UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO
DO RIO GRANDE DO SUL
GEDERSON VINICIO FOLETTO
ALONGAMENTO NAS ACADEMIAS: OBJETIVOS E JUSTIFICATIVAS DE SUA
PRESCRIÇÃO POR PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Ijuí - RS
2012
GEDERSON VINICIO FOLETTO
ALONGAMENTO NAS ACADEMIAS: OBJETIVOS E JUSTIFICATIVAS DE SUA
PRESCRIÇÃO POR PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Trabalho de Conclusão de Curso/Monografia
apresentado ao curso de Educação Física, do
Departamento de Humanidades e Educação
(DHE) da Universidade Regional do Noroeste do
Estado do Rio Grande do Sul - Unijuí, como
requisito parcial para a obtenção do título de
Bacharel e Licenciado em Educação Física.
Orientador: Professor Doutor Fernando Jaime González
Ijuí - RS
2012
A Banca Examinadora abaixo assinada aprova o trabalho de conclusão de curso:
ALONGAMENTO NAS ACADEMIAS: OBJETIVOS E JUSTIFICATIVAS DE SUA
PRESCRIÇÃO POR PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA
elaborado por
GEDERSON VINICIO FOLETTO
como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel e Licenciado em Educação Física.
Ijuí (RS), 09 de março de 2012.
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________
Professor Dr. Fernando Jaime González
Orientador
_______________________________________
Professor Dr. Sidinei Pitan da Silva
Examinador Titular
4
Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,
mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo.
E que posso evitar que ela vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os
desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um ator
da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz
de encontrar um oásis no recôndito da sua alma. É agradecer a
Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de
si mesmo. É ter coragem para ouvir um “não”. É ter segurança
para receber uma crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um
Castelo....
Fernando Pessoa
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a meus avós, Fermino
Foletto (in memoriam) e Bemvinda Rosa
Foletto, que de uma forma ou de outra me
apoiaram em todos os momentos, também a
minha namorada Cristiane Ribas que mesmo
em momentos difíceis esteve ao meu lado e
para os demais tios e tias, em especial minhas
tias Clair e Cleonice.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus por ter me dado força e persistência para vencer todas as
dificuldades e foram muitas, desde o primeiro dia de aula até o último desta graduação.
Ao meu orientador, professor Doutor Fernando Jaime González pela paciência,
profundo envolvimento e desprendimento durante esta etapa de minha formação profissional.
Aos meus avós, Fermino Foletto (in memoriam) e Bemvinda Rosa Foletto, que foram
meus verdadeiros pais. Com eles tive uma lição de vida e a eles devo todo o sucesso
alcançado.
A minha namorada Cristiane Ribas que mesmo estando distante de alguma forma
sempre tentou me ajudar.
Minha mãe, irmãos tios e tias, em especial tias Clair e Cleonice, que sempre alegres,
me apoiaram de diversas maneiras, sendo muito prestativas.
Aos amigos que fiz durante a graduação e fora dela, Diego, Fernando, Simone, Laura,
Drica, Daniel, Jordana, Bruna, Cheila, Alan, Nego, Tabata, entre tantos outros.
RESUMO
Os exercícios de alongamento são habitualmente prescritos pelos professores de
Educação Física, tanto em programas orientados ao treinamento de atletas, como na
busca pela melhora da aptidão física da população em geral. Particularmente em
academias de musculação esses exercícios estão presentes na rotina de treinamento da
maioria esmagadora dos alunos. No entanto, a literatura científica é bastante controversa
quanto aos benefícios que o alongamento proporciona aos praticantes, não sendo
unívoca no que se refere às recomendações sobre sua utilização e forma de trabalho nos
treinamentos. Por outro lado, a literatura também aponta que os professores não
utilizam apenas o conhecimento acadêmico para tomar decisões sobre seu trabalho, mas
também mobilizam saberes da experiência para sua atuação profissional, ou seja, em
muitas intervenções são utilizados conhecimentos tácitos adquiridos ao longo de sua
atuação como professor. Estes elementos surgem a partir do feedback entre professor e
aluno. O objetivo deste estudo foi investigar o que norteia (objetivos e justificativas) a
prescrição do alongamento pelos professores de Educação Física nas academias. Tratase de uma pesquisa exploratória com delineamento de estudo de campo. Foram visitadas
cinco academias, sendo duas voltadas ao treinamento personalizado. Os sujeitos da
pesquisa foram oito professores de Educação Física, com no mínimo cinco anos de
atuação. Os dados foram coletados a partir da entrevista semiestruturada, gravada em
áudio, na qual os principais temas abordados foram: os objetivos da prescrição do
alongamento, relação entre o alongamento e prevenção de lesões, métodos de
alongamento que são utilizados durante as sessões de treino, a orientação do
alongamento, a origem do conhecimento, a relação entre a formação inicial,
características profissionais, prescrição dos alongamentos. A análise dos dados, obtidos
nas entrevistas, foi realizada tendo como suporte as leituras do referencial teórico que
embasou a classificação de categorias, procurando identificar semelhanças e diferenças
entre as posições dos entrevistados. Neste sentido, os resultados apontaram que os
objetivos da prescrição são muito variados. A maioria dos professores afirmou
prescrever o alongamento como parte do aquecimento no início da atividade e como
relaxamento no final. Outros professores mencionaram o aumento da flexibilidade como
um das principais razões da indicação, enquanto que a diminuição da dor muscular
tardia, o bem estar relatado pelo aluno e a melhora da consciência corporal foi
mencionado somente por um profissional. Além disso, apenas três professores
prescrevem o alongamento tendo como um de seus objetivos a prevenção de lesões.
Constatou-se também que os oito entrevistados não aplicavam nenhum método de
alongamento específico, tampouco demonstraram ter conhecimento técnico/científico
desses métodos. Assim, acreditamos que os professores em geral prescrevem o
alongamento por duas razões, a saber: 1º) por ser uma prática rotineira que há muito
tempo vem sendo mantida, não só nas academias de musculação, mas em diversos
8
esportes, que por não ser lesivo não justifica a não realização; 2º) em muitos casos o
aluno passa para o professor que determinado alongamento lhe fez bem, então, o
professor por sua vez, passa a utilizar esse conhecimento na sua intervenção diária.
Palavras-chave: Professores de Educação Física. Prescrição. Alongamento. Prevenção.
Lesões.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Os Diversos Tipos de Aquecimento ........................................................................ 17
10
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Características Gerais dos Sujeitos Entrevistados ................................................... 32
11
Sumário
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 13
Problema ............................................................................................................................... 14
Objetivos............................................................................................................................... 14
Objetivo Geral ...................................................................................................................... 14
Objetivos Específicos ........................................................................................................... 15
Relevância ou Justificativa ................................................................................................... 15
1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .............................................................................................. 16
1.1 Alongamento e Aquecimento nas Academias .............................................................. 16
1.1.1 Aquecimento .......................................................................................................... 16
1.2 Alongamento .................................................................................................................. 18
1.2.1 Definição de Alongamento ...................................................................................... 18
1.2.2 Métodos de Alongamento........................................................................................ 19
1.2.2.1 Alongamento Balístico.......................................................................................... 19
1.2.2.2 Alongamento Estático ........................................................................................... 19
1.2.2.3 Alongamento Ativo ............................................................................................... 20
1.2.2.4 Alongamento Passivo ........................................................................................... 20
1.2.2.5 Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva (FNP) ............................................. 21
1.3 Alongamento e Prevenção de Lesões ............................................................................. 21
1.4 Flexibilidade e Prevenção de Lesões .............................................................................. 24
1.5 Os Saberes Profissionais dos Professores de Educação Física e a Prescrição de
Exercícios ............................................................................................................................. 25
1.6 Os Saberes Profissionais dos Professores de Educação Física ....................................... 26
1.7 O Conhecimento Mobilizado pelos Professores de Educação Física na Prescrição do
Exercício Físico: O Caso do Alongamento .......................................................................... 28
2 METODOLOGIA.................................................................................................................. 31
2.1 Tipo de Pesquisa ............................................................................................................. 31
2.2 Sujeitos da Pesquisa ....................................................................................................... 31
2.3 Procedimentos ................................................................................................................ 32
2.4 Coleta de Dados .............................................................................................................. 33
2.5 Instrumento ..................................................................................................................... 33
12
3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ...................................................... 34
3.1 Objetivos, Métodos, Orientação e Cuidados na Prescrição do Alongamento ................ 34
3.1.1 Quais os Objetivos da Prescrição do Alongamento pelos Professores .................... 34
3.1.1.1 Relação entre o Alongamento e Prevenção de Lesões ......................................... 35
3.1.1.2 Outros Objetivos para a Prescrição do Alongamento ......................................... 38
3.1.1.3 Diferença entre Alongamento e Flexionamento ................................................... 43
3.1.2 Métodos de Alongamento que são Utilizados durante as Sessões de Treino .......... 44
3.1.3 A Orientação do Alongamento ................................................................................ 45
3.1.4 Cuidados com a Prescrição do Alongamento .......................................................... 48
3.2 A Origem do Conhecimento ........................................................................................... 49
3.2.1 A Relação entre a Formação Inicial, Características Profissionais e a Prescrição do
Alongamento .................................................................................................................... 53
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 56
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 58
APÊNDICE .............................................................................................................................. 61
ANEXOS .................................................................................................................................. 63
13
INTRODUÇÃO
Os exercícios de alongamento são habitualmente prescritos pelos professores de
Educação Física, tanto em programas orientados ao treinamento de atletas, como na busca
pela melhora da aptidão física da população em geral. Esses exercícios estão presentes
principalmente nas academias de musculação no que se refere à rotina de treinamento da
maioria esmagadora dos alunos.
No entanto, a literatura científica é bastante controversa quanto aos benefícios que o
alongamento proporciona aos praticantes. Por um lado, encontra-se uma bibliografia que
enumera benefícios importantes atrelados ao alongamento, particularmente vinculado à
diminuição de lesões, produto da prática corporal. Weineck (2003, p. 472) afirma que a maior
elasticidade, mobilidade e capacidade de alongamento dos músculos, ligamentos e tendões,
contribui para maior tolerância à carga e para profilaxia de lesões. Da mesma forma,
Hollmann e Hettinger (2005, p. 154), salientam que “depois de 4-5 alongamentos, pode-se
observar um nítido aumento da elasticidade do músculo. Assim, poucos exercícios de
alongamento antes do começo do treinamento e da competição podem prevenir uma lesão”.
Nesta perspectiva, a lesão ocorreria quando a força excedesse à capacidade de alongamento,
desta forma, o músculo na junção músculo-tendínea, poderá apresentar micro lesões, onde for
o ponto mais fraco, ficando assim, aumentada a possibilidade de lesões (ABDALLAH, 1999,
p. 51).
Por outro lado, diversos autores salientam que não há evidência científica suficiente
para afirmar que o alongamento, prévio ao trabalho físico mais intenso, seja capaz de prevenir
lesões. Dantas (1999) alerta que a relação do alongamento-prevenção de lesões é muito
controvertida, pois as pessoas que se envolvem com a atividade física via de regra afirmam
que o aumento da flexibilidade reduz o risco de lesões, só que isso não foi comprovado
experimentalmente em algumas pesquisas realizadas. Pope et al. (1998) em estudo com
14
militares, constataram que a prática de alongamento estático antes do exercício não foi capaz
de produzir uma redução significativa na incidência de lesões. Em outro estudo, Pope et al.
(2000) investigaram a eficiência do alongamento para reduzir a lesão no membro inferior de
1538 homens recrutas do exército e também não encontrou efeito significativo do
alongamento para prevenir lesões, tanto dos tecidos moles quanto no ósseo. Desta forma, com
o resultado de ambos os estudos, os autores acreditam que a incidência de lesões parece estar
ligada a outros fatores como idade e ao nível de condicionamento físico e não à prática de
alongamento estático antes da atividade física.
Nesse contexto de contradições, no qual não há uma bibliografia unívoca no que se
refere às recomendações sobre a utilização dos exercícios de alongamento nos treinamentos,
assim como na forma que o trabalho deve ser conduzido, surge o interesse por conhecer como
os profissionais da área lidam com essa incerteza. No momento que não se tem um
embasamento científico para estabelecer até que ponto o alongamento pode contribuir na
diminuição, ou eventualmente no aumento de lesões músculo/esqueléticas durante os
treinamentos, torna-se necessário analisar no que os professores de Educação Física que
atuam nas academias sustentam a sua prescrição do alongamento nas aulas. Será que a
prescrição de exercícios de alongamento é uma prática rotineira (não refletida) ou, como
afirmam Fonseca et al. (2009, p. 368), trata-se de uma intervenção sustentada em
conhecimentos profissionais oriundos do processo de construção e reconstrução das
estratégias de ação com base em tomadas de decisões anteriores?
Problema
Quais os pressupostos teóricos que norteiam os professores de Educação Física, de
academias de musculação de uma cidade de porte médio do Estado do Rio Grande do Sul, na
prescrição e orientação dos exercícios de alongamento em programas de treinos resistidos?
Objetivos
Objetivo Geral
Investigar os pressupostos que norteiam os professores de Educação Física de
academias de musculação, de uma cidade de porte médio do Estado do Rio Grande do Sul, na
prescrição e orientação dos exercícios de alongamento em programas de treinamento
resistido.
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Objetivos Específicos
− Descrever o uso/prescrição do alongamento por professores de Educação Física nas
academias de uma cidade de porte médio do Estado do Rio Grande do Sul;
− Conhecer os motivos dos professores para o uso do alongamento em suas aulas;
− Identificar a origem do conhecimento mobilizado pelo professor para explicar suas
escolhas em relação à prescrição dos exercícios de alongamento;
− Analisar e confrontar as opiniões dos professores e ver se há diferença na forma como é
trabalhado o alongamento.
Relevância ou Justificativa
Tenho constantemente buscado saber mais sobre o alongamento, pois praticamente todo
dia as pessoas me pedem alguns alongamentos que possam ser usados para aliviar dores,
tensões musculares e que possam prevenir lesões. Porém, é contraditória a eficiência do
alongamento no tocante a prevenção de lesões, menos ainda se a longo prazo ele ajuda a
aliviar dores que muito acometem, as pessoas. Sendo assim, se há discordância dos potenciais
efeitos do alongamento, busco saber qual é a posição de professores de Educação Física
experientes para manter a prescrição do alongamento nas academias.
1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A partir da segunda metade do século passado, o número de adeptos do exercício
físico aumentou. Pessoas das mais diferentes idades buscam no treinamento melhorar a sua
aptidão física, seja ela voltada ao lazer, a saúde, a estética ou ao condicionamento atlético.
Neste sentido, o alongamento e o aquecimento estão inseridos no contexto dos exercícios
físicos, inclusive na academia onde estes aparecem maciçamente entre os praticantes de
musculação.
No decorrer desta pesquisa, discutiremos esses temas, seus conceitos, os métodos,
além de tratarmos sobre assuntos controversos como é o acaso do alongamento, prevenção de
lesões e flexibilidade. Também debateremos os saberes profissionais dos professores de
Educação Física. Desta forma, saberemos o que a bibliografia coloca e o que as pesquisas de
cunho científico têm descoberto para entendermos com mais precisão sobre esses temas
relacionados anteriormente.
1.1 Alongamento e Aquecimento nas Academias
1.1.1 Aquecimento
O aquecimento proporcionado pela atividade física aeróbica contribui para a elevação
da frequência cardíaca, com isso, prepara o organismo como um todo para as atividades mais
intensas como o trabalho de força. Procuramos agora conceituar o aquecimento sob o ponto
de vista de vários autores. Hollmann e Hettinger (2005, p. 450) entendem “sob o conceito de
‘aquecimento’ as atividades ativas e passivas, gerais e específicas para o estabelecimento de
uma disposição psicofísica ótima antes do treinamento ou da competição”. Weineck (2003, p.
617) complementando a ideia anterior observa que
Sob o termo aquecimento pode-se entender todas as medidas que servem como
preparação para o esporte (seja para o treinamento ou competições). O aquecimento
visa à obtenção do estado ideal psíquico e físico, a preparação cinética e
coordenativa e a prevenção de lesões.
Dantas (1998, p. 227), na mesma linha dos autores anteriores, define aquecimento
como “o conjunto de atividades de diferentes formas que, mediante um volume e uma
intensidade de trabalhos adequados, visam a preparar o indivíduo para o desempenho de
performances máximas”. Pode-se perceber que é unânime entre os autores (DANTAS, 1998;
17
ALTER, 1999; WEINECK, 2003; HOLLMANN E HETTINGER, 2005) que o aquecimento é
uma forma de preparar o indivíduo para a prática ou treinamento desportivo.
O aquecimento pode ser desenvolvido de diferentes formas. Dantas (1998, p. 228),
particularmente, classifica o aquecimento ativo geral em duas categorias
Aquecimento orgânico e aquecimento neuromuscular. O primeiro visa a preparar o
sistema cardiopulmonar para a atividade, enquanto o segundo objetiva uma
preparação geral de toda a musculatura, articulações do corpo e do SNC (Sistema
Nervoso Central). A seguir uma representação esquemática dos métodos.
Figura 1 - Os Diversos Tipos de Aquecimento
Mental
Passivo
Geral
Aquecimento Ativo
Combinado
Orgânico
Neuromuscular
Específico
Somente Neuromuscular
Fonte: Dantas (1998, p. 228).
Algumas das justificativas utilizadas pelos profissionais de Educação Física para se
fazer o aquecimento e o alongamento antes de praticar exercícios físicos ou esportes, é na
defesa que o indivíduo fica menos propenso a lesões musculares. Então, vejamos agora o que
alguns autores concluem acerca do assunto. Simão et al. (2003, p. 135) comentam que
“usualmente, formas de aquecimento são aplicadas com intuito de possibilitar o
funcionamento mais ativo do organismo como um todo, além de prevenir lesões, mesmo
sendo essas evidências questionáveis dependendo das diversas intervenientes”.
Em um estudo de campo, Simão et al. (2003) investigaram se o método de
aquecimento tem influência no teste de repetição máxima. Na amostra, foram selecionados 22
sujeitos do sexo masculino, que foram divididos em dois grupos. Em relação aos resultados
no teste de carga máxima, não houve diferenças significativas nos resultados. Segundo Simão
et al. (2003, p. 137), “o aquecimento específico é um método bastante difundido entre os
praticantes de treinamento de força. Este aquecimento consiste de exercícios ou movimentos
típicos da modalidade”. Em nível do metabolismo Sweet et al. (apud SIMÃO et al., 2003, p.
137), seguem afirmando que “o aquecimento específico aumenta a capacidade coordenativa,
além de favorecer uma redistribuição adequada do sangue e aumento da irrigação dos
18
músculos”. Um pouco mais cauteloso quanto aos prováveis benefícios do aquecimento,
Church (2001, apud CYRINO et al., 2004, p. 11) salienta que
Embora existam pesquisadores que defendam a realização de aquecimento
anteriormente ao início da prática de exercícios de diferentes naturezas, os prováveis
benefícios dessa atividade (elevação da temperatura do músculo, aumento dos
impulsos nervosos, redução da rigidez muscular e articular, diminuição da
viscosidade do músculo, prevenção de lesões) são ainda bastante controversos, na
perspectiva de melhoria do desempenho físico, podendo contribuir ou não, de
acordo com a tarefa motora a ser executada.
Desta forma, conclui-se que faltam evidências científicas que esclareçam quais os
benefícios que o aquecimento proporciona para o indivíduo, necessitando-se de mais estudos
científicos contundentes e esclarecedores a esse respeito.
1.2 Alongamento
1.2.1 Definição de Alongamento
Quando pensamos em alongamento logo vem à mente as dores que ele proporciona,
talvez este seja um dos motivos que afasta as pessoas de tal prática. Mas o alongamento bem
feito não deve ser doloroso, deve-se quando muito sentir um desconforto a nível muscular
(ABDALLAH 1999). Segundo Alter (1999, p. 166), “o que precisa ser ensinado é que o
alongamento é benéfico e potencialmente agradável”. Nesse sentido, é sem dúvida um
obstáculo para os profissionais da Educação Física fazer com que as pessoas se engajem em
exercícios de alongamento, vencendo a barreira que por várias razões vem afastando as
mesmas desta prática.
Podemos encontrar vários tipos de definições que conceituam o alongamento,
variando de um autor para outro, como veremos a seguir. Algumas definições tendem a se
diferenciar quanto aos termos que são usados, por exemplo, para Dantas (1999), o
alongamento mantém os níveis de flexibilidade não indo além do arco articular. Sendo assim,
não tem perigo de causar lesões.
Para aumentar a flexibilidade deve-se usar o flexionamento. Este sim vai além da
amplitude normal da articulação, causando desconforto muscular e, portanto, está propenso a
causar lesão (DANTAS, 1999). Já Abdallah (2002), acredita que o alongamento aumenta os
níveis de flexibilidade indo além da amplitude normal. É importante ressaltar que o
alongamento tem como resultado o aumento da amplitude articular de movimento por meio de
um decréscimo na viscoelasticidade e de um aumento na tolerância ao alongamento
19
(ABDALLAH, 2002). De certa forma não há um consenso entre os autores (DANTAS, 1999;
ABDALLAH, 2002) em se tratando do desenvolvimento da flexibilidade. Como podemos
observar, Dantas (1999) entende que para desenvolver a flexibilidade deve-se usar o
flexionamento, que nada mais é do que o alongamento que causa desconforto. Por sua vez,
Abdallah (2002) entende que o alongamento vai além da amplitude normal e, desta forma, já
estaria desenvolvendo a flexibilidade.
1.2.2 Métodos de Alongamento
Vários são os métodos de alongamento e diferenciam-se basicamente na técnica de
execução. A seguir serão apresentados brevemente cinco os métodos mais conhecidos. Além
disso, será apresentado também os maiores riscos e os benefícios, sendo que cada método de
alongamento apresenta sua particularidade quanto à técnica de execução.
1.2.2.1 Alongamento Balístico
Há certa unanimidade entre os autores (DANTAS, 1998; ABDALLAH, 1999;
ALTER, 1999) quando a questão é o método de alongamento balístico, no tocante ao perigo
de causar lesões no desenvolvimento do mesmo. Alter (1999, p. 174) salienta que
“obviamente, se um tecido é alongado muito rápido, ele pode ser torcido ou rompido”. No
mesmo sentido, Abdallah (1999, p. 117), comenta que
No alongamento balístico as lesões podem originar-se pela superação de força do
grupo muscular, em especial quando houver lesão prévia. Também a força, aliada a
velocidade do movimento, aumenta a tensão, via fuso muscular, estimulando o
reflexo miotático.
Sendo assim, então pela rapidez na execução do movimento o alongamento balístico
poderia trazer prejuízos ao praticante sob a forma de lesões, o que não ocorre no emprego do
método estático como podemos ver a seguir.
1.2.2.2 Alongamento Estático
É considerado um método seguro de grande incentivo por parte de muitos autores
(ABDALLAH, 1999; ALTER, 1999; DANTAS 1999; WEINECK, 2003), pois o músculo é
alongando lentamente. Por isso, esse tipo de exercício é usado na recuperação de lesões, pois
é importante para recuperar a amplitude do movimento, (ABDALLAH, 1999). Sobre o
método estático, Weineck (2003, p. 478) comenta que “o método de stretching (stretch =
alongar) consiste em atingir lentamente uma posição de alongamento (dentro de 5 segundos)
20
e, em seguida, manter esta posição (parte estática do método) pelo tempo de 10 a 60
segundos”.
Conforme nos coloca o autor a seguir, “ao contrário do observado nos métodos
anteriores e em suas variantes o método de stretching (estático) visa reduzir o “reflexo de
estiramento” muscular ao mínimo possível, reduzindo deste modo os riscos de lesões”
(WEINECK 2003, p. 478). Este exercício parece ser um método bem difundido, pois o
mesmo traz segurança na execução, diminuindo assim o risco de causar lesões.
1.2.2.3 Alongamento Ativo
O alongamento ativo caracteriza-se pela utilização da força dos músculos agonistas e
relaxamento dos antagonistas (ALTER, 1999). Por aumentar a circulação sanguínea, ajuda no
aquecimento específico dentro do desporto. No entanto, para o alongamento ativo ser seguro e
não ter risco de lesões deve ser precedido pelo estático (ABDALLAH, 1999).
Dantas (1999, p. 109) fala sobre o método ativo de flexionamento e atesta que
A realização de movimentos de amplitude máxima, em velocidade, estimula o Fuso
Muscular, acarretando o Reflexo Miotático ou Reflexo de Estiramento. Este reflexo
provoca contração da musculatura que está sendo estirada. Devido a esta reação
proprioceptiva, neste tipo de flexionamento, a estrutura limitante ao movimento é,
via de regra, a musculatura antagonista e em especial, os componentes elásticos em
série (parte das fáscias de tecido conjuntivo que ficam entre duas fibras musculares e
entre estas e o tendão) dos citados grupos musculares. Estes métodos enfatizam,
portanto, a Elasticidade Muscular (Grifo do autor).
O termo flexionamento ativo que Dantas utiliza para o desenvolvimento da
flexibilidade é diferente do termo alongamento ativo utilizado pelos demais autores
(ABDALLAH, 1999; ALTER, 1999), mas os objetivos parecem ser semelhantes, ou seja,
acreditam que é um bom método para o desenvolvimento da flexibilidade como parte do
aquecimento específico, melhorando, assim, a elasticidade muscular.
1.2.2.4 Alongamento Passivo
Como o nome sugere não há contração do músculo ou grupo muscular a ser alongado
e sim um relaxamento. Quem determinará a execução do alongamento será um fator externo,
companheiro ou equipamento especial (ALTER, 1999). Comentando o assunto, Abdallah
(2002, p. 112) enfatiza que “o alongamento passivo é feito com a ajuda de forças externas
21
como aparelhos ou fisioterapeuta, estando o praticante passivo, isso é, sem contração
muscular”.
Alter (1999) ainda apresenta a categoria de alongamento ativo-passivo e ativo
assistido. No primeiro só é levemente diferente do alongamento passivo, no qual após ser
usada a força externa, o indivíduo tenta segurar a posição contraindo isometricamente os
músculos agonistas por vários segundos. Já o segundo, é completado pela contração ativa
inicial do grupo de músculos agonistas. A vantagem deste método é que ele pode fortalecer o
agonista fraco que se opõem ao músculo tenso.
1.2.2.5 Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva (FNP)
É preciso compreender o que acontece a nível fisiológico para aplicar essa técnica,
pois é um método que se baseia na contração/relaxamento do músculo ou grupo muscular.
Utiliza-se de contrações isométricas, concêntricas e excêntricas, as quais em geral são feitas
mediante auxílio de outra pessoa. É importante ressaltar que essas contrações provocam a
ativação e inibição do Fuso Muscular e do Órgão Tendinoso de Golgi (ABDALLAH, 1999, p.
117). Destacamos também que esse método foi criado com fins terapêuticos (DANTAS,
1999) e é usado também no treinamento atlético (ALTER, 1999).
Nota-se que ABDALLAH (1999) e ALTER (1999) seguem uma linha parecida de
pensamento no que tange aos métodos de alongamento. Enquanto que Dantas tem uma visão
bem diferente, pois acredita que o alongamento só mantém os níveis de flexibilidade.
Ressaltamos que Abdallah e Alter defendem que o alongamento aumenta os níveis de
flexibilidade. Criam-se aí as dúvidas, ou seja, até que ponto o alongamento previne a lesão e a
partir de que circunstância ele pode vir a causar uma. É o que tentaremos desvelar a seguir.
1.3 Alongamento e Prevenção de Lesões
As lesões musculares no meio desportivo ou até mesmo na vida cotidiana são comuns.
Saber as causas muitas vezes não é possível pela série de fatores que podem produzi-las.
Então, porque não buscar meios que possam prevenir essas lesões? Neste sentido, este é o
principal motivo de abordagem desta pesquisa, saber se o alongamento diminui os índices de
lesões ou se ele pode vir a causar uma. Para tanto, nos deteremos em torno do assunto,
buscando saber o que há na literatura e em estudos científicos a esse respeito.
22
Alguns autores defendem que o grupo muscular forte e alongado terá um melhor
funcionamento e menor predisposição a lesões (COFRE, 1980 apud ABDALLAH, 1999).
Nesta perspectiva, a lesão ocorre quando a força excede à capacidade de alongamento, desta
forma, o músculo na junção músculo-tendínea poderá apresentar micro lesões no ponto mais
fraco (ABDALLAH, 1999, p. 51). Para se obter bons resultados, o alongamento deve ser bem
realizado. Isso implica na escolha de um bom método, entre outros fatores, como estar bem
aquecido para desenvolvê-lo.
Há um consenso entre alguns autores (ABDALLAH, 1999; ALTER, 1999; DANTAS,
1999; WEINECK, 2003; HOLLMANN E HETTINGER, 2005) quanto à eficiência do método
estático na prevenção de lesões. Segundo Hollmann e Hettinger (2005), esse alongamento tem
a duração de 5 a 30 segundos, sendo alcançada uma melhora da mobilidade, que é empregada
na profilaxia de ruptura muscular e ruptura de tendão. Os mesmos autores afirmam que
“depois de 4-5 alongamentos, pode-se observar um nítido aumento da elasticidade do
músculo. Assim, poucos exercícios de alongamento antes do começo do treinamento e da
competição podem prevenir uma lesão” (HOLLMANN E HETTINGER, 2005, p. 154). Mas
em pesquisas realizadas (POPE et al., 1998; POPE et al., 2000; WHATMAN et al., 2006;
BABAULT et al., 2010), não foram encontradas evidencias significativas que sustentam a
ideia de que o alongamento realizado antes do exercício possa prevenir lesões.
Pope et al. (1998), em estudo envolvendo 1.093 recrutas militares, analisaram os
efeitos do alongamento de gastrocnêmios e sóleo realizado antes da atividade física sobre a
incidência de lesão. Os participantes realizaram treinamento físico em dias alternados durante
11 semanas, totalizando 40 sessões. Os referidos autores constataram que a prática de
alongamento estático antes do exercício não foi capaz de produzir uma redução significativa
na incidência de lesões.
Em outro estudo Pope et al. (2000) investigaram a eficiência do alongamento para
reduzir lesão no membro inferior de 1538 homens recrutas do exército do sexo masculino. O
estudo teve a duração de 12 semanas, no qual um grupo realizou aquecimento antes das
sessões de treino e outro grupo, além do aquecimento realizou uma repetição de alongamento
estático mantido por 20 segundos para seis grandes músculos dos membros inferiores. Não foi
encontrado efeito significativo do alongamento para prevenir lesões, tanto dos tecidos moles
quanto no ósseo. Desta forma, com o resultado de ambos os estudos, os autores acreditam que
23
a incidência de lesões parece estar ligada a outros fatores como a idade e o nível de
condicionamento físico, e não à prática de alongamento estático antes da atividade física.
Hebert e Gabriel (2002) revisaram a literatura e constataram que há pouca evidência
para manter a ideia de que o alongamento antes do exercício previne lesões. Quatro dos
artigos analisados avaliaram os efeitos do alongamento na dor muscular tardia e dois
investigaram o efeito do alongamento na redução do risco de lesões. De acordo com os
resultados encontrados nos artigos, conclui-se que o alongamento antes e depois do exercício
não diminuiu significativamente o risco de lesão e na diminuição da dor muscular tardia. No
entanto, Atsushi e Ping-Zong (2008), em experimento com ratos, confirmaram a existência de
pré-condicionamento ideal do alongamento, podendo ajudar na prevenção e redução de
lesões.
Jamtvedt et al. (2010) concluíram em sua pesquisa que alongamento antes e após a
atividade física não reduz de forma significativa todas as lesões, mas que provavelmente,
reduz o risco de algumas lesões, reduzindo também o risco de dor incômoda. Noutro estudo
Amako et al. (2003) fizeram um estudo prospectivo e analisaram o efeito do alongamento
estático sobre a prevenção de lesão em recrutas militares. Os sujeitos foram divididos em dois
grupos, sendo que o primeiro grupo (n=518) foi submetido ao programa de exercício de
alongamento antes e após o treinamento físico, e o segundo grupo (n=383) foi submetido
apenas ao programa de treinamento físico.
Os referidos autores concluíram através dos resultados que o grupo que foi submetido
ao alongamento antes e após o treinamento físico teve uma incidência menor de lesões
musculoesqueléticas quando comparado ao grupo que não foi alongado. Brooks et al. (2006)
realizaram um estudo de coorte para avaliar a incidência de lesões dos músculos isquiotibiais
em atletas profissionais de rugby. As atividades de corrida representaram 68% das lesões
musculares dos músculos isquiotibiais. Contudo, as lesões resultantes do chute foram as mais
graves (36 dias de afastamento dos treinos). Os jogadores foram submetidos a um programa
de alongamento e fortalecimento muscular que resultou em menores incidências de lesões
musculares durante o treino e competição.
Tendo isso em vista, a eficácia do alongamento em prevenir lesões ainda não é bem
conhecida ou é bastante contraditória, como podemos observar acima. Fatores dos mais
variados parecem ter maior influência na prevenção de lesões, como nível de
24
condicionamento físico do indivíduo, idade, tipo de alongamento, frequência de treino,
duração e intensidade dos treinos. Desta forma, há pouca evidência sobre a relação entre o
alongamento e a prevenção de lesões.
1.4 Flexibilidade e Prevenção de Lesões
Outra questão muito discutível a ser abordada é se a flexibilidade diminui os riscos de
lesões. Segundo Enoka (2000, apud PARDO, 2005, p. 12), “a flexibilidade é definida como a
amplitude de movimento voluntário combinado de um grupo de articulações em um
determinado sentido”. Para Platonov e Bulatova (2003, p. 159) “a flexibilidade compreende as
propriedades morfofuncionais do aparato locomotor que determinam a amplitude de distintos
movimentos do atleta”.
Pardo (2005, p. 37) salienta no tocante a flexibilidade e prevenção de lesões que,
“quando se aborda o assunto sobre ter uma boa postura, de fato fala-se em equilíbrio
musculoesquelético, pois este sistema vai proteger as estruturas do corpo contra lesões e
contra as deformidades que ocorrem no envelhecimento normal”. Da mesma forma, Alter
(1999 apud PARDO, 2005, p. 11) vê relação da flexibilidade e prevenção de lesões quando
comenta que
A postura associada ao equilíbrio muscular está também relacionada à flexibilidade,
que demonstrará ter uma amplitude de movimento articular sem restrições. A
manutenção desta amplitude articular é componente essencial para um programa de
reabilitação e está relacionada à prevenção de lesões.
Platonov e Bulatova (2003) acreditam que uma mobilidade articular insuficiente limita
os níveis de força, velocidade e coordenação, consequentemente provocará uma redução na
economia e pode ser uma das causas de ocorrência de lesões mioarticulares. Os mesmos
autores alertam para a flexibilidade excessiva afirmando que “por outro lado, deve ser
considerado que um nível excessivo de flexibilidade pode acarretar consequências negativas:
a desestabilização das articulações e o aumento do risco de ocorrência de lesões”
(PLATONOV E BULATOVA, 2003, p. 160).
Já Fox (1989), salienta que os atletas com níveis satisfatórios de flexibilidade ficam
menos suscetíveis a certas lesões musculares. Witvrouw et al. (2003) confirmaram em
pesquisa que jogadores de futebol com maior flexibilidade dos isquiotibiais estão menos
propensos a lesões, porém não encontraram diferença significativa para músculo adutor e
panturrilha. Dantas (1999, p. 78), expressando seu pensamento, acha esse assunto muito
25
controvertido, pois as pessoas que se envolvem com a atividade física, via de regra, afirmam
que o aumento da flexibilidade reduz o risco de lesões, só que isso não foi comprovado
experimentalmente.
Neste sentido, Darden (1980, apud DANTAS, 1999, p. 178) comenta que
Pode ser meramente “ouvir dizer”, ou talvez em efeito de placebo, que faz com que
a maior parte das pessoas envolvidas com esporte acredite que o aumento da
flexibilidade diminui as lesões. Talvez seja um pouco de ambos, mais um sincero
desejo de acreditar em alguma coisa que faça sentido. Porém, deve ser reiterado que
estudos controlados que comprovem que o aumento da flexibilidade previne lesões
não existem.
Sharkey tem uma visão diferente sobre essa questão (1984, apud DANTAS, 1999).
Segundo este autor, as lesões ocorrem quando um membro é forçado além de sua angulação
de utilização normal. Desta forma, com o aumento da flexibilidade reduzirá este risco.
Corroborando com a escrita acima, Weineck (2003, p. 472) afirma que “um desenvolvimento
ideal da flexibilidade leva a uma maior elasticidade, mobilidade e capacidade de alongamento
dos músculos, ligamentos e tendões, contribuindo assim para maior tolerância à carga e para à
profilaxia de lesões”. Porém o mesmo autor prevê alguns riscos de lesões conforme o método
empregado. Neste caso, os métodos ativo e passivo oferecem oscilações pela alta intensidade
nos exercícios, ativando os fusos musculares, consequentemente desencadeiam reflexos
musculares que oferecem o risco de lesões, sendo diminuído este risco no emprego do método
estático (WEINECK, 2003).
Como pôde ser observado, pouca flexibilidade pode causar lesões. O mesmo pode
ocorrer quando se adquire níveis muito elevados de flexibilidade, teria que haver um
equilíbrio entre ambos para correr menos riscos de desenvolver uma lesão. Com certeza a
necessidade de mais estudos a cerca da questão é eminente, deve haver um equilíbrio para o
indivíduo não correr riscos. Conforme a exigência do esporte deve-se adaptar os níveis de
flexibilidade para que esta possa ajudar a prevenir a lesão e não vir a causar uma.
1.5 Os Saberes Profissionais dos Professores de Educação Física e a Prescrição de
Exercícios
É através das diferentes fontes de conhecimento que se tem acesso, sejam elas
oriundas da graduação, livros, artigos, congressos científicos, cursos, entre outros, é que os
profissionais, nesse caso específico os professores de Educação Física, adquirem o
conhecimento. Neste contexto de aprendizagem constante, aparece outra maneira de aquisição
26
do conhecimento, trata-se das experiências vivenciadas no dia-a-dia da atuação profissional.
A seguir discutiremos como são adquiridos os conhecimentos profissionais e de que forma os
professores articulam este conhecimento para as tomadas de decisões.
1.6 Os Saberes Profissionais dos Professores de Educação Física
O conhecimento no campo da Educação Física é amplo, assim como da mesma forma
a área de atuação é bem abrangente. Saber um pouco de cada área de atuação é possível, mas
ter amplo domínio de todo conhecimento não é tarefa fácil e são poucas pessoas que possuem
essa capacidade e, certamente, levaram muitos anos para chegar nesse patamar.
O profissional, ao longo de sua formação e na prática do seu dia-a-dia, vai produzindo
“convicções” sobre a forma de atuar, que se estabelecem de acordo com as informações
adquiridas e vivenciadas. Sejam elas oriundas do embasamento teórico ou da experiência que
adquiriu com as práticas cotidianas, sendo que esta última está em constante modificação.
Como salienta Fonseca et al. (2009, p. 368)
A cada situação vivenciada, o profissional constrói e reconstrói suas estratégias de
ação com base em tomadas de decisão anteriores, e nelas ele articula constantemente
os conhecimentos formalizados incorporados em suas ações como elementos tácitos
na constituição de sua intervenção.
Fonseca et al. (2009) entendem que grande parte do conhecimento que o profissional
detém é transformado a cada dia, e muitos saberes são adicionados aos que já foram
dominados, sendo que poucos profissionais tem consciência disso. Então, o processo de
aprendizagem se faz continuamente ocorrendo durante praticamente toda carreira profissional,
seja por meio de congressos técnico/científico ou outros tantos meios possíveis. Assim o
profissional estará sempre em formação.
Não muito diferente o conhecimento dos professores de academias também deve ser
vasto, ter um bom domínio relacionado à anatomia, cinesiologia, fisiologia e também entender
um pouco de outras áreas como nutrição, fisioterapia, a própria medicina, pois assim o
professor terá condições de interpretar aquilo que é encaminhado pelo médico ao seu aluno.
Não obstante, a psicologia também pode trazer grandes contribuições, pois com ela podemos
entender um pouco mais nossos alunos, um exemplo seria a compreensão dos aspectos
subjetivos dos exercícios relacionados às sensações de alívio e de bem estar que os alunos
sentem após determinados exercícios. Este conhecimento, além de sua área, torna-se um pré-
27
requisito para a especificidade de trabalho deste ambiente. Fonseca et al. (2007, p. 152)
comentam que
Por ter um vasto campo de estudo, entendemos que a intervenção profissional deva
ser observada por uma visão mais ampla de sua realidade, através da captação das
influências e interferências subjacentes ao campo profissional. Nessa perspectiva, o
processo pelo qual o profissional de Educação Física obtém, transforma e intervém
com seus conhecimentos, passa por modificações resultantes de sua própria história
de vida, do contexto no qual está inserido e do tipo de formação ao qual foi
submetido. Sendo assim, constituem a cultura profissional na Educação Física.
Certamente este conhecimento não é adquirido somente no curso de graduação, no
qual muitas vezes tende a priorizar uma formação mais generalista. Nascimento et al. (2007,
p. 394) destaca que muitos profissionais mantêm características ainda voltadas ao currículo
generalista. Neste sentido,
Apesar da maior parte dos cursos de formação profissional em Educação Física,
atualmente, atender a demanda pela formação de dois perfis profissionais distintos, o
bacharelado e a licenciatura, ainda não se pode negar que, grande parte dos
profissionais formados ou em formação, ainda hoje, parece carregar uma herança do
currículo generalista.
Segundo Nascimento et al. (2007), a aquisição do conhecimento mais específico na
academia vem com o passar do tempo, com o aprofundamento em determinadas áreas, com a
participação em cursos de capacitação profissional, congressos e eventos científicos, já que
permite ao profissional atuar com mais segurança e competência no seu ambiente de trabalho.
A teoria e a prática devem permanecer juntas na intervenção dos professores em seu
ambiente de trabalho, para que se possa ter um melhor discernimento nas ações tomadas
diariamente. Alguns professores não conciliam teoria e prática em seu trabalho e acabam por
aplicar somente os conhecimentos oriundos da prática, esquecendo assim da importância de
combinar essas duas variantes. No tocante ao assunto, Fonseca et al. (2009, p. 379) comentam
que
É urgente a necessidade da integração entre teoria e prática dos conteúdos da
Educação Física, antes que emergentes demandas de mercado absorvam o
profissional e o tornem reprodutor de ações práticas para sobreviver no mercado de
trabalho, em vez de o tornarem criador e controlador das próprias ações, em
diferentes contextos sociais.
Desta forma, percebemos a importância que o profissional de Educação Física vem
adquirindo com o passar dos anos. Em atividades como a musculação não é diferente, na qual
a cobrança de resultados da parte dos alunos é grande. Sendo assim, é dever dos professores
28
tentar minimizar os erros, buscando mais conhecimento. Portanto, acreditamos que desta
maneira, com qualificação/atualização agregada à sua atuação prática, que permite estar em
constante aprendizado com as situações que surgem no seu dia-a-dia, o profissional poderá
minimizar os erros dentro de seu campo de atuação.
1.7 O Conhecimento Mobilizado pelos Professores de Educação Física na Prescrição do
Exercício Físico: O Caso do Alongamento
Nos últimos anos têm aumentado o número de pesquisas que buscam conhecer como
ou de que forma os professores que orientam os programas de exercícios físicos, mobilizando
seus conhecimentos para intervir no treinamento de seus alunos (SORIANO, et al., 2004;
FONSECA et al., 2007; FONSECA et al., 2009). Os estudos consultados (SORIANO, et al.,
2004; FONSECA, et al., 2007; FONSECA, et al., 2009) têm características parecidas, são em
grande parte etnográficos, realizados dentro das academias através de entrevistas e
observações das aulas dos professores, buscando compreender a realidade em que os
profissionais constroem seus conhecimentos.
Nos estudos citados anteriormente, foram encontrados dados importantes de como os
profissionais articulam o conhecimento. Fonseca et al. (2007) vai a campo e faz trinta e uma
observações de uma professora de Educação Física no período de nove meses. A professora
possuía 35 anos e atuava na clínica já há dois anos. Foram realizadas quatro entrevistas com
base no que tinha sido coletado nas observações, na ordem de ocorrência dos fatos. Uma
constatação feita nesse estudo, segundo Fonseca et al. (2007), foi de que a professora
investigada construía suas aulas com diversos conhecimentos existentes na Educação Física e
em outras áreas, porém sempre buscava realizá-los conforme as prioridades dos alunos, com
relação ao diagnóstico do médico. Desta forma, construía e reconstruía grande parte de seu
conhecimento a cada dia, sendo muitos saberes adicionados aos que já tinham sido
dominados. Fonseca, et al. (2007, p. 173) comentam que os
[...] conhecimentos adquiridos com as experiências da profissional, modificam e
transformam os seus conceitos e pré-conceitos conforme as situações do seu dia-adia, o que significa que a formação do profissional não ocorre apenas na graduação,
nas especializações ou em outros tipos de cursos preparatórios, mas sim
continuamente, através de seus próprios interesses e necessidades. Além disso, as
regras do ambiente de trabalho, e as trocas constantes entre a profissional e o meio
no qual ela está inserida influenciaram diretamente na maneira como a intervenção
foi e é constituída.
Em outro estudo etnográfico Fonseca et al. (2009) observa um professor dentro da
academia que atuava como personal trainer, durante um ano e nove meses. Dentre os achados
29
importantes nesta pesquisa foi que na intervenção do profissional os conhecimentos oriundos
da experiência prática prevaleceram sobre os conhecimentos teóricos adquiridos na
preparação profissional (graduação). Concluíram então, que os conhecimentos teóricocientíficos que podem ter contribuído para melhorar a formação nem sempre eram aplicados
na intervenção. Fonseca et al. (2009, p. 379) comentam que o professor usava seus atributos
físicos para ganhar a confiança dos alunos
O seu porte físico é utilizado como um chamariz que implicitamente diz aos outros
que é possuidor de conhecimentos suficientes (conhecimentos da prática) para a
função que realiza e é por meio dele que o profissional conquista a confiança dos
“alunos”. Nota-se então que o participante do estudo usa de seus atributos físicos
para se firmar como autoridade no seu campo profissional e mede suas intervenções
pelo retorno que tem dos investimentos na própria imagem corporal, e não
necessariamente em conteúdos de preparação teórico-metodológica, ou mesmo
conceituais do treinamento propriamente dito.
Neste contexto, segundo Fonseca et al. (2009), é necessário que haja urgentemente
uma integração entre teoria e prática dos conteúdos na Educação Física, para que o
profissional não se torne um mero reprodutor de ações práticas. O mesmo autor notou que o
apelo midiático e as intenções do aluno servem como referencia para a elaboração e
prescrição de determinados exercícios, especialmente no caso das mulheres. O autor comenta
que agregar os objetivos do aluno e articular com conhecimento formal é tarefa complexa,
pois o conhecimento interpessoal, instrumental e persuasivo está presente no campo de
atuação da Educação Física.
Destacamos que
No caso das mulheres, as condutas relacionadas ao contínuo controle alimentar, de
exposição do corpo e da constante obstinação pelos centímetros de circunferência a
menos, que tange à moda feminina de magreza e definição muscular, esclarecem o
fato de essas relações terem um impacto na autoimagem. Principalmente das
mulheres, que, levadas pelo apelo midiático, cooptam o simbólico feminismo para o
alcance do corpo perfeito e, por sua vez, servem de referência para a escolha dos
tipos de exercício e para a construção da sequência de treinamento. Assim, agregar
as intenções dos “alunos” aos conhecimentos de cunho formal e organiza-los numa
sequência que possa trazer resultados e respaldo tanto para os “alunos” quanto para
o profissional é uma tarefa de ordenação complexa, já que exige um conhecimento
interpessoal, instrumental e persuasivo, elementos cada vez mais presentes no cerne
da intervenção profissional em Educação Física (FONSECA, et al., 2009, p. 376).
Como pode ser visto, uma grande quantidade de estratégias é usada pelos profissionais
na prescrição dos exercícios. E são vários fatores que levam a isso, a mídia, os objetivos do
aluno, os objetivos do professor e, desta forma, em alguns casos são esquecidos ou deixados
30
em segundo plano os conhecimentos teórico-científicos, que formam o alicerce na formação
inicial do professor.
Por sua vez, Soriano et al. (2004) investigou três professores por aproximadamente 3
meses, com metodologia bastante parecida das pesquisas anteriormente descritas. O referido
autor constatou também que os professores investigados, apoiavam-se no conhecimento
existente
em
outras
áreas
para
organizar
suas
intervenções,
especialmente
na
interdisciplinaridade com a área médica, a qual os professores usavam para justificar suas
ações. O autor também acredita que os anos de experiência dos professores são muito
importantes e um meio na construção do conhecimento. Para Soriano, estratégias são criadas
de maneira competente à medida que surgem os problemas, tendo como base as experiências
em ações passadas. Para tanto o autor afirma que
É possível que o número de anos de experiência profissional tenham suprido, por meio
da construção pessoal de cada um, as referências para fomentar sua própria
intervenção, assim como ofereceram um volume suficiente para as combinações e
micro-adaptações realizadas cotidianamente, já que é comum à fala dos três que a
principal fonte de aprendizagem profissional, decorreu de tentativas e
experimentações que iam realizando durante o seu desenvolvimento profissional
(SORIANO, et al., 2004, p. 18).
Em síntese, os estudos citados apontam que muitos são os elementos que se combinam
na hora do profissional de Educação Física intervir. Além do conhecimento teórico, as
experiências passadas são importantes e os profissionais tendem a repetir as ações que deram
certo em ocasiões passadas, assim como repensar algo que refletiu negativamente em outros
momentos. A consulta em livros, inclusive de outras áreas também ajuda os profissionais da
área a organizar suas ações, porém o acesso a artigos científicos foi pouco mencionado nos
estudos analisados. Assim como a participação em congressos é importante, o conhecimento
de cunho científico é indispensável, para que se possam transformar as novas aquisições em
ações mais seguras e dentro da realidade das novas descobertas. A busca incessante pelo saber
é fundamental para que se possa diminuir a possibilidade do erro quando se prescrevem
determinados exercícios. Mas esse mesmo erro é valioso para o profissional quando este toma
consciência dele, pois assim tem a oportunidade de criar e recriar as suas ações nas
intervenções no meio em que está inserido.
2 METODOLOGIA
2.1 Tipo de Pesquisa
A pesquisa desenvolvida é do tipo exploratória e seu delineamento é de estudo de
campo, de corte qualitativo.
2.2 Sujeitos da Pesquisa
Participaram da pesquisa oito professores de Educação Física, formados em três
décadas diferentes, 1980, 1990 e 2000, com pelo menos cinco anos de experiência na área da
academia e dispostos a participar da pesquisa (Tabela 1). Os professores foram contatados a
partir da visita a cinco academias, duas destas voltadas ao atendimento personalizado. A
seleção destas academias teve dois critérios, a saber: 1º) academias que trabalham em duas
perspectivas de treino, individualizado, no qual normalmente se tem um professor por aluno e
academias que atendem um maior fluxo de pessoas não possuindo treino individualizado e 2º)
pelo fato dos profissionais que nelas trabalham se enquadrarem nos requisitos básicos da
pesquisa, como estarem atuando a mais de cinco anos nessa área e se disponibilizarem a
participar do estudo.
32
Tabela 1 - Características Gerais dos Sujeitos Entrevistados
CARACTERÍSTICAS
Idade
FREQUÊNCIA
35 aos 47
F=4
Sexo
M= 4
Unijuí = 5
Instituição Formadora
Outras = 3
1980 – 1989
Ano Conclusão
Graduação
1990 – 1999
2000 – 2009
Sim = 62,5%
Pós Graduação
Não = 37,5%
De 5 a 10 anos = 62,5%
Exp. Profissional
De 11 a 20 anos = 37,5%
25h = 12,5%
Atuação
40h = 25%
+ de 40h = 62,5%
2.3 Procedimentos
Primeiramente foram contatados os professores para saber se aceitavam participar da
pesquisa. Para manter o anonimato foram utilizados pseudônimos. A entrevista se deu em
uma sala individual, onde entrevistador e entrevistado pudessem ficar à vontade, sem
interferência externa para a coleta dos dados. Foi apresentado também aos entrevistados o
termo de consentimento livre e esclarecido da entrevista gravada em áudio, assim como as
informações referentes ao projeto conforme anexo B.
33
2.4 Coleta de Dados
Os dados foram coletados entre os meses de setembro e novembro de 2011. As
entrevistas foram agendadas através de um contato prévio e realizadas em data e horário
marcado pelos professores, sendo que os oito entrevistados concederam uma entrevista cada
um. O diálogo foi gravado em áudio e transcrito na íntegra, para posteriormente ser analisada.
2.5 Instrumento
Como instrumento de pesquisa foi utilizada uma entrevista semiestruturada (Apêndice
I) com gravação em áudio. As questões da entrevista focaram núcleos de conteúdos: dados
pessoais, formação acadêmica, experiência profissional, concepções.
3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Para uma melhor compreensão e interpretação dos dados obtidos, o trabalho foi
organizado em tópicos, de tal maneira que as falas dos entrevistados pudessem ser analisadas
de forma conjunta. Os tópicos analisados são: os objetivos da prescrição do alongamento,
relação entre o alongamento e prevenção de lesões, outros objetivos para prescrição do
alongamento, diferença entre alongamento e flexionamento, métodos de alongamento que são
utilizados durante as sessões de treino, a orientação do alongamento, cuidados com a
prescrição do alongamento, a origem do conhecimento, a relação entre a formação inicial,
características profissionais e a prescrição do alongamento. O conteúdo das falas foi
organizado de acordo com semelhanças e diferenças, sendo trazidas para o texto as
informações mais importantes e pertinentes ao estudo.
3.1 Objetivos, Métodos, Orientação e Cuidados na Prescrição do Alongamento
Neste tópico serão apresentados e discutidos os dados, referente aos objetivos da
prescrição do alongamento pelos professores entrevistados. Diante de varias respostas, foram
organizados tópicos para uma melhor compreensão e discussão destes dados (alongamento e
prevenção de lesões, outros objetivos para a prescrição do alongamento, diferença entre
alongamento e flexionamento, métodos, orientação e cuidados na prescrição do alongamento).
A discussão se detém em expor a fala dos entrevistados, de forma que possamos analisá-las
no que há em comum e de diferente e, quando conveniente, manter relação com o referencial
teórico abordado no primeiro capítulo desta pesquisa.
3.1.1 Quais os Objetivos da Prescrição do Alongamento pelos Professores
Normalmente quem vai a uma academia encontra máquinas destinadas ao treinamento
de força, pesos livres, esteiras, bicicletas, bolas medicinais, etc., mas também encontra um
espaldar para a realização de alongamentos. O alongamento é um tipo de exercício muito
utilizado pelas pessoas em geral, mas com que propósito e recomendações sobre sua
realização os professores de academias o prescrevem aos alunos, é o que buscamos conhecer
nesta parte da pesquisa.
Quando os professores participantes da pesquisa foram questionados sobre os
objetivos da prescrição do alongamento surgiram opiniões distintas, entre elas a de prevenção
de lesões. Para apresentar os resultados, inicialmente vamos descrever como os profissionais
35
se posicionaram na relação alongamento-prevenção de lesões. Na sequência será apresentada
uma análise mais global dos outros objetivos que pautam a prescrição do alongamento.
3.1.1.1 Relação entre o Alongamento e Prevenção de Lesões
Iniciamos este tópico apresentando aqueles que assinalaram “espontaneamente” o
alongamento como um tipo de prática que previne lesões. Em seguida, descrevemos a posição
daqueles que foram indagados diretamente sobre o tema, por não terem mencionado o assunto
entre os benefícios e no final comentaremos o caso do professor que, contrário aos anteriores,
levantou a possibilidade de que o alongamento possa ser um facilitador da lesão.
Dos oitos professores entrevistados, apenas três, de forma espontânea, atribuíram ao
alongamento a capacidade de evitar ou diminuir a possibilidade de um problema
osteomuscular produto das atividades realizadas no treinamento.
Silvia é a professora que entende ser arriscado para um aluno, particularmente, em
uma etapa inicial de treinamento, começar uma a aula sem
Silvia: Formada desde 2001,
em licenciatura, 38 anos. Não
possui pós-graduação. Atua há
6 anos com musculação.
Trabalha 12 horas por dia em
academia, totalizando 60 horas
semanais,
divididas
entre
musculação e spinning.
alongamento. Não dá para “colocar [o aluno] ‘dentro’ do
aparelho e [dizer] faz como for... ele pode se lesionar porque
não alongou bem [...] acho mais importante o alongamento
antes do que depois, com certeza, preparar o músculo para
ele fazer a atividade”. É a professora que se mostra mais
convicta sobre a relação positiva entre alongamento e prevenção de lesões.
Na mesma linha de Silvia, Pedro aponta como óbvio o efeito do alongamento na
prevenção de lesões quando realizado como parte ou junto com o aquecimento: “[...] todo
mundo aprende desde pequeno nas escolas [que] o
Pedro: formado desde 1989,
em licenciatura. 47 anos.
Não possui pós-graduação.
Atua há aproximadamente 18
anos
com
musculação.
Trabalha 10 horas por dia em
academia, totalizando 50
horas semanais.
alongamento serve para evitar lesões, que ele serve como um
“pré-aquecimento” que é muito importante [...]”. Além desse
efeito, também entende que o alongamento diminui as dores
musculares tardias e aumenta a flexibilidade. Em linhas gerais,
Pedro está convencido que “[...] o alongamento é sempre
importante. Antes, durante e depois. Tu não tens o que fazer, porque o alongamento nunca é
demais”. Pensando desta forma, parece que Pedro vê pouca probabilidade do alongamento
causar algum dano ao indivíduo. Talvez por isso, não reflita sobre a conveniência ou não da
realização do exercício.
36
Cristian, mais próximo de Pedro, coloca a prevenção
Cristian: formado desde 2004,
em bacharelado e licenciatura,
35 anos. Possui pós-graduação.
Atua a aproximadamente há 6
anos com musculação. Trabalha
5 horas por dia em academia
totalizando 25 horas semanais.
de
lesões
como
um
dos
benefícios
atrelados
ao
alongamento, mas não único e, talvez, não o central. Na
entrevista explica que usa o alongamento “[...] como
aquecimento no início, como volta à calma no final ou, nos
casos específicos, de aumentar a flexibilidade, aumentar a
elasticidade muscular e trabalha também na perspectiva de prevenir lesões”. Como se pode
notar, Cristian tem mais de um objetivo com a prescrição do alongamento, também entende
que este exercício poderá proteger o músculo e as articulações de movimentos bruscos. Estas
últimas são ideias novas que não foram encontradas em outras falas, tornando assim, seu
relato bem peculiar.
Diferentes destes três profissionais, nenhum dos outros cinco professores entrevistados
apontou o alongamento como objetivo de prevenir lesões de forma espontânea. Quando Cátia,
Maria, Roger, Jaqueline e Carlos foram indagados sobre a relação do alongamento e a
prevenção de lesões, surgiram respostas variadas.
Cátia ficou confusa, acabou tendo duas visões diferentes sobre o mesmo assunto e
tenta explicar o porquê acredita que o alongamento pode ou não ter relação com a prevenção
de lesões “[...] Tem e não tem! São questões diferentes, tem
Cátia: formada desde 1989, em
licenciatura, 45 anos. Possui
pós-graduação.
Atua
aproximadamente há 16 anos
com musculação. Trabalha 8
horas por dia em academia
totalizando 40 horas semanais.
porque [sem alongamento] tu vais fazendo uma tensão
muscular, vais fazendo uma limitação, pode vir a ter lesão.
Não tem pelo seguinte, pelo histórico genético, tu podes ter
um trauma que é uma coisa que “tava” na pessoa totalmente
saudável e de repente teve um trauma então há dois pontos
diferentes [...]”. As duas visões de Cátia não ficaram muito claras, mas subentende-se que na
primeira o alongamento ajudaria a diminuir a tensão muscular e a limitação, por isso teria
relação com a prevenção de lesões. Enquanto que na segunda, o indivíduo poderia ter uma
pré-disposição genética ou lesões passadas, desta forma, mesmo com o alongamento não
poderia vir a preveni-las.
Maria, por sua vez, afirma com mais convicção em relação ao alongamento e a
prevenção de lesões, por mais que a mídia diga que não seja importante como comenta. “[...]
Com certeza! Com certeza! Não deixo de alongar meu aluno, por mais até que a própria
mídia já trouxe que o alongamento na parte inicial da aula não é importante, teve agora [...]
37
Maria: formada desde 1997,
em bacharelado e licenciatura,
41 anos. Possui dois cursos de
pós-graduação.
Atua
aproximadamente há 11 anos
com musculação. Trabalha 10
horas por dia em academia de
atendimento
personalizado,
totalizando 50 horas semanais.
no Fantástico, dizendo que até alguns alunos questionaram de
certa forma experimentar, eu acho que ele fez uma colocação
errada na verdade, eu valorizo e muito”. Chama a atenção o
fato de Maria não concordar com o que a mídia expôs na
reportagem exibida em rede nacional. Ela se refere ao programa
Fantástico que exibiu uma reportagem em que o educador físico
entrevistado, entendia que o alongamento não era importante no
início do exercício físico. Mesmo que a mídia tenha apresentado esta reportagem, Maria
mantém-se convicta de que o alongamento é muito importante no início e no final da aula, não
sendo influenciada nesse caso pela mídia. Fato que não foi encontrado no estudo de Fonseca
et al. (2009) em que a mídia era um dos determinantes para a escolha de alguns exercícios.
Seguindo nessa mesma linha de Cátia e Maria, Jaqueline também entende que possa
existir relação entre o alongamento e a prevenção de lesões
Jaqueline: Formada desde
2004, em bacharelado e
licenciatura, 38 anos. Possui
pós-graduação. Atua há 7 anos
com musculação. Trabalha 10
horas por dia em academia de
atendimento
personalizado,
totalizando 50 horas semanais.
como relata a seguir: “[...] o alongamento também ajuda sim
a prevenir [lesões] acho que não faz tudo sozinho, [...] mas
não pede ser exagerado, principalmente o aluno que tem
mais limitação, [algo] mais para relaxar e não ‘tensionar
ele’, mas eu acho que tem relação sim para prevenir [...]”.
Jaqueline faz um alerta quando salienta que o alongamento não pode ser exagerado. Esse
cuidado seria no sentido de preservar o aluno, especialmente aquele que possui limitações e
que necessita de um controle tensional maior do alongamento, para que não saia prejudicado
com lesão ou algum desconforto. Salienta ainda, que o aquecimento tem influência também
na prevenção de lesões, a utilização dos dois (aquecimento e alongamento) poderia maximizar
esses ganhos. Este mesmo pensamento de Jaqueline não foi encontrado em outras falas.
Três professores (Cátia, Maria e Jaqueline) de alguma forma entendem que possa
existir uma relação entre o alongamento e a prevenção de lesões, mas apenas três (Sílvia,
Pedro e Cristian) disseram ter como objetivo a prescrição do alongamento para prevenir
lesões. Essa relação do alongamento e a prevenção de lesões que a grande maioria dos
professores investigados disseram acreditar que exista, não vem ao encontro de algumas
pesquisas realizadas (POPE et al., 1998; POPE et al., 2000;WHATMAN et al., 2006;
BABAULT et al., 2010), em que os resultado não foram contundentes em relação ao assunto.
38
Contrário à opinião dos colegas, Roger não vê
Roger: formado desde 2004,
em bacharelado e licenciatura.
37 anos. Não possui pósgraduação.
Atua
aproximadamente há 7 anos
com musculação. Trabalha 10
horas por dia em academia de
atendimento
personalizado,
totalizando 50 horas semanais.
relação entre alongamento e prevenção de lesões. A
justificativa para tal posição está alicerçada na sua
experiência: “[...] acredito que não tenha relação, pois
quando estava no Clube [de futebol profissional] tinha
jogadores com bastante flexibilidade e outros que tinham
pouca flexibilidade e lesões ocorreram mais em jogadores
que tinham mais flexibilidade, então não vejo que o
alongamento previne lesões”. Não podemos esquecer que alongamento e flexibilidade não
são sinônimos, assim, Roger acaba de certa forma, usando os conceitos de forma equivalente
para justificar sua visão. Roger então vê nesta capacidade motora a não relação entre o
alongamento e a prevenção de lesões, pois se o alongamento desenvolve a flexibilidade,
teoricamente alunos com maior grau desta qualidade física teriam menores pré-disposições a
lesões, e o que ele constatou foi o contrário, quem tinha menor nível de flexibilidade teve
menos lesões. O que Roger verificou está de acordo com o que Dantas (1999) salienta que
muitas pessoas se envolvem com a atividade física e passam a acreditar que o aumento da
flexibilidade reduz o risco de lesões, só que não há comprovação científica a esse respeito.
3.1.1.2 Outros Objetivos para a Prescrição do Alongamento
Aqui serão apresentados os objetivos que os professores relataram ter quando
prescrevem o alongamento no início e no final da aula. Os propósitos dos professores
apresentam semelhanças e diferenças como veremos a seguir.
Cinco professores (Pedro, Cristian, Maria, Jaqueline e Carlos) coincidem na prescrição
do alongamento no início da aula como forma de aquecimento. Maria enfatiza que: “[...] a
gente sempre procura fazer o aquecimento articular na verdade, faz o aquecimento articular,
aí faz um alongamento básico sabe, básico do básico”. Quando Maria expressa o termo
“alongamento básico”, subentende-se que seja pouco enfatizado esse exercício nesse primeiro
momento. Ela ainda acredita que não seja necessário vários alongamentos para todos os
grupamentos musculares, mas sim, alguns para que o aluno possa melhorar o movimento
articular de suas principais articulações, tanto nos membros superiores como nos inferiores.
39
Carlos também pensa de forma similar a professora anteriormente citada quando
Carlos: formado desde 2004, em
bacharelado e licenciatura, 36
anos. Possui pós-graduação. Atua
aproximadamente há 8 anos com
musculação. Trabalha 8 horas por
dia em academia totalizando 40
horas semanais.
afirma que “[...] no início aquecer a parte articular, então
trabalhar um pouco essa parte articular, a musculatura
muitas vezes encurtada, tu alongas de forma lenta
sabendo que quando a gente inicia com uma pessoa a
gente trabalha cargas leves, já com uma pessoa que está
muito tempo praticando, um indivíduo avançado, daí sim
tem que fazer um aquecimento bom, principalmente porque ele está trabalhando com uma
carga a mais [...]”. Pode-se observar certa similaridade destes dois professores quando
prescrevem o alongamento com intuito de fazer o aquecimento articular. Estes profissionais
trabalham em academias com perspectivas diferentes, ou seja, uma com treinamento
personalizado e outra não. O aquecimento na academia é realizado muitas vezes de forma
semelhante, como vimos anteriormente, pelos professores que lá estão. Alguns profissionais
definem isso a partir dos objetivos de seus alunos, ou por coerência, de acordo com o treino a
ser escolhido. A forma com que os professores citados acima utilizam o aquecimento na
academia é comentada por Dantas (1999, p. 218). Este autor afirma que
O aquecimento na academia normalmente inicia-se por um alongamento geral [...],
seguido por exercícios que provoquem a elevação da atividade metabólica
(aquecimento cardiopulmonar). Esta sequência é a adequada para ser utilizada em
salas pequenas, com turmas heterogêneas ou com gerentes, ou, ainda, com
sedentários, pois propicia uma preparação prévia das articulações e musculatura, por
meio do alongamento, antes de submeter à turma aos exercícios intensos da fase
cardiopulmonar do aquecimento, normalmente consistindo em corrida ou exercícios
sintéticos.
Desta forma, a maioria dos professores pesquisados (Pedro, Cristian, Maria, Jaqueline
e Carlos) tende a orientar o alongamento na parte inicial da aula com os mesmos propósitos,
ou seja, como parte do aquecimento que engloba a questão muscular e articular do aluno.
Se tratando de flexibilidade, os professores entrevistados Cristian, Pedro e Cátia
também mencionaram o aprimoramento desta capacidade motora no desenvolvimento de suas
aulas como podemos ver a seguir. Se o aluno possui alguma limitação de movimento por
falta de flexibilidade, Cristian tende a desenvolvê-la através do alongamento, isso “[...] nos
casos específicos de aumentar a flexibilidade, aumentar a elasticidade muscular [...]”. Surge
aí uma ideia particular deste professor, no intuito de desenvolver a flexibilidade
especificamente em casos de pouca amplitude de movimento do aluno.
40
Pedro em sua entrevista também relatou, em meio a outros objetivos, o aumento da
flexibilidade com o exercício de alongamento, porém não comentou especificamente a fundo
o assunto. Por sua vez, Cátia trabalha o alongamento também no sentido de aumentar a
flexibilidade, melhorar a postura, na ideia da consciência corporal, além do relaxamento,
embora saliente que não possua aulas específicas como anteriormente havia.
A seguir tem-se um fragmento da entrevista, onde se pode observar a opinião desta
professora, quando questionada sobre os objetivos da prescrição do alongamento: “[...]
aumentar a amplitude do movimento, daí tu trabalhas a flexibilidade dele e automaticamente
postura de novo, eu foco muito nisso, acho muito importante. Desde o despertar tu tens que
começar alongar, e só tu tendo consciência do teu corpo, sabendo que se tu não fizeres um
alongamento tu vais ter um pouco mais de limitação, que vais estar mais tenso [a
musculatura], que vais chegar à noite mais cansado, então essa é a importância do
alongamento [...]” (Cátia). Constata-se nessa fala uma visão diferenciada dos demais
professores, onde segundo Cátia, o alongamento pode ajudar o aluno a ter uma postura
melhor, isso aconteceria segundo a professora, a partir do momento em que o aluno tomasse a
consciência de que o exercício poderia ajudá-lo a ter menos limitações, estando ele menos
tenso também. Sobre este assunto da tensão muscular apontado por Cátia, encontramos na
literatura a importância do alongamento vista por um médico psiquiatra, no qual ele comenta
exatamente a questão das tensões musculares e suas consequências, como podemos ver a
seguir:
Particularmente todas as doenças psicossomáticas estão ligadas a tensões musculares
crônicas das pessoas. Ao me “conter” (com tensão), contraio, querendo ou sem
querer, muitos músculos – os que impedem o desejo ou a vontade de fazer ações,
tidas ou aprendidas como proibidas. “Isso não se faz” – e em vez de fazer eu “me
seguro” – contenho (GAIARSA, 1995, P. 144).
Gaiarsa (1995, p. 144) completa dizendo que “se a tensão (muscular) é a essência da
neurose, o primeiro remédio é o relaxamento, mas o verdadeiro contraveneno é o
alongamento o contrário da contração”.
A forma como Cátia pensa os exercícios de alongamento, também vem ao encontro do
exposto por Dantas (1999, p. 81) quando salienta que “a capacidade de conferir consciência
corporal ao seu praticante é uma possibilidade dos exercícios de alongamento e flexionamento
pouco explorada”. Sendo assim, percebe-se que Cátia está preocupada com a postura de seus
alunos, e o desenvolvimento da flexibilidade seria uma forma coerente de despertá-los para
41
uma melhor consciência corporal. A preocupação de Cátia quanto ao desenvolvimento da
capacidade motora flexibilidade, é também destacada por Dantas (1999, p. 217) onde segundo
o autor “o treinamento da flexibilidade constitui uma das mais importantes opções
pedagógicas para conseguir que as pessoas alcancem sua consciência corporal. Por esse
motivo, são tão importantes o treinamento e a informação sobre essa qualidade física na
academia”.
Por outro lado, Roger difere dos demais professores quanto aos objetivos da prescrição
do alongamento. Para ele é desenvolvido fundamentalmente a ideia do bem estar do aluno.
Roger salienta que não há comprovação científica dos benefícios do alongamento, mas
mesmo sem esse aporte teórico o prescreve, pois encontra argumentos no feedback com os
alunos para sustentar sua intervenção prática, como podemos ver em seu relato: “[...] o
objetivo é mais na ideia do bem estar do aluno, no início não enfatizo tanto o alongamento eu
passo um ou dois exercícios para braço, perna, coluna, ombro, peito também, mas no final
sim é trabalhado com um pouco mais de intensidade dá para dizer assim, no sentido do
relaxamento, do bem estar, mesmo que não haja comprovação disso, mas o aluno dá esse
retorno pra gente, então porque não trabalhar [...]”. Muitos profissionais, assim como
Roger, buscam na experiência cotidiana conhecimentos que são determinantes para a
prescrição dos exercícios. Em grande parte esses conhecimentos que não são formalizados,
não possuem uma fonte teórica que os justifique, mas através do feedback com o aluno, o
professor encontra argumentos para aplicá-los. Desta forma, percebemos que Roger mesmo
não encontrando base científica que sustente sua intervenção, busca no feedback com o aluno
justificá-la, e traz consigo a certeza de que está obtendo sucesso devido a resposta do aluno.
Acreditamos que por esta intervenção, Roger acaba sendo, neste caso específico, um
reprodutor de ações práticas, isso está de acordo com o que Fonseca et al. (2009) constataram
de outro professor em seu estudo.
Similarmente ao exposto por Roger, no tocante a falta de comprovação científica dos
benefícios do alongamento, Carlos salienta que “[...] na verdade não se tem uma
comprovação [científica] que se deve ou não deve fazer [...]”. Carlos deixa para o aluno
decidir a realização ou não do alongamento, embora acredite ser mais importante no início da
atividade para aquecimento articular, como vimos anteriormente.
Dos oito professores investigados, dois apenas (Roger e Carlos) demonstraram ter
conhecimento de que falta comprovação científica dos benefícios do alongamento, Roger
42
mesmo assim continua prescrevendo, pois, segundo ele, os alunos dão um retorno positivo, ou
seja, os alunos se sentem melhor após a realização dos exercícios. Chama a atenção o fato de
praticamente todos os professores, com a exceção de Roger como vimos anteriormente, não
levantar a questão das sensações relatadas pelos alunos posteriormente aos exercícios de
alongamento. Cátia até comenta que com a prática do alongamento o aluno tende a melhorar
sua consciência corporal, mas não traz relatos específicos dos alunos quanto a esse aspecto.
Desta forma, percebe-se que a grande maioria dos entrevistados se apega nos
conhecimentos formalizados para justificar a prescrição do alongamento, não trazendo assim,
aspectos relativos a percepção dos alunos quanto a sua prática, ou seja, como ele se sente, foi
bom, não foi bom, o que melhorou ou o que piorou com a realização desta atividade.
Entre os oito professores pesquisados, constatamos cinco grupos de respostas de certa
forma distintas, embora contenham também em alguns pontos semelhanças. Três professores
(Silvia, Cristian e Pedro) têm como objetivo prescrever o alongamento na intenção de
prevenir lesões. Destes somente um deles usa o alongamento tendo unicamente o objetivo de
prevenir lesões, os outros dois objetivam ainda o aquecimento, aumento da flexibilidade, da
diminuição da dor muscular tardia e volta à calma. Pode-se notar, com exceção da professora
Sílvia, que há certa diversidade de objetivos relatados pelos outros dois professores, isso vem
enriquecer nossa pesquisa, pois denota que o conhecimento em cima da prescrição do
alongamento não se atém somente num ponto específico, mas concilia um conjunto de
objetivos que os entrevistados pretendem atingir.
Outros dois profissionais (Maria e Jaqueline) orientam o alongamento no início como
aquecimento articular e preparo da musculatura para a atividade, no final como relaxamento.
Carlos deixa em aberto para o aluno fazer ou não o alongamento no final da aula, ainda que
preconize a realização antes do exercício como forma de aquecimento articular. Carlos
apresentou uma ideia que se diferencia dos demais, quando deixa em aberto a realização ou
não do alongamento pós-treino. A aquisição do conhecimento ao longo da trajetória
profissional vai sendo moldada de diferentes formas, é comum entre os professores de uma
mesma área utilizar maneiras de trabalho similares ou distintas umas das outras como Carlos
desenvolve. Esta filosofia decorre de sua experiência profissional, que através do dia-a-dia
vem produzindo “convicções” de qual melhor escolha de exercício para aquele momento.
43
Cátia, assim como outros professores descritos acima, trabalha o alongamento na
intenção do relaxamento e aumento da flexibilidade, mas difere das demais opiniões quando
fala da melhor consciência corporal e melhora da postura do aluno. Salienta que algum tempo
atrás existiam aulas específicas de alongamento na academia, mas que agora não existe mais,
só é trabalhado especificamente com alunos particulares ou em aulas juntamente com os
abdominais. Já Roger não enfatiza tanto o alongamento no início e sim no final como forma
de relaxamento, na ideia do bem estar do aluno pós-aula como vimos anteriormente.
Nas entrevistas dos professores, foi possível observar aspectos que compreendem uma
diversidade de respostas, que nos permite concluir que o conhecimento destes profissionais é
construído de maneira bem particular, embora apareçam pontos em comum na prescrição do
alongamento. O fato do alongamento não ser um assunto muito estudado entre os
profissionais da área, talvez tenha limitado um pouco a argumentação dos entrevistados sobre
o tema, mas foi possível, mesmo assim, aprender com eles, com a intervenção que possuem e
a forma como articulam seu conhecimento.
3.1.1.3 Diferença entre Alongamento e Flexionamento
Neste tópico será discutida a diferença entre o alongamento e flexionamento, sendo
que este tema foi levantado por um dos professores entrevistados. É um assunto
controvertido, pois a bibliografia não apresenta um consenso na definição destes termos, com
isso, fica difícil considerar apenas uma opinião acerca da discussão.
Carlos durante a entrevista buscou diferenciar alongamento de flexionamento. Na
opinião dele o alongamento é prescrito na intenção de aquecer a parte articular no início do
treinamento e sem a preocupação de realizá-lo pós-treino, enquanto o flexionamento
desenvolveria a flexibilidade, isso em aulas específicas somente com esse intuito: “[...] o
alongamento não é trabalhar flexionamento, não é flexibilidade, então alongar não é forçar
[...], porque alongamento e flexibilidade têm significados diferentes. A flexibilidade muitas
vezes eu faço, eu trabalho além do meu limite, eu vou fazer o flexionamento, vou segurar um
tempo no flexionamento, ou vou fazer um alongamento resistido onde tem a minha ajuda.
Então é diferente os dois trabalhos, então eu acredito assim [...]”. O que Carlos expõe acima
no tocante a diferenciação de alongamento e flexionamento, aulas específicas com esse
intuito, está de acordo com o exposto por Dantas (1999), em que sustenta que o alongamento
deveria ser realizado juntamente com o aquecimento como forma de descontração e que seria
44
perda de tempo a realização de uma aula específica de alongamento. Por outro lado, se
tratando de flexionamento o mesmo autor comenta que “já o flexionamento, não. Para ser
corretamente trabalhado, ele exige uma sessão especialmente para si, durante a qual se dá o
treino da modalidade” (DANTAS, 1999, p. 105). É o único professor entrevistado que
abordou o termo flexionamento, e como deveria organizar as aulas para desenvolver a
flexibilidade. Os outros entrevistados em momento algum utilizaram o termo flexionamento
para o desenvolvimento da flexibilidade, o alongamento por si só segundo eles, já aumentaria
os níveis desta capacidade motora.
3.1.2 Métodos de Alongamento que são Utilizados durante as Sessões de Treino
Métodos de alongamento, como vimos, são entendidos como meios para
aquisição/manutenção da flexibilidade e diferenciam-se de um para o outro de acordo com a
técnica de execução. A seguir será apresentada a posição dos entrevistados no tocante aos
métodos de alongamento que são utilizados no desenvolvimento das aulas.
Os oito professores pesquisados foram unânimes em afirmar que não utilizam nenhum
método de alongamento específico no desenvolvimento de suas aulas, tampouco comentaram
com propriedade sobre algum dos métodos. O que alguns professores relataram foram os
materiais que utilizam, como podemos acompanhar nos relatos a seguir.
Comentando o assunto, Maria aponta os materiais que utiliza na execução dos
exercícios de alongamento: “[...] nós usamos alguns recursos, como o bastão, como bola,
então a gente procura, nós mesmos, entre nós, que nós somos entre cinco profissionais
trabalhando aqui, [...] a gente estuda, elabora um alongamento legal! Então bem tranquilo”.
Explanando ainda sobre o assunto, Roger também não utiliza método de alongamento
específico. “[...] uso o alongamento para coluna, membro inferior, superior claro que se o
aluno faz cinco dias não tem a necessidade de alongar todos os dias os mesmos músculos,
são alongados aqueles que foram trabalhados [...]”. Pode-se perceber aí uma pequena
confusão de conceitos, onde métodos de alongamento foram trocados com materiais usados
na execução do alongamento e com grupamento muscular alongado, também respostas
confusas como a de Pedro quando diz que não utiliza nenhum método específico, mas “[...]
tem que utilizar todos que eu conheço não fazer só um tipo específico [...]”. Particularmente
Pedro não soube caracterizar a forma de trabalho de nenhum dos métodos, se ateve em
45
explicar a maneira como ensina o alongamento, ou seja, utiliza sua fala para ir orientando a
execução correta do exercício para o aluno.
Resultado similar ao desconhecimento ou o não uso de métodos de alongamento,
também foi verificado por Ramos e Tojal (2004). Nesse estudo os autores chegaram à
conclusão que os alunos da Graduação em Educação Física pesquisados não tinham
conhecimento específico e científico sobre o tema alongamento e seus diferentes métodos, e
mais, o conhecimento que possuíam era similar aos dos praticantes comuns, o que poderia
comprometer a qualidade da atuação ou até oferecer risco à integridade física das pessoas
envolvidas. É possível que os professores não estejam muito preocupados em conhecer e
aplicar um ou mais métodos de alongamento nas aulas, talvez isso ocorra pela Educação
Física ser um campo bem amplo e as “necessidades” de maior busca do conhecimento não
estejam diretamente ligadas ao conteúdo do alongamento. É uma possível explicação para o
não conhecimento dos métodos de alongamento por parte dos professores entrevistados.
3.1.3 A Orientação do Alongamento
Neste tópico buscaremos identificar como ocorre a orientação do alongamento nas
academias, sendo que em muitas destas, o número de alunos é bem maior que o número de
professores. A partir daí, teremos uma melhor compreensão das ações que são desenvolvidas
pelos professores neste campo de trabalho.
Na sua grande maioria, os professores investigados relataram que orientam o
alongamento no início e no final do treino, pois desta forma, acreditam que no início ele
ajudará a preparar o músculo/articulação para a atividade que será realizada, e no final como
forma de relaxamento. A professora Silvia orienta o alongamento de duas maneiras diferentes,
alunos de personal de um jeito e alunos que não possuem treinamento personalizado de outro.
“[...] Com meus alunos de personal [acompanho], no spinning e na musculação eles
alongam, antes de entrar na sala eles alongam ali na barra [sozinhos] [...]”. Entendemos
então, a partir do exposto, que somente tem acompanhamento e orientação os alunos que
pagam por treino personalizado.
Nesta mesma linha pensa Cátia “[...] trabalho alunos particulares, principalmente aí
faço uma sessão bem mais detalhada, bem mais específica com eles, na outra acadêmica é
mais global, quando tinha grupo de alongamento aí a gente trabalhava bem específico cada
mês tinha ênfase em um grupamento, alguns alongamentos específicos por grupamento [...]”.
46
É notório ver no relato de Cátia como se dá a orientação do alongamento. Na musculação
então, percebe-se que não há o acompanhamento com vistas a uma melhor execução por parte
do aluno, já para alunos particulares como ela fala, aplica sessões bem específicas do
exercício.
Roger trabalha em uma academia com treino individualizado. Quando questionado
afirma que“[...] sim, passo o alongamento antes e depois dos exercícios, antes um ou dois
alongamentos para braço, perna, coluna, mas depois dos exercícios é que é fundamental
alongar pela questão do relaxamento, os alunos se sentem melhor após o alongamento e isso
é perceptível [...]”. Pelos relatos descritos, pode-se constatar que os professores tendem a
orientar o alongamento, estando presente preferencialmente com os alunos em que
prescrevem treinamento personalizado, ou em academias com esse fim. Isso pode ser
facilmente explicado, pelo fato de haver um fluxo muito grande de alunos, que não buscam o
treino personalizado nas academias. Dar atenção e estar presente a todo o momento com esses
indivíduos, fica muito complicado. Torna-se mais difícil ainda, pelo fato dos professores
serem em pouco número e terem que dar conta de várias funções, como avalições,
reavaliações, prescrição de treinos, troca de treinos, acompanhamento de alunos iniciantes a
todo o momento, entre outras tarefas cotidianas.
Desta forma, quando o aluno inicia normalmente ele tem o acompanhamento nas
primeiras aulas, assim que ganha autonomia e “aprende” a executar o movimento, começa a
“andar” sozinho pela academia. Carlos vê a possibilidade de o aluno fazer o alongamento até
mesmo fora do ambiente da academia: “[...] depois da atividade se o aluno está se sentindo
bem, no meu ponto de vista, eu digo quer fazer o alongamento final faz, se não no outro dia tu
alongas de manhã em casa mesmo, entendeu? Não precisa sair da musculação se está se
sentindo bem depois da atividade e alongar, então alonga no outro dia ele [o aluno]tem
condições de fazer isso tranquilamente [...]”. A prática do alongamento sem
acompanhamento dos professores de Educação Física, se prestarmos atenção, já é bem
popular em muitos lugares, seja na praia, parques, centros esportivos, clubes de lazer, entre
outros. Essa possibilidade que Carlos vê da realização do alongamento sem o
acompanhamento do professor. Abdallah (2002, p. 447) comenta que
Exercícios de alongamento bem orientados por profissionais de educação física
podem ser aplicados sem acompanhamento após a aprendizagem da técnica, seja no
lar, seja nos períodos de pausa durante o trabalho. Independentemente dessa prática,
sugere-se que sejam realizados exercícios de alongamento pelo menos uma vez ao
dia com o objetivo de eliminar a tensão e melhorar a irrigação sanguínea. O
47
alongamento diário [...] deve ser suave, no qual o tecido retorna a sua posição
original.
Como podemos ver, segundo o referido autor, existe a possibilidade de o aluno fazer o
alongamento fora da academia e sem a orientação do professor, desde que ele tenha aprendido
corretamente a técnica de execução do movimento. A orientação do alongamento, é
fundamental e papel do educador físico, cabe a ele ter o conhecimento técnico científico deste
tema, e assim, encontrar formas, maneiras e meios que possam ser mais bem assimiladas pelo
aluno, para que este depois de aprender a técnica de execução correta consiga realizar o
alongamento sozinho.
O professor Pedro comenta o assunto e diz que “[...] o importante não é mostrar pra
ele, [...] como tem que fazer, o melhor é tu falar como que se faz e daí a pessoa aprende mais
fazendo, quer dizer visualizar ela não guarda muito, tu tentas dizer os movimentos que têm
que ser feito, corrigindo ela vai guarda com mais facilidade e assimilar mais, então em
princípio a gente sempre tende falar o que tem que ser feito e a partir daí começa a corrigi
um pouquinho o movimento que de repente às vezes não foi entendido [...]”. No relato de
Pedro pode-se notar algo não muito comum entre os professores, enquanto a grande maioria
dos profissionais da área tende a demonstrar o movimento a ser executado pelo aluno, Pedro
utiliza a fala para ensinar, ou seja, diz qual é o movimento e vai corrigindo a execução.
Sendo assim, percebemos que dos oito professores pesquisados apenas três (Maria,
Jaqueline e Roger) orientam o alongamento, estando com o aluno permanentemente todas as
sessões. Isso pode ser explicado pelo fato de serem professores de academias personalizadas,
porém, não utilizam nenhum método específico para desenvolvê-lo, assim como os demais
profissionais. Outros cinco professores (Pedro, Silvia, Cristian, Carlos e Cátia) tendem a
orientar o alongamento somente para os alunos iniciantes, depois que o aluno “aprende” a
executar não tem mais acompanhamento do professor como podemos acompanhar no relato
de Cristian “[...] o aquecimento e a volta a calma normalmente o aluno no momento que ele
tem a aprendizagem, que ele aprende os exercícios ele ganha autonomia para fazer os
alongamentos, com eventual correção ou acréscimo ou alguma alteração, correção de
postura, mas na maioria das vezes ele ganha autonomia e por si só ele vai e faz o
alongamento no início e no final [...]”. Diante do relato do professor Cristian, traz a evidência
de que em academias onde não se tem treinamento personalizado, não há o acompanhamento
do professor para a orientação do alongamento.
48
Por outro lado, Carlos e Cátia tem algo em comum, quando acreditam que o correto
seria trabalhar o alongamento em aulas específicas para aumentar a flexibilidade ou trabalho
de flexionamento, mas isso não ocorre, em virtude do pouco tempo que dispõem para
desenvolver essas aulas. Sendo assim, temos dois panoramas nas academias, um é que os
alunos com treinamento personalizado ganham vantagem, pelo fato dos professores estarem
permanentemente auxiliando nas sessões de alongamento, mesmo que não utilizem nenhum
método específico, como relataram. Por outro lado, os alunos das academias que não possuem
treino personalizado têm acompanhamento nas primeiras aulas, depois acabam por cair na
rotina de chegar à academia e alongar sozinhos, sem que recebam orientações corretas da
técnica de execução do alongamento.
3.1.4 Cuidados com a Prescrição do Alongamento
Outro assunto controvertido é a questão que o alongamento pode trazer algum prejuízo
ao aluno que faz o treinamento de força e depois realiza o alongamento. Quanto a isso, Carlos
acredita que o alongamento pós-treino poderia sim trazer algum prejuízo ao aluno, o que
atrapalharia o trabalho de hipertrofia desenvolvido inicialmente como salienta “[...] muitas
vezes tu fazes um trabalho de hipertrofia, daí tu vais fazer um alongamento então tu
atrapalhas um pouquinho o trabalho que tu fizeste com a fibra muscular, o trabalho de
encurtamento, de hipertrofia com essa fibra, então melhor, quer alongar alonga, não força
articular [...]”.
Divergente a opinião de Carlos, Pedro acredita que o alongamento é importante a
qualquer hora do dia e pode ser realizado antes, durante e depois dos exercícios, sendo esta
ideia bem particular dele, não foi constatado na fala de outro entrevistado esse mesmo
pensamento. “[...] O alongamento é sempre importante antes, durante e depois, [...] porque o
alongamento nunca é demais, sempre é bom ser feito, durante o dia a qualquer hora do dia,
[...] podes fazer um exercício de musculação e podes alongar aquele músculo logo em
seguida, podes alongar antes, podes fazer o exercício, vamos dizer, alongar o bíceps, faz o
exercício de bíceps, podes alongar de novo, também pode ser feito assim, então podes estar
alongando a cada momento se quiser, na musculação, assim como podes alongar antes e
alongar depois, tu podes também fazer o alongamento antes e depois de aquecer ou fazer o
aquecimento e daí alongar [...]”. Pensar o alongamento nessa perspectiva que Pedro aponta,
pode ser um pouco exagerada, pois estaríamos enfatizando demais o alongamento, mais até
49
que o próprio treinamento de força, sem contar que não seria muito aceitável para o aluno, por
exemplo, fazer o exercício para um determinado grupamento muscular e alongar em seguida.
Pedro acredita que o alongamento pode maximizar o trabalho de força realizado pelo
aluno, por outro lado, Carlos acredita que o alongamento não traria esse benefício, e até
poderia prejudicar os ganhos com hipertrofia. É uma questão bem contraditória, onde os dois
pesquisados divergem, mas dentro de um limite de tensão do alongamento, as opiniões
acabam fazendo sentido. Comentando o assunto do alongamento pós-treino Abdallah (2002,
p. 416) salienta que
Exercícios de alongamento com pouca tensão muscular entre 10 e 30 segundos no
final do treino são úteis para impedir a rigidez muscular e ajudar na recuperação do
sistema muscular, particularmente quando houver provas sucessivas. Dependendo
do caso, o efeito do alongamento suave pode ser maximizado com uma massagem
centrípeta, deslizante e bem suave. A dor muscular tardia apresentada por atletas é
um indicativo de microlesões. Nesse sentido, o alongamento no final do treino para
desenvolver a flexibilidade poderia estar aumentando o tamanho das microlesões.
Desta forma, como Abdallah (2002) coloca, não é errada a prescrição do alongamento
pós-treino, mas alerta que se houver sintomas de dor muscular tardia ele poderá aumentar o
tamanho das microlesões. Então, o que se deve levar em consideração nesta questão é o nível
de tensão a ser aplicado com o alongamento ao aluno, isso passa pela sensibilidade do
professor, somente ele poderá instruir seu aluno para que o exercício traga benefício e não
malefício. O ideal então, segundo Abdallah (2002), seria um alongamento de baixa tensão, ao
invés de preconizar tensões altas como, por exemplo, para desenvolver a flexibilidade do
indivíduo, isso poderia aumentar o tamanho das microlesões que o trabalho de força
ocasionou.
3.2 A Origem do Conhecimento
Busquei identificar na fala dos professores a origem do conhecimento mobilizado na
prescrição do alongamento. Para isso, os professores foram indagados sobre a que agregariam
o conhecimento adquirido até então. Surgiram muitas respostas algumas delas coincidentes.
Todos os profissionais pesquisados concordaram em afirmar que foi através do seu
dia-a-dia de trabalho uma das principais fontes de conhecimento. A expressão “faculdade da
vida” usada por Pedro, expressa muito bem essa ideia. “[...] Isso aí como tu sabes na
faculdade não adquire, não todos os conhecimentos necessários, nenhuma faculdade do
mundo, então uma é a ‘faculdade da vida’, que tu tens, que tu aprendes [...]”. Pedro também
50
fala de cursos, seminários, livros e da facilidade que se tem acesso hoje através dos meios de
comunicação, como a internet para a construção do conhecimento. Assim como Pedro, Roger
também compartilha da mesma opinião, relata que além da graduação, cursos, congressos,
leituras, e o dia-a-dia deram origem ao atual conhecimento que possui.
Doutra forma, Cátia entende que a pesquisa, principalmente em artigos, a interação
com o aluno, a prática do dia-a-dia são fundamentais para o crescimento profissional. Já
Silvia tenta ter uma relação de proximidade com seus alunos como salienta quando afirma que
“[...] sempre falo assim, gosto muito de ser mais próxima do aluno com relação a tudo, eu
tenho eles no meu Orkut, eu tenho meu celular, eu passo mensagem porque que não veio, se
está gripado, se melhorou da gripe, se você tem uma aproximação com o aluno um interesse
maior ele se sente, como que eu vou te falar assim, importante pra pessoa, daí tu podes tirar
muita coisa dele até pra usar no dia-a-dia [...]”. Esta relação é muito comum de ser
observada, pois muitas vezes os professores “tomam” o lugar dos psicólogos, ouvem os
problemas, orientam e confortam quando necessário. Essa afinidade e intimidade, muitas
vezes são determinantes para a própria prescrição do treino, pois você acaba conhecendo o
perfil do aluno, a partir daí, tenta adaptar o treino as características dele. A intervenção que
Sílvia utiliza com seu aluno é similar ao que Fonseca et al. (2007, p. 164) encontrou em sua
pesquisa
A participante utilizava a Internet no envio de mensagens para seus alunos, com
assuntos que iam desde saúde, humor, religião, política, atualidades e informativos
sobre a Clínica. Destas mensagens, a maioria era encaminhada por amigos e alunos
da profissional, mantendo assim um meio de interação entre aluno e professor. Em
muitas destas interações Larissa conseguia informações sobre o estado emocional e
de saúde de seus alunos e as utilizava no preparo de atividades que os beneficiassem
de alguma maneira [...].
Como podemos ver, não é somente Silvia que adota esse tipo de intervenção com o
aluno. A utilização da internet e o próprio celular tornaram-se muito acessíveis, e a relação do
professor com o aluno vai depender muito do tipo de perfil de ambos, tudo começa a ser
criado a partir de um vínculo de intimidade que é estabelecido durante as intervenções. São
estratégias adotadas pelos profissionais para que se aumente o nível de conhecimento, pois
muitos alunos buscam nos professores conhecimentos que são de outras áreas, descrevem
vários sintomas que estão sentindo. Porém o professor muitas vezes não tem como
diagnosticar, nem é sua função, mas pode indicar o profissional a ser consultado.
51
Jaqueline e Carlos trazem em suas falas a importância da troca de experiência com
outros profissionais, de outras áreas inclusive, para aquisição do conhecimento: “[...] muita
troca de experiências com outros profissionais, de outras áreas até, tem que buscar,
perguntar, ir atrás, porque todo dia surge uma coisa diferente, o aluno vem com tal lesão que
tu não sabe [...]” (Jaqueline). Carlos acredita que seja de fundamental importância a
confiança em outros profissionais para aquisição de conhecimento e trocas de informações:
“[...] nós temos que nos profissionais, então formar uma parceria entre o médico, o
nutricionista, o fisioterapeuta, o educador físico, então tem que se ter esse compromisso, essa
relação entre os profissionais, trocar informações, conhecimento [...]”.
Analisando a fala de Jaqueline e Carlos, no tocante a troca de experiência e aquisição
do conhecimento com outras áreas, as respostas vieram ao encontro de que Fonseca et al.
(2007) constatou. Nessa pesquisa a professora investigada construía suas aulas com diversos
conhecimentos existentes na Educação Física e em outras áreas, porém sempre buscava
definir os exercícios conforme as prioridades dos alunos, com relação ao diagnóstico do
médico. Sendo assim, é muito importante a troca de experiências com outras áreas. Ainda
mais nos dias atuais, em que a interdisciplinaridade está cada vez mais sendo buscada pelos
professores e alunos.
Jaqueline salienta ainda, assim como Cristian e Maria, que a pós-graduação na área em
que está inserida é que deu maior conhecimento de intervenção. Maria é pontual ao afirmar
que o conhecimento adquirido na área da academia, não foi proveniente da graduação e sim
de duas especializações buscadas fora, como podemos ver a seguir: “[...] dentro da área da
academia não foi na graduação, minha graduação apesar de oferecer o bacharelado e a
licenciatura era mais voltada pra licenciatura, o que eu adquiri foi buscando fora, naquela
época, não sei como esta hoje [...] eu sempre busquei fora, também quando o aluno pergunta
alguma coisa eu [...], procuro não enganar ele se eu não sei, eu vou estudar. Então o teu diaa-dia faz com que você também busque aprender mais e mais aqui [...]”. Nesse contexto, o
que Maria comenta está de acordo com o que Nascimento et al. (2007, p. 394) já destacavam
Apesar da maior parte dos cursos de formação profissional em Educação Física,
atualmente, atender a demanda pela formação de dois perfis profissionais distintos, o
bacharelado e a licenciatura, ainda não se pode negar que, grande parte dos
profissionais formados ou em formação, ainda hoje, parece carregar uma herança do
currículo generalista.
52
Sendo assim, o profissional se obriga a buscar conhecimento específico da área que
está atuando para ter mais segurança nas intervenções. Segundo Nascimento et al. (2007), a
aquisição do conhecimento mais específico na academia vem com o passar do tempo, com o
aprofundamento em determinadas áreas, com a participação em cursos de capacitação
profissional, congressos e eventos científicos, pois permitirá ao profissional atuar com mais
segurança e competência no seu ambiente de trabalho.
Contudo, diante das falas dos professores investigados, observa-se uma ampla
variedade de argumentos que estes utilizam na tentativa de explicar de onde se origina o
conhecimento que eles possuem. Sendo assim, parece muito evidente que as intervenções do
dia-a-dia vão se adaptando as novas situações vivenciadas, os professores vão aprendendo
muitas vezes com o erro, adquirindo novos conhecimentos para aplicar novas ações. Tudo
isso é de fundamental importância para a construção do conhecimento na área de atuação dos
professores, uma vez que as modificações ocorrem à medida que os professores encontram a
necessidade de buscar mais saber, para atuar com mais segurança nas intervenções com o
aluno.
Neste contexto, a graduação, a pós-graduação, os cursos de capacitação, os congressos
e outros tantos meios de aquisição do conhecimento formam a base da preparação dos
profissionais para sua atuação no mercado de trabalho. Por outro lado, em se tratando da
prescrição do alongamento, parece que pouco tem se buscado saber e sua orientação nas aulas
geralmente seguem sempre a mesma forma, sem modificações em nível de conhecimento.
Porém, é oportuno salientarmos que a grande maioria dos professores entrevistados
possui uma carga horária de trabalho na academia igual ou superior a 40 horas semanais.
Além de muitos deles também possuírem outra atividade fora da academia para complementar
sua renda. Isso limita muito a possibilidade de estudar e se aprofundar sobre determinados
assuntos como esse do alongamento. Desta forma, mesmo não tendo a informação exata
relativa aos rendimentos dos entrevistados, subentende-se que exista uma dupla consequência,
a necessidade de dedicar muitas horas para terem uma renda razoável e, por outro lado, a
pouca possibilidade de investimentos em sua própria formação.
53
3.2.1 A Relação entre a Formação Inicial, Características Profissionais e a
Prescrição do Alongamento
Neste tópico vamos discutir a relação existente entre a formação inicial do professor,
suas características profissionais e a prescrição do alongamento. Para tanto, será analisado o
percurso dos professores desde os períodos que antecederam a graduação, a pós-graduação e
as características que foram adquirindo com os anos de atuação profissional, para
posteriormente identificar se há relação desse contexto com a prescrição do alongamento.
Dos oito professores entrevistados, cinco possuem no seu diploma a formação em
bacharelado e licenciatura, sendo que quatro deles fizeram curso de pós-graduação lato-sensu
na área em que estão trabalhando. Daqueles que possuem somente licenciatura plena, três no
total, só um deles fez pós-graduação, no entanto, houve relatos especialmente daqueles que
possuem as duas habilitações de que o conhecimento adquirido na universidade foi
insuficiente para atuar na área do bacharel, motivo que levou a maioria desses professores a
buscar a especialização.
Jaqueline conta a seguir de que forma buscou e adquiriu mais conhecimento para
intervir com o aluno, “[...] a graduação dá uma base, mas não tudo, basicamente meu maior
horário de trabalho é aqui, eu acho que cresci muito trabalhando aqui, claro que faz sete
anos que estou aqui, mas eu fiz uma pós-graduação também, mas é só a base, tu precisas
muito, mas tu tens que seguir, tu tens que ir atrás [...]”. Jaqueline não esteve muito ligada ao
esporte anteriormente a graduação, na graduação estagiou num projeto de ginástica laboral,
prática que está diretamente ligada ao alongamento, dessa formação inicial como a professora
relatou, foi uma base para aquisição do conhecimento, daí pode ter surgido às primeiras
relações com a prescrição do alongamento que tem hoje juntamente é claro com suas
características enquanto profissional que atua com treinamento personalizado.
Carlos pontua que teve muitas experiências dentro de várias práticas corporais
sistematizadas o que pode ter contribuído para ele ter uma melhor percepção do que fazer nas
intervenções com o aluno “[...] pratiquei variados tipos de esportes entre musculação,
ginástica olímpica, futebol, vôlei, natação, então isso te dá um feeling melhor da atividade
física e eu acredito muito nisso hoje tem muito profissional da área que atua na área que não
tem feeling para captar o que eu posso trabalhar com esse aluno, o que eu não posso, o que
eu tenho que puxar de melhor nesse aluno que ele tem pra me dar [...]”. Carlos traz em sua
fala a importância do professor ter feeling para a prescrição do exercício, ter a sensibilidade
54
apurada para determinar qual a melhor opção a ser selecionada, existindo assim êxito naquela
intervenção, é uma qualidade desejada por muitos profissionais da área. Porém, as rotinas
diárias de trabalho muitas vezes desgastantes não contribuem para um raciocínio dos
professores a cerca do que está acontecendo à sua volta. Já a forma como prescreve o
alongamento na academia onde trabalha, parece ter relação com o conhecimento adquirido
após a graduação, onde ampliou seu conhecimento através de uma especialização, e vários
outros cursos de capacitação fornecidos pela empresa. Essas atualizações talvez tenham feito
Carlos refletir e chegar à conclusão da falta de cientificidade dos benefícios do alongamento
como visto anteriormente.
Roger também relatou que tinha uma boa vivência com esporte antes da universidade,
os conhecimentos adquiridos na graduação e as experiências dentro do treinamento
personalizado, acredita terem sido determinantes para a prescrição do alongamento da forma
que aplica hoje. Já Sílvia, não apresentou argumentos claros para a prescrição do
alongamento, seu único objetivo é na ideia da prevenção de lesões. Isso nos remete a pensar
que na falta de outra justificativa utilizou uma “crença” comum entre as pessoas leigas
envolvidas com a prática do exercício físico, que acreditam que o alongamento previne lesões.
Pedro pensa de forma similar, porém elenca muito outros objetivos ao prescrever o
alongamento. Entre eles podemos citar que seria que a alongamento poderia diminuir a dor
muscular tardia: “[...] é para evitar as dores musculares, para o ácido lático não ficar
acumulado, [...] mas tu fazes o máximo possível para alongar no final para ácido lático não
ficar acumulado, para não dar as dores musculares posteriormente [...]”. O que acredita
Pedro não foi encontrado em pesquisa realizada por Bonfim et al. (2010). Os resultados
apontaram que o alongamento estático não foi eficaz para o alívio da dor muscular tardia, foi
encontrado níveis de dor muscular tardia ainda mais elevado no grupo alongamento que no
grupo controle. Então, a prescrição do alongamento utilizada por Pedro possivelmente tenha
relação com mais de um fator, ou seja, pode envolver senso comum, pode ser proveniente da
graduação ou até mesmo da atuação enquanto profissional, como relatou que uma das fontes
para ampliar seu conhecimento foi buscada através dos livros, internet, cursos, entre outros
meios.
Cátia, assim como Pedro, se formou em outra universidade da região e sua prescrição
do alongamento se distingue dos demais entrevistados, é voltada para a postura e consciência
corporal. Como vimos, isso pode ter relação com a graduação, onde, segundo ela, tinha
55
disciplinas voltadas a conteúdos de lesões como ela destaca “[...] nós trabalhamos muito em
cima de lesões que hoje fica mais específico para fisioterapia. Na minha graduação a gente
tinha que trabalhar a parte de lesões e reabilitação dentro da Educação Física, porque [...]
recém estava começando a fisioterapia, depois mudaram toda cadeira, mudou toda parte de
currículo da Educação Física [...]” (Cátia). Não podemos deixar de considerar, que Cátia
possui uma pós-graduação e tenta estar sempre atualizada às novas descobertas, pela internet
busca artigos científicos sobre assuntos pertinentes que surgem no seu dia-a-dia, isso também
pode exercer certa influência sobre como prescreve o alongamento.
Por outro lado, acreditamos que para Maria e Jaqueline a prescrição do alongamento
tenha relação com o conhecimento adquirido ainda na graduação, mas a maneira como
aplicam o exercício, assim como Roger, tem relação com as suas características por
trabalharem com treinamento personalizado. Por fim, Cristian, assim como Pedro e Sílvia,
acredita que o alongamento previne lesões e sua prescrição tem relação com a formação
inicial da graduação e também com suas características profissionais, já que atua também em
escolas, sendo que nesse meio o alongamento igualmente é prescrito.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo buscou investigar os objetivos da prescrição do alongamento por oito
professores de cinco academias. Ao término deste estudo, vejo que realizá-lo foi um desafio,
seja pelo escasso tempo dos professores em conceder as entrevistas, ou pela inexperiência
enquanto entrevistador, tendo que muitas vezes usar do improviso para tirar o máximo
possível do entrevistado. Sempre salientando, que não se trata de um estudo que expõe crítica
aos professores, como foco principal, mas sim, buscar compreender/aprender como
constroem/articulam o conhecimento, ao longo de sua atuação enquanto profissional.
Na análise pôde-se constatar que a grande maioria dos entrevistados, possui mais de
um objetivo ao prescrever o alongamento, surgindo diferentes termos entre as falas, como
“pré-aquecimento”, aquecimento articular, aumento da flexibilidade, melhora da postura e
consciência corporal, relaxamento, volta à calma, diminuição da dor muscular tardia, ideia do
bem estar do aluno, prevenção de lesões entre outros. Apenas um professor relatou que
prescreve o alongamento, unicamente como objetivo de prevenir lesões, outros dois também
citaram desta forma, mas elencaram outros objetivos junto. Um dado interessante foi que dois
profissionais estão cientes de que não há comprovação científica dos benefícios do
alongamento, se apoiando no feedback do aluno para continuar prescrevendo o exercício.
Quanto à orientação do alongamento, notou-se como era de se esperar, duas formas
distintas de intervenção. Nas academias em que não é aplicado treino personalizado, as
orientações ocorrem quando o aluno é iniciante, depois de alguns dias ele passa a realizar o
alongamento sozinho. Por outro lado, em academias com atendimento individualizado, a
orientação ocorre permanentemente do início ao fim da aula, porém nenhum dos profissionais
entrevistados relatou utilizar um método específico de alongamento. Isso nos leva a deduzir
que o tema alongamento não é muito estudado entre os professores, que preferem pesquisar
outros assuntos mais importantes para as demandas do cotidiano profissional do que este.
57
Em se tratando da origem do conhecimento, grande maioria dos professores relatou
que o conhecimento da graduação foi insuficiente para atuar na academia, tendo que buscar
mais conhecimento, seja em pós-graduação, cursos, congressos, livros, internet, entre outras
formas. As respostas são unânimes num ponto: revelam que o conhecimento adquirido com a
prática do dia-a-dia, tem um peso muito importante nas suas intervenções, sendo que a cada
dia surge uma nova situação, um novo problema a ser resolvido e as experiências passadas
formam a base para ações futuras.
Acreditamos que os professores em geral prescrevem o alongamento em primeiro
lugar por ser uma prática rotineira que há muito tempo vem sendo mantida, não só na
academia de musculação, mas em diversos esportes, que não sendo lesivo, não justifica a não
realização. Em segundo lugar, porque em muitos casos o aluno passa para o professor que
determinado alongamento lhe fez bem. O professor por sua vez, passa a utilizar esse
conhecimento na sua intervenção diária.
Desta forma, após a realização deste estudo, foi possível conhecer quais são objetivos
que os professores têm ao prescrever o alongamento. Assim, como foi muito importante
dialogar, trocar ideias, acima de tudo, aprender com eles, pois alguns têm mais de 18 anos de
experiência, entendemos ser esta uma oportunidade única, saber como o conhecimento vai
sendo produzido e se modificando com o passar do tempo.
Da mesma maneira, é importante para a comunidade acadêmica discutir sobre os
assuntos aqui enfocados, para que se tenha um olhar mais aberto do que está acontecendo e o
que é possível fazer para melhorarmos enquanto profissionais. Fica aqui a sugestão para
serem desenvolvidos mais estudos que possam compreender/discutir porque o conhecimento a
nível técnico científico do alongamento não é buscado pelos professores de Educação Física.
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61
APÊNDICE
62
Apêndice I
Entrevista dos professores
1 – Fale sobre tua graduação, como foi a inserção no mercado de trabalho, foi uma escolha?
2 – Como é tua rotina diária de trabalho?
3 – Que tipo de interação tu tens com o aluno (busca saber como ele está no dia-a-dia)?
4 – Quais os pontos que tu achas prioritário, ou seja, o que o aluno não poderia deixar de
fazer?
5 – O aluno tem acompanhamento permanente?
6 – Trabalhas o alongamento com os alunos?
• Com qual objetivo?
• Acreditas ser importante para o aluno?
• Realizas antes ou depois dos exercícios?
• Quais os grupos musculares são priorizados?
• Usas algum tipo ou método de alongamento específico?
• Tens uma justificativa do porquê usar o alongamento desta forma e não de outra?
7 – Achas que o alongamento tem relação com a prevenção de lesões ou não?
8 – Como adquiriste o conhecimento que possuis hoje, agregaria isso a quê?
63
ANEXOS
64
Anexo I
Entrevista
Falar sobre a graduação, como foi?
Comecei na verdade minha graduação na universidade aos 22 anos foi na Unijuí, onde eu
estudava à noite e trabalhava de dia, porém o meu trabalho de dia era numa área que não tinha
nada a ver com o curso. Eu trabalhava na área de vendas. Venda de material de construção,
trabalhava das oito da manhã às seis da tarde, com intervalo para almoço e depois eu já ia para
universidade. Eu fazia na verdade três ou quatro disciplinas no máximo por semestre é o que
eu conseguia pagar. Então, minha graduação na verdade durou em torno de sete anos, eu
poderia ter feito em quatro, eu fiz em sete, mas é a maneira que eu consegui conciliar e
conseguia pagar meus estudos sem pegar nenhuma bolsa nada, porque eu preferi assim.
Minha experiência na área da Educação Física começou basicamente já na adolescência eu
sempre pratiquei esportes, eu fiz ginástica olímpica, futebol, vôlei, então eu não praticava um
tipo de esporte, eu praticava vários tipos de esportes. Como eu tinha uma experiência boa
nessa área eu estava optando por dois cursos, engenharia elétrica ou Educação Física. Como
engenharia elétrica era de dia, eu não podia pagar e eu tinha que trabalhar para pagar minha
universidade, então, eu resolvi fazer a Educação Física que era a segunda paixão minha
também depois da matemática. Então, eu terminei o curso. Um ano antes de terminar eu pedi
para sair do meu outro emprego para trabalhar na área da Educação Física porque havia
surgido uma vaga inclusive é na instituição que eu estou hoje. Surgiu uma vaga de estágio e
eu precisava dessa experiência antes de me formar, aí fiz todo o estágio aqui. Já estava me
formando e abriu uma vaga de monitor, fiz a seleção, aí passei e entrei, eu terminei a
universidade só deu um ano de intervalo, eu já fiz uma pós-graduação em fisiologia do
exercício em Porto Alegre pela Gama Filho.
Como é tua rotina de trabalho na academia?
Bom, a rotina diária na verdade é bem diversificada, montagem de treino, avaliações. A gente
tem tudo bastante diversificado no dia, avaliações, pedido de compras, material. Então tem
que estar atento para tudo isso, a manutenção dos aparelhos tem que ficar olhando, planejando
essa manutenção, troca de treino, observação dos alunos, feedback com os alunos ao passar
treinos, orientação para os estagiários também, quanto a treinos novos como tem que ser feito,
como não tem que ser feito. Então, não é chegar à academia e ficar fazendo só um tipo de
atividade, na minha função são variadas atividades durante o dia, são várias atividades nessa
área, isso se torna bom também.
Que tipo de intervenção você tem com o aluno, busca saber como ele está quando chega
à academia?
Um tipo de intervenção são as reavaliações, principalmente se eu executo uma avaliação
procuro eu mesmo fazer a reavaliação, porque para ter esse feedback como está sendo o treino
para esse aluno. Existem muitos treinos que dão certo para uma pessoa e não dão certo para
outra, então esse feedback a gente tem que ter. Qual treino que dá mais certo pra aquela
65
pessoa, se ela tem uma lesão, se está resolvendo o caso dela, se ela está melhorando, o ganho
de massa muscular, se os objetivos dela estão sendo respondidos, claro que respeitando o
limite que é a saúde. Então, a primeira coisa que eu trabalho, mais importante para mim, é a
“direção defensiva”. Eu não estou trabalhando com atleta, eu sempre informo, se eu estou
trabalhando com atleta eu trabalho de uma maneira, se trabalho com uma pessoa normal eu
trabalho de outra maneira. Então, tem que cuidar muito isso. Hoje a gente tem que cuidar
muito nas academias isso. A gente não está trabalhando com atletas. O atleta a gente trabalha
a mais do limite dele, outras pessoas a gente tem que trabalhar a saúde, então tem que sempre
respeitar a individualidade de cada um, lesões, eles têm os objetivos às vezes muito a frente
do que eles querem, do que eles podem. Então, a gente tem que explicar para eles que a
caminhada é longa, que eles têm que se manter na atividade, eles têm que procurar variar
essas atividades e fazer o que lhes dá prazer, tentar transformar essas atividades numa coisa
boa para eles.
Quais os pontos que tu achas prioritário, ou seja, o que o aluno não poderia deixar de
fazer?
Isso no caso, como eu disse, depende de cada caso. Às vezes a gente trabalha com uma pessoa
saudável, não tem lesão nenhuma, sempre foi uma pessoa ativa, praticou sempre atividade
física, então essa é uma pessoa que eu posso trabalhar diferente, eu posso dar “um a mais”
para ela do que ela está pedindo. Diferentemente de uma pessoa, digamos que tenha lesão,
que tenha algumas limitações que a vida lhe impôs, que o seu cotidiano lhe impôs. A gente
pega muita gente com problema de coordenação, então não adianta eu começar uma coisa
com ele avançado, não existe receita de bolo para treinamento em academia de musculação,
não existe. Então a gente tem que começar bem do básico mesmo, principalmente para as
pessoas que nunca praticaram atividade física, exatamente para elas não fugir disso, porque
muitas pessoas tem a noção de que a musculação é só ganho de massa muscular, é trabalhar
com cargas pesadas, não tem nada a ver, só que as pessoas ainda têm essa ideia, por isso da
importância da comunicação. Fazer um treino ou transformar uma atividade para uma pessoa
numa coisa prazerosa e saudável, para ela melhorar a qualidade de vida dela através daquilo.
Certamente ela vai falar para dez pessoas, onze, doze e essas vão comentar mais sobre o lugar
que trabalho, então você profissional está sendo valorizado e a entidade onde você trabalha ou
a tua academia também vai ser valorizada.
Você procura passar o alongamento para os alunos?
Depende! A atividade de alongamento na verdade não se tem uma comprovação científica que
se deve ou não deve fazer. Tem uma diferença entre alongamento e aquecimento. Eu procuro
sempre deixar para os alunos aberto, assim, é importante principalmente no início da
atividade. No inverno às vezes o aquecimento vem antes do alongamento, procuro deixar o
aquecimento antes do alongamento e deixando aberto assim. O alongamento não é trabalhar
flexionamento, não é flexibilidade. Então, alongar não é forçar. A gente na verdade vai fazer
um aquecimento da musculatura, e alongamento a gente vai trabalhar de forma calma e
moderada, não foçar a articulação. Depois da atividade, se o aluno está se sentido bem, no
meu ponto de vista, eu digo quer fazer o alongamento final faz, se não no outro dia “tu
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alongas de manhã em casa mesmo”. Entendeu? Não precisa sair da musculação se está se
sentindo bem depois da atividade e alongar. Então alonga no outro dia, ele tem condições de
fazer isso tranquilamente. Muitas vezes tu fazes um trabalho de hipertrofia, daí vai fazer um
alongamento, então atrapalha um pouquinho o que tu fizeste com a fibra muscular, trabalho
de encurtamento, de hipertrofia com essa fibra. Então melhor, quer alongar, alonga não força
articular, se não no outro dia tu alongas. Geralmente as atividades a gente trabalha duas a três
vezes, só quando faz em cinco vezes que a gente fala antes da atividade para fazer um
alongamento caprichado, mas sempre lembrando ambiente frio aquece primeiro articulações
depois tu alongas.
Os objetivos para trabalhar o alongamento?
No início aquecer a parte articular. Então, trabalhar um pouco essa parte articular, a
musculatura muitas vezes encurtada, tu alongas de forma lenta, sabendo que quando a gente
inicia com uma pessoa trabalhamos cargas leves. Já com uma pessoa que está muito tempo
praticando, um indivíduo avançado, daí sim tem que fazer um aquecimento bom,
principalmente porque ele está trabalhando com uma carga a mais. Quando o indivíduo é
novo na academia apesar de ele ter uma dificuldade a gente inicia com cargas leves.
Quais os grupos musculares que tu priorizas?
Não, não tem alongar, a gente tem um método de alongar todos os grupos musculares. Então,
não tem, mas principalmente quando tu trabalhas com lesão, a prioridade é alongar a
musculatura acessória de coluna. Então, te isquiotibiais, iliopsoas, quadríceps, extensor de
quadril. São músculos acessórios quando se tem lesão geralmente a gente monta um
programinha de alongamento dessas limitações do aluno e passa pra ele. Mas os músculos
acessórios eu trabalho no final da aula da coluna, então esses a gente pode trabalhar no final
da aula.
Que tipos de alongamento são usados?
Não, no alongamento não, no alongamento a gente tem os tradicionais, alongamento dorsal,
peitoral, antebraço, quadríceps que é a coxa, panturrilha, básico da coluna, mas não sigo
nenhuma norma de algum autor específico em alongamento, procuro é variar. O importante é
procurar variar, também não alongar somente com um tipo, comecei com aquele alongamento
e vou a vida inteira com aquele alongamento, bom é variar os alongamentos também, não
esquecer nunca esses alongamentos pra coluna vertebral esses são muito importantes.
A relação do alongamento com a prevenção de lesões acreditas que pode prevenir?
Não acredito que se tenha relação na flexibilidade, tu fazes uma aula de treinamento de
alongamento, uma aula de alongamento pra prevenir lesões ajuda, agora tu trabalhas... Porque
alongamento e flexibilidade têm significados diferentes. A flexibilidade muitas vezes eu faço.
Eu trabalho além do meu limite, eu vou fazer o flexionamento, vou segurar um tempo no
flexionamento, ou vou fazer um alongamento resistido onde tem a minha ajuda. Então é
diferente dos dois trabalhos, então eu acredito assim que o alongamento ou aquecimento ele
vai te ajudar a preparação pra uma atividade. Por exemplo, você trabalhou muito sentado
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numa atividade diária e vai praticar um esporte depois ou uma atividade física. Vem pra aula
de musculação, então principalmente alonga essa parte que é da coluna, por exemplo,
trabalhou muito sentado já teve uma sobrecarga grande na coluna então tu inicias com
alongamento, mas não vejo necessidade de aula específica de alongamento. Aula específica
de flexibilidade é uma coisa, essa eu acho importante e alongar antes da aula. Como eu te
falei, mais importantes são esses acessórios da coluna. Repito isquiotibiais, iliopsoas,
quadríceps, extensores e flexores de quadril são os mais importantes, que são movimentos que
tu te limitas no dia-a-dia e aí tu tens que trabalhar um pouquinho a parte do alongamento no
caso que eu faço é um trabalho de flexionamento no final da aula. Então a flexibilidade no
final da aula, específico pra coluna, pra grupamento muscular tranquilo esse a gente tem que
fazer. Tu queres melhorar tua flexibilidade é outra história, a gente pode colocar uma aula na
semana específica pro trabalho de flexibilidade uma atividade aeróbia junto e outras duas
aulas um trabalho de resistência muscular, um trabalho muscular normal. O alongamento
ajuda, mas não vai prevenir lesão, não vai porque se tu trabalhas de uma forma errada numa
academia tu podes fazer qualquer tipo de alongamento no início da aula. Entendeu? Se tu
fazeres uma postura errada no exercício tu podes te machucar, não importa o alongamento que
você faça. O importante é a tua aula, essa tua aula tem que ser diferenciada tu pode alonga, ter
uma flexibilidade enorme. Por exemplo, trabalhar flexibilidade, trabalhar alongamento antes
da aula excelente, tu vais fazer uma aula contração muscular. Tu fazes o movimento errado,
faz muito a extensão do braço com uma carga maior tu podes te lesionar a fibra se tu fizeres
uma sobrecarga além do que tu podes, ou fazer o movimento errado, jogar o trabalho pra
coluna e não fazer específico pro músculo. Tu podes fazer o movimento errado não importa o
alongamento que tu faças, tu vais lesionar mesmo, tu podes te machucar!
E ter uma amplitude maior com a flexibilidade tu acha que pode previr lesões?
Em minha opinião, só se for carga leve, amplitude maior tendo que trabalhar uma amplitude
boa, carga leve só que esse caso de amplitude a gente tem que cuidar quando a gente trata
com alguns grupos especiais, como artrose, fibromialgia. Então, alguns tipos de reumatismos
eu tenho que cuidar muito a amplitude do movimento aí a gente tem que tratar de formas
diferentes. Então, não existe uma regra específica dentro da musculação ou da fisiologia que a
gente trabalha qual a amplitude do movimento que eu vou trabalhar. Eu tenho que cuidar
também qual o grupo que eu estou trabalhando. Qual indivíduo que eu tenho ali trabalhando
porque muitas vezes eu tenho um problema, uma lesão, eu tenho um indivíduo com artrose ele
tem limitação de movimento aí eu não posso trabalhar a amplitude que lhe dê dor. Então essa
coisa de amplitude é muito “discussiva. Eu não vou trabalhar uma amplitude maior no
indivíduo, achando que eu vou curar um problema que ele tem. Então essa coisa de amplitude
a gente tem que cuidar de caso a caso. Mas como eu te disse melhor coisa inicial é direção
defensiva, trabalho inicial carga leve certamente qualquer trabalho pro indivíduo que é
sedentário e vem procurar você pra atividade física muscular no caso a musculação nossa,
vem procurar você, se inicia com cargas leves tu não vai machucar o indivíduo e ele vai ter
resultado positivo inicial com certeza. Isso eu chamo muito... eu acredito no professor que eu
digo que sempre pratiquei esportes. Pratiquei variados tipos de esportes entre musculação,
ginástica olímpica, futebol, vôlei, natação então isso te dá um filem melhor da atividade física
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e eu acredito muito nisso. Hoje tem muito profissional da área que atua na área que não tem
filem, não tem filem pra captar o que eu posso trabalhar com esse aluno, o que eu não posso o
que eu tenho que puxar de melhor nesse aluno que ele tem pra me dar. Então, primeiramente
eu tenho que procurar alguma coisa que ele vá gostar e o que ele vá poder fazer e executar de
forma correta e isso é o mais importante que eu acho no profissional hoje que o problema é
filem mesmo. Tem que ter filem pra coisa, não adianta tu achares que tu trabalhas de uma
maneira que tal autor prescreve daquela maneira e tu vais seguir aquele autor. Eu acho muito
isso de seguir um autor muito relativo. A gente tem que ter, a nossa experiência, ela vai nos
dizer muito, o que que está me fazendo, o que que está me dando um feedback positivo dentro
da musculação, dentro da atividade de reabilitação e fortalecimento de hipertrofia o que tu
vais trabalhar. Tu tens que saber o feedback disso, quais os treinos que funcionam melhor, pra
quis pessoas funcionam melhor o treinamento é individualizado não adiante a gente querer
trabalhar tudo de uma forma, a gente pode iniciar uma forma quando o aluno tem uma base de
treinamento pra iniciar com o aluno. Mas não pode achar que eu tenho que fazer o mesmo
treinamento pra todos os alunos porque a gente tem os grupos especiais. Hoje muitos grupos
especiais, hipertensos, diabéticos, processos de reumatismos, dislipidemias variadas, então a
gente tem que cuidar muito isso aí. Hoje tem muitos casos de artrite reumatoides que são
dores fortes, eu tenho que cuidar as repetições que eu vou trabalhar com esses grupos que são
repetições menores. Eu tenho que ter o feedback dele do exercício. Por isso eu acho
importante o professor estar junto lá que a gente que tem um pouco mais de treinamento, está
nesse cotidiano, saber a resposta dele aquele exercício. Eu monto um treino pode ser que
aquele exercício que eu dei pra pessoa a pessoa não teve consciência pra executar de forma
correta aquele exercício, então eu posso trocar ele por um exercício de melhor execução por
isso é importante esse início com a pessoa é eu saber um pouco dessa pessoa na anamnese lá...
é saber o que que ela pratico quais as experiências que ela tem, mais ou menos saber a parte
coordenativa dela. Hoje se tem alguns testes que se pode fazer inicial saber como que foi a
vida dela, se foi ativa, se não foi ativa. Pra iniciar meu treinamento com ela, o programa.
Como que tu adquiriste o conhecimento que possuis hoje?
Muito no local onde eu trabalho que nos fornece dois treinamentos anuais. Nesses
treinamentos anuais, a gente cita o que a gente que ter, a gente vê a partir do feedback com os
alunos, o que que está mais se tendo hoje de lesão. Os grupos especiais como tem que ser
trabalhado esses grupos, na maturidade ativa que tipos de exercícios é trabalhar hoje, o
queseria mais viável trabalha. Muitas vezes elas querem uma coisa, mas a gente não
necessariamente pode dar isso pra elas. Hoje, se tinha muito a ideia de trabalhar a dança com
a maturidade. Então essa coisa de dança tu podes implementar, mas não em todas as aulas.
Tens que implementar mesmo é o trabalho muscular, o trabalho do dia-a-dia delas o senta e
levanta que elas tão tendo dificuldade. Essa coisa eu não possa ajudar esse grupo quando tá
ali, por exemplo, tu fazes um trabalho no solo, tu pedes pra elas levantarem sozinhas, não se
ajudar pra levantar, ninguém vai estar perto delas naquele momento. Então, tem que fazer do
cotidiano delas. Elas têm que se sentir bem pra carregar uma sacola do mercado, elas terem
força pra fazer isso, segura um neto no colo elas terem força pra fazer isso. Então são algumas
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atividades, por exemplo, a atividade de lazer delas só não vai proporcionar. Eu trabalhar só
dança, ou só caminhada com esses grupos não vai proporcionar isso. Então eu tenho que fazer
um trabalho de força com elas também, limitação de lesão. Mas sempre é importante salientar
vamos trabalhar não em cima de dor. Então ela sentiu dor no movimento, a gente vai trocar,
trabalha mais curto o movimento. Isso que eu falo da amplitude, quando tem fazer uma
amplitude maior com grupos especiais na maioria dos casos dos grupos especiais sente essa
amplitude, então tu tens que cuidar a amplitude. Por isso que varia pra trabalho muscular,
trabalho de flexibilidade né de alongamento no caso de flexionamento que a gente vai
trabalhar, então procurar variar essas atividades, mas incluir o trabalho de força nos grupos
que hoje a gente enxerga muito a debilidade muscular das pessoas as pessoas chegam muito
diminuída a massa muscular aumentado o percentual de gordura pela má alimentação né... a
qualidade de vida não esta sendo boa hoje, então o que que a gente tem que mudar no
cotidiano deles, salientar a importância disso, deles mudarem a qualidade de vida, mudar a
alimentação, indicar outros profissionais. A gente tem que acreditar nos profissionais, então
formar uma parceria entre o médico, o nutricionista, o fisioterapeuta, o educador físico. Então
tem que ter esse compromisso, essa relação entre os profissionais, trocar informações,
conhecimento. Não eu querer tomar o lugar do outro, querer a vaga do outro, mas a gente é
capas de ir além do que a gente tá indo né então faze um trabalho de reabilitação hoje o
educador físico tem condições, tem especializações específicas pra isso. Ele tem condições,
então, a gente faz da nossa área, trazer pra nossa área um respeito melhor dos outros
profissionais, isso que é o mais importante não só a questão do salário mas ser respeitado
enquanto profissional.
Tem outra forma que te ajudou na aquisição do conhecimento que possuis hoje?
Muitas vezes as pessoas falam “a não praticou atividade física”, mas não o impede de ser um
bom profissional, não impede, mas que a atividade que tu sempre praticaste, várias atividades
físicas isso te ajuda, ajuda! Então, tu tens que ter filem na atividade. Hoje os técnicos de
futebol muitos tem essa prática. Eles, fora ex-jogadores de futebol, ex-jogadores de basquete,
ex-jogadores de vôlei e o que eles estão fazendo hoje é incluindo a pratica deles que eles
tiveram com o estudo. Então, muitos estão se aperfeiçoando fazendo uma. Por exemplo, de
educação física, fazendo uma pós-graduação pra se aperfeiçoar, mas o filem da atividade, o
cotidiano, o dia-a-dia daquilo ali eu acho importante tu teres, isso é um complemento, isso é
um complemento da atividade.
A graduação te ajudou na aquisição do conhecimento?
Pra área do bacharelado eu esperava mais da graduação, que é a área que eu gosto. Eu
esperava mais da graduação, mas como eu te disse eu sempre tive muita prática e isso ensina
muito, aqui na academia sempre tive muito embasamento por ter praticado, por ter sido não
atleta, mas por ter praticado várias atividades em competições. Mas eu esperava mais da
graduação. Eu te confesso que quando eu cheguei à minha especialização, o pessoal estava
bem à frente, eu tive que estudar antes muito para chegar lá preparado pras aulas. Então, eu
acho que faltou um pouquinho, principalmente profissionais da nossa área trabalhando na área
do bacharelado na universidade. Ter profissionais de outras áreas dando aula pra educação
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física esse filem você precisa. A explicação do que você precisa pro exercício tanto na parte
da fisiologia, cinesiologia, como na parte da biologia eu acho que tem que ser um pouco mais
aprofundado isso pro profissional, que a fisiologia a cinesiologia são muito importantes pra
prática da atividade física.
Teria uma justificativa do porque utilizas o alongamento dessa forma?
Faço dessa forma porque acredito que o alongamento irá ajudar, como salientei, na parte de
preparação do músculo para a atividade. Tem muitos alunos que vêm de outras academias, de
outras práticas esportivas, que aprende o alongamento na escola. Então eu sempre saliento
alguns alongamentos específicos pra coluna, que são alongamentos que eles não conhecem e
esses são importantes também. Que o trabalho no início da atividade, principalmente a pessoa
que é sedentária, que está iniciando a atividade ou que está parada há três meses, ele é com
carga leve. Eu trabalho inicialmente com uma carga mais leve no início. Então, a gente tem
que cuidar, alongar a musculatura em geral, mas alongar alguns... Fazer alguns alongamentos
pra coluna, mas, como eu te disse, no final da aula eu não me preocupo com o alongamento,
importante pro aluno é no outro dia ele tá lá em casa e acordar fazer um alongamento de novo
pra trabalhar essa parte muscular dele que ele fez no dia anterior, mas não tenho uma
preocupação muito grande com o alongamento, vai trabalhar o aquecimento localizado,
depois tu vais para o trabalho muscular
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ANEXO II
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
IJUI, ______de____________________20___.
Você está sendo convidada (o) para participar, como voluntária (o) em uma pesquisa.
Após ser esclarecida (o) sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do
estudo, assine ao final deste documento que está em duas vias. Uma delas é sua e a outra é do
pesquisador responsável. Em caso de recusa você não será penalizada (o) de forma alguma.
Informações sobre a pesquisa
Título do Projeto
ALONGAMENTO NAS ACADEMIAS: OBJETIVOS E JUSTIFICATIVAS DE SUA
PRESCRIÇÃO POR PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Pesquisador Responsável: GedersonVinicio Foletto
Telefone para contato: (055) 91763768
Objetivos
•
Descrever o uso/prescrição do alongamento por professores de Educação Física nas
academias de uma cidade de porte médio do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul;
•
Conhecer os motivos dos professores para o uso do alongamento em suas aulas;
•
Identificar a origem do conhecimento mobilizado pelo professor para explicar suas
escolhas em relação à prescrição dos exercícios de alongamento;
•
Analisar e confrontar as opiniões dos professores e ver se há diferença na forma como é
trabalhado o alongamento.
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Procedimentos
•
Organizar e aplicar entrevista semiestruturada, previamente agendada, a ser realizada num
local combinado. Esta entrevista será gravada e transcrita para posterior análise dos dados.
Riscos e Benefícios do Estudo
•
Sua participação como colaborador deste estudo não acarretará em nenhum risco a sua
saúde e não o colocará em situações constrangedoras.
•
Antes de o texto ser transformado em fonte da pesquisa, você receberá uma cópia da sua
entrevista, podendo retirar as informações que achar impertinentes e que você não queira que
sejam publicadas.
•
Este estudo poderá contribuir de forma significativa para o entendimento de como o
alongamento é trabalhado nas academias.
Garantia de Sigilo e Privacidade
•
Todas as informações coletadas neste estudo serão mantidas em sigilo, sob a
responsabilidade do pesquisador, que preservará a identidade dos sujeitos pesquisados.
Colaborador
•
Se durante o processo da coleta de dados, o colaborador não querer mais contribuir com o
estudo, sua recusa será respeitada e a coleta de informações será interrompida a qualquer
momento, se assim for seu desejo.
___________________________
Pesquisador: GedersonVinicio Foletto
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