Teatro épico “Felizmente Há Luar!” Definição • O teatro épico diz respeito a um teatro didáctico que procura uma distanciação entre personagem e espectador para que este seja capaz de reflectir e apreender a lição social proposta. Este conceito é apontado, por volta de 1926, pelo poeta e dramaturgo alemão Bertold Brecht (1898-1956), que opõe ao teatro clássico e tradicional, um teatro narrativo que em vez de suscitar emoções e sentimentos desperta uma atitude crítica. Bretch Além de dramaturgo e director, Brecht foi responsável por aprofundar o método de interpretação do teatro épico, uma das grandes teorias de interpretação do século xx. Uma das grandes influências no desenvolvimento desta forma de interpretação foi a arte do actor Mei Lan-Fang, que Brecht acompanhou numa representação em Moscou. Descreve Brecht em “Escritos sobre Teatro” um relato deste actor chinês que informa muito sobre a forma de interpretação no teatro épico, ao representar papéis femininos. Brecht sublinha que o actor chinês não pretendia andar e chorar como uma mulher, mas como uma determinada mulher. Interpretação épica No início de sua carreira, Brecht estabelece os elementos de uma nova forma de interpretação para o actor. A propósito dos critérios de apreciação da arte dramática, defende o actor Peter Lore de críticas negativas dizendo que uma interpretação gestual levará o público a exercer uma operação crítica do comportamento humano. Afirma que cada palavra deve encontrar um significado visual e através do gesto o espectador pode compreender as alternativas da cena. Peixoto descreve que para Brecht, a interpretação gestual deve muito ao cinema mudo, principalmente a Chaplin, que elaborara uma nova forma de figuração do pensamento humano. Esta preocupação levará a que Brecht defina o conceito de gestos na interpretação e montagem das suas peças. Influências Conforme destaca Jameson, algumas das inovações propostas pela cena brechtiana são similares àquelas propostas por importantes artistas modernistas no teatro ou em outras artes. Destacam-se entre eles a dramaturgia de Frank Wedekind, influência reconhecida pelo próprio Brecht, o romance Ulysses, de James Joyce, as propostas cubo-futuristas ou construtivistas no cinema de Sergei Eisenstein, os procedimentos de colagem nos trabalhos de Picasso. Willet reforça o aspecto da construção narrativa: com Brecht os mesmos princípios de montagem espalham-se ao teatro pois a forma narrativa do teatro épico seria mais adequada para se lidar com temas socio-económicos, evidenciando Willet que a montagem foi a técnica estrutural mais natural na prática artística brechtiana. Principal Objectivo Fazer com que o público reflicta e analise criticamente os dados que lhe são fornecidos. Procura na História, no passado, um acontecimento que apresente pontos de contacto com o presente, e dramatiza-o de forma épica. Ao relatar determinados eventos pretende-se envolver o espectador que se torna uma testemunha activa. Ser activo implica tomar uma posição, julgar não apenas aquilo que está a ser representado, mas a sociedade em que o espectador se insere. Pelo desmontar minucioso do passado, convida-se o espectador a assumir uma postura crítica relativamente ao presente. Características 1) Técnica do Distanciamento Histórico – Propõe um afastamento entre o actor e a personagem e entre o espectador e a história narrada, para que, de uma forma mais real e autêntica, possam fazer juízos de valor sobre o que está a ser representado. Embora nem sempre o processo teatral consiga evitar uma certa adesão sentimental entre personagens em palco e público, este tipo de teatro não pede ao espectador que se emocione com o actor, mas antes que se mantenha distante pela força do raciocínio. Estuda-se o comportamento humano em determinadas situações, levando o público a tomar consciência de que tudo pode e deve ser modificado, exigindo dele a tomada de decisões. 2) Técnicas que contribuem para o efeito de distanciamento: - substituição da representação pela narração; - utilização de cenários e montagens simples; - uso de máscaras, projecções, letreiros, etc. 3)O teatro épico tem incontestavelmente uma função social, que conduz o espectador a uma apreciação crítica, não apenas do que está a ser representado, mas também da sociedade em que se insere. O distanciamento causa uma «espécie de alienação», desviando, assim, o público do caso narrado. Logo, uma vez não identificado com o mundo cénico, vê de fora a sua própria situação social reflectida no palco. “Felizmente Há Luar” Elementos do Teatro Brechtiano em “Felizmente Há Luar!”: Presença do elemento narrativo – o desenrolar dos acontecimentos históricos vai sendo contado através do discurso das personagens, na terceira pessoa, com uma objectividade bem determinada. Simultaneamente, a narração dos factos procura situar-nos no contexto espácio-temporal da acção. O autor procura retirar quaisquer elementos que possam apelar ao sentimento, cortando os elos de ligação de empatia entre actores e espectadores, dado que o seu objectivo é que captem a mensagem pela razão. As próprias personagens, em algumas cenas, são posicionadas em palco pelo actor, deliberadamente para cortar qualquer empatia que se possa gerar entre actores e público. Todas as informações paralelas ao texto procuram orientar o espectador na acção, fazê-lo participar, torná-lo um interveniente consciente e não iludido por uma representação. Os elementos cénicos participam também como discursos narrativos na representação dramática. Esta é uma técnica do teatro brechtiano para criar o efeito de distanciação. Trabalho realizado por: Barbara Branquinho Marlene Marta Ribeiro Catia Santos