LITERATURA MODERNISMO NO BRASIL 3ª. Geração Professora: Suzete Beppu O modernismo brasileiro foi um amplo movimento cultural que repercutiu fortemente sobre a cena artística e a sociedade brasileira na primeira metade do séc. XX, sobretudo no campo da literatura e das artes plásticas. Comparado a outros movimentos modernistas, o brasileiro foi desencadeado tardiamente, na década de 20. Foi resultado, em grande parte, da assimilação de tendências culturais e artísticas lançadas pelas vanguardas européias no período que antecedeu a 1ª. Guerra Mundial e refletiu na procura da abolição de todas as regras anteriores e a procura da novidade e da velocidade. Considera-se a Semana de Arte Moderna, Realizada em São Paulo, em 1922, como ponto de partida do modernismo no Brasil. Não sendo dominante desde o início, o modernismo, com o tempo, suplantou os anteriores. Foi marcado, pela liberdade de estilo e aproximação com a linguagem falada, sendo os da primeira fase mais radicais em relação a esse marco. Divide-se o Modernismo em três fases: 1ª. geração: mais radical e fortemente oposta a tudo que foi anterior,cheia de irreverência e escândalo; 2ª. geração: mais amena, que formou grandes romancistas e poetas; 3ª. geração: também chamada por vários autores de NeoModernismo ou Pós-Modernismo, que se opunha de certo modo a primeira e era por isso ridicularizada com o apelido de neoparnasianismo. Terceira geração (1945 - 1960) também chamada de NeoModernismo ou Pos-Modernismo A partir da década de 1940, observa-se um processo de renovação artística por dois motivos: aproveitou-se melhor a liberdade conquistada pela 1ª. Geração (22 a 30) e houve um aprofundamento das preocupações criticas e documentais da 2ª. Geração (30 a 45). Poesia: surge um grupo de poetas que procurava a inspiração poética sem compromisso com os pressupostos modernistas anteriores: rejeitavam o verso livre, a irreverência, os poema-piada e outros entusiasmos modernistas. Propunham um acentuado rigor formal, o que lembra muito o Parnasianismo. Adotam uma linguagem mais erudita e uma temática mais universal. Prosa: tanto no romance quanto nos contos existe a busca uma literatura intimista, de sondagem psicológica, introspectiva e ao mesmo tempo, o regionalismo adquire uma nova dimensão. A recriação dos costumes e da fala sertaneja penetra fundo na psicologia do jagunço do Brasil central. Terceira geração (1945 - 1960) Principais Autores – Prosa Guimarães Rosa Clarice Lispector Terceira geração (1945 - 1960) CLARICE LISPECTOR VIDA Ucraniana, veio para o Brasil ainda bebê. Formou-se em Direito mas viveu muito fora do Brasil pela carreira diplomática do marido, dedicando-se assim aos filhos e à literatura. Voltou ao Brasil separada e lançou vários livros. CLARICE LISPECTOR Características de suas OBRAS sondagem dos mecanismos mais profundos da mente humana; técnica “impressionista” de apreensão da realidade interior (predominância de impressões, de sensações); introdução da técnica do fluxo da consciência; quebra os limites espaço x temporais e o conceito de verossimilhança, fundindo presente e passado, realidade e desejo na mente dos personagens, cruzando vários eixos e planos narrativos sem ordem ou lógica aparente; CLARICE LISPECTOR suas principais personagens são mulheres, mas não se limitam ao espaço do ambiente familiar, visa a atingir valores essenciais humanos e universais tais como a falsidade das relações humanas, o jogo das aparências, o esvaziamento do mundo familiar, as carências afetivas e as inseguranças delas decorrentes, a alienação, a condição da mulher, a coexistência dos contrastes, das ambigüidades, das contradições do ser; características físicas das personagens diluem-se: muitas nem nome apresentam; Terceira geração (1945 - 1960) CLARICE LISPECTOR Características de suas OBRAS predomínio do tempo psicológico e, portanto, subversão do tempo cronológico; as ações passam a ter importância secundária, servindo principalmente como ilustração de características psicológicas das personagens (introspecção psicológica); Terceira geração (1945 - 1960) CLARICE LISPECTOR Características de suas OBRAS presença da epifania (“revelação”): aparentemente equilibradas e bem ajustadas, subitamente as personagens sentem um estranhamento frente a um fato banal da realidade. Nesse momento, mergulham num fluxo de consciência, do qual emergem sentindo-se diferentes em relação a si mesmas e ao mundo que as rodeia; esse desequilíbrio momentâneo por certo mudará sua vida definitivamente; fusão de prosa e poesia, com emprego de figuras de linguagem: metáforas, antíteses (eu x não-eu, ser x não ser), paradoxos, símbolos e alegorias, aliterações e sinestesias; uso de metalinguagem em associação com os processos intimistas e psicológicos, político-sociais, filosóficos e existenciais (A Hora da Estrela, 1977). Terceira geração (1945 - 1960) CLARICE LISPECTOR Principais Obras: Perto do coraçao selvagem Laços de familia A maçã no escuro A legião estrangeira A paixão segundo G. H. Felicidade clandestina A hora da estrela Infanto Juvenil O mistério do coelhinho pensante A mulher que matou os peixes A paixão segundo G.H. Clarice Lispector “Se eu me confirmar e me considerar verdadeira, estarei perdida porque não saberei onde engastar meu novo modo de ser – se eu for adiante nas minhas visões fragmentárias, o mundo inteiro terá que se transformar para eu caber nele.” A paixão segundo G.H. p. 11 [...] Senti que meu rosto em pudor sorria. Ou talvez não sorrisse, não sei. Eu confiava. Em mim? no mundo? no Deus? na barata? Não sei. Talvez confiar não seja em quê ou em quem. Talvez eu agora soubesse que eu mesma jamais estaria à altura da vida, mas que minha vida estava à altura da vida. Eu não alcançaria jamais a minha raiz, mas minha raiz existia. Timidamente eu me deixava transpassar por uma doçura que me encabulava sem me constranger. Oh Deus, eu me sentia batizada pelo mundo. Eu botara na boca a matéria de uma barata, e enfim realizara o ato ínfimo. Não o ato máximo, como antes eu pensara, não o heroísmo e a santidade. Mas enfim o ato ínfimo que sempre me havia faltado. Eu sempre fora incapaz do ato ínfimo. E com o ato ínfimo, eu me havia deseroizado. Eu, que havia vivido do meio do caminho, dera enfim o primeiro passo de seu começo. Enfim, enfim quebrara-se realmente o meu invólucro, e sem limite eu era. Por não ser, eu era. Até o fim daquilo que eu não era, eu era. O que não sou eu, eu sou. Tudo estará em mim, se eu não for; pois “eu” é apenas um dos espasmos instantâneos do mundo. Minha vida não tem sentido apenas humano, é muito maior - é tão maior que, em relação ao humano, não tem sentido. Da organização geral que era maior que eu, eu só havia até então percebido os fragmentos. Mas agora, eu era muito menos que humana - e só realizaria o meu destino especificamente humano se me entregasse, como estava me entregando, ao que já não era eu, ao que já é inumano. E entregando-me com a confiança de pertencer ao desconhecido. Pois só posso rezar ao que não conheço. E só posso amar à evidência desconhecida das coisas, e só posso me agregar ao que desconheço. Só esta é que é uma entrega real. E tal entrega é o único ultrapassamento que não me exclui. Eu estava agora tão maior que já não me via mais. Tão grande como uma paisagem ao longe. Eu era ao longe. Mas perceptível nas minhas mais últimas montanhas e nos meus mais remotos rios: a atualidade simultânea não me assustava mais, e na mais última extremidade de mim eu podia enfim sorrir sem nem ao menos sorrir. Enfim eu me estendia para além de minha sensibilidade. O mundo independia de mim - esta era a confiança a que eu tinha chegado: o mundo independia de mim, e não estou entendendo o que estou dizendo, nunca! nunca mais compreenderei o que eu disser. Pois como poderia eu dizer sem que a palavra mentisse por mim? como poderei dizer senão timidamente assim: a vida se me é. A vida se me é, e eu não entendo o que digo. E então adoro.