UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO Douglas Ferreira Goios Potencialidades didático-pedagógicos de um objeto para aprendizagem: Uma análise através da Teoria da Cognição Corporificada para o ensino de trigonometria. Mestrado Acadêmico UNIBAN-SP 2010 UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO Douglas Ferreira Goios Potencialidades didático-pedagógicos de um objeto para aprendizagem: Uma análise através da Teoria da Cognição Corporificada para o ensino de trigonometria. Dissertação apresentada ao programa de pós-graduação Stricto Sensu em Educação Matemática da UNIBAN, para defesa, sob orientação da Profª. Dra. Janete Bolite Frant. Linha de pesquisa: Tecnologias Digitais e Educação Matemática Mestrado Acadêmico UNIBAN-SP 2010 G556pGoios, Douglas Ferreira. Potencialidades didático-pedagógicos de um objeto para aprendizagem: Uma análise através da Teoria da Cognição Corporificada para o ensino de trigonometria / Douglas Ferreira Goios - São Paulo: [s.n.], 2010. 132f. ;il. 30 cm. Dissertação de Mestrado - Programa de Pós Graduação em Educação Matemática, Universidade Bandeirante de São Paulo, Curso de Educação Matemática. Orientadora: Profa. Dra. Janete Bolite Frant. 1.Trigonometria 2.Metáforas 3.Objetos de Ensino 4.Cenário para Investigação I. Título CDD 510 FOLHA DE APROVAÇÃO Aprovado em:1 de Setembro de 2010 Banca examinadora Profa. Dra. Janete Bolite Frant Instituição: UNIBAN Assinatura: ______________________ Profa. Dra. Nielce Meneguelo Lobo da Costa Instituição: UNIBAN Assinatura:______________________ Profa. Dra Rosana Giaretta Sguerra Miskulin Instituição: UNESP Assinatura: ______________________ Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta dissertação por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos. Assinatura: _________________________ Aos meus pais Darlan e Heloisa que sempre estiveram presentes e me apoiaram em todas as minhas realizações e as minhas filhas Bárbara e Beatriz, minha inspiração para viver. Agradecimentos A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização desse trabalho, meus sinceros agradecimentos. À minha orientadora Profa. Dra. Janete Bolite Frant, pela paciência, dedicação, incentivo e por acreditar no meu trabalho. Mais do que orientadora, uma amiga. À minha esposa Patrícia, pelo incentivo, amor, carinho e cumplicidade. À minha tia Célia, especialmente pelas várias correções desse texto. Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática, pelo apoio, incentivo, dedicação e presença sempre constantes. Aos colegas do Programa de Mestrado e Doutorado da Universidade Bandeirante de São Paulo, pelos bons momentos que vivemos juntos. Aos professores da Banca Examinadora: Profa. Dra. Nielce Meneguelo Lobo da Costa e Profa. Dra Rosana Giaretta Sguerra Miskulin, por aceitar o convite para participar da banca examinadora deste trabalho e pela avaliação cuidadosa que fizeram, pelas sugestões e críticas que me ajudaram a alcançar os resultados aqui apresentados. Resumo Esta pesquisa tem por objetivo investigar e analisar que aspectos são ou não favorecidos no processo de ensino de trigonometria, no Ensino Médio, especificamente sobre conceitos de trigonometria, em um ambiente utilizando recursos digitais. A partir da Teoria da cognição corporificada (LAKOFF & JOHNSON, 2001; LAKOFF & NUÑEZ, 2000) busca analisar a produção de significados e as metáforas apresentadas pelos alunos durante as aulas de trigonometria. Para o desenvolvimento do cenário de aprendizagem utiliza o conceito de Cenário para Investigação (Skovsmose, 2008), que tem como princípio fundamental a aprendizagem dos alunos através da investigação. Este cenário foi construído a partir dos materiais disponibilizados para um professor de matemática da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, tais como livros didáticos, Proposta Curricular do Estado de São Paulo e Objetos de Aprendizagem disponibilizados pelo Ministério de Educação e Cultura – MEC. Como resultados desta pesquisa podemos dizer que o Objeto de Ensino (OE) elaborado colaborou com a aprendizagem dos alunos, e entre as características positivas do OE também podemos acrescentar a qualidade visual do círculo trigonométrico, que não é possibilitada no uso do papel e lápis, também acrescento que o OE permite inúmeras interações entre o aluno e o círculo trigonométrico. Nesta pesquisa também surgiram exemplos de metáforas de ligação, onde através de outros conhecimentos matemáticos os alunos construíram um novo conhecimento. Isto é evidenciado quando os alunos fazem a montagem de seus conhecimentos de plano cartesiano, conforme sugere Lakoff & Núñez (2000) na montagem do círculo trigonométrico e nas metáforas do movimento fictivo. Sobretudo, a dinâmica possibilitada pelos OEs criou um movimento no círculo trigonométrico, onde esta percepção visual é evidenciada pelas metáforas dos alunos como o “seno subiu” o “seno desceu”. Assim o movimento, inicialmente fictivo do seno de um ângulo tornase factivo, via o dinamismo proporcionado pela representação virtual do OE. Isto é, o seno de um ângulo é a razão entre as medidas do cateto oposto e da hipotenusa, cujo valor é expresso por um número que “evidentemente” não se move e a função e seu gráfico idem. Mas quando o aluno fala sobre o OE o dinamismo se sobrepõe ao estático auxiliando a compreensão deste conceito. Palavras-chave: Trigonometria, Metáforas, Objetos de Ensino, Cenário para Investigação. Abstract This research aims to investigate and analyze the aspects which are or are not favored in the teaching of trigonometry in high school, specifically on the concepts of trigonometry in an environment using digital resources. From the theory of embodied cognition (Lakoff & Johnson, 2001; LAKOFF & NUÑEZ, 2000) analyzes the production of meanings and metaphors presented by the students during classes in trigonometry. To develop the learning scenario uses the concept of Scenario for Research (Skovsmose, 2008), which has as its basic principle the students' learning through research. This scenario was constructed from the materials made available as a mathematics professor at the Department of Education of the State of São Paulo, such as didactic books, curricular proposal of the State of São Paulo and the objectives of learning available by MEC. The results of this research we can say that the object of education (OE) prepared collaborated with students' learning, and between the positive characteristics of the OE can also add the visual quality of the trigonometric circle, which is not made possible the use of paper and pencil, also add that the budget allows countless interactions between the student and the trigonometric circle. This research also appeared examples of metaphors of connection, where other means of mathematical knowledge students have constructed a new knowledge. This is evidenced when students are assembling their knowledge of the Cartesian plane, as suggested by Lakoff & Núñez (2000) in the assembly of the trigonometric circle and the metaphors of fictive motion. Above all, the dynamics made possible by OEs created a stir in the trigonometric circle, where the visual perception is evidenced by the metaphors of the students as the "sine rose" the "sine fell." So the movement, initially fictive sine of an angle becomes feasible, through the dynamism provided by the virtual representation of OE. That is, the sine of an angle is the ratio between measurements of the leg opposite and hypotenuse, whose value is expressed by a number that "obviously" does not move and function, its graph Ibid. But when a student talks about the dynamism OE overlaps the static aiding the understanding of the concept. Keywords: Trigonometry, Investigation. Metaphors, Learning Objects, Scenario for Índice de Figuras Figura 1: Tela de abertura para acesso ao OA – “Trigonometria com Molas” do RIVED .............................................................................................................. 20 Figura 2: Os espaços de uma Montagem Conceitual....................................... 30 Figura 3: 1º estágio da montagem do círculo trigonométrico (Lakoff & Núñez, 2000, p.390) ..................................................................................................... 32 Figura 4: 2º estágio da montagem do círculo trigonométrico. (Lakoff & Núñez, 2000, p.391) ..................................................................................................... 32 Figura 5: 3º estágio da montagem do círculo trigonométrico. (Lakoff & Núñez, 2000, p.392) ..................................................................................................... 33 Figura 6: Papiro Rhind, Museu de Londres. (fonte: http://www.archaeowiki.org/ Image: Rhind_Mathematical_Papyrus.jpg – acesso 10/09/2009).................... 57 Figura 7: Tela de abertura para acesso ao OA – “Mundo da Trigonometria” ... 72 Figura 8: Círculo Trigonométrico ...................................................................... 74 Figura 9: Localização de um ponto P sobre o círculo ....................................... 74 Figura 10: Determinação do ângulo ................................................................ 75 Figura 11: Projeção ortogonal do ponto P sobre o eixo y ................................. 75 Figura 12: Determinação do valor do seno....................................................... 76 Figura 13: Tela do gráfico da função seno ....................................................... 77 Figura 14: Tela do jogo do AO “Mundo da Trigonometria” ............................... 78 Figura 15: Tela da atividade do OA “Trigonometria com Molas” ...................... 80 Figura 16: Tela das questões da atividade do OA “Trigonometria com Molas” 80 Figura 17: Tela da atividade 2 do OA “Trigonometria com Molas” ................... 81 Figura 18: Layout da sala – Encontro 1 ............................................................ 89 Figura 19: Grupo 1 - Sequencia de Atividades ................................................. 93 Figura 20: Grupo-2 iniciando atividade............................................................. 94 Figura 21: Grupo-2 – desenvolvendo atividade ................................................ 95 Figura 22: Layout da sala 2º e 3º encontro ...................................................... 97 Figura 23: Texto confuso para Renan ............................................................ 100 Figura 24: Leitura da função seno por Gabriela ............................................. 104 Figura 25: Entendimento do valor do Seno pelo Grupo 2 .............................. 106 Figura 26: Grupo 2 Sequencia de Atividades ................................................. 106 Figura 27: Movimento das mãos de Renan .................................................... 108 Figura 28: Resposta grupo 1 .......................................................................... 108 Figura 29: Resposta grupo 2 .......................................................................... 109 Figura 30: Applet Círculo Trigonométrico ....................................................... 110 Figura 31: 1º estágio da montagem do círculo trigonométrico ....................... 116 Figura 32: OE Função Seno ........................................................................... 127 Índice de Tabelas Tabela 1 – Metáfora VIAGEM É VIDA .............................................................. 26 Tabela 2 – Metáfora: PONTOS SÃO COISAS FÍSICAS .................................. 28 Tabela 3 – Domínio fonte para o Círculo Trigonométrico ................................. 31 Tabela 4 – Metáfora para o Círculo Trigonométrico ......................................... 33 Tabela 5 – Ambientes de aprendizagem (Skovsmose, 2008, p.23) ................. 37 Tabela 6 – Nativos e Imigrantes Digitais .......................................................... 41 Tabela 7 – Metas IDESP .................................................................................. 46 Tabela 8 – Indicador de desempenho IDESP .................................................. 46 Tabela 9 – Desempenho Português e Matemática IDESP 2009 ...................... 47 Tabela 10 – Análise Livros Didáticos ............................................................... 67 Tabela 11 – Atividade 1º Encontro ................................................................... 86 Tabela 12 – Análise dos resultados do 1º Encontro ......................................... 90 Tabela 13 – Transcrição 1 – 2º Encontro ......................................................... 99 Tabela 14 – Metáfora: Círculo Trigonométrico é Relógio ............................... 101 Tabela 15 – Transcrição 2 – 2º Encontro ....................................................... 102 Tabela 16 – Respostas do 2º encontro .......................................................... 104 Tabela 17 – Comparação de resultados OE / Applet ..................................... 110 Tabela 18 – Transcrição 3 – 3º Encontro ....................................................... 111 Tabela 19 – Metáfora COSSENO É SENO .................................................... 117 Tabela 20 – Transcrição 4 – quarto encontro ................................................ 117 Sumário 1. Introdução .................................................................................................... 13 1.1 - Objetivo ................................................................................................ 14 1.2 - Justificativa ........................................................................................... 14 1.3 - Problema .............................................................................................. 21 2. Fundamentação Teórico Metodológica ........................................................ 23 2.1 - Teoria da Cognição Corporificada ........................................................ 24 2.2 - Linguagem ............................................................................................ 34 2.3 - Cenário para investigação .................................................................... 36 2.4 - Ambientes Virtuais e Objetos de Aprendizagem - OAs ........................ 39 2.5 - Procedimento Metodológico e desenvolvimento da pesquisa. ............. 45 2.5.1 - Local e Participantes ...................................................................... 45 2.5.2 - Experimento de ensino ou Design experiment ............................... 48 2.5.3 – Coleta e Análise dos Dados .......................................................... 49 2.5.4 - Fases de desenvolvimento da pesquisa ........................................ 51 3. Primeira Fase ............................................................................................... 53 3.2 - Análise dos livros didáticos / Proposta Curricular SP ........................... 65 3.3 - Análise dos OAs – Objetos de Aprendizagem / Apllet .......................... 71 3.3.1 - Objeto de aprendizagem “Mundo da Trigonometria”...................... 71 3.3.2 - Objeto de aprendizagem “Trigonometria com Molas” .................... 79 3.3.3 – Applets .......................................................................................... 82 3.4 - Primeira investigação junto a um grupo de professores/ pesquisadores ...................................................................................................................... 84 3.5 - Desenvolvimento das Atividades para o 1º encontro............................ 85 4. Segunda Fase .............................................................................................. 88 4.1 – Primeiro encontro ................................................................................ 89 4.2 – Segundo encontro ............................................................................... 97 4.3 – Terceiro encontro ............................................................................... 109 4.4 – Quarto encontro ................................................................................. 112 5. Discussões e Considerações Finais........................................................... 120 Referências Bibliográficas .............................................................................. 128 Esta dissertação é parte do projeto LOVEME Lab/Tidia Ae da Fapesp #60655-4 Capítulo 1 Introdução Capítulo 1 – Introdução 14 Neste primeiro capítulo descrevo o principal objetivo desta pesquisa e quais os fatores que me motivaram para sua realização. No final deste capítulo apresento o problema de pesquisa e qual questão espero responder ao seu final. 1.1 - Objetivo Esta pesquisa visa investigar e analisar aspectos que são ou não favorecidos nos processo de ensino e de aprendizagem em aulas de trigonometria, em um cenário elaborado para o Ensino Médio incluindo recursos digitais. Em particular, busco analisar a produção de significados e as metáforas apresentadas pelos alunos durante as aulas de trigonometria para o círculo trigonométrico. O cenário proposto, para estas aulas, foi construído utilizando-se os recursos disponíveis para um professor da escola pública do estado de São Paulo, tais como livros didáticos, a proposta curricular do Estado de São Paulo e programas fornecidos pela Secretaria da Educação, bem como recursos disponíveis na internet, privilegiando os OA - Objetos de Aprendizagem disponibilizados pelo MEC. Este trabalho se insere na linha de pesquisa “Tecnologias Digitais e Educação Matemática”, e o que me levou a escolher esta linha foi, em grande parte, minha trajetória como professor de matemática, até chegar neste momento como mestrando em educação matemática. 1.2 - Justificativa Os motivos que me levam a direcionar essa pesquisa para o ensino da trigonometria são vários, dentre eles estão: a dificuldade que, enquanto professor de matemática, encontrei no ensino e aprendizagem da trigonometria no círculo trigonométrico, as dificuldades evidenciadas por pesquisadores, em diferentes países como Weber (2005) e Tall (2000) e a grande ênfase que os currículos atuais dão a este tema. Os livros didáticos analisados, com mais detalhes no capítulo 3, dedicam grande número de suas páginas à trigonometria. Na proposta curricular do Estado Capítulo 1 – Introdução 15 de São Paulo também vemos que o quarto bimestre do primeiro ano do Ensino Médio e o primeiro bimestre do segundo ano do Ensino Médio são totalmente voltados a este tópico. A ênfase dada a este tema pode ser justificada também pela importância das aplicações das funções trigonométricas em diversas áreas, por exemplo, física e engenharia. Sou graduado em Engenharia Industrial Modalidade Mecânica, com certeza esta escolha foi feita pelo gosto pelas ciências exatas na minha vida de estudante. E foi durante o primeiro ano de engenharia que iniciei minha carreira de professor de matemática. Nesta época ministrei minhas primeiras aluas de matemática para alunos de 5ª, 6ª e 7ª séries, como professor substituto em uma escola da rede estadual, o que perdurou durante todo meu primeiro ano de engenharia. Nos anos seguintes iniciei minha breve carreira de engenheiro, e foi como estagiário de engenharia que tive meu primeiro contato com computadores. Era início dos anos 90 e as empresas iniciavam o processo de informatização, em pouco tempo o computador começou a fazer parte do meu trabalho o que me levou, após alguns anos, a deixar minha carreira de engenheiro para trabalhar como instrutor de informática ministrando cursos de informática básica. Foi quando voltei a ministrar aulas de matemática na rede estadual, e retornei a estudar fazendo o curso de Licenciatura Plena em Matemática. Como professor da rede estadual fui convidado a ministrar cursos de informática básica para os professores da rede. Na época (1998 a 2000), o governo estadual estava começando a implantar laboratórios de informática dentro das escolas, e surgiram vários cursos de capacitação para os professores. Eu trabalhei como instrutor de informática, ministrando vários destes cursos, que tinham como base alguns softwares educacionais e os softwares Windows, Word, Excel. Até então, embora a informática já fizesse parte de meu cotidiano, ainda não utilizava os recursos tecnológicos em minhas aulas de matemática e foi durante estes cursos que comecei a me interessar pelo uso de novas tecnologias em sala de aula. Durante os anos de 1999 a 2004 trabalhei com diversos cursos de informática para professores, além dos cursos da rede estadual, ministrei cursos de inclusão Capítulo 1 – Introdução 16 digital gerenciado pela Fundação Vanzolini, fornecido para qualquer funcionário público, e o Programa de Educação Continuada para Municípios - PEC Municípios, que se tratava de um curso de formação universitária (Normal Superior) para professores de educação fundamental – ciclo I, da rede municipal, que tinham apenas o magistério. Este curso era realizado em pólos onde as aulas eram ministradas através de vídeo conferência e as atividades eram entregues e realizadas pelos alunos em um laboratório de informática com acesso a internet. Neste curso, apenas a primeira etapa, com a qual eu trabalhei, de introdução à Informática não era realizado através de vídeo conferência, mas sim de forma presencial, realizada no laboratório de informática de cada pólo. No decorrer da minha carreira como professor de matemática, algumas dificuldades dos alunos durante minhas aulas de trigonometria me chamaram a atenção. Uma aluna perguntou-me quando voltaríamos a usar “números normais”, pois os números irracionais encontrados como 2π, 2 2, 3 3 , que eram resultados freqüentes nestas aulas, isso me levou a refletir sobre suas dificuldades. Entre as dificuldades que percebi entre os alunos destaco algumas que considero importantes, pois foram dificuldades apresentadas por vários deles pelas questões que apresentavam nas aulas, são elas: Relacionar medidas de arcos em graus e em radianos. Softwares de geometria dinâmica ou plotadores de gráficos não utilizam radianos, mas sim os sistemas decimais, o que se torna uma linguagem diferente da utilizada pelos livros didáticos que priorizam o radiano. Utilizar as razões trigonométricas como valores que não têm unidade de medida, que são adimensionais. Em um artigo publicado no “Mathematics Education Research Journal” Keith Weber (2005) fala da importância da trigonometria no currículo escolar. Para Weber, compreender funções trigonométricas é um pré-requisito para a compreensão de temas da física Newtoniana, arquitetura, agrimensura, e muitos ramos da Capítulo 1 – Introdução 17 engenharia. Além disso, como a trigonometria é um dos primeiros temas da matemática que faz a ligação entre a álgebra linear, a geometria e os gráficos, ela pode servir como um importante precursor para a compreensão do pré-cálculo e do cálculo. Alguns pesquisadores já identificaram dificuldades encontradas no aprendizado das funções trigonométricas, “Infelizmente, as fases iniciais de aprendizado sobre funções trigonométricas são repletas de dificuldade.”. (Blackett & Tall,1991 apud Weber, 2005). O aprendizado das funções trigonométricas, a meu ver, se diferencia de outros aprendizados da matemática, a forma de raciocinar é bastante peculiar e exige do aprendiz além de coordenar diferentes representações - a gráfica, algébrica e geométrica - coordenar as mesmas com uma linguagem que inclui números racionais na forma fracionária, na forma decimal e números irracionais o que, em geral, não é muito fácil para o aluno. Segundo Blackett & Tall, (apud Weber, 2005) “Os alunos também precisam relacionar diagramas de triângulos com relações numéricas e de manipular os símbolos envolvidos nessas relações.”. E na minha prática verifico que muitos estudantes não estão habituados com este tipo de raciocínio. Senti a necessidade de investigar mais sobre o modo de raciocinar dos estudantes para que como professor pudesse elaborar um cenário propicio para o ensino de trigonometria. Além disso, Weber (2005) em seu artigo aponta que a pesquisa e a literatura nesta área ainda são escassas. E hoje em 2010, encontro dificuldade para encontrar pesquisas realizadas sobre este tema. Dentre algumas pesquisas realizadas no ensino e aprendizagem da trigonometria, podemos citar a pesquisa realizada por Blackett e Tall (1991, apud Weber, 2005), onde foram analisados dois grupos de estudantes que tiveram aulas de modo diferente: o primeiro grupo fez uso de computadores e de maneira interativa e permitiu a exploração das propriedades numéricas e geométricas; o segundo grupo foi ensinado por um professor da mesma escola que ensinava trigonometria tradicionalmente. As conclusões de Blackett e Tall foram que os alunos do primeiro grupo superaram significativamente os estudantes do segundo grupo, Capítulo 1 – Introdução 18 tanto em testes com modelos convencionais quanto em testes atípicos para este tema. Como mostra esta pesquisa de Blackett e Tall (1991, apud Weber, 2005), o uso de computadores facilitou o aprendizado de trigonometria, mas após 19 anos desta pesquisa, com uma geração de “Nativos Digitais”, como detalhado no capítulo 2, e toda a evolução tecnológica ocorrida neste período, como devemos utilizar estes recursos digitais em um cenário de aprendizagem? Outra pesquisa, realizada por Kendal e Stacey (1997), onde dois grupos distintos foram submetidos a aulas de trigonometria, constatou que os alunos que aprenderam funções trigonométricas usando o triângulo retângulo foram melhores em um pós-teste do que aqueles que aprenderam trigonometria usando o círculo trigonométrico. Com este indício de dificuldade com o círculo trigonométrico, gostaria de verificar se em um cenário construído com os recursos digitais atuais, é possível superar esta dificuldade. No Brasil uma pesquisa realizada por Costa (1997), que construiu uma seqüência didática usando o “mundo experimental” e um ambiente computacional mostrou a importância de se trabalhar nos dois contextos, com resultados mais significativos com o grupo que trabalhou primeiro o “mundo experimental” e depois o ambiente computacional. No “mundo experimental” foram utilizadas experiências com simulador do alarme óptico, roda com a caneta laser e pêndulo de areia. Para as atividades do mundo computacional foram utilizados os softwares Cabri II e Graphmatica. Como apresentado por Blackett e Tall (1991) e Costa (1997), o uso de computadores colaborou com o ensino e aprendizagem da trigonometria, Kendal e Stacey (1997) mostram a dificuldade dos alunos com o círculo trigonométrico. Então estes indícios levam esta pesquisa a fazer o uso de programas de computadores direcionados a aprendizagem da trigonometria no círculo trigonométrico, procurando assim preencher esta lacuna. Embora ainda sejam poucos os resultados de pesquisa sobre o ensino e aprendizagem das funções trigonométricas a realidade atual é bastante diferente de quando iniciei minha carreira. Com certeza atualmente os ambientes escolares são Capítulo 1 – Introdução 19 mais ricos do que os encontrados nos anos 90, onde tínhamos apenas giz e lousa. Hoje, os livros didáticos estão presentes nas escolas públicas, nos anos 90 este uso se restringia na maioria das vezes ao livro didático do professor, que era utilizado como um guia para o professor que repassava um resumo na lousa do que achava mais importante e selecionava alguns exercícios para serem realizados pelos alunos. Em 2008 começou a ser implantada uma nova proposta curricular para o Estado de São Paulo e a partir de 2009 os alunos e o professor receberam apostilas denominadas “Caderno do Aluno” e “Caderno do Professor”, respectivamente, com orientações e roteiros de aprendizagem. Esta proposta apresenta uma perspectiva diferente para a trigonometria das apresentadas nos livros didáticos e que serão comentadas mais adiante no capítulo 3. Em relação às tecnologias, as escolas públicas do Estado de São Paulo possuem laboratório de informática, possuem disponível para os professores um notebook e projetor de imagens para usar em suas aulas. Na sala dos professores existe um computador com impressora e internet em banda larga e podemos encontrar na internet inúmeros aplicativos conhecidos como applets desenvolvidos para o ensino de matemática, sítios oficiais de educação, como os disponibilizados pelo MEC (Ministério de Educação e Cultura) que oferece um Banco Internacional de Objetos Educacionais onde encontramos diversos aplicativos, softwares ou vídeos em várias áreas de conhecimento. Também temos disponibilizado pelo MEC o RIVED1 - Rede Internacional Virtual de Educação, onde se encontra muito material. Especificamente o RIVED disponibiliza no sítio www.rived.mec.gov.br o que chama de “Objetos de aprendizagem”, apresentados conforme mostra a figura abaixo. Para o Ensino Médio o RIVED disponibiliza 14 objetos de aprendizagem de matemática, sendo 3 deles orientados para a aprendizagem da trigonometria. 1 RIVED é um programa da Secretaria de Educação a Distância do MEC. Capítulo 1 – Introdução 20 Figura 1: Tela de abertura para acesso ao OA – “Trigonometria com Molas” do RIVED Mais adiante no capítulo referente à fundamentação teórico metodológica será descrito o conceito de OA – objeto de aprendizagem, adotado nesta pesquisa, mas para o RIVED um OA, é definido como: Um objeto de aprendizagem é qualquer recurso que possa ser reutilizado para dar suporte ao aprendizado. Sua principal idéia é "quebrar" o conteúdo educacional disciplinar em pequenos trechos que podem ser reutilizados em vários ambientes de aprendizagem. Qualquer material eletrônico que provém informações para a construção de conhecimento pode ser considerado um objeto de aprendizagem, seja essa informação em forma de uma imagem, uma página HTM, uma animação ou simulação. (www.rived.mec.gov.br/site_objeto_lis.php - acesso 14/04/2009) Embora o RIVED apresente esta definição de OA, a maneira que estes objetos de aprendizagem são disponibilizados parece não atender a esta definição. Pois, estes OAs acompanham um guia de utilização que, segundo os autores, deve ser útil para professores que pretendem iniciar um trabalho com OAs, mas as sugestões deste guia parecem levar o professor a “reproduzir” a atividade do mesmo modo que fazia com o livro Didático, não fica explícito para o professor como ele pode “reutilizar pequenos trechos do conteúdo” como sugere a definição utilizada para OA. Além disso, dificilmente um professor na escola da rede é também programador ou conta com uma equipe que o ajudaria a modificar para reutilizar um Capítulo 1 – Introdução 21 OA. Para conhecer e entender melhor os OAs utilizados, apresento uma análise destes OAs, em capítulo dedicado à análise dos materiais disponíveis para professor e aluno. No capítulo 3 apresento uma análise dos livros didáticos, da nova proposta curricular do Estrado de São Paulo e dos Objetos de Aprendizagem. Com o propósito de compreender como os alunos produzem significados e metáforas para os conceitos de trigonometria, utilizo a Teoria da Cognição Corporificada (Lakoff & Johnson (2001), Lakoff & Núñez (2000)). Tais processos tem um impacto na análise do objeto de aprendizagem escolhido. As Metáforas Conceituais são construtos que podem ajudar essa compreensão, pois segundo Lakoff e Johnson (2001) “nosso sistema conceptual ordinário, em termos do qual não só pensamos, mas também agimos, é fundamentalmente metafórico por natureza.” Estes autores acrescentam que A metáfora é, para a maioria das pessoas, um recurso da imaginação poética e um ornamento retórico – é mais uma questão de linguagem extraordinária do que de linguagem ordinária. Mais do que isso, a metáfora é usualmente vista como uma característica restrita à linguagem, uma questão mais de palavras do que de pensamento ou ação. Por essa razão, a maioria das pessoas acha que pode viver perfeitamente bem sem a metáfora. Nós descobrimos, ao contrário, que a metáfora está infiltrada na vida cotidiana, não somente na linguagem, mas também no pensamento e na ação. Nosso sistema conceptual ordinário, em termos do qual não só pensamos, mas também agimos, é fundamentalmente metafórico por natureza. (Lakoff; Johnson, 2001, p.39) No capítulo 2 será detalhada a Teoria da Cognição Corporificada e as teorias que vão compor o encaminhamento desta pesquisa. 1.3 - Problema O foco desta pesquisa reside em investigar e analisar que aspectos são ou não favorecidos no processo de ensino de trigonometria, no Ensino Médio, especificamente sobre o círculo trigonométrico, em um ambiente utilizando recursos digitais. Pretendo ao final desta pesquisa responder algumas questões: Capítulo 1 – Introdução 22 Questão 1 - Quais são os argumentos e metáforas utilizados pelos alunos nesse cenário que podem influenciar na manutenção ou modificação do mesmo? Questão 2 - Que aspectos podem ser considerados mais ou menos relevantes, para a construção de um cenário para a aprendizagem do círculo trigonométrico, utilizando como recursos tecnológicos applets e objetos de aprendizagem disponíveis na internet? Capítulo 2 – Fundamentação Teórico Metodológica 23 Capítulo 2 Fundamentação Teórico Metodológica Capítulo 2 – Fundamentação Teórico Metodológica 24 Para embasar esta pesquisa descrevo a seguir os aspectos mais importantes das teorias que auxiliaram tanto na elaboração do cenário quanto na análise deste cenário partindo da compreensão dos estudantes. Primeiro descrevo alguns aspectos da Teoria da Cognição Corporificada (Lakoff & Johnson, 2001, Lakoff & Núñez, 2000), posteriormente trago um pouco sobre linguagem segundo Lev Vygotsky com a contribuição do Círculo de Baktin. Em seguida apresento uma análise sobre os ambientes virtuais e também o que entendo por OA - Objeto de Aprendizagem. Para o desenvolvimento do cenário de aprendizagem vamos utilizar o conceito de Cenário para Investigação, que tem como princípio fundamental a aprendizagem dos alunos através da investigação. (Skovsmose, 2008) Encerro este capítulo com a descrição dos processos metodológicos desta pesquisa, na qual caracterizo o local, os participantes e os instrumentos para coleta e análise de dados. 2.1 - Teoria da Cognição Corporificada Buscamos na lingüística cognitiva o papel da linguagem cotidiana na construção do conhecimento, encontramos que para Lakoff e Johnson (2001) o pensamento é metafórico e em sua maioria é concebido de forma inconsciente. Cabe notar que segundo Bolite Frant2 (prelo) não se trata do inconsciente freudiano3 mas de ações que realizamos sem “esforço” do pensamento. Por exemplo, levantamos da cama e caminhamos para a cozinha dificilmente pensamos sobre que pé pisou primeiro a entrada na cozinha, podemos dizer que foi uma ação inconsciente, ou seja de maneira automatizada. Assumindo com Rabello e Bolite Frant (ver Boletim GEPEM) que pensamento e linguagem são inseparáveis, um modo de investigar o pensamento metafórico é através da linguagem utilizada pelos alunos. 2 Bolite Frant, J. (prelo) Linguagem, tecnologia e corporiedade: Produção de significados para o Tempo em gráficos cartesianos. 3 Inconsciente Freudiano: não é um trauma. Capítulo 2 – Fundamentação Teórico Metodológica 25 Concordamos com vários pesquisadores da Teoria da Cognição Corporificada (Lakoff e Johnson (2001), Lakoff e Núñez (2000)), que os processos cognitivos não dependem somente da atividade cerebral, mas estão vinculados também às diversas partes do corpo humano. São as experiências de nosso cotidiano, nossa interação com o meio ambiente e meio cultural, que estruturam nosso pensamento, assim existe uma relação indissociável entre corpo e mente. A dicotomia mente corpo é inexistente. “A natureza detalhada e dinâmica de nossos corpos, nosso cérebro e nosso funcionamento cotidiano no mundo, estruturam os conceitos e a razão humana. Isto inclui os conceitos matemáticos e o raciocínio matemático.” (Núñez, 2000, p.6). Sendo assim recorro à Teoria da Cognição Corporificada para melhor entender os mecanismos que nos permitem pensar sobre um determinado conceito e como aprendemos conceitos novos. Lakoff & Johnson (2001) afirmam que as metáforas são partes integrantes de nosso pensamento, elas não são apenas recursos da linguagem poética, mas também pensamento e ação. “A essência da metáfora é compreender e experienciar uma coisa em termos de outra”. (p. 41). Eles também afirmam que a maioria de nossos pensamentos ocorrem de forma metafórica e inconsciente. Todos nós temos sistemas conceituais que usamos ao pensar, mas não podemos, conscientemente, inspecionar nosso inventário conceitual . Todos nós tiramos conclusões instantaneamente numa conversação, mas não podemos olhar, conscientemente, para cada inferência nem para os nossos próprios mecanismos de inferir enquanto estamos no ato de inferir em larga escala segundo por segundo. Todos nós falamos em uma língua que tem uma gramática, mas não colocamos as frases juntas palavra por palavra checando conscientemente se estamos seguindo as regras de nossa língua em cada frase. Para nós, isto parece fácil: apenas falamos, ouvimos e tiramos conclusões sem esforço. Mas o que ocorre em nossas mentes, no pano de fundo, é enormemente complexo e amplamente não disponível para nós. (Lakoff & Núñez, 2000, p. 27). Segundo esses autores a Metáfora Conceitual é um mecanismo cognitivo que nos permite fazer inferências num domínio desconhecido (alvo) partindo de inferências que são possíveis e válidas em um domínio conhecido (fonte). Em outras palavras, o conhecimento de algo novo não acontece no vazio, não vem do nada, mas das relações inferenciais que fazemos sobre o que conhecemos e projetamos para este domínio alvo. Para exemplificar apresento o conceito de vida entendido através de inferências possíveis a partir das realizadas para o conceito de viagem. Podemos Capítulo 2 – Fundamentação Teórico Metodológica 26 entender uma vida como uma viagem, não que ela seja um tipo de viagem, mas o modo como caracterizamos uma vida pode partir do modo pelo qual caracterizamos uma viagem. Já conheço os passos dessa estrada Sei que não vai dar em nada Seus segredos sei de cor Já conheço as pedras do caminho E sei também que ali sozinho Eu vou ficar, tanto pior Metáfora: VIDA É VIAGEM Domínio Fonte Domínio Alvo VIAGEM VIDA Pedras Dificuldades Estrada, caminho Linha da vida Passo Atitudes Tabela 1 – Metáfora VIAGEM É VIDA Nestes versos Chico Buarque utiliza da metáfora “VIDA É VIAGEM”, assim quando cita passos faz referência a nossas atitudes, pedras as dificuldades encontradas e estrada ou caminho o decorrer da vida. Repare que uma dificuldade não é exatamente uma pedra mas as inferências que podemos fazer como tropeçar na pedra e cair nos levam a pensar que podemos enfrentar e sair de dificuldades na vida. Nos exemplos abaixo estão grifados vários termos que caracterizam uma viagem onde para entendermos a vida utilizamos de nossos conhecimentos de viagem, ou seja entendemos uma coisa “abstrata” em termos de outra mais tangivel. Não sei qual caminho seguir Ele teve uma vida longa Demorou para chegar este momento Encontrei muitos obstáculos para chegar até aqui Foi uma longa jornada Ele vai chegar lá Vamos seguir em frente Capítulo 2 – Fundamentação Teórico Metodológica 27 Podemos perceber que nestes casos não apenas falamos de vida com os mesmos termos de uma viagem, mas nossas ações durante a vida também são as mesmas de uma viagem, escolhemos caminhos, seguimos em frente, superamos obstáculos. Mesmo para uma pessoa que nunca tenha viajado, o conceito de uma viagem está impregnado na cultura social, conhecemos vários tipos de viagens através de relatos de outras pessoas, filmes, documentários, reportagens, internet, ou seja, mesmo sem ter participado de uma viagem estes conceitos fazem parte de nossa cultura. Este tipo de metáfora é concebido como metáfora estrutural, pois estrutura nosso sistema conceitual. Lakoff & Johnson (2001, p.44) nos apresentam outro exemplo que é a metáfora “TEMPO É DINHEIRO”, neste exemplo concebemos o tempo como sendo dinheiro. “Você está desperdiçando meu tempo. Esta coisa vai te poupar horas. Eu não tenho tempo para te dar. Como você gasta seu tempo hoje em dia? Aquele pneu furado me custou uma hora.” Em nossa cultura o tempo é algo muito valioso. Para nós o tempo é limitado assim como o dinheiro e as expressões gastar, investir, poupar, dar, custou são expressões que não apenas se aplicam ao tempo, mas são atitudes que temos diante do tempo e do dinheiro. Em uma cultura onde não se utilize o dinheiro, como uma tribo indígena, com certeza não se aplicaria estas expressões e o conceito de tempo deve ser diferente das culturas capitalistas. Assim, as ações diante do tempo também serão provavelmente diferentes. Cabe observar, portanto, que a teoria da corporeidade engloba também o contexto sócio-cultural. O que não poderia ser diferente, uma vez que se trata de uma teoria que leva em conta o ser humano que tem seu lugar na história, na sociedade e no contexto cultural. Além das metáforas estruturais que são as usadas para entender uma estrutura através de outra, existem as metáforas orientacionais, que recebem este Capítulo 2 – Fundamentação Teórico Metodológica 28 nome por ter relação com nossas orientações espaciais; acima/abaixo, dentro/fora, profundo/superficial. Expressamos um estado de espírito, muitas vezes, através de metáforas orientacionais, por exemplo FELIZ É PARA CIMA, TRISTE É PARA BAIXO, quando estamos tristes ou deprimidos podemos dizer que “Estou para baixo hoje”, quando nos referimos a alguém feliz dizemos “Ele esta para cima hoje”, ou usarmos o polegar PARA CIMA ou PARA BAIXO. Observe que a linguagem engloba os gestos, assim enunciar “Estou para baixo” ou mostrar o polegar PARA BAIXO são expressões sinônimas. Quando falamos de afeição usamos muitas vezes das inferências que fazemos para temperatura para caracterizá-la, vejamos os exemplos: “Eles me acolheram calorosamente”; “Você foi frio comigo hoje”. Nestes casos a temperatura é o domínio fonte e a afeição é o domínio alvo. Outro exemplo é a importância conceitualizada como tamanho: “Tenho um grande problema para resolver”, “Ele foi um grande homem”, “Não me abato com pequenas coisas”. Também podemos nos utilizar de várias fontes diferentes para conceber um novo conceito, sendo assim teremos mais de um domínio fonte para um único domínio alvo, neste caso temos as montagens conceituais. Um exemplo de metáfora conceitual dentro da matemática é dado por Bolite Frant et al (2004) onde temos a metáfora PONTOS SÃO COISAS FÍSICAS. Metáfora: PONTOS SÃO COISAS FÍSICAS Domínio Fonte Domínio Alvo COISAS FÍSICAS PONTO Um corpo físico no espaço. Um ponto no plano cartesiano. Um carro se movendo ao longo de uma Um ponto que se "move" ao longo de trajetória. uma curva que representa uma função real. Um carro que viaja através de um túnel é Um ponto que se "move" ao longo de o mesmo quando ele entra e sai do túnel. uma curva é sempre a mesmo. A trajetória representa o movimento. O gráfico na tela é a trajetória do ponto. Tabela 2 – Metáfora: PONTOS SÃO COISAS FÍSICAS (in Bolite Frant) Capítulo 2 – Fundamentação Teórico Metodológica 29 Lakoff & Nuñez (2000) distinguem dois tipos de metáforas conceituais as Metáforas Básicas e as Metáforas de Ligação. A diferenciação se dá por conta de que o pensamento metafórico não ocorre apenas entre domínios distintos, mas também entre domínios de mesma natureza. O exemplo acima trata de uma Metáfora Básica já que o domínio fonte e o domínio alvo são distintos. As Metáforas Básicas relacionam a matemática com os conhecimentos do cotidiano, logo o domínio fonte está relacionado, geralmente, com nossas experiências sensoriais, são nossas experiências do cotidiano, e o domínio alvo é o conhecimento matemático. Os mapeamentos do tipo metáforas básicas geralmente não requerem esforços e são realizados de maneira inconsciente. As Metáforas de Ligação nos ajudam a entender melhor as idéias mais avançadas da matemática, e os dois domínios são iguais, como veremos a seguir para o caso do círculo trigonométrico. No nosso caso, são mapeamentos que possuem domínio fonte e alvo na matemática, permitindo deste modo conceitualizar um domínio matemático através de outro domínio matemático. Segundo Lakoff e Núñez (2000) estas metáforas exigem um esforço maior e um grau de instrução maior e mais explícito. Para este trabalho ressalto as metáforas orientacionais, onde criamos uma linguagem de movimento para coisas estáticas. Talmy (2000) tratou estas metáforas como movimento fictivo onde, pela análise de expressões lingüísticas do cotidiano, cenas estáticas são descritas em termos dinâmicos. Ele mostra o uso e ocorrência do movimento fictivo na linguagem falada, sua representação mental, e do seqüenciamento dos componentes do caminho na representação mental. Isso constrói um interessante par contrastivo transformando cenas estáticas em cenas descritas mentalmente em termos dinâmicos. Estas metáforas aparecem com freqüência, quando indicamos um caminho para alguém, falamos “desça esta rua e quando ela cruzar com a outra rua você vira”, estas duas ruas não vão se cruzar, elas estão estáticas e continuarão assim, mas usamos termos que sugerem o movimento das ruas. E isto facilita a compreensão do que estamos falando. Capítulo 2 – Fundamentação Teórico Metodológica 30 O movimento fictivo também aparece no pensamento matemático, segundo Lakoff e Núñez (2000) e Núñez (2004), ao falar de determinados objetos matemáticos com propriedades estáticas, por exemplo funções de uma variável real, utilizamos uma linguagem dinâmica dando a idéia de movimento, a função cresce. Perceba que ao falar, por exemplo, de limite de uma função usamos uma linguagem próxima ao nosso cotidiano, tende, se aproxima de equivale a limx→∞ (x²+1). Para os autores a manifestação de movimento para expressar as idéias matemáticas é genuína e constitutiva, no entanto, esses movimentos não são capturados pelos formalismos e sistemas axiomáticos da matemática. Nossa hipótese é a de que com o dinamismo de applets e OAs este movimento fictivo pode ser capturado de modo a torná-lo factivo. Ampliando as possibilidades propostas pela teoria das metáforas conceituais, a teoria das montagens conceituais, segundo Fauconnier & Turner (1998), propõe que além dos mapeamentos do tipo das metáforas conceituais realizado entre um domínio fonte e um domínio alvo, podemos ter um mapeamento que integre diferentes espaços mentais. Uma das possibilidades é o mapeamento entre quatro espaços mentais: Domínio Fonte, Domínio Alvo, Espaço Genérico e o Espaço de Montagem. Conforme apresenta a figura 2 o espaço genérico representa uma estrutura conceitual que é compartilhada pelo domínio fonte e domínio alvo, e o espaço de Montagem é onde os objetos dos domínios são combinados e integrados. Espaço Genérico Entrada 1 Entrada 2 Montagem Figura 2: Os espaços de uma Montagem Conceitual Capítulo 2 – Fundamentação Teórico Metodológica 31 Em “Where Mathematics – Comes From”, Lakoff e Núnez (2000) sugerem como pode ser a compreensão do círculo trigonométrico seguindo uma perspectiva da teoria da cognição corporificada. Para eles a construção do círculo trigonométrico pode ser compreendida a partir de três estágios. Estes estágios mostram um pouco da complexidade da construção do círculo trigonométrico. A metáfora ÂNGULOS SÃO NÚMEROS, fundamental ao campo da trigonometria, segundo Lakoff e Nuñez (2000), conceitualiza ângulos como números. Em primeiro lugar há a montagem conceitual do Círculo Unitário. Tal montagem possui três estágios que apresentamos a seguir. No primeiro estágio temos a montagem de dois elementos em dois domínios: um círculo no plano euclidiano combinado com o plano cartesiano de modo a gerar o círculo unitário - um círculo cujo centro está no ponto (0,0) do plano cartesiano e que tem raio 1. Quando esta montagem é feita, são atribuídos números aos comprimentos das cordas do círculo dado que a combinação metafórica Números são Pontos é inerente ao Plano Cartesiano. Lakoff & Núñez (2000) descrevem mais detalhadamente, dividindo esta metáfora em três estágios conforme mostramos a seguir. Primeiro Estágio: Domínio I Domínio II Um círculo no plano euclidiano com centro O plano cartesiano com os eixos x e y, e raio origem em (0,0) Plano Euclidiano Plano Cartesiano Centro Origem Raio Distando 1 unidade da origem Tabela 3 – Domínio fonte para o Círculo Trigonométrico - Fonte: Lakoff & Núñez, 2000, p.390. Capítulo 2 – Fundamentação Teórico Metodológica 32 Figura 3: 1º estágio da montagem do círculo trigonométrico (Lakoff & Núñez, 2000, p.390) Segundo Estágio: O segundo momento desta construção é a combinação do resultado do primeiro estágio com o ângulo qualquer de medida α com o vértice na origem do eixo cartesiano, o ponto (0,0), e um de seus lados sobre o eixo x. Figura 4: 2º estágio da montagem do círculo trigonométrico. (Lakoff & Núñez, 2000, p.391) Capítulo 2 – Fundamentação Teórico Metodológica 33 Terceiro Estágio No terceiro momento temos a combinação do segundo estágio com o triângulo retângulo, onde a hipotenusa é o raio do círculo o vértice do ângulo α esta sobre a origem do eixo cartesiano e o cateto adjacente esta sobre o eixo x. Figura 5: 3º estágio da montagem do círculo trigonométrico. (Lakoff & Núñez, 2000, p.392) Dada a Combinação Metafórica do Círculo Trigonométrico Unitário, é possível enunciar de forma mais simples a Metáfora da Trigonometria: Domínio Fonte Domínio Alvo Círculo trigonométrico Unitário Funções Trigonométricas Comprimento do Arco definido pelo Ângulo α Número associado ao Ângulo α Comprimento do Lado a Função sen α Comprimento do Lado b Função cos α Tabela 4 – Metáfora para o Círculo Trigonométrico Uma vez que, para levantarmos as metáforas e/ou montagens realizadas pelos alunos, iremos investigar suas interações neste ambiente, é necessário também colocar de que modo estaremos tratando da linguagem nesse estudo. Capítulo 2 – Fundamentação Teórico Metodológica 34 2.2 - Linguagem Procurando compreender melhor as relações dos processos de ensino e de aprendizagem, descrevo a seguir algumas definições do que são o pensamento e a linguagem segundo Vygotsky (2001) e algumas contribuições de Bakhtin (apud, Brait 2005) a compreensão do uso da linguagem. Para Vygotsky (2001) os processos de ensino e de aprendizagem são concebidos pela presença do outro social, portanto a linguagem é um elemento fundamental nesse processo. Para Vygotsky (2001) pensamento e linguagem são indissociáveis, a relação entre o pensamento e a palavra se estabelece por um movimento contínuo de vai e vem, do pensamento para a palavra e vice versa, assim, o pensamento não é simplesmente expresso em palavras, é por meio delas que ele passa a existir A relação entre pensamento e linguagem é uma característica tipicamente humana, mas essa relação não nasce com o sujeito, ela não aparece pronta, ela é estabelecida ao longo do desenvolvimento psicológico. Num determinado momento do desenvolvimento humano essas duas potencialidades se unem e não se separam mais. Para Vygotsky (1987, apud Oliveira, 1999, p. 60), o sentido da palavra é: ...complexo, fluido, estando em constante mudança. Até certo ponto ele é único para cada consciência e para a mesma consciência em circunstâncias diversas. Quanto a isso, o sentido da palavra é inesgotável. A palavra adquire seu sentido na frase. A frase, entretanto, adquire seu sentido somente no contexto do parágrafo, o parágrafo no contexto do livro, e o livro no contexto das obras completas do autor. Em última instância, o verdadeiro sentido da palavra é determinado por tudo aquilo que, na consciência, se relaciona com o que apalavra expressa. (...) Em última instância, o sentido de uma palavra depende da compreensão que se tenha do mundo como um todo e da estrutura interna da personalidade. Para também auxiliar minha pesquisa recorro aos estudos do Círculo Bakhtiniano, que possui uma extensa obra sobre a concepção de linguagem. Segundo Brait (2005) o Círculo de Bakhtin enxerga a linguagem como um constante processo de interação mediado pelo diálogo. Capítulo 2 – Fundamentação Teórico Metodológica 35 A língua materna, seu vocabulário e sua estrutura gramatical, não conhecemos por meio de dicionários ou manuais de gramática, mas graças aos enunciados concretos que ouvimos e reproduzimos na comunicação efetiva com as pessoas que nos rodeiam. (Bakhtin, apud Brait,2005, p.95) Segundo Brait (2005) para Bakhtin o enunciado é resultado não apenas do locutor, mas de uma interação de locutor e interlocutor, quem fala ou escreve sempre o faz para alguém e sendo assim este diálogo sofrerá influencia do contexto social, histórico, cultural e ideológico em que ele está envolvido. Neste contexto todos que estão envolvidos com o enunciado participam em condições de igualdade. Quando alguém enuncia o faz de maneira a ser compreendido, para isto seleciona o tipo de discurso e quais palavras são as mais adequadas para aquele enunciado. Com base nesta seleção de palavras e tipos de discurso o Círculo de Bakthin faz uma reflexão sobre os gêneros de discurso, na qual realiza uma classificação destes gêneros quanto às esferas de uso da linguagem. Temos dois tipos de discursos os primários e os secundários. Os discursos primários são os utilizados de forma espontânea em nossa vida cotidiana, já os discursos secundários são mais elaborados e seguem um padrão cultural de acordo com a esfera na qual ele está contido. Por exemplo, um palestrante fará seu discurso com o gênero apropriado de acordo com o público, uma vez que cada esfera cultural possui seus códigos e acordos. Como explica Di Fanti (2003): A linguagem do ponto de vista bakhtiniano tem vida em um espaço enunciativo-discursivo e, com isso, amplia-se mais ainda ao ser considerada não como um privilégio do verbal, ou seja, todas as manifestações que tenham a interferência do homem constituem-se como linguagem, enunciado, texto. Essa posição é clara em O problema do texto (BAKHTIN, 1992 [1959-1961]) já que todo texto tem sujeito, é enunciado, e aglutina o verbal e o extraverbal. Além disso, a constituição em texto é uma condição para haver objeto de estudo e de pensamento. (p.100) Segundo Bakthin o conhecimento é do domínio da enunciação. Assim, afirmam Rabello e Bolite Frant (2002) que não existe conhecimento em livros, pois ali há apenas enunciados. O que está enunciado no livro é um texto, acabado, por isso é preciso a enunciação efetiva daqueles enunciados para que eles tomem parte na produção de conhecimentos. Capítulo 2 – Fundamentação Teórico Metodológica 36 As interações e a linguagem que devemos analisar ocorrem num cenário que elaboramos para tal. A seguir comentamos sobre o embasamento do mesmo. 2.3 - Cenário para investigação O conceito de cenário para investigação que será utilizado nesta dissertação é o apresentado por Skovsmose (2008), onde ele diz que: Um cenário para investigação é aquele que convida os alunos a formular questões e procurar explicações. O convite é simbolizado por seus “Sim, o que acontece se...?”. Dessa forma os alunos se envolvem no processo de exploração. O “Por que isto?” do professor representa um desafio, e os “Sim, por que isto...?” dos alunos indicam que eles estão encarando o desafio e que estão em busca de explicações. Quando os alunos assumem o processo de exploração e explicação, o cenário para investigação passa a constituir um novo ambiente de aprendizagem. (Skovsmose, 2008, p.20) Para a constituição de um cenário de investigação Skovsmose destaca a importância do convite do professor aos alunos para sua participação. Este convite pode ser feito de muitas maneiras pelo professor, mas sua aceitação depende somente do aluno, pois ele é o responsável pelo seu processo de aprendizagem, mas cabe ao professor tentar tornar a situação atrativa aos alunos. Também é importante ressaltar que para determinado grupo de alunos um cenário de investigação pode ser perfeitamente atrativo e este mesmo cenário não ser adequado a outro grupo de alunos. A determinação deste cenário é uma questão empírica que apenas a prática do professor e dos alunos envolvidos pode respondêla. Segundo Skovsmose (2008) a prática em sala de aula que predomina hoje em dia é a resolução de exercícios. Dentro desta prática temos referencias a três segmentos do ensino da matemática, referência a matemática pura, a semirealidade e a realidade. A proposta não é de acabar com a prática de exercícios, mas a de também utilizar cenários de investigação dentro destas três referências, criando novas alternativas de ambientes de aprendizagem. Embora a utilização de um cenário para investigação em sala de aula diferencie em muito a prática da resolução de exercícios a utilização dos diversos caminhos podem otimizar a produção de significados matemáticos pelos alunos. Em nenhum momento Capítulo 2 – Fundamentação Teórico Metodológica 37 Skovmose defende a substituição das práticas atuais pelos cenários de investigação, mas aponta estes cenários como uma alternativa de prática em sala de aula. Skovmose resume os ambientes de aprendizagem em seis grupos, três deles tendo como base a prática de resolução de exercícios e três tendo como base um cenário para investigação, conforme mostra a tabela a seguir: Exercícios Cenários para investigação Referências a matemática pura (1) (2) Referências à semi-realidade (3) (4) Referência à realidade (5) (6) Tabela 5 – Ambientes de aprendizagem (Skovsmose, 2008, p.23) A sugestão de Skovsmose é a de tentarmos migrar de práticas como exercícios para práticas de cenários de investigação. No ambiente (1) caracterizado pela resolução de exercícios onde o enunciado quase sempre diz “resolva as equações”, “efetue”, “calcule”, assim de maneira quase automática e seguindo determinadas regras, os alunos chegam ao resultado. Pode se tentar converter estes exercícios em um cenário de investigação quando possibilitamos que os alunos descubram algumas regras através de investigações realizadas por eles, por exemplo, podemos convidar os alunos a experimentarem outras maneiras de resolver os mesmos exercícios, perguntar “o que acontece se...?”, estimular os alunos a questionar os resultados, perguntas do tipo “porque sempre acontece...?” são questões que devem aparecer quando um cenário de investigação é criado. O cenário de investigação criado nesta pesquisa tenta seguir estas sugestões, assim utilizamos de questionamentos durante a aplicação dos cenários para guiar os alunos a uma investigação dos estudos em trigonometria, mas também como é proposto, não eliminamos os exercícios deste cenário, uma vez que fazem parte da realidade dos alunos. Buscamos iniciar com exercícios e seguir cada vez mais na direção da criação de um cenário de investigação. O ambiente (3) é muito comum na prática docente, desde os primeiros anos de estudo da matemática. Nele os alunos convivem com problemas de referência à Capítulo 2 – Fundamentação Teórico Metodológica 38 semi-realidade. Um exemplo desta semi-realidade muito comum nos livros didáticos quando abordado o tema trigonometria é: - Um edifício forma uma sombra de 10 m sobre o solo, formando um ângulo de 30º com o solo, determine a altura do edifício. Com certeza nenhum autor de livro didático foi medir o comprimento da sombra ou o ângulo que esta forma com o solo, mas os alunos aceitam estas condições para resolver o exercício. Nenhum outro aspecto é levado em consideração, e o que parece acontecer é que existem padrões de semi-realidade e se criam técnicas para a resolução destes problemas. Assim toda vez que temos um problema envolvendo sombras de árvores ou edifícios, utiliza-se das razões trigonométricas para resolvê-lo. Esta semi-realidade também pode ser utilizada em um cenário para investigação, desde que se tente explorar as características matemáticas que circundam este problema. A abordagem que o professor pode realizar dentro desta semi-realidade pode levar o aluno a transformá-lo em um cenário de investigação, perguntas do tipo “o que acontece se...?” pode ser muito útil para a construção deste cenário. Esta que é a situação (4), sugerido por Skovsmose, pode ser muito rica para a construção de um cenário de aprendizagem, pois a simulação de uma situação hipoteticamente real poderá facilitar o entendimento e contextualização da matemática pelos alunos. Podemos construir cenários com semi-realidade bastante próxima da realidade, um exemplo poderia ser a de construir maquetes de edifícios e expô-las ao sol para medir sua sombra, assim podemos explorar outras situações que poderão aparecer, os alunos, por exemplo, poderão indagar quanto ao horário e o tamanho da sombra, perguntas sobre escalas ou qualquer situação não prevista. Para um cenário de investigação a curiosidade é um fator muito importante, levando o aluno a ser protagonista em seu processo de aprendizagem. Skovsmose sugere que o cenário de investigação seja propiciado aos alunos antes mesmo de demonstrar ou trabalhar as propriedades matemáticas que são pertinentes ao problema. Utilizando o exemplo anterior, se já foi trabalhado com os alunos as razões trigonométricas, dentro de um cenário de investigação, eles Capítulo 2 – Fundamentação Teórico Metodológica 39 provavelmente irão tentar utilizar as fórmulas ou exemplos desenvolvidos nas aulas anteriores, mas se a primeira aula for dentro do cenário de investigação, este poderá trazer outras contribuições para o processo de aprendizagem e a partir deste cenário de investigação poderemos chegar aos conceitos matemáticos desejados. Os ambientes de aprendizagem (5) e (6) fazem referência a situações reais, mesmo assim estas podem ser implementadas simplesmente como um exercício se as possibilidades que forem oferecidas não forem trabalhadas e isolarmos apenas alguns valores reais para desenvolvermos alguns cálculos. Para que tenhamos em situações reais um cenário para a investigação, Skovsmose diz que o professor tem que assumir a possibilidade de sair de uma zona de conforto indo a uma zona de riscos4 (Penteado 2001), onde alunos podem explorar áreas não esperadas pelo professor e assim tendo que assumir um papel também de investigador, como seus alunos. O professor pode guiar todos os passos dos alunos, evitando assim sair da zona de conforto, e transformando o que seria um cenário de investigação em um exercício, mas é a possibilidade de entrar na zona de risco que pode nos levar a novas possibilidades de aprendizagem para ambos: alunos e professores. Nesta pesquisa será proposto aos alunos participantes um cenário de investigação que inclui applets e OAs. Propomos aos alunos uma investigação sobre o círculo trigonométrico, para melhor entendermos como eles produzem significados para as funções seno e cosseno, levantando assim algumas possibilidades para o ensino em trigonometria. 2.4 - Ambientes Virtuais e Objetos de Aprendizagem - OAs Os ambientes virtuais, hoje, são uma realidade em muitos setores da sociedade, seja para diversão ou para grandes transações comerciais. Os recursos tecnológicos que utilizamos hoje através dos computadores, celulares, calculadoras 4 Segundo Penteado (2001), a zona de conforto é uma situação vivida pelo professor na qual quase tudo é previsível, conhecido e controlável em suas aulas. Na zona de risco, por sua vez, imperam a imprevisibilidade e a incerteza, o surgimento de situações inesperadas é uma constante e o professor deve estar preparado para enfrentá-las. Capítulo 2 – Fundamentação Teórico Metodológica 40 ou qualquer outro dispositivo tecnológico, podem ter superado as expectativas de muitas pessoas, mas para as gerações que nasceram e cresceram com esta tecnologia estes são recursos muito simples de manipular e quase corriqueiros. Mas esta tecnologia ainda sofre resistência para entrar na sala de aula. Prensky (2001) nomeia esta nova geração, que nasceu e cresceu utilizando computadores, controles remotos, celular e toda esta tecnologia que nos cerca atualmente, como sendo “Nativos Digitais” e nomeia a geração de pessoas que embora não tenha nascido com toda esta tecnologia, faz uso constante dela, como sendo os “Imigrantes Digitais”. Justificando o nome atribuído para estas gerações Prensky diz que como imigrantes, sempre manteremos um sotaque da língua materna, ou seja, por mais que utilizemos as novas tecnologias sempre temos em nossas atitudes vestígios de um passado onde ela ainda não existia. Como exemplo de atitudes de um “Imigrante Digital” podemos citar que muitos destes imigrantes ainda imprimem um texto para sua leitura enquanto poderiam simplesmente lê-lo na própria tela do computador, ou ainda um “imigrante”, com menor grau de adaptação ao novo ambiente, se utiliza do telefone para confirmar o recebimento de um email. ...o maior problema que a educação enfrenta hoje é que os nossos instrutores são “Imigrantes Digitais”, que falam uma língua desatualizada (a da idade pré-digital), e que estão se esforçando para ensinar a população que fala uma língua inteiramente nova. (Prensky, 2001) Para diferenciar as duas gerações Prensky apresenta algumas características que diferenciam os nativos dos imigrantes digitais. “Nativos Digitais” Imigrantes Digitais Recebem informações muito rápido. Recebem informações lentamente. Realizam atividades em paralelo e multitarefas. Realizam atividades passo a passo e uma coisa de cada vez. Gostam de gráficos antes de seu texto. Gostam de textos antes dos gráficos. Preferem acesso aleatório das informações (tipo hiperlink). Preferem acesso linear das informações. Capítulo 2 – Fundamentação Teórico Metodológica 41 Funcionam melhor quando ligados em rede. Funcionam melhor individualmente. Gostam de jogos de trabalho. Preferem trabalhos a sério. Prosperam com a gratificação instantânea e recompensas freqüentes Prosperam com gratificação estáveis e duradouras. Tabela 6 – Nativos e Imigrantes Digitais Hoje não precisamos mais discutir se o uso de novas tecnologias irá alterar o modo que as pessoas vivem ou se estas tecnologias irão trazer benefícios para a educação, pois a verdade é que estas modificações já fazem parte de nossas vidas, e a competitividade do mercado em todas as áreas impulsiona cada vez mais estas mudanças e cada vez mais a sociedade necessita de tecnologias cada vez mais sofisticadas. Nenhum de nós consegue conviver na sociedade atual sem a influência das evoluções tecnológicas, e nossos alunos também estão envolvidos nesta mudança. Muitos destes alunos são tão familiarizados com vários tipos de ambientes virtuais que nem podem imaginar como seria viver sem estas tecnologias. Sendo assim o uso de ambientes virtuais faz parte da linguagem cotidiana de nossos alunos e a utilização desses ambientes em sala de aula não me parece ser apenas mais uma ação motivadora para uma determinada aula, mas sim uma conseqüência natural da evolução tecnológica em que todos, professores e alunos, estamos inseridos. Compartilho da idéia de Miskulin (1999) que educar em uma Sociedade da Informação é muito mais do que “treinar” pessoas no uso das novas tecnologias; trata-se de formar os indivíduos para "aprender a aprender" de forma a prepará-los para a contínua e acelerada transformação do conhecimento tecnológico. A escola em que realizo esta pesquisa, é uma escola na periferia de uma cidade do interior de São Paulo. Os alunos, na sua maioria, tem familiarização com computadores, celulares de última geração e outros equipamentos tecnológicos. Então, nós professores, não temos mais porque perguntar se devemos utilizar um ambiente virtual, mas sim, perguntar como elaborar um cenário de investigação que utilize tecnologia computacional. Capítulo 2 – Fundamentação Teórico Metodológica 42 Nós podemos observar que nas escolas onde a tecnologia está demorando a chegar em suas salas de aula, seja por políticas educacionais conservadoras, seja por resistência dos profissionais da educação ou por dificuldades econômicas, vemos que os próprios alunos estão fazendo com que a tecnologia invada as salas de aula de alguma forma, quer seja pelo celular ou por trabalhos realizados no computador e internet ou qualquer outro tipo de intervenção que eles mesmos utilizam em seus aprendizados. Os alunos utilizam este ambiente como uma prótese cognitiva (Bolite Frant, 2010). A metáfora “TECNOLOGIA É PRÓTESE” propõe que o uso da tecnologia nos permite fazer de forma diferente, forma esta que não seria possível realizar sem o uso da tecnologia, fazendo-nos assim produzir um conhecimento diferente daquele que produziríamos sem o uso da tecnologia. Portanto o uso da tecnologia não apenas torna possível realizar alguma atividade, mas também modifica a forma de agir e pensar sobre algo. Não adotamos a tecnologia apenas como uma ferramenta facilitadora, muito mais que isto, a tecnologia modifica e cria novas possibilidades e formas de pensamento. Nesta pesquisa a tecnologia utilizada são os Objetos de Aprendizagem (OA). Cabe observar que a palavra objeto utilizada tanto no contexto cotidiano quanto no contexto acadêmico traz diversas significações. Deste modo faz-se necessário colocar, já que concordamos com Bakhtin e outros acima citados, para nós os objetos devem ser constituídos na e pela linguagem. Então no máximo poderíamos falar em Objeto de Ensino – que seria utilizado e escolhido pelos professores e/ou Objeto Para Aprendizagem (OPA) que podem ser aprimorados pelos alunos/aprendizes. No entanto, herdando da ciência da computação a idéia de “programação orientada objeto” surgem os Objetos de Aprendizagem e como veremos a seguir algumas definições que os caracterizam. Algumas definições tratam os aspectos técnicos como a manipulação dos objetos e armazenamentos, outras tratam os aspectos educacionais e pedagógicos. Capítulo 2 – Fundamentação Teórico Metodológica 43 A definição mais utilizada é a de Wiley (2000) que define um OA “como qualquer recurso digital que possa ser reutilizado e ajude na aprendizagem”. Para nós, esta definição por ser tão ampla não caracteriza adequadamente, isto é, ela é pouco operacional. Uma definição bastante técnica (Downes, 20001 apud Handa, 2003) é dada pelo Instructional Management Systems (IMS) - consórcio de especificações dos fabricantes de softwares em que apresenta Objetos de Aprendizagem segundo a idéia de “programação orientada objeto” e define OA como: “um conjunto de informações que contém rotinas e estruturas de dados que interagem com outros objetos. Nos Objetos de Aprendizagem, o “objeto” serve para encapsular ou “armazenar” materiais digitais, transformando-os em módulos reutilizáveis de fácil manipulação.” (p.116). Weller, et al. (2003) também apresentam uma definição bastante ampla para o objeto da aprendizagem definindo-o como “a parte digital de um material didático que aborda um tema claramente definido ou resultados de aprendizagem e tem o potencial para ser reutilizado em diferentes contextos.” A definição utilizado pelo Ministério da Educação e Cultura – MEC é a seguinte: Um objeto de aprendizagem é qualquer recurso que possa ser reutilizado para dar suporte ao aprendizado. Sua principal idéia é "quebrar" o conteúdo educacional disciplinar em pequenos trechos que podem ser reutilizados em vários ambientes de aprendizagem. Qualquer material eletrônico que provém informações para a construção de conhecimento pode ser considerado um objeto de aprendizagem, seja essa informação em forma de uma imagem, uma página HTM, uma animação ou simulação. (www.rived.mec.gov.br/site_objeto_lis.php - acesso 14/04/2009) Embora ainda não se tenha uma definição consensual para Objetos de Aprendizagem algumas características são comuns em muitas de suas definições. Destaco a reusabilidade e portabilidade como duas de suas principais características. Em relação a reusabilidade dos Objetos de Aprendizagem, estes devem permitir seu uso em diversas situações diferentes, não apenas para a que eles foram Capítulo 2 – Fundamentação Teórico Metodológica 44 inicialmente desenvolvidos, isto é, possibilitar a sua incorporação em múltiplas aplicações, podendo serem usados em um determinado contexto e depois reutilizados em outro contexto. A portabilidade é a característica dos Objetos de Aprendizagem de permitir seu uso em diversas plataformas. Para isto é desejável que eles tenham sido projetados com padrões já consolidados e amplamente conhecidos para facilitar sua utilização a qualquer usuário. Observamos, mais uma vez, que um professor da rede formado em um curso de licenciatura onde a tecnologia, quando foi abordada, aparece apenas em um uso “imediato”, nunca aprendeu a programar; este professor, portanto, não tem condições de sozinho reutilizar um OA. Nesta pesquisa ao invés de OA chamaremos esses objetos disponíveis na internet de Objeto de Ensino. Nosso Objeto de Ensino poderá ser escolhido pelo professor para aplicação em sua sala de aula, ele compõe um cenário de aprendizagem, pois o estudo não se limita e nem pretende que apenas com um Objeto de Ensino tenhamos todo um processo de ensino e aprendizagem da trigonometria. Os Objetos de Ensino utilizados nesta pesquisa, assim como qualquer objeto virtual ou não, que seja utilizado para compreender algo, não são apenas ferramentas mediadoras de nossos pensamentos. Segundo Radford (2006) os objetos que compõem o ambiente de aprendizagem são parte integrante dos pensamentos e de como produzimos conhecimento. Nosso olhar se voltará a emergência destes objetos no cenário elaborado. “Uma das fontes de aquisição de saber resulta de nosso contato com o mundo material, o mundo de artefatos culturais em torno de nós (objetos, instrumentos, etc.) e que se encontra depositada a sabedoria histórica da atividade cognitiva das gerações passadas.” (Radford, 2006, p.113) Uma das diferenças entre Objetos de Ensino e Objetos de Aprendizagem, para esta pesquisa, é que este objeto a princípio é utilizado pelo professor em um curso presencial. Os alunos além dos recursos tecnológicos possuem todo um Capítulo 2 – Fundamentação Teórico Metodológica 45 cenário de ensino e aprendizagem composto por alunos, professor, material impresso, giz, lousa e outros componentes que fazem parte de uma aula para alunos do Ensino Médio. Diferente dos objetos de Aprendizagem que possuem a característica de serem utilizados principalmente em cursos de educação a distância em um ambiente web. Os Objetos de Ensino utilizados nesta pesquisa são reutilizações de Objetos de Aprendizagem já existentes e disponibilizados pelo RIVED. Todavia apenas partes destes objetos são utilizados, ou applets que foram desenvolvidos pelo pesquisador no decorrer da pesquisa, como veremos posteriormente neste texto, na analise os Objetos de Aprendizagem e os Applets. Para nós, nesta pesquisa, caracterizamos Objetos de Ensino como sendo objetos digitais utilizados em um processo de ensino e aprendizagem, onde um professor pode se utilizar destes objetos ou de partes destes para compor um cenário de aprendizagem de um tópico definido. Deste modo, o fantasma da programação do OA desaparece e o professor escolhe o que e como usar um OE, pois a programação de softwares não é uma habilidade exigida para um professor de matemática e poucos deles saberiam como fazê-la. 2.5 - Procedimento Metodológico e desenvolvimento da pesquisa 2.5.1 - Local e Participantes As atividades desta pesquisa foram aplicadas em uma escola pública, situada na periferia de Bragança Paulista, cidade do interior do estado de São Paulo que se localiza a 80 km da capital paulista. Esta escola atende principalmente alunos de classe sócio-econômica de baixa renda. Funciona em três períodos, sendo que no período da manhã atende alunos do Ensino Médio, no período da tarde alunos do Ensino Fundamental e no período noturno alunos do Ensino Médio e EJA, totalizando aproximadamente 900 alunos. A escola possui oito salas de aulas que são utilizadas durante os três períodos. Capítulo 2 – Fundamentação Teórico Metodológica 46 Esta escola nas últimas avaliações externas tem apresentado desempenho insatisfatório dos alunos, principalmente quando avaliado as competências em matemática, segundos os critérios da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. O IDESP – Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo é um indicador de qualidade das séries iniciais (1ª a 4ª séries) e finais (5ª a 8ª séries) do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. Na avaliação de qualidade das escolas, para a obtenção do valor do IDESP são considerados dois critérios, o desempenho dos alunos nos exames do SARESP – Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar de São Paulo e o fluxo escolar. A secretaria de Educação do Estado de São Paulo definiu metas de qualidade estabelecidas a partir dos índices dos IDESPs das séries iniciais e finais do EF e do EM. As metas de longo prazo, definidas para todas as escolas da rede estadual, para 2030 são: METAS DE LONGO PRAZO – 2030 4ª SÉRIE EF 8ª SÉRIE EF 3ª SÉRIE EM 7,0 6,0 5,0 Tabela 7 – Metas IDESP <http://idesp.edunet.sp.gov.br/o_que_e.asp> - acesso 28/01/2010 O IDESP 2008 desta escola é de 2,14 e a média estadual é de 2,60; em 2007 o IDESP da escola era de 2,00 enquanto que a média estadual era de 2,54. No indicador por desempenho da escola onde se tem o valor por disciplina esta escola possui em matemática os seguintes indicadores: Indicador de desempenho em Matemática 2007 2008 2009 8ª Série EF 1,16 2,4242 2,5600 3º Serie EM Não avaliado 1,3492 1,4667 Tabela 8 – Indicador de desempenho IDESP Como apresentado, o IDESP desta escola é baixo, principalmente quando avaliado na disciplina de matemática, outro valor significativo é o baixo índice do 3º Capítulo 2 – Fundamentação Teórico Metodológica 47 ano do Ensino Médio, todos os valores se encontram muito longe da meta estabelecida para 2030 e também abaixo da média estadual, caracterizando assim seus alunos em um nível abaixo do satisfatório. O relatório do IDESP 2009, também apresenta outra tabela que caracteriza o conhecimento dos alunos em português e matemática desta escola, na tabela de distribuição por nível de desempenho, apresenta 58% dos alunos do 3º ano do ensino médio com um desempenho abaixo do básico em matemática, o que é considerado insuficiente segundo os critérios da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Ressalto também que apenas 2% se encontram em nível considerado adequado e no nível avançado o índice é de 0%. 8ª série EF 3ª série EM Abaixo do Básico Básico Adequado Avançado Português 0,2735 0,6068 0,1197 0,0000 Matemática 0,2960 0,6400 0,0640 0,0000 Português 0,1702 0,5745 0,2553 0,0000 Matemática 0,5800 0,4000 0,0200 0,0000 Insuficiente Suficiente Avançado Tabela 9 – Desempenho Português e Matemática IDESP 2009 Participam desta pesquisa oito alunos escolhidos aleatoriamente visando a possibilidade de sua participação, que ocorre fora do horário de suas aulas. Os alunos que participaram desta pesquisa são alunos matriculados no primeiro ano do ensino médio desta escola, no período da manhã. Nenhum destes alunos participou de grupos de recuperação, e apresentam um desempenho médio ou bom nas aulas regulares de matemática. Até o momento da pesquisa o conhecimento que eles possuem de trigonometria é as razões trigonométricas no triângulo retângulo. Todos os encontros com os alunos são realizados na sala da coordenação da escola, onde é disponibilizada uma mesa retangular com dois computadores. Esta sala fica localizada de frente para o pátio da escola, sendo necessário manter a porta fechada para que o som externo, como o intervalo dos alunos do período da Capítulo 2 – Fundamentação Teórico Metodológica 48 tarde, não atrapalhe o encontro com os alunos. Mas mesmo tomando estes cuidados por alguns momentos o som externo dificulta identificação de algumas falas da filmagem. 2.5.2 - Experimento de ensino ou Design experiment Para desenvolver esta pesquisa adotamos a metodologia de design experiment, que permite que o pesquisador-professor possa analisar de forma detalhada a Matemática desenvolvida pelos estudantes através de atividades matemáticas propostas por ele. Algumas pesquisas se referem à Metodologia de Projeto, no entanto optamos por manter a palavra design no inglês concordando com Drisóstes: O termo design não tem tradução para o português. O design envolve atividades como planejar, desenhar, esboçar, projetar, esquematizar, criar, inventar e executar. (Drisostes, 2005, p.38). Segundo Cobb, Confrey, DiSessa, Lehrer e Schauble (2002) o design experiment tem como ideal obter uma maior compreensão da ecologia de aprendizagem que envolve uma determinada situação; a utilização da metáfora da ecologia se justifica pelos inúmeros fatores que cercam uma situação de aprendizagem. Dentre os elementos que constituem esta ecologia encontramos os problemas propostos para os alunos, a dinâmica em sala de aula, as ferramentas disponíveis utilizadas e todo o sistema interativo que envolve vários elementos de diferentes tipos e níveis, concebendo assim elementos e antecipando a forma como esses elementos funcionam em conjunto para apoiar a aprendizagem. Como a pretensão desta pesquisa é de criar um cenário de investigação para aulas de trigonometria, para cada etapa de experimentação segue uma fase de desenvolvimento, assim, esta metodologia parece a mais indicada. Uma das características mais importante do design para a educação é a responsabilidade do aluno no processo de aprendizagem, o aprendiz é um participante ativo em todo o processo e tem responsabilidade sobre este; o objeto do design que está sendo desenvolvido deve levar à reflexão e discussão do aprendiz. Capítulo 2 – Fundamentação Teórico Metodológica 49 Também é importante ressaltar que nesta metodologia é fundamental a negociação entre professor e alunos para que os conhecimentos matemáticos sejam conjuntamente construídos não deixando com que apenas a visão do professor quanto aos conhecimentos matemáticos seja predominante. Outro fator importante no experimento de design é a característica do professor-pesquisador e alunos, onde todos eles são vistos como colaboradores do processo de design. O design experiment sugere vários tipos de cenários em que ele pode se desenvolver, para esta pesquisa destaco o cenário “one-on-one” (professor e aluno) onde são realizadas várias aulas com um número reduzido de alunos, tendo como objetivo “criar uma pequena versão de uma ecologia de aprendizagem para que possa ser estudado em profundidade e pormenor” (Cobb & Steffe, 1983; Steffe & Thompson, 2000). 2.5.3 – Coleta e Análise dos Dados A coleta de dados incluiu a filmagem dos encontros com os alunos e os materiais produzidos por eles nestes encontros. A escolha pela utilização deste tipo de mídia para coleta de dados é pelo fato da flexibilidade que ele permite para a análise de dois tipos de informações, auditiva e visual, onde capturamos gestos, falas, comportamentos que apenas com as anotações do observador poderiam se perder. “... o vídeo supera a limitação humana de observação por ser capaz de capturar não apenas “parte do retrato integral” e é superior às notas do observador, uma vez que não envolve edição automática”. (Martin, 1999, apud Powell) O vídeo embora tenha inúmeras vantagens sobre a observação ao vivo ou da análise de áudios e documentos criados pelos participantes de uma pesquisa, ele também está sujeito a problemas, Bottorff (1994, apud Powell 2004) cita três razões pelas quais considera o vídeo incompleto: Capítulo 2 – Fundamentação Teórico Metodológica 50 “... a capacidade de ser seletivo devido a limitações mecânicas; a incapacidade de discernir o conteúdo subjetivo do comportamento que está sendo gravado; e, usualmente, a incapacidade de carregar o contexto histórico do comportamento capturado.” Para a análise de dados gravações de vídeo com trabalhos escritos dos estudantes, além do referencial teórico, é necessário o uso de algumas técnicas para análise destes vídeos. Mesmo reconhecendo as limitações colocadas por Bortoff (1994, apud Powell 2004) da coleta de dados através de vídeos, sua utilização ainda oferece muitas vantagens à análise de dados. Dentre algumas vantagens podemos citar com Powell (ibid 2004) a possibilidade da análise posterior diminuir as interpretações antecipadas e prematuras do observador; poder rever inúmeras vezes a mesma cena permite que acontecimentos que tenham passado despercebido em uma análise prévia seja revisto e analisado; a flexibilidade de visualização com recursos de parar a imagem, câmera lenta, passo a passo, avançar vídeo, retroceder vídeo permite uma análise mais detalhada; análise posterior dos vídeos por outros pesquisadores e não restringindo-se apenas ao observador presente, permitindo múltiplas visões sobre o mesmo acontecimento. A transcrição de dados de vídeo também é tarefa árdua e não existe consenso quanto ao que devemos transcrever, o vídeo todo ou apenas eventos críticos. A transcrição também pode se tornar difícil, pois como cita Martin (1999, apud Powell 2004) com o videoteipe, ironicamente, pode se produzir dados demais. Por isso alguns pesquisadores como Pirie e Martin defendem a análise dos dados apenas trabalhando exclusivamente sobre os vídeos em vez de transcrevê-los. Uma opção metodológica utilizada para análise de vídeos surgi com o grupo de pesquisa no RBDIL (The Robert B. Davis Institute for Learning) em que Arthur B. Powel propõe um modelo analítico que consiste em sete fases não lineares, que têm por objetivo estudar o desenvolvimento do pensamento matemático em aprendizes. As fases deste método são: 1. Observar atentamente os dados do vídeo. 2. Descrever os dados do vídeo. 3. Identificar eventos críticos. 4. Transcrever. Capítulo 2 – Fundamentação Teórico Metodológica 5. Codificar. 6. Construir o enredo. 7. Compor a narrativa. 51 Os vídeos nesta pesquisa são analisados da seguinte forma, primeiro a observação dos vídeos de forma integral sem interrupções, após isto os vídeos passam por uma segunda observação onde são levantados os eventos críticos. Estes eventos são discutidos com outra pesquisadora e em uma terceira fase cada evento crítico é observado cuidadosamente com a utilização dos recursos de pausa, retroceder, passo a passo. Não há transcrição integral dos vídeos, pois isto demandaria muito tempo e um número muito grande de informações, e como já relatado por alguns pesquisadores, pouco eficaz. Para os pontos críticos há transcrição facilitando e ampliando as possibilidades de análise, para posteriormente permitir a composição das narrativas. 2.5.4 - Fases de desenvolvimento da pesquisa Esta pesquisa está subdividida em duas fases, a primeira destinada à análise dos objetos de aprendizagem e outros materiais disponíveis que poderiam ser utilizados, onde percebemos a necessidade de um levantamento histórico para complementar os materiais e elaborarmos um cenário para o ensino do círculo trigonométrico. A segunda fase consta da implementação deste cenário junto aos alunos e suas modificações. Fase 1 – Análise de Materiais Esta fase é destinada à análise dos materiais que estão disponíveis para qualquer professor de ensino médio da rede estadual de ensino do estado de São Paulo e a elaboração da proposta de atividade para implementá-la na segunda fase da pesquisa. Buscando entender melhor o que é oferecido ao professor e conseqüentemente ao aluno iniciamos com o levantamento do histórico sobre a trigonometria, depois nos voltamos para os livros didáticos de matemática que estão Capítulo 2 – Fundamentação Teórico Metodológica 52 disponíveis no PNLEM 2009, dos “Cadernos do Aluno” e “Cadernos do Professor” da Proposta Curricular do Estado de São Paulo, estes cadernos são distribuídos a todos os alunos e professores da rede estadual de ensino de São Paulo. Os Objetos de Aprendizagem disponíveis gratuitamente também fizem parte desta fase. Assim são analisados os OAs que estão disponibilizados pelo RIVED, sob o tema trigonometria. Além dos OAs estuda-se a possibilidade de uso de outros aplicativos disponíveis na internet conhecidos como “applet”. Um applet é um aplicativo que é executado no contexto de outro programa (como por exemplo um web browser), um applet geralmente executa funções bem específicas. O termo foi introduzido pelo AppleScript em 1993. Na intenção de verificar algumas hipóteses e evidências sobre o ensino e aprendizagem de trigonometria, que levantei, realizamos uma primeira investigação junto ao grupo de pesquisa “Tecnologias Digitais e Educação Matemática” da UNIBAN, formado por professores e/ou pesquisadores, onde colaboram em muito na construção do Cenário para Investigação de trigonometria no círculo trigonométrico como veremos no capítulo 3. A seguir partimos para a montagem do cenário de investigação e elaboramos a primeira atividade proposta para os alunos no primeiro encontro. As demais atividades, também são desenvolvidas neste momento, mas elas sofrem modificações, de acordo com o retorno dos alunos em atividades anteriores, conforme sugere o design experiment. Fase 2 - Implementação e Análise do Cenário A segunda fase se destina à implementação do cenário sugerido com suas respectivas atividades para os alunos. Neste momento realiza-se também, após cada encontro com os alunos uma análise parcial dos resultados destes encontros e quando necessário são feitas alterações nas atividades subseqüentes, conforme previsto pela metodologia de Design Experiment. Capítulo 3 – Primeira Fase 53 Capítulo 3 Primeira Fase Capítulo 3 – Primeira Fase 54 Descrevo a 1ª fase da pesquisa onde foi realizado o levantamento histórico da trigonometria a analise dos livros didáticos, da proposta Curricular do Estado de São Paulo e dos OAs/Apllet´s. Também é descrito a primeira análise do grupo de professores / pesquisadores do problema de pesquisa e levantamento de algumas hipóteses e o desenvolvimento da primeira atividade para sua aplicação junto com os alunos. 3.1 - História da Trigonometria Neste tópico procuro através da história da trigonometria compreender como surgiu a trigonometria e sua evolução até os dias atuais, buscando um suporte para melhor analisar os materiais disponíveis, livros didáticos, Proposta Curricular do Estado de São Paulo, OA e applets. Em particular esta pesquisa procura entender alguns pontos relevantes para o estudo atual da trigonometria no círculo trigonométrico, entre estes pontos destaco: as medida de ângulo em grau na base sexagesimal e em radiano; os números negativos, racionais e irracionais; triângulo retângulo e o círculo trigonométrico. Segundo Caraça (2005) a origem e desenvolvimento das noções matemáticas seguem um movimento ora por motivos pragmáticos ora dentro da própria ciência, sempre num processo dialético. A trigonometria também segue estes momentos citados por Caraça, observamos seu surgimento pragmático e posteriormente temos seu desenvolvimento dentro da própria matemática, sempre em busca da economia, do menor esforço, facilitando os processos matemáticos que envolvem o assunto. O homem tem tendência a generalizar e estender todas as aquisições do seu pensamento, seja qual for o caminho pelo qual essas aquisições se obtém, e a procurar o maior rendimento possível dessas generalizações pela exploração metódica de todas as suas conseqüências. (Caraça, 2005, p.9) Este levantamento histórico da trigonometria teve como fonte inspiradora o trabalho de Costa (1997), Cajori (2007), Kennedy (1992), Boyer (1974) além de informações disponíveis nos sítios da internet http://www-history.mcs.st- Capítulo 3 – Primeira Fase andrews.ac.uk/HistTopics/Trigonometric_functions.html e 55 http://ecalculo.if.usp.br /historia/historia _trigonometria.htm. A etimologia da palavra Trigonometria vem do grego TRI – três, GONO ângulo e METRIEN - medida, significando Medida de Triângulos. Trata-se, assim, do estudo das relações entre os lados e os ângulos de um triângulo. A origem da trigonometria é incerta, mas é anterior à era cristã, e nos remete a séculos de história e interação humana até ser conhecida como é hoje. Sua maior fonte motivadora e impulsionadora foi o fascínio do homem pela astronomia. Sua relação da trigonometria com a astronomia é tão estreita que apenas no século XIII os dois assuntos foram considerados tópicos separados. Uma idéia primitiva da trigonometria surgiu com a invenção do relógio de sol, os mais antigos relógios de Sol teriam surgido no Egito ou na Mesopotâmia, desde 3000 a.C, mas a China ou as civilizações Maia, Inca e Asteca também nessa época, ou um pouco mais tarde, desenvolviam instrumentos semelhantes. As tábuas de sombra, utilizadas para marcar as horas do dias, encontradas possuem marcações imprecisas, não seria de grande utilidade procurar conhecimentos matemáticos mais profundos nas seqüências numéricas demonstradas nessas tábuas. Tanto no Egito quanto na Babilônia temos rudimentos da trigonometria que aparecem a partir do cálculo de razões entre números e entre lados de triângulos semelhantes, realizando estudos relativos a fenômenos astronômicos e geográficos como, a determinação de eclipses, fases da lua, estimar equinócios, estabelecerem calendários, distâncias inacessíveis e rotas de navegação. Já podemos observar que o homem fazia uso das funções periódicas, mesmo sem o formalismo matemático de hoje e também apresenta seus primeiros estudos dos triângulos, mostrando assim um surgimento na necessidade do homem de sua época. Os babilônicos nos deixaram um valioso registro de sua cultura, foram desenterrados cerca de meio milhão de placas com manuscritos, datados de 1800 – 1600 a.C.. Estas placas eram feitas de argila mole e impressas com um estilete de junco, posteriormente estas placas eram colocadas a secar ao sol ou fornos. Deste Capítulo 3 – Primeira Fase 56 meio milhão de placas, algumas centenas estão relacionadas a conhecimentos matemáticos. Nestas placas temos indícios que nos mostram que o teorema de Pitágoras já era conhecido pelos babilônicos. A área de um círculo era dada por 3r², mas o valor de π era dado por 3 1/8. Em placas de 1700 a.C. encontram-se tabelas de cordas no sistema sexagesimal sumeriano, o que atualmente equivaleria ao seno. A origem do sistema sexagesimal atribui-se ao fato de que os babilônicos utilizavam como unidade de medida para avaliar a prata o talento valendo 60 vezes o valor e peso da mana, e a mana valendo 60 vezes o valor do sequel. Esta razão de 1 para 60 provavelmente se estendeu para outras unidades e também os números. Acreditase também que foram os babilônios que fizeram a divisão da circunferência em graus, minutos e segundos. Como veremos a seguir os gregos mais tarde também fazem o uso da base sexagesimal para as medidas dos ângulos, provavelmente sobre a influência babilônica, e o uso da medida em grau se mantém como principal unidade de medida do ângulo por muitos anos até o surgimento dos radianos. Os egípcios nos deixaram indícios de conhecimentos em trigonometria que aparecem no Papiro Ahmes, também conhecido como Papiro Rhind, este é o mais extenso documento egípcio em matemática que chegou aos nossos dias, sua data é aproximadamente 1700 a.C., embora seu conteúdo tenha sido descoberto em outra fonte datado por volta de 3400 a.C., este papiro é conhecido como o mais antigo manual de matemática. Nele não se encontram teoremas, mas sim algumas regras gerais de como calcular áreas e algumas propriedades dos triângulos, trapézios e círculos onde o π é dado por (16/9)² = 3,1604.... Capítulo 3 – Primeira Fase 57 Figura 6: Papiro Rhind, Museu de Londres. (fonte: http://www.archaeowiki.org/Image: Rhind_Mathematical_Papyrus.jpg – acesso 10/09/2009) Os escritores gregos como Platão, Aristóteles, Heródoto, Diódoro, Diógenes atribuem aos egípcios à invenção das ciências matemáticas e da geometria. Com a expansão do intercambio comercial muitos estudiosos gregos visitaram o Egito a procura de conhecimento. Thales, Pitágoras, Cenópides, Platão, Demócrito e Eudoxo foram alguns dos que foram ao Egito a procura de sacerdotes egípcios para os instruírem. Trazendo assim para a Grécia conhecimento e novas linhas de pensamento formando uma base para se começar a trabalhar. No que se diz respeito à trigonometria, assim como diversos ramos da matemática evoluíram gradualmente, e seu desenvolvimento está muito ligado ao desenvolvimento da geometria. É atribuída a Thales de Mileto a introdução do estudo da geometria pelos gregos. Foi durante seus estudos, no Egito, que ele fez as medições das alturas das pirâmides através das sombras. Não se sabe ao certo como ele realizou estes cálculos, acredita-se que foi comparando as razões das sombras da pirâmide com as razões da sombra de um bastão. Outra hipótese foi a de que, em determinado momento a sombra do bastão tinha a mesma medida da altura do bastão, logo a neste momento a sombra das pirâmides teriam a mesma altura de suas sombras. O mais provável é que ele tenha utilizado as duas técnicas para medir as alturas das pirâmides. Problemas parecidos como o de medir a altura das pirâmides, ainda são muito utilizados em sala de aula, mudando-se apenas a pirâmide por um edifício ou árvore. Outra utilização da trigonometria era na agrimensura, exemplos que também Capítulo 3 – Primeira Fase 58 utilizamos atualmente. Exemplos de utilização como estas também são encontrados na cultura chinesa. Os historiadores consideram muito difíceis datar documentos matemáticos da China, e acredita-se que o clássico mais antigo da matemática chinesa é “Chou Pei Suang Ching”. Outra publicação também muito antiga é o livro de matemática “Chui Chang Suan Shu” onde existem nove capítulos sobre a arte da matemática, datados em torno de 1200 a.C.. Entre vários assuntos abordados, chama a atenção problemas sobre mensuração de terras, agricultura, sociedades, engenharia, impostos, cálculos, soluções de equações e propriedades dos triângulos retângulos. Os gregos fizeram um estudo sistemático das relações entre ângulos ou arcos numa circunferência e os comprimentos de suas cordas. Não se sabe ao certo se o conceito da medida de ângulo surgiu com os gregos. O mais provável é que eles, por contato com a civilização babilônica, tenham adotado suas frações sexagesimais. Pitágoras foi de extrema importância para a matemática dos gregos, foi o fundador da escola pitagórica, que era mais do que um local para o estudo da filosofia, matemática, astronomia e ciência natural, era uma irmandade onde seus membros tinham condutas parecidas com as sociedades maçônicas. A teoria dos números irracionais é creditada segundo Eudemo aos pitagóricos, o que para época era um pensamento extremamente audacioso. Os pitagóricos viram os irracionais como um grande mistério e guardavam esta teoria em absoluto segredo. Consta que o primeiro a divulgar esta teoria, em conseqüência disto, foi vítima de um naufrágio, devido a esta revelação. Destaco neste momento a dificuldade que os matemáticos, ao longo da história, tiveram em aceitar os números negativos e principalmente os números irracionais. Mostra a história que estes números, muitos utilizados na trigonometria para o Ensino Médio, tiveram muita resistência da sua existência. Será que atualmente nossos alunos conseguem compreender o significado destes números? Capítulo 3 – Primeira Fase 59 Hipsicles (200-100 a.C.) que deve ser o autor do décimo quarto livro de Euclides, onde apresenta um tratado de Hipsicles sobre o Nascer dos Astros que apresenta a divisão da circunferência em 360 graus, seguindo o modelo babilônico. Hiparco (190-126 a.C.) foi astrônomo, construtor, cartógrafo e matemático grego da escola de Alexandria, influenciado pela Matemática babilônica, desenvolveu métodos para a determinação de locais na superfície terrestre e introduziu o sistema de localização por latitude e longitude. Ele é considerado “o pai da Trigonometria", pois desenvolveu o que deve ter sido a primeira tabela trigonométrica, uma tábua de cordas, evidentemente, Hiparco fez esses cálculos para usá-los em seus estudos de astronomia. Embora estas tabelas não sobrevivam, reivindica-se que doze livros das tabelas das cordas foram escritos por Hiparco em aproximadamente 140 a.C.. Provavelmente ele utilizou a idéia da representação por coordenadas, anteriormente apresentada por Apolônio. A matemática desenvolvida por Hiparco tinha forte influência dos babilônios, acreditando que 60 era a melhor base de contagem. Assim como os babilônicos ele também dividiu a circunferência em 360 graus, e atribuído a ele a divisão de cada arco de 1 grau em 60 partes obtendo o arco de 1 minuto. A "Trigonometria" era então baseada no estudo da relação entre um arco arbitrário e sua corda. Apesar da corda de um arco não ser o seno, uma vez conhecido o valor do seu comprimento, pode-se calcular o seno da metade do arco, pois a metade do comprimento da corda dividido pelo comprimento do raio do círculo é justamente esse valor. Como podemos observar o maior interesse dos matemáticos era o de determinar o comprimento da corda de um arco e assim muitos matemáticos se dedicaram a isto, mas hoje o comprimento da corda de um arco não é contemplado nos currículos atuais do ensino médio, mas é um importante momento pois a partir das cordas do círculo que a trigonometria tem seu encaminhar as razões trigonométricas. Ptolomeu (90-165 d.C) nasceu no Egito e foi um renomado astrônomo, reconhecido também pelos seus trabalhos em matemática, astrologia, geografia e cartografia. É autor da mais influente e significativa obra trigonométrica da Antigüidade foi a Syntaxis Mathematica, obra que contém 13 livros. Este tratado é Capítulo 3 – Primeira Fase 60 famoso por sua compacidade e elegância, e para distingui-lo de outros foi associado a ele o superlativo magiste ou "o maior". Mais tarde na Arábia o chamaram de Almajesto, e a partir de então a obra é conhecida por esse nome. O Almagesto constitui os fundamentos de toda ciência astronômica utilizada por árabes, indianos e europeus até o surgimento da teoria heliocêntrica, de Nicolau Copérnico. O Livro I do Almagesto intitulado “Princípios da Astronomia Esférica” traz o capítulo “Avaliação das cordas inscritas no círculo” onde descreva tabela de cordas que diferem de meio em meio grau, com demonstrações de seus cálculos. O objetivo de Ptolomeu era tabelar todas as cordas de meio em meio grau de 0º a 180º, o restante seria determinado por interpolação. Mas este objetivo não foi completamente atingindo, ele não conseguiu, por exemplo, determinar a corda de um arco de 1º com precisão, embora tenha determinado a corda de grau e meio. Ptolomeu aproximou o valor da corda de 1º a 1,047222, não esquecendo que ele dividia o diâmetro em 120 partes, para compararmos esta aproximação com valores atuais podemos determinar o seno de meio grau em uma calculadora cientifica e multiplicarmos por 120. Assim como os babilônicos e Hiparco, Ptolomeu também optou pela divisão da circunferência em 360 graus e o diâmetro em 120 partes, o que facilitaria seus cálculos. Nota-se também na obra de Ptolomeu muito cuidado com os cálculos e para evitar o embaraço das frações ele faz a opção pelo sistema sexagesimal. Neste momento destaco que conforme sugere Caraça (2005) os matemáticos procuram sempre facilitar os processos matemáticos e Ptolomeu não o fez diferente, optando pelo sistema sexagesimal, as frações foram evitadas, mostrando que este tipo de representação numérica não era a forma mais produtiva de se trabalhar. Os hindus também deram sua contribuição para o desenvolvimento da trigonometria, embora eles não tenha tido muito êxito em geometria na trigonometria eles tiveram alguns avanços principalmente durante o século VI d.C.. O matemático Varaha Mihira descreve em sua obra Pañcha Siddhântikâ, algumas interessantes passagens de trigonometria, com tabelas de cordas, provavelmente de Ptolomeu. Mas diferente dos gregos os hindus dividiram o raio em Capítulo 3 – Primeira Fase 61 120 partes e não em 60. O círculo também aparece dividido em quadrantes de 90 graus. Mas diferente dos gregos, para determinar a corda, eles contavam com o seno e não com a corda toda. Partindo do seno de 90º ter o valor igual ou raio e do seno de 30º ser metade do seno de 90º, eles aplicando a fórmula sen² + cos² = r² determinaram o seno de 45º e 60º. Tendo os senos de 90º, 60º, 45º e 30º como pontos iniciais eles calcularam o seno da metade destes ângulos seus senos complementares. Assim conseguiram determinar uma tabela de senos com intervalos de 3º45’. Entre os árabes o primeiro matemático que se destacou foi Mohammed ibn Musa Al-Khowarizmi (790 – 840), que realizou um importante trabalho em álgebra e aritmética, mas também foi designado pelo califa Al-Mamun a revisar as tabelas de Ptolomeu e medir o comprimento de um grau do meridiano terrestre. As tábuas astronômicas de Al-Khowarizmi, foram revisadas posteriormente por Maslama alMajrîtî, onde além da função seno, apareceria uma provável ampliação sua, a função tangente. Durante o século IX destacou-se na Arábia o matemático Al-Battani (850-929 d.C.) chamado de Albategnius pelos latinos, seus estudo foram de alta relevância para a matemática e astronomia e era conhecido como o Ptolomeu de Bagdá. Pela tradução de suas obras deu-se origem a palavra “sinus” para o nome da função trigonométrica. A palavra árabe para “seno”, jiba foi derivada do sânscrito jiva, que se assemelha à palavra árabe jaib, significando um recorte ou golfo, daí, portanto, a razão da palavra latina “sinus”. (Cajori, 2007, pag. 160). Al-Battani foi um grande estudante de Ptolomeu, mas fez grandes melhorias para a trigonometria. Ele utilizou metade da corda para a função seno criando o seno indiano, criou tabelas para a cotangente e a tangente. Também e atribuído a ele a utilização do círculo de raio unitário e com isso demonstrar que a razão seno é válida para qualquer triângulo retângulo, independentemente do valor da medida da hipotenusa. Outro trabalho importante entre os árabes é a obra de Nasir-Eddin (12011274 d.C.), realizou uma tradução dos Elementos de Euclides fez estudos em Capítulo 3 – Primeira Fase geometria, álgebra 62 e aritmética. Destacam-se também seus escritos em trigonometria que pela primeira vez aparece independente da astronomia e foi realizado com extrema perfeição que estes estudos continuaram a ser utilizados no século XV pelos europeus, que pouco puderam alterá-los. Podemos creditar aos árabes avanços em varias áreas da matemática, mas destaca-se a trigonometria que foi aperfeiçoada até elevados níveis de conhecimento. Durante o século XVI, no período da renascença, são os estudiosos alemães e italianos que dão as melhores contribuições para a matemática. Na Alemanha se dá o renascer da trigonometria, por Regiomontanus (1436-1476 d.C.). Regiomontanus enfatizou o uso das tangentes e construiu tábuas trigonométricas com maior precisão. Deixou para os estudiosos alemães o fascínio pela trigonometria que após sua morte construíram instrumentos astronômicos extremamente refinados que junto com suas tábuas trigonométricas obtinham alto grau de precisão. Em 1613 Bartolomeu Pitiscus (1561-1613 d.C.) republicou as obras de Rgiomontanus e provavelmente foi o primeiro a usar a palavra trigonometria. Na mesma época em que Rhaeticus (1514-1574 d.C.) usou pela primeira vez o triângulo e fazê-lo depender diretamente de seus ângulos, foi ele também o precursor a planejar uma tábua das secantes. Outro trabalho relevante foi do francês François Viète (1540-1603 d.C.), que foi um grande defensor do uso das frações decimais em vez das sexagesimais sendo também reconhecido pelos significativos avanços quanto ao uso de símbolos para representações matemáticas, utilizava em suas obras uma vogal para representar as grandezas desconhecidas e uma consoante para um número ou grandeza conhecida, o que significava uma grande inovação para a época. Em 1579 Viète publicou Canon mathematicus seu ad triangula cum appendicibus, onde apresentava de forma sistemática métodos para os cálculos triângulos planos e esféricos utilizando-se das seis funções trigonométricas. Ele estabeleceu a forma atual dos teoremas dos co-senos e provavelmente o primeiro a usar a lei das tangentes. Usou o recurso sistemático do círculo trigonométrico e a aplicação da trigonometria à resolução de problemas algébricos. Capítulo 3 – Primeira Fase 63 Na Inglaterra William Oughtred (1574-1660 d.C.), juntamente com outros matemáticos como Richard Norwood, John Speidell e outros, deram suas contribuições para a trigonometria desenvolvendo sistemas simbólicos. Na época ainda se tinha um sistema de simbolismo algébrico desenvolvido para a matemática, portanto estes símbolos não foram muito utilizados pelos matemáticos da época. Mais tarde Euler acata e desenvolve uma série de símbolos algébricos utilizados até hoje. Oughtred foi o inventor da régua de cálculo reta e circular e também devemos a ele a utilização da notação π = 3,14159..., que foi usada pela primeira vez por William Jones em 1706 e também acatado por Euler que disseminou o seu uso. A trigonometria tem um novo marco pelas mãos de Leonhard Euler (1707– 1783 d.C.). Nenhum outro matemático o superou na produção de trabalhos matemáticos, e muito do que usamos hoje devemos a ele. A obra de Euler é extremamente abrangente, percorrendo quase todos os ramos da matemática, conhecida até a época. Para ressaltar sua extrema habilidade matemática o acadêmico francês François Arago fez o seguinte comentário: “Euler calculava sem qualquer esforço aparente como os homens respiram e as águias se sustentam no ar.” De fato ele mereceria muitas páginas para descrever um pouco de sua obra, mas vou me conter a citar apenas alguns pontos que fundamentais para o desenvolvimento da trigonometria. Pode ser dito com justiça que Euler fez pela análise infinita de Newton e Leibniz (e por áreas importantes da Matemática) o que Euclides fizera pela geometria de Eudoxo e Teaetetus, ou o que Viète fizera pela álgebra de alKhowarizmi e Cardano. (Boyer, 1974, p.326) Para a trigonometria Euler deu diversas contribuições, ele a tratava como um ramo da análise e considerava os valores trigonométricos de seno, co-seno e de tangente como números ou razões e não mais como um segmento de reta; começou a utilizar sistematicamente o círculo de raio um; utilizou para as funções trigonométricas as respectivas notações sen x, cos x, tg x, cotg x. Capítulo 3 – Primeira Fase 64 Mas mesmo Euler que realizou um trabalho muito extenso não encerrou a história do desenvolvimento da trigonometria. No final do século XIX, surge o radiano, com uma história bastante diferente do restante da trigonometria. O radiano, que hoje é a unidade de medida angular do sistema internacional (SI), tem sua origem no quando apareceu impresso pela primeira vez apenas em 1873, em um exame escrito aplicado por Thomson e posteriormente em Algebra identified with Geometry (Londres: 1874) de Ellis. Consta que o matemático Thomas Muir e o físico James T. Thomson, independentemente, consideraram a necessidade de uma nova unidade de medida angular. Sendo assim, encontram-se para discutir a necessidade e definiram o nome para a nova medida para os ângulos, criando o radian (radiano), pois os estudiosos discutiam uma "expressão" do ângulo em termos de π, que primeiramente foi chamada "π-medida", "circular" ou "medida arcual". Nenhum autor explica por que fizeram uso dessa unidade, o que parece justificar a nova unidade de medida talvez tenha sido a simplificação de fórmulas matemáticas e físicas, especialmente as derivadas e integrais de funções trigonométricas. Destaco que durante quase toda a história, a unidade de medida do ângulo como grau, dividindo a circunferência em 360 partes, foi a melhor maneira de trabalhar com a trigonometria. O radiano que surgiu muito mais tarde nasce da necessidade de facilitar cálculos mais avançados. Eu acredito que esta dupla maneira de se medir um ângulo é um fator dificultador de seu aprendizado, sendo utilizada aleatoriamente nas atividades propostas nos livros didáticos. Também acredito que o grau é uma medida mais amigável para quem esta iniciando seus estudos em trigonometria. Sendo assim no decorrer da pesquisa houve a preocupação, com as atividades propostas, de utilizar inicialmente apenas medidas em graus e posteriormente introduzir as medidas dos arcos em radianos. Percebemos também que a trigonometria, tanto no seu uso como na sua forma, modificou-se muito de sua origem até os dias atuais. As aplicações atuais das funções trigonométricas não lembram as primeiras aplicações de Thales, quando media as pirâmides. Capítulo 3 – Primeira Fase 65 Se é fácil criar problemas, para nossos alunos, parecidos como o das sombras das pirâmides, para procurar concretizar o conceito das razões dos lados do triângulo, esta mesma facilidade não se encontra para justificar o uso das funções trigonométricas, mesmo sabendo que ela é utilizada na física, na mecânica, acústica e em muitas áreas da engenharia. Como percebemos no rumo da história da trigonometria, depois que a trigonometria teve uma história independente da astronomia, seu desenvolvimento foi dentro da própria matemática, ou em cálculos mais avançados de física. Podemos notar que algumas dificuldades encontradas hoje no aprendizado da trigonometria, também foram problemas para os matemáticos anteriores, só que hoje eles já nos deram as repostas. Foram séculos de história e desenvolvimento e cabe a nós hoje propagar estes conhecimentos a nossos alunos. Acredito que a dúvida seja quais conhecimentos e de forma devemos apresentá-los aos nossos alunos. 3.2 - Análise dos livros didáticos / Proposta Curricular SP Para entender melhor como é tratado o tema trigonometria no Ensino Médio, faço neste capítulo, uma avaliação de alguns dos livros didáticos aprovados pelo MEC que participaram do PNLEM 2009. Também faço uma análise da Proposta Curricular do Estado de São Paulo apresentada em 2008 para a rede estadual de ensino e atualmente em vigor. Para a proposta pedagógica analiso o “Caderno do Professor” e o “Caderno do Aluno”, referentes ao 1º Bimestre de 2009 do 2º ano do Ensino Médio e também referente ao 4º Bimestre de 2009 da 1º série do Ensino Médio. Estes cadernos foram escolhidos, pois a Proposta Curricular do Estado de São Paulo localiza no 4º bimestre do 1º ano do Ensino Médio o tema “Razões trigonométricas nos triângulos retângulos” e “Resolução de triângulos não retângulos: lei dos senos e lei dos co-senos” e para o 2º ano do Ensino Médio propõe para o 1º bimestre o tema “Trigonometria: Fenômenos periódicos; Funções trigonométricas; Equações e inequações; Adição de arcos”. Além de estar presente Capítulo 3 – Primeira Fase 66 no currículo do Ensino Médio, a Proposta do Estado de São Paulo também trabalha com Razões Trigonométricas no 4° Bimestre da 8ª Sér ie do Ensino Fundamental. De maneira geral os livros didáticos dedicam em média 13% de suas páginas para a trigonometria, o que sugere um trabalho médio de 4 meses ou dois bimestre de todo ensino médio dedicado a este tema. Segue uma tabela sintética sobre alguns aspectos analisados nos livros. Livro Didático Matemática Completa Giovanni & Bonjorno Matemática Ensino Médio Katia Stocco Smole – Maria Ignez Diniz Volumes Total de Páginas Vol.1 – 400 3 Vol.2 – 384 Vol.3 – 400 Total – 1184 Vol.1 – 432 3 Vol.2 – 480 Vol.3 – 352 Total – 1264 Páginas dedicadas a trigonometria / % Vol.1 – 65 / 16% Vol.2 – 69 / 18% Vol.3 – 0 / 0% Total- 134 / 11% Vol.1 – 125 / 29% Vol.2 – 62 / 13% Tópico História: Origem da trigonometria e utilização de razões trigonométricas no antigo Egito. Uso da Calculadora. Instrumentos de medição de ângulos. Problemas do tipo sombra. Ciclo Trigonométrico, resolução pela álgebra. Uso da Calculadora. Elos da Matemática com a História, música, topografia, arte e astronomia. Instrumentos de medição de ângulos. Vol.3 – 12 / 3% Problemas do tipo sombra. Total -199 / 16% Ciclo Trigonométrico, resolução pela álgebra. Importância histórica. Matemática Dante Desafios em equipe. 1 504 52 / 10% Problemas do tipo sombra. Ciclo Trigonométrico, resolução pela álgebra Matemática aula por aula 3 Xavier & Barreto Vol.1 – 416 Vol.1 – 78 / 19% História: Origem da trigonometria e utilização de razões trigonométricas no antigo Egito. Vol.2 – 400 Vol.2 – 81 / 20% Problemas do tipo sombra. Vol.3 – 336 Vol.3 – 0 / 0% Total – 1152 Total – 159 / 14% Contextualização em fatos científicos e tecnológicos. Ciclo Trigonométrico, resolução pela álgebra. História: Origem da Trigonometria. Problemas do tipo sombra. Matemática Manoel Paiva 1 551 72 / 13% Contextualização em fatos astronômicos Ciclo Trigonométrico, resolução pela álgebra. Matemática e suas 3 Vol.1 – 312 Vol.1 – 107 / 34% História: Origem da trigonometria. Capítulo 3 – Primeira Fase tecnologias Angel Panadés Rubió – Luciana Maria Tenuta de Freitas 67 Vol.2 – 224 Vol.2 – 0 Problemas do tipo sombra. Vol.3 –272 Vol.3 – 0 Total – 808 Total – 107 / 13% Ciclo Trigonométrico, resolução pela álgebra. Tabela 10 – Análise Livros Didáticos A importância dada a este tema fica nítida não apenas pelas páginas dedicadas a ele nos livros didáticos como também na Proposta do Estado de São Paulo também dedica um bimestre inteiro do 1° e do 2° ano para a trigonometria. Os livros didáticos analisados apresentam uma seqüência parecida no trato da trigonometria, de modo geral apresentam primeiro a trigonometria no triângulo retângulo, normalmente aplicada na 1ª Série, seguido da trigonometria no ciclo trigonométrico e as funções trigonométricas, que são introduzidas na 1ª Série e aprofundadas na 2ª Série. A Proposta do Estado de São Paulo também segue este padrão, tendo como diferencial a abordagem do tema, pois esta apresenta os fenômenos naturais periódicos como tema norteador para a introdução das funções trigonométricas, este enfoque não se apresenta em nenhum livro didático analisado. Quanto aos livros didáticos analisados, todos apresentam algum contexto histórico, quase sempre mencionando a origem da trigonometria, a origem da palavra trigonometria e algumas utilizações de razões trigonométricas na antiguidade. Todos os fatos históricos apresentados nestes livros estão reportados a trigonometria no triângulo retângulo. Quando se trata da trigonometria no círculo trigonométrico e suas funções nenhum fato histórico é apresentado, assim como também não é contextualizado o uso destas funções. Como já mencionado no levantamento histórico esta falta de contextualização em situações reais se deve, talvez ao fato que a evolução das funções trigonométricas ter ocorrido dentro da própria matemática e sendo aplicadas em situações mais avançadas da física, ou seja que depois de seu surgimento pragmático, desenvolveu-se dentro da própria matemática, seguindo os três momentos citados por Caraça: surgimento pragmático, desenvolvimento dentro da própria matemática e a busca da economia, ou seja, facilitar os processos matemáticos que envolvem o assunto. Capítulo 3 – Primeira Fase 68 Os problemas apresentados pelos livros didáticos, quando tratam a trigonometria no triângulo, são em sua maioria variações dos problemas envolvendo a sombra de um objeto e os ângulos do triângulo formado pela sombra e o objeto. Na tentativa de contextualizar o conteúdo matemático com situações que podem ser pertinentes ao cotidiano do aluno os livros didáticos utilizam-se de argumentos quase sempre superficiais a realidade do aluno, como havia detectado Arcavi que enfatiza: “É muito comum afirmar que todo currículo em Matemática deve conter problemas realistas que permitam usar instrumentos matemáticos para resolver situações da vida diária. De fato, encontramos este tipo de problema em quase todos os livros-texto, porém na maioria das vezes uma observação crítica dos mesmos revela que muitos deles são apenas disfarces para os alunos fazerem mais exercícios e sua conexão com o real é totalmente superficial. Desta maneira, a metamensagem desses problemas leva o aluno a perceber a atividade matemática como algo esotérico e artificial.” (Arcavi, 2000, p.90) Nos Livros “Matemática Completa de Giovanni & Bonjorno”; “Matemática aula por aula de Xavier & Barreto Matemática” e “Matemática Ensino Médio de Katia Stocco Smole – Maria Ignez Diniz”, encontramos recortes falando sobre instrumentos de medição de ângulos como o astrolábio, grafômetro e teodolito, alguns citam a utilização da trigonometria na agrimensura. Mas estes recortes contextualizando a importância da trigonometria são pouco explorados nos exercícios e problemas encontrados nesses livros, que dedicando mais espaço para a sistematização de resoluções de problemas relacionados à trigonometria no triângulo retângulo. Os livros didáticos não apresentam contextualização da trigonometria no ciclo trigonométrico e suas funções. Pouco se encontra sobre fatos históricos, onde se aplica ou como chegamos a necessidade das funções trigonométricas. Segundo Weber (2005) a trigonometria é muito valorizada nos cursos técnicos de mecânica, eletricidade e eletrônica, mas em nenhum momento suas aplicações aparecem nos livros didáticos. Revisitando os livros que utilizei em minha graduação em Engenharia Mecânica, notei que nos livros de “Mecânica Vetorial para Engenheiros: Estática” dos autores Beer e Johnston (1990) e “Mecânica Vetorial para Engenheiros: Capítulo 3 – Primeira Fase 69 Cinemática e Dinâmica” dos autores Beer e Johnston (1990) o uso da trigonometria é constante. Era também constante o uso das funções trigonométricas nas aulas de eletricidade e de eletrônica. É fato que os cursos de engenharias utilizam-se muito da trigonometria, mas isto sequer é citado nos livros didáticos que analisei ou até mesmo pela proposta curricular do Estado de São Paulo. Outro fato que me chama a atenção nos livros didáticos que analisei é a valorização de exercícios e nestes das resoluções algébricas, enquanto resoluções geométricas são bem menos solicitadas ou até inexistentes. Sugestões para o uso de softwares de geometria dinâmica ou aplicativos computacionais sequer são citados em qualquer um dos livros didáticos. Na Proposta Curricular do Estado de São Paulo existe uma atividade onde é sugerido o uso de plotadores de gráficos para a comparação das variações gráficas das funções seno e cosseno. A Proposta Curricular do Estado de São Paulo nos mostra uma perspectiva diferente daquelas dos livros didáticos. A Proposta é estruturada em cadernos bimestrais, e, ao longo do bimestre, as atividades são distribuídas em quatro situações de aprendizagens apresentadas, que, ao serem desenvolvidas pelos alunos procuram levar a compreensão do tema proposto. Cada situação de aprendizagem possui um tema gerador no qual são desenvolvidas as atividades propostas para os alunos. Este é o grande diferencial da Proposta Curricular do Estado de São Paulo, onde para a trigonometria são valorizados os fenômenos periódicos da natureza, como a sombra de uma estaca durante o decorrer do dia e os movimentos das marés. Embora eu também considere interessante a associação dos movimentos das marés como fenômeno periódico, será que para os alunos do interior, onde muitos deles nunca viram o mar, esta é uma situação significativa para eles? Um exemplo da diferença entre os livros didáticos analisados e a Proposta Curricular do Estado de São Paulo é o modo como tratam o mesmo tema, neste exemplo a medida dos arcos em radianos. Os livros didáticos definem o que é um radiano e após isto sugere a conversão de graus para radianos ou vice versa, através de uma regra de três. A Proposta Curricular do Estado de São Paulo, tenta Capítulo 3 – Primeira Fase 70 demonstrar que uma semi-circunferência mede pouco mais de três radianos, e depois apresenta que ela mede π radianos. No lugar de propor a conversão de graus para radianos ela propõem exercícios nos quais o aluno é levado a medir em radianos pelo fracionamento da semi-circunferência, ou seja, medindo arcos da circunferência em frações de π radianos. Sem dúvida a Proposta Curricular do Estado de São Paulo tenta contextualizar com muito mais intensidade a utilização da trigonometria, mas como ela não é uma seqüência didática e não tem a pretensão de esgotar o assunto, assim muitos dos conhecimentos desejáveis para o desenvolvimento das atividades propostas necessitam de um elo entre o livro didático e a proposta, o que fica por conta do professor. Um ponto importante encontrado no Caderno do Aluno são as várias atividades de construção de gráficos para verificação da periodicidade, pouco comum nos livros didáticos que apresentam apenas os gráficos das funções já prontos. Podemos observar que os livros didáticos, assim como na história da trigonometria, apresentam para a trigonometria no triângulo retângulo, situações práticas e contextualização, muito parecida com os problemas que os matemáticos gregos já nos apresentavam, estudos como o de Thales de Mileto, com as medições das alturas das pirâmides no Egito através das sombras ainda se apresenta em todos os livros didáticos analisados, muitas vezes modificando apenas de pirâmides para edifícios. Também observamos que, assim como nos livros didáticos, não se apresenta contextualização em situações práticas para os estudos das funções trigonométricas. A Proposta Curricular do Estado de São Paulo, na busca da contextualização das funções trigonométricas, também traz da história sua referencia, e apresenta os fenômenos periódicos da natureza sua primeira contextualização, assim como os primórdios da trigonometria, as relações com a sombra e o movimento entre a Terra e o Sol, introduzem os primeiros estudos das funções trigonométricas. Capítulo 3 – Primeira Fase 71 Não foi encontrado em nenhum livro didático analisado assim como na Proposta Curricular do Estado de São Paulo e também nos OA´s do RIVED que foram analisados, uma justificativa prática para o uso das funções trigonométricas, mesmo sabendo que ela é utilizada na física, na mecânica, acústica e em muitas áreas da engenharia. 3.3 - Análise dos OAs – Objetos de Aprendizagem / Apllet Neste capítulo faço uma descrição e análise de dois OAs – Objetos de Aprendizagem, disponibilizado pelo RIVED, o primeiro OA será “O Mundo da Trigonometria” e o segundo “Trigonometria com Molas”. Destaco em primeiro lugar algumas características do RIVED, em seu sítio na internet encontramos vários OAs que podem ser localizados de acordo com o nível de ensino e a disciplina, além de um filtro, possibilitando a busca por palavras chaves. Quando definido o nível de ensino como “Ensino Médio” a disciplina “Matemática” e palavra chave “Trigonometria” o RIVED nos disponibiliza três OAs. Todos os OAs apresentam uma tela padrão com informações inicias, conforme mostra a figura 7, ele também oferece um “Guia do Professor” detalhando como este OA pode ser utilizado pelo professor com seus alunos. Outro item importante é a opção “Comentar” onde os usuários do OA podem enviar suas sugestões ou críticas para o RIVED, possibilitando assim o desenvolvimento e melhoria destes OAs. O Guia do Professor de cada OA mostra os objetivos do software, os prérequisitos que os alunos deverão possuir, o tempo previsto para as atividades propostas e os procedimentos que se deve ter em sala de aula e no ambiente computacional. 3.3.1 - Objeto de aprendizagem “Mundo da Trigonometria” O objeto de aprendizagem “Mundo da Trigonometria” é destinado a trabalhar com as funções seno, cosseno e tangente. Ele apresenta as três funções no círculo trigonométrico, possibilitando seu movimento em até duas voltas no círculo trigonométrico. Capítulo 3 – Primeira Fase 72 Figura 7: Tela de abertura para acesso ao OA – “Mundo da Trigonometria” Neste OA devo destacar algumas características quanto a seu funcionamento. Quando acessado sua tela de abertura nos mostra uma animação com imagens e frases nos sugerindo o uso da trigonometria no cotidiano, as imagens são de descida em botes a cachoeiras, lances de jogos de futebol sugerindo o movimento da bola e jogos de sinuca. As imagens são muito bonitas e entendo a tentativa do OA de mostrar aos alunos o uso da trigonometria, mas será que realmente existe uma relação da trigonometria com estas sugestões? Algum jogador de sinuca ou de futebol realiza algum cálculo para realizar suas jogadas, antes de dar sua tacada ou chutar uma bola? Não acredito que possamos ter resultados favoráveis, na tentativa de concretizar o uso da matemática, utilizando exemplos de uma pseudo matemática do cotidiano. Nestes exemplos citados, talvez o conhecimento matemático possa ser utilizado para a criação de um software de jogo de sinuca ou jogo de bilhar, mas no cotidiano do aluno estes exemplos eu acredito que não são muitos significativos. Depois da abertura temos uma tela de introdução explicando como funciona o software “Mundo da Trigonometria” e qual conteúdo ele possui, ressaltando a necessidade de conhecimentos prévios com a seguinte mensagem “Mas ATENÇÃO!!! Para o bom uso do módulo é importante que você já tenha visto em sala de aula os conceitos aqui abordados”. Como todos os OAs oferecidos pelo RIVED em seu guia do professor ele apresenta quais os conhecimentos prévios que os alunos devem possuir para o seu uso. Capítulo 3 – Primeira Fase 73 No menu nomeado de Noções Básicas, o OA apresenta alguns conceitos fundamentais da trigonometria, com uma breve introdução, um pouco de história da trigonometria e também são definidos e apresenta arcos côngruos e o círculo trigonométrico. Até este item este OA poderia ser substituído por algum material impresso, mas os itens a seguir, que serão as partes deste OA, que iremos aproveitar e transformá-lo em um Objeto de Ensino, são mais interessantes e oferecem uma abordagem dinâmica no círculo trigonométrico. O que vai ao encontro de nossa hipótese, de que existe uma diferença entre usar um material impresso que é estático e um objeto virtual dinâmico. Chamo a atenção neste ponto para o movimento circular oferecendo uma leitura linear, ou seja, ao mesmo tempo o aluno deverá observar o ponto que se move sobre a circunferência para determinar o ângulo ou comprimento do arco e outro ponto que se movimenta sobre o eixo dos senos e cossenos para determinar a razão trigonométrica. Como veremos os dois movimentos coordenados/sincronizados na tela, é nossa hipótese que tal representação venha a enriquecer o domínio fonte dos estudantes como ocorreu em uma pesquisa com sensores e calculadoras gráficas (para maiores detalhes ver Bolite Frant, 2009b) (SIPEM). Seguimos este OA com as funções seno, cosseno e tangente que são desenvolvidas em cinco passos. Para a função seno eles se apresentam da seguinte maneira. • Apresentação do Círculo Trigonométrico; (fig.8) • Localização de um ponto P sobre o círculo; (fig.9) • Determinação do ângulo formado do centro do círculo até o ponto na circunferência; (fig.10) • Projeção ortogonal do ponto P sobre o eixo y; (fig.11) • Determinação do valor do seno. (fig.12) Capítulo 3 – Primeira Fase 74 Figura 8: Círculo Trigonométrico Figura 9: Localização de um ponto P sobre o círculo Capítulo 3 – Primeira Fase 75 Figura 10: Determinação do ângulo Figura 11: Projeção ortogonal do ponto P sobre o eixo y Capítulo 3 – Primeira Fase 76 Figura 12: Determinação do valor do seno As demais funções seguem o mesmo padrão de apresentação. Logo após a definição da função seno no círculo trigonométrico, temos a construção da função y = sen x. Neste momento é solicitado para que o usuário do sistema digite um ângulo entre -720º e 720º e observe a linha construída no plano cartesiano. Ressalto que embora se peça para digitar o ângulo em graus o plano cartesiano apresentado para a construção do gráfico da função apresenta o ângulo em radianos. Como já observado também nos livros didáticos existe uma alternância entre o uso de graus e radianos, sem nenhuma justificativa aparente. Como também podemos observar na imagem da fig.14, ele apresenta em uma mesma tela a unidade de medida para um ângulo em graus e radianos e ainda para os radianos apresenta uma representação decimal e outra em forma de fração. Capítulo 3 – Primeira Fase 77 Figura 13: Tela do gráfico da função seno Depois da definição da função seno no círculo trigonométrico e construção do gráfico da função y = sen x, o OA propõe uma atividade que consiste em definir o sentido horário ou anti-horário no círculo trigonométrico e movimentar com o mouse o ponto P sobre o círculo observando a construção do gráfico da função y = sen x. As construções dos gráficos e atividades propostas para as funções cosseno e tangente seguem também o mesmo padrão da função seno. Por último é apresentado um jogo de sinuca para a aplicação da trigonometria. Neste jogo encontramos uma incoerência com as atividades trabalhadas anteriormente, pois o jogo apresenta apenas a necessidade de conhecer como calcular as razões no triângulo retângulo. Com o desenho de parte da mesa de bilhar (fig.15), sugere um triângulo retângulo fornecendo os valores dos catetos e solicita que o usuário calcule o valor do ângulo α e depois o valor da hipotenusa. Neste jogo se o usuário simplesmente clicar sobre o botão que calcula o ângulo e depois clicar sobre o botão “Dar Tacada”, a bola se movimenta até a caçapa e apresenta o resultado da hipotenusa. Portanto o jogo além de não apresentar ligação com as atividades do círculo trigonométrico apresentadas Capítulo 3 – Primeira Fase 78 anteriormente o também não exige do usuário nenhuma interação com algum conhecimento de trigonometria que se tenha apresentado no OA. Figura 14: Tela do jogo do OA “Mundo da Trigonometria” Apenas parte deste OA foi utilizado nesta pesquisa, pois conforme foi sugerido nesta pesquisa, este OA- objeto de aprendizagem foi utilizado como OE – objeto de ensino. Assim podemos dividir o OE em duas partes, a primeira que poderia ser substituída por algum material impresso ou livro didático onde utilizamos a tela de abertura, sua contextualização histórica e as páginas onde se apresentou os conceitos de trigonometria no círculo trigonométrico. A segunda parte deste OE é composta pelos recursos dinâmicos fornecidos por ele, assim as telas de onde apresentam a definição das funções seno e cosseno no círculo trigonométrico e as telas onde apresentam os gráficos das funções seno e cosseno, onde os alunos podem interagir, completam a segunda parte deste OE. O jogo de bilhar apresentado no final do AO “Mundo da Trigonometria” não foi utilizado, pois para nós se trata de exercícios e como sugere Skovsmose (2008) para a criação de um cenário de investigação devemos substituir os exercícios por situações onde os alunos possam investigar a matemática, portanto é na utilização Capítulo 3 – Primeira Fase 79 da segunda parte deste OE que temos a possibilidade de criação deste cenário de investigação, mesmo porque somente quando e se os alunos assumirem o papel de investigadores é que realmente este cenário irá existir. 3.3.2 - Objeto de aprendizagem “Trigonometria com Molas” O objeto de aprendizagem “Trigonometria com Molas” apresenta os conceitos relacionados a funções trigonométricas através do movimento de vai e vem que a mola realiza após fixarmos um peso em sua extremidade e puxá-lo para baixo a uma certa distância. Este OA é indicado no guia do professor, para trabalhar com os alunos a Teoria do Movimento Harmônico Simples. Este objeto é composto de duas atividades, a primeira oferece um peso pendurado em uma mola e na segunda atividade temos dois pesos pendurados em duas molas com movimentos independentes. Na primeira atividade é apresentado ao usuário um peso preso em uma mola e o plano cartesiano com o eixo x representando o tempo e o eixo y representado a altura do peso em relação a um ponto inicial. Quando acionado o botão para iniciar a animação este peso segue um movimento contínuo para cima comprimindo a mola até sua altura máxima e depois este peso desce até um ponto mínimo esticando a mola. Acompanhando o movimento do peso no plano cartesiano forma-se o gráfico, da altura da mola pelo tempo do movimento. Nesta primeira atividade faço algumas observações, primeiro o eixo do tempo utiliza uma escala em radianos e não uma escala com alguma unidade de medida de tempo. Segundo, embora o peso se localize no ponto inicial zero, seu gráfico inicia do ponto 10 e o eixo que representa a altura da mola não possui nenhuma unidade de medida. Capítulo 3 – Primeira Fase 80 Figura 15: Tela da atividade do OA “Trigonometria com Molas” Após a manipulação e observação o OA sugere a seguinte atividade: “Caro aluno, após a manipulação e interação com o objeto, tente explicar a relação do movimento da mola com o gráfico. Discuta com seus colegas e faça um relatório.” Para direcionar o trabalho dos alunos o OA oferece algumas dicas, são elas: a) Qual é o período da função, ou seja, em qual instante o gráfico da função começa a se repetir? Explique o que isto significa. (Dado: ω = 4 e T = 2π ω ) b) Segundo o gráfico, quantas vezes o movimento se repete? c) Qual é a freqüência do movimento? Explique o que isto significa. (Dado: f = 1/T) d) Qual é a amplitude do movimento, ou seja, qual é o deslocamento máximo e mínimo que a mola faz em relação à origem? Figura 16: Tela das questões da atividade do OA “Trigonometria com Molas” Capítulo 3 – Primeira Fase 81 Na atividade 2 existem duas molas com pesos, o usuário determina a amplitude do movimento de cada mola e observa a construção do gráfico. Nesta segunda atividade não existe uma escala de tempo no eixo x e a amplitude pode ser definida de 0 a 6, novamente sem escala de medida. Após a manipulação e observação o OA sugere a seguinte atividade: “Caro aluno, após a manipulação e interação com o objeto, tente explicar a relação entre as duas molas com amplitudes diferentes. Discuta com seus colegas e faça um relatório.” Novamente são oferecidas para direcionar o trabalho dos alunos algumas dicas, são elas: a) Qual é a amplitude da mola Amarela? E da Vermelha? b) As duas molas alcançam os extremos no mesmo instante? Discuta com seus colegas. Este OA apresenta sempre exercícios para que os alunos resolvam, como a resolução de exercícios não é a maneira como pretendemos construir um cenário de investigação, para a sua utilização como OE a abordagem deverá ser diferente da proposta. No lugar das perguntas objetivas que o OA apresenta como “Qual é...?”, “quantas...?” deverão ser substituídas por perguntas ou desafios do tipo “Por que isto?”. Figura 17: Tela da atividade 2 do OA “Trigonometria com Molas” Capítulo 3 – Primeira Fase 82 Fazendo uma comparação com outros OAs oferecidos pelo RIVED o OA “Trigonometria com Molas” segue o padrão da maioria dos OAs, são softwares de utilização bastante simples, baseados em animações seguidos de sugestões de atividades. Neste tipo de objeto é comum que o usuário explore suas possibilidades antes mesmo de fazer uma leitura de suas instruções. O OA “Mundo da Trigonometria” apresenta um padrão diferente, se assemelhando a uma página de internet, com muitas informações apresentadas em textos exigindo do usuário a leitura de suas páginas para o uso. Quanto a linguagem utilizada nos dois objetos, podemos dizer que é muito parecida com as encontradas nos livros didáticos, mas o fato de poder oferecer uma dinâmica nos movimentos de construção dos gráficos e manipulação do círculo trigonométrico, temos a hipótese que estes objetos podem auxiliar na aprendizagem dos alunos, pois conforme já apresentado por Blackett e Tall (1991, apud Weber 2005) e Costa (1997) a utilização de recursos computacionais colaboraram para a construção de conhecimentos em trigonometria em participantes de suas pesquisas. Algumas instruções encontradas nos OAs como a “movimente o ponto P sobre o círculo” também são utilizadas pelo professor em sala de aula quando utiliza giz e lousa ou o livro didático, mas ele necessita modificá-la um pouco e diz “imagine o ponto P se movimentando pelo círculo”. Com a utilização dos OAs o aluno não necessita imaginar ele pode realmente ver este movimento e mais ele mesmo pode manipular este movimento. Acredito que esta interação do aluno com os OAs colabore com sua aprendizagem. 3.3.3 – Applets Durante a aplicação das atividades no segundo encontro com os alunos, onde fizeram o uso do OE “Mundo da Trigonometria”, verificamos a necessidade de algumas modificações nos OAs disponíveis. Para os eixos do seno e cosseno no círculo trigonométrico pereceu necessário a criação de uma escala decimal, inexistente no OA “Mundo da Trigonometria”, também observamos que em um primeiro momento a apresentação Capítulo 3 – Primeira Fase 83 do gráfico da função seno ou cosseno junto com a primeira experiência com o círculo trigonométrico pareceu inadequada, pois os alunos estavam com muitas informações novas e simultâneas para serem compreendidas, e como já sugerido por Lakoff e Núnez (2000) a compreensão do círculo trigonométrico é complexa. Assim buscou-se algum applet para auxiliar nas dificuldades encontradas pelos alunos. Após uma busca minuciosa pela internet decidi desenvolver um apllet com as características que no momento apresentavam-se importante. Isso foi feito com a utilização do software GeoGebra, que se trata de um software livre disponível no sitio www.geogebra.com.br. Nesta pesquisa iremos tratar um applet também como um Objeto de Ensino (OE), pois entendemos que ele também pode ser utilizado pelo professor como ferramenta para sua aula e este objeto de ensino em conjunto com as atividades ou outras ferramentas proposta pelo professor pode gerar um cenário de aprendizagem. Através do software GeoGebra foi desenvolvido um círculo trigonométrico com algumas características não encontradas nos OAs e apllet´s pesquisados. Entre as principais características estão à visualização de uma escala decimal no eixo dos senos e cosseno, maior destaque para o triângulo retângulo formado pelo raio do círculo (hipotenusa) e as projeções do seno e cosseno (catetos), destaque ao arco e sua medida em graus e radianos, criação de uma escala no eixo x em graus e também em radianos, exibição do gráfico da função somente quando solicitado. Este apllet funciona da seguinte maneira, sobre o círculo trigonométrico encontre-se um ponto B, onde pode ser movimentado por toda a circunferência. Um segmento de reta liga o ponto O ao ponto B, tendo assim o segmento OB como o raio da circunferência. Sobre a circunferência existe o ponto A na posição de zero graus, assim o arco AB é destacado com a cor roxa e área formada pelos pontos delimitados pelo ângulo AOB também é diferenciada pela cor roxa em um tom mais claro. O ângulo AOB também está representado pela letra grega α. Para representar o valor do seno existe um segmento de reta perpendicular ao eixo dos cossenos (eixo x), ligando o ponto B sobre a circunferência a este eixo, Capítulo 3 – Primeira Fase 84 a projeção deste segmento de reta é destacada sobre o eixo dos senos com um vetor na cor vermelha indicando o valor do seno do arco AB. O eixo dos senos possui uma escala decimal com incremento de um décimo para facilitar a leitura dos valores do seno, logo sobre o círculo encontra-se a medida do arco AB ou ângulo α, esta medida se apresenta em graus e radianos, os valores em radiano são mostrados em uma escala decimal. Embora tivesse o desejo de que os valores em radianos fossem apresentados na forma fracionária em uma representação do tipo “a/b.π rad”, a limitação do software utilizado, neste caso o GeoGebra, não permitiu esta opção. Outro acréscimo neste apllet foi a opção de visualização do gráfico da função, apenas quando selecionado a opção “visualizar gráfico”, neste caso um cuidado que se teve foi quanto a escala utilizada no eixo x, onde foi representado os valores em graus e radianos e para a escala do eixo y foi utilizado a mesma escala do círculo trigonométrico, portanto a medida utilizado pelo raio da circunferência é a mesma medida representada para o seno igual a uma unidade. 3.4 - Primeira investigação junto a um grupo de professores/ pesquisadores Foi discutido com grupo de pesquisa de “Tecnologias Digitais e Educação Matemática” da UNIBAN algumas evidências e algumas hipóteses sobre o ensino e aprendizagem de trigonometria e também foi apresentado o OA “Mundo da Trigonometria” oferecido pelo RIVED. Entre as evidências e hipótese destacou-se: - Números irracionais, frações e números decimais – Apresentei ao grupo que os livros didáticos trabalham indistintamente com frações ou números decimais e também é muito comum encontrar notações de todos os tipos em um único exemplo ou exercício de trigonometria nos livros didáticos. O grupo de professores observou que pela primeira vez os alunos do Ensino Médio iriam lidar com uma quantidade muito grande de números irracionais e acreditando que este é um fator complicador, sugere que as primeiras atividades Capítulo 3 – Primeira Fase 85 deverão trazer apenas os números decimais, o que me parece ser mais familiar aos alunos. - Graus ou Radianos – Este também pareceu ser uma das dificuldades de compreensão, não se tem um padrão na utilização de graus ou radianos, acredito que o uso dos radianos que sempre vem em notações com frações dificulta o processo de ensino-aprendizagem. Mesmo quando os alunos compreendem o que é o radiano, sua notação é pouco familiar, e sendo assim as primeiras atividades também irão trabalhar apenas com graus. - Triângulo Retângulo – É comum nos livros didáticos, iniciarem as funções trigonométricas com demonstrações das razões no triângulo retângulo. Depois este triângulo é inserido no círculo trigonométrico no primeiro quadrante e quando mudamos para o segundo, terceiro ou quarto quadrante do círculo o triângulo retângulo desaparece. Sendo assim acredito que obteremos maior sucesso se não mencionarmos o triângulo retângulo no círculo trigonométrico. - Círculo trigonométrico estático ou dinâmico – Quando expomos o círculo trigonométrico é comum falarmos do movimento do ponto sobre o círculo, para determinarmos o ângulo, mas a lousa ou o livro são estáticos, então será proposto atividades com o uso de recursos digitais par dar movimento ao círculo trigonométrico, acreditando que isto poderá facilitar o processo de ensinoaprendizagem da trigonometria. Quanto a utilização do OA “Mundo da Trigonometria” o grupo a apresentou a crítica de que parte deste OA se parecia muito com um livro didático eletrônico, mas concordaram com a hipótese de que a dinâmica apresentada pelo OA poderia trazer benefícios no processo de ensino e aprendizagem da trigonometria no círculo trigonométrico. 3.5 - Desenvolvimento das Atividades para o 1º encontro Para o primeiro encontro com os alunos foram criadas duas tarefas, uma lista de exercícios (Atividade 1- Trabalhando com números racionais e irracionais) onde os alunos responderam questões para verificar se algumas das hipóteses Capítulo 3 – Primeira Fase 86 levantadas por mim e pelo grupo de professores e pesquisadores se confirmava. Procuramos neste primeiro encontro verificar se realmente os alunos apresentavam dificuldades com racionais e irracionais. Atividade 1 – Trabalhando com números racionais e irracionais. 1 – Complete com os sinais de > (maior) ou < (menor): a- 4/5 ______ 1/2 3 _______ 2 eb- 3/2 ______ 4/5 2 ______ 3 f- 3 ______ 3/4 h- 3/4 ______ 2 g- c- 5/2 ______ 4 d- 8/7 ______ 3 2- Associe a primeira coluna com o valor mais próximo na segunda coluna: ( ) 0,75 A-2 3 B-2 2 C–¾ D - 3 /2 ( ( ( ) 3,46 ) 0,71 ) 2,83 2 /2 ( ) 0,86 E- 3 – Sabendo que π ≅ 3,14, determine: a- 2π = ______ b- π/2 = ______ c- 3/4 π = ______ d- 4/3 π = ______ 4- Escreva abaixo alguns números que você conhece que são maiores que -1 e menores que 1. Para esta primeira tarefa optei pela resolução de exercícios, pois ainda não se pretendia criar o cenário de investigação para a trigonometria, mas sim verificar algumas hipóteses para subsidiar a construção deste cenário. Além de resolver esta lista de exercícios foi proposto uma segunda tarefa na qual os alunos, divididos em grupos, organizaram vários números em ordem crescente. Os números foram entregues a eles recortados em pedaços de papéis em uma ordem aleatória, estes números seguem na tabela abaixo: 7/8 -7/8 ¾ -3/4 1/2 -1/2 1/4 -1/4 Capítulo 3 – Primeira Fase 87 1/3 -1/3 11/12 -11/12 0,6 -0,6 0,8 1 -1 2 -2 3 -3 0 -0,8 Tabela 11 – Atividade 1º Encontro Esta segunda tarefa teve a finalidade de verificar as dificuldades que poderiam existir com o tratamento de frações e criar condições para que os alunos expusessem suas dificuldades através das falas entre eles e o professor. E mesmo não sendo o objetivo desta pesquisa, esta atividade poderia ajudar a sanar eventuais dificuldades que estes alunos tivessem com frações. Capítulo 4 – Segunda Fase 88 Capítulo 4 Segunda Fase Capítulo 4 – Segunda Fase 89 Neste capítulo descrevo como ocorreram os encontros com os alunos, fazendo uma análise sobre os pontos mais relevantes. Estão descritos também as alterações e o desenvolvimento das atividades realizadas nos encontros seguintes. 4.1 – Primeiro encontro Este encontro teve duração de aproximadamente uma hora e trinta minutos e foi realizado na sala da coordenação da escola, pois como foi realizada fora do horário regular das aulas dos alunos participantes não foi possível fazer uso da sala de aulas. Os alunos ficaram dispostos em uma mesa retangular, de forma que fosse possível enquadar todos os participantes na filmagem, conforme o layout apresentado a seguir. Layout da sala – Encontro 1 Grupo 1 de Alunos Grupo 2 de Alunos Estante de livros Janela para o pátio da escola Mesa Cadeiras Porta de entrada Mesa com 2 Computadores Estante de livros Campo visual da filmadora Filmadora Figura 18: Layout da sala – Encontro 1 Para o primeiro encontro a filmadora ficou primeiramente fixa e posteriormente móvel, permitindo a filmagem mais detalhada de algumas atividades realizadas pelos alunos. Capítulo 4 – Segunda Fase 90 Haviam sido convidados oito alunos mas apenas seis compareceram. Deste modo contamos com a presença de Angeline, Renan, Gabriela, Marcella, Maiara e Tais. Nesta pesquisa estamos utilizando os nomes reais dos participantes. Iniciei expondo aos alunos sobre o que se tratava a pesquisa na qual eles participariam. Em seguida foi entregue a primeira tarefa (atividade-1) para verificar se a hipótese da dificuldade com números racionais e irracionais se confirmava. Não foi mencionado se era permitido o uso de calculadora, e no primeiro momento esta não foi utilizada. Atividade 1 – Trabalhando com números racionais e irracionais. 1 – Complete com os sinais de > (maior) ou < (menor): i- 4/5 ______ 1/2 m- 3 _______ 2 j- 3/2 ______ 4/5 n- 2 ______ 3 k- 5/2 ______ 4 l- 8/7 ______ 3 3 ______ 3/4 p- 3/4 ______ 2 o- 2- Associe a primeira coluna com o valor mais próximo na segunda coluna: ( ) 0,75 A-2 3 ( ) 3,46 B-2 2 C–¾ ( ) 0,71 ( ) 2,83 D - 3 /2 ( ) 0,86 E - 2 /2 3 – Sabendo que π ≅ 3,14, determine: e- 2π = ______ f- π/2 = ______ g- 3/4 π = ______ h- 4/3 π = ______ 4- Escreva abaixo alguns números que você conhece que são maiores que -1 e menores que 1. Os alunos respondiam individualmente as questões em silêncio, após alguns minutos me ausentei da sala. Analisando posteriormente o vídeo observei que após minha saída eles trocavam informações para responder as questões propostas, embora soubessem que estavam sendo filmados. Uma hipótese para que estes Capítulo 4 – Segunda Fase 91 alunos não tenham se intimidado com a câmera de vídeo é o fato de estarmos lidando com uma geração acostumada a ter foto e vídeo no celular, geração youtube e blog. Para analisar as dificuldades encontradas pelos alunos na resolução da primeira tarefa tabulei os resultados dos alunos na tabela a seguir. Questão 1 Item Acertos Erros Comentários abcd- 4/5 ______ 1/2 3/2 ______ 4/5 5/2 ______ 4 8/7 ______ 3 1 5 4 2 3 3 e- 3 _______ 2 3 3 Dificuldades em entender fração como quociente. Algumas vezes parecem inverter denominador com numerador. f- 2 ______ 3 5 1 g- 3 ______ 3/4 2 4 4 2 4 2 h- 3/4 _____ 2 2 Todos: A – E 6 0 Valores utilizados em sala de aula. 3 abcd- 6 0 4 2 Erros quando trabalham com frações, o π não parece ser um dificultador. 1 5 3 3 6 0 4 2π = ______ π/2 = ______ 3/4 π = ______ 4/3 π = ______ Nº > -1 e <1 Apenas nº na representação decimal Tabela 12 – Análise dos resultados do 1º Encontro No primeiro item onde o aluno teria que comparar dois números e ordená-los, nenhum deles obteve 100% de acerto. O erro mais frequente, foi na ordenação das frações 4/5 e 1/2 e o maior número de acertos ocorreu na comparação entre Uma hipótese para o maior acerto é que o número 3 e 2. 3 foi trabalhado com os alunos em suas aulas regulares e definido como aproximadamente igual a 1,7 ou igual a 1,73. O número 2 também foi trabalhado em sala de aula e definido aproximadamente como igual a 1,4 ou a 1,41 e no item onde compara houve quatro erros e dois acertos. 2 e 3 Capítulo 4 – Segunda Fase 92 Então uma hipótese para os erros e acertos do item 1 desta tarefa é que os alunos possuem dificuldades em entender as frações como quociente, e quanto aos números representado na forma decimal pode existir uma dificuldade quanto a expansão decimal. No segundo item houve 100% de acerto, o que pode ser interpretado como sendo o item onde eu, professor, saí da sala e a interação entre os alunos se estabeleceu. Ou pelo fato de que este item abordou números que estes alunos estavam mais familiarizados, pois os mesmos já haviam sido tratados recentemente nas aulas regulares do ensino médio quando abordado o tema trigonometria no triângulo retângulo. No terceiro item no qual os alunos deveriam efetuar cálculos com π, nos dois primeiros cálculos houve quase totalidade de acertos. Para os cálculos 3/4 π e 4/3 π houve uma grande quantidade de erros, para o valor 3/4.π a resposta mais comum foi 4,18 e para 4/3π a resposta mais presente foi 2,35, nitidamente houve uma inversão do numerador com o denominador quando eles efetuaram os cálculos. A aluna Maiara apresentou 3/4 π = 3/12,56 e 4/3 π = 4/9,42 , neste caso a forma como foi apresentado estes dois números a levou a um equívoco multiplicando o denominador por π. Quanto aos outros erros a hipótese é que a dificuldade não foi a presença do π mas novamente, como apresentado no primeiro item, a dificuldade em entender a fração como quociente ou em operar frações No quarto item no qual foi pedido para que eles apresentassem valores maiores do que -1 e menores do que 1, as respostas foram corretas, mas destaco que foram apresentados apenas valores na forma decimal com uma ou duas casas decimais. Os valores mais comuns que apareceram foi 0,1; 0,2; 0,3; 0,10 e 0,20. Nota-se a aluna Marcella inseriu em sua resposta os valores 0,2 e 0,20 e Maiara inseriu 0,1 e 0,10, dando a entender que estes valores são diferentes, novamente apresentando dificuldade na expansão decimal. Quando os alunos terminaram a primeira tarefa foram divididos em dois grupos para a segunda tarefa. O grupo-1 formado pelas alunas Gabriela, Marcela e Maiara e o grupo-2 formado pelos alunos Renan, Tais e Angeline, recebendo assim Capítulo 4 – Segunda Fase 93 23 pedaços de papéis, cada um deles com um número diferente, conforme a tabela a seguir, para serem organizados em ordem crescente. 7/8 -7/8 3/4 -3/4 1/2 -1/2 1/4 -1/4 1/3 -1/3 11/12 -11/12 0,6 -0,6 0,8 -0,8 1 -1 2 -2 3 -3 0 Tabela 11 – Atividade 1º Encontro O grupo-1 começou a organizá-los pelos números inteiros, colocando-os em um a linha horizontal, iniciou pelo número zero e simetricamente organizou os outros números inteiros. Isto feito, procurou colocar os números na representação decimal, colocando-os na posição correta. Até este momento trabalhando com os números inteiros e representações decimais com apenas uma casa decimal o grupo-1 não apresentou dificuldade. Grupo-1 – iniciando a atividade Grupo-1 – organizando os números Figura 19: Grupo 1 - Sequencia de Atividades O grupo-2 iniciou com os valores decimais, após centralizar o número zero de maneira simétrica organizava os outros valores, ou seja para cada número positivo colocado em ordem também era adicionado seu oposto negativo. No primeiro momento o grupo organizou os valores decimais entre -1 e 1, deixando as frações 1/2, 1/3 e 1/4 após o número 1. Capítulo 4 – Segunda Fase 94 Figura 20: Grupo-2 iniciando atividade Uma hipótese para que os dois grupos iniciarem a organização dos números pelo zero e distribuir os valores negativos e positivos simetricamente é a familiaridade que estes alunos possuem na construção de gráficos das funções de primeiro e segundo grau e funções exponenciais, no qual costumam representar no eixo das abscissas e das ordenadas os valores positivos e negativos. Após alguns instantes o segundo grupo organizava parte dos números na seguinte sequência (1/4; 3; 2; 1/3; 7/8; 1; 3/4; 0,8; 1/2; 0,6; 0; -1/2; -0,6; -3/4; -0,8; 1/3; -1/4; -1; -7/8; -2; -3) nota-se que as frações 11/12 e -11/12, conforme apresenta a imagem a seguir, estão fora do agrupamento organizado pelos, para eles estas frações parecer ser mais difíceis que os outros números. A aluna Tais, após fazer alguma conta diz que acha que 7/8 é igual a “um e alguma coisinha”, logo após uma aluna pergunta se temos que dividir 11 por doze ou 12 por 11, e Angeline responde que se divide 11 por 12, mas mesmo assim existem alguns momentos de silencio para a decisão do que fazer com este número, e a aluna afirma que é difícil, até que chegam a conclusão que 11/12 é igual a 1,09. Este fato corrobora com a hipótese levantada na primeira tarefa em que os alunos estão trocando o numerador e o denominador e também aponta a dificuldade desses alunos escreverem a expansão decimal que representa um número fracionário. Capítulo 4 – Segunda Fase 95 Figura 21: Grupo-2 – desenvolvendo atividade O grupo-2 trabalhando com poucas conversas chegou a seguinte sequência (3; -2; -1; -0,8; -0,6; -1/2; -1/4; -1/3; -3/4; -7/8; -11/12; 0; 11/12; 7/8; 3/4; 1/4; 1/3; 1/2; 0,6; 0,8; 1; 2; 3), podemos notar nesta sequência que se retirarmos as frações o restante dos números se encontraram em ordem crescente. O que podemos concluir que a dificuldade se encontra, como no grupo-1, no tratamento com as frações. Após os alunos apresentarem estas seqüências, eu falei para os grupos quais eram os números que se encontrava fora de ordem, e como todos eles eram frações solicitei para que estes números fossem retirados da seqüência, para uma melhor análise destes. Indagados de como eles poderiam refazer a leitura destes números, houve a sugestão de transformá-los em valores decimais, onde mostraram incertezas de como fazê-lo, após a confirmação de que poderiam dividir o numerador pelo denominador, os alunos fizeram os cálculos para transformar estes números em decimais e recolocá-los em ordem crescentes junto aos outros números. Neste momento o primeiro grupo fazendo uso de uma calculadora rapidamente verificou os valores e recolocou estes em seus lugares, mas apareceu neste momento outra dúvida que até então não havia aparecido e para este grupo a valores como 0,25 são maiores do que 0,8, apresentando assim mais um problema quando ocorre uma expansão decimal. Capítulo 4 – Segunda Fase 96 O grupo-2 mostrou dificuldade para a divisão dos valores apresentados, mas obteve êxito para colocá-los na ordem correta. Neste grupo não houve problemas com a expansão decimal. No momento em os alunos conseguiram colocar todos estes valores na forma de números decimais o trabalho se apresentou bem mais fácil, mesmo o grupo que teve problemas com a expansão decimal, com poucas informações foi possível a compreensão e entendimento do que estavam errando e rapidamente conseguiram corrigir seus erros. Destaco o momento em que os alunos puderam interagir em grupo e manipular suas combinações de seqüência, onde puderam investigar formas de organizar alguns números em ordem crescente, foi algo próximo ao que Skovsmose chamaria de um cenário para a investigação com referência a matemática pura. Como apresentado anteriormente um grupo inicialmente organizou as frações como sendo 1/4 maior que 1/3, e 1/3 maior que 1/2 e somente quando eles dividiram o numerador pelo denominador da fração eles corrigiram isto. Assim eles puderam testas suas hipóteses e depois as conferiram com o recurso da divião do numerador e denominador transformando estas frações em números decimais para facilitar sua compreenção. Com certeza não foram exploradas todas as possibilidades, mas os alunos apresentaram indicios de estarem desenvolvendo um processo de aprendizagem. Observo que uma das hipóteses levantadas anteriormente, pelo grupo de professores e pesquisadores, dos fatores que dificultam o aprendizado do aluno no estudo da trigonometria se confirma. Esta hipótese é que os alunos apresentam dificuldades na utilização de valores racionais em forma de fração ou decimal e na utilização de números irracionais. Confirmado esta hipótese da dificuldade com os valores fracionários e irracionais durante as próximas atividades foram monitorados os momentos onde será necessário o uso destes valores, verificando se estas dificuldades realmente poderiam trazer prejuízos para a aprendizagem dos alunos. Capítulo 4 – Segunda Fase 97 4.2 – Segundo encontro Neste encontro foi utilizado o Objeto de Aprendizagem “Mundo da trigonometria”, que nesta fase será tratado como Objeto de Ensino (OE), conforme apresentado neste texto anteriormente, então nota-se que para esta pesquisa o OA “Mundo da Trigonometria” será chamado de OE “Mundo da Trigonometria”. Para este encontro foi previsto a exploração deste OE e após isto foi proposto que fizessem uma estimativa sobre o seno de alguns ângulos. Participaram deste encontro seis alunos, a aluna Maiara que participou do primeiro encontro não pode comparecer e para o seu lugar esteve presente a aluna Débora, estes alunos foram divididos em dois grupos de 3 alunos, o grupo-1 formado por Renan, Angeline e Débora e o grupo-2 por Gabriela, Marcella e Tais. Este encontro teve a duração de uma hora e quarenta minutos. Para o segundo e terceiro encontro a filmadora ficou fixa, capturando as imagens de frente para os grupos. A intenção foi a de capturar melhor os diálogos dos alunos e permitir que eu enquanto professor pudesse interagir melhor com os alunos. Layout da sala – Encontro 2 e 3 Grupo de Alunos 1 Grupo de Alunos 2 Estante de livros Janela para o pátio da escola Mesa e computadores Cadeiras Porta de entrada Mesa com 2 Computadores Filmadora Campo visual da filmadora Figura 22: Layout da sala 2º e 3º encontro Capítulo 4 – Segunda Fase 98 Para a exploração deste OE, os alunos tiveram minha orientação, neste momento acompanhei os alunos para a visualização das telas do software, aproveitando o momento fiz uma pequena contextualização histórica da trigonometria, após continuei acompanhando e direcionando os primeiros passos dos alunos até a apresentação da função seno pelo OE. Logo no primeiro contato com o software, visualizando a imagens de abertura do programa, a aluna Gabriela sorri ao ver as imagens, que são fotos de descida em botes a cachoeiras, lances jogos de futebol sugerindo o movimento da bola e jogos de sinuca, e pergunta “O que isto tem a ver com trigonometria?”, prontamente o aluno Renan responde “triângulos, geometria, contas.”, até o momento o único contato dos alunos com a trigonometria foi em suas aluas regulares onde já haviam trabalhado a trigonometria no triângulo retângulo, o que deve ter motivado a resposta do aluno Renan. No final da apresentação das imagens iniciais o OE apresenta uma jogada de bilhar onde a bola entra na caçapa, e o aluno Renan apresenta empolgação com a jogada. Faço uma observação neste momento, quanto ao OE “Mundo da Trigonometria”, a tela de apresentação sugere através de fotos que a trigonometria esta ligada a várias ações do cotidiano, mas em nenhum momento o OE mostra como algumas de suas sugestões estão ligadas a trigonometria. A pergunta da aluna Gabriela “O que isto tem a ver com trigonometria?”, fica sem uma resposta explicita no OE, embora o aluno Renan tenha respondido “Triângulo, geometria, contas”, não acredito que esta pseudo matemática sugerido pelas imagens na tentativa de concretizar o uso da matemática, traga resusltados positivos. O sorriso de Gabriela e a empolgação de Renan, mostra a animação e euforia por utilizar um software em uma aula de matemática, o que não é comum para eles, pois suas aulas de matemática são sempre realizadas em sala de aula com a utilização de livros, caderno do aluno da Proposta Curricular do Estado de São Paulo, giz e lousa. Após esta apresentação os alunos começam a explorar o OE, no início faço a leitura junto com eles da apresentação histórica da trigonometria. No momento que o OE apresenta a função seno no círculo trigonométrico eles fazem a leitura silenciosa Capítulo 4 – Segunda Fase 99 destas páginas, após a leitura dos alunos perguntei o que eles tinham entendido do que acabaram de ler e nenhum aluno respondeu e tinham neste momento uma expressão de dúvida e um pouco tímidos por não saber explicar, assim expliquei os itens que o OE apresentava para definir a função seno no círculo trigonométrico. Podemos citar duas hipóteses para esta reação dos alunos, a primeira seria a inibição inicial dos alunos ao falar de um tema novo para eles e a outra é fato de realmente eles não terem entendido o que estava sendo exposto pelo OE. Observo que neste momento o OE apresenta uma explicação formal dos significados das funções trigonométricas, o que poderia ter dificultado o entendimento dos alunos. Seria interessante se neste momento que o OE apresentasse este tópico de maneira mais dinâmica com possíveis interações dos alunos, facilitando e tornando esta parte do OE mais acessível aos alunos. Neste momento os alunos fizeram a primeira interação com o OE, testando como se comportava o software com a inserção de vários ângulos diferentes, positivos e negativos, assim observavam ao mesmo tempo o movimento do ponto sobre o círculo trigonométrico, sua projeção sobre o eixo dos senos e depois sobre o eixo dos cossenos e também observavam a formação do gráfico de suas funções. Ao testar pela primeira vez o OE com o ângulo de 120º, valor sugerido por mim, a aluna Angeline fala sorridente “Olha! que legal!” referindo-se ao movimento do ponto sobre o círculo trigonométrico e a formação do gráfico da função seno. Outras falas também apareceram logo em seguida enquanto eles testavam aleatoriamente alguns valores de ângulos, Renan disse “Parece um relóginho”, Angeline disse “Professor... muito louco ein!”. Mais uma vez podemos observar a animação pelo uso de um software com as falas da aluna Angeline. Tempo Fala/ Descirção 0:18:50 O professor pede ao aluno, para que eles avancem a tela seguinte para mostrar como o OE funciona, apresentando aos alunos a tela ao lado 0:19:20 Prof: coloquem o ângulo de 120° e clique em traçar. Angeline: Olha que legal! (risos) Comentário / Imagem Capítulo 4 – Segunda Fase 100 0:19:51 Prof: Agora testem alguns ângulos, dentre aqueles que ele (OE) indicou. O ângulo pode ser negativo é só acrescentar o sinal de menos e prestem atenção no quadro que aparece depois de traçar o ângulo. 0:20:00 Angeline: Olha lá professor muito loco ein!! Renan: Parece um relóginho. Renan: (após a leitura do quadro verde) Que conta é essa?! Tabela 13 – Transcrição 1 – 2º Encontro Também foi pedido para que eles lessem o quadro verde que aparece no final da execução de cada ângulo que é inserido, e após a leitura deste quadro Renan diz: “Que conta é essa?”, com uma expressão de dúvida e indignação. Figura 23: Texto confuso para Renan Capítulo 4 – Segunda Fase 101 O texto encontrado no quadro em destaque pareceu bastante confuso para Renan. Quando o aluno se referiu a qual conta era aquela, ele se referia como mostra o exemplo na figura acima, quando inserido o ângulo de 680º e o OE diz que o gráfico apresenta um valor de C≅11.868 radianos, mas como observamos (Figura 23) no gráfico o valor de C está entre 7π/2 e 4π. Neste momento são utilizadas três formas simultâneas para se referir ao mesmo ângulo, em graus (680°), em radianos acompanh ados de valores em forma de fração (7π/2 e 4π) e em radianos acompanhados de valores em forma de decimais com 3 casas decimais (11.868 radianos). Para a representação em decimal também podemos notar que o OE utiliza o ponto em vez da vírgula para separar as casas decimais, podendo levar o aluno a entender que 680° é igual a onze mil oitocentos e sessenta e oito radiano enquanto que o valor deveria ser onze inteiros e oitocentos e sessenta e oito milésimos. Neste momento esta compreensão não foi possível para Renan. Uma possível justificativa para o uso do ponto no lugar da vírgula é que provavelmente o software utilizado para a elaboração deste OE seja se origem americana e como ponto é usado nos Estados Unidos ao invés da vírgula e talvez o programador não tenha prestado atenção para este fato. A dificuldade encontrada por Renan neste momento reafirma a hipótese da dificuldade dos alunos em compreender os números racionais e irracionais, principalmente quando se encontram na forma fracionária. Quando Renan se referiu ao círculo trigonométrico como um relóginho podemos entender sobre a perspectiva das metáforas que o relógio foi o domínio fonte e o círculo trigonométrico o domínio alvo, fazendo-se entender o círculo trigonométrico através de seu conhecimento de relógio. Sendo assim encontramos a metáfora “CÍRCULO TRIGONOMÉTRICO É RELÓGIO”. As inferências que ele poderá ter feito em seu processo de aprendizagem foram: Capítulo 4 – Segunda Fase 102 Metáfora: CÍRCULO TRIGONOMÉTRICO É RELÓGIO Domínio Fonte Domínio Alvo Relógio Círculo Trigonométrico Ponteiros do relógio Ângulos Movimento dos Ponteiros Variação do ângulo Eixo do relógio Ponto de origem do plano cartesiano Ângulo de 360º Uma volta completa dos ponteiros Tabela 14: Metáfora: CÍRCULO TRIGONOMÉTRICO É RELÓGIO Para explorar algumas das possibilidades do OE foi pedido para que os alunos analisassem apenas o tamanho do segmento de reta vermelho sobre o eixo y que representa o valor do seno, assim eles testaram estes tamanhos com os ângulos de 90º, 180º e 360º. A seguir, fiz algumas perguntas aos alunos, procurando trazer algumas características do cenário para investigação, conforme sugere Ole Skovsmose. Primeiro perguntei o que aconteceu com o segmento de reta vermelho, quando eles indicaram 360º. Tempo Fala/ Descirção 0:22:00 Prof: o que acontece com o tamanho da seta vermelha que é o valor do seno entre 0 e 90, digitem 90º e vejam onde vai parar, Renan: Vai curvando (movimentando a mão para cima e curvando) Professor: só a seta vermelha? Renan: sobe Prof: então até 90 ela sempre subiu Renan; é 0:22:45 Professor: digita agora 180º Gabriela: Ela sobe e desce. Prof: Coloca agora 360° Gabriela: Ela vai dar a volta inteira Prof.: Como vocês conseguem descrever para mim só a seta vermelha. O que aconteceu com ela do 0° ao 360°. Podem Comentário / Imagem Capítulo 4 – Segunda Fase 103 contar errado. Renan: Subiu e desceu, todo o seno. Gabriela: Duas vezes. Renan: Eixo y Prof.: subiu e desceu até onde? Angeline: subiu e desceu, desceu e subiu. Tela apresentada pelo OE após o teste com 360º. 0:24:00 Prof.: Para ela subir foi de quanto a quanto? Renan: de 0 a 1. Prof: pensando nos ângulos, de 0 a 90 a reta do seno sempre? Alunos: Subui: Prof: do 90 ao 180 Angeline: desceu Renan: (movimenta as mãos para baixo), desceu. 0:24:30 Prof: Quando chega no 180° ela fica de que tamanho? Renan: zero Neste momento o aluno Renan mantém a mão levantada fazendo o movimento de subir e descer de acordo com as indagações do professor. Gabriela: π radianos. Prof: Vamos pensar no tamanho da setinha vermelha. Angeline: Ela não tem tamanho Prof: Ela não tem tamanho? Angeline: A gente não pode ver? Prof: Não sei você que esta olhando para a tela. Prof.: Então quando você digita 180° ela fica de que tamanho: Renan: zero Prof.: Digita agora 270. A seta do 270 é do mesmo tamanho da seta do 90? Alunos: sim Prof: qual a diferença entre elas. Renan: 0 foi positivo e 270 negativo. Tabela 15 – Transcrição 2 – 2º Encontro Neste momento podemos observar que para os alunos a função seno tem “movimento”, ou seja ela sobe e desce o ângulo gira como os ponteiros de um Capítulo 4 – Segunda Fase 104 relógio. Este é um movimento fictivo, nós sabemos que a função é estática, o ângulo não se movimenta em torno de um círculo, mas o OE está possibilitando tornar este movimento fictivo em factivo. Voltaremos a esta discussão nas considerações finais pois entendemos que tal fato é uma característica relacionada a este tipo de dinamismo oferecido pela tecnologia. A definição matemática para função avançou historicamente quando foi possível descrevê-la analiticamente do modo que hoje conhecemos. Por exemplo a definição para continuidade de que uma função seria continua quando fosse possível traçar seu gráfico sem tirar a mão do papel deu lugar a uma nova onde a função pode ser continua se determinado ponto é retirado de seu domínio. Assim, as definições para funções reais “independem” do movimento. No entanto, as metáforas utilizadas pelos matemáticos as utilizam, por exemplo ao falar de limite embora tenhamos a definição estática limx→∞ (x²+1) falamos de x tendendo a ou se aproximando a um determinado valor. No caso da trigonometria este dinamismo parece auxiliar a compreensão dos alunos. Gabriela estava observando a formação do gráfico da função seno, conforme apresenta o OE, e π radianos é a unidade do eixo x para as medidas dos ângulos. E, como vimos por sua resposta, ela não estava associando o eixo x como sendo o valor dos ângulos. Figura 24: Leitura da função seno por Gabriela Continuando a exploração deste OE foi pedido para que os alunos fizessem uma estimativa de quanto deveria ser o seno de alguns ângulos, o valor destes Capítulo 4 – Segunda Fase 105 ângulos foram determinados por mim e pelos alunos assim os ângulos escolhidos e a respostas dos alunos seguem na tabela abaixo: Ângulo 30º 45º 52º 60º 77º 80º 120º 137º 225º 300º Grupo1 0,6 0,75 0,76 0,85 0,98 ≅1 0,90 0,68 -0,75 -0,85 Grupo2 0,5 0,75 0,77 0,80 0,98 0,99 1,05 1,73 -2,75 -3,03 Correto 0,5 0,7 0,79 0,86 0,97 0,98 0,86 0,68 -0,7 -0,86 Tabela 16 - Respostas do 2º encontro. Dentre os ângulos escolhidos por mim estão os ângulos de 30º, 45º, 60º, 120º 225º e 300º, que foram escolhidos devido ao fato de aparecerem com freqüência nos livros e matérias didáticos, conhecidos como ângulos notáveis e alguns simétricos a eles, já os ângulos de 52º, 77º, 80º e 137º foi escolhidos pelos alunos, por iniciativa deles mesmos, assim podemos observar que para eles o que acontece com estes valores fora dos padrões didáticos pode ser mais ou tão interessantes e curiosos do que os valores normalmente apresentados a eles. Outra observação é quanto ao uso da tecnologia, não apenas a deste OE, mas também os alunos no uso diário da calculadora e outros recursos tecnológicos ajuda a quebrar “padrões” estabelecidos numa época onde seria mais fácil calcular valores múltiplos como por exemplo 30, 60, 120. Como podemos observar na tabela 16 o grupo-1 teve todas as respostas bastante satisfatórias e próximas aos valores corretos, o grupo-2 acertou os valores dos ângulos do primeiro quadrante, já os ângulos dos outros quadrantes eles erraram. Procurando compreender o erro ocorrido, ao ser indagada, a aluna Taís explicou como chegaram aos resultados. Observando o gráfico a seguir ela mostrou que o seno de 120º seria a soma do valor 1 que seria o tamanho do segmento AB mais o segmento BC, que deveria ser algo próximo de 0,05, chegando assim ao valor 1,05. O grupo imaginou que o seno de 120º seria a medida da linha do gráfico da função e não a projeção do ponto sobre o eixo y, assim eles somavam 1 mais 0,05. Quando o ponto se acima do eixo x, o valor era dado como positivo e quando se encontrava abaixo do eixo x o valor era negativo. Capítulo 4 – Segunda Fase 106 B BC=0,05 C AB=1,00 5 A Figura 25: Entendimento do valor do Seno pelo Grupo 2 Neste momento podemos perceber que o grupo2 estava tentando relacionar a imagem da linha do gráfico no plano cartesiano ao valor do seno e para ela naquele momento o seno era o comprimento da linha representada no gráfico, que eles entendiam como o tamanho do percurso da linha vermelha que representa o seno no círculo trigonométrico ao lado do gráfico. Em conversa entre as alunas Marcela e Tais para definirem o seno dos ângulos Marcela diz: “é só esticar esta linha... (fazendo um movimento com as mãos, como se puxasse a linha da tela do computador para esticá-la no ar) esticou!”. Grupo-2 – Discutindo a atividade (1º momento) Grupo-2 – Discutindo a atividade (2º momento) Figura 26: Grupo 2 Sequencia de Atividades Entendo que aqui poderia estar ocorrendo uma metáfora com a reta numérica que de certo modo também “estica” os números reais de modo a acomodá-los numa reta. Além disso eles “somam 1+0,05 = 1,05”, como adicionam números reais. Não percebendo no calor das discussões e no imediatismo a qual um professor deve atuar, minha atitude neste momento foi a de auxiliar os alunos. Capítulo 4 – Segunda Fase 107 Sendo assim mostrei para o grupo que eles deveriam observar naquele momento apenas a projeção do ângulo sobre o círculo trigonométrico e deixasse para mais tarde a compreensão do gráfico da função seno. Pedi para os dois grupos que explicassem e escrevessem como o valor do seno se comportava durante o movimento do ponto sobre a circunferência, quando ele partisse de 0º e fosse até 360º. O grupo2 estava com dificuldade para responder esta pergunta e conversando com o grupo para elucidar a questão, indaguei sobre a variação do valor do seno entre 0º e 90º, quando a aluna Tais referindo-se ao eixo y diz: “é como uma régua” movimentando suas mãos para cima e para baixo, e assim continuei a pergunta variando o ângulo de 90º a 180º, 180º a 270º e 270º a 360º. Quando indagados sobre a variação do seno entre 180º e 270º a aluna Gabriela disse: “Desceu só que aumentou”. Neste momento podemos perceber que a aluna Tais usa da metáfora “EIXO CARTESIANO É RÉGUA” para associar a escala do eixo y, ela possui um domínio fonte que é a régua e sua escala e a associa a outro conhecimento que é a escala do eixo y. Gabriela também se utiliza de uma metáfora de movimento quando diz “desceu só que aumentou”, ela se refere a um movimento antes apenas fictivo do valor do seno. Nesta frase de Gabriela pudemos perceber que também surgiu outra situação complicada, pois como ela estava analisando o seno de um ângulo de acordo com o tamanho do segmento vermelho sobre o eixo y e embora utilizasse como referência o tamanho do segmento vermelho o que realmente queríamos era a projeção do arco sobre o eixo y, portanto os valores poderiam ser negativos. Assim quando utilizado este OE ao falarmos que seno é o tamanho do segmento vermelho, o seno de 90º e 180º deveria ser o mesmo, mas devemos nos atentar que o seno não é este tamanho, mas sim a projeção do ponto sobre a circunferência ao eixo y. O grupo1 enquanto tentava entender o que acontecia com a função seno entre 0º e 360º, podemos ressaltar que em muitos momentos eles utilizavam-se dos Capítulo 4 – Segunda Fase 108 movimentos das mãos e de uma linguagem com expressões que indicavam movimento, o aluno Renan para explicar ao o grupo que o valor do seno diminuía entre os ângulos de 90º e 270º graus faz o movimento das mãos para baixo acompanhado de um assovio, como se algo estivesse caindo, Renan diz: “Até o noventa só sobe, depois desce (assovio)”, podemos ressaltar que em muitos momentos eles utilizavam-se dos movimentos das mãos e de uma linguagem com expressões que indicavam movimento. O que corrobora com a teoria utilizada de que na compreensão de idéias abstratas ou novas o corpo como um todo e não apenas a mente está envolvido. Renan movimenta sua mão (1º momento) Renan movimenta sua mão (2º momento) Figura 27: Movimento das mãos de Renan Grupo1: Percebe-se que do 0º a 360º sai do ponto de origem (O), vai até 1 positivo; decai até o 1 negativo e volta ao seu ponto de origem. A partir de 90º à 180º o valor no gráfico se mostra positivo, de 180º à 360º o valor passa a ser negativo. Figura 28: Resposta grupo 1 Grupo2: De 90º ela sobre 1; de 180º ela desceu diminuiu e chegou a 0; de 270º ela saiu do 0 a ficou a -1; de 360º ela voltou ao eixo 0. Capítulo 4 – Segunda Fase 109 Figura 29: Resposta grupo 2 A explicação dos grupos mostra que a coordenação da linguagem com a percepção visual proporcionada pelo dinamismo do OE ajudou no entendimento. Também podemos perceber que a utilização de termos que indicam movimento, conforme grifado nas respostas dos alunos, apareceram várias vezes para a elaboração de suas respostas. A utilização destes termos é entendido pela Teoria da Cognição Corporificada como movimento fictivo. Ocorrência parecida com esta também aparece com Dall´Anese (2006), onde cita que a utilização do computador permitiu criar um cenário onde foi possível transformar um movimento fictivo, intrínseco da linguagem, em um movimento factivo. 4.3 – Terceiro encontro Para este terceiro encontro compareceram os mesmos alunos do segundo encontro. Após uma primeira análise do vídeo do segundo encontro desenvolvi um apllet que pudesse suprir algumas dificuldades encontradas pelos alunos no entendimento da função seno. Após ver os vídeos detectamos que entre as dificuldades apresentadas pelos alunos no uso do OE “Mundo da Trigonometria” encontra-se a falta de uma escala decimal no eixo y para facilitar a leitura do seno como projeção sobre o eixo y e não como módulo de sua projeção sobre o eixo; a escala também se propõe a facilitar a leitura dos valores dos senos permitindo uma estimativa mais precisa de seus valores. Baseado na complexidade que envolve a compreensão do círculo trigonométrico, já relatada por Lakoff e Núnez (2000) onde a construção do círculo trigonométrico pode ser compreendida a partir de três estágios, elaborei e utilizei um applet onde apresentava apenas o círculo trigonométrico e a projeção do valor do Capítulo 4 – Segunda Fase 110 seno, sobre o eixo dos senos, não apresentando assim o gráfico da função seno simultaneamente com o círculo trigonométrico como no OE “Mundo da Trigonometria”. O applet apresentado aos alunos foi desenvolvido por mim no Geogebra, que é um software livre de geometria dinâmica. Este applet apresentada o círculo trigonométrico, conforme a figura 30, onde P2 é a projeção do ponto P1 da circunferência sobre o eixo dos senos, neste caso o eixo do seno possui uma escala de um décimo e o usuário do applet pode movimentar o ponto sobre o círculo trigonométrico obtendo o ângulo desejado. Figura 30: Applet Círculo Trigonométrico Após a exploração do applet pelos alunos, foi pedido para que eles, organizados nos mesmos grupos do encontro anterior, respondessem novamente o valor dos senos dos ângulos, que eles já tinham respondido anteriormente, só que Grupo1 agora utilizando este applet. 30º 45º 52º 60º 77º 80º 120º 137º 225º 300º Mundo da Trigonometria 0,6 0,75 0,76 0,85 0,98 ≅1 0,90 0,68 -0,75 -0,85 Applet 0,5 0,7 0,79 0,88 0,98 0,99 0,87 -0,68 -0,7 -0,88 Capítulo 4 – Segunda Fase 111 0,5 0,75 0,77 0,80 0,98 0,99 1,05 1,73 Applet 0,5 0,7 0,8 0,85 0,98 0,99 0,85 -0,69 -0,71 -0,81 Valores Correto 0,5 0,7 0,79 0,86 0,97 0,98 0,86 0,68 Grupo2 Mundo da Trigonometria -2,75 -3,03 -0,7 -0,86 Tabela 17 – comparação de resultados OE / Applet Neste momento os alunos diziam que era bem mais fácil determinar os valores do seno com o applet, porque ele tinha uma escala para orientá-los. Como vemos na tabela anterior as respostas foram muito próximas e o grupo2 não errou os dos ângulos do segundo, terceiro e quarto quadrante, mas esta dúvida já tinha sido esclarecida anteriormente. O que podemos concluir é que o fato de não termos neste momento a presença do gráfico da função junto do círculo trigonométrico o foco da atenção dos alunos foi apenas na projeção do ponto sobre a circunferência no eixo dos senos. O fato dos alunos considerarem mais fácil a utilização do applet se deve a escala existente no eixo y, assim não foi necessário eles estimarem os valores do seno, ou quando necessário a estimativa seria apenas para os centésimo do seno, facilitando sua compreensão. Conversando com o grupo um para entender melhor se eles teriam compreendido como determinar o seno no círculo trigonométrico, e sabendo que eles também já conheciam o valor da razão seno no triângulo retângulo, pois estes alunos também são meus alunos do 1º ano do ensino médio, perguntei a eles se era mais fácil determinar o seno de um ângulo no triângulo retângulo ou no círculo trigonométrico, obtive as seguintes respostas: Tempo Fala/ Descirção Comentário / Imagem 1:18:00 Prof: Onde é mais fácil determinar o seno de um ângulo, no triângulo retângulo ou no círculo trigonométrico? Neste momento o professor esta conversando com o grupo-1 Renan: aqui. (referindo-se ou círculo trigonométrico) Angeline: Os dois são fáceis, só que aqui é bem mais fácil, vem na hora... (estalando os dedos) assim, porque você bate o olho Capítulo 4 – Segunda Fase 112 e já tem uma noção. Professor: No triângulo retângulo vocês não conseguem bater o olho e ter esta noção? Renan: não. Angeline: eu não 1:20:00 Prof: Onde é mais fácil determinar o seno de um ângulo, no triângulo retângulo ou no círculo trigonométrico? Neste momento o professor esta conversando com o grupo-1 Grupo2- o círculo Gabriela: Principalmente quando tem estes números (apontando na tela do computador a escalo do applet utilizado) Tais: é fica mais fácil, agente olha para ele e já sabe. Gabriela: o triângulo a gente olha e fica meio assim... aqui não, agente olha e já sabe mais ou menos. Tabela 18 – Transcrição 3 – 3º Encontro Podemos perceber na fala da aluna Angeline, que a utilização dos OEs dando uma dinâmica para o círculo trigonométrico, permitiu que eles conseguissem estimar valores do seno de qualquer ângulo, devido a percepção visual que o OE fornecia. Pudemos observar o uso de diferentes metáforas utilizadas para a compreensão do círculo trigonométrico com as metáforas do movimento fictivo, “CÍRCULO TRIGONOMÉTRICO É RELÓGIO” e “EIXO CARTESIANO É RÉGUA”. Estas metáforas ajudam a produzir o conhecimento matemático. Observamos ainda que os alunos na produção de novos conhecimentos matemáticos utilizam como domínio fonte conhecimentos tanto do cotidiano quanto conhecimentos anteriores de dentro da própria matemática. 4.4 – Quarto encontro Para o quarto encontro foi utilizado novamente o OE “Mundo da Trigonometria”, foi preparado uma atividade onde os alunos responderiam questões sobre seno e cosseno, de modo que pudessem, também, explorar a função cosseno, pois no encontro anterior eles exploram apenas a função seno. Capítulo 4 – Segunda Fase 113 Para este encontro compareceram os mesmos alunos do encontro anterior, com exceção do aluno Renan que não pode comparecer, mais em seu lugar compareceu a aluna Mayara. Este encontro teve a duração de uma hora e trinta minutos. Neste momento os alunos foram divididos em duplas e após uma explicação do que era a função cosseno, comparando com o que eles já conheciam da função seno, eles exploraram o OE e responderam a atividade3. Assim como no segundo e terceiro encontro para a medida dos ângulos utilizei o grau nesta atividade. Atividade-3 - Função Seno 1) Utilizando o OA “Mundo da Trigonometria”, faça uma estimativa dos valores do seno dos seguintes ângulos: a) 30° = _________ b) 140° = _________ c) 270° = __ _______ d) 80° = _________ e) 210° = _________ f) 330° = __ _______ g) 90° = _________ h) 360° = _________ i) 180° = __ _______ 2) Complete com os sinais de maior (>), menor (<) ou igual (=): a) sen 40° ______ sen 60° b) sen 60° ______ sen 160 ° c) sen 140° _____ sen 200° d) sen 260° ______ sen 170° e) sen 75° ______ sen 2 30° f) sen 80° ______ sen 300° g) sen 290° ______ sen 40° i) sen 150° _____ sen 210° h) sen 70° ______ sen 10 0° 3) Observando os círculos trigonométricos abaixo responda: A B C a) Determine os valores aproximados dos ângulos: A - __________ B - __________ C - ___________ b) Determine os valores aproximados do seno dos arcos: A - __________ B - __________ C - ___________ Capítulo 4 – Segunda Fase 114 Função Cosseno 4) Utilizando o OA “Mundo da Trigonometria”, faça uma estimativa dos valores do cosseno dos seguintes ângulos: j) 30° = _________ k) 140° = _________ l) 270° = __ _______ m) 80° = _________ n) 210° = _________ o) 330° = __ _______ p) 90° = _________ q) 360° = _________ r) 180° = __ _______ 5) Complete com os sinais de maior (>), menor (<) ou igual (=): a) cos 40° ______ cos 60° b) cos 60° ______ cos 160 ° c) cos 140° _____ cos 200° d) cos 260° ______ cos 170° e) cos 75° ______ cos 2 30° f) cos 80° ______ cos 300° g) cos 290° ______ cos 40° h) cos 70° ______ cos 10 0° i) cos 150° ______ cos 210° 6) Observando os círculos trigonométricos abaixo responda: A B C c) Determine os valores aproximados dos ângulos: A - __________ B - __________ C - ___________ d) Determine os valores aproximados do cosseno dos arcos: A - __________ B - __________ C - ___________ Esta atividade foi desenvolvida para percebermos a capacidade de estimativa dos valores de seno, cosseno e medida dos arcos, que os alunos teriam com a utilização do OE Mundo de Trigonometria. Ainda não se tinha falado aos alunos sobre os ângulos simétricos no círculo trigonométrico, portanto alguns exercícios poderiam levar a assunto, pois em alguns momentos eles poderiam perceber que alguns ângulos possuem os mesmos valores de seno ou cosseno. Como os alunos já conheciam o OE “Mundo da Trigonometria”, e a função seno, pedi para que os alunos explorassem as páginas do OE relacionadas a função Capítulo 4 – Segunda Fase 115 cosseno. Após esta exploração dos alunos pelo OE, pedi pare que eles testassem o valor de 60º, onde os alunos chegarão a conclusão que o valor do cosseno de 60º deveria ser 0,5, também sugeri o teste do ângulo de 120º e indagados de qual era o cosseno de 120º, as respostas vieram aos poucos, primeiro Gabriela diz: “é negativo?” Após minha confirmação de que o valor era negativo a aluna Angeline diz: “zero vírgula alguma coisa” e Marcela concluí: “meio.” Analisando posteriormente o vídeo noto que poderia ter explorado melhor a primeira dúvida quanto as valor negativo do cosseno de 120º, apesar de ser um professor que acredita nos cenários de investigação, em sala de aula, está tão incorporado o papel do professor como facilitador que também assumo este papel e só na hora da análise, ou seja, pós-facto posso observar que numa próxima vez poderia perguntar aos outros no grupo se concordam ou não com a resposta do tipo da Gabriela podendo assim entender melhor como eles estão pensando para resolver a tarefa. Quando perguntei para os alunos porque o valor era negativo, Marcela diz: “porque está do outro lado”; e logo em seguida Marcela conclui: “é igual ao gráfico”, gesticulando as mãos para a direita e esquerda, referindo-se ao plano cartesiano e dos gráficos que eles conheciam das funções de primeiro e segundo grau que viram durante o primeiro ano do ensino médio. Neste momento fica claro que Marcela fez uso de uma metáfora orientacional quando falou que o valor negativo está do outro lado, e também fez uma montagem como já sugerida por Lakoff e Núnez (2000). No primeiro estágio da compreenção do círculo trigonométrico existe o Domínio I, que é um círculo no plano euclidiano com centro e raio e o Domínio II que é o plano cartesiano com os eixos x e y, origem em (0,0). E culmina na montagem do Domínio III do Ciclo Trigonométrico. Capítulo 4 – Segunda Fase 116 Figura 31: 1º estágio da montagem do círculo trigonométrico Os alunos foram convidados a continuar explorando o OE, utilizando ângulos quaisquer e posteriormente respondessem a atividade-3. Para responder as questões desta atividade os alunos poderiam utilizar o OE, e assim o fizeram, na maioria das vezes antes de responder uma questão consultava o OE para verificação dos valores encontrados. A falta de uma escala no eixo dos senos e eixo dos cossenos representou uma dificuldade para os alunos. E apesar de orientados para trabalhar com valores aproximados, com uma casa decimal, os alunos sempre tentaram utilizar os centésimos, duas casas, isto poderia se explicar pela familiaridade que possuem com o dinheiro, onde utilizamos os centavos. As maiores dificuldades surgiram quando os alunos tinham que identificar o seno ou cosseno dos ângulos 0º, 90º, 180º, 270º ou 360º. Para estes ângulos foram constantes as trocas dos valores de seno e cosseno, embora as respostas fossem sempre 0, 1 ou -1. Ao estimarem os valores do seno e cosseno de outros ângulos, a referência dos alunos sempre foi projeção do raio sobre os eixos, e quando este raio se encontrava sobre o eixo x ou eixo y, a referência se perdia provocando os erros. Capítulo 4 – Segunda Fase 117 Uma hipótese para este erro podemos encontrar no domínio fonte destes alunos, que é a trigonometria no triângulo retângulo, onde não é possível construir um triângulo retângulo com um ângulo de 0º ou dois ângulos de 90º. Como já mencionamos anteriormente é muito comum nos livros didáticos e também na prática do professor os problemas envolvendo a sombra de alguma coisa para determinar sua altura, mas nestes problemas sempre estão inseridos dentro de uma semi-realidade, assim como sugere Ole Skovsmose, se a prática do professor migrar para uma situação dentro da realidade, os problemas envolvendo sombra também iriam abordar situações onde não seria possível o cálculo de alturas através do tamanho de sombra, pois teriamos as sombras do meio dia ou do entardecer onde estariamos próximos das situações onde não seria possível a construção de um triângulo retângulo com estas medidas. Notamos que no encontro anterior, quando os alunos tiveram o primeiro contato com a Trigonometria no círculo trigonométrico e o OE “Mundo da Trigonometria” a necessidade de se utilizar de metáforas básicas para produzir novos conhecimentos foi muito maior do que a encontrada neste encontro. Talvez aqui uma explicação seja que, de acordo com a teoria da cognição corporificada, para entender algo novo utilizamos inferências que podemos fazer num domínio fonte conhecido, assim para entender o círculo trigonométrico foi possível destacar as metáforas, “CÍRCULO TRIGONOMÉTRICO É RELÓGIO” e “EIXO CARTESIANO É RÉGUA”, fazendo inferências do que se conhece de relógio e régua para o entendimento do círculo trigonométrico. Podemos entender também, que estes alunos no segundo momento onde tinham que entender a função cosseno, utilizaram-se dos conhecimentos da função seno, já conhecida anteriormente, para o seu processo de aprendizagem. Segundo a teoria da cognição corporificada, estes alunos buscaram dentro da matemática suas inferências para produzir novos conhecimentos. Sendo assim utilizaram uma metáfora de ligação “COSSENO É SENO”. Capítulo 4 – Segunda Fase 118 Metáfora: COSSENO É SENO Domínio Fonte: SENO Domínio Alvo: COSSENO Eixo dos senos (eixo y) Eixo dos cossenos (eixo x) Projeção sobre o eixo y Projeção sobre o eixo x Os valores negativos do seno estão abaixo do eixo x. Os valores negativos do cosseno estão a esquerda do eixo y Tabela 19: Metáfora COSSENO É SENO No final do encontro conversei com os alunos perguntando o que eles acharam dos encontros, onde a aluna Angeline se manifestou dizendo que seria muito mais fácil estudar este conteúdo com o uso do computador, e a aluna Gabriela concorda e acrescenta que o fato de não necessitar desenhar no caderno onde os desenhos não ficam tão perfeitos. Tempo 1:00:00 Fala/ Descirção Prof: O que vocês acharam destes encontros, sobre o que vocês aprenderam? Comentário / Imagem Referência de Angeline as aulas regulares do Ensino Médio. Angeline: É tipo assim quando a gente for estudar isto se tiver o computador vai ser super fácil. Professor: Com o computador vai ser fácil? Angeline: É ajuda mais. 1:01:00 Gabriela: a... é melhor do que ficar fazendo o desenho no caderno. O computador facilita o entendimento dos desenhos. Angeline: não precisa fazer o círculo com o compasso. Gabriela: é sai meio torto, nem com o compasso sai perfeito. Tabela 20 - Transcrição 4 – quarto encontro Então podemos dizer que o OE colaborou com a aprendizagem dos alunos, e entre as características positivas do OE também podemos acrescentar a qualidade visual do círculo trigonométrico, que não é possibilitada no uso do papel e lápis, também acrescento que o OE permite inúmeras interações entre o aluno e o círculo Capítulo 4 – Segunda Fase 119 trigonométrico, ou seja, o OE torna possível o aluno testar vários ângulos em um espaço de tempo muito pequeno, tornando a aula mais dinâmica. Uma observação técnica que teve impacto na análise teórica é que para este quarto encontro, no qual as duplas trabalharam para responder as questões propostas pela atividade, talvez fosse melhor ter filmado apenas uma dupla. Deste modo seria possível analisar melhor a interação entre eles, interação que se perdeu com a filmagem atual, que focou todo o grupo dificultando o entendimento do diálogo entre as duplas, perdendo assim algumas falas relevantes para esta pesquisa. Capítulo 5 – Discussões e Considerações Finais 120 Capítulo 5 Discussões e Considerações Finais Capítulo 5 – Discussões e Considerações Finais 121 O objetivo desta pesquisa foi o de investigar e analisar que aspectos são ou não favorecidos no processo de ensino de trigonometria, no Ensino Médio, especificamente sobre o círculo trigonométrico em um ambiente utilizando recursos digitais. Investigando as dificuldades e facilidades encontradas por um professor ao longo deste processo. Antes de retomar as questões iniciais desta pesquisa faço uma análise observando os procedimentos metodológico utilizados. Assim descrevo quais de suas etapas ocorreram conforme o esperado e quando os resultados ou situações não eram esperadas. Quanto ao tipo de pesquisa, quero ressaltar que o design experiment permitiu, com análise de cada encontro, o ajuste necessário para um melhor aproveitamento das informações coletadas e analisadas. A filmagem dos encontros permitiu uma análise posterior detalhada, permitindo a compreensão dos acontecimentos, que sem ela teriam se perdido. Também relato que a filmagem poderia ter tido um resultado melhor, principalmente no terceiro encontro onde o trabalho dos alunos foi desenvolvido em duplas. Como a filmagem focou todas as duplas ao mesmo tempo não foi possível identificar todas as falas entre os alunos de cada dupla. Caso esta filmagem tivesse tido o foco em apenas uma dupla, talvez tivéssemos um número maior de falas para analisar nesta pesquisa. Quanto ao som capturado também tivemos alguns problemas, pois estes encontros foram realizados em horário de funcionamento da escola. O horário escolhido coincidiu com o horário de intervalo do período da tarde, algumas falas não foram possíveis de ser identificadas, principalmente quando alguns alunos falaram mais baixo. Quanto à formação do grupo de alunos participantes, alguns imprevistos também ocorreram. Foram convidados oito alunos para participar da pesquisa, destes somente seis apareceram nos encontros e a cada encontro houve a alteração de um dos participantes. Mas mesmo com estes imprevistos foi possível um levantamento importante de informações, que podem auxiliar para o desenvolvimento de outras aulas de trigonometria. Capítulo 5 – Discussões e Considerações Finais 122 Retomando minhas questões inicias, procurando analisar como esta pesquisa pode responder estas questões. Quais são os argumentos e metáforas utilizados pelos alunos nesse cenário que podem influenciar na manutenção ou modificação do mesmo? Vou iniciar minha análise pela segunda questão, pois foi através das metáforas utilizadas pelos alunos que pude responder à primeira questão. Uma vez que através das metáforas utilizadas pelos alunos foi possível comprender algumas de suas dificuldades e suas formas de produção de conhecimento. Estas metáforas foram fundamentais para que os alunos desenvolvessem seus conceitos sobre trigonometria, fazendo uso de conhecimentos prévios para inferências que permitiram a produção de um conhecimento novo. As metáforas “CÍRCULO TRIGONOMÉTRICO É RELÓGIO” e “EIXO CARTESIANO É RÉGUA” são metáforas básicas em que os alunos trazem de suas vidas cotidianas inferências para construção de um conhecimento matemático. “CÍRCULO TRIGONOMÉTRICO É RELÓGIO”. Quando o aluno Renan disse “parece um reloginho” aparece esta metáfora onde o aluno fez algumas inferências sobre o círculo trigonométrico a partir do que ele conhece sobre um relógio com ponteiros. Assim o movimento dos ponteiros de um relógio infere sobre os ângulos ou arcos, 360º é igual a 60 segundos e o eixo do relógio é a origem do plano cartesiano. “EIXO CARTESIANO É RÉGUA” Para produzir conhecimento sobre o eixo cartesiano a aluna Tais se refere a escala do eixo y dizendo “é igual a régua” e utilizou-se desta metáfora para produção de conhecimento, assim a os números inteiros são os centímetros e os números decimais são os milímetros de uma régua. Nesta pesquisa também surgiram exemplos de metáforas de ligação, onde através de outros conhecimentos matemáticos os alunos construíram um novo conhecimento. Isto é evidenciado quando os alunos fazem a montagem de seus Capítulo 5 – Discussões e Considerações Finais 123 conhecimentos de plano cartesiano, conforme sugere Lakoff & Núñez (2000) na montagem do círculo trigonométrico e nas metáforas do movimento fictivo e metáfora “COSSENO É SENO”. “COSSENO É SENO” Quando apresentada a função cosseno aos alunos, eles fizeram uso da metáfora acima, assim a projeção sobre o eixo y é igual a projeção sobre o eixo x e os valores negativos do seno, que estão abaixo do eixo x é igual aos valores negativos do cosseno, que estão a esquerda do eixo y. Movimento Fictivo que se torna Movimento Factivo Destaco aqui a importância que os Objetos de Ensino utilizados no estudo, pois estes OEs possibilitaram aos alunos uma maneira de construção do conhecimento de trigonometria diferente da que eles teriam construído apenas com papel e lápis. Sobretudo, a dinâmica possibilitada pelos OEs criou um movimento no círculo trigonométrico, onde esta percepção visual é evidenciada pelas metáforas dos alunos como o “seno subiu” o “seno desceu”. Assim o movimento, inicialmente fictivo do seno de um ângulo torna-se factivo, via o dinamismo proporcionado pela representação virtual do OE. Isto é, o seno de um ângulo é a razão entre as medidas do cateto oposto e da hipotenusa, cujo valor é expresso por um número que “evidentemente” não se move e a função e seu gráfico idem. Mas quando o aluno fala sobre o OE o dinamismo se sobrepõe ao estático auxiliando a compreensão deste conceito. Através desta análise das metáforas que surgiram nos encontros com os alunos, sob o olhar da Teoria da Cognição Corporificada, respondo à segunda questão desta pesquisa. Observo que para esta pesquisa os Objetos de Aprendizagem - OAs do RIVED e o applet utilizados no encontro com os alunos, são Objetos de Ensino – OEs, portanto foram utilizados parcialmente, onde através de suas análises prévias deterimamos quais as partes destes objetos iriamos utilizar. Capítulo 5 – Discussões e Considerações Finais 124 Que aspectos podem ser considerados mais ou menos relevantes, para a construção de um cenário para a aprendizagem do círculo trigonométrico, utilizando como recursos tecnológicos applets e objetos de aprendizagem disponíveis na internet? Para responder a primeira questão é necessário ressaltar alguns pontos que considero relevante nesta pesquisa. Primeiro quanto à dificuldade dos alunos com os números racionais e irracionais, o que era uma hipótese levantada por mim e o grupo de professores e pesquisadores da UNIBAN se confirmou no primeiro encontro, sendo assim se esta dificuldade foi encontrada com este grupo de alunos é possível que tenhamos também esta dificuldade com um número muito maior de alunos e se isto for confirmado este é um fator dificultador não apenas para o aprendizado da trigonometria mas para muitos outros conteúdos trabalhados na matemática do ensino médio. Quanto aos OEs utilizados nesta pesquisa “Mundo da Trigonometria” e o Applet, podemos citar alguns aspectos relevantes para a sua utilização dentro de um cenário para aprendizagem. Aspectos Positivos dos OEs 1. A motivação gerada entre os alunos, pudemos observar no vídeo o sorriso e demonstração de satisfação ao utilizar o computador em uma aula de matemática. 2. A percepção visual e o dinamisno que possibilita o OE. Para o Objeto de Aprendizagem do RIVED “Mundo da Trigonometria”, podemos notar que sua parte mais relevante para esta pesquisa foi a dinâmica apresentada no círculo trigonométrico, a possibilidade de testar vários ângulos em um pouco espaço de tempo. 3. O Applet que desenvolvi, devido a escala decimal no eixo y, facilita a leitura e entendimento dos valores do seno, principalmente quando estes valores são negativos. Capítulo 5 – Discussões e Considerações Finais 125 Aspectos Negativos dos OEs 1. Para o OE “Mundo da Trigonometria” em suas telas de apresentações das noções básicas com alguns conceitos fundamentais de trigonometria, a apresentação histórica, a demonstração dos arcos côngruos e o círculo trigonométrico poderiam ser substituídas por outro material impresso, mas uma possível melhora para este OE seria a inserção de objetos dinâmicos também para esta parte do OE, permitindo maior interação entre o usuário e o aplicativo. 2. Padrão nas unidades e falta de escala nos eixos do círculo trigonométrico. Para o OE “Mundo da Trigonometria” a falta de uma escala decimal nos eixos x e y, foi um fator dificultador para a produção de conhecimento dos alunos 3. Também para o OE “Mundo da Trigonometria” outros fatores negativos que apareceram foram a leitura do gráfico da função simultaneamente com a leitura do círculo trigonométrico; a escala do eixo x do gráfico da função está em radianos e na forma fracionária, mas os alunos inserem valores em graus para a construção deste gráfico; a mensagem exposta na tela onde apresentavam valores em radianos mas utilizando uma notação decimal e no padrão norte americano trocando o ponto pela vírgula. Para futuras modificações ou criações de Objetos de Ensino para tigonometria deixo a proposta de se apresentar primeiro aos alunos o círculo trigonométrico com uma escala interna decimal para os eixos do seno e do cosseno, isto poderá ajudar os alunos na construção de seus conhecimentos, já que tivemos como exemplo o grupo que para determinar o valor do seno utilizava do comprimento da linha do gráfico da função seno para determimar o valor do seno. Trago como proposta apresentar o gráfico das funções trigonométricas no OE em um segundo momento, após a compreenção dos valores do seno e cosseno dentro do círculo trigonométrico. Quanto aos valores dos ângulos devemos trabalhar em graus e radianos de maneira a levar os alunos a construir o conceito de ângulo com as duas formas. É aceitável que os alunos prefiram trabalhar com as medidas dos ângulos em graus já que esta é bem mais familiar para ele, pois além de já conhecer préviamente os ângulos medidos em graus estes utilizam quase sempre números inteiros para Capítulo 5 – Discussões e Considerações Finais 126 representá-los, não aparecendo os números racionais em forma de fração ou decimais e irracionais como na medidas em radianos, mas as aplicação das funções trigonometricas nos dias atuais são de grande importância e não podemos ignorar as medidas em radianos, mas sim ajudar os alunos a sua compreensão. Uma sugestão para minimizar a dificuldade dos alunos com as medidas em radianos, seria os objetos de ensino apresentarem de forma conjunta as medidas em graus e radianos, para que os alunos pudessem se familiarizar com estes valores. Também é necessário um trabalho anterior com os números racionais e irracionais, pois a dificuldade com estes números impacta a compreenção dos alunos dos valores em radianos. Conforme apresentado anteriormente as medidas em radianos apresentam alguns problemas para compreenção dos alunos o primeiro é o próprio conceito de radianos e o segundo é o fato dos materias didáticos impressos trazem as medidas em radianos sempre em forma de frações ou números inteiros acompanhados do π e os objetos de ensino devido a limitação dos softwares trazem alguns valores em frações e para a maioria dos valores eles estão representados por números decimais, aumentado ainda mais a dicficuldade de compreenção dos alunos. Observando as dificuldades apresentadas pelos alunos assim como os beneficios encontrados na utilização dos OEs nesta pesquisa, apresento um applet, construído por mim através do software Geogebra, com algumas sugestões para um modelo de OE para aulas de trigonometria. Conforme a figura a seguir o OE para a função seno deverá ter as seguintes caracteristicas: - Escala decinal para o eixo dos seno; - Linha tacejada para o acompanhamento da projeção do cateto sobre o eixo y; - Arco AB, apresentando suas medida em graus e radianos; - Destaque para área do ângulo formado pelo arco AB; - Escala em graus e radianos para o eixo x, quando apresentado o gráfico da função seno; - Mesma escala para o gráfico da função e para o círculo trigonométrico; - Opção para exibir ou ocultar o gráfico da função seno. Capítulo 5 – Discussões e Considerações Finais 127 OE – Interpretação para a Função Seno Figura 32: OE interpretação para a Função Seno Como já era esperado não apareceu nenhuma dificuldade no uso dos computadores pelos alunos, confirmando que esta é uma tecnologia em que o aluno esta preparado para utilizar, pois eles já fazem partem da geração “Nativo Digital”, portanto cabe aos professores, que ainda na sua maioria pertencentes a uma geração de “Imigrantes Digitais”, a incumbência de aprender como se utilizar dos recursos digitais em suas aulas. Concluindo, esta pesquisa apresenta que o uso de recursos digitais nas aulas de trigonometria é uma prática que trouxe pontos positivos, mesmo quando estes recursos apresentam itens que podem ser aperfeiçoadas. Pois a utilização destes recursos além de ser uma fonte motivadora traz também novas possibilidades para a construção do conhecimento da trigonometria, possibilidade estas diferentes das que se apresentam em uma aula com papel e lápis, que não seriam possíveis sem a utilização do computador, Assim como sugere a metáfora “TECNOLOGIA É PRÓTESE” (Bolite Frant, 2010) onde a tecnologia é uma prótese cognitiva, permitindo aos alunos produzir um conhecimento diferente daquele que produziriam sem o uso da tecnologia. 128 Referências Bibliográficas ARCAVI, Abraham. -...E a matemática, Nós Que Ensinamos, o Que Construímos? – Artigo Boletim GEPEM / nº36 Fevereiro de 2000, p.83-102. BEER, Ferdinand Pierre; E. Russel Johnston, Jr. Mecânica Vetorial para Engenheiros: Cinemática e Dinâmica – tradutor Adolpho Hengeltraub - revisor técnico Giorgio Eugenio Oscare Giacaglia - 3ª ed. 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