Intertexto – Bertold Brecht (1898-1956) Primeiro levaram os negros Mas não me importei com isso Eu não era negro Mas entre os oprimidos muitos há que agora [dizem Aquilo que nós queremos nunca mais o [alcançaremos Quem ainda está vivo não diga: nunca O que é seguro não é seguro As coisas não continuarão a ser como são Depois de falarem os dominantes Falarão os dominados Quem pois ousa dizer: nunca De quem depende que a opressão prossiga? De [nós De quem depende que ela acabe? Também de [nós O que é esmagado que se levante! O que está perdido, lute! O que sabe ao que se chegou, que há aí que o [retenha E nunca será: ainda hoje Porque os vencidos de hoje são os vencedores [de amanhã! Em seguida levaram alguns operários Mas não me importei com isso Eu também não era operário Depois prenderam os miseráveis Mas não me importei com isso Porque eu não sou miserável Depois agarraram uns desempregados Mas como tenho meu emprego Também não me importei Agora estão me levando Mas já é tarde. Como eu não me importei com ninguém Ninguém se importa comigo. NADA É IMPOSSÍVEL MUDAR – Bertold Brecht Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual. Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar. Elogio da Dialética – Bertold Brecht A injustiça avança hoje a passo firme Os tiranos fazem planos para dez mil anos O poder apregoa: as coisas continuarão a ser [como são Nenhuma voz além da dos que mandam E em todos os mercados proclama a exploração; isto é apenas o começo Quando em teu colo deitei a cabeça -Walt Whitman (1819-1892) Quando em teu colo deitei a cabeça, meu [camarada, a confissão que fiz eu reafirmo, o que eu te disse e a céu aberto eu reafirmo: sei bem que sou inquieto e deixo os outros também assim, eu sei que minhas palavras são armas carregadas de perigo e de morte, pois eu enfrento a paz e a segurança e as leis mais enraizadas para as desenraizar, e por me haverem todos rejeitado mais resoluto sou do que jamais poderia chegar a ser se todos me aceitassem, eu não respeito e nunca respeitei experiência, conveniência, nem maiorias, nem o ridículo, e a ameaça do que chamam de inferno para mim nada é, ou muito pouco, meu camarada querido: eu confesso que o incitei a ir em frente comigo e que ainda o incito sem a mínima idéia de qual venha a ser o nosso destino ou se vamos sair vitoriosos ou totalmente sufocados e vencidos. -1Projeto Abraço Sem Medo: Leitura e Cidadania na Penitenciária Industrial de Cascavel