MODERNISMO NO BRASIL Geração de 45 GERAÇÃO DE 45 CARACTERÍSTICAS O Brasil, após a Segunda Guerra Mundial, inicia um novo período de sua história, que é marcado pelo desenvolvimento econômico, pela democratização política e pelo surgimento de novas tendências artísticas e culturais. A geração de 45 marca essa mudança, com o objetivo de dar um novo aspecto aos meios de expressão a partir de uma pesquisa sobre a linguagem. O traço formalizante caracteriza essa geração de poetas. Várias obras foram publicadas nessa época, na prosa os gêneros conto e romance tiveram destaque. O regionalismo recuperou seu espaço, a sondagem psicológica foi desenvolvida, o espaço urbano foi, também, objeto de enfoque. Os escritores dessa geração que mais se destacaram foram: Rubem Braga, Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles, Guimarães Rosa, e outros. CLARICE LISPECTOR CLARICE LISPECTOR Clarice Lispector nasceu em 10 de dezembro de 1925 em Tchetchelnik, Ucrânia. Quando ela contava apenas dois meses de idade, sua família mudou-se para o Brasil. Clarice passou a infância em Recife PB e em 1937 transferiu-se para o Rio de Janeiro RJ, onde cursou direito. Estreou na literatura ainda muito jovem com o romance Perto do coração selvagem (1943), visão interiorizada do mundo da adolescência. Em 1944, recém-casada, viajou para Nápoles, onde serviu num hospital da Força Expedicionária Brasileira. De volta ao Brasil, publicou em 1946 O lustre e, depois de uma longa estada na Suíça e Estados Unidos, fixou-se no Rio de Janeiro. Publicou diversas obras e falece no Rio de Janeiro em 9 de dezembro de 1977. CLARICE LISPECTOR / CARACTERÍTICAS As circunstâncias exteriores e a trama narrativa têm importância secundária nos contos e romances de Clarice Lispector. Em busca de uma linguagem especial para expressar paixões e estados de alma, a escritora utilizou recursos técnicos modernos como a análise psicológica e o monólogo interior. Sua obra, densa e original, figura entre as mais importantes da narrativa literária brasileira. A obra de Clarice Lispector expressa uma visão profundamente pessoal e existencialista do dilema humano, num estilo que se caracteriza pelo vocabulário simples e pela estrutura frasal elíptica. Sua ficção transcende o tempo e o espaço; os personagens, postos em situações limite, são com freqüência femininos e só secundariamente modernos ou mesmo brasileiros. CLARICE LISPECTOR / OBRAS A melhor prosa da autora se mostra nos contos de A legião estrangeira (1964) e Laços de família (1972). Em obras como A maçã no escuro (1961), A paixão segundo G.H. (1964) e Água-viva (1973), os personagens, alienados e em busca de um sentido para a vida, adquirem gradualmente consciência de si mesmos e aceitam seu lugar num universo arbitrário e eterno. Escreveu ainda A cidade sitiada (1949), Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres (1969) e A hora da estrela (1977), que conta a história de Macabéa, moça do interior em busca de sobrevivência na cidade grande. Clarice por Drummond Clarice,veio de um mistério, partiu para outro.Ficamos sem saber a essência do mistério.Ou o mistério não era essencial,era Clarice viajando nele. Era Clarice bulindo no fundo mais fundo,onde a palavra parece encontrar sua razão de ser, e retratar o homem. O que Clarice disse, o que Clarice viveu por nós em forma de história em forma de sonho de história em forma de sonho de sonho de história(no meio havia uma barata ou um anjo?) não sabemos repetir nem inventar.São coisas, são jóias particulares de Clarice que usamos de empréstimo, ela dona de tudo. Clarice não foi um lugarcomum,carteira de identidade, retrato. De Chirico a pintou? Pois sim.O mais puro retrato de Clarice só se pode encontrá-lo atrás da nuvem que o avião cortou, não se percebe mais . De Clarice guardamos gestos. Gestos,tentativas de Clarice sair de Clarice para ser igual a nós todo sem cortesia, cuidados, providências. Clarice por Drummond Clarice não saiu, mesmo sorrindo.Dentro dela o que havia de salões, escadarias,tetos fosforescentes, longas estepes,zimbórios, pontes do Recife em bruma envoltas,formava um país, o país onde Clarice vivia, só e ardente, construindo fábulas.Não podíamos reter Clarice em nosso chão salpicado de compromissos. Os papéis,os cumprimentos falavam em agora,edições, possíveis coquetéis à beira do abismo.Levitando acima do abismo Clarice riscava um sulco rubro e cinza no ar e fascinava.Fascinava-nos, apenas. Deixamos para compreendêla mais tarde.Mais tarde, um dia... saberemos amar Clarice. GUIMARÃES ROSA "Quando escrevo, repito o que já vivi antes. E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente. Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser um crocodilo porque amo os grandes rios, pois são profundos como a alma de um homem. Na superfície são muito vivazes e claros, mas nas profundezas são tranqüilos e escuros como o sofrimento dos homens." GUIMARÃES ROSA Nasceu em 27/06/1908 e morreu em 19/11/1967. Um dos maiores nomes da Literatura Brasileira do século XX. Guimarães Rosa significa para a Literatura do século XX, o que Machado de Assis significou no século XIX. Guimarães Rosa conseguiu renovar e reinventar a linguagem regionalista (tema explorado por vários autores da nossa Literatura). Formou-se em medicina e em 1934 tornou-se diplomata chegando a ser embaixador. Era um estudioso das línguas e da natureza e sua passagem por vários países só fez aumentar seu interesse. GUIMARÃES ROSA OBRAS - Magma (poesias – 1036): não chegou a publicar. - Sagarana (1946 – contos e novelas regionalistas): livro de estréia Obs: se procurarmos no dicionário a palavra Sagarana, não a encontraremos. Ela foi inventada pelo autor. Esse processo chamase neologismo e foi muito usado pelo escritor. - SAGA (radical germânico): usado para designar narrativas em prosa. - RANA (sufixo tupi-guarani): significa “à semelhança de” - Corpo de Baile (1956 – novelas): essa obra é atualmente publicada em 3 partes: –Manuelzão e Minguilim –No Urubuquaquá, no Pinhém –Noites do Sertão GUIMARÃES ROSA - Grande Sertão:Veredas (1956) - Primeiras estórias (1962) - Tutaméia – Terceiras estórias: causou furor no meio literário e dividiu a critica, porém, fez grande sucesso com o público. Foi o último livro que Guimarães Rosa publicou em vida. - Com o vaqueiro Mariano (1947) - Estas estórias (1969 – contos)* - Ave, palavra (1970 – diversos)* *obras póstumas CARACTERÍTICAS / GUIMARÃES ROSA Além das criações de palavras (neologismos) podemos apontar outras características. - Uso de aliterações e onomatopéias no intuito de criar sonoridade Temas envolvendo destino, vida, morte, Deus. - A língua falada no sertão está presente em sua obra (fruto de anotações e pesquisas lingüísticas). Guimarães Rosa utiliza termos que não são mais usados, cria neologismos, faz empréstimos de palavras estrangeiras e explora estruturas sintáticas para recriar e reinventar a língua portuguesa. Além disso, Guimarães Rosa faz uso do ritmo, aliterações, metáforas e imagens para criar uma prosa mais poética ficando no limite entre a poesia e a prosa. A obra de Guimarães Rosa alcança uma dimensão universal, ou seja, ficamos tão envolvidos com suas histórias que, aos poucos, nos tornamos sertanejos e jagunços e passamos a pertencer àquele mundo recheado de indagações sobre a existência de Deus e do diabo, o bem e o mal, a violência, etc. JOÃO CABRAL DE MELO NETO JOÃO CABRAL DE MELO NETO João Cabral de Melo Neto inaugurou um novo modo de fazer poesia em nossa literatura. A essência de sua atividade poética mostra a tentativa de desvendar os elementos concretos da realidade, que se apresentam como um desafio para a inteligência do poeta. Sempre guiado pela lógica, pelo raciocínio, seus poemas evitam análise e exposição do eu e voltam-se para o universo dos objetos, das paisagens, dos fatos sociais, jamais apelando para o sentimentalismo. Por isso, o prazer estético que sua poesia pode provocar deriva sobretudo de uma leitura racional, analítica, não do envolvimento emocional com o texto. JOÃO CABRAL DE MELO NETO Principais obras: O cão sem plumas, O rio e Morte e vida Severina - mostram um poeta mais diretamente voltado para a temática social, analisando a realidade geográfica, humana e social do Nordeste. Morte e vida Severina, sua obra mais conhecida, é um poema narrativo também chamado de Auto de Natal pernambucano, que trata da caminhada de um retirante - Severino - do sertão até a zona litorânea, em busca de condições para sobreviver à seca. A semelhança com um auto natalino ocorre no final, quando, ao presenciar o nascimento de uma criança, o retirante renuncia à intenção de matar-se. MORTE E VIDA SEVERINA (TRECHO) O RETIRANTE EXPLICA AO LEITOR QUEM É E A QUE VAI — O meu nome é Severino, como não tenho outro de pia. Como há muitos Severinos, que é santo de romaria, deram então de me chamar Severino de Maria como há muitos Severinos com mães chamadas Maria, fiquei sendo o da Maria do finado Zacarias. Mas isso ainda diz pouco: se ao menos mais cinco havia com nome de Severino filhos de tantas Marias mulheres de outros tantos, já finados, Zacarias, vivendo na mesma serra magra e ossuda em que eu vivia. MORTE E VIDA SEVERINA (TRECHO) Somos muitos Severinos iguais em tudo na vida: na mesma cabeça grande que a custo é que se equilibra, no mesmo ventre crescido sobre as mesmas pernas finas e iguais também porque o sangue, que usamos tem pouca tinta. E se somos Severinos iguais em tudo na vida, morremos de morte igual, mesma morte severina: que é a morte de que se morre de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte de fome um pouco por dia (de fraqueza e de doença é que a morte severina ataca em qualquer idade, e até gente não nascida).