I Workshop sobre diversificação produtiva da cana-de-açúcar: Novos processos, produtos e negócios UFScar- CNI - IEL – SEBRAE Produtos tradicionais da cana-de-açúcar Cláudio Hartkopf Lopes Maria Teresa Mendes Ribeiro Borges Luiz Marcio Poiani Produtos tradicionais da cana-de-açúcar • Histórico & Mercado • Qualidade & Competitividade Histórico • O setor açucareiro brasileiro surgiu em 1532 e teve um grande crescimento até o século XVIII, quando a produção do Caribe (Cuba, Jamaica, República Dominicana, etc) começou a suplantar a nossa, pela sua maior proximidade com os mercados europeu e norte americano. Teve início então, o lento declínio da hegemonia açucareira brasileira. Histórico • No final do século XIX e início do século XX, o Brasil praticamente deixou de exportar açúcar. • A reação brasileira teve início na década de 30 do século XX, com a intervenção do estado no setor em 1932, através do órgão estatal IAA. Foi então iniciado a modernização dos engenhos, seu fechamento ou sua transformação em usina de açúcar. Foi também incentivado a produção de álcool para fins combustíveis. A redescoberta dos produtos tradicionais Na década de 90 a procura por alimentos mais naturais e orgânicos, de baixo processamento tecnológico, com poucos insumos “pouca química”, fez voltar a crescer a produção de açúcar mascavo, cachaça de alambique e de outros derivados tradicionais da cana. O mercado de produtos naturais tem crescido no mundo a uma taxa de 20% ao ano. A redescoberta dos produtos tradicionais • A demanda por açúcar mascavo vem crescendo desde 1980 em todo o mundo, com uma taxa de 15% ao ano (IAPAR) • O mercado dos chamados produtos orgânicos movimentou em 2003 cerca de US$ 300 milhões no Brasil. • A maior parte da movimentação financeira do setor provem do mercado externo. Derivados da cana-de-açúcar • Tradicionais, artesanais muitas vezes denominados de – Mascavo – centrifugado ou granulado e batido ou amorfo – Rapadura – simples ou mista – Aguardente de alambique – envelhecida, aromatizada etc – Melado – mel esgotado ou xarope concentrado e invertido. – Garapa – extraída na hora ou embalada Responsabilidade Social e Ambiental • Os produtos tradicionais são originados em pequenas agroindústrias em escala de subsistência. • A cultura da cana conduzida em forma de agricultura familiar procura atingir também outros objetivos como preservação do solo, da água e da qualidade de vidas do trabalhador. Novo enfoque para estes produtos • Os atuais consumidores de produtos naturais estão acostumados com produtos de elevado nível de qualidade. • As agências governamentais estão bastante atentas aos aspectos da segurança alimentar ou seja na presença de metais pesados micotoxinas etc. Qualidade • A qualidade pode ser visualizada em diferentes dimensões - Atendimento às especificações Comprador Institucionais - Atendimento às expectativa do consumidor Industrial Residencial Qualidade e o consumidor • Bom aspecto, sabor e odor • Padronização (sempre as mesmas características) • Preço compatível • Disponibilidade (fácil de encontrar) • Durabilidade (vida de prateleira alta) Qualidade e as agências governamentais nacionais ou internacionais • • • • Presença de metais pesados Resíduos de agrotóxicos Microorganismos ou toxinas Parâmetros de especificações Controle de qualidade Controle de Qualidade Conhecer os parâmetros Conhecer os caminhos para obtenção dos parâmetros Registrar Rever continuamente Controle de Qualidade Conhecer os atributos - saber qual o teor máximo de determinado metal é permitido. - saber a cor que o consumidor quer no produto. - saber sobre a presença ou não de resíduos de agrotóxicos. - ... saber quais atributos são desejados... pelos diferentes consumidores... Controle de Qualidade Conhecer os caminhos para obtenção dos atributos Seguir os procedimentos - saber quais as origens dos metais presentes no produto e minimizar ao máximo a influencia delas. (Aso) - saber quais os precursores da cor do produto e agir minimizando suas ações. (fenólicos) Controle de Qualidade Registrar - anotar as variedades utilizadas ..., os insumos ..., e outros que podem ser responsáveis pela presença dos metais. - anotar Brix, pH das variedades utilizadas -preservar a rastreabilidade Controle de Qualidade Rever continuamente Melhoria contínua - utilizar os registros..., correlacionar os resultados do controle com a qualidade obtida... detectar pontos a serem melhorados... Parâmetros de controle Agronômicos visando cada produto – variedade (composição, PUI, perfilhamento) – condições edafoclimáticas, – cultivo (adubação, orgânico ou não) – doenças (insumos) Parâmetros de controle de processamento visando cada produto - colheita e armazenamento da matéria-prima - Extração -(projeto da moenda, pressão) Parâmetros de controle de processamento visando cada produto - Boas práticas de fabricação (Limpeza, organização) - Laboratório mínimo (refratômetro de campo, termômetro, pHmetro, balança, estufa) - Controles em caldos... (Brix, pH...) - equipamentos (projetos, dimensionamento) Parâmetros de controle Produto inspeção por lote Inspeção - visual (aspecto), odor, umidade, cor aparente,etc. - uma vez por mês apoio de um laboratório - analise de polarização, umidade, teor de cinzas, cor ICUMSA, ou outras informações que o cliente necessita. - certificados – embalagens - cada país tem sua legislação Qualidade – Exigência dos compradores • Os açúcares tem sua comercialização regida pelos seguintes indicadores de qualidade: – Teor de sacarose (polarização) – Umidade – Açúcares redutores – Cinzas – Resíduo insolúvel – Aspecto visual – Odor Qualidade – proposta UFSCar • A UFSCar está elaborando uma proposta de especificação para açúcar mascavo onde os indicadores de qualidade anteriormente citados assumem os seguintes valores. – Polarização mínima 90 ºZ – Umidade máxima 3,5 % – Açúcares redutores máximo 2,4% – Açúcares redutores totais mínimo 93 % – Cinzas máximo 2,2 % Qualidade Garapa ou caldo de cana • A qualidade do caldo para o consumo direto é função da variedade da cana, do seu grau de amadurecimento e da higiene em sua extração. • Em algumas regiões açucareiras como na Martinica p.ex., a garapa de cana é tratada e embalada em caixas tipo longa vida para exportação. Qualidade Garapa ou caldo de cana • A UNICAMP – Campinas SP está desenvolvendo um trabalho de estabilização da garapa para sua comercialização, • A UFSCar – Araras SP está estudando variedades apropriadas para utilização como bebida como, teor de açúcar, sais minerais e aspecto visual (cor e turbidez) aceitáveis pelos consumidores. Qualidade Melado ou mel de engenho • Este produto deve apresentar um teor de açúcares invertidos superior à 25 % para que não cristalize na embalagem. • Sua concentração(Brix) deve ser superior a 76%, para prevenir qualquer deterioração microbiológica. • A inversão deve ser preferencialmente induzida pela adição de ácidos ou enzimas para evitar o sabor desagradável que muitas vezes ocorre em uma inversão natural. Aguardente ou cachaça Legislação – O produto deve conter de 38 a 54 ºGL e 6g/L de açúcar. – Produtos secundários 250 à 800 mg/100mL considerando álcool absoluto. – Furfural – máx. 4 mg/100 mL de álcool absoluto – Álcoois superiores – 500 mg/100 mL de álcool absoluto – Cobre – máx. 1 mg/100 mL de álcool absoluto (internacional 3mg/L de aguardente) Cachaça • Produção anual – 1,5 bilhões de litros – – – – – São Paulo 44% do total Pernambuco 12 % Ceará 12 % Minas Gerais 8 % Rio de Janeiro 8 % • Exportação – 20 milhões de litros Cachaça • Da produção nacional 1050 milhões de litros corresponde as grandes industrias que utilizam colunas destiladoras para a sua produção e o restante 450 milhões a cachaça artesanal feita em pequenos alambiques por aproximadamente 30 mil produtores. Qualidade – aguardente • Deve-se ter o cuidado para que a fermentação transcorra sem a presença de outros microorganismos e que a destilação do vinho se realize logo após o final da fermentação. • Na destilação em alambique, deve-se ter o cuidado de separar as primeiras frações (maus gostos de cabeça) e as últimas frações (maus gostos de cauda). Indicadores econômicos 1 - Produção (* ton ,+10 3 l /ano), Investimento (R$) ,TIR (%) e Tempo Retorno (anos) Prod. Açúcar Mascavo * 330 Rapadura * 330 Cachaça + 1.650 Melado + 330 Bagaço Hidrolisado * 7.920 Papel * 24.300 Garapa + 330 Vinagre + 330 Palmito * 66 Briquete * 5.280 Cachaça Envelhecida +_ 150 Invest. 431.000 448.000 750.750 257.730 345.261 32.261.580 134.640 248.424 240.780 1.727.523 229.000 TIR 43,33% 72,97 39,56 38,41 45,83 37,06 110,29 23,91 41,12 24,45 104,8 T. R. 2,4 1,4 2,5 2,6 2,2 2,7 0,9 4,2 2,4 4,1 1 • Complexidade tecnológica de nível baixo/ médio • Escala de produção recomendada • 1.000 kg/l/dia mascavo, rapadura, melado, garapa e vinagre • Papel - 75 ton/ dia tamanho mínimo • Palmito - função da produção bovina - 10 ton/dia • Bagaço hidrolisado - 24 ton/dia para 1600 bois confinados • Cachaça - 5000 l/dia e para envelhecimento de 500 a 1000 l/dia • Taxa interna de retorno: bom acima de 25% • Média de 40% , tempo de retorno de 30 meses (pequeno consumo, qualidade do produto) • Rapadura - 75% , tempo de retorno de 18 meses, mista com abóboras, coco, amendoim, etc. (existe o consumo e formato apropriado) • Cachaça envelhecida e garapa estabilizada - 100% , retorno 12 meses (simplicidade do processo e alto valor agregado 12 canas / 25 copos) • Mercado inelástico • Briquete - 20%, retorno 48 meses (lenha ecológica) preferência consumidor, mínimo 1 t/h, viável no NE cana mais fibrosa e pouca cogeração. • Vinagre - 20%, retorno 48 meses, consumo 1,5 l/Brasil, 6 l/Europa, reposicionamento condimento funcional. • 2 - Eficiência econômica e competitividade da micro, pequena e média empresa • estudar os diferentes aspectos da cadeia produtiva - Ex. trabalho do SEBRAE / AL. • tendência mundial consumo de produtos naturais, explorar este nicho tanto a níveis interno quanto externo. • fundamental que o pequeno, micro e o médio tenha acesso ao conhecimento - estrutura / organização que os apóiem, no sentido de ** melhorias do processo** • Exemplo bem sucedido são cursos de treinamento oferecidos pela UFSCar a agroindústria familiar. • • • • Melhorias do processo - o design do produto é fundamental, 70% das decisões de compra são tomadas no ponto de venda. A diferença entre os produtos é definida pela embalagem e marca. - a embalagem deixa de ser um custo e passa a ser uma forma de diferenciar e agregar valor aos produtos. deve ser funcional, fácil de abrir, de fechar, de descartar e permitir o uso de porções adequadas. não vende sozinha, preço e qualidade são decisivos. • o rótulo orienta o consumidor no momento da compra: características do produto, suas qualidades, quantidade, composição, preço, validade, garantia/segurança dos consumidores, fabricante.... • A necessidade das certificações da organização internacional para padronização (ISO), principalmente ISO 14000 que trata da gestão ambiental, necessidade de procedimentos operacionais padronizados.... • Subprodutos. Aproveitamento integrado para alimentação de bovinos e suínos • resíduos da cultura da cana (ponta/palmito) 10% em peso da cana madura (sem queima) adicionados de uréia e nutrientes. • bagaço: direto na fornalha da caldeira/tachos de concentração de caldo, restante: adubos orgânicos. • A espuma da garapa (5% do volume do caldo) processamento da rapadura, mascavo e melado. • A vinhaça ( 1 l cachaça gera 6 l vinhaça) para os pequenos duas aplicações básicas ou fertirrigação ou alimentação animal. • Produtividade com Qualidade • processamento industrial otimizado: dimensionamento correto dos equipamentos (evitar gargalos): caldeira ( 4-6 atm fogo tubular, termodinâmica, limpeza favorável) x fogo direto, vasos abertos (impureza retirada manual) x fechados, tecnologia do vácuo (menor consumo energético), processo contínuo (melhor automação, cultura e tradição) x batelada. • monitoramento das eficiências do processo: controle das variáveis do processo e automação industrial. • programa interno de controle da qualidade: matéria-prima e produto. FIM