Boletim Informativo da FDTE - Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico da Engenharia Março/2015 Ano 3 Nº 13 Projeto Bolsistas farão pesquisas e pós-graduação na área de gás natural pág. 3 Acontece na Poli Ciência na Esfera, nosso planeta visto do espaço pág. 4 Equipe Keep Flying representa a Poli na SAE Brasil Aerodesign pág. 5 Educação Poli Cidadã oferece disciplinas e faz novas parcerias pág. 6 Crianças aprendem a jogar Capoeira na Poli pág. 7 O Que Estou Lendo As sugestões de leitura de Ubiraci Espinelli de Souza pág. 8 www.fdte.org.br CRISE DA ÁGUA EXIGE CORAGEM DE UM ESTADISTA de extensão, permitindo acesso à José Walter Merlo* uma estrada paralela. Um túnel “O problema da falta d’água em São vertical bombearia a água para um Paulo é grave; uma crise anunciada reservatório intermediário e outro que poderia acontecer. Faço aqui um túnel levaria água ao reservatório breve histórico de quando pude parda região de Paranapiacaba. O reticipar como engenheiro, tanto como servatório nº 3, da Cota 30 teria 8 vice-presidente executivo da Cesp Km², o nº 1, intermediário, 2 Km², e como presidente da Eletropaulo. Em o de nº 2, na Cota 900, teria 16 Km². 1980, o Departamento de Água e Os túneis totalizariam 34 km com Energia Elétrica do Estado de São Pau7,5 m a 9 m de diâmetro. A casa de lo (DAEE) fez um estudo para trazer a força teria seis geradoras com caágua do Vale do Ribeira à região metropacidade de 250 megawatts cada, politana de São Paulo. A Cesp participou do trabalho porque tinha interesse em José Walter Merlo: grandes pro- totalizando 1.500 megawatts e poconstruir uma usina reversível no Esta- blemas exigem grandes soluções deria trazer até 80 m³ por segundo de água para São Paulo. Nestas do, que é um acumulador de energia gerada por outras usinas. Como a Cesp tinha grande capa- condições o impacto ambiental seria mínimo. cidade geradora, entendíamos que uma usina reversível na região de São Paulo seria importante para manter a esta- Deste modo, teríamos um reservatório em São Paulo para bilidade, atender a demanda de ponta e aumentar a con- distribuir energia e água, e ainda uma reserva de 1.500 fiabilidade do sistema. Foram estudados vários locais na megawatts para funcionar de quatro a cinco horas por dia Serra do Mar e a Cesp chegou a pedir ao Governo Federal no período de pico de uso de energia. O bombeamento da a concessão para três usinas reversíveis, mas nenhuma foi água da barragem do Rio Juquiá seria durante a noite, nas horas de menor consumo. Este é o projeto que foi submeconstruída. tido a várias autoridades estaduais, que bancos internacioQuando a questão da água já se avizinhava como crítica foi nais estavam dispostos a financiar, mas infelizmente não feito um estudo com o intuito de aproveitar a água do Vale saiu do papel. do Ribeira, associando abastecimento de água e energia, construindo uma barragem no Rio Juquiá, no pé da Serra. Neste modelo o reservatório de Juquiá ficaria a 70 quilômeUm túnel de adução levaria a água até a casa de força sub- tros do litoral e usaria uma água limpa que se perde no mar. terrânea na Cota 30 da usina reversível, e desta, um túnel Se trouxéssemos 80 m³ por segundo, o dobro da Cantareivertical levaria a água até a Cota 900, de onde seria distri- ra, ainda teríamos a grande vantagem de que este volume buída para São Paulo, por gravidade. Caso todo o sistema de água ao descer o Rio Tietê ajudaria a gerar mais energia de distribuição de energia de São Paulo fosse cortado, a nas usinas já existentes. Cesp teria no centro de carga uma usina da ordem de 1,5 milhão de quilowatts, que atenderia a demanda por 3 ou O projeto não foi aceito, acredito, por falta de um adminis4 dias. Este projeto da década de 1980 tinha impacto am- trador com visão de estadista. Não é crítica, mas a realidade é que hoje está se gastando US$ 1 bilhão para trazer 4,7 m³ biental razoável na região do Vale do Ribeira. por segundo de água em obra emergencial, sendo que este No início de 2000, a Isoterma, do empresário Og Pozzoli, projeto traria mais que o dobro da capacidade do sistema se interessou pelo projeto e minimizou o impacto am- Cantareira, e custaria US$ 2 bilhões. O governo estadual, biental, substituindo barragens por túneis. O novo proje- controlador da Cesp e da Sabesp, poderia dar o aval e deto foi apresentado ao governador do Estado em 2003. Em terminar que essas empresas se unam em parceria públiconovembro deste mesmo ano foi realizado um seminário privada e se empenhem na realização deste projeto, que no Instituto de Engenharia, quando o aproveitamento ainda iria gerar investimentos e empregos numa das regiões das águas do Vale da Ribeira foi recomendado. Em 2012 mais pobres de São Paulo. Grandes problemas exigem graneste projeto voltou a ser apresentado ao governo estadu- des soluções e esse é o desafio que temos pela frente.” al como solução para os próximos 40 anos, podendo ser implantado em cinco ou seis anos. Previa um reservatório *José Walter Merlo – 78 anos – Engenheiro Eletricista forna Cota 30, no pé da Serra do Mar e um túnel de adução mado pela Poli, ex-vice-presidente da Companhia Energética levaria água pela ação da gravidade para a casa de má- de São Paulo (Cesp), ex-presidente da Eletropaulo e membro quinas substerrânea, que teria também um túnel de 7 km do Conselho Deliberativo do Instituto de Engenharia. EDITORIAL A corrupção e a engenharia De forma equivocada, muitos associam o que ora ocorre à engenharia. E este sentimento pode envergonhar os alunos que há bem pouco tempo sentiam orgulho de estudar engenharia numa das melhores escolas do Brasil. André S. Gertsenchtein O Brasil vive crise inédita – ao menos para a geração que hoje ocupa os bancos escolares. Todos os dias os depoimentos dos envolvidos na operação Lava Jato trazem à tona mais fatos envolvendo grandes contratos de execução de obras de infraestrutura. A Engenharia, entretanto, não é isso. Engenharia é a arte de aplicar tecnologia em benefício do cidadão. É o desenvolvimento de materiais, sistemas e métodos construtivos mais eficientes, acessíveis e sustentáveis. É uma grande oportunidade de colaborar com uma sociedade melhor e com a redução das desigualdades. A sociedade, com a paciência esgotada, aplaude o trabalho da Polícia Federal no desbaratamento de quadrilhas nos setores público e privado. A desonestidade hoje exposta só está ligada à infraestrutura porque se trata de área com expressivo movimento de recursos – o que atrai aqueles cujo objetivo é o desvio destes recursos. A sociedade brasileira tem lutado para expurgar de seu meio as práticas desonestas, em franco processo de amadurecimento. Dolorido, claudicante, mas incontroverso, para quem observa período mais longo da história. E o que a engenharia tem a ver com a corrupção? Nada. Tornou-se alvo circunstancial dos corruptos. Apenas isso. Finalmente, é preciso “povoar” nosso meio com bons engenheiros – e engenheiros éticos. Nesse sentido, os fatos recentes só aumentam a importância da Escola Politécnica da USP (Poli-USP) como responsável pela formação – profissional e ética – das novas gerações de engenheiros dos quais haveremos de nos orgulhar. Educação PROGRAMA PRÉ-IC APRESENTA RESULTADOS O estudante João Pedro Milagres, aluno da Escola Estadual Santo Dias da Silva, foi um dos 80 selecionados no vestibular da Fatec – Faculdade de Tecnologia de São Paulo – para o curso de Construção Civil – Edifícios. No ano passado ele foi um dos integrantes do programa de Pré-Iniciação Científica – Pré-IC da Poli, Escola Politécnica da USP, que conta com o apoio da FDTE. 2 O Pré-IC oferece a alunos do ensino médio público, durante o ano letivo, a oportunidade de complementar sua formação pessoal, aprimorar conhecimentos, realizar pesquisas científicas e conviver no ambiente universitário. Vejas as ações do programa no site: www.fdte.org.br O Pré-IC começou em outubro de 2008, quando os laboratórios da USP foram abertos para 400 alunos do ensino médio de escolas públicas. Em 2010 foi criado o Poli Pré-Iniciação Científica, por iniciativa do professor Diolino José dos Santos Filho, do departamento de Mecatrônica da Poli, junto com os professores Edvaldo Simões da Fonseca Júnior, do departamento de Engenharia de TransporJoão Pedro Milagres tes, Mércia Semensato Bottura de Barros, do departamento de engenharia de Construção Civil, Osvaldo Shigueru Nakao, do departamento de engenharia de Estruturas e Geotécnica e Cheng Liang Yee, do departamento de engenharia de Construção Civil. A partir daí os alunos começaram a ser preparados para ler textos, receber noções do método científico, visitar museus e a desenvolver projetos utilizando os conhecimentos adquiridos. Projeto BOLSISTAS FARÃO PESQUISAS E PÓS-GRADUAÇÃO NA ÁREA DE GÁS NATURAL O convênio de bolsas de estudos celebrado entre a Universidade de São Paulo (USP), Imperial College, a Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico da Engenharia (FDTE) e a BG Brasil – antiga British Gas – irá fornecer bolsas de estudos em gás natural em três grandes temas: Engenharia; Físico-química e Economia e Política Energética. Uma das pesquisas em Físico-química visa desenvolver células de combustível, que possibilitam transformar o gás natural em energia elétrica. No total são 25 bolsas, sendo oito na modalidade de doutorado sanduíche, onde o aluno fica dois anos no Brasil e dois anos no Imperial College; oito de doutorado integral no Imperial College; quatro de doutorado de dupla titulação, envolvendo alunos do programa de pós-graduação em Engenharia Mecânica da Poli e o Departamento de Engenharia Aeronáutica do Imperial College; e cinco bolsas de pós-doutorado. “Este acordo é parte de uma iniciativa maior que envolve outro convênio de desenvolvimento tecnológico científico e a criação do Cepid - Fapesp - BG-Brasil Gas Innovation Centre, que é um centro de pesquisa, inovação e difusão de gás natural, que será sediado na Escola Politécnica da USP (Poli)”, afirma Júlio Meneghini, diretor geral do programa e professor titular do Núcleo de Dinâmica e Fluidos da Poli. Este convênio está vinculado ao programa Ciência sem Fronteiras do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Engenharia – Esta área estudará tecnologias visando o uso de gás natural na propulsão de grandes embarcações, como os supermetaneiros que transportam gás natural da camada pré-sal. As pesquisas pretendem ainda desenvolver sistema para a queima eficiente de gás para micro turbinas e grandes turbinas a gás, e metodologias de simulação numérica de gás natural em equipamentos mecânicos, turbinas e motores a gás natural, ou motores híbridos. Físico-Química - Um dos projetos nesta área visa desenvolver célula de combustível movida a gás natural, que utiliza o hidrogênio que compõe o metano, o oxigênio do meio ambiente e gera eletricidade, água e gás carbônico. É uma forma mais eficiente do que turbinas a gás ou motores a gás natural e podem ser utilizadas como geradoras de eletricidade em locais remotos, como plataformas marítimas para a produção de gás. Professor Júlio Meneghini, diretor geral do programa As pesquisas também visam transformar o gás natural – metano CH4 – em insumo para a indústria petroquímica desenvolver outros produtos. Os estudos abrangem também a possibilidade de utilizar processos biológicos. O CO2 gerado por uma termoelétrica pode ser usado para produzir certos tipos de algas, diminuindo a quantidade de gás carbônico liberado para a atmosfera. Outro tema a ser estudado nesta área é a bioenergia. Existe uma perda muito grande de biomassa que poderia ser utilizada para gerar biogás, que essencialmente é o metano. Economia e Política Energética - Os estudos em Economia e Política Energética visam mitigar a emissão de gás carbônico e estimular o consumo de gás natural, que ainda não foi equacionado. A produção do pré-sal está a 300 km da costa e para construir um gasoduto submarino ou usar navios metaneiros é uma das questões de logística que precisa ser estudada caso a caso. Além disso, o desenvolvimento de biogás e a inclusão do setor industrial nessa atividade, em particular as usinas de produção de etanol, é estratégica para o Brasil. Cepid - Além das 25 bolsas o Cepid conta com 36 professores coordenadores, 40 bolsas da Fapesp, e uma equipe com mais de 140 pesquisadores. O professor Julio Meneghini será o diretor geral do Centro, que terá três coordenadores: o professor Reinaldo Giudici, responsável pela transferência de tecnologia e inovação; os professores Emílio Silva e Edmilson Santos, pela difusão e disseminação do conhecimento e um coordenador administrativo ainda a ser escolhido. O professor Meneghini diz que o objetivo é manter empresas do setor ligadas ao programa, de modo que elas acompanhem o desenvolvimento dos projetos. “A difusão de conhecimento prevista no Cepid não será apenas para a indústria, mas também para a sociedade”, conclui. Julio Romano Meneghini é professor titular da Poli-USP desde 2010, na especialidade de Aplicações e Princípios da Engenharia Mecânica. Livre Docente em Mecânica dos Fluidos (Poli, 2002). PhD em Aerodinâmica pela Universidade de Londres (1993), DIC-Diploma of Imperial College em Engenharia Aeronáutica (1993). Mestre em Engenharia Mecânica (EPUSP, 1989). Bacharel em Física (IFUSP, 1989). Engenheiro Civil (EEM, 1984). Atualmente é professor titular do Núcleo de Dinâmica e Fluidos da Poli. 3 Nosso planeta visto do espaço No final do ano passado vários colaboradores da FDTE visitaram o programa Ciência na Esfera, no Museu Oceanográfico da USP, a convite do professor Michel Michaelovitch de Mahiques, vice-diretor do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP). Michaelovitch explicou aos presentes que o Ciência na Esfera, ferramenta educacional desenvolvida pela Agência Americana NOAA – National Oceanic and Atmospheric Administration, é um sistema de projeção que faz a pessoa se sentir como se estivesse num planetário invertido, que tem por objetivo ilustrar o Planeta Terra e seus diferentes fenômenos e processos oceanográficos, atmosféricos, geológicos, ecológicos, entre outros. “Num planetário vemos o céu, aqui temos a sensação de estar no espaço observando o nosso planeta ou outros corpos celestes”. Tem- se a impressão de que a projeção é feita de dentro para fora da esfera, mas em cada canto da sala existe um projetor com data show, num sistema sincronizado e alinhado diariamente. O Ciência na Esfera oferece mais de 900 apresentações e alguns dados são atualizados online, pois o computador é ligado diretamente no servidor da NOAA, nos EUA. Também existem atualizações semanais e apresentações fixas. O Museu do IOUSP recebe de 12 a 15 mil pessoas por ano, mas na última Virada Científica, realizada em outubro passado, recebeu 2100 pessoas em apenas um final de semana. Para o pessoal da FDTE foram separadas apresentações fixas e filmes, de modo que os presentes pudessem ter uma idéia do potencial do sistema. Começou com a apresentação da Terra girando conforme sua posição natural, sendo possível ver os continentes, as áreas com maior vegetação, as desérticas, os oceanos e as calotas polares. Um controle remoto movimenta a esfera e permite visualizar o nosso planeta de qualquer ângulo. 4 O professor ressalta que, por enquanto, os arquivos com falas são todos em inglês. Apenas um já foi dublado, mas a expectativa é dublar um conjunto grande de arquivos. “Além disso, seremos a primeira esfera a colocar totens com Libra, a linguagem brasileira de sinais. Deste modo, nossa Olhares atentos acompanham apresentação do Ciência na Esfera no Instituto Oceanográfico esfera será a primeira no mundo, acessível a deficientes auditivos”, afirma. De acordo com o superintendente da FDTE, André Steagall Gertsenchtein, o Ciência na Esfera mostra diversos efeitos, não só aqueles que ocorrem em tempo real, mas a evolução dos danos feitos pelo homem no planeta, como a acidificação da água marinha e a elevação do nível do mar. Em sua avaliação, o pessoal da FDTE gostou muito, tanto que a apresentação da esfera foi muito aplaudida e nós agradecemos ao professor Michel. “Existe uma relação muito boa entre a FDTE, fundação ligada à USP e o IO-USP, uma das unidades da universidade. Esta foi uma oportunidade única. Não temos isso em todos os lugares e entendemos que ações como esta são importantes para ampliar o leque de conhecimentos de nossos colaboradores”, afirma. Colaboradores da FDTE após a apresentação O Ciência na Esfera, de grande potencial para utilização acadêmica e científica, tem sido utilizado por cursos de graduação e pós-graduação, tanto em Oceanografia quanto em outras ciências. Além das aplicações em ensino e pesquisa apresenta grande utilização em atividades de extensão. Os professores de colégios também podem se valer da esfera para dar aulas específicas a seus alunos. O professor Michel Michaelovitch Mahiques lembra que o sistema Ciência na Esfera recebe crianças de todas as idades. “Montamos uma programação adequada à idade das crianças. Basta ligar para o telefone do Museu Oceanográfico (11 - 30916587), ou enviar e-mail para [email protected] e agendar a escola de acordo com a idade dos alunos. “Acabamos tendo um salto qualitativo no Museu, com a instalação da esfera em 2012. Todos que vêm aqui gostam”, comemora o professor. Professor Michel Michaelovitch de Mahiques, vice-diretor do Instituto Oceanográfico ACONTECE NA POLI Equipe Keep Flying representa a Poli na SAE Brasil Aerodesign gar, o recorde de carga paga da competição e o prêmio NASA Systems Engineering Award de melhor gestão de projeto. Em 2010, a equipe inovou novamente, apresentando o conceito de asa voadora (sem cauda). Obteve 4ª colocação geral e o recorde de carga paga da competição nacional. No final de 2014 a equipe de Aerodesign Keep Flying representou a Escola Politécnica da USP na competição SAE Brasil Aerodesign na categoria regular, a mais concorrida, com a participação de 76 equipes de diversas universidades do Brasil e do exterior. A concorrência cresceu muito nos últimos anos de modo que a última edição teve limite de vagas para inscrição, dando prioridade para equipes veteranas e com bom desempenho. A competição SAE Aerodesign pode ser divida em duas etapas: de projeto e de testes de protótipos em voo. Na competição de projeto são avaliadas as áreas de projeto de engenharia aeronáutica por juízes, geralmente engenheiros voluntários da Embraer, por meio de um relatório de projeto aeronáutico da aeronave e de apresentação oral. Na competição de voo pode-se resumir que o objetivo é carregar a maior quantidade de carga útil. Outros fatores, como o peso vazio (sem carga) e a acuracidade (capacidade de prever a carga levantada para uma altitude-densidade) contribuem para a pontuação. A Keep Flying tem excelente histórico, sendo tradicionalmente conhecida com boas colocações e trazendo sempre aspectos inovadores. Destacam-se o uso pioneiro na competição de algoritmo de otimização multidisciplinar em 2006, rendendo o primeiro lugar geral na competição e dando o direito de representar o Brasil na competição SAE Aerodesign East, nos Estados Unidos. Em 2008, a equipe conseguiu a segunda colocação na competição nacional e, novamente, representou o Brasil na competição americana, quando conquistou o primeiro lu- Em 2014 a equipe de estudantes da Poli teve um ótimo resultado. Mesmo com a redução para 60% do orçamento de 2013 a Keep Flying reorganizou-se e contou com importante apoio financeiro da FDTE. Foram fabricados 10 aviões protótipos para testes pré-competição, avaliando os resultados de cálculos realizados pelos membros na etapa de projeto. Conforme explica Eduardo Tadashi Katsuno, capitão da equipe, “o número de protótipos foi elevado em relação aos anos anteriores, o que caracteriza um aspecto positivo, pois permite melhorias pontuais a cada novo teste”. Os resultados na competição de projeto foram: 2º melhor relatório da competição, cujas notas são a soma das notas de todas as áreas de projeto. Analisando individualmente, destacou-se o 1º lugar nas áreas de projeto elétrico, apresentação oral e de organização de projeto. A equipe também obteve o 2º melhor projeto de desempenho, 3º melhor projeto de aerodinâmica, 6º melhor projeto de estabilidade e controle e 9º melhor projeto de cargas e estruturas. Na competição de voo a equipe apresentou a aeronave de nome “Siriema”, uma das aeronaves mais leves da competição. Fabricar uma aeronave com peso vazio baixo constitui um desafio na busca de equilíbrio de materiais leves e resistentes. A colocação geral da equipe, consideradas as duas etapas, foi o 7º lugar. Mais do que resultados, a competição motivou um projeto real de engenharia, testando os conhecimentos na prática, estimulando conhecimentos que não são vistos em sala de aula. “Quinze estudantes de diferentes habilitações experimentaram como é desenvolver qualidades além da técnica: trabalhar em equipe e ter espírito de liderança, além da responsabilidade de representar a Poli em uma desafiadora competição nacional”, afirma o Professor Antonio Luís de C. Mariani, orientador das equipes da Poli no AeroDesign há mais de 12 anos, para quem tudo isto certamente contribui para a formação de melhores engenheiros para o País. Professor Antonio Luís de Campos Mariani (primeiro à esquerda) e componentes da equipe Keep Flying exibindo a Aeronave Siriema, uma das mais leves da competição. 5 Poli Cidadã oferece disciplinas e faz parceria com projetos de ações educativas O Programa Poli Cidadã, da Escola Politécnica da USP (Poli), está oferecendo duas disciplinas para realizar projetos de graduação com responsabilidade social: Tecnologia e Desenvolvimento Social I e II. Além disso está propondo uma atuação em forma de rede, com integração de alunos, docentes e laboratórios da Poli e organismos da sociedade civil por meio de projetos específicos, incluindo os de pesquisa e pós-graduação que atendam a demandas sociais. Na implantação desta nova fase o Programa conta com apoio da Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico da Engenharia (FDTE), que viabiliza a infraestrutura operacional das atividades do programa. “Todos os professores e laboratórios da Poli estão convidados a participar desta rede de integração que possibilitará ampliar nossa atuação junto a organismos sociais e a ter o Selo Poli Cidadã”, afirma o professor Antonio Luis de Campos Mariani. Criado em 2004, o programa Poli Cidadã estimula alunos e professores a desenvolverem atividades de caráter social, a fim de estreitar a relação da Universidade com a sociedade, incentivando a realização de projetos de graduação com responsabilidade social. Deste modo, oferece aos alunos da Poli a oportunidade de experimentar uma realidade muitas vezes diferente da sua, desenvolvendo nos estudantes a sensibilidade para identificar problemas para os quais a engenharia apresenta soluções e que podem contribuir com toda a sociedade. Em sua trajetória já motivou e certificou mais de 100 projetos de graduação realizados por alunos com orientação docente. Tem realizado, também, projetos intensivos com diferentes formatos, promovendo a interação entre alunos, professores, funcionários e comunidades socialmente desfavorecidas. A Comissão Gestora do Programa é composta pelos professores Douglas Lauria, Samuel Toffoli, Silvio Melhado, Maria Inês Piffer e coordenada por Antonio Luis de Campos Mariani. 6 Os alunos são convidados a participar do Programa de duas maneiras: atividades intensivas ou atividades extensivas. As primeiras são realizadas através de projetos específicos, de curta duração, relacionados a comunidades, enquanto as extensivas são realizadas em trabalhos de conclusão de curso (TCC), ou projetos de disciplinas. Nesta última modalidade o aluno pode desenvolver seu próprio projeto social ou escolher uma proposta de projeto entre os temas solicitados pelas instituições parceiras do programa. Para participar basta apresentar a proposta de projeto no site http://www.policidada.poli.usp.br/ NOVAS PARCERIAS No último dia 15 de dezembro, o professor Mariani se reuniu com representantes dos projetos Matemática em Movimento, Kali e Projeto Potência, com vistas a planejar as atividades conjuntas a serem implementadas no início deste ano letivo. Estes três projetos realizam ações educativas e de reforço escolar para estudantes do Ensino Médio em escolas da rede pública. Uma das metas é colaborar na preparação para o exame vestibular. A seguir um perfil de cada grupo e orientações para os novos alunos politécnicos que pretendam atuar como voluntários nestas ações sociais voltadas para escolas públicas de São Paulo. O MM é formado por voluntários dispostos a contribuir para uma Educação Pública mais abrangente e de maior qualidade. O primeiro objetivo é prestar atenção à juventude brasileira que não tem acesso a uma educação digna, humana e de qualidade. Como fruto dessa atenção, a solidariedade, a multiplicação do conhecimento e a relação humana sincera surgem entre todos os envolvidos. Por meio do ensino dinâmico da matemática e da busca por entender a realidade dos alunos, a equipe de voluntários do MM pretende fomentar o sonho de jovens em mudar a sua própria realidade e, como consequência, o mundo. O MM busca formas de abrir o leque de opções a esses alunos com visitas a faculdades e universidades, orientação vocacional, plantão de dúvidas online, passeios culturais e palestras com profissionais de diversas áreas. Contato: www. matmov.com.br O Kali, projeto social fundado em 13 de setembro de 2013, atua na Escola Estadual Mário Toledo de Moraes, na cidade de Caieiras, onde conta com o apoio da comunidade, do colégio e dos alunos para realizar seu trabalho. O Kali tem por objetivo despertar nos alunos o interesse pelos estudos, por meio de aulas diferenciadas, ensino de aluno para aluno, matéria préprogramada com material didático próprio e exclusivo, entre outros. Procura dar base, estrutura e apoio aos alunos do ensino médio da rede pública, despertando interesse nas aulas regulares, na educação em geral e na busca pelo conhecimento, incentivando-os na continuidade dos estudos. Contatos: projeto.kali.2013@gmail. com ou facebook.com/projetokali Criado em agosto de 2011, o Projeto Potência é uma organização voluntária que tem por propósito auxiliar na educação de alunos do sistema público de ensino. Os professores são alunos da USP, que ministram aulas aos sábados pela manhã na Escola Estadual Prof. Giulio David Leone, localizada na Zona Sul da cidade de São Paulo. Neste período os alunos recebem aulas de Matemática, Física, Química e Redação. Durante o curso é feita a divulgação de informações sobre os sistemas de inclusão na USP (PASUSP, INCLUSP, Pré-IC, entre outros), provas de bolsas de estudos em cursinhos particulares e cronogramas de cursinhos comunitários (FEA, Poli, Psico, Direito, Medicina). A intenção do Projeto Potência é que os alunos não parem de estudar quando concluírem o ensino médio. Com a bibliografia recomendada incentivamos o aluno a desenvolver a capacidade de independência e autodidatismo, pois poderá obter os livros, estudar em casa e tirar dúvidas durante ou após as aulas. Contato: https://sites.google.com/site/preparacaoemexatas/ ou https://www.facebook.com Educação CRIANÇAS APRENDEM A JOGAR CAPOEIRA NA POLI sexta-feira é substituída por uma roda de capoeira. “Dedicamos este dia para as pessoas se divertirem, bater o atabaque, jogar capoeira, dançar samba. Com esse evento, ao invés de irem para a rua ficam aqui na festa deles”, afirma. O professor Sérgio Eston comenta que quem ajuda recebe mais do que oferece. “O mestre Graúna está comigo desde o começo, foi meu aluno e virou mestre, não tem recompensa melhor. Outro professor, o Marrom, entrou aqui pequenino, se formou e hoje é professor de educação física, dando aula em academias. Isso não tem preço. Com este projeto eu recebo mais do que dou”, afirma. História – O professor conta que há quase duas décadas, depois do almoço, por volta pela FDTE. As crianças são orientadas pelo das 14 horas, o dono Mestre Graúna, pelo contramestre Rodrigo da Silva Morais e pela auxiliar Pia da Anderson Viana Chaves e de uma lanchonete que Silva Morais, membros da Associação de Mariana de Andrade com havia perto da residênCapoeira Frente do Gravatá. www.frentea filha Larissa cia dos estudantes foi morto a tiros ao cobrar dogravata.org. “As crianças gostam tanto que consideram o Centro Moraes Rego (CMR) da dois meninos que estavam tomando cerveja. “Foi Engenharia de Minas da Poli, como sendo a casa um escândalo na USP e eu fiquei pensando no que delas”, afirma Eston. Como atividade de socializa- poderia fazer para ajudar. Uma semana depois fui ção, os alunos participam de eventos fora da USP ao Banespa Central da USP e ao descer do carro uns e alguns passam a fazer parte da equipe do pro- 10 meninos me cercaram pedindo dinheiro. Sentafessor Eston, que há 20 anos ensina capoeira no mos na calçada e disse a eles que não ia dar dinheiro, mas que faria uma proposta: dou aula de capoEsporte Clube Pinheiros. eira, instrumentos, treino vocês de graça se vocês A turma deste ano é formada por 22 crianças e vierem treinar comigo. Dos 10, quatro toparam. as aulas ocorrem às terças, quintas e sextas-feiras Consegui o espaço aqui com os alunos do CMR e das 19h00 às 20h30. A cada 15 dias a aula da iniciamos o trabalho que segue até hoje”. Professor Sérgio Médici de Eston, com o Mestre Graúna, auxiliares e algumas crianças participantes do projeto Poli Fonte Mirim Com muita alegria, crianças de cinco a quinze anos entram na USP com o sonho de um dia se tornarem mestres de capoeira. Acompanhadas dos pais, elas participam das aulas ministradas por Wilson Luiz Manoel, o Mestre Graúna, funcionário da USP. O projeto Poli Fonte Mirim foi criado há 19 anos com o objetivo de auxiliar, integrar e socializar crianças carentes que residem nas comunidades São Remo e Favela do Jaguaré, localizadas na periferia da USP. Coordenado pelo professor Sérgio Médici de Eston, do Departamento de Engenharia de Minas e Petróleo da Poli-USP, o projeto proporciona treinamento de capoeira, danças folclóricas, instrumentos de percussão, transmitindo uma série de princípios. As famílias que participam do programa recebem uma cesta básica por mês, oferecida Equipe do Mestre Graúna, familiares e crianças do projeto Crianças participantes do projeto jogando capoeira 7 O QUE ESTOU LENDO A ARTE DA ENTREVISTA E O REMORSO DE BALTAZAR SERAPIÃO Ubiraci Espinelli LeInfelizmente não tenho o dom para contrimes de Souza – “A buir, na literatura, com outros tipos de satisprática da Engenharia fação que um livro pode trazer e, neste seninduz, de minha parte, tido, me limito a ser um leitor interessado uma constante leitutanto em enriquecer minhas experiências ra de textos técnicos, de vida, com os cenários diversos que são onde mais que a busca criados pelos escritores, quanto em conhede uma satisfação pescer diferentes estilos de redação e conviver soal estou à procura de com a riqueza de ideias que posso extrair soluções para probledas leituras que faço. mas da atividade proUbiraci Espinelli fissional. Os livros, porNeste momento, a leitura de “o remorso de Lemes de Souza tanto, têm sido muito baltazar serapião” (com o nome próprio em importantes para a minúsculas mesmo!), de Valter Hugo Mãe, ampliação do meu conhecimento técnico. Escrevi me traz, além de um cenário que me faz lembrar três livros pela editora PINI – Como Aumentar a dos sertões brasileiros, uma experiência diferente Eficiência da Mão de Obra; Projeto e Implantação quanto ao uso da língua portuguesa, com uma grado Canteiro - Nome da Rosa e Como Reduzir Per- mática menos regrada e mais poética em termos de das nos Canteiros – e espero ter contribuído para fluência. Mas é a releitura de “a Arte da Entrevista” satisfazer este mesmo tipo de necessidade de ou- (recomendo!), coletânea de textos organizada por tros profissionais da área. Fábio Altman, que me tem ocupado um tempinho todas as noites; o livro é composto de entrevistas selecionadas onde tanto o entrevistador quanto o entrevistado são pessoas ilustres e que se destacaram no cenário nacional e mundial, em experiências completamente diferentes. Cada subconjunto de páginas permite conhecer o modo de pensar de pessoas tão interessantes e diversas quanto Al Capone, Marilyn Monroe, Thomas Edison, Pablo Picasso, Adolf Hitler, John Lennon, José Bonifácio de Andrada e Silva, dentre outros. Além do lazer proporcionado pela leitura tenho certeza de que novas ideias me virão à mente para aprimorar a minha vida.” Curtas COMEMORAÇÃO - Ex-alunos do curso ‘Engenheiro Eletricista – opção Eletrônica’ da Escola Politécnica de São Paulo (Poli), formados em 1964, promoveram um encontro entre alunos e professores no auditório do Centro de Engenharia Elétrica da Poli, para comemorar os 50 anos da conclusão do curso. O evento, realizado no dia 26 de novembro de 2014, foi capitaneado pelo Prof. Dr. Ademar Ferreira, coordenador e pesquisador do Grupo de Robótica e Tecnologias Cognitivas da Poli. Compareceram os ex-professores Nelson Zuanella, Paulo Antonio Mariotto, Paulo Villela, Plínio Castruc- ci, Octávio Ferreira Affonso, Roberto Marconato e Jacyntho José Angerami, e os ex-alunos Ademar Ferreira, Romeu Grandinetti Filho, Alessandro Contessa, Paulo Boulos, Roberto Minoru Koga, Ro Chee Hsiung, Mário Pollastri, Edgard Calia e Fernando Ramos. Nelson Zuanella, presidente do Conselho Curador da FDTE, ressaltou a sensibilidade dos ex-alunos ao promoverem o encontro para homenagear a “mãe”, a Escola Politécnica, e indiretamente, os ex-professores. “Eles foram minhas primeiras cobaias e, portanto, os primeiros professores de didática”, afirmou. THUNDERATZ NO JAPÃO - Os guerreiros da ThundeRatz, equipe de robótica da Poli, Marx Thezolin de Paula e Lucas Rebelo Dal’Bello garantiram o quarto lugar na competição All Japan Robot-Sumo Tournament, organizada pela Fujisoft no Japão. Eles viajaram para Tóquio com apoio da FDTE e competiram com o robô Stonehenge, que ficou atrás apenas da equipe Esimez, do México, que disputou com dois robôs, e da campeã, uma equipe japonesa. No Japão a quarta colocação significa um lugar no pódio. O Stonehenge está entre os quatro melhores robôs de Sumô Rádio Controlado do mundo e é o melhor do Brasil. Ivan Gilberto Sandoval Falleiros João Cyro André José Roberto Cardoso José Roberto Castilho Piqueira Lucas Moscato Endereço: Av. 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