218 Fitotoxicidade do extrato aquoso de Duguetia furfuraceae (St. Hil.) B et H. em ratas (Rattus norvegicus) Toledo, M.R.S.1, Peres, M.T.L.P.1, Vieira, M.C.2, Bazzano, T.S.C.3; Teixeira, I.R.2; Moreles, L.A.4*, Ramos, M.B.M. 2 , Valério, D. 4 , Kitaguti, E.H. 4 , Oliveira, H.G.N. 4 , Paula Souza, F. 4 , Lima, Z.V. 5 1Deptº de Ciências Biológicas-UFMS, Campus de Dourados. [email protected]; 2Deptº de Ciências Agrárias-UFMS, Campus de Dourados, Caixa Postal 533, 79804-970, Dourados, MS. [email protected] ; 3Biotério do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde-UFMS, Campus de Campo Grande; 4Estudantes do Curso de Ciências Biológicas; * Bolsista CNPq; 5Médica Nefrologista-Instituto do Rim, Dourados, MS. RESUMO: Duguetia furfuraceae (St. Hil.) B et H., Anonaceae, é conhecida popularmente como araticum do campo ou araticum do cerrado. O chá de suas folhas é indicado na medicina popular para combater cólicas e diarréia. Na literatura científica, poucos são os trabalhos com Duguetia e nenhum descreve a toxicidade dessa planta. O objetivo deste estudo foi avaliar a possível ação abortiva e tóxica do extrato aquoso de Duguetia furfuraceae (St. Hil.) B et H em ratas prenhez (Rattus norvegicus da linhagem heterogênica Wistar). A extração foi feita por maceração a quente e a frio nas concentrações de 5% (quente/24horas) e 5%, 10% e 20% (a frio) (p/V), além do controle que recebeu água e ração. Os extratos foram administrados por gavagem (1 mL/rata) em ratas prenhes, durante a pré-implantação do blastocisto até a organogênese (5º ao 9º dia de prenhez). No 19º dia de prenhez, os animais foram anestesiados por inalação com éter e submetidos a laparotomia e histerectomia, quando foram avaliados o peso e tamanho dos fetos, número de corpos lúteos (para averiguação de aborto ou prenhez), peso dos ovários, útero, placenta, pâncreas, rins, fígado e das ratas mães (1º, 5º, 9º e 19º). As ratas tratadas apresentaram forte diarréia, epistaxe e prurido. Houve ainda, perda de peso corporal médio e hepatomegalia. Nas concentrações 5% e 10% a frio ocorreu maior reabsorção em forma de cistos, evidenciando aborto, que embora não tenha sido significativo, foi maior nas ratas tratadas, caracterizado também pelos corpos lúteos tanto no ovário direito quanto no esquerdo. Esses resultados demonstram que, do ponto de vista de uma abordagem clínica, Duguetia furfuraceae (St. Hil.) B et H. apresentou efeito tóxico nas ratas prenhes. Palavras-chave: Duguetia furfuraceae, embriotoxicidade, teratologia, plantas medicinais ABSTRACT: Toxicity of aqueous extract of Duguetia furfuraceae (St. Hil.) B et H. in rats (Rattus norvegicus). Duguetia furfuraceae (St. Hil.) B. et H., Anonaceae, is popularly known as araticum do campo or araticum do cerrado. Tea of their leaves is indicated in popular medicine to eliminate colics, diarrhea and hemorrhage of uterus. On cientific literature there are little works about Duguetia and any one describes the toxicity of that plant. The objective of this study was to evaluate the possible abortive and toxic action of aqueous extract of Duguetia furfuraceae (St. Hil.) B et H. in pregnant rats (Rattus norvegicus of heterogenic Wistar lineage). Extraction was done by maceration at hot and at cold in concentrations of 5% (hot/24 hours) and 5%, 10% and 20% (at cold) (p/ V ), besides control that receved water and ration. Extrats were administered by gavage (1mL/rats) in pregnant rats, during pre-implantation of blastocyst until organogenesis (5º to 9º day of pregnancy). On 19º day of pregnancy, animals were anesthetized by inhalation of ether and submited to laparatomy and hysterectomy, when number, weight and size of fetus, number of luteous bodies (to verification of abort or pregnancy), weight of ovary, uterus, placenta, pancreas, kidney, liver and mother rats (1º, 5º, 9º and 19º) were evaluated. Treated rats showed: strong diarrhea, epistaxis and itch. There was also medium body weight loss and hepatomegaly. In concentrations of 5% and 10% at cold occured great reabsorption in cyst forms, which evidenced abort, that although it had not be significative, it was higher in treated rats, which was characterized also by luteous bodies as in right ovary as in left ovary. Those results demonstrated that, from the point of view of a clinic approach, Duguetia furfuraceae (St. Hil.) B et H. showed toxic effect in pregnant rats. Key words: Duguetia furfuraceae, embriotoxicity, teratology, medicinal plants INTRODUÇÃO Duguetia furfuraceae (St. Hil.) B. et H., Anonaceae, é um arbusto com troncos lenhosos múltiplos, com base subterrânea que o torna resistente ao fogo, formando aglomerados e com (forma moitas) Recebido para publicação em 01/02/2004. Aceito para publicação em 31/10/2006. 1 a 3 m de altura. Possui ramos finos, folhas simples inteiras, geralmente com galhas (caroços), lanceoladas, pecioladas, alternas, ápice agudo, base atenuada, margens inteiras, coriáceas, de coloração mais pálida na face inferior. As flores são solitárias e axilares, com três sépalas imbricadas e seis pétalas róseas; os frutos são múltiplos (Corrêa, 1984; Bontempo,1994; Barroso et al., 1999). Na medicina popular, é conhecida como marolinho, araticum-do- Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.8, n.4, p.218-222, 2006 219 campo, araticum-do-cerrado e araticum-bravo, ata brava, ata de lobo. Forrageira acessível de mediana aceitabilidade pelo bovino. O chá de suas folhas é indicado para combater dismenorréia, metrorragia e diarréia. (Sangalli, 2000; Lorenzi & Matos, 2002). Segundo Pott & Pott (1994), cascas e raízes combatem reumatismo, o fruto é usado para amolecer feridas. Silva (1998) cita que seu fruto é consumido in natura. O chá da raiz é usado como calmante, anti-reumático, para dores nos rins e de coluna. Gottsberge (1987) comenta que a raiz é usada contra dores de estômago. Rodrigues & Carvalho (2001) relatam serem suas folhas anti-reumáticas e poderem ser usadas em infuso ou tisana: uma xícara de café com ramos e folhas picadas para um litro de água. Tomar de três a quatro xícaras de chá ao dia. Gavilanes & Brandão (1998) referem-se ao fato de as sementes serem utilizadas contra piolho. O estudo fitoquímico da Duguetia permitiu a determinação de um óleo essencial contendo betacariotileno, germacreno e delta elemeno como principais componentes. Dentre os constituintes fixos, a anonaína (um alcalóide), anonacilina II (de atividade pesticida), saponinas e acetogeninas, os estudos farmacológicos demonstraram a existência de várias propriedades biológicas incluindo a ação citotóxica, antimalárica e antimicrobiana (Souza et al., 1991). Em teratogenia, o estudo dos efeitos tóxicos de algumas drogas, podem se manifestar em desenvolvimento fetal retardado com redução de peso fetal. A implantação do blastocisto em mamíferos prenhes requer uma série de fenômenos integrados que incluem a preparação uterina, transporte do embrião, anexos embrionários, transformação uterina, desenvolvimento placental e sistema hormonal para apoiar cada passo (Aliverti et al., 1979). Uma percepção do mecanismo de fracasso da pré e pós-implantação do blastocisto por toxicidade, em experiências com drogas, é necessária para avaliar melhor riscos reprodutivos. Como um auxílio, pesquisas estão sendo feitas para provar tal situação, com pools de testes desenvolvidos para sondar estes mecanismos pelos quais substâncias químicas puras isoladas de plantas afetam a fertilidade em roedores. O protocolo de prenhez provê informação doseresposta sobre os efeitos de exposição, em curto prazo, de animais com indução de prenhez (Cummings, 1990). A pré e pós-implantação do blastocisto sofrem efeitos fisiológicos diferenciais sobre o efeito de tais substâncias químicas, servindo para distinguir embriotoxicidade de efeitos tóxicos diretos nas funções uterinas. Pode-se avaliar, por exemplo, a perda embrionária por aceleração ou retardo das implantações dos embriões no útero, o que comprova então, que efeitos tóxicos podem influir na fertilidade, seguida de prenhez precocemente interrompida. Além disso, a toxicidade na mãe é também um possível fator de malformações fetais em ratas (Khera 1984; Cummings, 1990). Dada a controvérsia existente acerca do uso empírico e o pouco conhecimento científico a respeito dos efeitos fitotóxicos, objetivou-se avaliar a ação fitotóxica do extrato aquoso a quente e a frio das partes aéreas de Duguetia furfuraceae (St. Hil.) B. et H. em ratas prenhes. MATERIAL E MÉTODO 1. Animais Foram utilizadas ratas albinas, virgens, da linhagem heterogênica Wistar (Rattus norvegicus) provenientes do Biotério da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus de Campo Grande. Os animais foram mantidos em gaiolas de polietileno forradas com maravalha, no Biotério do Núcleo Experimental de Ciências Agrárias, da UFMS, em Dourados, em ambiente com temperatura controlada (aproximadamente 26ºC) e ciclo claro-escuro de 12 horas (Almeida & Lemonica 2000). Antes do início dos experimentos, os animais foram aclimatizados por um período de 10 dias, para adaptação ao novo meio, recebendo apenas água destilada e ração ad libitum. Depois, foram pesadas e colocadas cinco fêmeas em cada caixa já contendo dois machos, os quais necessitavam demarcar território. As gaiolas e as fêmeas foram devidamente identificadas e fichadas. 2. Material vegetal A espécie Duguetia furfuracea (St. Hil.) B et H. foi coletada na Fazenda Santa Madalena, estrada Dourados Ithaum, rodovia BR 270, km 45, no período matutino no mês de junho de 2003. A espécie foi identificada por Andréia Sangalli e a exsicata está depositada no Herbário DDMS, sob número 21 (Sangalli, A. - 69 em 16/06/2003). 3. Extração, concentração e via de administração 3.1. Extração a quente: As folhas foram secas à temperatura ambiente, sendo 20 g trituradas e submetidas à extração com água destilada (100 mL) a 40ºC por 24 horas, obtendose, após a filtração, o extrato aquoso. A solução tratamento foi preparada na concentração 5% p/V. 3.2. Extração a frio A extração a frio nas concentrações 5%, 10% e 20%, foram feitas por maceração com água destilada (100 mL), obtendo-se após filtração, o extrato aquoso, sendo a solução tratamento preparada nas concentrações 5%, 10% e 20% p/V. O grupo controle recebeu água filtrada e ração ad libitum. 4. Procedimentos experimentais O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, com quatro tratamentos (5%, 10% e 20% a frio e 5% a quente) e cinco repetições. Cada parcela foi constituída por cinco fêmeas, que foram submetidas ao acasalamento over night. Foram consideradas prenhes as ratas nas quais havia presença de espermatozóides nos esfregaços Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.8, n.4, p.218-222, 2006 220 vaginais, associado à fase estro. Este dia foi considerado dia zero de prenhez (Kato et al., 1979). Confirmada a prenhez, as ratas foram separadas dos machos e mantidas em gaiolas grandes de polietileno com capacidade para cinco fêmeas, onde receberam os diferentes tratamentos. 4.1. Grupos experimentais Os animais foram distribuídos em oito grupos: G1, G2, G3, G4, G5, G6, G7, G8, sendo G(n=20) o grupo da concentração 5% à quente, 24 horas, e G2, G3, G4, respectivamente (n=20), a 5%, 10% e 20% a frio. Os demais grupos foram grupos controle de cada tratamento (n=20). Do 5º ao 9º dia de prenhez (pré-implantação do blastocisto até organogênese), cada grupo recebeu os extratos da planta (1 mL/rata) (p/V) inoculados por gavagem uma vez ao dia. No 19º dia, as ratas foram sacrificadas por inalação com éter, realizando-se laparotomia com histerectomia, expondo os cornos uterinos, que foram abertos para contagem dos pontos de implantação, pontos de reabsorção e número de fetos vivos e mortos. Na ausência de desenvolvimento fetal ou de pontos de implantação visíveis, o útero foi submetido à técnica de coloração com reativo de Salewsky (1964), para visualização e determinação desses pontos (Rabello-Gay, 1998). Os fetos foram retirados do útero, contados, medidos e pesados, separados de suas respectivas placentas, que também foram pesadas, individualmente. Todos os fetos foram observados em estereomicroscopia para diagnóstico de anomalias e/ ou malformações externas. Foi considerada malformação quando as anormalidades estruturais encontradas eram incompatíveis com a sobrevivência, e anomalia quando da ocorrência de alteração do processo normal do desenvolvimento sem comprometimento da função geral e desenvolvimento pós-natal do indivíduo (Almeida & Lemonica, 2000). Um terço dos fetos de cada ninhada foi submetida à análise de anomalias e/ou malformações; um terço, para análise das anomalias e/ou malformações viscerais e um terço, para o método da coloração com Alcian Blue (Wilson, 1965) que permite melhor visualização da meningomielocele e defeitos no fechamento do tubo neural. Para a observação de anomalias e/ou malformações ósseas, os fetos foram diafanizados e corados com Alizarina S (Rabello-Gay, 1998). Para a observação de anomalias e/ou malformações viscerais, os fetos foram colocados em solução de formol a 10%, para fixação das estruturas viscerais e posterior descalcificação óssea, que foram avaliadas posteriormente pelo método de secções semi-seriadas de Wilson (1965). Foi feita também a contagem dos pontos de ossificação para determinação do grau de desenvolvimento fetal (RabelloGay, 1998). Foram contados os corpos lúteos para averiguação de aborto ou prenhez, e pesado ovário, útero, pâncreas, baço, rim e fígado. As ratas mães foram pesadas no 1º, 5º, 9º e 19º da montagem do ensaio. A contagem de pré-implantação de corpos lúteos foi calculada pela fórmula: nº de corpos lúteos _ nº de implantações nº de corpos lúteos x 100 A contagem de pós-implantação foi calculada pela fórmula: nº de implantação _ nº de fetos vivos nº de implantações x 100 Análise estatística Os dados foram submetidos à análise de variância, e quando detectada diferença significativa entre tratamentos, as médias foram comparadas pelo teste de Tukey, considerando-se a significância de 5% . RESULTADO E DISCUSSÃO Em nenhum grupo experimental, houve mortes maternas; porém, em todos os tratamentos as fêmeas apresentaram diarréia, prurido e epistaxe, que ocorreu com maior freqüência conforme o aumento da concentração do extrato da Duguetia. Não houve aumento de peso significativo nas fêmeas, desde o início do tratamento até o dia do sacrifício (Tabela 1), provavelmente pela presença da diarréia. Esses resultados indicam uso errôneo da Duguetia, pois de acordo com a literatura (Sangalli, 2000; Lorenzi & Matos, 2002) deve ser usada no tratamento de diarréia. Nas ratas tratadas, após laparotomia e histerectomia, foram observadas presença de placentas esbranquiçadas (Figura 1a), certamente, por redução na circulação e nas trocas materno-fetais. Em alguns úteros ocorreu presença de placenta diminuta sem feto (Figura 1a), o que indica claramente a reabsorção do mesmo. A maioria dos fetos dos grupos tratados apresentou peso e tamanho pequeno para a idade de prenhez com relação aos grupos controle (Figura 1b). Dois úteros achavam-se preenchidos por um líquido semelhante ao amniótico e desprovido de fetos (Figura 1c); no entanto a quantidade de líquido coletada e enviada para a análise foi insuficiente para um diagnóstico confirmativo.Todavia, observou-se pontos de implantação de blastocistos Os pesos dos fígados das ratas tratadas tiveram aumento médio significativo, em relação à média das ratas do grupo controle, o que indica ação hepatotóxica da planta em estudo. A maioria dos úteros das ratas tratadas apresentou presença de cistos (Tabela 1), o que comprova a implantação do blastocisto; porém, sem desenvolvimento fetal (Figura 2a).O número médio de abortos e o de absorções em forma de cistos das ratas que foram submetidas ao tratamento sofreu redução apreciável, em relação à média daquelas do grupo controle, porém, não significativa. A presença de malformações nas ninhadas ocorreu principalmente durante a organogênese. Independente do tratamento, as anomalias e malformações esqueléticas e viscerais foram semelhantes entre os grupos. Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.8, n.4, p.218-222, 2006 221 TABELA 1. Médias do peso inicial (Pi), peso ao 5º dia (P5), peso ao 9º dia, (P9), peso final (P19), peso de fígado (PF), número de cistos (NC), número total de corpos lúteos (NTCL), número de corpos lúteos do ovário direito (NCLOD) e esquerdo (NCLOE) de ratas prenhes submetidas a diferentes concentrações e temperaturas do extrato aquoso de Duguetia furfuraceae (ST. Hil.) B. et H. UFMS, Dourados, 2003. Tratamentos Características Pi P5 P9 P19 PF NC NTCL NCLOD NCLOE 5% frio 177,0ab 214,2b 207,2b 243,8ab 11,7a 6,2a 15,6ab 7,6ab 6,6ab 10 % frio 197,0ab 213,8b 205,0b 241,3ab 11,2a 10,4a 21,4a 10,0a 11,4a 20 % frio 199,6ab 217,4b 212,2b 220,2 b 12,5a 5,2ab 10,2b 5,2ab 7,4ab 5% quente 172,6b 197,1b 190,8b 254,5ab 11,2a 5,2ab 16,8ab 7,6ab 9,2ab Testemunha 228,8a 268,6a 255,2a 281,6a 9,2b 0,0b 7,6b 3,6b 4,2b Médias seguidas por letras distintas diferem entre si, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade. a c b FIGURA 1. a) placenta diminuta e placentas esbranquiçadas; b) feto normal (controle) e fetos tratados (protrusão dos olhos e hepatomegalia); c) útero desprovido de fetos, com líquido semelhante ao amniótico. Em alguns úteros ocorreu presença de placenta diminuta sem feto (Figura 1a), o que indica claramente a reabsorção do mesmo. A maioria dos fetos dos grupos tratados apresentou peso e tamanho pequeno para a idade de prenhez com relação aos grupos controle (Figura 1b). Dois úteros achavam-se preenchidos por um líquido semelhante ao amniótico e desprovido de fetos (Figura 1c); no entanto a quantidade de líquido coletada e enviada para a análise foi insuficiente para um diagnóstico confirmativo.Todavia, observou-se pontos de implantação de blastocistos Os pesos dos fígados das ratas tratadas tiveram aumento médio significativo, em relação à a média das ratas do grupo controle, o que indica ação hepatotóxica da planta em estudo. A maioria dos úteros das ratas tratadas apresentou presença de cistos (Tabela 1), o que comprova a implantação do blastocisto; porém, sem desenvolvimento fetal (Figura 2a).O número médio de abortos e o de absorções em forma de cistos das ratas que foram submetidas ao tratamento sofreu redução apreciável, em relação à média daquelas do grupo controle, porém, não significativa. A presença de malformações nas ninhadas ocorreu principalmente durante a organogênese. Independente do tratamento, as anomalias e malformações esqueléticas e viscerais foram semelhantes entre os grupos. b c FIGURA 2. a) útero com cistos; b) defeito no fechamento do tubo neural, região posterior; c) fetos pequenos para o dia de prenhez , com pontos hemorrágicos na região cefálica (a seta indica ainda, atrofia da pata superior direita. Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.8, n.4, p.218-222, 2006 222 Em todos os grupos experimentais foram Em todos os grupos experimentais foram diagnosticadas mal formações ou anomalias iagnosticadas malformações ou anomalias externas, tais como meningomielocele (Figura 2b) com saco parcialmente epitelializado, pele fina e pegajosa, defeito no fechamento do tubo neural na região anterior e posterior, falta de rigidez axial e pontos hemorrágicos em várias partes do corpo. Notou-se ainda ocorrência de hepatomegalia com atrofia pulmonar, língua protrusa, protrusão branda dos olhos e exocefalia branda. Um único feto nasceu com atrofia da pata superior direita (Figura 2c). A contagem total dos pontos de ossificação foi em média 28,95 no grupo controle e 12,07 nos grupos tratados, evidenciando diferença significativa entre os grupos. Também foram observadas hemivértebras, arcos fundidos, vértebras e costelas fundidas com o externo. Os números de pares de somitos em alguns fetos foram menores que o desenvolvimento real do mesmo, indicando um retardamento de pelo menos três dias na organogênese. Estas malformações observadas não foram significativas. O total de corpos lúteos dos tratamentos apresentou uma redução significativa em relação a testemunha (Tabela 1), sendo o mesmo efeito observado para a característica corpo lúteo ovário direito e esquerdo. CONCLUSÃO O efeito da embriotoxicidade na fase de prenhez (5º ao 9º dia) é mais complexo do que geralmente é assumido pelos pesquisadores (Spielmann et al., 1977). No entanto, os resultados obtidos indicam provável toxicidade dos extratos testados da Duguetia furfuraceae, trazendo a necessidade da realização de outras pesquisas, sobre o uso medicinal desta planta. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ALIVERTI, V., BONANONI, L., GIAVINI, E. et al. The extent of fetal occification as an index of delayed develomment in teratogenic studies on the rat. Teratology, v.20, p.237-242, 1979. ALMEIDA, F.C.G, LEMONICA, I.P. The toxic effects of Coleus barbatus B. on the different periods of pregnancy in rats. Journal of Ethnofarmacology, v.73, p.53-60, 2000. BARROSO, G.M., MORIM, M.P., PEIXOTO, A.L. et al., Frutos e sementes: morfologia aplicada à sistemática de dicotiledôneas. Viçosa: UFV, 1999. 443 p. BONTEMPO, M. Medicina natural. São Paulo: Nova Cultural, 1994. 584 p. CORRÊA , M.P. Dicionário de plantas úteis do Brasil e das exóticas cultivadas. Rio de Janeiro:Imprensa Nacional, v.1, 1984. 747 p. CUMMINGS, A.M. Toxicological mechanisms of implatation failure. 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