TEMA 4 CIÊNCIA MODERNA E MEIO AMBIENTE A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇ A CIÊNCIA MODERNA E MEIO AMBIENTE 58 TEMA 4 TEMA 4 CIÊNCIA MODERNA E MEIO AMBIENTE CIÊNCIA MODERNA E MEIO AMBIENTE Iniciando nosso diálogo Prezado aluno, Chegamos finalmente ao tema 4 “Ciência Moderna e Meio Ambiente” certos de que apresentamos um razoável conjunto de fatos e pensamentos que impulsionaram o desenvolvimento da Ciência tal como a entendemos e dela fazemos uso no Ocidente. A história nos revela que a busca por uma interpretação mais confiável dos fenômenos que envolvem a natureza e nossa própria vida, inicia-se com explicações míticas misturadas em parte com afirmações do senso comum e, passando pelo pensar filosófico alcançamos as explicações científicas e as conseqüências dessa elaboração para com o Meio Ambiente. Veremos como a confiança na razão e a relação entre ciência e economia desenharam nova visão de mundo, novas relações sociais e a forma como nos relacionamos, considerando todas as conseqüências que esses processos trouxeram para a realidade humana e natural. OBJETIVOS Os objetivos com o estudo do tema 4 são entender as grandezas e os problemas que a ciência propiciou para o homem e para a natureza: • Compreender as realizações da Ciência Moderna; • Entender os novos princípios orientadores na produção de conhecimento seguro; • Compreender ideias, fatos e consequências da ciência positiva; • Refletir sobre os questionamentos e consequências do saber científico. Vamos iniciar nosso aprendizado! 59 A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇ A CIÊNCIA MODERNA E MEIO AMBIENTE 60 TEMA 4 TEMA 4 CIÊNCIA MODERNA E MEIO AMBIENTE SAIBA MAIS • David Lyon: Para maiores informações, consulte o livro: LYON, David. Pós-modernidade. São Paulo: Paulus, 1988. 4.1 - AS REALIZAÇÕES AMBÍGUAS DA CIÊNCIA MODERNA Iniciamos este tema oferecendo a possibilidade de uma contemplação ambígua da paisagem cultural e social que hoje desfrutamos a partir dos objetos construídos pela ciência moderna e que fazem parte do cotidiano de nossas vidas. David Lyon afirma que as relações entre ciência e capitalismo promoveram grandes realizações na modernidade. Diz ele que “Num período de poucas décadas, começou na Europa uma transformação que alteraria o mundo de forma inédita e irreversível. Muitas coisas que hoje consideramos como aspectos “normais” da vida diária eram impensáveis para minha bisavó, o que não dizer para a bisavó dela. Enquanto minha avó andava num carro — um Morris Cowley, para ser preciso — e usava o telefonema, a mãe dela tinha mais familiaridade com os trens a vapor e com o telégrafo. A mãe dela, por sua vez, usava cavalos para deslocar-se, embora fosse testemunha do aparecimento do selo postal para a comunicação por carta. Para todas essas mulheres as viagens espaciais eram ficção científica à La Júlio Verne ou H. G. Wells, e as comunicações via satélite estavam simplesmente fora de cogitação. Para que o leitor não pense que estou entrando em algum tipo de determinismo tecnológico, digo imediatamente que cada uma dessas inovações, envolve mudanças sociais profundas. As rotinas da vida diária alteram-se, por exemplo, quando não precisamos mais de relacionamentos face a face para nos comunicar. Nossas relações sociais se estendem no tempo e no espaço, ligadas por redes de sinais de TV e cabos de fibra óptica. Cada vez mais, fazemos coisas a distância. Os poucos caminhos que percorremos entre o nascer e o pôr-do-sol são bem diferentes de horários, relógios e computadores, em vez de estações, amanhecer e anoitecer, regulam nosso ir e vir. Mesmo “amanhecer e o anoitecer” são conceitos menos significativos quando as atividades podem continuar sem interrupção mesmo com a perda da luz natural. A luz elétrica artificial simplesmente assume o comando. Mas não são somente as consequências desses desenvolvimentos técnicos que são profundamente sociais; as causas também o são. O motor mais evidente que as move é o capitalismo com sua busca incessante de novas matérias-primas, de novas fontes de força de trabalho e, mais recentemente, de novas tecnologias para suplementar ou substituir aquela força de trabalho, e de novas aplicações que possam atrair novos consumidores. 61 A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇ A CIÊNCIA MODERNA E MEIO AMBIENTE TEMA 4 As mudanças ocorridas na concepção de homem, sua forma de produzir conhecimentos e de se organizar em sociedade no período moderno são enormes como se pode constatar por meio do texto de Lyon. Esta ciência transforma a matéria-prima numa infinidade de máquinas, objetos e produtos cuja modernidade capitalista é profundamente dependente. REFLITA Mas, qual o preço que pagamos como civilização para chegar ao período mais avançado da civilização humana? Contrapondo a essa visão otimista, fruto da aplicação da razão humana no domínio da natureza, transformando a matéria-prima em diferentes objetos, verdadeiras maravilhas modernas que aliviam o peso da vida humana, há um preço a pagar na medida em que a maioria das pessoas não desfruta dos benefícios que tais produtos promovem. Há um débito ambiental para o qual ainda não empreendemos esforços satisfatórios. Para entender de qual preço estamos falando precisamos desconfiar que nem tudo o que vivemos é sinônimo de progresso. As relações questionáveis entre ciência, desenvolvimento capitalista e meio ambiente sempre estiveram no horizonte dos europeus conquistadores a partir do século XV e XVIII. Havia sim uma indiferença política frente à sujeição de povos diferentes dos costumes da europa civilizada. Um sacerdote aqui, um índio ali faziam parte de vozes diminutas, frente à multidão contrária à conquista e dominação. A indiferença frente às modificações de diferentes ecossistemas para abertura de estradas, estabelecimento de povoados, cidades, fábricas (sinônimo de desenvolvimento e progresso), invenção de produtos pela exploração e transformação de matérias primas minerais ou vegetais, estava longe de ser questão debatida com seriedade. Contudo, em 1855 temos o testemunho da carta de um cacique Seattle da tribo Suquamish, endereçada ao presidente americano Francis Pierci quando este desejava comprar o território ocupado por índios que diz o seguinte: “Como podeis comprar ou vender o céu, a tepidez do chão? A ideia não tem sentido para nós. Se não possuímos o frescor do ar ou o brilho da água, como podeis querer comprá-los? Qualquer parte desta terra é sagrada para meu povo. Qualquer folha de pinheiro, qualquer praia, a neblina dos bosques sombrios, o brilhante e zumbidor inseto, tudo é sagrado na memória e na experiência de meu povo. A seiva que percorre o interior das árvores leva em si as memórias do homem vermelho. Os mortos do homem branco esquecem a terra de seu nascimento, quando vão pervagar entre as estrelas. Nossos mortos jamais esque- 62 TEMA 4 CIÊNCIA MODERNA E MEIO AMBIENTE cem esta terra maravilhosa, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela é parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs, os gamos, os cavalos a majestosa águia, todos nossos irmãos. Os picos rochosos, a fragrância dos bosques, a energia vital do pônei e do homem, tudo pertence a uma só família. Assim, quando o grande chefe em Washington manda dizer que deseja comprar nossas terras, ele está pedindo muito de nós. O grande Chefe manda dizer que nos reservará um sítio onde possamos viver confortavelmente por nós mesmos. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Se é assim, vamos considerar a sua proposta sobre a compra de nossa terra. Mas tal compra não será fácil, já que esta é sagrada para nós. A límpida água que percorre os regatos e rios não é apenas água, mas o sangue de nossos ancestrais. Se vos vendermos a terra, tereis de lembrar a nossos filhos que ela é sagrada, e que qualquer reflexo espectral sobre a superfície dos lagos evoca eventos e fases da vida do meu povo. O marulhar das águas é a voz dos nossos ancestrais. Os rios são nossos irmãos, eles nos saciam a sede. Levam as nossas canoas e alimentam nossas crianças. Se vendermos nossa terra a vós, deveis vos lembrar e ensinar a nossas crianças que os rios são nossos irmãos, vossos irmãos também, e deveis a partir de então dispensar aos rios a mesma espécie de afeição que dispensais a um irmão. Nós mesmos sabemos que o homem branco não entende nosso modo de ser. Para ele um pedaço de terra não se distingue de outro qualquer, pois é um estranho que vem de noite e rouba da terra tudo de que precisa. A terra não é sua irmã, mas sua inimiga, depois que a submete a si, que a conquista, ele vai embora, à procura de outro lugar. Deixa atrás de si a sepultura de seus pais e não se importa. A cova de seus pais é a herança de seus filhos, ele os esquece. Trata a sua mãe, a terra, e seus irmãos, o céu como coisas a serem comprados ou roubados, como se fossem peles de carneiro ou brilhantes contas sem valor. Seu apetite vai exaurir a terra, deixando atrás de si só desertos. Isso eu não compreendo. Nosso modo de ser é completamente diferente do vosso. A visão de vossas cidades faz doer aos olhos do homem vermelho. Talvez seja porque o homem vermelho é um selvagem e como tal, nada possa compreender. Nas cidades do homem branco não há um só lugar onde haja silêncio, paz. Um só lugar onde ouvir o farfalhar das folhas na primavera, o zunir das asas de um inseto. Talvez seja porque 63 A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇ A CIÊNCIA MODERNA E MEIO AMBIENTE TEMA 4 sou um selvagem e não possa compreender. O barulho serve apenas para insultar os ouvidos. E que vida é essa onde o homem não pode ouvir o pio solitário da coruja ou o coaxar das rãs à margem dos charcos à noite? O índio prefere o suave sussurrar do vento esfrolando a superfície das águas do lago, ou a fragrância da brisa, purificada pela chuva do meio-dia ou aromatizada pelo perfume dos pinhos. O ar é precioso para o homem vermelho, pois dele todos se alimentam. Os animais, as árvores, o homem, todos respiram o mesmo ar. O homem branco parece não se importar com o ar que respira. Como um cadáver em decomposição, ele é insensível ao mau cheiro. Mas se vos vendermos nossa terra, deveis vos lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar insufla seu espírito em todas as coisas que dele vivem. O ar que vossos avós inspiraram ao primeiro vagido foi o mesmo que lhes recebeu o último suspiro. Se vendermos nossa terra a vós, deveis conservá-la à parte, como sagrada, como um lugar onde mesmo um homem branco possa ir sorver a brisa aromatizada pelas flores dos bosques. Assim consideraremos vossa proposta de comprar nossa terra. Se nos decidirmos a aceitá-la, farei uma condição: O homem branco terá que tratar os animais desta terra como se fossem seus irmãos. Sou um selvagem e não compreendo de outro modo. Tenho visto milhares de búfalos a apodrecerem nas pradarias, deixados pelo homem branco que neles atira de um trem em movimento. Sou um selvagem e não compreendo como o fumegante cavalo de ferro possa ser mais importante que o búfalo, que nós caçamos apenas para nos mantermos vivos. Que será dos homens sem os animais? Se todos os animais desaparecem, o homem morreria de solidão espiritual. Porque tudo isso pode cada vez mais afetar os homens. Tudo está encaminhado. Deveis ensinar a vossos filhos que o chão onde pisam simboliza as cinzas de nossos ancestrais. Para que eles respeitem a terra, ensinai a eles que ela é rica pela vida dos seres de todas as espécies. Ensinai a eles o que ensinamos aos nossos: Que a terra é a nossa mãe. Quando o homem cospe sobre a terra, está cuspindo sobre si mesmo. De uma coisa nós temos certeza: A terra não pertence ao homem branco; O homem branco é que pertence à terra. Disso nós temos 64 TEMA 4 CIÊNCIA MODERNA E MEIO AMBIENTE certeza. Todas as coisas estão relacionadas como o sangue que une uma família. Tudo está associado. O que fere a terra fere também aos filhos da terra. O homem não tece a teia da vida: É antes um dos seus fios. O que quer que faça a essa teia, faz a si próprio. Mesmo o homem branco, a quem Deus acompanha e com quem conversa como um amigo, não pode fugir a esse destino comum. Talvez, apesar de tudo, sejamos todos irmãos. Nós o veremos. De uma coisa sabemos, é que talvez o homem branco venha a descobrir um dia: Nosso Deus é o mesmo deus. Podeis pensar hoje que somente vós o possuis, como desejais possuir a terra, mas não podeis. Ele é o Deus do homem e sua compaixão é igual tanto para o homem branco, quanto para o homem vermelho. Esta terra é querida dele, e ofender a terra é insultar o seu criador. Os brancos também passarão talvez mais cedo do que todas as outras tribos. Contaminai a vossa cama, e vos sufocareis numa noite no meio de vossos próprios excrementos. Mas no nosso parecer, brilhareis alto, iluminado pela força do Deus que vos trouxe a esta terra e por algum favor especial vos outorgou domínio sobre ela e sobre o homem vermelho. Este destino é um mistério para nós, pois não compreendemos como será no dia em que o último búfalo for dizimado, os cavalos selvagens domesticados, os secretos recantos das florestas invadidos pelo odor do suor de muitos homens e a visão das brilhantes colinas bloqueada por fios falantes. Onde está o matagal? Desapareceu. Onde está a águia? Desapareceu. O fim do viver e o início do sobreviver.” O conteúdo desta carta testemunha que toda cultura possui a sua sabedoria. A cultura rotulada de mítica possui uma consciência não só de pura submissão, mas também de comunhão com tudo que a natureza dispõe para a vida em geral. Esta sabedoria que preza a manutenção do meio ambiente contrasta com a compreensão da necessidade de domínio da natureza atrofiando a noção de bem, que fixa a racionalidade naquilo que é útil, caso da cultura ocidental. A evidência dessa postura está nas transformações sociais, políticas, econômicas (posteriormente ambientais) entre o final do período medieval, renascimento e período moderno que veremos a seguir. 65 A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇ A CIÊNCIA MODERNA E MEIO AMBIENTE 4.2 - CIÊNCIA MODERNA E OS NOVOS PRINCÍPIOS PARA A PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO A Ciência Medieval que se estabelece por meio da escolástica, afirma verdades por meio de argumentos lógicos sobre os objetos abordados. Sem dúvida este saber, em parte, ajuda a explicar a forma piramidal de esta sociedade se organizar. Porém, o gradativo aumento da importância das cidades no final do período medieval traz como consequências a busca por novos mercados de matéria-prima para produzir produtos e suprir as novas necessidades. Essa transição do medievalismo para o período moderno se faz por meio do período denominado Renascimento, momento histórico no qual ocorrem profundas mudanças econômicas, políticas, sociais, religiosas, culturais na Europa. Temos por exemplo a mudança do feudalismo para o capitalismo, a reforma protestante e católica, a formação dos estados nacionais que viriam a ser mais tarde os países europeus e a mudança do paradigma político cristão para a visão moderna com Maquiavel. A ciência moderna vai estabelecer uma nova verdade científica que se afirma, não mais pela pura lógica argumentativa, mas, agora sim, por meio da aplicação da razão sobre o que nos informa exaustivas observações, coleta de dados, experimentação, verificação e conceituação. Um pensador ofereceu novas diretrizes para procedimentos seguros na produção de conhecimento científico foi Francis Bacon (1561-1626) que propôs o método indutivo. Influenciado pelo espírito de seu tempo, este pensador defendia a aplicação da ciência à indústria a serviço do progresso. Na obra Novum organum Bacon afirma que o bem-estar do homem depende do controle científico obtido por ele sobre a natureza, o que levaria à facilitação da sua vida. Sentenciou que “saber é poder”, pois julgava imprescindível o domínio do homem sobre a natureza, a partir do conhecimento de suas leis. 66 TEMA 4 SAIBA MAIS • Francis Bacon: Bacon foi um jurista e ocupou altos cargos públicos, desempenhando atividade política. Foi um defensor da monarquia absoluta, embora contrário à censura de opinião. Apesar de ter estado sempre no centro da vida pública, dedicou grande parte de seu tempo a refletir sobre o conhecimento e sobre a melhor forma de colocá-lo a serviço do homem. Não descobriu qualquer nova lei, não elaborou uma teoria própria em qualquer ramo de investigação, em vez disso, propôs uma forma para se chegar a novas teorias, um método que, a seu ver, possibilitaria a construção de um conhecimento correto dos fenômenos. TEMA 4 CIÊNCIA MODERNA E MEIO AMBIENTE IMPORTANTE Bacon afirma: “aqueles dentre os mortais, mais animados e interessados, não no uso presente das descobertas já feitas, mas em ir mais além; que estejam preocupados, não com a vitória sobre os adversários por meio de argumentos, mas na vitória sobre a natureza, pela ação; não em emitir opiniões elegantes e prováveis, mas em conhecer a verdade de forma clara e manifesta; esses, como verdadeiros filhos da ciência, que se juntem a nós, para, deixando para trás os vestíbulos das ciências, por tantos palmilhados sem resultado, penetrarmos em seus recônditos domínios”. Assim, a verdadeira finalidade da ciência é contribuir para a melhoria das condições de vida do homem. O conhecimento não teria valor em si, mas sim pelos resultados práticos que possa gerar. Para que o conhecimento cumpra sua finalidade de se colocar a serviço do homem, ele tem que estar fundado em fatos, numa ampla base de observação. O homem tem que entrar em contato com a natureza, se deseja conhecê-la. Após defender a utilidade do conhecimento, Bacon preocupou-se com as noções falsas que, segundo ele, impediam os espíritos esclarecidos de alcançar a verdade e, conseqüentemente, de produzir um conhecimento que servisse verdadeiramente ao homem, e afirmou a necessidade de um instrumento para corrigir essas falsas noções. Para Bacon, são de quatro tipos os erros que o homem pode cometer ao produzir conhecimento, se seguir seu impulso natural. A esses erros Bacon chamou de ídolos e, a menos que os homens os compreendam e tomem precauções contra eles, podem constituir-se em sérios obstáculos à ciência. Os primeiros são os ídolos da tribo, que são falhas inerentes à própria natureza humana, falhas, tanto dos sentidos quanto do intelecto, comuns a todos os homens. Segundo Bacon, as percepções são parciais, portanto não se pode confiar nas informações fornecidas pelos sentidos, senão quando corrigidas pela experimentação. De acordo com Bacon, “os sentidos julgam somente o experimento e o experimento julga a natureza e apropria coisa” (Novum organum, I, afor. 50). Da mesma forma como os sentidos, também o intelecto humano está sujeito a falhas, uma das quais a tendência a generalizar a partir de casos favoráveis, sem atentar para as instâncias negativas. Os segundos erros são os ídolos da caverna, que são distorções que se podem interpor no caminho da verdade, em função de características individuais do estudioso. Essas distorções são decorrentes de sua história de vida, de seu ambiente, de sua formação, de seus hábitos, das leituras que faz, de seu estado de espírito no momento em que se põe a buscar um determinado conhecimento, e o farão abordar seu objeto de estudo a partir de um prisma determinado. 67 A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇ A CIÊNCIA MODERNA E MEIO AMBIENTE TEMA 4 O terceiro tipo de ídolos são os ídolos do foro, que são falhas provenientes do uso da linguagem e da comunicação entre os homens. As palavras que usamos limitam nossa concepção das coisas, porque pensamos sobre as coisas a partir das palavras que temos para exprimi-las. As palavras assumem o significado que o uso corrente da linguagem acaba por lhes imprimir e que é, geralmente, muito vago, impreciso ou parcial. Quando se tenta precisá-las para fazer com que correspondam mais fielmente ao que se encontra na natureza, esbarra-se numa grande resistência imposta pelo uso que vulgarmente se fez delas ao longo do tempo. Como as palavras constituem o meio pelo qual se trocam as ideias, o uso de palavras vagas, de palavras sem correspondência com qualquer aspecto do real, acaba por gerar inúmeras controvérsias em torno de nomes. Para garantir uma comunicação eficiente em ciência, seria necessário dotar as palavras de resultados de experiências, porque as próprias definições não fornecem uma solução satisfatória, uma vez que também elas são compostas de palavras. Por último, há os ídolos do teatro, que são distorções introduzidas no pensamento advindo da aceitação de falsas teorias, de falsos sistemas filosóficos. Aqui, Bacon faz severas críticas a várias escolas filosóficas, particularmente à de Aristóteles e aos escolásticos seus seguidores. Entre as críticas que faz estão as de dogmatismo, infecundidade e esterilidade para a produção de resultados práticos, que beneficiem a vida do homem. Critica também o fato de esses filósofos elaborarem teorias sobre a natureza que saem de suas cabeças, em vez de relacionarem-se com a natureza por meio da experimentação antes de concluírem algo sobre ela. Segundo Bacon, a razão da estagnação das ciências está na utilização de métodos que barram o seu progresso: não partem dos sentidos ou da experiência, mas da tradição, de ideias preconcebidas e se abandonam aos argumentos. O caminho correto para o avanço das ciências estaria na realização de grande número de experiências ordenadas, das quais seriam retirados os axiomas e, a partir destes, propor-se-iam novos experimentos. O método proposto por Bacon para fazer avançar os conhecimentos científicos é a indução, um processo de eliminação, que nos permite separar o fenômeno que buscamos conhecer — e que se apresenta misturado com outros fenômenos na natureza — de tudo o que não faz parte dele. Esse processo de eliminação envolve não só a observação, a contemplação do fluxo natural dos fenômenos, como também a execução de experiências em larga escala, isto é, a interferência intencional na natureza e a avaliação dos resultados dessa interferência. Caberia ainda ao processo indutivo multiplicar e diversificar as experiências, alterando as condições de sua realização, repeti-las, ampliá-las, aplicar os resultados; verificar as circunstâncias em que o fenômeno está presente, circunstâncias em que está ausente e as possíveis variações do fenômeno. Um cientista importante para a ciência moderna neste contexto do século XVII é “Galileu (1564-1642), que precisou (...) derrubar a visão de mundo proposta por Aristóteles, reinterpretada pelos teólogos medievais e oficialmente em vigor”. 68 TEMA 4 CIÊNCIA MODERNA E MEIO AMBIENTE Tal como os pré-socráticos, Galileu buscou entender o universo físico. Teve contato com a teoria Heliocêntrica de Copérnico que se contrapunha à astronomia de Ptolomeu e a física de Aristóteles. Quando questionado pelas autoridades de Igreja Católica sobre suas novas ideias, comentou (Galileu) que a Bíblia, em se tratando de temas científicos, não era um manual a ser obedecido cegamente. A consequência deste comentário foi sua condenação pelo Tribunal da Inquisição a retratar-se publicamente negando suas concepções científicas que passaremos a descrever. Seguindo a tradição grega, aristotélica, para se entender uma coisa não era preciso estudá-la experimentalmente. Bastava esforçar-se por compreender como essa coisa existe e funciona e, depois, elaborar uma teoria sobre isso. Para muitos pensadores antigos e medievais, “observar as coisas, agir sobre a natureza e pensar como matemático” eram atividades que não se combinavam. Mas Galileu, enquanto professor de matemática inovou e aplicou a matemática ao estudo experimental da natureza. IMPORTANTE Galileu alcançou grandes realizações como: • a elaboração da lei da queda livre dos corpos, segundo a qual a aceleração de um corpo em queda é constante, independentemente de o corpo ser leve ou pesado, grande ou pequeno. A demonstração dessa lei exige condições ideais (vácuo). • a construção e o aperfeiçoamento de um telescópio permitiu efetuar observações astronômicas que o levaram a descobrir o relevo montanhoso da Lua, quatro satélites de Júpiter, as formas diferentes de Saturno, as fases de Vênus e a existência das manchas solares. A mais destacada de suas contribuições foi ter assumido uma nova postura de investigação científica, cuja metodologia se baseava: • na observação paciente e minuciosa dos fenômenos naturais; • na realização de experimentações para comprovar uma tese; • na valorização da matemática como instrumento capaz de enunciar as regularidades observadas nos fenômenos. Neste texto, não vamos tratar de outras ideias filosóficas que acabaram sendo fecundas no comportamento científico moderno. Apenas para informação e posterior aprofundamento citamos o inatismo racionalista representada pelas ideias de Descartes (1596-1650), e também o empirismo (experiência) representada pelas ideias de Locke 1632-1704. Este conjunto de ideias filosóficos científicas produziu um conjunto de saberes especializados e separados em ciências exatas e bioló- 69 A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇ A CIÊNCIA MODERNA E MEIO AMBIENTE TEMA 4 gicas, sendo a mais famosa a teoria da evolução de Charles Darwin. Mas também este procedimento racional produziu as ciências humanas (Sociologia, Antropologia, Psicologia etc). 4.3 - CIÊNCIA: ORDEM E PROGRESSO Trilhando este ideal de explicação racional e experimental da vida natural, Auguste Comte constrói a doutrina do Positivismo, fundada na extrema valorização do método científico das ciências positivas (baseadas nos fatos e na experiência) e na recusa das discussões metafísicas. IMPORTANTE O termo POSITIVO conforme extraído na obra “Discurso sobre o espírito positivo” significa o pensamento ocupar-se tão somente com o que é: • Real — pesquisa de fatos concretos, acessíveis à nossa inteligência, deixando de lado a preocupação com mistérios impenetráveis referentes às causas primeiras e últimas dos seres; • Útil — busca de conhecimentos destinados ao aperfeiçoamento individual e coletivo do homem, desprezando as especulações ociosas, vazias e estéreis; • Certo — obtenção de conhecimentos capazes de estabelecer a harmonia lógica na mente do próprio indivíduo e a comunhão em toda a espécie humana, abandonando as dúvidas indefinidas e os intermináveis debates metafísicos; • Preciso — estabelecimento de conhecimentos que se opõem ao vago, baseados em enunciados rigorosos, sem ambigüidades; • Organizado — tendência a organizar, construir metodicamente, sistematizar o conhecimento humano; • Relativo - aceitação de conhecimentos científicos relativos. Se não fossem relativos, não poderia ser admitida a continuidade de novas pesquisas, capazes de trazer teorias com teses opostas ao conhecimento estabelecido. Assim, a ciência positiva é relativa porque admite o aperfeiçoamento e a ampliação dos conhecimentos humanos. O positivismo se caracteriza por uma confiança nos benefícios da industrialização, bem como por um otimismo em relação ao progresso capitalista, guiado pela técnica e pela ciência. A partir da segunda metade do século XIX, o positivismo reflete, no plano filosófico, o entusiasmo burguês pelo progresso capitalista e pelo desenvolvimento técnico-industrial. Embora criticado no plano teórico, é uma doutrina muito influente no plano prático até nossos dias. 70 TEMA 4 CIÊNCIA MODERNA E MEIO AMBIENTE A lei dos três estados resume o pensamento de Comte sobre a evolução histórica e cultural da humanidade. Conforme escreveu em seu Curso de filosofia positiva, “essa lei consiste em que cada uma de nossas concepções principais, cada ramo de nossos conhecimentos, passa sucessivamente por três estados históricos diferentes: • estado teológico ou fictício — estágio que representaria o ponto de partida da inteligência humana, no qual os fenômenos do mundo são vistos como produzidos por seres sobrenaturais. O ponto culminante deste estado foi quando o ser humano substituiu o politeísmo (numerosas divindades independentes) pelo monoteísmo (ação providencial de um Deus único); • estado metafísico ou abstrato — estágio em que a influência dos seres sobrenaturais do estágio teológico foi substituída pela ação de forças abstratas consideradas como representantes dos seres do mundo; • estado científico ou positivo — estágio definitivo da evolução racional da humanidade em que, pelo uso combinado do raciocínio e da observação, o ser humano passou a entender os fenômenos do mundo. O positivismo é um ideal científico e político. Científico porque se diferencia do empirismo puro ao não reduzir o conhecimento científico somente aos fatos observados. Ver para prever é o lema da ciência positiva. É o conhecimento científico um instrumento de transformação da realidade, de domínio do homem sobre a natureza. As transformações impulsionadas pelas ciências visam ao progresso. Traduzindo, só haverá progresso se houver ordem. Assim: ORDEM E PROGRESSO na bandeira indicam a inspiração positivista dos ideólogos da sociedade brasileira. Neste sentido, essa ordem e progresso possuem consequências políticas. Nos conflitos entre proletários e capitalistas, Comte assumiu uma posição conservadora ao defender a legitimidade da exploração industrial. Concordava com a divisão das classes sociais e considerava indispensável a existência dos empreendedores capitalistas e do proletariado. Para os trabalhadores, defendia uma educação destinada a confirmar a necessidade dos trabalhos práticos e mecânicos por eles realizados. Assim, entendia que se cada classe social faz a sua parte em ordem, sem conflitos ou revoluções, greves etc, essa sociedade deve ter necessariamente progresso. 4.4 - CIÊNCIA: QUESTIONAMENTOS E CONSEQUÊNCIAS REFLITA Com a adoção da ciência positiva e evolucionista temos uma civilização ocidental sempre melhor que sua precedente? Podemos verificar um melhoramento ambiental e progresso contínuo do ser humano nas suas mais diversas dimensões, política, econômica, social, espiritual? 71 A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇ A CIÊNCIA MODERNA E MEIO AMBIENTE TEMA 4 Segundo a filósofa Marilena Chauí, a reflexão da Filosofia das Ciências considerando os resultados práticos desse comportamento científico no século XVIII e XIV constatou ambiguidades nos resultados desse ideal científico. Por um lado temos o Conhecimento Científico que impulsiona continuamente diferentes etapas do capitalismo. Indústria, transportes, comunicações, medicina são áreas onde as inovações tecnológicas facilitam e aliviam a vida humana do trabalho pesado, dor e sofrimento. Por outro o Modelo das ciências naturais (física, química e biológica) influenciou as ciências humanas tal como expresso no pensamento de Comte e na Sociologia posterior. A submissão das pesquisas cientificas aos interesses de poderes diversos como a indústria capitalista em geral (petrolíferas, farmacêuticas, moda, bens de consumo), política, guerra, coloca em perigo a vida no planeta seja pelas conseqüências de uma guerra para os seres humanos e para o meio ambiente, pela introdução de novos hábitos alimentares nocivos à saúde humana, poluição da atmosfera, contaminação de oceanos, destruição de matas, plantas e animais. Podemos falar em mitologia cientificista. A ideia de conhecimento real, útil, certo, preciso, organizado e relativo desenvolveu a crença de uma ciência pura, neutra, desinteressada ou com interesse apenas no saber, e de uma ciência aplicada entendida enquanto conhecimento para utilidade imediata na construção de objetos tecnológicos, instrumentos variados e máquinas diversas. É o interesse na ciência aplicada (tecnologia) que interfere na tal ciência pura. Essa razão instrumental vai gerar o cientificismo (senso comum cientificista, ou ideologia, ou ainda o mito da neutralidade da ciência). Esta crença cientificista pensa que a ciência pode conhecer tudo e possui a explicação das causas das leis que governam a realidade. A ideologia se mostra na ideia de que progresso e evolução dos conhecimentos científicos permitirão uma ação humana sem limites. O mito se mostra na crença da ciência como magia e poder ilimitado. A reflexão sobre a atuação das ciências desmente a noção de evolução e progresso, mas também não fala em regresso científico. A visão crítica constata que a história registra diferentes e descontínuos ideais científicos. Assim não poderíamos falar de uma ciência moderna mais evoluída que a medieval uma vez que se trata de épocas diferentes e com noções diferentes sobre o que seja a natureza a ser estudada. A hipótese de que a terra não se move gera uma metodologia científica. A hipótese de que a terra se move gera outra metodologia científica. A objetividade (separação entre sujeito e objeto) ou neutralidade das teorias científicas seria ilusória. A escolha da definição de objeto e do método de pesquisa é feita por uma pessoa e isso interfere nos resultados da pesquisa. IMPORTANTE Vários exemplos históricos negam a crença da neutralidade científica: 1. O racismo enquanto ideologia social e política foi amparada por teorias científicas (Biologia, Psicologia e Sociologia) resultando nas teses das diferenças 72 TEMA 4 CIÊNCIA MODERNA E MEIO AMBIENTE étnicas e biológicas (costumes de um mesmo grupo iguais geneticamente). Posteriormente tais classificações foram utilizadas para indicar grupos humanos inferiores e superiores. 2. Copérnico teve que esconder os resultados de suas pesquisas. Galileu teve que se apresentar a um tribunal da Inquisição para retratar-se de suas afirmações. 3. Antropologia. Suas afirmações indicavam a realidade de uma humanidade dividida entre um homem civilizado, possuidor de pensamento lógico-racional e outro inferior, o não civilizado, possuidor de pensamento pré-lógico e pré-racional. 4. A ciência numa dimensão ainda não medida com exatidão está a serviço da economia impulsionada pela informatização, telecomunicações, poderosos grupos industriais, interesses militares e políticos. Concluindo esta disciplina afirmamos que os desafios que o tema da preservação do meio ambiente e a busca por novos processos de sustentabilidade, nos coloca novamente na condição de continuadores da reflexão pré-socrática; o que é a vida? A visão grega de mundo gerou a confiança na razão, nos métodos científicos para transformar a natureza e na possibilidade de organizar a vida em sociedade. Estamos vivendo, nos dias atuais, o melhor e o pior de todas essas legítimas ambições quando nos relacionamos com outros nossos iguais, conosco mesmo e com a natureza. Mas precisamos buscar uma interpretação mais integrada com outras pessoas e com a natureza. A idéia de um homem, absoluto por sua crença na libertação que a razão pode proporcionar já caiu por terra. Fato é que sem a razão também não poderemos desenhar uma nova humanidade com novas relações, se possível, sem dominação de uns poucos sobre uma multidão, e mais integrada com os processos da natureza. 73 A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇ A CIÊNCIA MODERNA E MEIO AMBIENTE 74 TEMA 4 TEMA 4 CIÊNCIA MODERNA E MEIO AMBIENTE RECAPITULANDO Você pode constatar a importância da ciência moderna na produção de uma infinidade de objetos que facilitam a vida humana, objetos que seriam invenções proibidas ou impensáveis no período medieval. As invenções ou descobertas só obtiveram êxito devido a uma nova postura intelectual frente aos fenômenos estudados e à forma de produzir conhecimentos sobre os mesmos. Estamos falando da metodologia científica que adota a observação, experimentação, verificação e conceituação. Vimos também que o saber científico propiciou não só inventos e descobertas, mas também passou a ser um princípio que deveria reger a organização social e política das sociedades capitalistas. Em geral esse ideal cientificista político defendia a doutrina da ordem e progresso. Por fim buscamos mostrar a crítica possível sobre as consequências que a ciência moderna trouxe para as relações humanas e para o meio ambiente. 75 REFERÊNCIAS 76 REFERÊNCIAS ANDERY, Maria Amália, MICHELETTO, Nilza. Para Compreender a Ciência: uma perspectiva histórica. RJ: Garamond Editora, 2006. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. São Paulo: Ed. Moderna, 2006. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à Filosofia. São Paulo: Ed. Moderna, 2003. CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed. Ática, 2003. COLTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia: história e grandes temas. São Paulo: Ed. Saraiva, 2006. CORDI, Cassiano, outros. Para Filosofar. São Paulo: Scipione, 2000. RAEPER, Willian. SMITH, Linda. Introdução ao Estudos das Idéias: Religião e Filosofia no passado e no presente. São Paulo: Edições Loyola, 1997. SÁTIRO, Angélica, WUENSCH, Ana Miriam. Pensando Melhor: iniciação ao filosofar. São Paulo: Ed. Saraiva, 2000. 77 Anotações ANOTAÇÕES Chegou a sua vez! Aproveite o momento para sintetizar o que foi abordado neste tema, identificando as ideias principais. Lembre-se de que essa é uma atividade de sistematização dos conceitos compreendidos, por isso você pode desenvolvê-la aqui em Anotações, ou se preferir, em seu Diário Reflexivo, disponível no Ambiente Virtual da Disciplina. _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ 79 Anotações _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ 80