 Figura 2.9: Estudo da “habitação evolutiva” Fonte: Catalogo “O ser urbano nos caminhos de Nuno Portas”, p. 319 O Brasil comparece na conferência sobre estratégias para a política habitacional no LNEC em janeiro de 1972, representado pelo arquiteto Carlos Nelson Ferreira dos Santos34 que apresentou a prática da urbanização da favela Brás de Pina no Rio de Janeiro35 realizada de forma 34 Evento importante comentado por Nuno Teotónio Pereira, em entrevista realizada em 23 de julho de 1998 por José Antônio Bandeirinha. 35 O próximo capítulo esta experiência será detalhada. 95 participativa. Experiência que já era conhecida por Nuno Portas36 desde a década de 1960. No mesmo período, o brasileiro visitou Lisboa na companhia de Nuno Teotónio Pereira para conhecer as construções clandestinas e as favelas que existiam naquele período. Levou-o então a visitar os arredores de Lisboa – a Brandoana altura verdadeira Meca da promoção habitacional clandestina. A reação do brasileiro, maravilhado com o que via, surpreendeu-o um pouco: “[Dizia-me o Carlos Nelson] – Que maravilha! [...] Parece Nova Iorque, com aquelas torres, pequenos arranha céus, que coisa tão bonita! Os moradores foram capazes de construir tudo isto? [Eu respondia] – Há no meio alguns especuladores, não é? Não são só os próprios moradores. Alguns são dos moradores, mas essas mais altas de andares já são dos especuladores, que depois os arrendam (BANDEIRINHA, 2007, p. 67). Na mesma conferência, Carlos Nelson Ferreira dos Santos apresenta o texto “Urbanização e Habitação – Processos e Produtos”, com data de 07 de janeiro de 197237 e argumenta que o sistema de urbanização, industrialização e modernização das “cidades–problemas-novos”, principalmente dos chamados países pobres e periféricos, segue critérios de sistemas nacionais e mundiais que dependem de políticas e economias, e as consequências são a “migração urbana, metropolização e favelização” como resultados desta dependência. Define também conceitos para os termos moradia, morar, cidade, classes e grupos, programa e atores (moradores, governo e iniciativa privada), unificando a ideia de que cidade e habitação é um continuum, que apresenta dificuldades em separar as duas coisas. 36 Afirmação realizada em 12/06/2014 na Faculdade de Arquitectura Universidade de Lisboa no Ciclo Intervir no local, novas práticas, novas questões. 37 Pasta E004609 do acervo de Nuno Teotónio Pereira no LNEC. 96 No meu entender, não temos maneira de dominar imediatamente as regras de um jogo tão desconhecido. Parece-me, portanto, mais conveniente atuar dentro do processo da cidade, ainda que meio afogados por ele, do que contra este processo e aí afogarmo-nos de uma vez (SANTOS, 1972, p. 8). Nuno Portas, em diferentes conferências38e na entrevista realizada em 11.07.2014, refere-se à expressão que Carlos Nelson Ferreira dos Santos utilizava empowerment: descentralização de poderes, comunicação das pessoas e autogestão na produção da habitação e da cidade como referências para o desenho de uma nova forma de construir uma política de habitação. Com a Revolução dos Cravos, em 25 de abril de 1974, após quatro décadas de ditadura do Estado Novo, a herança adquirida em todo processo anterior de encontros e reflexões amadureceu no sentido da construção de uma Nova Política Urbana e de Habitação. Nuno Portas é convidado pelo Governo Provisório para dirigir a Secretaria de Estado da Habitação e Urbanismo. Salienta-se, ainda, que o relato anterior teve o objetivo principal de demonstrar que, em mais de duas décadas, em Portugal de 1950 a 1970, ocorreu uma sinergia entre diversos profissionais e estudantes de arquitetura, a partir dos encontros, colóquios, congressos com a participação de personalidades e referências de outros países, que ajudaram a estabelecer os princípios de uma nova forma de atuar com comunidades carentes de moradia e pela cidade digna, frente aos inúmeros problemas urbanos que o país apresentava. No ano de 1974, com o retorno da democracia no país, as manifestações por melhores condições de vida ganharam volume e foram marcadas por ocupações de prédios devolutos na área mais central de 38 Na Fundação Serralves no Simpósio SAAL: Em Retroprospetiva na cidade do Porto em 10/05/2014 e na Faculdade de Arquitectura Universidade de Lisboa no Ciclo Intervir no local, novas práticas, novas questões em 12/06/2014. 97 Lisboa e por manifestações nos bairros clandestinos e de favelas. No Porto, as manifestações são contra a sublocação repartida em espaços mínimos, as dos moradores dos bairros camarários39, contra os regulamentos impostos pelo Estado, a população se organizou para reivindicar, conforme as figuras 2.10 e 2.11, por melhores condições habitacionais e pela manutenção do lugar de moradia original no pós Revolução dos Cravos40. Figura 2.10: Manifestação contra a sublocação na cidade na entrada da Câmara Municipal do Porto em novembro de 1974 Fonte: Acervo Alexandre Alves Costa. Disponível em: http://www.cd25a.uc.pt/index.php?r=site/page&view=itempage&p=1353. Acesso em nov. de 2014 39 Bairros sociais construídos pela Câmara Municipal cujos moradores eram originários das chamadas ilhas que são vilas operárias no centro do quarteirão, localizadas na área central da cidade com sérios problemas de salubridade e forte pressão fundiária. A população dos Bairros Camarários reivindicava contra o regulamento de utilização da habitação que interferia na vida privada dos moradores. 40 Cenário descrito pelo arquiteto Alexandre Alves Costa no Simpósio SAAL: Em Retroprospetiva que reuniu os principais arquitetos que trabalharam no período do SAAL como Nuno Portas, Álvaro Siza Vieira, Eduardo Souto Moura, Raúl Hestnes Ferreira, entre outros. Realizado em 10/05/2014 na Fundação Serralves na cidade do Porto. 98 Figura 2.11: Manifestação contra a lei das ocupações no Porto em 1975 Fonte: Acervo Alexandre Alves Costa. Disponível em: http://www.cd25a.uc.pt/index.php?r=site/page&view=itempage&p=1353. Acesso em nov. de 2014 Na conjuntura política de Portugal depois de 40 anos de ditadura, a população carente de serviços essenciais se organiza e reivindica o direito à cidade, conforme as figuras 2.12 e 2.13. Nas associações de moradores, para além da conquista da moradia, informavam a população sobre suas atividades por meio de jornais, reflexões, manifestações e debates, incluídas as mobilizações de massa que se manifestavam em diversas formas de democracia participativa. O Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra organiza e preserva uma coleção de fotografias sobre a situação urbana e habitacional e de panfletos, entre outros materiais, com coleções de fotografias dos arquitetos Alexandre 99 Alves Costa e Nuno Portas. As imagens abaixo refletem as manifestações da população que reivindicavam moradia digna. Figura 2.12: Panfletos de manifestação em Lagos, 1975 Fonte: Acervo Alexandre Alves Costa. Disponível em: http://www.cd25a.uc.pt/index.php?r=site/page&view=itempage&p=1353. Acesso em nov. de 2014. Figura 2.13: Manifestações no Porto, 1975 Fonte: Acervo Alexandre Alves Costa. Disponível em: http://www.cd25a.uc.pt/index.php?r=site/page&view=itempage&p=1353. Acesso em nov. de 2014. 100 2.3 Lançamento do Serviço de Apoio Ambulatório Local – SAAL O Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL) nasceu a partir da Revolução dos Cravos, praticamente como exigência decorrente da necessidade de mudanças e de transformações propostas pelos movimentos sociais no âmbito de Política de Desenvolvimento Social e Habitacional. Conforme Bandeirinha (2007), nos dias 22 e 23 de junho de 1974, em Lisboa, o Secretário de Estado da Habitação e Urbanismo, arquiteto Nuno Portas, reuniu um conjunto de personalidades para debater sobre habitação e a cidade, a saber: Manuel Castells, Bernardo Secchi, Manuel de Solà-Morales, Jordi Borja, Martín Echenique e Paolo Ceccarelli. O objetivo era pensar nos caminhos da política pública de Portugal face à realidade complexa desde a crise imobiliária até as manifestações populares por melhores condições habitacionais e urbanas. As conclusões do encontro apontaram para uma diversidade de soluções. Como resultado deste debate e de toda bagagem anterior adquirida nos diferentes encontros realizados na década de 1960, a Nova Política Urbana liderada pelo Secretário de Estado da Habitação e Urbanismo, Nuno Portas, estabeleceu inúmeras ações, entre elas, o despacho publicado em 06 de agosto de 1974 que aprovou a organização de um corpo técnico especializado nomeado como Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL). A coordenação do processo SAAL ficou a cargo do Fundo de Fomento de Habitação (FFH), e as equipes técnicas multidisciplinares eram formadas pelas paisagística, seguintes engenharia, especialidades: serviço social, financeira e ciências jurídicas (SAAL, 1976). arquitetura, ciências arquitetura humanas, gestão 101 Em Lisboa, no fervor das reivindicações, aconteceu um plenário também em novembro de 1974 no LNEC, com a presença do Ministro da Administração Interna, o Secretário de Estado da Habitação e Urbanismo (Nuno Portas) e o arquiteto John F. C. Turner, no qual foram debatidos os temas para estruturar as ações da experiência inédita do processo SAAL, como o estatuto do solo, a delimitação do objeto das intervenções, as formas de auto-organização financiamento da dos moradores e construção. Vale destacar, as modalidades de como descrevemos anteriormente, que o desenho da estrutura do SAAL foi construído a partir de reflexões desde a década de 1950, entre diferentes profissionais, como o arquiteto já citado Nuno Teotónio Pereira. As primeiras ações realizadas pelo grupo de trabalho foram: identificar as áreas de intervenção prioritárias e as ações a desenvolver, dinamizar a constituição de brigadas de construção locais e coordenar e acompanhar as ações das diferentes brigadas (COELHO, 1986). Isso significa que se instituiu oficialmente a organização da operação do SAAL, com o objetivo de obter apoio das prefeituras municipais para a moradia digna em prol da população carente. Nesses encontros, colocavam-se frente a frente as brigadas técnicas (equipes técnicas especializadas e estudantes que desenvolviam diagnósticos, planos e projetos) e as associações de moradores, no sentido de colaborarem na transformação da cidade e na melhoria da qualidade de vida. Para Castells (1984), a articulação política e a organização local, o processo SAAL evitou a contradição entre eficácia e democracia, sendo a mobilização urbana um recurso produtivo. A intenção da política pública era estimular a organização da política de base, a nova política pública urbana. 102 2.3.1 O projeto participativo: metodologia do SAAL Bandeirinha (2007) afirma que o Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL) surgiu como um programa do Estado, com responsabilidade tripartite – moradores, brigadas técnicas e Estado – e uma dinâmica própria de funcionamento, chamada processo SAAL ou operações SAAL. O autor destaca que os princípios que direcionaram a concepção do SAAL foram a iniciativa, o empenho e a organização social dos próprios moradores, no sentido de transformar as condições habitacionais, tendo como horizonte o incentivo à capacidade de auto-organização. Além disso, outros aspectos foram fixados, como a autonomia na gestão do projeto e da obra para garantir vínculos mais fortes entre os moradores durante a escolha do terreno, o desenvolvimento do projeto de arquitetura e a construção habitacional e urbana, a incorporação de recursos próprios, porque quanto mais recursos fossem investidos na construção das casas mais forte o sentimento de apropriação em relação à moradia e ao bairro, a descentralização da promoção habitacional, a distribuição dos técnicos pelo território nacional e a iniciativa experimental para abrir caminhos na perspectiva da reforma sistemática das práticas correntes. Portas (1984) afirma que a busca de respostas urgentes para os problemas das comunidades direcionou a organização prévia da demanda. Os moradores articulam as suas necessidades e lideram a busca por soluções a partir de pressão política, ou seja, o processo estimulou a organização da comissão de moradores41 para receber o Serviço Apoio Ambulatório Local (SAAL) e fazer a autogestão desde o diagnóstico, o projeto e a obra. A figura 2.14 apresenta o panfleto de manifestação sobre a necessidade de organização da população. 41 Conforme entrevista realizada no Porto, em 11.07.2014, por Débora Sanches, Portas menciona o modelo da Favela Brás de Pina. 103 Observa-se que a metodologia é semelhante à referência Brasileira que foi apresentada em 1972 no LNEC em Lisboa, por Carlos Nelson Ferreira dos Santos e posteriormente, será praticada no Programa de Mutirão e Autogestão na prefeitura de São Paulo de 1989 a 1992 que será detalhado no capítulo 3. Figura 2.14: Panfleto de manifestação Fonte: Acervo Alexandre Alves Costa. Disponível em: http://www.cd25a.uc.pt/index.php?r=site/page&view=itempage&p=1353. Acesso em nov. de 2014. A participação efetiva dos moradores em todo o processo é a forma mais direta de promover a apropriação, conforme os princípios de Lauwe (1960). O autor analisou os aspectos e implicações sociais e psicológicas da participação em conjuntos habitacionais da França. O processo de autogestão e autoconstrução assistida – levantamento da necessidade, apoio técnico, obra - Nuno Portas acreditava na necessidade de ajustar a fórmula da participação do SAAL aos limites da realidade, sendo necessária a adequação da estrutura organizativa, partindo da base e da possibilidade de ação em todos os momentos do processo. 104 Nesse contexto, o processo do SAAL foi formatado com a articulação do conjunto de atores, que se desenvolveu em uma dinâmica de resposta pouco usual no serviço público, “consequência duma pressão exterior dos Movimentos Populares, mas também só possível por uma organização interna do próprio Serviço mais adaptado à proximidade da sua clientela“ (COELHO, 1986, p. 622). Em resumo, conforme Coelho (1986), o processo SAAL tinha como objetivo oferecer apoio técnico da administração municipal para a população que morava em áreas insalubres, realizando intervenção para transformar o lugar com as seguintes ações: - organização da população, - apoio técnico, - trabalho social, - autonomia na gestão do projeto e da obra para garantir vínculos mais fortes entre os moradores durante a escolha do terreno, gestão e supervisão dos trabalhos no local, - a incorporação dos recursos próprios, quanto mais recursos forem investidos na construção das casas mais forte o sentimento de apropriação em relação à moradia e ao bairro, - a descentralização da promoção habitacional, distribuição dos técnicos pelo território nacional e a iniciativa experimental para abrir caminhos na perspectiva da reforma sistemática das práticas correntes. O entendimento do funcionamento das operações SAAL iniciava-se com as brigadas técnicas multidisciplinares, que faziam a identificação das áreas de intervenção, passando pela definição das ações a serem realizadas e, depois, ao projeto e construção. Os moradores organizados participavam ativamente de todo o processo, muitas vezes com mão de 105 obra, recursos monetários ou combinações de ambos. O Estado, tanto central como local, era responsável pela organização e gestão do SAAL 42, pela aquisição de terrenos e materiais de construção e realização de obras de infraestrutura viária. O desenho marcado pela responsabilidade tripartite desmontou a estrutura burocrática do aparelho do Estado. [...] o que foi o SAAL por dentro, como Aparelho de Estado, o que foi e como se interligou com os Movimentos Populares pela melhoria das condições de vida; mas também mostrar como os Movimentos Populares se situaram face ao Aparelho de Estado e como o pressionaram para a sua transformação (COELHO, 1986, p. 623). Figura 2.15: Fluxograma de funcionamento do Processo SAAL Fonte: Catalogo “O ser urbano nos caminhos de Nuno Portas”, p. 329. 42 Divididos nas regiões Norte, Centro-Sul e Algarve do país. 106 Outro aspecto que diferencia o processo é a descentralização da coordenação, que é dividida pelas regiões SAAL Norte, SAAL Centro-sul e SAAL Algarve. Com isso, a gestão de cada região tem suas organizações e coordenadores. Por exemplo, no norte, a definição geográfica dos problemas é delimitada separadamente na aplicabilidade da metodologia do SAAL no território urbano, suburbano e rural. Desta forma, a metodologia de projeto participativo é desenvolvida de acordo com a situação do local, definida por cada coordenador de região e a área de intervenção habitacional ou urbana. Destaca-se que, em todas as situações, o processo de participação dos moradores ocorre nas diferentes fases desde a mobilização, passando pelo projeto e na construção. Na Escola de Belas Artes no Porto, ainda em novembro de 1974, no auditório, aconteceu o primeiro plenário das Comissões de Moradores que originou a comissão central de moradores do processo SAAL. Em diferentes conferências43 sobre o processo SAAL realizadas no primeiro semestre de 2014, os arquitetos Nuno Portas e Alexandre Alves Costa mencionam que o SAAL funcionou em função da organização dos moradores, que constituíram comissões em diferentes regiões do país, desenvolveram formas de se relacionar entre si e criaram uma federação das associações de moradores denominada Conselho Revolucionário de Moradores. 43 Fundação Serralves na cidade do Porto, Simpósio SAAL: Em Retroprospetiva em 10/05/2014. No Ciclo cinema – 40 anos 25 abril, Casa da Cidadania – Fórum Lisboa (antigo Cinema Roma) conferência antes do filme “Continuar a viver: os índios da meia praia” 1976 em 05/06/2014 e na Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa, no Ciclo Intervir no local, novas práticas, novas questões em 12/06/2014. 107 2.3.2 Os projetos Conforme o Livro Branco do SAAL (1976), que faz um levantamento detalhado da produção do processo SAAL entre 1974 a 1976, dividido entre as regiões Norte, Centro/Sul e Algarve, no total destacam-se: - pedidos de intervenção: 246 - operações iniciadas: 170 - famílias envolvidas: 41665 - projetos de unidades habitacionais: 1935944 Nas figuras 2.16 e 2.17 apresenta-se alguns projetos construídos45, levantados por Bandeirinha (2007), no apêndice 1 encontram-se outros exemplos mais detalhados. As figuras a seguir, indicam que em diversos conjuntos persiste a apropriação dos moradores originais que contam a história do processo da luta e o cuidado na manutenção das áreas comuns nos diferentes conjuntos habitacionais. 44 A tese de doutorado “O processo SAAL e a Arquitectura no 25 de Abril de 1974” de José António Bandeirinha, realizada em 2002 e publicada em 2007, reúne um significativo material sobre o SAAL, sendo a principal referência sobre o assunto. A coleta de dados agregou informações que estavam dispersas nas diferentes regiões e Câmaras Municipais, entre eles os 96 projetos de conjuntos habitacionais que foram construídos. 45 Os projetos são desenvolvidos com processos semelhantes, mas tiveram diferentes níveis de participação da população em função da coordenação da brigada técnica que estavam divididas nas regiões Norte, Centro/Sul e Algarve. 108 Figura 2.16: Alto do Moinho e Carnaxide, Concelho Oeiras, Lisboa. Fonte: Débora Sanches, 2014. Figura 2.17: Bouça e São Vitor, Porto. Fonte: Débora Sanches, 2014. 2.3.1 O desmonte A participação de base e de melhorias das condições habitacionais passa para o patamar da notável intervenção pública nos territórios urbanos, que começam a dar os sinais da fragilidade do processo nos finais do primeiro ano de funcionamento. Nas Câmaras Municipais, as contradições internas de funcionamento em função da burocracia e da inércia operativa sobre o ordenamento do território são desfavoráveis para o processo. Segundo Bandeirinha (2007), a questão fundiária, com o início das desapropriações de terrenos urbanizados necessários para as operações SAAL no final de 1974, começa a ameaçar o mercado de solo e 109 as redes de interesse. Na política, perder posição era um risco para o capital imobiliário. Era portanto, previsível, que tentasse reagir bloqueando o processo de aquisição pública dos terrenos em todas as instâncias possíveis. Na impossibilidade de, e à semelhança do que se passava com o capital industrial, sabotar, alienar ou exportar o modo de produção, o capital imobiliário e as suas ramificações bancárias e financeiras iriam tentar reter ao máximo a utilização pública dos solos negociáveis (BANDEIRINHA, 2007 p. 136). O arquiteto Costa (2014) destaca sobre a finalização do processo SAAL outro aspecto em relação ao desenho de funcionamento. Nuno Portas tinha uma imagem dos moradores que construíam a sua própria casa com recursos próprios – autoconstrução – do subúrbio de Lisboa e da América Latina. No Porto, os moradores recusaram a autoconstrução. A maioria era de pessoas das oriundas das ilhas46 enraizadas na área central, com consciência política na luta pelo direito à cidade que, portanto, se manifestaram contra a utilização de recursos próprios. No decorrer do processo, muitas associações que representavam os moradores são formadas, aumentando o volume de pedidos de intervenção na esperança da conquista da moradia digna. Pressionavam com reivindicações urbanas as brigadas técnicas, que por um lado procuravam se equilibrar na prestação do serviço com profissionalismo e ética, e por outro nos conflitos dos pagamentos atrasados realizados pela burocracia das Câmaras Municipais. A capacidade reivindicativa é entendida pela mobilização popular. Nas reuniões de coordenação e intercâmbio entre os diferentes bairros surgem a coesão e o fortalecimento das lutas reivindicativas, também em outros focos de luta por melhores condições de vida. 46 As ilhas localizam-se no miolo de quadra, com características semelhantes ao cortiço no Brasil. 110 Figura 2.18: Assembleia no Porto, brigadas técnicas, moradores e Estado em 1976 Fonte: Acervo Alexandre Alves Costa. Disponível em: http://www.cd25a.uc.pt/index.php?r=site/page&view=itempage&p=1353. Acesso em nov. de 2014. Contudo, a transição política da ditadura para a democracia não conseguiu acompanhar o processo SAAL e, portanto, em outubro de 1976, um despacho determinou sua extinção. As razões provavelmente são muitas, mas pode-se apontar entre elas a falta de maturação de um processo novo, a exoneração do mentor Nuno Portas do cargo de Secretário de Estado da Habitação e Urbanismo em março de 1975 e até mesmo desconfianças de ordem financeira sobre as brigadas técnicas. Os técnicos envolvidos no processo apresentaram a memória e o estado da arte a partir do VI Conselho Nacional do SAAL, em novembro de 1976, e organizam o “Livro Branco do SAAL: 1974 - 1976”. 111 Este Livro Branco não é apenas uma memória do SAAL. É, sobretudo, um esforço projectivo de uma experiência que está viva. Este Livro Branco não diz, portanto, respeito apenas a um passado que se descreve com fidelidade. Pretende-se criar um ponto de apoio para o futuro imediato. A luta dos moradores pobres também passa por um SAAL à sua medida e de acordo com a sua vontade colectiva e organizada. A sua luta não parou. A sua luta continua. Daí que a memória contida neste Livro Branco não seja uma pedra tumular. É antes o alicerce de um edifício popular a construir na luta de todos os dias. Cidade a cidade, bairro a bairro, ilha a ilha, casa a casa e quarto a quarto. A luta pelo direito à habitação segundo uma perspectiva popular de combate. Contra os mecanismos de perpetuação da miséria. A luta por casas dignas e decentes como alternativa dos moradores pobres e dos operários da construção civil. Uma memória para os técnicos implicados. E para muitos deles de projectivo, também. Para estes o futuro é irremediavelmente diferente. Difícil mas imensamente melhor. O SAAL que os moradores quiserem e querem também passa pelos técnicos ao seu serviço. Com efeito (SAAL, 1976, p. 8). 112 2.4 O legado do SAAL na política habitacional de Portugal e as influências na formação das cooperativas habitacionais O processo SAAL, mesmo com curta duração (1974-1976), deixou um legado metodológico na cultura da habitação social. As cooperativas de habitação econômica que se desenvolveram pelo país, após o 25 de abril de 1974, incorporaram o método participativo e produziram conjuntos habitacionais marcados pela qualidade arquitetônica e que se caracterizaram também pelo envolvimento dos moradores no processo, gerando sentimentos de pertencimento de seus moradores. Este capítulo pretendeu dar uma visão sobre a formação do processo SAAL e seus antecedentes históricos, com destaque para a novidade da participação social, fundamental no processo construtivo. A relação estabelecida entre os atores envolvidos – movimentos sociais, brigadas técnicas, intelectuais e setores do Estado – demonstra a experiência singular, na qual cada um, a sua maneira, contribuiu para o desenvolvimento de uma metodologia participativa e para as transformações políticas e urbanísticas então concentradas em Portugal. Tal como sintetiza Coelho (2013), até meados dos anos 1980 o período tem sido designado como “anos dourados”, por surgir ai a grande maioria das cooperativas de habitação de Portugal, nomeadas “cooperativas de habitação económica”. Na sequência em 1980, uniram-se e criaram a Federação Nacional de Cooperativas de Habitação Económica – FENACHE. Em 1984 surge o Instituto Nacional de Habitação. O autor faz reflexão sobre características: este período pós SAAL e destaca as principais 113 [...] na promoção cooperativa, que a seguir ao 25 de abril se auto-organizou e promoveu conjuntos significativos de habitações de interesse social para grupos sociais diversificados, os aspectos sociais e arquitetónicos que caracterizam essa promoção e que ficaram associados a um conjunto de soluções de habitar, marcadas, em muitos casos, pela qualidade arquitetônica e por aspectos de forte afinidade com seus moradores, soluções que aliaram, portanto, aspectos de bom desenho e de satisfação dos habitantes.... dinamização do convívio, apropriação e participação direta / indireta dos habitantes na formalização e na gestão dos seus espaços de habitar, que se julga terem estado bem presentes neste período da promoção cooperativa de habitação económica e que se prolongaram pelo período subsequente [...] (COELHO, 2013, p 136) Com o apoio governamental nos diferentes níveis, muitas associações que tinham como base organizações de núcleos de amigos e conhecidos, trabalhadores de um mesmo segmento ou empresa, organizaram-se em cooperativas para a produção de habitação social. Destacamos um exemplo conhecido no Brasil, o conjunto habitacional da Malagueira, localizado em Évora, região do Alentejo, distante 140 Km de Lisboa. Na Quinta da Malagueira, figuras 2.20 e 2.21 com 27 hectares, o arquiteto Álvaro Siza Vieira desenvolve um plano e projeto, cuja construção se produziu em diferentes etapas entre 1977-1998, com 1200 unidades habitacionais, conforme descreve Coelho (2013): 407 são das cooperativas Boa Vista e Habitévora; 100 da associação de moradores de São Sebastião; 300 promoção direta do FFH; 93 por contratos de desenvolvimento; 300 por iniciativa privada. A tipologia adotada é a casa-pátio, conforme a figura 2.19. Para Coelho (2013), este tipo gera ricas continuidades urbanas, relacionandose com aspectos históricos e atuais da cidade preexistente. As figuras a seguir, apresentam as soluções domésticas unifamiliares evolutivas centradas em pátios privativos com tipos diferentes na posição dos pátios, bem como a qualidade de vários conjuntos visitados. 116 Contudo, a participação dos cidadãos nos procedimentos das decisões dos poderes públicos e valorização da democracia constituem instrumentos para o exercício da cidadania, conforme inscrito nos artigos 65 (habitação e urbanismo) e 66 (Ambiente e qualidade de vida) da 2ª Constituição da República Portuguesa de 1976. A memória do processo SAAL é resgatada no primeiro semestre de 2014 em Portugal, sobretudo nas comemorações dos 40 anos do 25 de abril de 1974 (Revolução dos Cravos). Nos debates, simpósios, filmes, textos e diferentes instituições são lembrados com muito entusiasmo pelos diferentes atores que viveram a experiência. Nesse sentido, nas conferências47 sobre o processo SAAL, os arquitetos Nuno Portas e Alexandre Alves Costa mencionam que o SAAL funcionou em função da organização dos moradores que constituíram comissões em diferentes regiões do país, desenvolveram formas de se relacionar entre si e criaram uma federação das associações de moradores denominada Conselho Revolucionário de Moradores. Em entrevista para esquerda.net, em 26 de abril de 2014, Alexandre Alves Costa comenta sobre o SAAL: Eu acho que nós, apesar de nunca termos posto em causa as nossas competências técnicas enquanto arquitetos, alteramos muito o nosso trabalho do ponto de vista metodológico. Os arquitetos que estavam habituados a trabalhar em habitação social trabalhavam com base em inquéritos sociológicos e, portanto, as populações nunca eram ouvidas. Nem sabiam quem ia para lá viver. No SAAL, havia uma relação direta e as populações eram como um cliente ativo – iam aos ateliers discutir os projetos, tal como faz um cliente normal. Portanto os arquitetos tiveram de alterar bastante a sua metodologia de trabalho (COSTA, 2014). 47 Fundação Serralves na cidade do Porto, Simpósio SAAL: Em Retroprospetiva em 10/05/2014. No Ciclo cinema – 40 anos 25 abril, Casa da Cidadania – Fórum Lisboa (antigo Cinema Roma) conferência antes do filme “Continuar a viver: os índios da meia praia” 1976 em 05/06/2014 e na Faculdade de Arquitectura Universidade de Lisboa, no Ciclo Intervir no local, novas práticas, novas questões em 12/06/2014. 117 Em 2013 é criado na Câmara Municipal de Lisboa o programa BIP/ZIP (Bairro e Zona de Intervenção Prioritária) dentro do Programa Local de Habitação (PLH), como um instrumento de política pública municipal de desenvolvimento local. Os objetivos do programa visam dinamizar parcerias locais através de diferentes intervenções para a melhoria do habitat e apoio a projetos locais que contribuem para coesão sócia territorial, cujo formato remete às origens do processo SAAL, conforme Paula Marques 48 , então Vereadora da Habitação da Câmara Municipal de Lisboa. O processo SAAL é retratado em vários documentários, entre eles “As operações SAAL” de João Dias e “Continuar a Viver” de António da Cunha Teles, imortalizado na canção de Zeca Afonso “Os Índios da MeiaPraia”. No próximo capítulo aborda-se a questão da participação popular na produção da moradia, a partir da comunidade, do arquiteto e das origens da Assessoria Técnica com o resgate das influências entre Brasil e Portugal. 48 Entrevista realizada pela autora com a vereadora de habitação Paula Marques em 14/05/2014. 118 119 CAPÍTULO 3. A comunidade, o arquiteto e a moradia digna: processo de projeto participativo e assessoria técnica no Brasil O debate sobre a participação social e a moradia digna no Brasil data da década de 1960, no âmbito do contexto de intensificação da urbanização e dos problemas relacionados à habitação. A luta pela Reforma Urbana é um importante marco deste período, cujos princípios são retomados na década de 1980, no período de redemocratização do país. Na década de 1960, Carlos Nelson dos Santos inicia, ainda enquanto estudante, uma importante experiência de projeto participativo na favela Brás Pina, Rio de Janeiro. Tal experiência inspira outras iniciativas realizadas a partir dos anos de 1980, culminando na formação das primeiras assessorias técnica. O objetivo principal deste capítulo é entender o que é projeto participativo no contexto das assessorias técnicas e as diferentes fases que envolvem o processo, desde a concepção à viabilização do empreendimento de habitação social e a apropriação dos futuros moradores. 120 O capítulo inicia com uma breve contextualização da Reforma Urbana no Brasil e a luta social pelo direito à cidade e à habitação, bem como os desdobramentos para a atual política urbana e habitacional do Brasil. Na sequência resgatam-se as origens das assessorias técnicas que dão suporte técnico aos movimentos sociais de moradia, com destaque para as experiências práticas dos primeiros projetos participativos registrados no Brasil nos anos de 1960, como a urbanização da Favela Brás de Pina no Rio de Janeiro, realizada pelo grupo Quadra, sob liderança de Carlos Nelson dos Santos, seguidas nas duas décadas seguintes pelos laboratórios de habitação que constituíram as assessorias técnicas em algumas faculdades de Arquitetura no Rio de Janeiro e São Paulo. Por fim, discorre-se, na última parte sobre o conceito de projeto participativo, o papel da assessoria técnica na da participação social na atualidade. 121 3.1 Reforma Urbana e a luta pelo direito à cidade A trajetória de luta pela Reforma Urbana na década de 1960 é marcada pelo período em que os segmentos progressistas da sociedade reivindicavam reformas estruturais. A urbanização acelerada das cidades brasileiras decorre do intenso êxodo rural que deflagrou um conjunto de problemas ligados à moradia e infraestrutura até então carentes de políticas públicas. No Brasil, ao longo deste período a importância da população rural reduz-se drasticamente enquanto a urbana se eleva. Se em 1940 a população rural brasileira representava 68% contra 32% de população urbana, em 1970 essa situação inverte-se, a população urbana atinge quase 56% da população total, chegando à 67% da população total na década seguinte. Ou seja, em apenas 40 anos, de 1940 a 1980, a população urbana brasileira mais do que dobrou (ALVIM, 2009, p. 342). Conforme Bonduki e Koury (2010), a primeira proposta foi formulada em 1963 no Seminário de Habitação e Reforma Urbana (SHRU), realizado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil com apoio do IPASE1, com o tema “O homem, sua casa, sua cidade” e aconteceu em duas etapas: no Rio de Janeiro no hotel Quitandinha e em São Paulo na sede do IAB. As condições habitacionais no País são apresentadas com diagnósticos - decorrentes da desproporção de renda entre a população – atreladas às propostas com medidas para o estabelecimento de uma política de planejamento urbano e de habitação. Nos resultados do seminário, a habitação é assegurada como direito fundamental ao homem2 e indica os limites ao direito de propriedade e 1 2 Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Servidores do Estado. Grifo da autora. 122 uso do solo3 que estão descritos no documento final que propõe a criação de uma estrutura institucional, com a função de cuidar da questão urbana e habitacional com recursos concentrados. O documento orientava também a formulação do Plano Nacional de Habitação e a criação do Conselho Nacional de Habitação e do Fundo Nacional de Habitação 4. No âmbito do SHRU, o acesso à terra estava no centro das discussões, e as propostas estabeleciam medidas para a aquisição de terras para combater a especulação imobiliária e conseguir concretizar políticas públicas, principalmente de habitação. Maricato (2011) aponta que a definição de “propriedade ociosa como ilegítima”, será, posteriormente, conceito para a raiz do Estatuto da Cidade5, a terra o ponto central para a transformação do país e que deve cumprir função social. A ditadura militar instaurada em 1964 com o golpe militar no país inviabilizam as propostas do SHRU. O regime ditatorial permaneceu no poder até 1985. Saule e Uzzo (2009) destacam que o novo regime cria o Sistema de Financiamento Habitacional (SFH) com recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE)6, simultaneamente com a criação do Banco Nacional de Habitação (BNH)7, mas sem a lógica da Reforma Urbana. A produção habitacional do período do BNH é marcada por vários aspectos negativos: tipologias empobrecidas com péssima qualidade arquitetônica e urbanística, resultando em paisagem homogênea e uniforme, consequentemente, sem identidade, localização periférica, utilização de materiais de baixa qualidade técnica, entre outros fatores. 3 4 5 6 7 Idem. Ver SERRAN, 1976. Lei Federal 10.257 de 10 de julho de 2001. Mecanismos de captação de recursos para empréstimos do BNH. Em vigor de 1964 a 1985. 123 Conforme Maricato (2011), a produção habitacional do BNH deveria ser destinada para a classe mais pobre da população, porém para legitimar o regime autoritário os programas e as políticas são realizados na sua maioria para atender a classe média. Para o espaço urbano, Maricato (2011) afirma que nas cidades brasileiras, de certa forma, o reflexo dos anos do BNH e a construção de grandes conjuntos habitacionais massificados para a classe mais pobre, nas áreas periféricas sem infraestrutura, com escopo reduzido, contribuíram já naquele momento, para o espraiamento da malha urbana, também com outras formas de morar como assentamentos precários, autoconstrução, loteamentos irregulares, favelas, etc. Ao mesmo tempo, vale destacar que entre os anos de 1960 e 1970 as cidades brasileiras eram geridas com a lógica de planos tecnocráticos “[...] apoiados apenas em saberes técnicos, dos quais a população era considerada incapaz de saber, agir e decidir” (SAULE e UZZO, 2009, p. 261). Neste cenário, Gohn (1991) afirma que os movimentos sociais de classe – sindical, urbano e rural - nas décadas de 1970 e 1980 - ganham força com abertura gradual do regime e lutam por bens de consumo coletivo. As reivindicações estavam ligadas a temas da Reforma Urbana e Direitos Universais como infraestrutura urbana, saúde, educação, transporte, habitação, redução de tarifas (água, luz, gás), creche. A Igreja Católica, através das Comunidades Eclesiais de Base apoia as reivindicações e defende a função social da propriedade, com objetivo de melhorar a gestão democrática e participativa das cidades. O movimento de moradia talvez seja hoje, o principal movimento social do país e o principal interlocutor com o processo de projeto participativo da habitação de interesse social. 124 No município de São Paulo, por exemplo, o movimento social tem origem nas lutas dos moradores de cortiços, contra as altas taxas de luz e água, contra os despejos sem aviso prévio, contra os abusos dos intermediários e pela regularização de loteamentos, ocorridas no fim da década de 1970 e início dos anos 1980 (GOHN, 1991; KOWARICK, 1994). Nas áreas mais periféricas da cidade, os diferentes movimentos reivindicavam o acesso aos direitos à cidadania, pelas melhorias urbanas e pela moradia, mobilizando milhares de pessoas em ocupações de terras. Em 1987, a União dos Movimentos de Moradia (UMM) é criada para organizar os diferentes movimentos. Ainda em São Paulo é importante lembrar que, no contexto da ditadura militar na metade da década de 1970, inicia-se a articulação de movimento sindical sem vínculo com o Estado e as discussões sobre os problemas populares aconteciam nas Comunidades Eclesiais de Base – CEBs da Igreja Católica, motivadas pela Teologia da Libertação. Nas Pastorais são formulados cursos de formação com a pedagogia de Paulo Freire para a população com o objetivo de discutir os problemas enfrentados dentro do cortiço8. As Pastorais da Arquidiocese trabalhavam com a população moradora de cortiço9, sendo que as regiões Belém, Ipiranga10 e Sé11 tiveram maior envolvimento em função da heterogeneidade do local, abrangendo concentração de pobreza e miséria com áreas nobres da cidade. Com o tempo e a atuação com os vários tipos de moradias precárias, as pastorais passam a se chamar de Pastoral da Moradia (CARICARI e KOHARA, 2006, p. 22). 8 Ver NEUHOLD (2009). Conforme mostra Neuhold (2009) no fim da década de 1970, a Igreja de São Rafael, localizada na Mooca, patrocina uma pesquisa sobre as condições de vida de dentro dos cortiços. O resultado demonstrou que a maioria dos moradores é migrante da região do nordeste do Brasil, com renda de dois salários mínimos por mês. Os banheiros, tanque e pia eram sempre coletivos, trazendo filas para a utilização com extrema insalubridade, consequentemente, a proliferação de doenças, os preços altos pelos cômodos e a violência do intermediário9 eram constantes nos cortiços (ASSOCIAÇÃO DOS TRABALHADORES,1993 p. 8-10 apud NEUHOLD, 2009 p. 40-41). 10 Belém e Ipiranga – a precariedade habitacional é caracterizada além dos cortiços tradicionais também pelos cortiços de quintais, favelas e moradias precárias de aluguéis. 11 Sé – predominavam os cortiços tipo casarões antigos e adaptados. 9 125 A retomada com maior força dos ideais da Reforma Urbana acontece em 1985, após a redemocratização do país quando diversos atores se articulam entre a sociedade civil organizada em movimentos sociais e entidades, que apresentam no Congresso Nacional, em 1987, uma emenda de iniciativa popular com propostas inovadoras de política urbana fundiária e habitacional. Para Bonduki e Koury (2014), a nova Constituinte é marcada pela luta da democratização. Destaca-se no seu regimento interno o ingresso de “mecanismos de participação popular direta”, subscrita por 0,1% dos eleitores (cerca de 80 mil pessoas no período) para a Emenda Constitucional de Iniciativa Popular para a criação do Movimento Nacional pela Reforma Urbana (MNRU), com objetivo de agregar diferentes grupos pelo direito à habitação e à cidade. A recuperação histórica do SHRU permite o resgate de um momento onde a contribuição dos arquitetos esteve voltada à criação de uma política nacional de habitação e a instituição de instrumentos de reforma urbana como elemento fundamental para garantir o direito à arquitetura. Os ideais e o contexto do período são relatados por Saule e Uzzo (2009) a seguir: Em 1986, o Movimento Nacional pela Reforma Urbana define o conceito da reforma urbana como uma nova ética social, que condena a cidade como fonte de lucros para poucos em troca da pobreza de muitos. Assume-se, portanto, a crítica e a denúncia do quadro de desigualdade social, considerando a dualidade vivida em uma mesma cidade: a cidade dos ricos e a cidade dos pobres; a cidade legal e a cidade ilegal. Condena a exclusão da maior parte dos habitantes da cidade determinada pela lógica da segregação espacial; pela cidade mercadoria; pela mercantilização do solo urbano e da valorização imobiliária; pela apropriação privada dos investimentos públicos com moradia, em transportes públicos, em equipamentos urbanos e em serviços públicos em geral (SAULE e UZZO, 2009, p. 260-261). 126 Segundo Alvim (2009), a promulgação da Constituição Federal de 1988, agregada à restauração da democracia, à nova política urbana, teve como base o fortalecimento do Município, com autonomia e administrada por Lei Orgânica própria (CF, artigo 29). Este recebeu a responsabilidade de implementar um processo de planejamento urbano inclusivo e participativo. O artigo 23 da Constituição Federal de 1988 estabelece a competência comum da União, dos Estados e dos Municípios: promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico. Os artigos 182 e 183 definem as diretrizes básicas para a política urbana. Instituiu-se a possibilidade de utilização de instrumentos jurídicos e urbanísticos para evitar e combater a especulação imobiliária, como o imposto progressivo no tempo, regularização fundiária e usucapião. O Plano Diretor, segundo o artigo 182, é obrigatório para as cidades com mais de 20 mil habitantes, tornando-se o principal instrumento da política urbana municipal com a responsabilidade da aplicação dos novos instrumentos. O município tem a responsabilidade a partir da CF de “definir quando uma propriedade urbana cumpre ou deixa de cumprir a função social” (BONDUKI e KOURY, 2014, p. 86). O Fórum Nacional de Reforma Urbana (FNRU) forma-se após a Constituição Federal de 1988 com objetivo de regulamentar o principal Capítulo da Política Urbana e treze anos depois é aprovada a Lei Federal 10.257 de 10 de julho de 2001, denominada Estatuto da Cidade, que viabiliza instrumentos urbanísticos aos municípios para elaborarem seus Planos Diretores e uma nova política urbana. A Lei é composta por cinco capítulos: no primeiro, são diretrizes gerais para a função social da cidade e da propriedade urbana. No segundo, instrumentos aplicados a imóveis subutilizados ou não utilizados – Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) progressivo no tempo e desapropriação com pagamento com títulos da dívida pública, usucapião especial urbano, direito de superfície, direito de preempção, outorga onerosa do direito de construir, operações 127 urbanas, transferência do direito de construir e estudo de impacto de vizinhança. No terceiro, critérios básicos para o Plano Diretor. No quarto, questões relacionadas à gestão democrática da cidade e no quinto, disposições gerais com interfaces com leis federais que responsabilizam o prefeito pela não aplicação da lei. [...] o Estatuto contribuiu para a gestão democrática da cidade ao determinar que todos os projetos e planos urbanísticos devem, obrigatoriamente, passar por processos participativos, procurando superar o caráter autoritário e/ou tecnocrático que esteve presente, até então, nas regulamentações municipais[...] (BONDUKI e KOURY, 2014, p. 87). A política urbana passa a ser tratada no Ministério das Cidades em 2003, onde no mesmo ano foram criadas as Conferências das Cidades no âmbito nacional que tinham como objetivo discutir as diretrizes e escolher os representantes da sociedade civil no Conselho das Cidades. A partir de sua criação, o Ministério das Cidades12 contribui com a formulação de políticas voltadas para a redução das desigualdades, com programas e ações como: o acesso ao crédito habitacional, o programa de Crédito Solidário para a autogestão, Plano Diretor Participativo, Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o Programa Minha Casa, Minha Vida. Apesar de várias críticas, esses últimos impulsionaram a economia nacional com a geração de empregos na construção civil. Em 2008 foi aprovada a Lei Assistência Técnica Pública e Gratuita, a Lei Federal nº 11.888, para assegurar assistência de profissionais arquitetos e engenheiros para desenvolvimento de projeto, construção, reforma e ampliação de habitação social para famílias que ganham até três salários mínimos, porém a Lei é inoperante. 12 Vale ressaltar “Com vistas a manter a chamada (governabilidade), o eufemismo para a troca de favores visando ao apoio parlamentar, o ministério foi rifado e entregue (uma situação que se mantém até hoje, no governo Dilma, e que teve reflexos também na composição das secretarias municipais de São Paulo) a um partido de base conservadora, o PP (Partido Progressista), o que determinou a saída de Ermínia da secretaria executiva” (CARVALHO, 2011, p. 62). 128 3.2 Projetos participativos e origens das Assessorias Técnicas no Brasil Para entender a origem dos projetos participativos com as assessorias técnicas (nome usual para os grupos de profissionais que desenvolvem projetos de habitação social de forma participativa com comunidades carentes de moradia) apresenta-se a seguir, experiências inovadoras que ocorreram a partir dos anos de 1960. Tais experiências posteriormente contribuem para a determinação de um processo de projeto participativo. No âmbito da ditadura militar, o apoio técnico ligado à conquista do direito à habitação e à cidade para os movimentos sociais e comunidades carentes de infraestrutura básica nas cidades brasileiras, manifesta-se através de grupos de arquitetos que desenvolvem projetos de forma participativa no local de origem, valorizando a preexistência da comunidade, e trabalhando como tradutores no diálogo com técnicos do poder público. Reverte, assim, a lógica tecnocrata até então praticada para habitação social. Apresentam-se neste item programas alternativos aos praticados até então (unidades prontas), com pressupostos defendidos pelos movimentos de moradia e segmentos progressistas. Neste contexto, o Rio de Janeiro é precursor: destacam-se a experiência da urbanização da favela Brás de Pina com o arquiteto Carlos Nelson Ferreira dos Santos do grupo Quadra, que posteriormente, influenciou iniciativas semelhantes que são formalizadas como atividades de extensão extracurriculares; e o Núcleo de Estudos e Projetos Habitacionais e Urbanos – NEPHU/UFF da Universidade Federal Fluminense localizada em Niterói. Em São Paulo, no final dos anos de 1970 no âmbito do Sindicato dos Arquitetos de São Paulo é formada uma cooperativa de habitação envolvendo alguns arquitetos que em seguida alguns arquitetos irão compor o Laboratório de 129 Habitação da Faculdade de Belas Artes de São Paulo - LABHAB FEBASP (então Centro Universitário de Belas Artes de São Paulo). 3.2.1 Rio de Janeiro: a experiência do Grupo Quadra e do NEPHU/UFF. Carlos Nelson dos Santos, o grupo Quadra e a Favela Brás Pina O exemplo do arquiteto Carlos Nelson Ferreira dos Santos, líder do Grupo Quadra, que desenvolve, a partir de projeto participativo com a comunidade carente da Favela Brás de Pina no Rio de Janeiro, a metodologia prática, que vai influenciar mais tarde em políticas públicas de urbanização de favela. O cenário político do Estado da Guanabara (atual Rio de Janeiro) era de limpeza urbana em 1964 (ditadura militar), com remoções das favelas e construção na periferia de conjuntos habitacionais massificados, distantes do local de origem de seus moradores, como destacamos anteriormente. Conforme Santos (1981), a Favela Brás de Pina tinha um diferencial em relação às outras favelas no tocante à organização interna da sua população: a atuação da associação de moradores era respeitada, com pessoas qualificadas, alfabetizadas, politizadas, trabalhadores com empregos estáveis e que recebiam orientação sobre seus direitos e deveres através de um padre da comunidade. Quando do anúncio de remoção da favela em 1964, conjuntamente os moradores protestaram, o que culminou com a manutenção da favela e 892 famílias, sendo que apenas 1/3 dos moradores aceitaram sair para os conjuntos habitacionais construídos na periferia. A luta pela permanência se transformou numa luta pelo direito à urbanização da favela, reivindicando o direito à cidade, como afirma Lefebvre, (1968; 2011) e Abrams (1967). 130 A situação dos barracos na favela era precária. Eles estavam assentados em aterros realizados pelos moradores em terreno pantanoso, com condições insalubres. A associação de moradores justificou, junto ao poder público, a permanência da favela defendendo que a sua urbanização era possível. Assim, a associação local e o padre convidaram os estudantes13 para serem “assessores para assuntos urbanísticos e habitacionais”, momento no qual Carlos Nelson F. Santos toma conhecimento da situação (SANTOS 1981, p. 43). As figuras 3.1 mostram a situação da Favela Brás de Pina, em 1964, com as casas sobre palafitas em área alagada e o cartaz para mobilização dos moradores, pela não remoção da favela do local. Figura 3.1: A favela Brás de Pina na luta pela urbanização. Fonte: Fotos do Arquivo Nacional, 2013. No livro “Movimentos Urbanos no Rio de Janeiro” de 1981, Carlos Nelson Ferreira dos Santos descreve a sua participação nesse processo. Em 1964, as lideranças da associação convidaram os estudantes de arquitetura para desenvolver um plano para a área da favela e dar subsídios técnicos, para discutir com o governo uma proposta de urbanização. Através do apoio técnico especializado, os líderes da favela visavam um plano de urbanização, bem como, obter referências técnicas que os auxiliassem no diálogo com as autoridades sobre a viabilidade de 13 Conforme Costa e Azevedo (2012) os estudantes da faculdade de arquitetura e urbanismo eram Rogério Dias Costa Aroeira Neves, Sylvia Lavenère Wanderley, Sueli Santos Azevedo (posteriormente com Carlos Nelson F. Santos formam o grupo Quadra) e Zilda Maria dos Santos. 131 urbanização. Assim, surge o primeiro, do que mais tarde viria se chamar de Assessoria Técnica no Brasil, cujo objetivo era fornecer o apoio técnico a comunidades carentes de moradia. Santos (1981) destaca a crítica ao ensino de arquitetura naquele período, como a crise de maio de 1968 na França apontada por Bandeirinha (2007), na qual a prática estava desligada do contexto real e dos problemas sociais das cidades. [...] a palavra de ordem era “realidade brasileira”. De tanto usar a expressão, acabamos por não aguentá-la mais. Estávamos desiludidos com “ações” que se limitava a reuniões e a assembleias infindáveis. Depois da revolução ficamos como era natural, muito desorientados. Editávamos nosso próprio jornalzinho, chamado Arquitetura & Realidade [...] Foi então que concluímos que chegava de falar tanto em realidade sem ir lá ver onde é que ela estava. Decidimos que precisávamos de ações concretas de práticas sobre assuntos relativos ao nosso campo profissional empírico: a cidade e seus problemas de habitação. Isso poderia servir como matéria-prima para embasar nossos conhecimentos, que, pelas famosas lacunas de formação universitária, eram muito incompletos (SANTOS, 1981, p. 43). O plano de urbanização tornou-se um importante instrumento de negociação com o poder público. A própria elaboração do plano aconteceu a partir de uma metodologia inovadora para a época no Brasil (até então as decisões eram tecnocratas) e que, mais tarde, viria a salvaguardar não só o que era reivindicado, como também a manutenção das conquistas realizadas. A metodologia baseou-se no desenvolvimento de um diagnóstico da situação efetuado pelos próprios moradores com a orientação do grupo de arquitetos. Trechos da favela foram desenhados, as reais condições de habitabilidade identificadas e as famílias caracterizadas de um ponto de vista socioeconômico. Com base no mapeamento da favela, os arquitetos alinhavaram propostas de urbanização, transformando a informação recolhida em matéria de comunicação e discussão com a população. Várias propostas foram discutidas até a conclusão do plano. 132 No desenvolvimento do plano de urbanização foram apresentadas cinco alternativas da divisão da terra que ficaram em exposição na sede da Associação, para o conhecimento e debate entre moradores. Entre as propostas apresentadas, uma delas representava o “ideal de uma comunidade” segundo os arquitetos, que propunha um condomínio horizontal com a possibilidade de futuramente aumentar a densidade populacional. Porém, para atender o anseio que o conjunto do então padrão de moradia dos bairros vizinhos despertava, as famílias optaram por terrenos individualizados de 120m2. Desse modo, o projeto de parcelamento do solo dividiu a área em 900 lotes iguais, conforme a figura 3.2. O uso dos espaços livres e a localização dos serviços ficaram a cargo da Associação. Figura 3.2: Debate da urbanização e a escolha dos lotes com os moradores Fonte: Santos, 1981, p. 31. 133 Ao longo deste processo, as relações entre poder público e os moradores da Brás de Pina alteraram-se, e essa favela passou a protagonizar o programa, também símbolo de algo positivo, de um novo governo14 em que, em função da organização comunitária e da luta contra a remoção, tomou a urbanização como um ideal a ser alcançado (SANTOS, 1981). Em 1968, foi criada a empresa CODESCO (Companhia de Desenvolvimento de Comunidades), uma estatal de economia mista que realizava estudos e pesquisas, e executava os planos de urbanização. Nesse contexto, forma-se o grupo Quadra15 Arquitetos Associados Ltda., integrando os recém-formados arquitetos, entre eles Carlos Nelson Ferreira dos Santos, que de certa forma deu origem ao primeiro grupo que se tem conhecimento no Brasil de Assessoria Técnica. As obras de urbanização da Favela Brás de Pina começaram em 1969. O processo de remanejamento das famílias foi realizado com a intermediação da Associação de Moradores e a “Casa Branca” da CODESCO, como um escritório local para a coordenação das ações de execução do projeto técnico com os engenheiros, arquitetos e as assistentes sociais. Finalizadas as obras de urbanização, em 1971, os moradores solicitaram o desenvolvimento de projetos para financiamento dos materiais para a construção das casas. O grupo Quadra utilizou a seguinte metodologia: os moradores desenharam a planta da casa desejada em consonância com as necessidades e anseios familiares, desse levantamento prévio resultaram 300 plantas com diferentes tipologias, em seguida traduzidas num estudo com 13 modelos expostos para a escolha dos moradores. 14 Negrão de Lima, oponente do anterior governo do Estado, em 1966 Governador, comprometendo-se a não remover as favelas e a buscar alternativas. 15 Formada pelos arquitetos Carlos, Sylvia, Sueli e Aroeira (Santos, 1981 p. 57). O grupo Quadra prestou serviços de apoio técnico, consultoria e execução de planos urbanísticos e habitacionais. 134 Conforme Santos (1981), o tipo 2B com 47 m2 – sala, dois dormitórios, banheiro, cozinha, varanda e área de serviço – recebeu 40% das escolhas, conforme as figuras 3.3 e 3.4. Com as plantas aprovadas, os moradores pediam o financiamento dos materiais de construção e o grupo Quadra fazia o acompanhamento do desenvolvimento da obra. Em dois anos os lotes estavam com as casas construídas. Figura: 3.3: projeto do morador Fonte: Santos, 1981, p. 68 Figura 3.4: projeto traduzido pelo arquiteto Fonte: Santos, 1981, p. 69 [...] Três modelos básicos nortearam essa fase da construção da habitação. A liberdade de concepção, a autoconstrução e a desapropriação com o formal. Isto é, se a família queria alguma coisa dentro da informalidade, sendo viável procurava-se respeitar e até incorporar aquela informalidade ao programa. [...] uma coisa não se efetivou foi a propriedade da terra porque, naquela ocasião, era muito complicado fazer uma desapropriação, era muito demorado, complicadíssimo para o Estado e essa terra acabou não sendo repassada, oficialmente, efetivamente para os moradores [...] (BLANK, 2012, p.181 e 182). 135 A experiência de Brás de Pina pautada nos anseios dos moradores e sua efetiva participação demonstra a força de uma comunidade organizada com apoio técnico adequado. O respeito ao morador, à família e à comunidade [...] este respeito fez com que o trabalho fosse pautado neles, na vontade deles, no que realmente era a sua necessidade e o que eles gostariam, embora nem sempre fosse possível [...] permitir que a informalidade da população fosse incorporada (BLANK, 2012, p.184). Por fim, esta primeira experiência de Assessoria Técnica ajudou a demonstrar as necessidades e desejos da população ao poder público, por meio do processo e projeto participativo, servindo como um interlocutor na viabilização de urbanização e habitação. Conforme Blank (2012), no processo da Favela Brás de Pina, o olhar sensível e a visão sociológica, antropológica de Carlos Nelson Ferreira dos Santos contribuiu para induzir o processo de urbanização e a valorização da participação do arquiteto integrado a comunidade. Seu modo de agir ensinava os outros profissionais “[...] ir pra rua e olhar, olhar de outra forma. Essa coisa de abrir os olhos para ver e observar a realidade física e interpretar essa realidade”. (BLANK, 2012, p.185). Outras duas favelas também foram trabalhadas pelo grupo Quadra no Morro Azul e Catumbi no Rio de Janeiro. A experiência da Favela Brás de Pina e o texto “Urbanização e Habitação – Processos e Produtos” 16 foram apresentados por Carlos Nelson Ferreira dos Santos no LNEC em Portugal no ano de 1972. Vale destacar, posteriormente, publicou o livro “A cidade como um jogo de cartas”, no qual a cidade é entendida e trabalhada pela compreensão do espaço e seus atores. 16 Santos, 1972; cf. Acervo de Nuno T. Pereira, LNEC 136 Ensinar a jogar a cidade como um jogo de carta. E um jogo de carta onde vai entrar o espaço, o lote, o quarteirão, a rua, o bairro, que é uma contínua agregação. Uma agregação que quanto mais se faz, mas sai do controle, portanto é mais democrática [...] as cidades têm regras, diretrizes – como são os jogos de baralho (COSTA e AZEVEDO, 2012, p. 231).17 Em seguida, e por influencia do Grupo Quadra e sua ação na Favela Brás Pina, ocorre outra importante experiência no Núcleo de Estudos e Projetos Habitacionais e Urbanos da Universidade Federal Fluminense (NEPHU/UFF) em Niterói, Rio de Janeiro, onde Carlos Nelson Ferreira dos Santos foi professor do curso de Arquitetura e Urbanismo. Núcleo de Estudos e Projetos Habitacionais e Urbanos da Universidade Federal Fluminense (NEPHU/UFF) A experiência do NEPHU/UFF iniciou com a Favela do Gato localizada no meio do traçado da rodovia BR-101 no trecho Niterói – Manilha que deveria ser removida em 1982. Os moradores se organizaram e buscaram ajuda externa para a luta contra a remoção, convidaram a UFF para realizar um apoio técnico para o problema. O NEPHU/UFF trabalhou no processo como apoio técnico com os professores / técnicos para encaminhar soluções para as reivindicações da comunidade aos técnicos do Poder Público, no caso o DNER (Departamento Nacional de Estradas e Rodagens). A mobilização da população apoiada com o saber técnico da Universidade conseguiu desenvolver um projeto com a remoção das famílias que estavam na faixa da estrada para um conjunto de 71 17 Entrevista de Carlos Nelson Ferreira dos Santos antes do lançamento do livro “A cidade como um jogo de cartas” em 1988, cujo objetivo pedagógico tinha a intensão de ensinar as regras dos diferentes “jogadores” (atores) da cidade à população. 137 lotes com 2 alternativas de moradias, próxima do local de origem. O restante da favela foi regularizado com a propriedade da terra e as melhorias na infraestrutura como coleta de esgoto, desenvolvidas por mutirões com orientação técnica pela UFF (BIENENSTEIN, 2012). Lembra-se mais uma vez, que nesse período o movimento social estava lutando pela democracia no país, por melhores condições de vida. Bienenstein (2012) ressalta que o exemplo da Favela do Gato foi transmitido para outras comunidades e o NEPHU é inaugurado na UFF como núcleo experimental de apoio à pesquisa e à extensão, com exercício da Assistência Técnica gratuita, a partir de uma equipe interdisciplinar. [...] A integração entre ensino, pesquisa e extensão, entre o saber técnico e popular e a permanente busca de respostas inovadoras (BIENENSTEIN, 2012, p. 44). Atualmente, o NEPHU está ligado à Pró Reitoria de Extensão da UFF, os projetos do núcleo tem origem no cliente, na demanda coletiva para beneficiar a população de renda baixa. As linhas de atuação são: formação de profissionais, capacitação do movimento social, assessoria técnica a gestores públicos e ao movimento social, geração de trabalho e renda e investigação. 3.2.2 Experiências em São Paulo: SASP e Laboratório de Habitação da Faculdade de Belas Artes Em São Paulo, entre os anos de 1970 e 1980 duas importantes experiências destacam-se e são referências que contribuem para a metodologia de projeto participativo e formação das primeiras assessorias técnicas. São elas: a Cooperativa do Sindicato do Estado de São Paulo e o Laboratório de Habitação da Faculdade de Belas Artes de São Paulo (atual 138 Centro Uniersitário Belas Artes de São Paulo). Além disso, estas experiências irão formar os principais interlocutores da política de habitação social que irá ser implementada em São Paulo a partir dos anos de 1990, durante a gestão da então Prefeita Luiza Erundina (1989 1992). Como já apontado anteriormente, no período de 1964 até 1986 a questão da habitação social contava, no setor público, com um órgão central que era o Banco Nacional de Habitação (BNH) e a Cohab (Companhia Metropolitana de Habitação), como agente promotor. A política habitacional estava baseada em unidades novas de produção em larga escala para venda financiada sem subsídios. No contraponto, os movimentos por moradia questionavam as políticas e os projetos desenvolvidos pelo sistema financeiro do BNH, sempre marcados pela falta de qualidade técnica e pela má localização dos empreendimentos habitacionais nas áreas periféricas da cidade, sem infraestrutura, serviços adequados e longe do emprego. Nesse contexto, foi criada a cooperativa do Sindicato dos Arquitetos de São Paulo (SASP), em 1978, com o propósito de fortalecer os movimentos sociais e fornecer assessoria técnica às comunidades carentes de moradia digna, conforme a figura 3.5. Figura 3.5: Reunião dos arquitetos no SASP e com na comunidade. Fonte: arquivos pessoais de Joan Villà e de Nabil Bonduki. 139 No âmbito das universidades em 1982, por iniciativa de um grupo de arquitetos e professores, particularmente, Jorge Caron e Joan Villà envolvidos no SASP, foi organizado o Laboratório de Habitação (LABHAB)18, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. O LABHAB constituiu-se como Assessoria Técnica com o intuito de atender as necessidades dos movimentos de moradia e de formar o aluno em função do contato direto com a população e com os problemas da cidade19. As figuras 3.6 e 3.7 apresentam os professores do Laboratório de Habitação da Belas Artes com alunos e a comunidade entre os anos de 1982 a 1985. As ações e experiências do Laboratório de Habitação 20 foram pioneiras em São Paulo, e contribuíram para a construção de uma prática profissional e de um saber, denominados pelos movimentos de moradia de “técnicos da comunidade” e posteriormente, de Assessoria Técnica. A formação desses novos profissionais teve papel importante na concepção e formulação de políticas públicas no âmbito da habitação social. Além disso, orientaram trabalhos práticos, como projetos de uso comunitário, urbanização de favela, projetos de pesquisa e auxiliaram na conquista da moradia digna nas comunidades do Recanto da Alegria e a Vila do ArcoÍris. 18 Professores envolvidos que participaram ativamente das atividades do LABHAB: Joan Villà (coordenador); Carlos Roberto Monteiro de Andrade (conhecido como Mancha); Nabil Bonduki; Marcos Antônio Osello e Antonio Carlos Sant' Anna; participaram, também, Raquel Rolnik; Vitor Lotuffo; Ives de Freitas; Olair de Camilo e Mauro Bondi (POMPÉIA, 2006). 19 Naquele momento, início da década de 1980, o País passava por um processo de reconstrução da democracia com avanços sindicais e sociais. 20 O Laboratório de Habitação funcionou de 1982 a 1985 (POMPÉIA, 2006). 141 No Uruguai, o primeiro contato deu-se em maio de 1984, em Montevidéu, no Encuentro sobre Vivienda Popular, promovido pelo Centro Cooperativista Uruguayo e pela Federación Uruguaya de Cooperativas de Vivienda por Ayuda Mutua. Foram realizadas visitas à cooperativa e, posteriormente, foi feito intercâmbio entre as instituições que trouxeram práticas adotadas nas revitalizações das áreas centrais degradadas, como a reconversão de edifícios em uso habitacional e a qualidade técnica e plástica dos projetos de arquitetura na produção habitacional daquele país. Na política habitacional, havia uma lei que permitia aos Institutos de Assistência Técnica (IAT) desenvolver projetos e acompanhar obras das cooperativas de Vivienda (POMPÉIA, 2006). A contribuição do Uruguai, naquele momento, foi fundamental e serviu de referência para a luta da habitação social de qualidade. Sua ideologia se aproximava dos princípios da Assessoria Técnica e do Laboratório de Habitação da Belas Artes. Nos relatos de Joan Villà, coordenador do laboratório, o processo de formação dos estudantes com participação em todos os momentos das atividades realizadas pelo Laboratório de Habitação formou ambiente para o desenvolvimento pessoal, técnico e intelectual. O grupo de alunos integrava-se nas discussões das alternativas projetuais, nas assembleias, no canteiro de obras, até mesmo, nas reuniões de gabinetes técnicos e políticos, nas quais as decisões eram tomadas. Os resultados viriam com os anos. Hoje, a geração que viveu o Laboratório, tem pouco mais de quarenta anos e está presente dentro da Universidade, na docência de arquitetura, na administração pública e no exercício privado da profissão. Em todos estes âmbitos é possível perceber a forma diferenciada da sua atuação profissional, fruto de sua formação (VILLÀ, 2009, p. 7). 142 O Laboratório de Habitação da Belas Artes influenciou na idealização e na formação de outros laboratórios em São Paulo, como LABFAUS da Universidade Católica de Santos, o L’Habitat da Pontifícia Universidade Católica de Campinas21, o Laboratório de Habitação da Unicamp e os laboratórios da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (POMPÉIA, 2006). Na gestão da prefeita Luiza Erundina de Sousa (1989-1992) em São Paulo, foi implementado o Programa de Produção de Habitação por Mutirão e Autogestão, que tinha como objetivo fortalecer a participação da população na gestão de políticas sociais com projetos de excelente qualidade e custos menores. Segundo relata Pompéia (2006), vários professores e alunos que trabalharam no Laboratório de Habitação da Belas Artes se engajaram como funcionários na produção habitacional daquela gestão municipal ou formaram grupos de assessoria técnica que tiveram oportunidade de trabalhar na produção e inovação habitacional. 21 Essa experiência influenciou diretamente na formação da autora Débora Sanches no momento da graduação em Arquitetura e Urbanismo (1990-1994). 143 3.3 Projeto Participativo e Assessoria Técnica: conceitos Mas afinal o que é o processo de projeto participativo? Qual é a importância da assessoria técnica no projeto participativo? Entender tais conceitos são fundamentais para o desenvolvimento desta pesquisa. Segundo Lana (2007), o projeto participativo é o projeto arquitetônico onde o usuário final participa do processo de projeto em suas diversas fases. Ou seja, as decisões, que são tomadas durante o processo de projeto, são compartilhadas pelo arquiteto – ou a equipe de arquitetos – e o usuário final. Cada arquiteto, cada equipe, define um processo que é adequado para os usuários que possuem um papel ativo durante a elaboração do projeto. Para Lana (2007) o usuário não é apenas o fornecedor do programa de necessidades a ser atendido ou mero provedor dos recursos da obra. Não se trata de uma co-autoria do projeto, mas de uma participação presente ao longo de todo o desenvolvimento do mesmo. [...] meios de acessar os códigos de representação para que possa entender o que está sendo proposto e construir com a proposição. Ninguém participa sem decidir nem decide semconhecer. Se assim não for, o projeto participativo será apenas uma manipulação para legitimar as decisões do arquiteto e de outros técnicos envolvidos no processo (MALARD et al, 2002, p. 247, apud Lana, 2007). No projeto participativo de habitação de interesse social o usu rio final é um grupo de pessoas de uma determinada faixa de renda22, que se organiza sob a forma de uma associação de moradores, que muitas vezes contrata um escritório convencional de arquitetura para desenvolver o projeto ou mesmo a assessoria técnica. 22 A faixa de renda de habitação de interesse social pelo programa federal Minha Casa, Minha vida em 2014 tem limite de até R$1600,00 de renda bruta por família. 144 A assessoria técnica, diferentemente do escritório convencional tem como método de trabalho, o apoio técnico com equipe interdisciplinar no processo como um todo, começando pela luta pelo direito à cidade e à moradia digna, passando pela elaboração do projeto de forma participativa até o acompanhamento no pós-uso, em muitos casos. Desta forma, a apropriação dos moradores é incorporada ao longo de todo o processo. No desenvolvimento da pesquisa, três arquitetos que realizam projetos de forma participativa com movimentos sociais de moradia, resumem a definição de assessoria técnica na atualidade, apresentada no quadro 3.1 a seguir: 145 Quadro 3.1 Definição de Assessoria Técnica Arquiteto Definição: Assessoria Técnica Caio Santo Amore Assessoria Técnica Peabirú. São Paulo. 29/09/2014. Isabel Cabral Assessoria - Técnica Ambiente Arquitetura. São Paulo. 10/11/2014 Tiago Mota Saraiva ateliermob. Lisboa. 05/07/2014. Fonte: Elaborado pela “Em São Paulo, especificamente na capital, o termo indica se tratar de um grupo de profissionais, com formação universitária, sobretudo em arquitetura e urbanismo, que trabalha numa "perspectiva" interdisciplinar com engenheiros, sociólogos, assistentes sociais, psicólogos (outros profissionais ditos de área social) advogados, em trabalhos que giram em torno da temática da habitação de interesse social e urbanização e regularização de favelas e assentamentos precários, apoiando a luta pela moradia e pela reforma urbana e prestando serviços para movimentos populares, associações e outras organizações sociais (preferencialmente) e a órgãos do poder público, em programas e projetos voltados ao atendimento de população de baixa renda, sujeita a vulnerabilidades socioeconômicas”. “Podemos dizer que assessoria técnica (a projetos sociais de moradia) consiste em um conjunto interdisciplinar de profissionais que trabalham integrados na prestação de serviços ao movimento social de moradia. Um projeto participativo parte do princípio de que todos os futuros moradores terão a liberdade de entender, discutir, propor e apropriar-se deste projeto de forma democrática. São várias as formas de participação que também dependem da estrutura e nível de organização do movimento. A assessoria deve criar formas e ferramentas de apresentação dos projetos que propiciem o envolvimento e a participação. A assessoria técnica trabalha na produção dos projetos com o conceito de autogestão do empreendimento. Não somos nós que o fazemos, mas orientamos, agregamos conceitos e trabalhamos na produção das moradias com esta organização do movimento social. O nosso trabalho com o movimento antecede a produção dos projetos seja na luta para conseguir terrenos, ou programas e financiamentos habitacionais, onde sempre damos o apoio técnico e social. Cada projeto resulta numa conquista para as famílias, tanto da moradia digna quanto do direito à cidade”. “A “assessoria técnica” junto das comunidades e associações de moradores deve colaborar na constituição de processos de decisão e participação democráticas o que, em boa verdade, representa, inevitavelmente, numa forma de consciencialização e politização das massas e das classes trabalhadores para questões como a casa, a água, o direito à cidade, à escola ou à saúde”. autora Débora Sanches em 2014. Os arquitetos Caio Santo Amore Carvalho e Isabel Cabral23 fazem parte das respectivas assessorias técnicas criadas na década de 1990: Peabiru Trabalhos Comunitários e Ambientais e Ambiente Arquitetura. Os 23 Ambos representantes do conselho municipal de habitação (gestão 2014 a 2016). 146 princípios de método de trabalho são semelhantes: equipes interdisciplinares prestam serviços de apoio técnico aos movimentos sociais de moradia e contribuem para a conquista da moradia digna e do direito à cidade e à moradia. O arquiteto Tiago Saraiva membro do Atilermob (escritório de projetos de arquitetura e urbanismo) com sede em Lisboa, tem também como princípio realizar apoio técnico com equipe multidisciplinar de desenvolvimento de ideias para comunidades carentes de serviços básicos da cidade e de moradia. Apesar de ser uma importante forma de trabalho de arquitetura, a assessoria técnica é ainda pouco reconhecida no Brasil. A Lei da Assistência Técnica Pública e Gratuita, a Lei Federal nº 11.888, de 2008, que deveria garantir uma maior disseminação deste tipo de atividade é ainda pouco efetiva, como já ressaltado anteriormente. Esta lei assegura assistência de desenvolvimento profissionais de projeto, arquitetos construção, e engenheiros reforma e ampliação para de habitação social para famílias que ganham até três salários mínimos. Dessa forma, o auxílio profissional contribui no processo de projeto e no acompanhamento das obras para que fosse praticado de forma racional, contemplando o direito à moradia digna para a população menos favorecida. Entretanto até o momento, essa Lei não funcionou, pois cabe aos municípios e estados utilizá-la como subsídio para formulação de programas habitacionais. Apesar da possibilidade de parceria entre Estado e Prefeituras existem dúvidas para a sua aplicação, principalmente, porque a Lei não define as questões de responsabilidade técnica e nem os critérios de aprovação do projeto. Algumas reflexões sobre o método de projeto participativo no âmbito das assessorias técnicas em São Paulo são fundamentais nesta pesquisa, a seguir alguns exemplos: 147 A Assessoria Técnica Usina: centro de trabalhos para o ambiente habitado, criada no início da década de 1990, atua com movimentos sociais de moradia e traz importante contribuição sobre o projeto participativo. Hirao et al (2010) apresenta a metodologia do projeto desenvolvido pela Assessoria Técnica Usina: [...] os saberes acadêmicos e populares se combinam para alcançar um objetivo comum: a produção integral de um trecho da cidade cuja lógica se pretende distinta de seu entorno, seja na qualidade das edificações, nos usos complementares à moradia, ou ainda nas condições de trabalho, na escolha de materiais e na definição dos sistemas construtivos [...] a discussão com as famílias foi muito além da moradia, permitiu que se pensassem espaços de trabalho e educação, iniciativas culturais e de lazer, a sustentabilidade ambiental e a qualificação da vida urbana [...] terrenos são públicos, com cessão de uso coletiva, fruto de processos locais de Reforma Urbana (HIRAO et al, 2010, p. 1 e 2). Para os autores, a dinâmica do processo de projeto e a interação com as famílias se dá em várias etapas. O arquiteto destaca o desenho da unidade habitacional a partir do mobiliário, conforme as figura 3.15 e 3.16. [...] entendemos que os móveis significam relações, usos, necessidades reais do morador. É por meio dos móveis que o espaço abstrato toma um sentido concreto, vivido (...) esse novo instrumental lúdico permitiu que as famílias montassem cada ambiente utilizando primeiro os móveis, sem a restrição imposta pelas paredes ou qualquer desenho inicial dos arquitetos (HIRAO et al, 2010, p. 15). O método de projeto participativo para o desenho da unidade habitacional utilizado pela assessoria técnica Usina tem como objetivo principal definir os espaços internos, a partir de ímãs de móveis (necessidades reais do morador) e depois são acrescentadas ímãs de paredes. Assim os moradores conseguem perceber a dimensão de cada ambiente interno, conforme a figura 3.8. 148 Figura 3.8: Ambiente montado pelo grupo, primeiro com a colocação dos móveis, depois com a inserção das paredes. Fonte: Hirao et al, 2010, p. 15. A população participa de todo o processo da concepção do projeto com linguagem de fácil compreensão. São utilizados vários recursos como maquetes eletrônicas e físicas para o entendimento, conforme as figuras 3.9 a seguir: Figuras 3.9: Processo de projeto participativo com apresentações em papel, mídia eletrônica e maquetes. Fonte: Hirao et al, 2010, p. 17. A autogestão na produção habitacional é representada por Hirao et al (2010) valorizando as seguintes ações compartilhadas: projetar, construir e morar faz parte do processo de projeto. Nota-se que a palavra processo de projeto aparece nas diferentes referências que foram apresentadas neste e nos capítulos anteriores, nas 149 quais a participação dos moradores na conquista da moradia digna está presente nas diferentes etapas da viabilização do projeto propiciadas pela Assessoria Técnica. Nesse sentido, é importante entender qual o diferencial dos projetos realizados de forma participativa com as Assessorias Técnicas. No projeto o futuro morador participa do processo e decide de modo compartilhado com a equipe de arquitetos. No quadro 3.2, apresenta-se de forma resumida as várias fases do método do processo de projeto participativo desenvolvido pela assessoria técnica Ambiente Arquitetura no âmbito do Programa Minha Casa Minha Vida Entidades24. Quadro 3.2 Fases do método do processo para a viabilização de empreendimento do Programa Minha Casa Minha Vida Entidades Fases Descrição Auxílio na formação da associação de moradores que demanda, em muitos 1ª. casos, o apoio jurídico e social para a constituição da associação. Realização dos estudos preliminares de implantação e arquitetura de forma participativa para a viabilidade técnica e financeira para a compra 2ª. antecipada do terreno pela associação. Desenvolvimento do projeto final de forma participativa e apoio na 3ª. viabilização do financiamento. Trabalho técnico social que prepara a demanda para: gerir o 4ª. empreendimento, discussão em grupo, trabalho e organização da obra, vivência em grupo, estabelecer normas para o condomínio, gerir o empreendimento no pós-obra. Fonte: Assessoria Técnica Ambiente Arquitetura, elaborado pela autora Débora Sanches, 2012. Os exemplos acima expostos apresentam síntese de métodos de projetos participativo desenvolvidos por assessorias técnicas. Observa-se que, a assistência técnica ou assessoria técnica para as famílias de baixa renda, ainda tem sido uma atividade, muitas vezes, voluntária ou com baixa remuneração. Mas com certeza, o processo de projeto participativo é um instrumento fundamental para a conquista da moradia digna. 24 Programa do Governo Federal criado em 2009, para provisão de habitação social para famílias organizadas por meio de cooperativas habitacionais, associações e demais entidades privadas sem fins lucrativos. 150 3.4 Participação social no processo de projeto participativo A participação social é determinada para o sucesso do projeto participativo, conforme apontado acima. O futuro morador no desenvolvimento do processo percorre diversas etapas subjetivas que são fundamentais, entre elas, destaca-se a apropriação em múltiplo sentido, detalhado no capítulo 5 desta tese. A partir do entendimento dos conceitos do projeto participativo e do método de trabalho das assessorias técnicas em São Paulo, esta pesquisa apreendeu-se da importância do grau de envolvimento dos futuros moradores e apropriação em todo o processo de projeto participativo, realizaram-se diversas entrevistas com os diferentes atores em São Paulo e Portugal, que foram fundamentais para este entendimento e para a construção do método de análise, que apresenta-se no capítulo 5. O conceito de apropriação é observado na psicologia ambiental que estuda o significado do espaço e a compreensão das interações entre as pessoas. Para Sansot (1996, apud JERÔNIMO; GONÇALVES, 2008, p. 195), “apropriação é toda a pr tica pela qual o homem deixa a sua marca” que se relaciona com a identidade do lugar. No entanto “marca” pode-se interpretar como a marca física que, a partir do gosto pessoal, o morador adéqua o espaço de acordo com as suas necessidades e deixa a sua “identidade” e essa extrapola o sentido material. Marca relaciona-se com “identidade do lugar” para Proshansky (1976, apud JERÔNIMO; GONÇALVES, 2008, p. 195), “[...] abrange a produção da subjetividade, processo no qual a autoestima tem lugar relevante”. Os termos “morar” e “habitar” são diferentes para Gonçalves (2002), o termo “morar” é quando o indivíduo constitui apenas uma relação funcional com determinado lugar e “habitar” quando existe a 151 apropriação com seus aspectos simbólico, emocional, físico e cultural, havendo então uma interação com o lugar. A autoestima relaciona-se com o sentido de pertencimento para Jerônimo e Gonçalves (2008), pois o morador se sente integrante ao lugar. Carvalho et al (2014), na pesquisa sobre a apropriação do espaço em conjuntos habitacionais, destaca: [..] Dificilmente pessoas se orgulharão de um habitat conturbado, onde não se suportam os vizinhos. Porém, se a tranquilidade de um conjunto é fruto do esforço individual de cada morador é válido afirmar que não basta sentir, mas também buscar através de ações a boa convivência. Outro ponto alcançado pela apropriação é o sentimento de responsabilidade pelo ambiente construído, passando-se a buscar sua manutenção e melhoria. Os moradores tornam-se, desse modo, cidadãos mais conscientes, não simplesmente pela obrigação, mas principalmente pelo amor ao lugar em que vivem. Numa perspectiva mais ampla, esse sentimento evoluiria para esferas mais abrangentes, começando pelo “se sentir parte de uma casa”, posteriormente de uma comunidade, depois de uma cidade, de um país até alcançar o mundo e a preservação como um todo. [...] o processo de apropriação de um espaço liga-se à construção do lugar pelo usuário (CARVALHO et al, 2014, p.4). No entanto, pesquisas de Avaliação Pós-Ocupação (APO) indicam a apropriação ou a satisfação dos moradores nos empreendimentos de habitação social no âmbito da análise de seus aspectos físicos. Assim, considerando que duas etapas são fundamentais. A primeira relaciona-se com a conquista da moradia digna: 1) Processo Inicial – aquele definido pelo início da mobilização dos moradores, ainda na moradia precária até a conquista da moradia digna. A segunda pauta-se na verificação do pós-uso. 2) Processo Pós-Uso - aquele definido após a conquista da moradia digna, que indica a importância de se verificar a gestão do empreendimento, as relações de vizinhanças e com o entorno, a apropriação dos moradores, entre outros aspectos. 152 As categorias de análise foram denominadas de Fases/Ação em função de avaliar-se a importância do processo de projeto e suas diferentes etapas. Para cada etapa, foram identificadas em 5 fases no Processo inicial (Mobilizar, Viabilizar, Projetar, Construir, Morar / Habitar) e 3 fases no Processo pós-uso (Qualificar/ Realizar, Relacionar/Integrar e Satisfazer) como categorias de análise detalhados no capítulo 5. No próximo capítulo resgata-se a questão da importância das assessorias técnicas e a participação dos movimentos sociais na viabilização de política habitacional e projetos na área central de São Paulo, entre 1990 e 2012. Apresentam-se também as diferentes fases e ações da produção habitacional desenvolvida de forma participativa em alguns casos com autogestão, cuja produção de programas e projetos é concretizada a partir da luta e pressão dos movimentos sociais por moradia com apoio técnico. 153 154 CAPÍTULO 4. Habitação social na área central de São Paulo Este capítulo tem como objetivo mostrar a importância da habitação social na área central de São Paulo. Para tanto, inicia com um breve contexto histórico da cidade de São Paulo e os problemas habitacionais. Na sequência, examina a expansão urbana periférica e a gênese da segregação urbana. Em seguida, os movimentos sociais de moradia, as políticas públicas e a importante experiência do programa de produção de habitação por mutirão e autogestão na gestão da prefeita Luiza Erundina (1989-1992). Por fim, destaca-se o apoio técnico através das assessorias técnicas para a viabilização de habitação social na área central, a partir da integração do poder público em diferentes níveis de governo. 155 4.1 Breve contexto da área central e a questão habitacional A cidade de São Paulo na primeira metade do século XX se transforma na maior e mais importante metrópole brasileira e passa a ter um papel evidente na economia nacional por sua grande concentração de riqueza. Contudo, a questão da falta de moradia para os trabalhadores está presente desde o final do século XIX. A forma dominante de morar dos paulistanos até a década de 1930 era a casa de aluguel, que também incluía os cortiços. Com o aumento populacional acelerado, conforme os dados do IBGE1 no Levantamento Censitário, a cidade de São Paulo, que possuía 64.934 habitantes em 1890, passa a ter 239.820 habitantes em 1900 e atinge 579.033 habitantes em 1920, resultante da atividade do complexo cafeeiro no final do século XIX. Muitos imigrantes que chegavam da Europa passavam pela cidade antes de serem distribuídos para as fazendas no interior do Estado de São Paulo, mas alguns acabavam ficando na capital, contribuindo com a força de trabalho na indústria em crescimento. Neste período, conforme mostra Piccini (1999), a habitação coletiva de aluguel “cortiço” é o tipo de moradia produzida para a população de baixa renda, que desde então está presente na área central da cidade. O centro da cidade de São Paulo representava a vigorosa economia e as aspirações sociais da nova elite paulistana que tinha no seu ideário urbano as importantes cidades europeias como exemplos. As principais instituições políticas, religiosas, econômicas, culturais, e, também, as moradias da alta classe paulistana estavam localizadas na área central. No 1 Levantamento Censitário do IBGE de 2010, dados fornecidos no site da Prefeitura Municipal de São Paulo. População nos Anos de Levantamento Censitário Município e Região Metropolitana de São Paulo, Estado de São Paulo e Brasil 1872 a 2010. Disponível em: http://smdu.prefeitura.sp.gov.br/historico_demografico/tabelas/pop_brasil.php. Acesso em: mar. 2013. 156 início do século XX, a cidade recebeu investimentos do Estado e do capital estrangeiro em infraestrutura na área de comunicação, transporte e eletricidade para apoiar o processo de desenvolvimento econômico e industrial que estavam concentradas nos bairros centrais. Conforme mostra Silva (2000), o primeiro prefeito, Antônio Prado (1899/1910), realizou as modificações para transformar São Paulo em uma cidade de aparência rica, com a implantação de iluminação e bondes elétricos, ruas alargadas e pavimentadas, praças ajardinadas, avenidas receberam árvores e construção do teatro municipal. Na área do triângulo,2 foram construídos cafés, confeitarias, livrarias aos moldes de Paris. O plano de urbanização do vale do Anhangabaú, do urbanista francês Bouvard, para integrar o centro “velho” com o “novo” desencadeou a demolição de vários quarteirões3 para a construção de praças e alargamento de ruas. As indústrias implementadas no início do século XX concentravam os operários em algumas áreas próximas às linhas férreas, onde se encontravam as indústrias. Kowarick e Ant (1994) destacam: [...] a estruturação da cidade se fazia de modo a concentrar os trabalhadores em locais próximos aos centros fabris. Em outros termos, a expansão industrial e da moradia operária processou-se de maneira relativamente adensada, confundindo-se frequentemente, a vida da fábrica e dos bairros proletários, onde tudo girava em torno dos apoios que regulavam as extensas e danosas jornadas de trabalho (KOWARICK e ANT, 1994, p. 76). Nas jornadas de trabalho superiores a doze horas, o salário dos trabalhadores muitas vezes era insuficiente para os gastos com moradia 2 Compreendem as ruas Direita, São Bento e Quinze de Novembro, hoje denominados centro velho. 3 Marcados pelo processo de Gentrificação “[...] os efeitos que as intervenções de requalificação podem causar nas áreas centrais, pois existem muitos casos em que as famílias moradoras mais pobres foram substituídas por outras de classe média superior” SILVA 2006 (apud BIDOU, 2006, p. 7 e 8). 157 adequada4, muitos tinham como única alternativa o cortiço e uma parte conseguia alugar uma casa com condições de salubridade adequada, como as vilas operárias ou rentistas que eram construídas pelos industriários ou empresários. Até a década de 1930, cerca de 70% dos imóveis residenciais eram alugados e não haviam formas de financiamento público para a construção de casas (KOWARICK e ANT, 1994). O desenho da cidade já tinha características de segregação populacional nas décadas iniciais da industrialização5. Haviam bairros com concentração de trabalhadores como Brás, Mooca, Bom Retiro, Bexiga. A elite morava em Campos Elíseos, Higienópolis, Avenida Paulista e paralelamente, os cortiços eram frequentes nestes bairros e eram considerados um problema que dificultava o enobrecimento urbano da cidade, pois estavam localizados em áreas de grande valor imobiliário e próximos às moradias da população abastada. O cortiço, que era condenado pelo poder público, pela elite e pela imprensa como local de promiscuidade, disseminação de doenças e desqualificação social, foi considerado ameaça à saúde pública. Para resolver o problema foram desenvolvidas várias políticas higienistas6. Segundo Bonduki (1998), o Higienismo apenas escondia a pobreza. O discurso em fornecer a habitação digna esbarrava na questão do preço da terra e no problema de distanciar o operário da indústria, uma vez que o transporte coletivo, na época o bonde, era viável em áreas de grande adensamento populacional, ou seja, a concessionária do serviço público (Light and Power) não se interessou em aumentar as linhas de transporte coletivo em áreas com pouca rentabilidade. Desta forma, a estruturação da cidade se deu de forma mais concentrada (BONDUKI, 1998; KOWARICK e ANT, 1994). 4 O aluguel de habitação adequada significava mais da metade do salário do trabalhador no início do século XX (KOWARICK e ANT, 1994, p. 75). 5 A implantação de indústrias em São Paulo tem avanço com a crise do café e as restrições do comércio exterior com a segunda guerra mundial (1939 – 1945). 6 Processo semelhante aconteceu em outras cidades e países, como foi apresentado no capítulo 2 no caso de Portugal. 158 Contudo, o fundamental é que, do ponto de vista da acumulação industrial, periferizar os trabalhadores se mostrava impraticável devido a pauperização reinante e a extremamente longa jornada de trabalho. Por outro lado, como já apontamos, era frequente o trabalho noturno, inclusive de mulheres e crianças. Em outros termos, o padrão de exploração de trabalho imperante nos primórdios da industrialização supunha que o trabalhador morasse nas proximidades do seu emprego, pois, além das costumeiras jornadas de 14 horas ou mais de trabalho, os gastos com transporte em bondes, se as distâncias fossem mais longas, seriam extremamente elevados e, portanto, incompatíveis com a compressão salarial (KOWARICK e ANT, 1994, p. 78 e 79). Outro aspecto importante a salientar sobre este período é o fato de os cortiços localizados no centro serem de propriedade de empresários que obtinham grandes rendimentos com os aluguéis. De um lado, o cortiço se assentava como um problema, pois trazia doenças e degradava a paisagem. Mas de outro lado, era rentável para os proprietários7. Para minimizar o problema da falta de salubridade das construções dos cortiços e melhorar o embelezamento do centro, a legislação higienista e o código de obras tentou restringir a localização dos cortiços e melhorar o padrão da moradia. Bonduki (1998) e Piccini (1999) destacam as legislações criadas: - Código de Posturas do Município de São Paulo (1886) - define padrões mínimos para as habitações populares. - Lei 38 de 1893 - define que as novas construções devem ser aprovadas pela municipalidade. - Código Sanitário do Estado de São Paulo (1894) - define a destruição dos cortiços existentes como uma forma de sanar os problemas. 7 Situação que permanece atualmente na cidade de São Paulo. 159 - Lei 375 de 1898 - determina que os cortiços “infectos e insalubres” devam ser demolidos ou reconstruídos em conformidade com o Padrão Municipal. - Lei 413 de 1901 - isenta de impostos municipais as vilas operárias construídas de acordo com o Padrão Municipal e reforça a intenção de eliminar os cortiços. Contudo, as Leis criadas para restringir os cortiços não foram eficientes para eliminá-los da área central da cidade. Os incentivos e isenções criadas para estimular a construção de vilas operárias não foram muito representativos, ou seja, a casa de aluguel, incluindo o cortiço até os anos 50, foi a modalidade de moradia para a classe trabalhadora. A pesquisa que Flavio Villaça (2001) realiza sobre os centros metropolitanos, revela que as classes dominantes são responsáveis pela transferência do centro para outros setores da cidade, tendo como consequência a segregação espacial que define a direção de crescimento do centro principal. Em São Paulo, até a metade do século XIX, a elite paulistana se localizava em torno do triângulo formado pelas ruas: Direita, São Bento e XV de Novembro, que eram as principais ruas comerciais da época. O processo de segregação inicia-se no final do século XIX, quando a mesma elite passa a morar em bairros localizados “além-Anhangabaú” como Campos Elíseos, Vila Buarque e Santa Cecília, direcionando-se rumo à Avenida Paulista. Paralelamente, áreas como Glória, Carmo e Liberdade, em torno da Sé, começavam a ser ocupadas por camadas de renda mais baixa. O centro progressivamente transformou-se nas décadas de 1940 e 1950. Como explica Villaça, 2001, o centro “novo” (República) surgia ao lado do centro “velho” (Sé), o primeiro da elite e o segundo popular. Na década de 1960, o deslocamento espacial em função da mobilidade cria 160 novos “pontos” com as camadas da alta renda. O centro8 (velho e novo) passa a ser ocupado pelo comércio e serviço das camadas populares. A centralidade econômica é alterada para outras áreas da cidade. Os autores Frúgoli (2000), Villaça (2001), Nakano, Campos e Rolnik (2004) destacam que a partir da década de 1950 são vários fatores responsáveis pela mudança: as indústrias são transferidas para cidades instaladas no percurso das linhas férreas, onde os impostos são menores, os escritórios migram para lugares de maior prestígio como a região da avenida Paulista, a elite paulistana afasta-se progressivamente do centro e passa a ter suas residências nas avenidas Brigadeiro Luís Antônio, Rebouças, Nove de Julho, Brasil e Faria Lima que contribuíram para a criação de novas centralidades9 se deslocando em direção dos Jardins e rio Pinheiros, em função da mobilidade espacial a partir do automóvel, região sudoeste da cidade. Segundo Villaça (2001), o deslocamento das elites levou também a que os investimentos públicos seguissem a mesma direção, haja vista as novas localizações das sedes de governo – Gabinete do Prefeito no parque do Ibirapuera (década 1950) e Governador do Estado no palácio dos Bandeirantes, Morumbi (década de 1960). Conforme os autores Nakano, Campos e Rolnik (2004) a consolidação de vetores imobiliários que se estabeleceram no sentido no quadrante sudoeste10 está dentro do chamado centro expandido. As atuais centralidades dominantes são áreas de maior peso econômico, comércio e serviços voltados para as classes mais altas, com maior valor imobiliário, 8 Vale destacar na pesquisa de Villaça, 2001, que os prédios do centro perderam seu valor imobiliário e portanto, estavam ociosos e com o tempo ficaram deteriorados. 9 Construção de edifícios que atendiam as novas necessidades tecnológicas com vagas na garagem. 10 Avenida Paulista; Jardins até à calha do rio Pinheiros (parque Vila-Lobos até a ponte João Dias, passando pela antiga e pela nova avenida Faria Lima); os bairros Pinheiros, Itaim, Vila Olímpia, Morumbi e região da avenida Luís Carlos Berrini, Paulista e setor sudoeste. Ver Kara José (2010) a Tese “A popularização do centro de São Paulo: um estudo de transformações ocorridas nos últimos 20 anos”. 161 contrapondo os bairros populares que se encontram em todas as direções da periferia. O quadrante sudoeste é reconhecido o lugar onde se concentram as principais oportunidades e benefícios da vida urbana de São Paulo. Nele se encontra a maior parte dos empregos, as áreas de moradia dos grupos com maiores rendimentos, os melhores espaços públicos, museus, teatros, hospitais, a maior parte dos equipamentos de consumo e de prestação de serviços privados. A estruturação desta centralidade se valeu de investimentos públicos e privados de grande monta, voltados para a construção de edifícios residenciais e não residenciais, da ampliação da malha viária, da oferta de serviços urbanos de uso coletivo, da implantação das infraestruturas de iluminação, pública, energia elétrica, transporte de massa e saneamento básico, além da criação e do paisagismo de áreas verdes (NAKANO, CAMPOS e ROLNIK, 2004, p. 125 e 126). As intervenções do poder público a partir de 1965 dão ênfase à ampliação do sistema viário na área do centro expandido. Conforme analisou Nakano (2004), foram construídas vias arteriais e expressas, elevados11 e viadutos. No centro a implantação das linhas de metrô nortesul e leste-oeste se cruzam na praça da Sé, próximo aos terminais de ônibus, cujo transporte passa a ser o principal meio coletivo de deslocamento na metrópole e quando o comércio popular é implementado. Ao longo dos anos acontece um processo de esvaziamento do local de moradia na área central. Porém, historicamente, uma parcela da população resiste morando em cortiços em quase todos os bairros centrais, com condições precárias e insalubres. A proximidade do local de trabalho é a grande vantagem de se morar no Centro. 11 Em 1969 é construído o Elevado Costa e Silva que passa por vários distritos, marca a priorização do automóvel em detrimento do transporte público. 162 4.1.1 A expansão urbana O período compreendido entre as décadas de 1930 a 1960 marcou a expansão urbana periférica e a formação de novas centralidades na cidade de São Paulo. Nessa ocasião foi conhecida a intervenção direta do Estado nas questões urbana e habitacional, com nova forma de estruturação da cidade, baseada no aumento de veículos particulares e a verticalização das edificações. Segundo Bonduki (1998), a política habitacional se dava através da mediação financeira dos Institutos de Previdência, da Fundação da Casa Popular ou das Caixas Econômica Estadual e Federal, que construíram no Brasil nesse período em torno de 140 mil unidades habitacionais. Apesar da pouca quantidade, muitos projetos possuíram característica importante de produção de habitação social com qualidade arquitetônica inédita para os diversos institutos, com corpo técnico aberto a experimentação e à inovação, utilizando princípios da arquitetura moderna12. O congelamento dos aluguéis, determinado a partir da lei de Inquilinato em 1942, foi um marco importante da intervenção do Estado na problemática habitacional, pois passou a regular as relações entre o locador e o locatário. Bonduki (1998) destaca que a Lei desestimulou a produção de moradia para locação pelo setor privado, trazendo como consequência a busca dos loteamentos distantes da área central. A forma de autoconstrução, muitas vezes em loteamentos irregulares e clandestinos13, foi a situação encontrada pela população carente de moradia para a resolução provisória do problema habitacional, muitas vezes em áreas de preservação ambiental com acentuadas 12 Baseados nos congressos internacionais CIAMs e no primeiro congresso de habitação em São Paulo em 1931. 13 Situações semelhantes as AUGIs de Portugal que apresentou-se no capítulo 2. 163 declividades, áreas inundáveis, entre outras, sem infraestrutura adequada. Sampaio e Lemos destacam a seguir: Os empresários imobiliários agiram impunemente e parcelaram o solo urbano a seu bel prazer, sem respeitarem a legislação vigente, aproveitando-se da lentidão e ineficiência da máquina burocrática da Prefeitura, que não tinha condições de fiscalizar o que se passava na cidade (SAMPAIO e LEMOS, 1993, p. 5). Autores como Maricato (1997), Kowarick e Ant (1994) destacam que o modelo de crescimento da cidade, chamado de padrão periférico, desenvolveu-se de várias formas: grandes empresas imobiliárias investiram no parcelamento do solo com comercialização de lotes, o pequeno capitalista, geralmente o imigrante, investiu na produção de pequenos núcleos de casas para alugar, o trabalhador de baixos salários passou a construir a sua própria moradia, nos horários de folga do seu trabalho, através da autoconstrução nos loteamentos regulares ou irregulares, geralmente localizados distante do seu trabalho e sem infraestrutura adequada. Vale ressaltar que a partir de 1964, com o Golpe Militar, o Governo Federal cria a política habitacional nacional, por meio do Sistema Nacional de Habitação e tem o BNH (Banco Nacional de Habitação) como agente promotor. Desta forma, a prefeitura de São Paulo constrói conjuntos habitacionais14 nas áreas periféricas da cidade, conforme a figura 4.1. a seguir. 14 A política aplicada neste período não resolveu o problema do déficit habitacional. Foi um período em que as empresas contratadas e os técnicos do poder público envolvidos nos projetos e obras, utilizaram a influência do movimento moderno europeu com a preocupação pela padronização, reprodução em série e barateamento das obras e interpretaram, desenvolvendo conjuntos habitacionais massificados com as características comuns que são: padronização dos blocos e dos apartamentos; gerando habitações isoladas; redução da área útil; homogeneização dos conjuntos; materiais 164 Figura 4.1: Conjunto Habitacional José Bonifácio zona leste de São Paulo Fonte: Henrique Derenze, 2013 O conjunto habitacional José Bonifácio, da figura 4.1, construído na década de 1980, ainda é desprovido de equipamentos públicos e comunitários, atualmente agrega uma população de aproximadamente 100 mil moradores que se deslocam diariamente para trabalhar ou estudar nas áreas centrais da cidade. Segundo Bonduki (1998), desde a Lei de Inquilinato, no município de São Paulo, a locação deixou de ser alternativa de moradia para a população mais pobre, o acesso à casa própria ou aquisição da propriedade começa a ser encarada como a melhor solução pelo governo e forma-se então a cultura da compra da moradia, incorporada pela população, não importando a localização. As implicações do conceito da casa própria passam a ser introduzida como sinônimo de felicidade. A expansão das áreas mais periféricas - em função do custo da terra, criam-se os anéis periféricos, desvinculados da malha urbana e da vida urbana da cidade - apresenta um grande crescimento populacional e construtivos de baixa qualidade; implantações sem preocupação com o espaço resultante, sem área de lazer, tratamento paisagístico e consequentemente gerando espaços vazios. 165 desde as décadas de 1970 e 1980 não recebem investimentos em infraestrutura adequada pelo poder público. As consequências desta política pública apresenta o cenário da segregação social da população. Os denominados bairros “dormitórios” nas áreas periféricas e o ineficiente transporte público “leva e traz”, todos os dias, uma parcela da população que perde muitas horas no deslocamento diariamente para trabalhar, estudar, ou para utilizar outros serviços que estão localizados nas áreas mais centrais da cidade. Nesse sentido, apresenta-se a seguir, as razões para a concretização de habitação social na área central. 166 4.2 Razões para a habitação social na área central de São Paulo Conforme Maricato (2011), até a década de 1980 o investimento em habitação social pelo BNH foi inoperante. A produção no Brasil foi de 360 mil unidades habitacionais para a classe que ganha de 1 a 5 salários mínimos, representando 8% do total dos 4,5 milhões de unidades financiadas pelo SFH, que privilegiou uma demanda que não apresentava risco de inadimplência. Neste contexto, houve o aumento na taxa de crescimento da população moradora em favelas e de forma ilegal com condições de insegurança permanente. A estimativa dos dados do IBGE de 2014 é de 11.895.893 de habitantes no município de São Paulo15. A questão habitacional representa um dos mais graves problemas sociais. São três milhões16 de habitantes vivendo em assentamentos precários17, ou seja, praticamente 25% da população. A maior parte dos moradores de baixa renda reside nas áreas periféricas da cidade, em conjuntos habitacionais massificados produzidos pelo Estado, em moradias precárias autoconstruídas, muitas vezes em loteamentos irregulares ou em favelas, conforme o mapa da figura 4.2. 15 Conforme os dados do censo do IBGE de 2010 são 11.253.503 habitantes. Em comparação ao número de população de 2000, o crescimento foi de 7,9% do município de São Paulo. 16 Conforme apresentação do Secretario da Habitação em agosto de 2014, ao Conselho Municipal de Habitação, onde a autora é Conselheira representando as Universidades. 17 “A expressão “assentamentos precários” foi adotada pela nova Política Nacional de Habitação (PNH) de forma a englobar, numa categoria de abrangência nacional, o conjunto de assentamentos urbanos inadequados ocupados por moradores de baixa renda, incluindo as tipologias tradicionalmente utilizadas pelas políticas públicas de habitação, tais como cortiços, loteamentos irregulares de periferia, favelas e assemelhados, bem como os conjuntos habitacionais que se acham degradados (Ministério das Cidades, 2010, p. 9). 167 Figura 4.2: Mapa dos assentamentos precários do munícipio de São Paulo e a legenda Fonte: Habisp / Sehab, 2014 O mapa da figura 4.2 apresenta o município de São Paulo e a segregação do território: em laranja os loteamentos irregulares com as autoconstruções e em amarelo as favelas, localizados na periferia da cidade, em verde os cortiços localizados na área central. A figura 4.3 evidencia um loteamento irregular com autoconstrução na zona sul da cidade e a figura 4.4 uma favela na zona norte. 168 Figura 4.3: Autoconstrução zona sul Fonte: Débora Sanches, 2014 Figura 4.4 : Favela Jardim paraná, zona Norte de São Paulo Fonte: cantareira.org, 2014 O atual Plano Diretor18 aprovado em julho de 2014, do município de São Paulo, tem como política e objetivo principal aproximar moradia e emprego para reequilibrar e humanizar a cidade, que enfrenta o problema das desigualdades sociais e territoriais. Para ilustrar a situação, o mapa abaixo representado pela figura 4.5 indica a localização das oportunidades de emprego e a localização da vulnerabilidade social19. 18 Lei 16.050/2014. População exposta à exclusão social. A pesquisa realizada para mapear vulnerabilidade social, considerou-se variáveis censitárias relevantes para caracterizar as múltiplas dimensões da privação e da pobreza, como: condições de habitação, renda, escolaridade, gênero, idade e estrutura familiar. (Prefeitura Municipal de São Paulo – Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano - SMDU, 2014). 19 169 Figura 4.5: Mapa do Município de São Paulo com a localização das oportunidades de empregos e a vulnerabilidade social Fonte: SMDU, 2014 Conforme a graduação da legenda no mapa, roxo significa empregos e do vermelho ao amarelo a vulnerabilidade social. Sobrepondo os mapas das figuras 4.2 e 4.5 observa-se que os loteamentos irregulares e as favelas estão localizados na área da vulnerabilidade social. No contraponto, a oferta de oportunidades de empregos localiza-se na área central e no eixo sudoeste da cidade, próximos dos cortiços. Isto reforça a ideia de diversos pesquisadores que o quadrante sudoeste é o setor mais privilegiado do município de São Paulo (VILLAÇA, 2001 E NAKANO; CAMPOS; ROLNIK, 2004). 170 O quadrante sudoeste é reconhecido o lugar onde se concentram as principais oportunidades e benefícios da vida urbana de São Paulo. Nele se encontra a maior parte dos empregos, as áreas de moradia dos grupos com maiores rendimentos, os melhores espaços públicos, museus, teatros, hospitais, a maior parte dos equipamentos de consumo e de prestação de serviços privados. A estruturação desta centralidade se valeu de investimentos públicos e privados de grande monta, voltados para a construção de edifícios residenciais e não residenciais, da ampliação da malha viária, da oferta de serviços urbanos de uso coletivo, da implantação das infraestruturas de iluminação pública, energia elétrica, transporte de massa e saneamento básico, além da criação e do paisagismo de áreas verdes (NAKANO; CAMPOS; ROLNIK, 2004, p. 125 e 126). Conforme dados da PMSP20 de 2012, os estabelecimentos e empregos formais no setor de comércio, serviços e indústria de transformação e construção civil no município de São Paulo estão localizados respectivamente, como pode ser visto na tabela 4.1, nos seguintes distritos: Tabela 4.1: Estabelecimentos e empregos formais no setor de comércio, serviços, indústria de transformação e construção civil nos distritos Lapa, Pinheiros, Mooca, Ipiranga e Sé Distrito Lapa Pinheiros Mooca Ipiranga Sé Outros Município de São Paulo Total 356.878 588.298 264.028 118.832 670.168 1.949.812 3.948.016 Porcentagem (%) 9 14,9 6,7 50,6 3 17 49,4 100 Fonte: PMSP - Infocidade, 2012 20 PMSP/Infocidade, 2012. Disponível em http://infocidade.prefeitura.sp.gov.br/htmls/18_estabelecimentos_e_empregos_no__com ercio_2012_520.html, acesso em dez de 2014 171 A tabela 4.1 apresenta a localização dos empregos formais nos distritos centrais (Mooca, Ipiranga e Sé) com 26,7% do total, na região sudoeste (Lapa e Pinheiros) com 23,9%, representando 50,6% no Município de São Paulo. Conforme Kohara (2013), no Município de São Paulo existem 209 hospitais21, com 34.715 leitos, sendo que nos distritos centrais estão localizados 22.805, representando 65,69% do total. Os mapas das figuras 4.2 e 4.5 e os dados da tabela 4.1, reforçam a consequência da fragmentação e segregação da cidade, que obriga a população deslocar-se no insuficiente e precário sistema de transporte coletivo para estudar, trabalhar ou utilizar serviços na área central da cidade e no eixo sudoeste, despendendo diariamente muito tempo. As áreas periféricas são carentes de equipamentos e serviços públicos, de postos de trabalho e áreas de lazer e consumo, que reforçam os padrões da estruturação desigual do espaço urbano que abriga uma população segregada e excluída, em síntese uma cidade fragmentada (OTERO; MARTINS, 2011; VILLAÇA, 2001). Por outro lado, os distritos centrais do município de São Paulo receberam nos últimos anos um aumento populacional de 15,9% nas moradias precárias, conforme os dados do Censo 2010, em relação a 2000. Uma parcela da população responde às necessidades habitacionais recorrendo a várias formas de moradia, entre elas, ocupações ilegais em imóveis vazios, favelas, muitas vezes a própria rua e os cortiços22, conforme demonstra o mapa anterior dos assentamentos precários na figura 4.2, em verde na legenda. As Figuras 4.6 até 4.9 a seguir são exemplos das várias formas de moradia precária na área central. 21 Em 2010 na rede municipal, estadual, federal e particular, PMSP/Infocidade, 2012. Segundo Piccini (1997), o termo cortiço é um imóvel, cujos cômodos são alugados, servindo cada um como habitação e com instalações sanitárias comuns. 22 172 Figura 4.6: Ocupação na rua Mauá em imóvel vazio no distrito Sé Fonte: Débora Sanches, 2013 A figura 4.6 apresenta a ocupação na rua Mauá pelo Movimento de Sem Teto do Centro (MSTC), uma das várias ocupações de imóveis vazios da área central de São Paulo, que não cumprem a função social da propriedade, estabelecida pela CF de 1988. Figura 4.7: Favela do Moinho no distrito de Santa Cecília Fonte: Débora Sanches, 2014 173 A figura 4.7 é a favela do Moinho localizada entre os trilhos de trem no distrito de Santa Cecília, onde a maioria dos moradores é de catadores de papel e resiste na luta pela permanência no local. Figuras 4.8 e 4.9: Cortiço no distrito da Liberdade Fonte: Marília Mesquita, 2014. As figuras 4.8 e 4.9 são de um cortiço no distrito da Liberdade, na baixada do Glicério, com 17 famílias utilizando um único banheiro com condições insalubres. Situações como está são reproduzidas na área central e em várias regiões de São Paulo. A primeira pesquisa sobre cortiços foi realizada pela Secretaria Municipal de Planejamento, Orçamento e Gestão (SEMPLA) em 1983 e estimou o número em 2,58 milhões de moradores, representando 29,3% da população do município daquela época. A Fundação Instituto de Pesquisa Econômica (FIPE) realizou, em 1993, pesquisa amostral, que apontou uma população de aproximadamente 595.110 pessoas, morando em 23.688 cortiços nas 20 administrações regionais de São Paulo. A Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE) realizou, em 2001, outra pesquisa em área menor da cidade, abrangendo setores da Barra Funda, Bom Retiro, Bela Vista, Belém, Brás, Cambuci, Liberdade, Mooca, Santa Cecília e Pari, correspondendo a uma estimativa de 38.512 174 habitantes, (CARICARI; KOHARA, 2006). O Plano Municipal de São Paulo apresentou em outubro de 2011 a previsão de 80.389 domicílios encortiçados. A pesquisa de Kohara (2013), realizada com os moradores de cortiços da região da Luz no distrito do Bom Retiro e comparada com a pesquisa que o mesmo autor desenvolveu em 199823 com idêntico perímetro de análise, demonstrou a variação do número de cortiços, domicílios, famílias e pessoas morando em cortiços. A seguir, a tabela com o resumo dos dados encontrados. Tabela 4.2: Variação do número de cortiços, domicílios, famílias e pessoas morando em cortiços na região da Luz no distrito do Bom Retiro Fonte: Kohara (2013) A variação do número de cortiços em 13 anos foi de 13%, o que representa um acréscimo do número de domicílios em 15%, famílias 30% e pessoas morando em cortiços na região da Luz no distrito do Bom Retiro de 39% a mais, números que são consideravelmente altos. Os resultados dos dados do Censo 2010 (IBGE) descreve um aumento de 15,9% na população a partir de 2000 na área central. Este exemplo apresentado pela pesquisa de Kohara (2013) indica a necessidade de se realizar uma eficiente pesquisa para a situação velada dos cortiços. Por outro lado, a área central apresenta potencialidade para a produção de habitação social, como a existência de terrenos vazios ou subutilizados, prédios inteiramente desabitados e sem uso, passíveis de reforma. O Censo 2010 (IBGE) apontou a existência de 3.935.645 23 KOHARA, Luiz T. Rendimentos obtidos nas locações e sublocação de cortiços na região centro de São Paulo, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Dissertação de mestrado, 1999. 175 domicílios em São Paulo, sendo 293.621 vagos no total. Nos distritos centrais são 22.087 de domicílios vagos24. Esse número de imóveis vagos vai de encontro à função social da propriedade garantido pela Constituição Federal de 1988 e pelo Estatuto da Cidade de 2001, destacados no capítulo 3. Políticas públicas destinadas à população de menor renda para a área central de São Paulo foram, historicamente, implementadas quando houve pressão por parte dos interessados. Assim, a partir da segunda metade da década de 1990 os movimentos de moradia da área central reivindicaram junto aos órgãos governamentais programas de habitação de interesse social e acesso à terra urbana, por meio de manifestações e ocupações em imóveis vazios na área central. Nesse sentido, a seguir apresenta-se um breve relato dos movimentos sociais de moradia e as políticas habitacionais para a área central. 24 Segundo o IBGE, a unidade vaga é “aquela que estava desocupada na data base da pesquisa”. Difere da unidade fechada, que é aquela onde, mesmo ocupada, não foram encontrados moradores no período de coleta da pesquisa. 176 4.3 Movimento social de moradia em São Paulo A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 estabelece que o direito à moradia digna é um bem de primeira necessidade, como na Constituição Federal Brasileira de 1988. O entendimento do que vem a ser moradia digna passa pelo entendimento do direto à cidade, definido por Lefreve (1968). Tal direito está na base das principais reivindicações dos movimentos sociais de moradia que atuam de forma coletiva. Tem-se como pressuposto a necessidade da promoção de programas de reabilitação e renovação urbana que permitam a inserção da moradia digna em regiões dotadas de infraestrutura e próximas dos serviços e principalmente do trabalho, em função até das condições precárias do sistema de transporte da cidade. Os movimentos sociais de moradia reivindicam políticas públicas para a habitação social na área central, desde o final da década de 1970, em São Paulo. Segundo Gohn (1991) e Kowarick (1994), a formação desses movimentos iniciou-se com a organização dos moradores de cortiços contra os abusos dos intermediários25, as altas taxas de luz e água, os despejos sem aviso-prévio e regularização de loteamentos, entre outros aspectos. O Centro de Defesa de Direitos Humanos Setores Pari / Catedral26 em 1985 elabora um documento no qual são apontados os problemas da região central da cidade: três milhões e meio de moradores de cortiços 27, 25 Agentes que representam os proprietários dos imóveis nas relações com os inquilinos. Pastorais Sociais da Região da Sé e militantes populares que atuavam com a população em situação de rua, os catadores de materiais recicláveis e os moradores de cortiços nas áreas centrais de São Paulo. Em 1984, estas pessoas iniciaram a articulação para construir uma organização empenhada nas lutas pelos direitos humanos, com o objetivo de estruturar e fortalecer os vários trabalhos pontuais já existentes, com base na educação popular e na defesa dos direitos. Essa iniciativa culminou na fundação, em 1988, do Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos, cujo nome foi escolhido em homenagem ao padre espanhol Gaspar Garcia Laviana. 27 Dado que ao longo do tempo percebeu-se que estava equivocado. 26 177 desalojamento das pessoas que moram sob os viadutos, problemas com ambulantes entre outros, conforme mostra a figura 4.10 abaixo: Figura: 4.10: Os problemas da região Fonte: CARICARI e KOHARA, 2006, p. 24 central da cidade Segundo Caricari e Kohara (2006), as Pastorais da Igreja Católica tiveram papel importante de formação política para a população carente, pois fornecia cursos com objetivo de formar lideranças que assumiram a luta pelos direitos das famílias carentes pela moradia digna, formando agentes de transformação social e estimulando os debates que envolviam a política econômica do país. O momento era oportuno, em 1986 a Assembleia Constituinte elabora a Constituição Federal de 1988. No mesmo ano foi organizada pela UMM28 a primeira caravana da moradia para Brasília, conforme figura 4.11: 28 “A UMM (União de Movimento de Moradia) foi fundada em 1987 com o objetivo de articular e mobilizar os movimentos de moradia, lutar pelo direito à moradia, por reforma 178 Figura 4.11: Primeira caravana da moradia para Brasília. Fonte: CARICARI e KOHARA, 2006, p.26 Na zona leste da cidade de São Paulo, várias associações e grupos se organizaram em torno da questão da moradia. Em 1987, formam o Movimento Sem-Terra da Região Leste I e em 1988 junto com o Movimento dos Quintais da Mooca ocupam um terreno no Jardim Colorado, conseguindo a garantia do governo do Estado à desapropriação do terreno e a compra de 450 lotes da Fazenda da Juta. No mesmo urbana e autogestão e assim resgatar a esperança do povo rumo a uma sociedade sem exclusão social. É uma articulação de movimentos que atuam na área de favelas, cortiços, sem-teto, mutirões ocupações e loteamentos”. Disponivel em: http://www.sp.unmp.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=391&Itemi d=31. Acesso: 20 de abr. 2013. 179 período outros terrenos são ocupados nas regiões do Itaim Paulista e São Miguel, na região de Pirituba, zona oeste da cidade. Em dezembro de 1988, a prefeita Luiza Erundina 29 é eleita e a Secretária de Habitação é a arquiteta e professora da FAUUSP 30 Ermínia Maricato, e o Superintende de Habitação é o arquiteto e professor Nabil Bonduki. A conjuntura política dos responsáveis pelo setor habitacional estava ligada à Reforma Urbana e comprometida com processos participativos. Uma das primeiras ações da então gestão municipal é a reunião com a UMM31 que apresenta reivindicações de propostas para os moradores de cortiços. O governo municipal assume os compromissos para a população encortiçada, com atuação de controle em relação aos intermediários, tarifa mínima de água e energia, fiscalização das condições de salubridade. Esse comprometimento vem a estimular maior organização dos movimentos. Em 1989, a prefeitura recebe um documento das entidades que trabalhavam com os moradores, com propostas visando melhorias para os moradores de cortiços, com os seguintes itens: cadastramento dos cortiços, casarões, pensões e quintais, fiscalização dos imóveis, realização de convênios com a SABESP e a ELETROPAULO para obtenção de tarifa mínima, desapropriação de imóveis e transferência da propriedade aos moradores, por meio de financiamento, aproveitamento de espaços municipais para educação e lazer, criação do Conselho Municipal de moradores de cortiços e casarões, convênios com entidades de assessoria jurídica, elaboração de boletins informativos dos direitos dos moradores, criação de um programa de medicina preventiva, criação da delegacia de cortiços. 29 Sua trajetória política é marcada no apoio aos movimentos sociais com a luta ao acesso a terra e a habitação. 30 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. 31 Neste momento, a UMM é a entidade reconhecida como a articuladora representativa dos movimentos de moradia. 180 A ULC (Unificação das Lutas de Cortiço) é criada em 1990, com o objetivo de organizar os encortiçados da região central. A organização cresce e outros movimentos começam a surgir como o Fórum dos Cortiços e Sem Teto de São Paulo, o Movimento de Moradia do Centro, o Movimento dos Sem Teto do Centro, entre outros (CARICARI e KOHARA, 2006). 181 4.4 Políticas públicas e o Programa de Produção de Habitação por Mutirão e Autogestão em São Paulo A pesquisa por modelos alternativos de produção habitacional é debatida desde os anos 1960 e 1970, como apresentado no capítulo 1 desta pesquisa, com os críticos John Turner e Charles Abrams que defendem processos participativos de projetos pelos usuários. A experiência municipal do Programa de Habitação Social, desenvolvida pela Superintendência de Habitação Popular (Habi) de São Paulo, na gestão da prefeita Luiza Erundina do Partido dos Trabalhadores (1989-1992), é considerada um laboratório de experiências participativas na produção habitacional, como destaca Bonduki e Koury (2014). A importante política pública após quatro anos da redemocratização do país, que ocorreu a partir de 1985, busca aplicar os conceitos do SHRU de 1963, que foram retomados na CF de 1988. Segundo Bonduki (1993), em 1987 haviam 1600 favelas com 800 mil pessoas e mais de 50% do território da cidade de São Paulo era ilegal. As propostas da política habitacional da gestão do governo Erundina tinham intenções ideológicas baseadas na diminuição da segregação sócio espacial e integração à cidade legal32. Invertia a lógica até então praticada, com a implantação de conjuntos em vazios urbanos (terrenos ociosos na área urbanizada da cidade) para evitar a extensão horizontal da cidade. Os objetivos desta política pública habitacional foram desenhados para reduzir os custos da implantação da infraestrutura, aproximar a moradia do local de trabalho e estudos, aproveitar melhor as redes de serviços, equipamentos urbanos e transporte público existente e evitar bairros dormitórios. 32 Grifo da autora. 182 A marca desta experiência é assinalada pela diversidade dos programas, pela preocupação com a qualidade dos projetos, pela inserção da habitação como elemento da produção da cidade e pela introdução de novas formas de processo de gestão. Segundo Bonduki (1993) a política habitacional da gestão do governo Erundina tinham intenções ideológicas baseadas na diminuição da segregação sócio espacial e integração à cidade legal. A implantação de conjuntos em vazios urbanos (terrenos ociosos na área urbanizada da cidade) para evitar a extensão horizontal da cidade. A marca desta experiência é assinalada pela diversidade dos programas, a preocupação com a qualidade dos projetos, a inserção da habitação como elemento da produção da cidade e novas formas de processo de gestão. Outra característica importante deste momento são os movimentos de moradias que já estavam mobilizados e participaram da formulação das propostas. Ações que melhoraram o empreendimentos em relação à desburocratização nas aprovações processo gestões de de viabilização anteriores projetos e dos destacam-se: financiamentos, organização dos moradores a partir das associações de moradores, construção por autogestão e mutirão, urbanização de favelas, respeito à preexistência com a intervenção em cortiço e utilização de terrenos subutilizados e operações interligadas. A problemática habitacional foi a prioridade desta gestão. Utilizou-se recursos provenientes do orçamento municipal que constituiu o FUNAPS (Fundo de Atendimento à População Moradora em Habitação Subnormal) para financiar mutirão autogerido, habitação em área central e assistência jurídica gratuita à moradia popular. O Programa de Produção de Habitação por Mutirão e Autogestão tinha o objetivo de fortalecer a participação da população na gestão de políticas sociais com projetos de qualidade e custos menores. 183 Entende-se por autogestão na produção da moradia um processo de gestão do empreendimento habitacional em que os futuros moradores, organizados em associações ou cooperativas, administram a construção das unidades habitacionais em todos os seus aspectos, a partir de regras e diretrizes estabelecidas pelo poder público, quando este participa financiando o empreendimento (BONDUKI, 2000, p. 35). A metodologia de trabalho também estava formada tripartite – associação de moradores, apoio técnico e poder público – com trabalho coletivo, na perspectiva da melhoria da qualidade e do menor custo da produção habitacional social, desenvolvido entre comunidades, movimentos sociais, profissionais ligados à Assistência Técnica e a vontade política da então administração municipal. Semelhante à experiência do Processo SAAL de Portugal que foi apresentado no capítulo 2. O programa implementado em São Paulo procurou compatibilizar uma boa arquitetura e adequada inserção urbana com custos compatíveis com a habitação social, o que apontou caminhos que criaram referências projetuais inovadoras. Isso foi possível graças a novas formas de gestão, como o mutirão autogerido e o rigor no controle de custos de produção, valorizando a etapa de projeto. Um grande número de profissionais foi mobilizado para desenvolver os projetos, combinando arquitetos experientes com uma nova geração, organizada em entidades de assessoria técnica, formada em um contato mais estreito com os movimentos de moradia e sob uma perspectiva de projeto participativo (BONDUKI e KOURY, 2014, p. 91). Segundo Bonduki (2000), naquele momento, foram formadas 23 Assessorias Técnicas com equipes interdisciplinares e estudantes de arquitetura que vivenciaram na prática profissional a experiência de trabalhar diretamente com as comunidades em sistema de autogestão. As figuras 4.12 mostram o processo de mutirão no canteiro de obras e os espaços construídos para as reuniões com a comunidade no conjunto da Juta. Nas figuras 4.13 são os conjuntos Rincão e São Francisco. 184 Figuras 4.12: canteiro de obras e centro comunitário Fonte: Bonduki; Andrade; Rossetto (1993), p. 54 e 85. Figuras 4.13: Os conjuntos Rincão e São Francisco no setor VIII. Fonte: Bonduki; Andrade; Rossetto (1993), p. 91 e 66. Destaca-se a preocupação para além da habitação, a construção do núcleo urbano com equipamentos de uso coletivo, como o centro comunitário para reuniões e encontros dos moradores, lavanderia coletiva, a cozinha comunitária, entre outras funções. A autogestão somada à liberdade e à criatividade das Assessorias Técnicas tornou a participação na construção destes equipamentos com a comunidade momento de ampliação e compreensão da arquitetura com materiais e sistemas construtivos não convencionais. No desenho de implantação, a intenção da “rua” para além da função da circulação e ordenadora do espaço, em muitos casos, passa a ter a intenção de resgatar o espaço coletivo, o lugar de troca, da expressão cultural. Conforme Bonduki; Andrade; Rossetto (1993), a renovação e a retomada da diversidade de arquitetura de qualidade, do desenho urbano 185 e da inovação tecnológica para a produção habitacional são marcadas pela política urbana com uma variedade de ações e de programas habitacionais. [...] obteve-se uma significativa melhoria na qualidade da produção habitacional a um custo cerca de 40% menor do que o alcançado quando o Estado contrata obras, através de processos licitatórios, junto a empresas privadas. A capacidade que as associações comunitárias foram adquirindo, surpreendentemente, para gerenciar os empreendimentos, elevar a produtividade do trabalho, reduzindo o tempo de obras através da introdução de inovações tecnológicas racionalização do canteiro e dar melhor aproveitamento aos recursos, mostra a potencialidade existente na sociedade para equacionar e executar, de modo compartilhado com o poder público, as políticas sociais (BONDUKI; ANDRADE; ROSSETTO, 1993, p. 90). Sobre o Programa de Produção de Habitação por Mutirão e Autogestão são levantados 153 projetos e 109 são construídos, conforme o catálogo da exposição da II Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo “Arquitetura e habitação social em São Paulo” (Bonduki; Andrade; Rossetto,1993). Vale ressaltar que este programa introduziu a criação de usinas de pré-fabricação de elementos no canteiro de obras com redução de custos e projetos de excelente qualidade. A produção de novas unidades foi garantida pela política de desapropriação de vazios urbanos dotados de infraestrutura, inclusive em áreas centrais, preferindo-se empreendimentos com poucas unidades habitacionais, com projetos participativos, refletindo assim um exemplo de Reforma Urbana tão almejada. 186 4.5 Desdobramentos posteriores Nas gestões seguintes (Maluf e Pitta 1993 - 2000), foram paralisadas todas as ações e houve, mais uma vez, a volta (do retrocesso) da política de habitação tecnocrata voltada para os métodos convencionais de construção com projetos homogêneos sem a participação da população e das Assessorias Técnicas nas decisões. As consequências são a paralisação das obras de vários mutirões espalhados pela cidade e a desarticulação das Assessorias Técnicas ao longo do tempo em São Paulo em função da falta de perspectivas de trabalho. Apenas uma parcela sobreviveu desenvolvendo projetos com os movimentos sociais. A retomada e conclusão das obras de vários mutirões (que estavam paralisados desde 1993) acontecem na gestão municipal de Marta Suplicy (2001-2004) em São Paulo com a volta da participação popular na política habitacional e a retomada das Assessorias Técnicas no desenvolvimento de projetos, entre eles nos estudos de retrofit33 para os imóveis vazios na área central da cidade. As políticas, programas e projetos do poder público de requalificação da área central surgem a partir da década de 1970, com ações pontuais e objetivos diferentes. No entanto a preocupação com a moradia só ocorre a partir do final dos anos de 1980, na gestão de Luiza Erundina, como já indicado no item anterior. O quadro 4.1 Projetos do poder público municipal de requalificação da área central relaciona as ações a partir das pesquisas de Kohara (2013) e Kara José (2010), a seguir: 33 Reconversão de edifícios vazios em habitação social. 187 Quadro 4.1: Projetos do poder público municipal de requalificação da área central Período Prefeito(a) Ações pontuais e objetivos Municipal 1975Olavo Setubal Plano de Revitalização do Centro 1979 1979Reynaldo de Barros Plano de Revitalização da Área Central e 1982 concurso de remodelação do Vale do Anhangabaú 1983Mário Covas Projeto Luz Cultural 1985 1986Jânio Quadros Ampliação da av. 23 de maio; demolição de 1988 cortiços na rua da Assembleia e Jandaia; recuperação do Vale do Anhangabaú. 1989Luiza Erundina Operação Urbana Anhangabaú; Restaurou 1992 patrimônio histórico como o Palácio das Indústrias e o Solar da Marquesa de Santos que virou setor do Departamento de Patrimônio Histórico (DPH); Programa de produção moradia para fixar os moradores de cortiços no centro34 1993Paulo Maluf Criou o Pró-centro com o objetivo de 1996 solucionar a deterioração ambiental, paisagística e de valorização imobiliária no centro 1997Celso Pitta Operação Urbana Centro, benefícios 2000 legislativos para atrair empreendedores privados; Lei das fachadas; Pró-centro inicia as discussões sobre a reabilitação dos edifícios vazios no centro 2001Marta Suplicy Plano Reconstruir o Centro com o objetivo de 2004 investir na melhoria da infraestrutura urbana e um dos itens é o Programa Morar no Centro35 (produção de habitação de social no centro). Plano Diretor Estratégico em 2002. 2005José Serra e Gilberto Projeto Nova Luz que tem como objetivo a 2012 Kassab desapropriação e demolição de quadras através de empresas privadas para requalificação do centro e Renova Centro Fonte: Kohara (2013) e Kara José (2010) Observa-se que os planos elaborados no período entre 1975 e 1988 voltavam-se à temática de revitalização focada na recuperação do patrimônio histórico e nos espaços públicos. 34 O Programa de Habitações Populares da Região Central de São Paulo, constituído de dois programas: o de Produção de Habitação de Interesse Social e o Programa de Recuperação de Cortiços. 35 Programa Morar no Centro compreende duas formas principais de intervenção urbana: projetos habitacionais em terrenos, edifícios vazios ou ocupados irregularmente e perímetros de reabilitação integrada do habitat. Tendo como modalidades de atendimento habitacional a locação social, bolsa aluguel, moradia transitória e programa de intervenção em cortiços. 188 Castro (2003) afirma que de meados de 1970 até finais de 1980 o período caracterizou-se também por uma política de desconcentração com a migração das atividades centrais, políticas restritivas à ocupação o solo e à circulação de veículos e pela nova acessibilidade proporcionada pelo metrô. Para o autor, no início da década de 1990 a Operação Urbana Anhangabaú recebeu participação da “Associação Viva o Centro”36 com objetivos de requalificação urbana e colaboração entre os setores público e privado na sua concepção e implantação, refletindo em políticas urbanas. Percebe-se assim que a partir de 1990 as ações municipais foram mais importantes para a requalificação da região central do município de São Paulo com iniciativas de reabilitação e renovação urbana. Para Kohara (2013) algumas ações contribuem para fixar a população no centro, como a aprovação de algumas leis importantes aprovadas pela Câmara Municipal as quais estabelecem instrumentos para o desenvolvimento urbano e social da área central, como a Lei Moura 10.928/91 que cria diretrizes de melhoria nos cortiços, Operação Urbana Centro 12.349/97, Plano Diretor Lei 13.430/02, Planos Regionais Estratégicos e Zoneamento Lei 13.885/04. Em 1993, é criado o ProCentro (Programa de Requalificação Urbana e Funcional do Centro de São Paulo), coordenado pela SEHAB 37. Frúgoli (2000) faz a crítica sobre assunto: “[...] A formação do ProCentro tinha, na perspectiva da Viva o Centro, a função de realizar determinados objetivos só possíveis através do poder público” (FRUGOLI, 2000, p. 81). Em relação à política pública de habitação em área central, nota-se um avanço significativo no período pós Constituição Federal de 1988, principalmente na gestão da prefeita Luiza Erundina (1989 a 1992), a partir de dois programas - Produção de Habitação de Interesse Social e o 36 Em 1991 foi criada a “Associação Viva o Centro” pelo Banco de Boston, com a intenção de participar do processo de recuperação do Centro. 37 Secretaria de Habitação da Prefeitura Municipal de São Paulo. 189 Programa de Recuperação de Cortiços – que tinham a premissa de aproveitar infraestrutura existente em terrenos vagos ou em áreas com cortiços38. A Operação Urbana Centro, Lei Municipal 12.349 de 6 de junho de 1997, no seu artigo 1º, compreende um conjunto integrado de intervenções coordenadas pela prefeitura, através da empresa municipal de urbanização - EMURB, com a participação dos proprietários, moradores, usuários permanentes e investidores privados, visando à melhoria e valorização ambiental da área central da cidade. Os objetivos principais eram obras de melhoria urbana, melhora da qualidade de vida de seus atuais e futuros moradores, início de um processo de melhoria das condições urbanas e da qualidade de vida da área central da cidade, especialmente dos moradores de habitações subnormais, reforço na diversificação de usos na área central da cidade, incentivando o uso habitacional e atividades culturais e de lazer. As propostas que atingirem habitações subnormais (cortiços) deve contemplar solução do problema habitacional de seus moradores, dentro da área da operação urbana centro ou numa faixa de quinhentos metros envolvendo seu perímetro, sem ônus para a prefeitura e sem prejuízo do pagamento da contrapartida financeira. O Programa Morar no Centro, idealizado a partir de 2001 pela SEHAB na Prefeitura Municipal de São Paulo, tinha como objetivos melhorar as condições de vida dos moradores do centro, viabilizar moradia adequada para pessoas que moram ou trabalham na região e evitar a gentrificação. Nas diretrizes, priorizar a reforma de prédios vazios, perímetros de reabilitação integrada do habitat, combinar soluções habitacionais com iniciativas de geração de renda e buscar a diversidade social nos distritos centrais. 38 O detalhamento dos programas de habitação social é objeto do capítulo 5. 190 O Plano Diretor Estratégico de São Paulo LEI Nº 13.430 de 2002 determina seiscentos e oitenta e seis área de Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS)39 que são áreas reservadas para a construção de habitação social, garantindo a permanência da população de baixa renda no lugar onde já habitam, a serem edificadas pela iniciativa privada ou pública. Conforme define Santo Amore (2013), são duas modalidades de ZEIS: nas áreas vazias que tem a intenção de estimular a produção de habitação social e nas áreas ocupadas por assentamentos precários como favelas, loteamentos irregulares, conjuntos habitacionais de promoção pública, cujo objetivo é facilitar a regularização urbana e fundiária. 4.5.1 Impasses e dificuldades para a produção de habitação social na área central Diversos autores afirmam que a maior dificuldade de produção de habitação social em área central é o valor da terra, principalmente porque o poder público é omisso na gestão do uso do solo e da terra urbana e tem dificuldade em utilizar os instrumentos jurídicos para garantir a função social da propriedade (MARICATO, 2011; FERREIRA, 2012; ROLNIK; 1997). A atuação integrada dos três níveis de governo dificilmente ocorre, que traz dificuldades para o desenvolvimento de um programa habitacional abrangente e eficiente. O artigo 23 da Constituição Federal de 1988 estabelece que a Política Habitacional é competência comum da União, dos Estados, do dos Municípios e deve promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais assim como de saneamento básico. 39 As ZEIS na transição democrática (Constituição Federal de 1988) se consolidam como legislação urbanística e instrumento urbanístico na luta pela a Reforma Urbana. 191 No sentido da luta pelo direito à cidade e à habitação (Lefebvre, 2011) a reivindicação dos movimentos sociais de moradia pressionam o poder público por programas de habitação social nos distritos centrais de São Paulo, em 1997, são realizadas ocupações40 de imóveis vazios. Em função dos anos de debates e propostas para a atuação em cortiços com a SEHAB41 e CDHU42 , entre 1997 e 2012 os movimentos de moradia realizaram mais de 100 ocupações na área central, conforme o quadro A.4.1 e o mapa da figura A.4.2 que foram formulados a partir das pesquisas de Silva (2006) e Neuhold (2009), apresentados no apêndice 4 desta pesquisa. Nas palavras de Maricato: [...] os principais movimentos sociais não tenham deixado de ocupar imóveis ociosos que descumprem a determinação da Constituição Brasileira de atendimento à função social e de fazer amplas manifestações de rua, sistematicamente ignoradas pela grande mídia [...] (MARICATO, 2011, p. 95) Para Ferreira (2012), a produção de habitação social a partir de reabilitação de edifícios é um processo difícil no Brasil, em função de várias questões: complicações jurídicas quanto à propriedade, valor do imóvel, falta de domínio técnico (tecnologia, materiais, mão de obra), fatores que elevam os custos e impedem a formação de mercado específico e o interesse de construtoras. O autor destaca que na Europa cerca de 50% da atividade da construção civil relaciona-se a reformas e reabilitação de edifícios. Neste aspecto, no período estudado, os movimentos de moradia contaram com o apoio das Assessorias Técnicas que forneceram estudos de viabilidade, principalmente para os imóveis vazios para serem reabilitados em habitação social. Exerceram também papel fundamental na interlocução e no diálogo técnico entre a população e os funcionários do setor público. 40 Segundo Silva e Sígolo (2007) e Neuhold (2009), no ano de 1997 foram realizadas onze ocupações em imóveis vazios na área central de São Paulo. 41 Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Urbano do Munícipio de São Paulo 42 Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado. 192 4.6 O apoio técnico na produção de habitação de interesse social na área central de São Paulo. No sentido de auxiliar os estudos de viabilidade técnica com uma política pública integrada para habitação em área central pelos diferentes níveis de governo, apresenta-se a experiência da Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Urbano da Prefeitura de São Paulo com o Governo Federal, a partir da criação em 2001, dentro do Procentro, o GTAI43 (Grupo Técnico de Análise de Imóveis que visava estimular projetos de reabilitação de edifícios vazios para habitação social na área central). Realizaram-se estudos44 –preliminares de arquitetura, estimativa de custos e pré-análise jurídica – para estimular o processo e absorver uma demanda de estudos iniciais para os diferentes atores (movimentos sociais, assessorias técnicas, proprietários, construtoras e poder público). A linha de financiamento para este tipo de obra era realizada diretamente com a construtora por meio do programa denominado PAR45. Na modalidade reforma, o imóvel era comprado pela Caixa Econômica Federal e depois de reformado; os moradores arrendavam por 180 meses por 0,7% do valor da unidade habitacional e no final do período o morador tem a opção de compra pelo valor residual. Destaca-se esta importante experiência em função de apresentar o histórico com seu funcionamento. As primeiras listas de indicação de edifícios vazios para a transformação em habitação social foram encaminhadas pelos movimentos de moradia ao ProCentro no mesmo ano das ocupações de 1997, cujas indicações intensificaram-se ao longo de 3 anos, resultando na criação do GTAI. São sinais da Reforma Urbana com a 43 A autora Débora Sanches foi coordenadora do GTAI em 2002 e 2003. A Lei de Assistência Técnica foi aprovada apenas em 2008. 45 Programa de Arrendamento Residencial da Caixa Econômica Federal, agente promotor de habitação social do Governo Federal. 44 193 participação ativa da população na viabilização de habitação social nas áreas centrais. Na lista inicial constavam 400 imóveis aproximadamente. Após vistorias, a maioria dos imóveis é descartada por não se adequar à linha de financiamento existente: parcialmente ocupados, porte não condizente ou não adequado para habitação social, entre outros fatores. A longa lista foi reduzida para 54 imóveis, que foram objetos de estudo de viabilidade técnica e financeira, desenvolvidos entre 2002 e 2003, cujo resultado encontrou 2900 unidades habitacionais. A metodologia de análise foi construída pelo grupo46 com troca de experiência com as Assessorias Técnicas neste período. A distribuição geográfica dos edifícios analisados está localizada nos distritos Sé e República principalmente, conforme o mapa da figura 4.14, em função das características históricas e fundiárias da região. A tipologia que melhor se adapta – edifícios altos, vazios por inteiro, e um ou dois proprietários da mesma família – para reabilitação para habitação social. Seus usos predominantes originais são: serviços 25, hotéis 10 e residenciais 19, totalizando 54 edifícios. 46 Vice-presidente Procentro Helena Menna Barreto; André Folganes Franco e Débora Sanches (cordenadores); Alessandra d´avila Vieira, Alexandre Perroca e Paula Padovano (arquitetos), Jun Nakabayashi (sociólogo), Regina Orsi (historiadora), Camila De Oliveira Cabral, Daniela Carolina Ajudarte e Priscila Guerra Barbosa (estagiárias). 194 Figura 4.14: mapa dos edifícios estudados pelo GTAI Fonte: Relatório balanço dos estudos de viabilidade técnica de reabilitação de edifício para habitação social, 2004. As diretrizes dos estudos iniciais para reduzir o custo da reforma, eram respeitar a configuração original do edifício, recuperar materiais existentes e trocar as instalações (elétrica, hidráulica e gás). Percebeu-se naquele momento (2002 e 2003), que os custos da aquisição do imóvel correspondiam a 50% e as obras de reforma mais 50%, ou seja, são os valores que incidem na unidade habitacional (UH) final e, naquele momento, o programa PAR Reforma47 tinha um limite máximo de valor por UH de R$ 35.000,00, até 2005, e área útil mínima de 30 m2. Deste cenário, conseguiu-se concretizar um imóvel denominado Joaquim Carlos para o programa PAR Reforma da Caixa, que será apresentado no capítulo 5 com mais detalhes, e outros 4 imóveis que se enquadraram no programa da Caixa. A solução adotada pela Secretaria da Habitação foi a desapropriação e depois os imóveis foram repassados para a Cohab para desenvolver o Programa de Locação Social. 47 Programa de Arrendamento Residencial na modalidade de reforma da Caixa Econômica Federal. 195 Em resumo, dos 54 imóveis estudados apenas 5 foram concretizados nos diferentes programas. A inviabilidade dos edifícios estudados pelo GTAI para se transformar em habitação social tem vários motivos: preço fundiário responde por 68%, seguido de problemas jurídicos 20%, inadequação técnica 2% e outros fatores 10%. A seguir na figura 4.14 apresentam-se os 5 imóveis ainda originais, antes da reforma de reabilitação para habitação social a partir dos estudos do GTAI, que estão detalhados no inventário desta pesquisa realizado no capítulo 548. Figura 4.15: Imóveis originais que foram reabilitados para habitação social Baronesa de Porto Carreiro, Senador Feijó, Asdrúbal do Nascimento, Riachuelo e Joaquim Carlos. Fonte: GTAI, 2004. As Assessorias Técnicas também realizaram projetos de reabilitação de edifícios vazios como a Fábrica Urbana, Integra e Ambiente Arquitetura que estão apresentados no apêndice 2 do capítulo 5. A experiência de reabilitação urbana com habitação social realizada no centro da cidade de São Paulo foi possível a partir da mobilização de movimentos sociais urbanos, com apoio das Assessorias Técnicas, na conquista do direito à habitação e à cidade. O GTAI que deu suporte 48 No Apêndice empreendimento. 2 desta pesquisa encontra-se as fichas detalhadas de cada 196 técnico para os estudos iniciais de viabilidade e acumulou importante experiência sobre reabilitação de edifícios. No próximo capítulo, apresenta-se o inventário da habitação social construída com recursos do poder público na área central no período de 1990 a 2012. Analisa-se também a apropriação dos moradores no processo de efetivação da moradia digna, em duas situações com e sem projeto participativo. 197 198 Capítulo 5. Inventário da habitação social na área central de São Paulo (1990 a 2012) Este capítulo tem como objetivo apresentar o inventário dos empreendimentos de habitação social, construídos com recursos do poder público para a área central de São Paulo, no período 1990 a 20121, bem como um estudo exploratório fruto de pesquisa qualitativa que busca entender o grau de envolvimento nas diversas fases que envolvem o processo de projeto, desde a concepção à viabilização do empreendimento de habitação social e a apropriação dos futuros moradores. Cabe destacar que o inventário é derivado de uma ampla pesquisa de campo e apresenta a organização inédita dos vários empreendimentos construídos na área central no recorte temporal escolhido para a Tese. Inicialmente, no primeiro item do capítulo, relata-se o método de trabalho, ou seja, os procedimentos metodológicos desenvolvidos para esta etapa da pesquisa. Em linhas gerais, o método envolveu duas fases: 1 O recorte temporal foi definido a partir do início da mobilização para viabilização dos empreendimentos de habitação social para área central até a construção dos empreendimentos em 2012. 199 1) o inventário é derivado de uma ampla pesquisa de campo que apresenta a organização inédita, em forma de fichas, dos vários empreendimentos construídos na área central no recorte temporal escolhido para a Tese. 2) o estudo exploratório tem como base a realização da pesquisa qualitativa que busca mensurar o grau de envolvimento e apropriação dos moradores dos empreendimentos de habitação social localizados na área central de São Paulo, cujos projetos são realizados de duas formas: com ou sem a participação dos futuros moradores. A pesquisa qualitativa com um número reduzido de moradores de diversos empreendimentos busca compreender o grau de apropriação em duas fases do processo de realização do empreendimento: fase inicial e pós-uso. Em seguida, no segundo item do capítulo, analisam-se os resultados dessas duas etapas, indicando inclusive as limitações da pesquisa qualitativa e a necessidade de aprofundamento posterior para demonstração da tese, com a escolha de quatro estudos de caso, que se encontram no capítulo 6. 200 5.1 5.1.1 O método da pesquisa Inventário dos empreendimentos de habitação social O inventário dos empreendimentos de habitação social construídos com recursos do poder público na área central de São Paulo, com recorte temporal de 1990 a 2012, organizou-se em duas etapas como já sintetizados na introdução do capítulo, a saber: 1ª fase - levantamento dos programas e fontes de recursos: A partir da pesquisa de Sanches (2008)2, foram levantadas informações básicas de 38 empreendimentos construídos no período entre 1990 e 2014. Em seguida, a atualização dos dados foi realizada a partir da visita aos arquivos dos órgãos públicos e contou com a participação de técnicos do poder público SEHAB e CDHU, que auxiliaram com o levantamento das informações que estavam dispersas. 2ª fase - elaboração de fichas e visitas de campo: As fichas de cada empreendimento foram elaboradas a partir das informações já levantadas com os dados secundários e foram complementadas com visitas de campo. Para esta fase da pesquisa, contou-se com o apoio de um grupo de alunos3 do Curso de Arquitetura e Urbanismo do 4º semestre do Centro 2 Nesta pesquisa haviam informações de 20 empreendimentos do período de 1990 a 2007. 3 Alunos das cinco turmas de 4º semestre de 2014 da disciplina de Projeto de Integrado de Arquitetura e Urbanismo, divididos em grupos, realizaram visitas em todos os 38 empreendimentos. 201 Universitário Belas Artes de São Paulo, sob a coordenação da autora, que visitou durante o mês de outubro de 2014, todos os 38 empreendimentos. Cada ficha recebeu uma numeração (identifica o nome do empreendimento), cor que indica a esfera do poder público (municipal, estadual e federal) que é responsável pelo recurso financeiro que viabiliza o empreendimento e letra para qual tipo de origem de viabilização do empreendimento que foi construído, conforme o modelo representado na figura 5.1, classificados da seguinte forma: A - prédios que passaram por retrofit4 e são condomínios de HIS5, B - cortiços que foram demolidos e no mesmo local existe construção nova de HIS, C - condomínios que foram edificados com prédios de muitos pavimentos e são isolados no lote com grande número de habitantes, D - condomínios que foram edificados com prédios em terrenos vazios próximos a área de favelas, E - condomínios que foram edificados com prédios em terreno vazio sem uso de elevador. Na sequência são apresentadas informações gerais: nome do empreendimento, endereço. A distância em relação do percurso a pé até a Praça da Sé (centro histórico de São Paulo) e uso do solo do entorno imediato. Para verificar o histórico do processo do empreendimento apresenta-se a origem da demanda, ano de início da mobilização, ano da ocupação do imóvel (se houver) e o movimento de moradia envolvido. 4 Troca ou substituição de componentes de um edifício que se tornaram inadequados ou obsoletos Neste caso, os edifícios estavam vazios há décadas e foram reformados e transformados em habitação social. 5 Sigla para Habitação de Interesse Social, denomina-se também habitação social. 202 As informações sobre o programa habitacional a que pertence o empreendimento, divididas nas três esferas de poder público, informações sobre o projeto de arquitetura: autoria (para verificar se foi realizado por assessoria técnica ou escritório convencional de arquitetura), ano de conclusão da obra, número de unidades habitacionais, área em m2 da unidade habitacional e quantidade de dormitórios, tipologia com número de pavimentos, área do terreno em m2, densidade demográfica líquida habitante/hectare (utilizouse a média de 2,68 pessoas por domicílio, a partir dos dados do IBGE (2010) para os distritos da área central). Figuras: Foto aérea do Google Earth de 2014 para visualizar a inserção urbana, outra com aproximação para a implantação. Em alguns casos são apresentadas fotos antigas do terreno, cortiço ou imóvel, antes de se construir o empreendimento, fotos atuais dos empreendimentos e elaboram-se as plantas do pavimento tipo de todos os empreendimentos com escala gráfica para padronizar a leitura dos projetos. As informações são colhidas a partir de entrevistas com poder público, entrevistas aos empreendimento. A seguir o modelo da ficha. moradores e representantes do 203 Figura 5.1: Modelo da ficha do inventário dos empreendimentos de habitação social da área central de São Paulo de 1990 a 2012. Fonte: elaborado pela autora Débora Sanches, 2014 e Grupo Sarau. Todas as fichas produzidas encontram-se no Apêndice 2 desta pesquisa. 204 3ª fase - elaboração de um quadro síntese: A partir da organização e sistematização das fichas que se encontram no Apêndice 2, elaborou-se um quadro síntese com todas as informações encontradas nas fichas para preparação de gráficos e análises dos resultados. 4ª fase – elaboração de Mapa: Mapa corroborando com a análise, os empreendimentos foram mapeados com a mesma numeração das fichas e cores (em função das três esferas do poder público) e com os perímetros de ZEIS6 (Plano Diretor Estratégico de São Paulo, LEI 13.430/2002) propiciando análise no âmbito da política urbana. 5ª fase - a etapa de análise dos resultados: A partir do quadro síntese e do mapa são desenvolvidas as análises com gráficos dos resultados dos empreendimentos pesquisados. 5.1.2 Pesquisa exploratória: o método de avaliação do grau de envolvimento e apropriação dos moradores nas fases do processo de projeto. A partir dos conceitos apresentados no final do capítulo 3 (item 3.4), a presente pesquisa avaliou o grau de envolvimento dos moradores, levando-se em conta o entendimento do Processo de Projeto participativo e como mensurar o grau de apropriação pelos usuários em suas distintas 6 Zonas Especiais de Interesse Social, na transição democrática (Constituição Federal de 1988) se consolidam como legislação urbanística e instrumento urbanístico na luta pela a Reforma Urbana. São áreas reservadas para a construção de habitação social, garantindo a permanência da população de baixa renda no lugar onde já habitam. 205 fases. Apesar da pesquisa de campo ter limitações e ser considerada exploratória, como será explicado em seguida, a principal contribuição desta fase é a formulação de um método de avaliação que pode ser aprofundado em pesquisas posteriores. Durante a elaboração do inventário, a equipe de campo aplicou um questionário com os moradores, buscando verificar o grau de apropriação destes em duas fases do processo: na fase de processo inicial de viabilização e processo pós-uso dos empreendimentos. Para definição desse método, duas etapas prévias foram essenciais e constituíram parte do processo de elaboração da Tese e de amadurecimento da autora: 1) entrevistas com os principais atores envolvidos na viabilização dos empreendimentos da área central de São Paulo de 1990 a 2012, lideranças de movimentos de moradia, assessoria técnica, técnico do poder público e ONG (quadro 5.1). 2) entrevistas e conversas7 com os principais atores da questão habitacional de Portugal (quadro 5.2), entre eles pesquisadores, arquitetos, poder público e movimento de moradia, envolvidos com o antigo processo SAAL (descrito no capítulo 2), passando pelas cooperativas habitacionais e atualmente, na gestão do parque público habitacional ligado a Câmara Municipal de Lisboa. As entrevistas qualitativas com os principais atores, líderes de movimento de moradia, assessorias técnicas e técnicos do poder públicos envolvidos na viabilização dos empreendimentos da área central de São Paulo, foram direcionadas para organizar e entender PROCESSO realizado de forma participativa (conforme apresentado no capítulo 3 desta pesquisa), entre moradores, projetistas e poder público, das diferentes fases e ações na viabilização de habitação social. A seguir, o roteiro que serviu como guia nas entrevistas: 7 No âmbito da bolsa PDSE-Capes estudou-se o processo SAAL em Portugal, cuja pesquisa foi realizada no primeiro semestre de 2014 em Lisboa no Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC). 206 a mobilização inicial, a ocupação dos imóveis (se houver), os estudos iniciais de projeto, o papel da assessoria técnica no processo, as etapas empreendimento, a do processo intermediação de com o viabilização poder público, do o acompanhamento nas obras, o acompanhamento das famílias, o trabalho social, a manutenção e gestão condominial, a apropriação e a satisfação dos moradores. O quadro 5.1 relaciona as pessoas que foram entrevistadas no período entre 2012 e 2014. Quadro 5.1: Entrevistas com os principais atores envolvidos na viabilização dos empreendimentos da área central de São Paulo – 1990 a 2012 1 2 3 4 5 6 Entrevistado Entidade Setor Verônica Kroll* Luiz Gonzaga da Silva* Sidnei Pita* Arquiteta Isabel Cabral* Engenheiro Francisco Comarú Maria dos Anjos* Fórum de cortiços MMC Movimento de moradia Movimento de moradia ULC Ambiente Arquitetura Ação Direta Movimento de moradia Assessoria Técnica Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos e ULC (Sehab 20012004) e Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos e UMM CDHU ONG e Movimento de moradia 7 Engenheiro Luiz Kohara* 8 Advogado Benedito Roberto Barbosa 9 Assessoria Técnica Poder Executivo – prefeitura municipal (Sehab 20012004) ONG e Movimento de moradia Arquiteta Lia Afonso Poder Executivo Ferreira 10 Arquiteta Márcia PMSP Poder Executivo Terlizzi Fonte: Entrevistas gravadas* por Débora Sanches, 2011, 2012 e 2013 Já as entrevistas e conversas com os principais atores da questão habitacional de Portugal, envolvidos com o SAAL e com a política habitacional de Lisboa na atualidade, ocorreu no âmbito da experiência do PDSE e foi fundamental para entender as subjetividades do Processo participativo dos projetos de habitação social daquele país e aspectos que 207 se aproximam de algumas experiências do Brasil. Como já ressaltado, no passado houve troca de experiências entre Brasil e Portugal para a formulação de projetos de participativos, conforme se apresentou nos capítulos 2 e 3 desta pesquisa. O quadro 5.2 relaciona os atores que foram entrevistados no período entre janeiro de julho de 2014. Quadro 5.2: Entrevistas e conversas com os principais atores envolvidos com a questão da habitação de Portugal Entrevistado Entidade Setor 1 Arquiteto António Baptista Coelho Universidade Beira Interior e LNEC 2 Arquiteto Nuno Portas* 3 Paula Marques 4 Geografa Teresa Craveiro 5 Arquiteto Miguel Correia de Brito* 6 Arquiteto Carlos Almeida Marques Secretário de Estado da Habitação e Urbanismo (1974-1975) Universidade do Porto e (CEAU) Vereadora do Pelouro de Habitação Social da Câmara Municipal de Lisboa Coordenadora do programa BIP/ZIP da Câmara Municipal de Lisboa Coordenador do programa BIP/ZIP Ex SAAL da Câmara Municipal de Lisboa Professor da Universidade CAPP-ISCSP-UL, Lisboa Professor e coordenador do de Arquitectura investigador do LNEC, sobre o habitat, Cooperativista habitacional Poder Executivo - mentor do processo SAAL Investigador do LNEC sobre o habitat 7 Antropóloga Marluci Menezes Arquiteta Isabel O. de S. Raposo 8 9 Psicóloga Rita Silva 10 Arquiteto Tiago Mota Saraiva* LNEC Professora da Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa HABITA COLECTIVO AtelierMob Fonte: Entrevistas gravadas* por Débora Sanches, 2014 Poder Executivo Poder Executivo Poder Executivo Pesquisador sobre habitação e desenvolvimento de planos diretores Pesquisadora sobre o habitat Pesquisadora sobre a questão habitacional Movimento de moradia. Colectivo pelo Direito à Habitação e à Cidade Escritório de arquitetura que trabalha também de forma participativa com comunidades (Assessoria Técnica) 208 As entrevistas realizadas com os diferentes atores em São Paulo e Portugal, associadas às pesquisas bibliográficas e análises contextuais já sistematizadas nos capítulos iniciais desta Tese, foram fundamentais para a construção do método de análise que contribuirá para avaliar o Processo de viabilização da conquista da moradia digna. Tais entrevistas contribuíram para entender que tanto nos projetos de habitação social na área central de São Paulo, realizados de forma participativa, como nos projetos realizados desdobramentos, pelo existem processo 2 etapas SAAL de distintas Portugal 8 no âmbito e do seus que denominamos de Processo. A primeira, relaciona-se com a conquista da moradia digna: 1) Processo Inicial – aquele definido pelo início da mobilização dos moradores, ainda na moradia precária até a conquista da moradia digna. A segunda, pauta-se na verificação do pós-uso. 2) Processo Pós-Uso - aquele definido após a conquista da moradia digna, que indica a importância de se verificar a gestão do empreendimento, as relações de vizinhanças e com o entorno, a apropriação dos moradores, entre outros aspectos. As categorias de análise foram denominadas de Fases/Ação em função de avaliar-se a importância do Processo de projeto e suas diferentes etapas. Para cada etapa, foram identificadas em 5 fases no Processo inicial (Mobilizar, Viabilizar, Projetar, Construir, Morar / Habitar) e 3 fases no Processo pós-uso (Qualificar/ Realizar, Relacionar/Integrar e Satisfazer) como categorias de análise que devem ser aferidas a partir do inventário, das pesquisas de campo e das entrevistas com moradores e representantes dos empreendimentos. Na etapa Processo Inicial, as fases/ações são detalhadas no quadro 5.3, com definição da ação pelo dicionário Caldas Aulete9 e sua descrição. 8 9 Idem Disponível em http://www.aulete.com.br/. Acesso em jul. de 2014. 209 Quadro 5.3: Fases/Ações no processo inicial Fases Ações Definição Descrição dicionário Aulete PROCESSO INICIAL 1. Mobilizar Chamar à ação pessoas ou grupos; movimentarse, mover-se, pôr-se em ação; arregimentar, sensibilizar, comover; movimentar-se para deflagrar uma ação Tornar (algo) viável, possível 2. Viabilizar 3. Projetar Desenhar projeto ou planta de; planejar, programar Edificar casas ou prédios - Identifica a origem dos moradores com falta de moradia digna e a sua organização prévia, através de movimentos de moradia ou em associações de moradores; - conscientização dos direitos e deveres. - escolha do imóvel: terreno ou prédio - estudo de viabilidade: técnica, jurídica e financeira - interlocução com poder público - desenvolvimento dos projetos - aprovações nos órgãos competentes - a construção pode ser realizada: Autogestão e Mutirão ou Construtora; - acompanhamento das obras - trabalho social com as famílias para preparar na vida em condomínio 5.Morar Ter residência, moradia; - Os termos “morar” e “habitar” são Habitar habitar; viver diferentes para Gonçalves (2002), o termo “morar” é quando o indivíduo constitui apenas uma relação funcional com determinado lugar e “habitar” quando existe a apropriação com seus aspectos simbólico, emocional, físico e cultural, havendo uma interação com o lugar. Fonte: elaborado pela autora Débora Sanches, 2014 4.Construir Na etapa Processo Pós-uso, as fases/ações são detalhadas no quadro 5.4, com definição da ação pelo dicionário Caldas Aulete e sua descrição. 210 Quadro 5.4: Fases/Ações no processo pós-uso Fases Ações Definição Descrição dicionário Aulete PROCESSO PÓS USO Caracterizar (alguém ou - Verificar a qualidade das áreas comuns algo) por certa qualidade - Verificar as atividades do condomínio ou condição, - Verificar as atividades na pós-ocupação Classificar; apreciar; avaliar Concretizar; Fazer que aconteça ou acontecer; cumprir-se, verificar-se; criar ou dar forma a; pôr em ação, em prática; fazer; alcançar sucesso no cumprimento de seu ideal ou sua proposta de vida 7.Relacionar Mostrar ou assinalar - Verificar a relação do conjunto com o Integrar relação ou conexão entorno e o bairro existente; - Verificar as relações de vizinhanças Fazer relações, - Verificar a localização com serviços, conhecimentos, amizades equipamentos, emprego e estudos 8. Satisfazer Ser suficiente ou - Verificar a satisfação dos moradores conveniente; ser o - Verificar a ajuda da conquista da bastante; moradia digna para outros moradores Agradar; atender; bastar; Cumprir (exigência) de maneira satisfatória. Fonte: elaborado pela autora Débora Sanches, 2014 6.Qualificar Realizar A partir das fases/ações e o entendimento da importância do Processo de viabilização do empreendimento de habitação social na área central, com a ótica do direito à cidade, utiliza-se o método de Likert para realizar as entrevistas com os moradores dos empreendimentos de habitação social da área central, para aferir o grau de envolvimento dos moradores tanto no processo inicial como no processo pós-uso. O método da escala Likert (1932)10 tem como objetivo aferir o envolvimento com o objeto de estudo. A escala é de resposta psicométrica11 de correlação estatística usada em questionários, pois a satisfação de um usuário não pode ser mensurada a partir de uma única 10 LIKERT, Rensis (1932), "A Technique for the Measurement of Attitudes” New York. Disponível em http://www.voteview.com/Likert_1932.pdf. Acesso em out. 2014 11 Conforme o dicionário Aulete, ramo da psicologia voltado para a elaboração e crítica de métodos de mensuração e avaliação de fenômenos e características psicológicas. 211 opinião, mas sim níveis de opiniões. Os entrevistados escolhem o seu nível de concordância a partir de frases afirmativas ou negativas, relacionado ao que está sendo avaliado. Extraiu-se o método para verificar o envolvimento dos moradores, através das frases afirmativas que se repetiram nas entrevistas representadas nos quadros 5.1 e 5.2 com os atores da viabilização de habitação social. As fases / ações são formuladas como questionário com frases afirmativas para aplicação com os moradores, para que elejam o grau de intensidade de concordância com uma afirmação na escala de Likert, com o objeto estudado que foi o Processo de viabilização de projeto de habitação social na área central e a participação dos moradores nas diferentes etapas do processo - Inicial e Pós Uso. Segundo Likert (1932), para maior confiabilidade nos resultados as afirmativas e as escalas devem ser trabalhadas em números ímpares. Neste sentido, divide-se nas fases / ações 3 frases em cada etapa e, no questionário estruturado, considera-se cinco opções de respostas para cada frase, desta forma: discordo totalmente, discordo em parte, não concordo e nem discordo, concordo em parte e concordo totalmente, onde acrescentam-se as figuras12 para ajudar no entendimento das respostas. O questionário destinado aos moradores com as frases afirmativas foi separado no processo inicial e no processo pós-uso, conforme apresentado no quadro 5.5. 12 Técnicas e metodologias para pesquisas de satisfação de clientes. Disponível em: http://www.institutophd.com.br/blog/tecnicas-e-metodologias-para-pesquisas-de-satisfacao-declientes/. Acesso em setembro de 2014. 212 PROCESSO INICIAL MOBILIZAR VIABILIZAR PROJETAR CONSTRUIR MORAR HABITAR FRASE 1:A ação de mobilização entre os moradores quando ainda moravam de forma precária é importante para juntos conquistar a moradia digna. FRASE 2:Fazer parte de uma associação de moradores ou movimento de moradia é fundamental para a conscientização dos meus direitos e deveres como cidadão. FRASE 3: O aprendizado na convivência com as famílias anterior é refletido no futuro empreendimento na organização do condomínio. FRASE 4: No processo de viabilização do futuro empreendimento é importante para as famílias participarem da escolha do imóvel para o desenvolvimento do projeto. FRASE 5: As famílias participam do desenvolvimento dos estudos iniciais do projeto com as assessorias técnicas ou escritórios de arquitetura. FRASE 6: Nas reuniões com o poder público o apoio técnico das assessorias técnicas é fundamental para ajudar na realização do empreendimento. FRASE 7: O projeto final é realizado de forma participativa com as famílias. FRASE 8: A representação do projeto é realizada com linguagem de fácil entendimento para as famílias com desenhos e maquetes. FRASE 9: Nas reuniões com o poder público as lideranças da associação de moradores ou movimento de moradia representam os desejos das famílias. FRASE 10: As assessorias técnicas ou escritórios de arquitetura que desenvolveram o projeto acompanham a execução das obras. FRASE 11: É importante para as famílias acompanharem as fases das obras com as assessorias técnicas ou escritórios de arquitetura. FRASE 12: A associação de moradores ou movimento de moradia realiza reuniões e encontros com as famílias para ensinar como morar em condomínio e faz trabalho social no período das obras. FRASE 13: A partir da conquista da moradia digna a minha qualidade de vida melhorou. FRASE 14: A partir da conquista da moradia digna a minha autoestima melhorou em relação ao emprego e aos estudos. FRASE 15: A gestão condominial e a manutenção das áreas comuns são boas. PROCESSO PÓS-USO REALIZAR QUALIFICAR RELACIONAR INTEGRAR SATISFAZER FRASE 16: A associação de moradores ou movimento de moradia acompanham as famílias no pós morar. FRASE 17: As atividades do condomínio estão relacionadas à conscientização sobre direitos e deveres do cidadão. FRASE 18: Existem atividades com as crianças e adolescentes que são importantes para ajudar na educação. FRASE 19: O empreendimento é integrado ao entorno e ao bairro. FRASE 20: As relações de vizinhança são boas. FRASE 21: A localização do empreendimento é boa em relação: serviços, equipamentos públicos, emprego e estudos. FRASE 22: Estou satisfeito com o projeto do empreendimento geral. FRASE 23: Estou satisfeito com o meu apartamento. Ele é adequado às necessidades da minha família e estou feliz. FRASE 24: Como consegui conquistar a moradia digna da minha família, sinto a obrigação de ajudar outras famílias. Fonte: elaborado pela autora Débora Sanches, 2014. Concordo totalmente Não concordo e nem Concordo discordo em parte Frases afirmativas Discordo em parte Discordo Totalmente Quadro 5.5: Questionário com as fases / ações e as frases afirmativas para os moradores 213 Uma limitação fundamental desta etapa da pesquisa foi o universo de entrevistados, de um total de 3.734 unidades habitacionais, aproximadamente 10.007,12 moradores (considerando a família de 2,68 de pessoas por domicílio, nos distritos da área central13) durante os meses de outubro e novembro de 2014, foram aplicados o questionário para 90 moradores (8,99% do total). Em relação às respostas válidas, são consideradas apenas 66, respectivamente 6,59% do total, em função de problemas com a duplicidade nas respostas. Esta limitação se deu a partir das seguintes dificuldades: desconfiança dos moradores para responder o questionário, horário inadequado de visita em função de ser horário comercial, a falta de contato com os representantes para conseguir agendar as visitas, entre outros fatores. Para complementar e melhor aprofundar o estudo, diante das dificuldades elencadas acima, optou-se nessa pesquisa pelo estudo de 4 casos de habitação social, nos quais se aplicou outro questionário com os representantes dos empreendimentos. Tanto o modelo quanto os resultados serão apresentados no capítulo 6. 13 A partir dos dados do IBGE de 2010, encontra-se a média de 2,68 pessoas por domicílio nos distritos da área central: Barra Funda, Bela Vista, Bom Retiro, Cambuci, Consolação, Liberdade, República, Santa Cecília, Sé, Ipiranga, Belém, Brás, Mooca, Pari. A média do município de São Paulo é de 3,1 pessoas por domicílio. 214 5.2 Discussão dos Resultados 5.2.1 Os empreendimentos da área central O inventário dos empreendimentos de habitação social construídos na área central do município de São Paulo, no período entre 1990 e 2012, como já relatado, foi sistematizado nas fichas que se encontram no Apêndice 2. Tais fichas foram elaboradas a partir de dados secundários e complementadas com visitas de campo nos 38 empreendimentos de habitação social construídos no período 1990 a 2012. Quadro síntese O quadro 5.6, denominado síntese - projetos de habitação social implantados na área central de São Paulo no período de 1990 a 2012, com suas características a partir do inventário desenvolvido nas fichas dos 38 empreendimentos, apresenta o resumo dos resultados dos aspectos levantados e sistematizados, a saber: Programas e a fonte de recursos nas três esferas de governo (municipal, estadual e federal), localização (endereço e distrito), responsável pelo projeto (escritório de arquitetura convencional ou assessoria técnica), tipo de viabilização (construção nova ou Retrofit e a forma que destacam-se nas letras), a tipologia (quantidade de pavimentos), origem da demanda (na fase da mobilização), ano de início de mobilização (quando identificado), ano da conclusão da obra, número de unidades habitacionais e densidade líquida do empreendimento14. 14 Conforme Acioly e Davidson (1998), o conceito de densidade líquida é número total de habitantes dividida pela área de terreno destinada as unidades habitacionais, expressa em habitantes/hectare (hab/ha). Quadro 5.6: Síntese - projetos de habitação social implantados na área central de São Paulo no período de 1990 a 2012, com suas características a partir do inventário desenvolvido nas fichas dos 38 empreendimentos. PODER PÚBLICO No Empreendimento Endereço Distrito Programa e fonte de recurso 1 Rua Madre de Deus, 769 Mooca Av. Celso Garcia, 849 Belém 3 Mutirão Madre de Deus (b) Mutirão da Celso Garcia (b) Olarias (b) 4 Parque do Gato (d) Rua das Olárias, 505 Av. Castelo Branco, 5200 5 Imoroty (b) MUNICIPAL 2 ESTADUAL UH Densidade líquida Hab/ha 1995 45 1608 2001 182 900 ----- 2004 137 1142 favela ----- 2004 486 660 T + 2 pav Cortiço do local e região 1989 2004 8 661 Construção nova(b) T + 2 pav Cortiço do local 1989 2004 12 1088 Construção nova(b) Construção nova(b) T + 4 pav T + 6 pav Cortiço do local Cortiço do local 1983 1989 2004 2004 33 15 1153 1041 Construção nova(e) T + 3 pav Idosos 1999 2007 145 534 Retrofit(a) T + 5 pav Cortiço do local 2000 2007 22 2130 Projeto Assessoria Técnica Tipo de viabilização empreendimento Tipologia Origem da demanda Mobilização Conclusão da obra MUTIRÃO / FMH AÇAO DIRETA Construção nova(b) T+ 3 pav+cob Cortiço do local 1990 MUTIRÃO / FMH AÇAO DIRETA Construção nova(b) T+ 5pav Cortiço do local 1990 Pari LOCAÇÃO SOCIAL/FMH FABRICA URBANA Construção nova(b) T+11 pav variada Bom Retiro LOCAÇÃO SOCIAL/FMH PEABIRU Construção nova(d) T + 4 pav Ipiranga FMH PEABIRU Construção nova(b) BARBOSA & CORBUCCI 6 Pedro Fachini (b) Rua Pedro Fachini,303 Ipiranga FMH 7 8 Vilinha 25 de Janeiro (b) Eiras Garcia (b) Bom Retiro Cambuci FMH FMH LOCAÇÃO SOCIAL/FMH/PEHP S. Cecília LOCAÇÃO SOCIAL/FMH Sé LOCAÇÃO SOCIAL/FMH BARBOSA & CORBUCCI Retrofit(a) T + 5 pav movimentos ------- 2008 45 2388 República LOCAÇÃO SOCIAL/FMH/PEHP AUTOGRAFICS Retrofit(a) T + 12 pav movimentos 2000 2008 36 4270 República FMH PAULO BRUNA Retrofit(a) T + 15 pav + cob movimentos 2001 2008 120 6799 1286 28 70 2420 2800 9 Vila dos Idosos (e) 10 Baronesa Porto Carrero (a) Rua 25 de Janeiro, 319 Rua Eiras Garcia, 213 Av. Carlos de Campos, 840 Rua Bar. de Porto Carrero,169 11 Senador Feijó (a) Rua Senador Feijó, 126 12 Asdrúbal do Nascimento (a) 13 Riachuelo (a) Rua Asdrúbal do Nascimento, 282 Rua Riachuelo, 275 x Av. 23 de maio Pari 14 15 Santa Cecília A (b) Santa Cecília C (a) Rua Pirineus, 117 Rua Ana Cintra, 123 S. Cecília S. Cecília PAC/BID/CDHU PAC/BID/CDHU 16 Pari A1 e Pari A2 (c) Rua Canindé, 129 e 131 Pari PAC/BID/CDHU 17 Brás G1 e G2 (c) Rua Sampaio Moreira, 247 Bucolismo, 110 Brás PAC/BID/CDHU 18 Brás M (c) Brás PAC/BID/CDHU 19 Mooca B e C (c) 20 Cambuci A (c) Rua Martim Burchad, 254 Rua Dr. Fomm, 173 e 235 Rua Justo Azambuja, 181 INTEGRA INTEGRA VIGLIECA AMBIENTEA RQUITETURA Construção nova(b) Retrofit(a) T + 5 pav T + 11 pav Cortiço do local movimentos 1996 1997 Subtotal 2003 2006 Construção nova(c) T + 11 pav movimentos ----- 2002/2008 320 1627 CONSTRUTORA CROMA Construção nova(c) T+ 11 pav e T+ 14 pav Cortiços da região ----- 2004 200 1436 CDHU Construção nova(c) T + 11 pav Cortiços da região ------ 2006 66 1447 LUIZ CUTAIT Construção nova(c) T + 10 pav e T + 16 pav Cortiços da região ----- 2005 268 1481 AMBIENTE ARQUITETURA MARIO FRANÇA RUY OHTAKE e LEO BONFIM JR. & NELSON TIEZZA Mooca PAC/BID/CDHU Cambuci PAC/BID/CDHU CDHU Construção nova(c) T +11 pav Idosos 1998 2004 66 1104 Construção nova(b) T + 4 pav Cortiços da região ---- 2005 42 1201 Construção nova(b) T + 4 pav Cortiços da região ---- 2006 17 1168 Construção nova(b) T + 4 pav Cortiços da região ---- 2008 26 1355 Construção nova(b) T + 16 pav Cortiços da região ---- 2009 238 1485 Construção nova(e) T + 4 pav Cortiços da região ---- 2011 61 1535 Pari D (b) Rua Canindé, 306/320 Pari PAC/BID/CDHU PAULO FACCIO e PEDRO 22 Pari F (b) Rua Hannemann, 152/160 Pari PAC/BID/CDHU VD ARQUITETURA 23 Pari G (b) Rua Canindé, 503/509 Pari PAC/BID/CDHU 24 Mooca A (b) Rua Pires de campos, 33 Mooca PAC/BID/CDHU Bela Vista PAC/BID/CDHU Bela Vista PAC/BID/CDHU Belém PAC/BID/CDHU 21 25 Bela Vista A (b) 26 Bela Vista D (a) 27 Belém K (b) 28 Belém L (b) Rua Celso Garcia, 2224/2240 Belém PAC/BID/CDHU PAULO FACCIO e PEDRO PAULO FACCIO e PEDRO PAN DESIGN ARQUITET. AFLALO & GASPERINI LUIZ CUTAIT BATAGLIESI + DESIGNERS 29 Bom Retiro C (b) Rua Guilherme Maw, 219 Bom Retiro PAC/BID/CDHU Rua São Vicente, 248/258 Rua Conde de São Joaquim, 163/167 Av. Celso Garcia, 1634 30 Bom Retiro D (b) Rau Djalma Dutra, 228/250 Bom Retiro PAC/BID/CDHU 31 Pari E (b) Rua Madeira, 124/148 Pari PAC/BID/CDHU 32 33 FEDERAL Rua Imoroty, 157 Projeto Escritório de arquitetura 34 Maria Paula (a) Labor Brigadeiro Tobias (a) Fernão Sales (a) 35 Riskallah Jorge (a) 36 37 38 Olga Benário Prestes (a) Joaquim Carlos (a) Hotel São Paulo (a) Rua Maria Paula, 161 Rua Brigadeiro Tobias, 87 Rua Fernão Sales, 24 esq. Rua 25 de março Rua Riskallah Jorge, 50 – Santa Ifigênia Av. Celso Garcia,787 Rua Joaquim Carlos, 76 Praça das Bandeiras,15 Retrofit(a) T + 7 e 11 pav Cortiços da região ---- 2011 59 4273 Construção nova(b) T + 4 pav Cortiços da região ---- 2012 53 1034 Construção nova(b) T + 4 pav Cortiços da região ---- 2011 38 1339 LEO TOMCHINSKY Construção nova(b) T + 4 pav Cortiços da região ---- 2012 73 1304 BENNO PERELMUTTER Construção nova(b) T + 4 pav Cortiços da região ---- 2012 63 1234 Construção nova(b) T + 4 pav Cortiços da região ---- 2012 51 1229 1739 75 4020 ACG ARQUITETURA República CAIXA/PAR REFORMA FABRICA URBANA Retrofit(a) T + 12 pav movimento 1997 Subtotal 2004 República CAIXA/PAR REFORMA INTEGRA Retrofit(a) T + 9 pav movimento 1999 2005 84 2054 Sé CAIXA/PAR REFORMA HELENA SAIA Retrofit(a) T + 5 pav + cob movimento 1999 2001 54 1208 República CAIXA/PAR REFORMA HELENA SAIA Retrofit(a) T + 17 pav movimento 1999 2003 167 8640 Belém Belém Sé CAIXA/PAR REFORMA CAIXA/PAR REFORMA CAIXA/PAR REFORMA Retrofit(a) Retrofit(a) Retrofit(a) T + 5 pav T + 9 pav T + 21 pav movimento movimento movimento 1999 1999 1999 2002 2006 2007 Subtotal Total 84 93 152 709 3734 2738 2223 6026 média 2125 INTEGRA INTEGRA FABRICA URBANA Fonte: elaborado por Débora Sanches, 2014 As letras no tipo de viabilização empreendimento significam: a) prédios que passaram por retrofit e são condomínios de HIS; b) cortiços que foram demolidos e no mesmo local existe construção nova de HIS; c) condomínios que foram edificados com prédios de muitos pavimentos e são isolados no lote com grande número de habitantes; d) condomínios que foram edificados com prédios em terrenos vazios próximos a área de favelas; e) condomínios que foram edificados com prédios em terrenos vazios. 216 Mapa com os empreendimentos O mapa corrobora no entendimento da localização dos empreendimentos e contribui para a análise dos resultados. O mapa 5.1 contém a localização dos 38 empreendimentos de habitação social da área central de São Paulo no período 1990 a 2012. Destacam-se os distritos centrais e as áreas delimitadas de ZEIS (Zonas Especiais de Interesse Social) definidas pelo Plano Diretor Estratégico de 2002 (LEI 13.430). 218 5.2.2 Análise dos resultados No sentido de visualizar o resultado do processo geral do quadro 5.6 e do mapa 5.1 com os diferentes aspectos da habitação social para a área central de São Paulo, apresentam-se as análises a seguir: O quadro 5.7 a seguir organiza o total de empreendimentos e o número de unidades habitacionais, separado pela esfera de governo responsável pelo recurso financeiro. Quadro 5.7: Quantidade de unidades habitacionais na área central de São Paulo no período de 1990 a 2012, separados por poder público. Poder público Total de Número de empreendimentos unidades habitacionais Municipal 13 1.286 Estadual 18 1.739 Federal 07 709 Total 38 3.734 Fonte: SANCHES (2008) PMSP, CDHU e CAIXA, 2014 Observa-se que do total de 38 empreendimentos, 13 foram construídos a partir dos programas e recursos municipais, representando 34,21% do total, 18 pela esfera estadual com 47,36% do total e somente 07 com recursos do governo federal representando 18,43% do total. Importante ressaltar que mesmo os empreendimentos construídos com os recursos federais foram viabilizados com apoio do governo municipal no período de 2000 a 2007. 219 Quadro 5.8: Programas e fonte de recursos dos empreendimentos de habitação social da área central de São Paulo - 1990 a 2012 PODER PROGRAMA FONTE DE RECURSO DETALHAMENTO PÚBLICO Programa de Fundo Municipal de Produção de Habitação por Habitações Habitação (FMH) Mutirão e Autogestão Populares da FUNAPS (Fundo de Região Central de Atendimento à População São Paulo Moradora em Habitação (1989 a 1992) Subnormal). Municipal Programa Morar Fundo Municipal de Dividido em duas no Centro Habitação (FMH) modalidades de produção: (2001 a 2004) - Locação Social: Programa para famílias de até três salários mínimos, para locação em habitação social de propriedade pública. - Programa de atuação em cortiços 1 com financiamento para aquisição. Programa de Parceria entre a Programa para melhorar Atuação em (CDHU) e o Banco as condições habitacionais Estadual Cortiços (PAC) da Interamericano de das famílias que moram Companhia de Desenvolvimento em cortiços. Companhia de (BID) Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU) PAC/BID (2002 a 2010) Programa de Fundo de Programa criado para Arrendamento Arrendamento construção nova e foi Federal Residencial Residencial (FAR) adaptado para realizar reforma (PAR reformas/retrofit para o Reforma) 2 uso de habitação social em (1999 a 2008) imóveis vazios. Fonte: SANCHES (2008) PMSP, CDHU e CAIXA, 2014 Verificam-se no quadro 5.8 os programas e as fontes de recursos para a construção dos empreendimentos de habitação social da área central. São viabilização a partir da gestão municipal de 1989, com o 1 Projetos que foram retomados do Programa de Habitações Populares da Região Central de São Paulo (1989 a 1992). 2 Governo Federal é o gestor do programa, a Caixa Econômica Federal é o executor pela operacionalização. Atualmente, o programa Crédito Solidário e Minha Casa, Minha Vida substituem o programa PAR, desde 2008. 220 Programa de Habitações Populares da Região Central de São Paulo, com curto prazo de duração até 1992, mas foi fundamental para despertar o problema do cortiço e deu início a uma futura política de atuação em cortiços3. Na sequência, ainda na gestão municipal (2001 a 2004), o Programa Morar no Centro implementou o Programa de Locação Social para famílias que ganham até três salários mínimos, para locação em habitação social de propriedade pública, e resgatou o programa de atuação em cortiços com financiamento para aquisição. Observa-se que nesta gestão houve articulação entre os diferentes níveis de governo (municipal, estadual e federal) para a viabilização de empreendimentos de habitação social, com os programas PAC/BID do governo do estado e o PAR Reforma do governo federal4. Os movimentos sociais de moradia são atores importantes desta articulação. Conforme Barbosa (2014), no Programa PAR Reforma do governo federal havia uma articulação para que a prefeitura proporcionasse contrapartida ao programa e aos beneficiários finais que eram indicados pelos movimentos de moradia do centro. Neste sentido, da mesma forma a relação com o Programa PAC/BID do governo do Estado e do Município significou articulação com grande parte das famílias cadastradas pela prefeitura de moradoras de cortiços que foram encaminhadas para o programa PAC/BID. Nota-se que a partir desta articulação entre os três níveis de governo, a construção de habitação social concretizou-se de forma mais efetiva entre 1990 e 2012. Importante destacar que a mobilização dos diversos atores da Reforma Urbana e dos movimentos de moradia do 3 Nesta gestão, implementa-se a Lei Moura 10.928/ 1991, que conceitua o cortiço e apresenta parâmetros mínimos de habitabilidade. Os movimentos do centro influenciaram na construção da Lei a partir de sua experiência com os problemas nos cortiços. 4 A autora trabalhou na SEHAB (2002 a 2004) e fez parte deste processo. 222 - Pari: 7 empreendimentos, sendo 2 municipais (3 – Olárias e 9 – Vila dos Idosos) e 5 estaduais (16 – Pari A1 e A2, 21 – Pari D, 22 – Pari F, 23 – Pari G e 31 - Pari E). - Bom Retiro: 4 empreendimentos, sendo 2 municipais (4 – Parque do Gato e 7- Vilinha 25 de janeiro) e 2 estaduais (29 – Bom Retiro C e Bom Retiro D). - Ipiranga: 2 empreendimentos municipais (5 – Imoroty e 6 – Pedro Fachini). - Santa Cecília: 3 empreendimentos, distribuídos 1 no municipal (10 – Baronesa de Porto Carrero) e 2 estaduais (14 – Santa Cecília A e 15 – Santa Cecília C). - Sé: 3 empreendimentos, 1 municipal (11 – Senador Feijó) e 2 federais (34 – Fernão Sales e 38 – Hotel São Paulo). - República: 5 empreendimentos, 2 municipal (12 – Asdrúbal do Nascimento e 13 – Riachuelo) e 3 federal (32 – Maria Paula, 33 – Labor Brigadeiro Tobias e 35 – Riskallah Jorge). - Brás: 2 empreendimentos, 2 estaduais (17- Brás G1/G2 e 18 – Brás M). - Cambuci: 2 empreendimentos, 1 municipal (8 – Eiras Garcia) e 1 estadual (20 – Cambuci A). - Bela Vista: 2 empreendimentos do estado (25 – Bela Vista A e 26 – Bela Vista D). Nota-se que o Pari é o distrito que apresenta o maior número de empreendimentos, 7 no total. Nesse distrito e no Bom Retiro, com 4 empreendimentos, a concentração das tipologias de origem são de cortiços que foram demolidos e no mesmo local existe construção nova de habitação social. Percebe-se também que há concentração de edifícios que 223 passaram por retrofit que estão localizados nos distritos República, Sé e Belém. A partir do mapa 5.1, nota-se a visualização de 21 dos empreendimentos, representado 55,26% do total, localizados dentro da área de ZEIS definidas no Plano Diretor Estratégico de 2002 (LEI 13.430) e muito próximas ao seu perímetro, destaca-se que são os empreendimentos construídos de 1995 até 2012, conforme o gráfico 5.2. Gráfico 5.2: Localização dos empreendimentos nos distritos da área central em área de ZEIS habitação social em área de ZEIS 5 5 4 2 2 1 distrito Mooca Belém Bom S. Cecília Retiro 1 Brás 1 Bela Vista Pari Cambuci Fonte: elaborado pela autora Débora Sanches, 2014. Os distritos Belém e Pari apresentam 5 empreendimentos cada, seguidos do Bom Retiro com 4, depois Mooca e Bela Vista com 2, Santa Cecília, Brás e Cambuci com 1, respectivamente. A partir desta verificação, pode-se relacionar com a participação dos movimentos de moradia do centro na discussão e na elaboração do Plano Diretor de 2002, principalmente na demarcação das áreas de ZEIS 36 de 2002, que contou com apoio técnico através das assessorias técnicas, para mapear as 6 Terrenos ou imóveis subutilizados em áreas dotados de infraestrutura urbana, serviços e Oferta de emprego, nos quais se propõe a produção e reforma de moradias para a habitação de interesse social. 227 Na continuidade das análises, o gráfico 5.6 e o quadro 5.9 demonstram a cronologia de conclusão de obra de todos empreendimentos com os diferentes programas para a habitação social na área central. Gráfico 5.6: Cronologia de conclusão da obra de habitação social da área central. cronologia de conclusão de obra total 2012 2011 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 1995 0 1995 quantidade 1 5 2001 2 10 2002 2 2003 2 15 2004 9 20 2005 3 2006 4 Fonte: elaborado pela autora Débora Sanches, 2014. 25 2007 3 30 2008 4 2009 1 35 2011 3 40 2012 4 total 38 228 Quadro 5.9: Cronologia de conclusão de obra dos empreendimentos da área central 1995 1.Madre de Deus -II 2001 2.Celso 34.Fern Garcia ão II Sales I 2002 14.Sant 16. Pari a A- I Cecilia A- II 2003 14.Sant 35. a Risk. Cecilia Jorge- I A- II 2004 3. OlariasII 4. 5. 6. Parque Imoroty Pedro do -II Fachini Gato- II -I 2005 19. Mooca B e C- I 21. Pari D- I 2006 15. Santa Cecília C- I 18. 22. Pari Brás MF- I I 8. Eiras 17. 20. Garcia - Brás G1 Cambuc II eG2 - I i A -I 32. Maria Paula II 33. Brig. TobiasII 2007 9. Vila 10. Bar. dos Porto Idosos - Carrero I - II 2008 11. 12.Asdr 13.Riac Senado úbal do huelo- I r Feijó - Nascim I ento- I 2009 7. Vilinha 25 de Janeiro - II 37. Joaqu. CarlosII 38. Hotel São PauloII 23.Pari G-I 24 Mooca A-I 2011 25. Bela 26.Bela 28.Belé Vista A- Vista D- m L- I I I 2012 27.Belé m K- I 29.Bom Retiro C- I 30.Bom Retiro D- I 31.Pari E- I Fonte: elaborado pela autora Débora Sanches, 2014. Observação: no quadro 5.9 o número antes do nome do empreendimento corresponde ao número da ficha localizada no Apêndice 2 desta pesquisa, (I) depois do nome do empreendimento, corresponde a projeto realizado por escritório convencional de arquitetura e (II) a projetos realizados de forma participativa, através das assessorias técnicas. Em vermelho estão os 229 empreendimentos construídos dentro do perímetros de ZEIS ou muito próximos dos perímetros, conforme o mapa 5.1. O gráfico 5.6 e o quadro 5.9 apresentam a cronologia de conclusão de obra dos empreendimentos de habitação social da área central, destaca-se: a primeira obra concluída em 1995 foi o mutirão Madre de Deus, a partir do Programa de Habitações Populares da Região Central de São Paulo (1989 a 1992), cuja mobilização iniciou-se em 1990. Ressalta-se que ainda no mesmo programa, depois de 11 anos de mobilização, o mutirão da Celso Garcia teve sua obra concluída em 2001, com a retomada das obras de mutirão9, até então paralisadas. Os dois projetos foram desenvolvidos de forma participativa com a Assessoria Técnica Ação Direta. Vale destacar, como apresentado no capítulo 4, que em 1997 os movimentos de moradia realizaram ocupações em imóveis vazios na área central para pressionar o poder público por políticas e programas para habitação na área central. Cujos reflexos verificam-se a seguir: Em 2001 é concluída a primeira obra pelo PAR Reforma o Fernão Sales realizado por escritório convencional de arquitetura10. Na sequência em 2002 é concluída a obra do Olga Benário Prestes, também pelo PAR Reforma com assessoria técnica, e o Pari A com escritório convencional de arquiteta, sendo a primeira obra concluída pelo PAC/BID. Em 2003, o Santa Cecília A é concluído pelo PAC/BID, cuja mobilização se deu desde 1996 com a assessoria técnica. No mesmo ano, conclui-se o Riskallah Jorge pelo PAR Reforma, através de escritório convencional de arquitetura. 9 Vale lembrar que houve interrupção de todos os mutirões na cidade de São Paulo entre 1992 a 2000 em função da política adotada naquele momento. 10 A arquiteta Helena Saia, que participou na gestão (1989 a 1992), trabalhou como assessoria técnica nos projetos de mutirão. 230 Em 2004 são concluídas 9 obras de habitação social pelos três principais programas: - Programa Morar no Centro: Olárias e Parque do Gato, desenvolvidos por assessorias técnicas com o programa de locação social, Imoroty, Vilinha 25 de Janeiro, Eiras Garcia (assessoria técnica) e Pedro Fachini (escritório convencional de arquitetura) são projetos e obras retomados que estavam paralisados desde 1989, financiados pelos FMH. - PAC/BID: Brás G1 e G2 e Cambuci A desenvolvidos por escritório convencional de arquitetura. - PAR Reforma: Maria Paula com assessoria técnica, cuja mobilização tem início em 1987. Nota-se que a quantidade de obras concluídas de habitação social em 2004 é fruto da articulação entre os governos municipal, estadual e federal e seus respectivos programas. Na continuidade, em 2005 concluem-se Mooca B e C e Pari D (escritório convencional de arquitetura) através do PAC/BID e o Brigadeiro Tobias (assessoria técnica) com o Par Reforma cuja mobilização iniciou-se desde 1999. Em 2006, as obras do Santa Cecília C, Brás M e Pari F (escritório convencional de arquitetura) são finalizadas a partir do PAC/BID e Joaquim Carlos (assessoria técnica) pelo PAR Reforma, com mobilização desde 1999. No ano de 2007 são finalizadas as obras da Vila dos Idosos (escritório convencional de arquitetura) e Baronesa de Porto Carrero (assessoria técnica) a partir de locação social. No mesmo ano, conclui-se o Hotel São Paulo (assessoria técnica) pelo PAR Reforma, todos iniciados em 2004. Em 2008 concluem-se as obras de locação social do Senador Feijó e Asdrúbal do Nascimento. O Riachuelo, financiado pelo FMH, foi iniciado em 236 Municipal: 4 empreendimentos passaram por retrofit e são condomínios de HIS, representando 10,54% do total. 7 cortiços que foram demolidos e no mesmo local existe construção nova de HIS, com 18,42% do total. 1 condomínio que foi edificado com prédio em terreno vazio próximo a área de favela, 2,63% do total e 1 condomínio que foi edificado com prédio sem elevador em terrenos vazio, com 2,63% do total. Estadual: 2 empreendimentos passaram por retrofit, 5,26% do total e são condomínios de HIS. 10 cortiços que foram demolidos e no mesmo local existe construção nova de HIS, com 26,32% do total. 5 condomínios que foram edificados com prédios de muitos pavimentos e são isolados no lote com grande número de habitantes, com 13,15% do total e 1 condomínio que foi edificado com prédio em terreno vazio sem elevador, 2,63%. Federal: 7 prédios que passaram por retrofit e são condomínios de HIS, representando 18,43% do total. Verifica-se que a maioria do tipo de viabilização é aquela em que existia o cortiço no local de origem e foi demolido e no mesmo local foi construído o empreendimento com a construção nova tipo (B), totalizando 17 empreendimentos, que representam 44,74% do total. Seguido com 13 (34, 22%) do tipo (A) prédios que passaram por retrofit e é condomínio de habitação social, depois com 5 (13,15%) do tipo (C) com condomínio que foi edificado com prédio de muitos pavimentos e isolado no lote com grande número de habitantes. Na sequência, 2 (5,26%) do tipo (E) condomínios que foram edificados com prédios em terreno vazio sem uso do elevador e apenas 1 (2,63%) condomínio que foi edificado com prédio em terreno vazio próximo a área de favela, conforme o gráfico 5.11 a seguir: 237 Gráfico 5.12: Tipo de origem e a porcentagem de viabilização Tipo de origem de viabilização 3% 5% 13% 34% tipo de viabilização A tipo de viabilização B tipo de viabilização C tipo de viabilização D 45% tipo de viabilização E Fonte: elaborado pela autora Débora Sanches, 2014. Conforme Acioly e Davidson (1998), o conceito de densidade demográfica líquida é número total de habitantes dividida pela área de terreno destinada ao uso residencial, expressa em habitantes/hectare (hab/ha). Neste sentido, considera-se a média de 2,68 moradores por domicílio nos distritos da área central de São Paulo, conforme dados do IBGE de 2010. Dessa forma, a partir das informações das fichas de cada empreendimento, calcula-se a densidade líquida que se apresenta na síntese das informações no quadro 5.8. O gráfico 5.13 demonstra a média de densidade líquida dos empreendimentos nas diferentes esferas de poder público. 238 Gráfico 5.13: Média da densidade líquida dos empreendimentos por poder público densidade líquida média hab/ha 4500 4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 0 média hab/ha Municipal Estadual Federal 1875 1638 3844 Fonte: elaborado pela autora Débora Sanches, 2014. Constata-se que a média da densidade líquida é menor na esfera estadual com 1638 hab/ha, seguidos de 1875 hab/ha na esfera municipal e na federal aumenta para 3844 hab/ha. A seguir o gráfico 5.14 destaca a média da densidade demográfica líquida pelo tipo de origem de viabilização de empreendimento. Gráfico 5.14: Média de densidade demográfica líquida pelo tipo de origem de viabilização de empreendimento. média de densidade líquida 4500 4000 média densidade 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 0 média de densidade líquida Retrofit A Construçã o nova - B Construçã o nova - C Construçã o nova - E Construçã o nova - D 3813 1270 1420 1037 661 Fonte: elaborado pela autora Débora Sanches, 2014. 239 A média da densidade líquida a partir da viabilização de habitação social através de Retrofit é de 3813 hab/ha, que representa uma alta densidade líquida. Destaque-se que a maioria dos imóveis foi construída nas décadas de 1950 e 1960, cujo coeficiente de aproveitamento era de 6 para uso comercial11 e foram reformados para a mudança de uso para habitação social. Na sequência, o tipo de viabilização de empreendimento para construção nova – C, os condomínios que foram edificados com prédios de muitos pavimentos e são isolados no lote com grande número de habitantes e uso de elevador, é desenvolvido pelo PAC/BID com a densidade média de 1420hab/ha. Importante ressaltar que este tipo de construção foi desenvolvido nos primeiros projetos do PAC/BID, sendo praticamente descartado (exceto o Mooca A) em função dos sérios problemas de gestão condominial que esse tipo de tipologia causa por diversos fatores12. A tipologia B de origem com os cortiços que foram demolidos e no mesmo local existe construção nova tem a densidade média líquida de 1270 hab/ha e E condomínios que foram edificados com prédios em terreno vazio sem uso de elevador, a média da densidade média líquida é 1037 hab/ha e são semelhantes. O tipo D condomínios que foram edificados com prédios em terreno vazio próximo a área de favela já apresenta a densidade média líquida de 661 hab/ha. Conforme já visto no capítulo 4, retoma-se a importância do adensamento populacional dos centros urbanos para a conquista de uma cidade mais justa e igualitária, pelo acesso a mobilidade, serviços, empregos, estudos, através dos princípios da função social da propriedade nas áreas dotadas de infraestrutura. Percebe-se que esses projetos, apesar de serem pontuais e dentro dos lotes, vão ao encontro dos 11 12 Ver Somekh, 1997. Ver Sanches, 2008. 240 princípios da cidade compacta e densa. Segundo Acioly e Davidson (1998), as cidades devem desenvolver processos que induzem a densificação para uma gestão urbana sistemática e equilibrada. Porém, os projetos até aqui apresentados são objetos de políticas públicas pontuais, não fazendo parte de um planejamento maior ou de um desenho urbano com estudos integrados aos sistemas de abastecimento de água, esgoto, energia, transporte, etc. São questões importantes para serem estudas em futuras pesquisas. 5.2.3 Avaliação geral dos empreendimentos quanto o envolvimento na participação do processo inicial e pós-uso da moradia digna. Em seguida à fase do inventário, como já se apresentou no método de trabalho, foram aplicados questionários com os moradores dos diversos empreendimentos, buscando verificar o grau de envolvimento e apropriação em duas fases: processo inicial e processo pós-uso. No entanto, o universo de retorno dos questionários foi bastante reduzido: de um total de 3.734 unidades habitacionais e 10.007,12 moradores (considera-se a média de 2,68 moradores por domicílio nos distritos da área central de São Paulo, conforme dados do IBGE de 2010), apenas 66 questionários foram validados13. Observa-se na tabela 1 o conjunto de questionários válidos com os respectivos empreendimentos e destaca-se a forma que foi desenvolvido o projeto, ou seja, com a participação dos usuários, marcados com (*), ou sem a participação dos usuários. 13 A maior parte dos questionários foi aplicada através de entrevistas com os moradores, porém alguns questionários foram deixados com representantes dos empreendimentos e posteriormente, após uma semana foram recolhidos. Com isso dos 90 aplicados, são validados apenas 66 em função de duplicidade nas respostas. 241 Tabela 5.1: Conjunto de retorno das entrevistas aplicado nos empreendimentos visitados PODER PÚBLICO Empreendimento Número de retorno dos questionários MUNICIPAL ESTADUAL FEDERAL Mutirão Madre de Deus* Mutirão da Celso Garcia* Olarias* Parque do Gato* Pedro Fachini* Vilinha 25 de Janeiro* Vila dos Idosos Riachuelo Santa Cecília A – Pirineus* Pari A1 e Pari A2 (c) Brás G1 e G2 Mooca B e C Pari F Pari G Bela Vista D Bom Retiro C Bom Retiro D Pari E Olga Benário Prestes* Hotel São Paulo* 5 7 6 1 1 1 1 1 7 3 1 1 1 1 3 6 12 6 1 1 66 TOTAL GERAL Fonte: elaborado pela autora Débora Sanches, 2014. Na tabela 1, os projetos desenvolvidos de forma participativa, através das assessorias técnicas, marcados com o (*) tiveram retorno válidos de 30 questionários. Já os realizados por escritórios convencionais o retorno válido foi de 34 questionários. Cabe ressaltar que os retornos das respostas dos moradores contribuíram para aproximar o primeiro olhar para a escolha dos estudos de caso, a serem aprofundados no capítulo 6. Após a aplicação dos questionários, organizou-se a análise a partir da estatística descritiva. Os dados foram organizados em gráficos para facilitar a visualização dos conceitos elaborados, e os resultados classificados nos níveis definidos pelo questionário: discordo totalmente, discordo em parte, não concordo e nem discordo, concordo em parte ou concordo totalmente em porcentagem, conforme o quadro 5.5. 242 Do conjunto de questionários validados, 66, as respostas apresentam de forma detalhada o grau de concordância dos moradores, a partir das frases afirmativas em relação ao processo inicial da efetivação da moradia digna e seu pós-uso. São mensuradas em tabelas e gráficos e estão localizadas no Apêndice 3 desta pesquisa. Nesse capítulo, apresentam-se os resultados com o grau de concordância face às respostas, que pode ser resumido somando as respostas discordo totalmente, discordo em parte e por outro lado, somase concordo em parte ou concordo totalmente. A seguir, a avaliação geral com os resultados que são apresentados nos gráficos, respectivamente, processo da efetivação da moradia digna e processo do pós-uso. Quanto ao PROCESSO INICIAL, as ações são mobilizar, viabilizar, projetar, construir e morar, conforme apresentado no quadro 5.3. e o questionário no quadro 5.5. Mobilizar: FRASE 1: A ação de mobilização entre os moradores quando ainda moravam de forma precária é importante para juntos conquistar a moradia digna. FRASE 2: Fazer parte de uma associação de moradores ou movimento de moradia é fundamental para a conscientização dos meus direitos e deveres como cidadão. FRASE 3: O aprendizado na convivência com as famílias anterior é refletido no futuro empreendimento na organização do condomínio O gráfico 5.15 apresenta os resultados - ação Mobilizar: 248 Na ação Morar / Habitar, a conquista da moradia digna melhorou a qualidade de vida, 92,42% concorda, 6,06% é indiferente, 1,52% discorda Por outro lado, é interessante notar que em relação a autoestima e melhora em relação ao emprego e estudos, 83,33% expressa concordância, 9,09% é indiferente e 7,58% discorda. Em relação a gestão condominial e manutenção das áreas comuns, 77,27% concordam que são boas, 3,03% é indiferente e 19,70% discorda. Quanto ao Processo Pós-uso as ações são qualificar/realizar, relacionar/integrar e satisfazer. Qualificar/Realizar: FRASE 16: A associação de moradores ou movimento de moradia acompanham as famílias no pós morar. FRASE 17: As atividades do condomínio estão relacionadas à conscientização sobre direitos e deveres do cidadão. FRASE 18: Existem atividades com as crianças e adolescentes que são importantes para ajudar na educação. O gráfico 5.20 apresenta os resultados - ação Qualificar: 252 253 Capítulo 6. Estudos de caso O capítulo tem como objetivo aprofundar o entendimento do processo de viabilização de projeto, realizado de forma participativa e o grau de envolvimento dos moradores e a sua apropriação, nas diversas fases que envolvem o processo, a partir da primeira aproximação com os empreendimentos que foram apresentados no capítulo 5. Para tanto, o capítulo subdivide-se em 5 itens: no primeiro apresenta-se o método da escolha dos estudos de caso e o modelo de questionário aplicado com os representantes dos empreendimentos escolhidos para o estudo. Em seguida, apresenta-se a caracterização dos empreendimentos e o resultado das visitas e entrevistas, realizadas com os representantes dos empreendimentos. Posteriormente, são mostrados os resultados da avaliação quanto à apropriação dos moradores na participação do processo inicial e pós-uso da moradia digna, conforme o método apresentado no capítulo 05, dos quatro estudos de caso: Mutirão Celso Garcia, Santa Cecília A, Bom Retiro C e Pari E. Os resultados gerais de cada fase e ação. 254 6.1 O método da escolha dos estudos de caso Segundo Yin (2001), um estudo de caso demanda procedimentos metodológicos e permite um aprofundamento em relação ao fato estudado, favorecendo uma visão abrangente sobre o objeto de estudo, através da investigação empírica. Baseia-se no desenvolvimento prévio de hipóteses teóricas para conduzir a coleta e, posteriormente, a análise de dados. A utilização do estudo de caso é adequada quando se almeja investigar o como e o porquê de um conjunto de eventos. Para o autor existem dois tipos de estudos de caso: exploratórios: modelo de estudo de caso que permite elencar elementos para diagnosticar um caso com aspectos universais, no qual não é claro o conjunto de resultados. É aplicado em pesquisas com poucas referências bibliográficas e pesquisas anteriores. descritivos: descrição de fenômenos recentes dentro de sua situação real. O autor destaca que o estudo de caso vai além da coleta de dados. Baseia-se em uma estratégia de pesquisa abrangente, com várias fontes de evidências em relação ao fenômeno, cujas fontes de dados devem ser: documentais: deve fazer parte do plano de coleta de dados, cujo material deverá ser analisado para corroborar evidências e adicionar informações. Porém, para o autor nem sempre os documentos retratam a realidade e podem fornecer pistas sobre outras informações. entrevistas: estabelecem a principal fonte de evidências de um estudo de caso. Sendo um relato verbal, recomenda-se, se possível, 255 gravar. São três tipos: aberta - para extrair ideias, fatos, focada pré-formuladas para conduzir a entrevista e estruturada - formuladas com respostas fechadas. Recomenda-se para o estudo de caso uma cadeia de provas que possibilite a percepção da evidência capaz de validar o estudo, para o leitor perceber desde o caminho da pesquisa até as conclusões finais. Vale destacar que no capítulo 5 foi apresentada a elaboração do método de avaliação para habitação social, para verificar o envolvimento e a apropriação dos moradores no processo de projeto, desde a fase inicial até o pós-uso. Apesar de os resultados da avaliação geral dos empreendimentos (apresentados no capítulo 05) não serem suficientes para demonstração do que se pretende com esta Tese, a etapa consistiu em uma primeira aproximação que permitiu a escolha dos casos a serem avaliados com maior profundidade. empreendimentos Para comprovar a Tese, foram selecionados quatro como estudos de caso: dois com processos participativos de projetos (realizados por assessorias técnicas) e dois empreendimentos sem processo participativo de projeto (realizados por escritórios de arquitetura convencionais). Ainda segundo Yin (2001), a escolha dos casos deve seguir uma lógica e ser cuidadosa com critérios claros. Neste sentido, a seleção dos casos se deu inicialmente em função da quantidade de respostas válidas na primeira abordagem (capítulo 5) e, principalmente, porque são projetos que reúnem as seguintes características: semelhanças: - origem da demanda: moradores de cortiços, - tipo de viabilização: cortiços que foram demolidos e no mesmo local foi construído um novo empreendimento de habitação social, - tipologia arquitetônica: edifício com até 6 pavimentos, 256 diferenças: - processo de projeto: 2 empreendimentos foram realizados através de escritório convencional de arquitetura, sem processo participativo de projeto e 2 empreendimentos por assessoria técnica, realizados com processo participativo de projeto. Os estudos de caso selecionados são sintetizados no quadro 6.1, a seguir: Quadro 6.1: Empreendimentos escolhidos como Estudo de Caso Número da ficha do inventário do Empreendimento Autoria de Projeto Apêndice 2 MUTIRÃO CELSO GARCIA 02 Assessoria técnica Ação Direta Assessoria técnica Ambiente Arquitetura Escritório convencional – arq. Leo 29 BOM RETIRO C Tomchinsky Escritório convencional – ACG 31 PARI E Arquitetura Fonte: elaborado pela autora Débora Sanches, 2014 14 SANTA CECÍLIA A Conforme explicitado anteriormente, para complementar e melhor aprofundar a pesquisa optou-se nesta pesquisa pelo estudo de quatro casos de habitação social, em que foram entrevistados os representantes dos empreendimentos, responsáveis pela condução da gestão condominial. O método das visitas e entrevistas organiza-se conforme indica Yin (2001), que ressalta que a aplicação de um questionário formulado deve orientar o relato verbal dos entrevistados e possuir questões abertas, focadas e estruturadas. Desta forma, o modelo de questionário abrange dados gerais, e perguntas – aberta, focada e estruturada - que seguem um roteiro que busca identificar o método de processo de projeto que esta pesquisa desenvolveu para avaliar as fases e ações de cada etapa na viabilização da habitação social elaborada de forma participativa, tanto no processo inicial como questionário. no pós-uso. O quadro 6.2 apresenta o modelo do 257 Quadro 6.2: Questionário para os representantes dos empreendimentos Nome do empreendimento: Caracterização da população Chefes de família gênero Idade média renda familiar media? Data da entrevista: > 6 sm 5068,00 trabalho formal – carteira sim assinada? escolaridade? superior número de moradores no apartamento? <3 onde morava antes? aluguel Região? Pagamento do apartamento? sim Pagamento do condomínio está em dia? sim Obs. Salário mínimo 2014 – 724,00 FASES E AÇÕES MOBILIZAR VIABILIZAR PROJETAR CONSTRUIR MORAR / HABITAR FASES E AÇÕES REALIZAR / QUALIFICAR Representante do condomínio: homem mulher 3 a 6 sm 2896 5068 não 0 a 3 sm 2896,00 médio fundam 4a7 cortiço >7 ocupação não Valor? não Valor? Desempr PROCESSO INICIAL A maioria das famílias se mobilizou para a conquista da moradia digna? Houve apoio de movimento de moradia para a mobilização? Houve apoio técnico para a mobilização? O aprendizado na convivência com as famílias anterior é refletido no futuro empreendimento na organização do condomínio? As famílias participaram do processo dos estudos iniciais do projeto? Houve apoio técnico, fora o poder público nesta fase? Nas reuniões com o poder público o apoio técnico das assessorias técnicas é fundamental para ajudar na realização do empreendimento? O projeto final foi realizado de forma participativa com as famílias? A linguagem do projeto era de fácil compressão? Nas reuniões com o poder público as lideranças da associação de moradores ou movimento de moradia representam os desejos das famílias? Houve apoio técnico de quem desenvolveu o projeto na execução das obras? No período da obra foram ensinadas as famílias como morar em condomínio? Houve trabalho social? Quem fez? A partir da conquista da moradia digna a qualidade de vida melhorou? A partir da conquista da moradia digna a autoestima melhorou em relação ao emprego e aos estudos? A gestão condominial e a manutenção das áreas comuns são boas? PROCESSO PÓS-USO A associação de moradores ou movimento de moradia acompanham as famílias no pós morar? Existem atividades no condomínio? Existe centro comunitário para as reuniões? As atividades do condomínio estão relacionadas à conscientização sobre direitos e deveres do cidadão? Existem atividades com as crianças e adolescentes que são importantes para ajudar na educação? O empreendimento é integrado ao entorno e ao bairro? RELACIONAR/INTEGRAR As relações de vizinhanças são boas? A localização do empreendimento é boa em relação aos serviços e equipamentos públicos? A localização do empreendimento é boa em relação ao emprego e estudos? Utilizam os equipamentos de cultura e lazer do entorno? SATISFAZER As famílias estão satisfeitas com o projeto do empreendimento em geral? As famílias estão satisfeitas com o projeto do apartamento? é adequado as necessidades das famílias? Na conquista do direito a moradia digna, as famílias ajudam outras famílias?. Houve rotatividade dos moradores originais? Porquê? O que é projeto participativo? O que é moradia digna? O que é o direito à cidade? Fonte: elaborado pela autora Débora Sanches, 2014. 258 Yin (2001) recomenda que os resultados dos estudos de caso deve ter uma estrutura de redação analítica e linear, a partir do problema, da revisão bibliográfica e da metodologia (apresentadas no capítulo 5). No segundo momento a redação passa a expor os dados coletados e análise final com conclusões e suas implicações. Desta forma, o autor recomenda que a leitura dos resultados deve ser clara e objetiva. Buscando seguir tais recomendações, os resultados da caracterização dos empreendimentos com as visitas e entrevistas estão no item 6.1.2. Os resultados da avaliação quanto ao envolvimento e apropriação dos moradores na participação na fase inicial e no pós-uso do processo de conquista da moradia digna, utlizando o mesmo método elaborado por esta pesquisa relatado no capítulo 5, encontra-se no item 6.1.3. Estes são apresentados por meio dos gráficos de cada fase e ação - processo inicial (Mobilizar, Viabilizar, Projetar, Construir, Morar / Habitar) e processo pós-uso ( Qualificar/ Realizar, Relacionar/ Integrar e Satisfazer) – com o resumo dos quatro empreendimentos. No Apêndice 3 desta pesquisa, apresentam-se os resultados da avaliação quanto ao envolvimento e apropriação na participação do processo inicial e pós-uso da moradia digna com os resultados detalhados de cada empreendimento, com suas tabelas e gráficos. Vale lembrar, que a metodologia que utilizada para aferir as fases/ações e o entendimento da importância do processo de efetivação do empreendimento de habitação social na área central, com a ótica do direito à cidade, foi o método de Likert (descritos no capítulo 5) para realizar as entrevistas com os moradores dos empreendimentos de habitação social da área central, para aferir o grau de envolvimento dos moradores tanto no processo inicial, como no processo pós-uso. Esse método, para além do questionário do quadro 6.2, foi aplicado também para os moradores representantes dos empreendimentos. 259 6.2 A caracterização dos empreendimentos com as visitas e entrevistas Os quatro empreendimentos escolhidos como estudos de caso juntos comportam 334 unidades habitacionais, representando 8,94% do total das 3734 unidades habitacionais dos 38 empreendimentos do inventário realizado pela pesquisa. As visitas e entrevistas foram realizadas entre outubro e novembro de 2014. A seguir, a descrição dos resultados dos dados coletados por empreendimento, sobre o processo de envolvimento dos moradores e representantes nas fases de projeto inicial e pós-uso, iniciando-se pelos dados gerais e depois com a sequência de itens: a) caracterização da população, b) o processo de mobilização na pré-organização, c) o processo de viabilização do empreendimento, d) o desenvolvimento do projeto e a participação das famílias, e) a fase de construção, f) a apropriação no sentido de habitar, g) a gestão condominial, as atividades e a situação dos espaços construídos, h) a integração do empreendimento com o entorno, i) a satisfação. 260 Mutirão Celso Garcia ficha número 2 do inventário no Apêndice 2 da pesquisa Dados gerais: Endereço: av. Celso Garcia 849 – Belém. Distância: 3,4 km da praça da Sé (percurso a pé). Projeto: Sehab arq. Claudio Manetti e Assessoria Técnica Ação Direta. Conclusão da sistema de autogestão. Entorno: uso do solo residencial, comercial, institucional. Transporte público: ônibus e metro. Número de uh: 182. Área da uh: 28 m2 a 35 m2 – quitinete e 1 dormitório. Tipologia: térreo + 5 pav. Área do terreno: 5419,33 m2. Origem da demanda: moradores do cortiço do local (casarão) e de cortiços da região Belém, Brás e Mooca. Densidade líquida: 900 hab/ha – 2,68média de moradores por UH (IBGE, 2010). Início da mobilização: 1990 formaram a Associação de moradores do conjunto habitacional do casarão da Celso Garcia com apoio do movimento de moradia sem terra da leste 1 e pastoral da moradia. Programa Municipal: produção de Habitação por Mutirão e Autogestão - FUNAPS (Fundo de Atendimento à População Moradora em Habitação Subnormal). Entrevistados: José Eduardo obra: 2001 mutirão com Figura 6.1: Vista Superior do mutirão da Celso Garcia Fonte: PMSP, 2007 e Salomé – representantes empreendimento que são moradores desde o cortiço original. Data: 16/10/2014 do 261 a) Caracterização da população As origens dos moradores são do casarão (antigo cortiço) e cortiços da região Brás, Belém e Mooca. A maioria dos chefes de família é de mulheres aposentadas da terceira idade com renda média de um salário mínimo. Atualmente, estão cadastrados na associação de moradores 1003 moradores (conforme relatado por Salomé) com média de 5,51 por UH. Na pesquisa realizada por Sanches (2008), havia uma média de moradores 2,58 por UH. Segundo Salomé, em função da boa localização do empreendimento, parentes e os filhos se casam e continuam morando no pequeno apartamento, entre outros fatores. b) O processo de mobilização na pré-organização A maioria das famílias mobilizou-se para a conquista da moradia digna e formou a associação de moradores do conjunto habitacional do casarão da Celso Garcia com apoio do Movimento de Moradia Sem Teto da Leste 1 e Pastoral da Moradia. c) O processo de viabilização do empreendimento As famílias participaram do processo dos estudos iniciais do projeto e, conforme declaração do senhor José Eduardo, o apoio técnico, tanto jurídico como de arquitetura, foi fundamental para o processo de viabilização (1990) que foi realizado pela prefeitura e Assessoria Técnica Ação Direta. O entrevistado lembrou também que na época dos estudos iniciais havia um arquiteto uruguaio, com experiência nas cooperativas do Uruguai, chamado Leonardo, que auxiliou na organização social dos moradores. 262 d) O desenvolvimento do projeto e a participação das famílias O projeto final foi realizado de forma participativa com as famílias, com linguagem de projeto de fácil compressão, através dos técnicos da prefeitura, em especial Claudio Manetti e a Assessoria Técnica Ação Direta. e) A fase de construção Houve acompanhamento pela Assessoria Técnica Ação Direta no período da construção que foi realizada por construtora, com os serviços mais pesados e sistema de mutirão com autogestão pelos moradores. Nesta fase, o trabalho social foi realizado pela prefeitura com as famílias para preparar a vida em condomínio, apresentando os direitos e deveres dos moradores. f) A apropriação no sentido de habitar Os dois representantes da comissão de moradores informaram que houve a melhora na qualidade de vida e a autoestima da maioria dos moradores a partir da conquista da moradia digna, medidas pela evolução dos empregos e estudos. g) A gestão condominial, as atividades e a situação dos espaços construídos Em relação à gestão dos espaços comuns, o empreendimento passa por dificuldades, pois o condomínio não foi formalizado em função da não regularidade jurídica do empreendimento. Desde a sua construção, o empreendimento é organizado por autogestão entre os moradores, que funciona com um regulamento interno de convivência. As contas são divididas entre os moradores (água, luz, manutenção, limpeza, portaria). Existe um cadastro na Cohab com as famílias que receberam o direito adquirido pelo imóvel, mas sem o 263 registro cartorial do imóvel. As áreas comuns e os edifícios estão com problemas de manutenção e as emergências são resolvidas a partir de um fundo de caixa organizada pela comissão de moradores. A implantação do empreendimento agrega uma praça no centro que possibilita o encontro e o lazer dos moradores. No térreo dos blocos, estão localizadas as pequenas oficinas para trabalhos, das quais uma funciona como centro comunitário, que é o centro administrativo do condomínio, e as outras não funcionam como um local de trabalho, como o projeto original previa. A associação de moradores e o movimento de moradia ULC acompanham as famílias no pós morar com atividades que estão relacionadas à conscientização sobre direitos e deveres do cidadão, organizam o benefício social e o PSF (programa de saúde da família). Existem também atividades para as crianças e jovens no condomínio como brinquedoteca, biblioteca, recreio de férias e aulas de capoeira. As relações de vizinhanças são boas, existindo a ajuda mutua entre eles. Conforme a comissão de moradores, não existe problemas com tráfico de drogas. Conforme relatado, uma única vez uma pessoa de fora se instalou num apartamento, mas os próprios vizinhos denunciaram para tirar a pessoa. h) A integração do empreendimento com o entorno O empreendimento é integrado ao entorno e ao bairro. Por exemplo, muitas crianças de fora acompanham as que moram no condomínio para realizar conjuntamente, nas mesas que existem na praça, a lição escolar e brincar na pequena quadra dentro do empreendimento. A localização é boa em relação aos serviços e equipamentos públicos, porém no item lazer há reclamação da manutenção dos parques Belém e Centro Operário. Há também menção sobre a 264 precariedade das bibliotecas da subprefeitura da Mooca e Azevedo Soares. O local do empreendimento em função do emprego e estudos é ótimo, o que explica por vezes o número excessivo de pessoas nos pequeno apartamentos (no cálculo da densidade líquida, considera-se dados oficiais do IBGE de 2010). i) A satisfação As famílias estão satisfeitas com o projeto do empreendimento em geral. Conforme a comissão de moradores, 10% das famílias reclamam do tamanho do apartamento “[...] na origem do projeto as mulheres diziam: tendo um banheiro e uma pia individual está ótimo, não quero mais [...]” (Salomé em entrevista, 16/10/2014). Na conquista do direito a moradia digna muitas famílias ajudam outras famílias participando do movimento de moradia ULC. Conforme informou o senhor José Eduardo, existe uma rotatividade no conjunto. 25% das famílias originais saíram em função da melhoria de vida e conseguiram financiar outra moradia maior. Em relação à pergunta o que é moradia digna? “espaço de convivência da família, acolhedor e que possa conversar com o vizinho do lado se estiver com a música alta incomodando de forma civilizada” (Salomé em entrevista, 16/102/014). Em relação ao direito à cidade, “ter acesso fácil ao comércio, serviços, emprego e educação” (Salomé em entrevista, 16/102014) Conforme José Eduardo, o projeto participativo, para além do projeto que foi realizado para a construção do condomínio, é o apoio técnico necessário para a continuidade no pós morar, como o paisagismo, o projeto para o casarão (restauro para transformar em equipamento de cultura e lazer para o bairro) ao lado que ainda não 265 foi recuperado que tem como objetivo servir de espaço de cultura para a comunidade do entorno em geral. 266 Santa Cecília A ficha número 14 do inventário no Apêndice 2 da pesquisa. Local: Rua Pirineus, 117 Santa Cecília. Distância: 3,3 km da praça da Sé (percurso a pé). Número de uh: 28 Área da uh: 38 m2 – dormitórios Tipologia: Térreo + 5 pav. Área do terreno: 310,50 m2 1 Entorno: uso residencial, comercial e serviços. Origem da demanda: Moradores de cortiço, Fórum de Cortiço. Densidade líquida: 2420 hab/ha – 2,68 média de moradores por UH (IBGE, 2010) Início da mobilização: 1996. Programa Estadual: Programa de Atuação em Cortiço – PAC/BID – CDHU. Projeto: Assessoria Técnica Ambiente Arquitetura Conclusão da obra: 2003 Figura 6.2: Vista do Santa Cecília A Fonte: ambiente arquitetura, 2014 Entrevistados síndico Claudio Rufino Data: 27/10/2014 267 a) Caracterização da população As origens dos moradores são do cortiço original e ocupações da região organizadas pelo movimento de moradia do Fórum de cortiços. A renda média das famílias é de um salário mínimo e meio com trabalho formal. Na pesquisa de Sanches (2008), havia uma média de 2,66 moradores por UH. Segundo o Sr. Claudio, a média de moradores por UH é de 3,5 pessoas (para o cálculo da densidade líquida, utiliza-se os dados oficiais do IBGE de 2010). b) O processo de mobilização na pré-organização Todas as famílias se mobilizaram para a conquista da moradia digna com apoio do movimento de moradia do Fórum dos Cortiços. c) O processo de viabilização do empreendimento Conforme o síndico Claudio Rufino informou, 80% das famílias participaram do processo dos estudos iniciais do projeto, com apoio da Assessoria Técnica Ambiente Arquitetura, que participou também como apoio técnico nas negociações com o poder público para a viabilização da construção em todo o processo. d) O desenvolvimento do projeto e a participação das famílias O projeto foi realizado de forma participativa com as famílias, com linguagem de projeto de fácil compreensão, através da Assessoria Técnica Ambiente Arquitetura. e) A fase de construção Houve acompanhamento pela Assessoria Técnica Ambiente Arquitetura de forma limitada no período da construção, que foi realizada por construtora. Nesta fase, o trabalho social foi realizado 268 pela CDHU com as famílias para prepará-las para a vida em condomínio. Ressalta-se que no início das negociações o sistema construtivo deveria ter sido por mutirão, porém a CDHU permitiu apenas que a demolição da antiga construção fosse feita pelo sistema de mutirão, através dos moradores e contratou a empresa para realizar as obras de construção. f) A apropriação no sentido de habitar O síndico Claudio Rufino informou que a qualidade de vida e a autoestima da maioria dos moradores melhoraram muito a partir da conquista da moradia digna. g) A gestão condominial, as atividades e a situação dos espaços construídos A gestão condominial é ótima, em função de ser realizada por autogestão. O empreendimento está sempre em obras de melhorias nas áreas comuns, com boa relação de vizinhança. h) A integração do empreendimento com o entorno O condomínio com tipologia de 6 pavimentos de bloco estrutural cerâmico aparente integra-se ao contexto urbano, com boas relações de vizinhança. A localização é excelente, a uma quadra do metrô Marechal Deodoro, e também perto dos serviços, equipamentos públicos, empregos e estudos. O interessante é a resposta sobre a não utilização de equipamentos de cultura e lazer, conforme o senhor Claudio informou. Vale aprofundamento para futuras pesquisas. i) A satisfação As famílias estão satisfeitas com o projeto em geral. Na época do projeto, entenderam que a viabilidade do empreendimento só 269 seria possível com o tamanho reduzido da UH e com 1 dormitório. Segundo o senhor Claudio, ajudam outras famílias na conquista da moradia digna, participando ainda do movimento de moradia. Não há rotatividade dos moradores. Em relação à pergunta sobre o que é moradia digna, o senhor Claudio respondeu: “saber que a moradia é sua, com boa relação com os vizinhos e zelar pelo condomínio”. 270 Bom retiro C ficha número 294 do inventário no Apêndice 2 da pesquisa Dados gerais: endereço: local: rua Gulherme Maw, 96 e rua Djalma Dutra, 219, Conclusão da obra: 2012 Número de uh: 73 Área da uh: 31m2 – 1 dormitório Tipologia: térreo + 4 distância: 2,2 km da praça da Sé (percurso a pé), pavimentos entorno: uso do solo residencial, comercial, serviço, institucional , Densidade líquida: 1304 hab/ha – 2,68 média de moradores por UH (IBGE, 2010) Área do terreno: 1500 m2 origem da demanda: moradores de cortiços, início da mobilização: informação, sem programa Estadual: Programa de Atuação em Cortiço – PAC/BID da CDHU, projeto: Leo Tomchinsky Arquitetos Associados, Figura 6.3: Vista geral do Bom Retiro C Fonte: Debora Sanches, nov. de 2014 entrevistada: Dona Arlete – moradora do apartamento adaptado para pessoa com necessidade especial e representante da comissão de moradores. Data: 08/11/2014 271 a) Caracterização da população As origens dos moradores são diferentes. Há pessoas oriundas do cortiço do local e da região, como a Vila Itororó, e ocupação do imóvel da rua conde de São Joaquim. Os chefes de família são homens, a média da renda é de um salário mínimo com trabalho informal. Em relação à média de moradores por unidade habitacional, é de 4 pessoas, variando de 2 a 6, conforme informações de Dona Arlete (para o cálculo da densidade líquida, utiliza-se os dados oficiais do IBGE de 2010). b) O processo de mobilização na pré-organização A maioria das famílias mobilizou-se para a conquista da moradia digna a partir dos movimentos de moradia nas ocupações e cortiços. Não houve apoio técnico e atualmente não há mobilização para ajudar outras famílias para a conquista da moradia digna. c) O processo de viabilização do empreendimento As famílias não participaram do processo dos estudos iniciais do projeto e da viabilização do empreendimento. d) O desenvolvimento do projeto e a participação das famílias O projeto final não foi realizado de forma participativa com as famílias. A autoria de projeto é de escritório convencional de arquitetura. e) A fase de construção No período das obras, a CDHU realizou trabalho social com famílias no sentido de ensinar como morar em condomínio. f) A apropriação no sentido de habitar 272 A representante da comissão de moradores e sua filha informaram que a qualidade de vida e a autoestima da maioria dos moradores melhoraram muito a partir da conquista da moradia digna. g) A gestão condominial, as atividades e a situação dos espaços construídos A gestão condominial, administrada por empresa privada, está com dificuldades, pois o valor do condomínio é alto, em torno de R$ 200,00 e muitos apartamentos estão com inadimplência no pagamento. O valor da prestação do apartamento é em torno de R$ 89,00. O estado de conservação das áreas comuns é boa, apesar de não haver espaço para as crianças brincarem (reclamação de dona Arlete), os espaços mínimos não são apropriados para a brincadeira. Alguns movimentos de moradia acompanham o pós morar. Não existem atividades no condomínio, apenas um salão de festas com aluguel de R$ 50,00 para festas e para as reuniões convocadas pela Síndica. h) A integração do empreendimento com o entorno O empreendimento é integrado ao entorno e ao bairro. A localização é boa em relação aos serviços e equipamentos públicos, como emprego e estudos. Em relação à utilização dos equipamentos de lazer e cultura, a resposta foi negativa. Apenas as crianças utilizam o Jardim da Luz nos fins de semana. As relações de vizinhança são boas. i) A satisfação As famílias estão satisfeitas com o projeto do empreendimento, em geral, e com os apartamentos. Um aspecto importante a destacar é a falta de controle pela CDHU, pois já existe a rotatividade de moradores. Foi mencionado que 4 apartamentos foram vendidos por 273 R$ 10.000,00 e alugados por R$ 1.500,00, de forma ilegal. Existe uma empresa contratada para administrar o condomínio com serviço de portaria, mas mesmo assim não há controle. Conforme mencionou perto dona Arlete, a CDHU acompanha de empreendimentos por apenas 1 ano, após a sua instalação. os 274 Pari E ficha número 31 do inventário no Apêndice 2 da pesquisa dados gerais: endereço: rua Madeira, 124/148 – Pari, distância: 2,7 km da praça da Sé (percurso a pé), entorno: uso do solo – residencial, comercial, serviço, institucional, área da uh: 34m2 e 54 m2 –1 e 2 dormitórios, tipologia: térreo + 4 pavimentos, área do terreno: 1112,75 m2, densidade líquida: 1229 hab/ha – 2,68 média de moradores por UH (IBGE, 2010). origem da demanda: moradores de cortiços, início da mobilização: sem informação, programa estadual: Programa de Atuação em Cortiço – PAC/BID da CDHU. projeto: ACG ARQUITETURA, conclusão da obra: 2012, número de uh: 51 Figura 6.4: fachada principal do Pari E Fonte: Giovanna Dias, out de 2014 Entrevistados: Edivaldo e Dona Celia - síndico do condomínio e sua esposa. Data: 08/11/2014 275 a) Caracterização da população As origens dos moradores são diferentes, cortiços e ocupações e, entre eles, o cortiço do local. Os chefes de família são homens, a média da renda é de um salário mínimo com trabalho formal. Em relação à média de moradores por unidade habitacional é de 4,5 pessoas, variando de 4 a 5 (para o cálculo da densidade líquida, utiliza-se os dados oficiais do IBGE de 2010). b) O processo de mobilização na pré-organização A maioria das famílias mobilizou-se para a conquista da moradia digna a partir dos movimentos de moradia. Não houve apoio técnico e atualmente a mobilização para ajudar outras famílias não existe. c) O processo de viabilização do empreendimento As famílias não participaram do processo dos estudos iniciais do projeto e da viabilização do empreendimento. d) O desenvolvimento do projeto e a participação das famílias O projeto final não foi realizado de forma participativa com as famílias. e) A fase de construção No período das obras, a CDHU realizou trabalho social com famílias no sentido de ensinar como morar em condomínio. f) A apropriação no sentido de habitar O síndico e a esposa informaram que a qualidade de vida e a autoestima dos moradores melhoraram muito a partir da conquista da moradia digna. g) A gestão condominial, as atividades e a situação dos espaços construídos 276 A gestão condominial e manutenção das áreas comuns são boas, os movimentos de moradia ou associação de moradores não acompanham as famílias no pós morar. Não existem atividades no condomínio relacionadas à conscientização sobre direitos e deveres, tampouco atividades com as crianças. Existe um salão para reuniões e festas. O valor do condomínio é em torno de R$ 150,00. O valor da prestação do apartamento é em torno de R$ 230,00. O estado de conservação das áreas comuns é bom , apesar de não haver espaço para as crianças brincarem. Alguns apartamentos já foram vendidos de forma ilegal. h) A integração do empreendimento com o entorno O empreendimento é integrado ao entorno e ao bairro. A localização é boa em relação aos serviços e equipamentos públicos. O local do empreendimento em função do emprego e estudos é bom. Em relação à utilização dos equipamentos de lazer e cultura, a resposta foi positiva, com utilização do Jardim da Luz, Parque da Juventude e biblioteca. As relações de vizinhança são boas. i) A satisfação As famílias estão satisfeitas com o projeto do empreendimento em geral e com os apartamentos, mas não ajudam outras famílias a conquistarem a moradia digna. 6.2.1 Os resultados da caracterização dos empreendimentos com as visitas e entrevistas com os representantes dos empreendimentos a) Caracterização da população Nota-se que nos quatro estudos de caso as origens dos moradores são de cortiços do próprio local, da região ou de ocupações. 277 A média de moradores por unidade habitacional e renda média por família são as seguintes: - mutirão Celso Garcia: 5,51 pessoas por UH e um salário mínimo, - Santa Cecília A: 3,5 pessoas por UH e um e meio salário mínimo, - Bom Retiro C: 4 pessoas por UH e um salário mínimo, - Pari E: 4,5 pessoas por UH e um salário mínimo. Destaca-se que foi utilizado os dados oficiais do IBGE de 2010 com a média de 2,68 moradores por UH na área central de São Paulo, para calcular a densidade líquida por empreendimento no quadro síntese 5.6. b) O processo de mobilização na pré-organização Nos quatro estudos de caso, a maioria das famílias mobilizou-se para a conquista da moradia digna a partir dos movimentos de moradia. c) O processo de viabilização do empreendimento Nos casos dos mutirões da Celso Garcia e Santa Cecília A, as famílias participaram dos estudos iniciais do projeto, com apoio da Assessoria Técnica, que auxiliou também com apoio técnico nas negociações com o poder publico para a viabilização da construção do empreendimento em todo o processo. Já nos casos Bom Retiro C e Pari E, as famílias não participaram do processo dos estudos iniciais do projeto e nem da viabilização do empreendimento. 278 d) O desenvolvimento do projeto e a participação das famílias Nos casos dos mutirões da Celso Garcia e Santa Cecília A, as famílias participaram do projeto, realizado de forma participativa com linguagem de projeto de fácil compressão, através de Assessoria Técnica. Já nos casos Bom Retiro C e Pari E, o projeto final não foi realizado de forma participativa com as famílias. A autoria do projeto foi de escritório convencional de arquitetura. e) A fase de construção No Mutirão da Celso Garcia houve acompanhamento pela Assessoria Técnica. Nessa fase, o trabalho social foi realizado pela prefeitura com as famílias para preparar a vida em condomínio, apresentando os seus direitos e deveres dos moradores. No Santa Cecília A, o acompanhamento pela Assessoria Técnica foi de forma limitada no período da construção. Nessa fase, o trabalho social foi realizado pela CDHU com as famílias para prepará-las para a vida em condomínio. No Bom Retiro C e Pari E, no período das obras, a CDHU realizou trabalho social com famílias no sentido de ensinar como morar em condomínio. f) A apropriação no sentido de habitar Todos os representantes dos quatro estudos de caso informaram que a qualidade de vida e a autoestima dos moradores melhoraram muito a partir da conquista da moradia digna. 279 g) A gestão condominial, as atividades e a situação dos espaços construídos - Mutirão Celso Garcia: a gestão do empreendimento das áreas comuns é realizada por autogestão entre os moradores, que funciona com um regulamento interno de convivência. As contas são divididas entre os moradores (água, luz, manutenção, limpeza, portaria). As relações de vizinhanças são boas, existindo a ajuda mutua entre eles. - Santa Cecília A: a gestão condominial é realizada por autogestão. O empreendimento está sempre em obras de melhorias nas áreas comuns, com boa relação de vizinhança. - Bom Retiro C: a gestão condominial está com dificuldades, pois o valor do condomínio é alto, em torno de R$ 200,00 e muitos apartamentos estão com inadimplência no pagamento. O estado de conservação das áreas comuns é positivo. - Pari E: a gestão condominial e manutenção das áreas comuns são boas. O valor do condomínio é em torno de R$ 150,00. O estado de conservação das áreas comuns é bom, apesar de não haver espaço para as crianças brincarem. Alguns apartamentos já foram vendidos de forma ilegal. h) A integração do empreendimento com o entorno O empreendimento é integrado ao entorno e ao bairro. A localização é boa em relação aos serviços e equipamentos públicos, como para emprego e estudos. Nota-se sobre a utilização dos equipamentos de lazer e cultura da região que as respostas do Santa Cecília A e Bom Retiro C são negativas. i) A satisfação De forma geral, segundo os representantes, as famílias estão satisfeitas com o projeto do empreendimento. 280 6.3 Resultados da avaliação quanto a apropriação e envolvimento dos moradores no processo inicial e pós-uso da moradia digna dos quatro estudos de caso A seguir, entrevistamos os moradores dos quatro estudos de caso, buscando mensurar a avaliação do grau de apropriação e envolvimento nas duas etapas do processo de projeto do empreendimento - processo inicial e pós-uso. O método utlizado para esta etapa da pesquisa é o mesmo exposto no capítulo 5 no quadro 5.5 (questionário com as fases / ações e as frases afirmativas para os moradores). A seguir, apresenta-se a vizualização dos resultados a partir dos gráficos de cada fase e ação - processo inicial (Mobilizar, Viabilizar, Projetar, Construir, Morar / Habitar) e processo pós-uso (Qualificar/ Realizar, Relacionar/ Integrar e Satisfazer) – com o resumo dos quatro empreendimentos escolhidos para o estudo de caso. No Apêndice 3 apresentam-se os resultados detalhados de cada empreendimento, com suas tabelas e gráficos. Consideram-se válidas as seguintes respostas ao questionário aplicado para os estudos de caso, a partir da metodologia desenvolvida do capítulo 05, a seguir: - mutirão Celso Garcia: dos 10 questionários retornados com respostas dos moradores, 3 foram descartados por duplicidade na respostas. Portanto, são 7 considerados válidos. - Santa Cecília A: os 7 questionários retornados com respostas dos moradores são válidos. - Bom Retiro C: Foram aplicados 10 questionários aos moradores, mas 4 precisaram ser descartados por duplicidades na respostas. Portanto, são 6 considerados válidos. 281 - Pari E: foram aplicados 9 questionários aos moradores, 3 precisaram ser descartados por duplicidades na respostas. Portanto, são 6 considerados válidos. 6.3.1. Ação Mobilizar As frases utilizadas no método do questionário de avaliação (apresentado do capítulo 05), quanto à satisfação na participação do processo inicial na ação Mobilizar são: FRASE 1: a ação de mobilização entre os moradores quando ainda moravam de forma precária é importante para juntos conquistar a moradia digna. FRASE 2: fazer parte de uma associação de moradores ou movimento de moradia é fundamental para a conscientização dos meus direitos e deveres como cidadão. FRASE 3: o aprendizado na convivência com as famílias anteriores é refletido no futuro empreendimento na organização do condomínio. Na sequência as tabelas e gráficos dos resultados: Tabela 6.1: Resumo do resultado do processo inicial da moradia digna – ação Mobilizar 16,67% 0,00% 83,33% 16,67% 16,67% 66,67% FRASE 2 0,00% 0,00% 100,00% 0,00% 14,29% 85,71% 16,67% 0,00% 83,33% 0,00% 0,00% 100,00% FRASE 3 0,00% 14,29% 85,71% 0,00% 0,00% 100,00% 33,33% 16,67% 50,00% 33,33% 16,67% 50,00% Fonte: elaborado pela autora Débora Sanches, 2014. concordância 100,00% indiferença 0,00% discordância discordância 0,00% indiferença concordância 100,00% indiferença 0,00% indiferença 0,00% discordância discordância PARI E concordância BOM RETIRO C FRASE 1 AÇÃO MOBILIZAR SANTA CECÍLIA A concordância CELSO GARCIA 282 Gráfico 6.1:Processo inicial da moradia digna – ação Mobilizar Fonte: elaborado pela autora Débora Sanches, 2014. Mutirão da Celso Garcia - A ação de mobilização entre os moradores ainda na moradia precária e fazer parte de uma organização são fundamentais para o entendimento da conscientização dos direitos e deveres como cidadão. A concordância é expressa em 100% das respostas. A frase sobre o aprendizado e a convivência entre as famílias também é positiva, 85,71% concorda e 14,29% é indiferente. Santa Cecília A - A ação de mobilização entre os moradores ainda na moradia precária é expressa em 100% das respostas, fazer parte de uma organização é fundamental para o entendimento da conscientização dos direitos e deveres como cidadão. A concordância é expressa em 85,71% das respostas e 14,29% é indiferente. A frase sobre o aprendizado e a convivência entre as famílias também é positiva, expressa em 100% das respostas. 283 Bom Retiro C - A ação de Mobilização entre os moradores ainda na moradia precária é expressa em concordância em 83,33% das respostas e 16,67% discorda. Fazer parte de uma organização é fundamental para o entendimento da conscientização dos direitos e deveres como cidadão. A concordância é expressa em 83,33% das respostas e há 16,67% de discordância. A frase sobre o aprendizado e a convivência entre as famílias é mediana, expressa em 50,00% das respostas, mas com 33,33% de discordância e 16,67% de indiferença. Pari E - A ação de mobilização entre os moradores ainda na moradia precária é expressa com concordancia em 66,67% das respostas,16,67% é indireferene e 16,67% discorda. Fazer parte de uma organização é fundamental para o entendimento da conscientização dos direitos e deveres como cidadão. A concordância é expressa em 100 %das respostas. A frase sobre o aprendizado e a convivência entre as famílias é mediana, expressa em 50,00% das respostas, com 33,33% de discordância e 16,67% de indiferença. 6.3.2 Ação Viabilizar As frases utilizadas no método do questionário de avaliação (apresentado do capítulo 05), quanto à satisfação na participação do processo inicial na ação Viabilizar, são: FRASE 4: no processo de viabilização do futuro empreendimento é importante para as famílias participarem da escolha do imóvel para o desenvolvimento do projeto. FRASE 5: as famílias participam do desenvolvimento dos estudos iniciais do arquitetura. projeto com as assessorias técnicas ou escritórios de 284 FRASE 6: nas reuniões com o poder público, o apoio técnico das assessorias técnicas é fundamental para ajudar na realização do empreendimento. Na sequência as tabelas e gráficos dos resultados: Tabela 6.2: Resumo do resultado do Processo inicial da moradia digna– ação Viabilizar 0,00% 16,67% 83,33% 0,00% 33,33% 66,67% FRASE 5 0,00% 0,00% 100,00% 42,86% 0,00% 57,14% 16,67% 0,00% 83,33% 33,33% 33,33% 33,33% FRASE 6 0,00% 14,29% 85,71% 0,00% 14,29% 85,71% 0,00% 16,67% 83,33% 16,67% 0,00% 83,33% Fonte: elaborado pela autora Débora Sanches, 2014. Gráfico 6.2: Processo inicial da moradia digna – ação Viabilizar Fonte: elaborado pela autora Débora Sanches, 2014. indiferença concordância 100,00% discordância indiferença 0,00% discordância 0,00% indiferença 100,00% discordância 0,00% indiferença concordância PARI E 0,00% discordância concordância BOM RETIRO C FRASE 4 AÇÃO VIABILIZAR SANTA CECÍLIA A concordância CELSO GARCIA 285 Mutirão da Celso Garcia – com respeito a participação no processo de viabilização do futuro empreendimento na escolha do imóvel e dos estudos iniciais, as respostas foram de 100% de concordância. O apoio técnico nas reuniões com o poder público para ajudar na realização do empreendimento, mostrou-se também positivo nas respostas: 85,71% concorda e 14,29% é indiferente. Santa Cecília A – com respeito a participação no processo de viabilização do futuro empreendimento na escolha do imóvel, as respostas foram de 100% de concordância. Já sobre a participação das famílias nos estudos iniciais 57,14% concorda e e 42,86% discorda. O apoio técnico nas reuniões com o poder público para ajudar na realização do empreendimento mostrou-se positivo nas respostas: 85,71% concorda e 14,29% é indiferente. Bom Retiro C – no que diz respeito à participação no processo de viabilização do futuro empreendimento na escolha do imóvel, as respostas foram de 83,33% de concordância e 16,67% é indiferente. Em relação a participação das famílias nos estudos iniciais, concordam 83,33% e 16,67% discordam. O apoio técnico nas reuniões com o poder público para ajudar na realização do empreendimento mostrou-se positivo nas respostas: 83,33% concorda e 16,67% é indiferente. Pari E – no que diz respeito à participação no processo de viabilização do futuro empreendimento na escolha do imóvel, as respostas foram de 66,67% de concordância e 33,33% de indiferença. Em relação aos estudos iniciais, concordam 33,33%, 33,33% são indiferentes e 33,33% discordam. O apoio técnico nas reuniões com o poder público para ajudar na realização do empreendimento mostrou-se positivo nas respostas: 83,33% concorda e 16,67% é indiferente. 286 6.3.3 Ação Projetar As frases utilizadas no método do questionário de avaliação (apresentado do capítulo 05), quanto à satisfação na participação do processo inicial na ação Projetar, são: FRASE 7: o projeto final é realizado de forma participativa com as famílias. FRASE 8: a representação do projeto é realizada com linguagem de fácil entendimento para as famílias com desenhos e maquetes. FRASE 9: Nas reuniões com o poder público, as lideranças da associação de moradores ou movimento de moradia representam os desejos das famílias. Tabela 6.3: Resumo do resultado do Processo inicial da moradia digna– ação Projetar CELSO GARCIA concordância discordância 0,00% 14,29% 85,71% 16,67% 33,33% 50,00% 33,33% 50,00% 16,67% FRASE 8 0,00% 0,00% 100,00% 28,57% 0,00% 71,43% 33,33% 33,33% 33,33% 16,67% 50,00% 33,33% FRASE 9 0,00% 0,00% 100,00% 0,00% 14,29% 85,71% 0,00% 33,33% 66,67% 0,00% 50,00% 50,00% Fonte: elaborado pela autora Débora Sanches, 2014. concordância indiferença 100,00% indiferença discordância 0,00% indiferença 0,00% discordância FRASE 7 AÇÃO concordância concordância PARI E indiferença BOM RETIRO C discordância SANTA CECÍLIA A 287 Gráfico 6.3: Processo inicial da moradia digna – ação Projetar Fonte: elaborado pela autora Débora Sanches, 2014. Mutirão da Celso Garcia - o projeto foi realizado de forma participativa com linguagem de fácil entendimento para as famílias, bem como, nas reuniões com o poder público, as lideranças representam os desejos das famílias. 100% tiveram a concordância expressa nas respostas. Santa Cecília A - o projeto foi realizado de forma participativa 85,71% de concordancia, linguagem de fácil entendimento para as famílias, 71,43% concorda. Em realção as reuniões com o poder público, as lideranças representam os desejos das famílias. 85,71% tiveram a concordância expressa nas respostas. Bom Retiro C - o projeto foi realizado de forma participativa com 50,00% de concordancia,33,33% de indiferença e 16,67% de discordância. Sobre a linguagem de fácil entendimento para as famílias, 33,33% concorda, 33,33% é indiferente e 33,33% discorda. Em realção às reuniões com o poder público, as lideranças representam os desejos 288 das famílias. 66,67% tiveram a concordância expressa nas respostas e 33,33% são indiferentes. Pari E - o projeto não foi realizado de forma participativa: 16,67%de concordancia, 50,00% de indiferença e 33,33% de discordância. Sobre a linguagem de fácil entendimento para as famílias 33,33% concordam, 50,00% são indiferentes e 16,67% discordam. Em relação às reuniões com o poder público, as lideranças representam os desejos das famílias. 50,00% tiveram a concordância expressa nas respostas e 50,00% é indiferente. 6.3.4 Ação Construir A seguir as frases utilizadas no método do questionário de avaliação (apresentado do capítulo 05), quanto à satisfação na participação do processo inicial na ação Construir e, na sequência, as tabelas e gráficos dos resultados. FRASE 10: as assessorias técnicas ou escritórios de arquitetura que desenvolveram o projeto acompanham a execução das obras. FRASE 11: é importante para as famílias acompanharem as fases das obras com as assessorias técnicas ou escritórios de arquitetura. FRASE 12: a associação de moradores ou movimento de moradia realiza reuniões e encontros com as famílias para ensinar como morar em condomínio e faz trabalho social no período das obras. Na sequência as tabelas e gráficos dos resultados: 289 Tabela 6.4: Resumo do resultado do processo inicial da moradia digna– ação Construir PARI E discordância indiferença indiferença concordância 100,00% 0,00% 42,86% 57,14% 16,67% 0,00% 83,33% 16,67% 33,33% 50,00% FRASE 11 0,00% 0,00% 100,00% 0,00% 14,29% 85,71% 0,00% 0,00% 100,00% 0,00% 33,33% 66,67% FRASE 12 0,00% 0,00% 100,00% 0,00% 0,00% 100,00% 16,67% 0,00% 83,33% 0,00% 33,33% 66,67% discordância concordância 0,00% indiferença indiferença 0,00% discordância discordância concordância BOM RETIRO C FRASE 10 AÇÃO CONSTRUIR SANTA CECÍLIA A concordância CELSO GARCIA Fonte: elaborado pela autora Débora Sanches, 2014. Gráfico 6.4: Processo inicial da moradia digna – ação Construir Fonte: elaborado pela autora Débora Sanches, 2014. Mutirão da Celso Garcia - Em relação às assessorias técnicas ou escritórios de arquitetura que desenvolveram o projeto, acompanhamento da execução das obras, bem como a importância para as famílias 290 acompanharem as fases das obras com as assessorias técnicas ou escritórios de arquitetura e a associação de moradores ou movimento de moradia realizar reuniões e encontros com as famílias para ensinar como morar em condomínio e fazer trabalho social no período das obras, a concordância foi de 100%. Santa Cecília A - em relação às assessorias técnicas ou escritórios de arquitetura que desenvolveram o projeto e acompanham a execução das obras, a concordância foi de 57,14% e 42,86% de indiferente. A importância para as famílias acompanharem as fases das obras com as assessorias técnicas ou escritórios de arquitetura teve a concordância de 85,71% e 14,29% de indiferença. A associação de moradores ou movimento de moradia realizar reuniões e encontros com as famílias para ensinar como morar em condomínio e faz trabalho social no período das obras tem 100% de aceitação. Bom Retiro C - em relação às assessorias técnicas ou escritórios de arquitetura que desenvolveram o projeto acompanhar a execução das obras, a concordância foi de 83,33% e 16,67% de discordância. A importância para as famílias acompanharem as fases das obras com as assessorias técnicas ou escritórios de arquitetura tem concordância de 100%. A associação de moradores ou movimento de moradia realizar reuniões e encontros com as famílias para ensinar como morar em condomínio e fazer trabalho social no período das obras têm 83,33% de concordância e 16,67% de discordância . Pari E - em relação às assessorias técnicas ou escritórios de arquitetura que desenvolveram o projeto acompanharem a execução das obras, a concordância foi de 50% e 33,33% de indiferença mais 16,67% de discordância. A importância para as famílias acompanharem as fases das obras com as assessorias técnicas ou escritórios de arquitetura tem concordância de 66,67% e 33,33% de indiferença. A associação de moradores ou movimento de moradia realizar reuniões e encontros com 291 as famílias para ensinar como morar em condomínio e fazer trabalho social no período das obras possuem 66,67% de concordância e 33,33% é indiferente. 6.3.5 Ação Morar As frases utilizadas no método do questionário de avaliação (apresentado do capítulo 05), quanto à satisfação na participação do processo inicial na ação Morar são: FRASE 13: a partir da conquista da moradia digna a minha qualidade de vida melhorou. FRASE 14: a partir da conquista da moradia digna a minha autoestima melhorou em relação ao emprego e aos estudos. FRASE 15: a gestão condominial e a manutenção das áreas comuns são boas. Na sequência as tabelas e gráficos dos resultados: Tabela 6.5: Resumo do resultado do Processo inicial da moradia digna– ação Morar indiferença concordância 100,00% 0,00% 33,33% 66,67% 0,00% 33,33% 66,67% FRASE 14 14,29% 14,29% 71,43% 0,00% 0,00% 100,00% 16,67% 33,33% 50,00% 16,67% 16,67% 66,67% FRASE 15 0,00% 0,00% 100,00% 14,29% 0,00% 85,71% 16,67% 16,67% 66,67% 0,00% 16,67% 83,33% Fonte: elaborado pela autora Débora Sanches, 2014. discordância 0,00% indiferença 0,00% discordância concordância 100,00% discordância 0,00% indiferença indiferença PARI E 0,00% discordância concordância BOM RETIRO C FRASE 13 AÇÃO MORAR SANTA CECÍLIA A concordância CELSO GARCIA 292 Gráfico 6.5: Processo da efetivação da moradia digna – ação Morar Fonte: elaborado pela autora Débora Sanches, 2014. Mutirão da Celso Garcia - na ação morar / habitar, a conquista da moradia digna melhorou a qualidade de vida, 100% concorda Por outro lado, é interessante notar que em relação a autoestima e melhora em relação ao emprego e estudos 71,43% expressa concordância, 14,29% é indiferente e 14,29% discorda da frase. Em relação à gestão condominial e manutenção das áreas comuns o sentimento é positivo, com 100% de concordância. Santa Cecília A - na ação morar / habitar, a conquista da moradia digna melhorou a qualidade de vida e em relação a autoestima e melhora em relação ao emprego e estudos é expressa em 100% de concordância. Em relação à gestão condominial e manutenção das áreas comuns, o sentimento é positivo, com 85,71% de concordância e 14,29% de discordância. Bom Retiro C - Na ação morar / habitar, a conquista da moradia digna melhorou a qualidade de vida 66,67% concorda e 33,33% é indiferente, em relação a autoestima e melhora em relação ao emprego e 293 estudos é expressa em 50,00% de concordância, 33,33% de indiferença e 16,67% de discordância. Em relação a gestão condominial e manutenção das áreas comuns são positivas com 66,67% concordância, 16,67% de discordância e 16,67% de indiferença. Pari E - na ação morar / habitar, a conquista da moradia digna melhorou a qualidade de vida, 66,67% concorda e 33,33% é indiferente. Em relação à autoestima e melhora em relação ao emprego e estudos o sentimento é expresso com 66,67% de concordancia e 33,33% de indiferença. Em relação à gestão condominial e manutenção das áreas comuns, são positivas as expectativas com 83,33% de concordância e 16,67% de indiferença. 6.3.6 Ação Qualificar As frases utilizadas no método do questionário de avaliação (apresentado do capítulo 05), quanto à satisfação na participação do processo inicial na ação Qualificar são: FRASE 16: a associação de moradores ou movimento de moradia acompanham as famílias no pós morar. FRASE 17: as atividades do condomínio estão relacionadas à conscientização sobre direitos e deveres do cidadão. FRASE 18: existem atividades com as crianças e adolescentes que são importantes para ajudar na educação. Na sequência as tabelas e gráficos dos resultados: 294 Tabela 6.6: Resumo do resultado do processo pós-uso da moradia digna– ação Qualificar indiferença indiferença concordância 100,00% 14,29% 0,00% 85,71% 66,67% 33,33% 0,00% 50,00% 16,67% 33,33% FRASE 17 0,00% 0,00% 100,00% 14,29% 14,29% 71,43% 33,33% 16,67% 50,00% 33,33% 0,00% 66,67% FRASE 18 14,29% 0,00% 85,71% 14,29% 28,57% 57,14% 83,33% 16,67% 0,00% 100,00% 0,00% 0,00% discordância discordância concordância 0,00% indiferença discordância 0,00% discordância concordância PARI E indiferença BOM RETIRO C FRASE 16 AÇÃO QUALIFICAR SANTA CECÍLIA A concordância CELSO GARCIA Fonte: elaborado pela autora Débora Sanches, 2014. Gráfico 6.6: Processo pós-uso da moradia digna – ação Qualificar Fonte: elaborado pela autora Débora Sanches, 2014. Mutirão da Celso Garcia - na ação de Realizar / Qualificar as respostas para a afirmação sobre o acompanhamento dos movimentos de moradia ou associações de moradores, no pós morar e das as atividades do empreendimento, em relação a conscientização sobre direitos e deveres do cidadão, foram de 100% de concordância. Em relação às atividades com as crianças e adolescentes para ajudar na educação 295 também obtiveram aceitação positiva, pois 85,71% concorda e 14,29% discorda. Santa Cecília A - na ação de Realizar / Qualificar, as respostas para a afirmação sobre o acompanhamento dos movimentos de moradia ou associações de moradores, no pós morar apontaram para a concordância com 85,71% e outros 14,29% de discordância. Sobre as atividades do empreendimento em relação à conscientização sobre direitos e deveres do cidadão o percentual foi de 71,43% de concordância, 14,29% de indiferença e 14,29% de discordância. Em relação as atividades com as crianças e adolescentes para ajudar na educação, 57,14% concorda, 28,57% é indiferente e 14,29% discorda. Bom Retiro C - na ação de Realizar / Qualificar, as respostas para a afirmação sobre o acompanhamento dos movimentos de moradia ou associações de moradores no pós morar foram negativas: discorda e 33,33% é indiferente. Em relação as 66,67% atividades do empreendimento sobre a conscientização sobre direitos e deveres do cidadão apontam 50,00% de concordância, 16,67% de indiferença e 33,33% de discordância. Em relação às atividades com as crianças e adolescentes para ajudar na educação, 83,33% discorda e 16,67% é indiferente. Pari E - Na ação de Realizar / Qualificar, as respostas para a afirmação sobre o acompanhamento dos movimentos de moradia ou associações de moradores no pós morar foram negativas: 50,00% discorda, 16,67%% é indiferente e 33,33% concorda. As atividades do empreendimento em relação à conscientização sobre direitos e deveres do cidadão apontaram 66,67% de concordância e 33,33% de discordância. Em relação às atividades com as crianças e adolescentes para ajudar na educação, 100% discordam. 296 6.3.7 Ação Integrar As frases utilizadas no método do questionário de avaliação (apresentado do capítulo 05), quanto à satisfação na participação do processo inicial na ação Integrar são: FRASE 19: o empreendimento é integrado ao entorno e ao bairro. FRASE 20: as relações de vizinhança são boas. FRASE 21: a localização do empreendimento é boa em relação a serviços, equipamentos públicos, emprego e estudos. Na sequência as tabelas e gráficos dos resultados: Tabela 6.7: Resumo do resultado do processo pós-uso da moradia digna– ação Integrar 14,29% 85,71% 33,33% 0,00% FRASE 20 0,00% 0,00% 100,00% 0,00% 0,00% 100,00% 33,33% FRASE 21 0,00% 0,00% 100,00% 0,00% 0,00% 100,00% 0,00% Fonte: elaborado pela autora Débora Sanches, 2014. concordância 0,00% indiferença indiferença 100,00% PARI E discordância discordância 0,00% indiferença concordância 0,00% discordância indiferença concordância discordância BOM RETIRO C FRASE 19 AÇÃO INTEGRAR SANTA CECÍLIA A concordância CELSO GARCIA 66,67% 33,33% 16,67% 50,00% 33,33% 33,33% 33,33% 16,67% 50,00% 0,00% 100,00% 0,00% 0,00% 100,00% 298 Pari E - a integração e relação do empreendimento com o entorno e o bairro tem 50,00% que concorda, 16,67% que é indiferente e 33,33% que discorda. As relações de vizinhança é mediana: 50,00% concorda, 16,67% é indiferente e 33,33% discorda. A localização em relação aos serviços, equipamentos públicos, emprego e estudos teve uma concordância expressa em 100% das respostas. 6.3.8 Ação Satisfazer As frases utilizadas no método do questionário de avaliação (apresentado no capítulo 05), quanto à satisfação na participação do processo inicial na ação Satisfazer são: FRASE 22: estou satisfeito com o projeto do empreendimento geral. FRASE 23: estou satisfeito com o meu apartamento. Ele é adequado às necessidades da minha família e estou feliz. FRASE 24: Como consegui conquistar a moradia digna da minha família, sinto a obrigação de ajudar outras famílias. Na sequência as tabelas e gráficos dos resultados: Tabela 6.8: Resumo do resultado do processo pós-uso da moradia digna– ação Satisfazer concordância discordância indiferença concordância discordância indiferença indiferença concordância 0,00% 0,00% 100,00% 0,00% 0,00% 100,00% 33,33% 33,33% 33,33% 33,33% 16,67% 50,00% FRASE 23 0,00% 0,00% 100,00% 0,00% 0,00% 100,00% 16,67% 16,67% 66,67% 16,67% 16,67% 66,67% FRASE 24 0,00% 0,00% 100,00% 0,00% 0,00% 100,00% 0,00% 16,67% 83,33% 0,00% 16,67% 83,33% Fonte: elaborado pela autora Débora Sanches, 2014. concordância indiferença PARI E discordância BOM RETIRO C FRASE 22 AÇÃO SATISFAZER SANTA CECÍLIA A discordância CELSO GARCIA 299 Gráfico 6.8: Processo pós-uso da moradia digna – ação Satisfazer Fonte: elaborado pela autora Débora Sanches, 2014. Mutirão da Celso Garcia - Em relação à satisfação do empreendimento geral e do apartamento, a concordância foi de 100%. Também é positiva a frase sobre a “obrigação” de ajudar outras famílias a conquistarem a moradia digna. Santa Cecília A - Em relação a satisfação do empreendimento geral e do apartamento, a concordância foi de 100%. Também é positiva a frase sobre a “obrigação” de ajudar outras famílias a conquistarem a moradia digna. Bom Retiro C - Em relação a satisfação do empreendimento geral, 33,33% concorda, 33,33% é indiferente e 33,33% discorda. Em relação ao apartamento, a concordância foi de 66,67%, 16,67% é indiferente e 16,67% discorda. 83,33% concorda com a frase sobre a “obrigação” de ajudar outras famílias a conquistarem a moradia digna e 16,67% é indiferente. 300 Pari E - Em relação a satisfação do empreendimento geral, 50,00% concorda, 16,67% é indiferente e 33,33% discorda. Em relação ao apartamento, a concordância foi de 66,67%, 16,67% é indiferente e 16,67% discorda. Em relação à frase sobre “obrigação” de ajudar outras famílias a conquistarem a moradia digna, 83,33% concorda e 16,67% é indiferente. 301 6.4 Resultados Gerais Neste item, os resultados gerais são apresentados de forma resumida do Processo de Projeto do empreendimento - processo inicial e pós-uso - separados pelas fases e ações, a seguir. Processo Inicial Mobilizar Nota-se que a ação de mobilizar entre os moradores quando ainda moravam de forma precária é importante para juntos conquistar a moradia digna. Nos quatro empreendimentos, o grau de concordância variou de 66,67% a 100%. Destaca-se nos casos em que o projeto foi realizado de forma participativa, através das assessorias técnicas, a concordância é de 100%. São os casos do mutirão da Celso Garcia e Santa Cecília A. Em relação a fazer parte de uma associação de moradores ou movimento de moradia ser fundamental para a conscientização dos direitos e deveres como cidadão, as respostas são positivas, variando de 83,33% a 100%. O mutirão da Celso Garcia foi de 100% e Santa Cecília A 85,71% (com projeto participativo). Bom Retiro C com 83,33% e Pari E com 100% de concordância. Nas duas situações, os moradores acham importante fazer parte de uma associação de moradores ou movimento de moradia. Na frase sobre o aprendizado na convivência com as famílias anteriores, que é refletida no futuro empreendimento da organização do condomínio, as respostas variam de 50% a 100%. Percebe-se que nos empreendimentos que foram desenvolvidos de forma participativa, 302 através das assessorias técnicas, o reflexo da convivência é observado na gestão condominial, através da forma de organização do empreendimento e no representante do condomínio. Nos casos Santa Cecília A e Mutirão Celso Garcia, as respostas são de 100% e 85,71%, respectivamente, de concordância. Já nos projetos sem a participação dos moradores no projeto Bom Retiro C e Pari E a resposta foi de apenas 50% de concordância. Viabilizar Percebe-se que na ação de viabilização do futuro empreendimento, é importante para as famílias participarem da escolha do imóvel para o desenvolvimento do projeto, com respostas que variaram de 66,67% a 100%. Sendo que o maior grau de concordância é dos projetos realizados de forma participativa, através das assessorias técnicas. Mutirão Celso Garcia e Santa Cecília A, com 100% de concordância, tem os projetos sem a participação dos moradores. Bom Retiro C foi de 83,33% e Pari E 66,67% de concordância. Em relação a participação das famílias no desenvolvimento dos estudos iniciais do projeto com as assessorias técnicas ou escritórios de arquitetura, as respostas variaram de 33,33% a 100% de concordância. Nesse item, destaca-se o mutirão da Celso Garcia, com 85,71% de concordância, e 57,14% no Santa Cecília A que foram realizados de forma participativa. Porém, o Bom Retiro C, cujo projeto não foi realizado de forma participativa, a concordância foi de 83,33%. Destaca-se que na entrevista com o representante, o mesmo mencionou que a CDHU apresentou o projeto para os moradores. Já no Pari E a concordância foi de apenas 33,33%. Esse item vale maior profundidade em futuras pesquisas. Sobre as respostas em relação as reuniões com o poder público, se o apoio técnico das assessorias técnicas é fundamental para ajudar na 303 realização do empreendimento, as respostas variam de 83,33% a 85,71%. Projetar Nas respostas sobre o desenvolvimento do projeto final, se foi realizado de forma participativa com as famílias, elas têm uma variação de concordância de 16,67% a 100%, sendo que no mutirão Celso Garcia e Santa Cecília A, respectivamente, o grau de concordância foi de 100% e 85,71%. São os casos em que houve projeto a partir das assessorias técnicas. O Bom Retiro C e Pari E variaram respectivamente de 50% a 16,67%, com forma realizada a partir de escritórios convencionais de arquitetura. Sobre a representação do projeto, se é realizada com linguagem de fácil entendimento para as famílias com desenhos e maquetes, as respostas de concordância variam de 33,33% a 100%, sendo que no mutirão Celso Garcia e Santa Cecília A, respectivamente, o grau de concordância foi de 100% e 71,43%, projetos realizados por assessorias técnicas. Bom Retiro C e Pari E foi de apenas 33,33% de concordância. Em relação as reuniões com o poder público, se as lideranças da associação de moradores ou movimento de moradia representam os desejos das famílias, as respostas de concordância variam de 50% a 100%, sendo que no mutirão Celso Garcia e Santa Cecília A, respectivamente, o grau de concordância foi de 100% e 85,71%. Bom Retiro C e Pari E foi de apenas 66,67% e 50% de concordância, respectivamente. Construir Nota-se que o grau de concordância sobre se as assessorias técnicas ou escritórios de arquitetura que desenvolveram o projeto acompanharem a execução das obras, variância é de 50% a 100%. O mutirão Celso Garcia e Santa Cecília A representam 100% e 57,14% ,respectivamente, 304 os quais foram realizados com projetos participativos, através das assessorias técnicas. No caso do Santa Cecília A, o projeto foi participativo, porém o acompanhamento da obra foi limitada para assessoria técnica. O Bom Retiro C e Pari E com 83,33% e 50% respectivamente, não tiveram projeto participativo. Em relação à importância para as famílias acompanharem as fases das obras com as assessorias técnicas ou escritórios de arquitetura, o grau de concordância varia de 66,67% a 100%. Mutirão Celso Garcia e Santa Cecília A representam 100% e 85,71%, respectivamente. O Bom Retiro C e Pari E 100% e 66,67% de concordância. Sobre a associação de moradores ou movimento de moradia realizar reuniões e encontros com as famílias para ensinar como morar em condomínio e fazer trabalho social no período das obras, o grau de concordância varia de 66,67% a 100%. Destacam-se Mutirão Celso Garcia e Santa Cecília A com concordância de 100%, cujos projetos foram realizados de forma participativa, seguidos do Bom Retiro C com 83,33% e Pari E com 66,67%. Morar – Habitar Nota-se que a partir da conquista da moradia digna, a qualidade de vida melhorou, com grau de concordância variando de 66,67% a 100%, sendo que nos casos com projetos participativos no mutirão Celso Garcia e Santa Cecília A o grau de concordância é o máximo. Bom Retiro C e Pari E tiveram 66,67% de concordância. Em relação a partir da conquista da moradia digna, a autoestima melhorou em relação ao emprego e aos estudos, o grau de concordância variou de 50% a 100%. Sendo que mutirão Celso Garcia e Santa Cecília A tiveram 71,43% e 100%, respectivamente. Bom Retiro C e Pari E 50% e 66,67%. Vale aprofundar futura pesquisa sobre este item. 305 Sobre a gestão condominial e a manutenção das áreas comuns, se são boas ou não , o grau de concordância variou de 66,67% a 100%, sendo que nos projetos participativos mutirão Celso Garcia e Santa Cecília A a percentagem é de 100% e 85,71% respectivamente. Bom Retiro C e Pari E com 66,67% e 83,33%. Processo Pós-uso Realizar – Qualificar Na ação de Realizar / Qualificar, as respostas para a afirmação sobre o acompanhamento dos movimentos de moradia ou associações de moradores, no pós morar, o grau de concordância variou, desde negativamente com discordância de 66,67% a 100% de concordância. Sendo que com projetos participativos, a variação foi de 85,71% a 100% de concordância, como no mutirão Celso Garcia e Santa Cecília A, respectivamente. O Bom Retiro C e Pari E a discordância foi de 66,67% e 50%, respectivamente. Em relação conscientização as sobre atividades direitos e do empreendimento deveres do cidadão, o sobre a grau de concordância variou de 50% a 100%. Mutirão Celso Garcia e Santa Cecília A são os empreendimentos com projetos participativos a concordância e tiveram 71,43% e 100%. O Bom Retiro C e Pari E, sem projetos participativos, a percentagem é 50% e 66,67%, respectivamente. Sobre as atividades com as crianças e adolescentes para ajudar na educação, o grau de concordância foi de 85,71% e 57,14% nos mutirões Celso Garcia e Santa Cecília A. Porém, nos empreendimentos sem a participação há a discordância de O Bom Retiro C e Pari E, 100%. 83,33% e 306 Integrar - Relacionar Nota-se que a respeito da integração e relação do empreendimento com o entorno e o bairro, o grau de concordância variou de 50% a 100%, sendo a variação dos projetos participativos de 100% e 85,71%, mutirão Celso Garcia e Santa Cecília A, respectivamente. O Bom Retiro C e Pari E variaram de 66,67% e 50% de concordância. As relações de vizinhança no Mutirão Celso Garcia e Santa Cecília A, respectivamente, tiveram 100% de concordância nos projetos realizados de forma participativa. O Bom Retiro C teve 33,33% de concordância, 33,33% indiferença e 33,33% de discordância e Pari E apenas 50% de concordância. A respeito da localização em relação aos serviços, equipamentos públicos, emprego e estudos, o grau de concordância é expresso em 100% positivo nos quatro empreendimentos. Satisfazer Percebe-se que a satisfação com o projeto do empreendimento geral, o grau de concordância variou de 33,33% a 100%, sendo 100% dos empreendimentos com projetos participativos mutirão Celso Garcia e Santa Cecília A. O Bom Retiro C e Pari E variaram 33,33% e 50%, respectivamente. Em relação à satisfação com o apartamento e se é adequado às necessidades da família, o grau de concordância variou de 66,67% a 100%, sendo 100% dos empreendimentos com projetos participativos mutirão Celso Garcia e Santa Cecília A. O Bom Retiro C e Pari E tiveram 66,67% de concordância. Nota-se que na frase sobre a “obrigação” de ajudar outras famílias a conquistarem a moradia digna, o grau de concordância variou de 83,33% a 100%, sendo 100% mutirão Celso Garcia e Santa Cecília A. O Bom Retiro C e Pari E possuem 83,33%. 307 6.4.1 A síntese do processo de viabilização e pós-uso da moradia digna Os gráficos 6.9, 6.10, 6.11 e 6.12 representam a síntese da avaliação do processo de viabilização inicial e pós-uso da moradia digna, e no qual visualizam-se as ações Mobilizar, Viabilizar, Projetar, Construir, Morar, Qualificar, Integrar, Satisfazer e se aproximam com o grau de concordância de forma positiva em todo o processo, nos quatro estudos de caso, a seguir: Gráfico 6.9 Mutirão da Celso Garcia Fonte: elaborado por Débora Sanches, 2014 O gráfico 6.9 representa as ações que se aproximam com o grau de concordância de forma positiva em todo o processo, demonstrando o equilíbrio geral do empreendimento em função da proximidade da linha verde de concordância. 308 Gráfico 6.10 Santa Cecília A Font e: elaborado por Débora Sanches, 2014 O gráfico 6.10 representa a síntese da avaliação do processo de viabilização inicial com equílibrio positivo. Porém, há discordância de 42,86% na questão sobre a participação das famílias nos estudos iniciais de projeto, e 28,75% discorda sobre a linguagem de projeto de fácil entendimento. Em relação ao acompanhamento nas obras pela assessoria técnica, 42,86% se mostrou indiferente. No pós-uso da moradia digna, visualiza-se também equlibrio nas ações, mas em relação às atividades com as crianças e adolescentes, 28,57% é indiferente às atividades e 14,29% discorda. Contudo, o desenho do gráfico demonstra o equilíbrio do empreendimento a partir da linha verde mais próxima da concordância. 309 Gráfico 6.11 Bom Retiro C Fonte: elaborado por Débora Sanches, 2014 O gráfico 6.11 representa a síntese da avaliação do processo de viabilização inicial com equílibrio mediano nas ações com discordância de 33% e 16,67% na questão sobre o aprendizado das famílias na convivência anterior e refletido no futuro empreendimento. 33% discorda e 33% é indiferente sobre a linguagem de projeto ser de fácil entendimento. Estes aspectos são os mais reelevantes. No pós-uso da moradia digna, visualiza-se negativo nas ações, em relação aos seguintes aspectos mais significativos: o movimento de moradia ou associação de moradores não acompanham as famílias no pós morar. 66,67% discordou com a frase colocada e 33% foi indiferente, 83,33% discordou e 16,67% foi indiferente em relação às atividades para as crianças, 33,33% discorda e 33,33% é indiferente sobre as relações de vizinhança serem boas. Outro aspecto: 33,33% discorda e 33,33% é indiferente sobre a localização do empreendimento ser boa em relação ao emprego e estudos. Contudo, nota-se a proximidade da linha azul (discordância) nas ações de qualificar e integrar, representando assim, o desequilíbrio do empreendimento a partir da proximidade da linha verde para o centro do gráfico. 310 Gráfico 6.12 Pari E Fonte: elaborado por Débora Sanches, 2014 O gráfico 6.12 representa a síntese da avaliação do processo de viabilização inicial com equílibrio mediano nas ações com discordância de 33,33% e 33,33% na questão sobre a particiapação das famílias nos estudos iniciais. Em relação ao projeto que não foi realizado de forma participativa, 50,00% é indireferente e 33,33% dicorda, como consequencia 50,00% é indiferente em relação à linguagem do projeto e 16,67% discorda. No pós-uso da moradia digna, visualiza-se negativo nas ações em relação aos seguintes aspectos mais significativos: o movimento de moradia ou associação de moradores não acompanham as famílias no pós morar, 50,00% discordou com a frase colocada e 16,67% é indiferente. Outro aspecto: 100% afirmam que não existem atividades para as crianças. Percebe-se o desequilíbrio do empreendimento a partir da discordância representada pela linha azul e a indiferença pela linha vermelha, consequentemente, a linha verde está mais próxima do centro do gráfico. 311 Na comparação dos quatro gráficos empreendimentos realizados de forma participativa nota-se que os o mutirão Celso Garcia e Santa Cecília A, os gráficos estão equilíbrados com a linha verde próxima da concordância e as linhas vermelha e verde próximas do centro do gráfico. Nos outros dois casos Bom Retiro C e Pari E que não foram realizados de forma participativa, os gráficos apresentam irregularidade nas três linhas. Assim, com os resultados da síntese acima, a tese defendida por esta pesquisa comprova que os empreendimentos desenvolvidos com processo participativo em suas diferentes fases – desde a inicial até no pós-morar - apresentam melhores resultados qualitativos quanto ao envolvimento e apropriação da moradia digna pelos moradores. 312 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo desta pesquisa, buscou-se apresentar a importância do processo de viabilização do projeto realizado de forma participativa com os futuros moradores de habitação social em interface com as assessorias técnicas para a conquista da moradia digna. A tese defendida procurou comprovar que os empreendimentos desenvolvidos com processo participativo em suas diferentes fases desde a mobilização ainda na moradia precária em busca do direito à moradia e à cidade, até o pós-morar - apresentam melhores resultados qualitativos quanto ao envolvimento e à apropriação da moradia digna pelos moradores. Salienta-se que não foi intenção desta pesquisa discorrer em detalhes sobre o método de projeto participativo adotado por cada equipe e, sim discutir em que medida o envolvimento dos futuros usuários do empreendimento foi determinante para a apropriação e, consequente, conquista da moradia digna no decorrer do processo de projeto que pressupõe distintas fases: da concepção ao pós-uso do empreendimento. 313 Por se tratar de estudo sobre processo participativo para a produção de habitação social, tendo como foco as políticas públicas e programas para a produção habitacional na área central de São Paulo, com a participação dos movimentos de moradia e apoio técnico das assessorias técnicas, identificou-se o percurso histórico de experiências internacionais que influenciaram os processos brasileiros. As referências internacionais buscaram corroborar com as críticas ao CIAM, aos postulados do Movimento Moderno e aos grands ensembles (grandes conjuntos habitacionais construídos na periferia das cidades), o Team X e outros profissionais resgatam valores da cidade tradicional e, a partir de algumas experiências práticas, valorizam o indivíduo, as relações de vizinhança e a prática de projetos participativos. Destacam-se as referências internacionais como de Alison e Peter Smithson e Giancarlo de Carlo do grupo Team X, que criticaram o Movimento Moderno e apresentaram propostas alternativas de produção habitacional. Hassan Fathy, Christopher Alexander e John Turner valorizam a democratização da arquitetura com a construção de moradias aos setores pobres necessidades dos moradores e, da sociedade, sobretudo, na a partir valorização das da construção de habitações com materiais da região, na autogestão e na assistência técnica participativa e discutida com os habitantes. Também apresentam o papel do arquiteto e a crítica ao ensino de arquitetura - distante da realidade - e o apoio técnico na busca pelo direito à cidade e ao processo da produção da cidade e da arquitetura. 314 Charles Abrams foi estudioso pioneiro em relação à tributação de terras ociosas, acreditava nas centralidades espontâneas, na evolução econômica da população sem financiamento externo e na progressiva melhoria das condições de vida. Na mesma direção, o direito à cidade e à moradia digna são princípios defendidos pioneiramente pelas Nações Unidas em 1948. Jacobs (1961), Lefebvre (1968) e Castells (1972) apresentam suas teorias e conceitos para o estudo de uma cidade mais justa, valorizando a participação da população no processo. Destaca-se o papel do arquiteto e a crítica ao ensino de arquitetura - distante da realidade - o apoio técnico na busca pelo direito à cidade e ao processo da produção da cidade e da arquitetura. As analogias entre essas referências estão presentes na democratização da arquitetura com a construção de moradias aos setores pobres da sociedade, a partir das necessidades dos moradores e, sobretudo, na valorização da construção de habitações com materiais da região, na autogestão e na assistência técnica participativa e discutida com os habitantes. O projeto participativo, o processo SAAL de Portugal que aconteceu de 1974 a 1976, sob responsabilidade do arquiteto Nuno Portas, foi uma das importantes experiências internacionais que teve forte interlocução com o Brasil. No âmbito de uma conjuntura histórica naquele país, similar ao que ocorreu em São Paulo nos anos de 1980, abriu-se importante espaço de debate a partir das proposições apontadas pela luta dos movimentos sociais pelo direito à cidade e pelas novas formas de intervenção do Estado. A metodologia do trabalho que integrava o processo participativo de técnicos e moradores no planejamento, projeto e construção foi pioneira. 315 Aprofundar a experiência do SAAL foi fundamental, pois contribuiu com a reflexão sobre a importância do desenvolvimento de políticas públicas de habitação social com abordagem democrática e integrada à comunidade. O legado do SAAL também produziu a compreensão do papel social do arquiteto no debate para a consciência política e cultural da arquitetura. Acredita-se que a experiência do processo SAAL, posteriormente retomada nas cooperativas habitacionais de Portugal e, recentemente, no programa BIP/ZIP (Bairros e Zonas de Intervenção Prioritária de Lisboa)169, traz elementos essenciais da participação na constituição de políticas públicas em Portugal, tornando-se uma referência imprescindível para programas públicos habitacionais a serem desenvolvidos no Brasil e em outros países carentes de moradia digna. No contexto nacional, a pesquisa identificou as origens dos movimentos sociais de moradia da área central de São Paulo, importante referência nacional, que reivindicavam o acesso aos direitos à cidade, à habitação e a luta pela Reforma Urbana, e também verificou as raízes das assessorias técnicas no Brasil. A urbanização acelerada das cidades brasileiras decorre do intenso êxodo rural que deflagrou um conjunto de problemas ligados à moradia e infraestrutura até então carentes de políticas públicas. A trajetória de luta pela Reforma Urbana na década de 1960 é marcada pelo período em que os segmentos progressistas da sociedade reivindicavam reformas estruturais. 169 O BIP/ZIP criado pela Câmara Municipal de Lisboa, surge no Programa Local de Habitação (PLH), como um instrumento de política pública municipal que visa dinamizar parcerias e pequenas intervenções locais de melhoria dos “habitats” abrangidos, através do apoio a projetos locais que contribuam para o reforço da coesão sócio territorial no município. 316 As experiências da Favela Brás de Pina com Carlos Nelson Ferreira dos Santos e, posteriormente, as Assessorias Técnicas nos cursos de Arquitetura refletem a construção metodológica de um apoio técnico ao direito à cidade e à moradia digna. O projeto participativo realizado por Assessorias Técnicas surge com o propósito de fortalecer os movimentos sociais e fornecer apoio técnico às comunidades carentes de moradia digna através de plano de urbanização de favela, nos projetos de habitação social, ente outros. Auxiliando também com o saber técnico no diálogo com os técnicos do poder público. Com a redemocratização no Brasil a partir de 1985 e após a Constituição Federal de 1988, os muncípios adquirem autonomia, passando a ser responsáveis pela política urbana e assumem o atendimento das demandas de habitação. A gestão municipal de Luiza Erundina (1989 a 1992) em São Paulo é considerada uma das referências mais significativas da prática de uma política habitacional a partir de um trabalho coletivo, na perspectiva da melhoria da qualidade e do menor custo da produção habitacional social, desenvolvido entre comunidades, movimentos sociais de moradia, assessorias técnicas e a vontade política, que mostrou ser possível avançar na conquista do direito à cidade e da habitação. Utilizando terrenos para a produção habitacional dotados de infraestrutura urbana, os futuros moradores, através de uma associação de moradores, administram a autogestão com mutirão. Tendo como recorte temporal o período de 1990 a 2012, a pesquisa fez um breve relato das políticas públicas e programas habitacionais destinadas à população de menor renda para a área central de São Paulo, aprofundando principalmente os programas considerados referências: Programa de Habitações Populares da Região Central de São Paulo, constituído pela Produção de Habitação 317 de Interesse Social e o Programa de Recuperação de Cortiços da gestão municipal de 1989 a 1992. Tal análise permitiu constatar que a metodologia dos projetos de habitação social desenvolvidos de forma participativa com autogestão possue semelhanças com as experiências de Hassan Fathy, Christopher Alexander, John Turner, Carlos Nelson Ferreira dos Santos, Nuno Portas e Luiza Erundina. A produção habitacional tem resposabilidade tripartite: Estado, apoio técnico e comunidade. Constata-se que os movimentos de moradia, no período analisado, contaram com o apoio técnico de Assessorias Técnicas que forneceram estudos de viabilidade técnica, principalmente para os imóveis vazios para serem reabilitados em habitação social. Exerceram também papel fundamental na interlocução e no diálogo técnico entre a população e os funcionários do setor público, muito embora a Lei de Assistência Técnica Pública e Gratuita (Lei Federal nº 11.888) instituída em 2008, ainda tenha pouca efetividade. Na análise dos empreendimentos de habitação social na área central do município de São Paulo, produzidos pelo poder público entre 1990 a 2012, a pesquisa desenvolveu um inventário inédito e encontrou 38 empreendimentos, realizados no âmbito de quatro programas governamentais, com 3734 unidades habitacionais, sendo 2673 de unidades habitacionais para construção nova e 1061 de unidades Retrofit. O número total de unidades habitacionais, 3734, representa uma quantidade significativa de habitação em área central em relação a outras cidades brasileiras. Fato atribuído a uma articulação do governo municipal com os governos do estado e federal que desencadeou de forma mais efetiva a construção de habitação social entre os anos de 2000 a 2007. 318 Nota-se a inserção de 21 dos empreendimentos, representado 55,26% do total, dentro da área de ZEIS definidas no Plano Diretor Estratégico de 2002 (Lei 13.430) ou muito próximas ao seu perímetro. Contudo, percebe-se pelo ano de mobilização inicial dos empreendimentos que a maioria dos processos começou antes da delimitação da ZEIS de 2002. Em relação à localização dos empreendimentos nos distritos centrais o Pari apresenta o maior número de empreendimentos, 7 no total, e conjuntamente com o Bom Retiro, com 4, apresentam os empreendimentos com a concentração das tipologias de origem que são de cortiços que foram demolidos e no mesmo local existe construção nova de habitação social. Nota-se que são empreendimentos a partir do programa PAC/BID do governo estadual cujos cortiços foram indicados através da parceria com o governo municipal. Neste sentido, verifica-se que a quantidade de obras concluídas de habitação social em 2004, nove no total, é fruto da articulação entre os governos municipal, estadual e federal com seus respectivos programas para a produção de habitação social na área central. No tocante aos edifícios vazios que passaram por retrofit para transformação em habitação social, há uma maior concentração nos distritos República (5), Sé (3), Belém (2), Santa Cecília (2) e Bela Vista (1). A maioria os edifícios vazios da área central estão nos distritos Sé, República e Santa Cecília. Do conjunto de empreendimentos construídos, 24 foram projetados por escritório de arquitetura convencional e 14 tiveram projetos desenvolvidos por assessoria técnica. Percebe-se que entre 2000 e 2004 há uma concentração de processos participativos realizados por assessorias técnicas na área central, dos quais 15 319 empreendimentos construídos neste período, 11 são projetos participativos. Em relação ao tipo de construção e a autoria do projeto, a pesquisa indicou 17 de construção nova, que foi realizada por escritório de arquitetura convencional e 8 por assessoria técnica. O tipo retrofit é representado por 7 de escritórios de arquitetura convencional e 6 de assessorias técnicas. Os projetos realizados pelo Governo do Estado são em sua maioria desenvolvidos por escritórios convencionais de arquitetura. Verifica-se que a partir de 2008 não há nenhuma obra concluída com projeto realizado por assessorias técnicas, ou seja, sem a participação da população no desenvolvimento do processo de projeto. A média do tempo do início do processo desde a mobilização até a conclusão da obra, com as informações de 20 empreendimentos que a pesquisa conseguiu encontrar a data do início de mobilização, encontra-se em 9,05 anos. Reforça a importância da participação dos movimentos de moradia ao longo destes anos, que acompanham as famílias neste longo processo, pois são esses atores que insistem na concretização destes empreendimentos de habitação social com apoio das assessorias técnicas, pressionando o poder público, participando também na defesa da reforma urbana e na concretização e implementação de instrumentos urbanísticos para a conquista de uma cidade mais justa e equilibrada. Outro aspecto importante a salientar é sobre a participação dos movimentos de moradia do centro da discussão e na elaboração do Plano Diretor de 2002, principalmente na demarcação das ZEIS 3 de 2002, que contou com ajuda de apoio técnico através das assessorias técnicas, para mapear as potencialidades de reserva de imóveis vazios na área central para futura produção de habitação social. 320 Do conjunto de empreendimentos analisados 13 passaram por retrofit e são habitação social com densidade líquida de 3.812 hab/ha, ou seja alta densidade. Percebe-se que eram prédios com outros usos e com coeficiente de aproveitamento superior aos permitidos pela legislação atual. Na subdivisão em unidades habitacionais com pouca dimensão chega-se a alta densidade líquida. Futuras pesquisas devem aprofundar esta indicação. Em relação à tipologia de construção nova, condomínios que foram edificados com prédios com muitos pavimentos (acima de 14 andares) e são isolados no lote com grande número de habitantes (acima de1000 habitantes) e uso de elevador, a densidade líquida média encontrada foi de 1419 hab/ha. Na tipologia de origem com os cortiços que foram demolidos e no mesmo local existe construção nova há a densidade média líquida de 1270 hab/ha. Condomínios que foram edificados com prédios em terreno vazio sem uso de elevador, a média da densidade líquida é 1037 hab/ha. Condomínios que foram edificados com prédios em terreno vazio próximo a área de favela (único exemplo é a antiga favela do gato) já apresenta a densidade média líquida de 660 hab/ha. Em seguida, para demonstração da tese, optou-se por realizar um estudo exploratório que mensurou o grau de envolvimento e apropriação dos moradores com os projetos realizados com ou sem a participação entendimento dos da moradores. importância A do partir das processo fases/ações de e efetivação o do empreendimento de habitação social na área central, com a ótica do direito à cidade, utilizou-se o método de Likert para realizar as entrevistas com os moradores dos empreendimentos, para aferir o grau de envolvimento dos moradores, tanto no processo inicial como no processo pós-uso. Nas duas fases foram identificadas as seguintes ações: 321 PROCESSO INICIAL: mobilizar, viabilizar, projetar, construir e morar; PROCESSO PÓS-USO: qualificar/realizar, relacionar/integrar e satisfazer. Incialmente, a pequisa de campo aplicou questionário em diversos empreendimentos e posteriormente, analisou quatro estudos de caso - dois com projetos participativos (Mutirão Celso Garcia e Santa Cecília A) e dois sem projetos participativos (Bom Retiro C e Pari E) - para aprofundar a temática, verificar o processo nas duas fases e comprovar a hipotese central da pesquisa. Os resultados indicam os seguintes aspectos: A ação mobilizar envolve o moradores enquanto estes habitam de forma precária, onde a participacão de uma associação de moradores ou do movimento de moradia é fundamental para a conscientização dos direitos e deveres como cidadão e para a conquista da moradia digna. Destacamse os empreendimentos em que o projeto foi realizado de forma participativa, através das assessorias técnicas e que são exemplos os casos do mutirão da Celso Garcia e Santa Cecília A. Em relação ao aprendizado na convivência com as famílias que reflete na organização do futuro condomínio, percebe-se que nos empreendimentos que foram desenvolvidos de forma participativa, através das assessorias técnicas, o reflexo da convivência é observado na gestão condominial, através da manutenção das áreas comuns, a partir da apropriação dos moradores. Também no envolvimento e atuação do 322 representante do condomínio - Santa Cecília A e Mutirão Celso Garcia - nota-se a diferença, bem como nas respostas do questionário. Já nos projetos sem a participação dos moradores - Bom Retiro C e Pari E – apenas metade dos moradores concordaram com a afirmação. A ação viabilizar do futuro empreendimento é importante para as famílias participarem desenvolvimento do da futuro escolha projeto. do imóvel Nota-se para um o maior envolvimento dos moradores nos projetos realizados de forma participativa, através das assessorias técnicas (Mutirão Celso Garcia e Santa Cecília A). As reuniões com o poder público com o apoio técnico das assessorias técnicas são fundamentais para ajudar na viabilização do empreendimento. A ação projetar, o desenvolvimento do projeto final, a linguagem tem que ser de fácil entendimento para as famílias com desenhos e maquetes como as realizadas no mutirão Celso Garcia e Santa Cecília A. Percebe-se que nos dois casos as famílias têm consciência que para viabilizar os empreendimentos o tamanho da unidade habitacional precisa ser reduzido, de modo que haja maior quantidade de unidades e o empreendimento passe a ser viável financeiramente. As lideranças da associação de moradores ou movimento de moradia representam os desejos das famílias nas reuniões com o poder público. A ação construir, os moradores concordam com a importância do acompanhamento das obras tanto pelos autores do projeto como para as famílias. Nesta fase, a associação de moradores ou movimento de moradia realizam reuniões e encontros com 323 as famílias para ensinar como morar em condomínio e fazer trabalho social no período das obras. Isso é notado principalmente nos projetos realizados de forma participativa. Nas ações morar e habitar a partir da conquista da moradia digna, a qualidade de vida e a autoestima melhoraram em relação ao emprego e aos estudos, a gestão condominial e a manutenção das áreas comuns são boas, destacam-se nos casos com os projetos realizados de forma participativa mutirões Celso Garcia e Santa Cecília A. Nota-se na fala dos representantes o orgulho de ter participado de todo o processo, moradores originais foram encontrados contando a história do processo e o orgulho de ter participado do mesmo. Nas ações realizar e qualificar os movimentos de moradia ou associações de moradores acompanham as famílias no pós morar, bem como nas atividades do empreendimento sobre a conscientização sobre direitos e deveres do cidadão e nas atividades com as crianças e adolescentes para ajudar na educação, principalmente nos projetos realizados de forma participativa no mutirão Celso Garcia e Santa Cecília A. Muitas famílias ainda fazem parte do movimento. Assim, nota-se o acompanhamento às famílias em todo o processo. Nas ações integrar e relacionar, os empreendimentos são integrados com o entorno e o bairro, bem como, as relações de vizinhança são positivas, principalmente nos projetos realizados de forma participativa no Mutirão Celso Garcia e Santa Cecília A. A respeito da localização em relação aos serviços, 324 equipamentos públicos, emprego e estudos são extremamente positivas. A ação satisfazer, relaciona-se com os moradores que estão satisfeitos com o projeto do empreendimento geral e o apartamento adequado às necessidades da família, nota-se principalmente nos projetos realizados de forma participativa mutirão Celso Garcia e Santa Cecília A. Os reflexos são demonstrados na grande maioria dos moradores que se sentem com a “obrigação” de ajudar outras famílias a conqusitarem a moradia digna. A rotatividade de moradores nos empreendimentos é um indicador importante a ser verificado na apropriação e envolvimento dos moradores. Ressalta-se que nos empreendimentos realizados de forma participativa, há pouca troca de moradores. Já nos casos que não foram desenvolvidos de forma participativa, verifica-se a venda de apartamentos de forma ilegal, o que pode ter como causa a falta de envolvimento e apropriação dos moradores. Os estudos de caso e a metodologia adotada para verificar as fases do processo inicial e pós-uso buscaram demonstrar as diferenças entre os processos realizados de forma participativa e sem a participação dos moradores. Assim sendo, confirma-se a hipótese demonstrada nesta tese de que os processos de viabilização de projetos de habitação social na área central de São Paulo realizados de forma participativa contribuem para um maior envolvimento e apropriação pelos moradores no empreendimento. A pesquisa indicou que projetos de habitação social para a área central que tiveram a participação social em todas as fases do processo apresentam maior grau apropriação e envolvimento dos moradores. Neste contexto destaca-se a importância dos movimentos 325 sociais de moradia no acompanhamento de todo o processo com apoio técnico das assessorias técnicas. • Vale ressaltar que o caminho de concepção da pesquisa é acompanhado de uma síntese sobre o percurso da produção pública de habitação social na área central, o papel dos movimentos sociais e sua interlocução com as Assessorias Técnicas na conquista pelo direito à cidade. Por fim, é necessário refletir sobre as perspectivas futuras da política habitacional de São Paulo de modo a valorizar a participação da população em integração com o poder público e as Assessorias Técnicas em todas as fases do processo de projeto - desde a fase inicial, quando ocorre a organização da comunidade, passando pela concepção do projeto à fase do pós-uso dos empreendimentos. Defende-se que somente com participação efetiva dos futuros usuários no processo de projeto é que se garantirá uma maior apropriação dos empreendimentos pelos moradores no pós uso, sendo este um importante caminho para a conquista da moradia digna. 326 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABASCAL, Eunice H. S.; BRUNA, Gilda C.; ALVIM, Angélica B. Modernização e modernidade: algumas considerações sobre as influências na arquitetura e no urbanismo de São Paulo no início do século XX. Arquitextos, São Paulo, ano 08, n. 085.05, Vitruvius, jun. 2007. Disponível em http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.085/240. Acesso em jan. de 2015. ABRAMS, Charles. Habitação, Desenvolvimento e Urbanização. Tradução Alexandre Lissovsky. Rio de Janeiro: O Cruzeiro, (1964), 1967. ACIOLY, Claudio; DAVISON, Forbes. Densidade urbana: um instrumento de planejamento e gestão urbana. Rio de Janeiro: Mauad, 1998. ALEXANDER, Cristopher. Notes on the synthesis of form. 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