UM CONTATO REAL COM A MATEMÁTICA Josiane Cristine Barreto Vaz¹ RESUMO O presente artigo relata a implementação de um projeto educacional, que foi desenvolvida no ano de 2008, em uma turma de oitava série do Ensino Fundamental, do Colégio Estadual Padre Nicolau Baltasar, na cidade de Castro interior do Paraná. O projeto desenvolvido foi o Folhas – “Picos , montes e montanhas, qual é a diferença?”. A implementação foi desenvolvida utilizando-se da resolução de problemas associada a modelos matemáticos, com o objetivo de despertar no aluno o interesse e o gosto pela disciplina de Matemática. ABSTRACT This article reports the implementation of an educational project, which was developed in 2008, in an 8th grade group of the junior high school, at Colégio Estadual Padre Nicolau Baltasar in Castro, Paraná. The developed project was Folhas - “Peaks, Mounts and Mountains, what is the difference?”. The implementation used the resolution of problems associated with mathematical models, aiming to get the student to be interested in studying Mathematics and enjoy it as well. Palavras-chaves: Educação Matemática, Resolução de Problemas e Modelos Matemáticos. 2 1- INTRODUÇÃO: Atualmente a palavra “crise” já é uma palavra rotineira no que diz respeito às mudanças que estão acontecendo. E não seria diferente na educação, que passa hoje por um momento desafiador, estamos cercados por novas tecnologias, novas tendências, novas concepções de como se viver e também novas concepções de cidadão, nas quais devemos estar ligados, e integrados a este novo mundo que nos rodeia, mundo este que se modifica rápido e constantemente. A matemática juntamente com outras áreas de ensino deve formar este novo cidadão, que deverá agir e interagir com os novos conceitos e saberes que aparecem a cada momento. A LDB (Brasil, 1996), nos traz uma nova concepção de Escola, onde nós professores somos desafiados a procurar e desenvolver metodologias que desenvolvam a argumentação, a autonomia, o espírito crítico e principalmente a vontade pelo aprender e pelo conhecer. A matemática, nesse contexto, é uma peça indispensável para a formação do novo cidadão e para a caracterização dessa nova escola. Mas a matemática ainda está longe dessa realidade, muitos professores estão procurando respostas a perguntas como: Por que grande parte dos alunos não gosta de matemática? Por que apenas alguns alunos aprendem Matemática? Como posso tornar a matemática mais significativa? Como fazer para que o conteúdo aprendido possa ser utilizado no dia a dia? Indagações como estas, são importantes para uma reflexão sobre o ensino da Matemática. Com isso, a peça fundamental no ensino da matemática, é o professor, pois seja através da definição de suas práticas pedagógicas e dos seus conhecimentos profissionais, são realizadas grandes escolhas, como a do currículo e estratégia de ensino. A atuação direta com os alunos é um grande privilégio, pois constitui um dos maiores condicionantes da atividade de ser professor. A heterogeneidade apresentada pelos alunos de uma turma torna o ensinar ainda mais difícil, pois os alunos se manifestam de formas diferentes e com raciocínios muito distintos. A maior preocupação do ensino de matemática é em transmitir de forma eficiente os 3 conteúdos matemáticos, de maneira que o educando desenvolva o pensamento lógico. Para estimular este pensamento lógico o professor deve criar oportunidades e situações onde o aluno seja levado a: observar situações problemas, analisá-las, levantar hipóteses, elaborar estratégias para sua resolução, aplicá-las chegando a um resultado e finalmente verificar se o resultado satisfaz o seu problema, desenvolvendo neste aluno o raciocínio lógico tão necessário para sua maior integração ao mundo que o rodeia. Vivenciando experiências os alunos constroem e formam conceitos, compreendendo e dando um sentido mais prático para a Matemática. Quando um aluno aprende, ele organiza suas idéias, criando novos saberes e conceitos não ensinados pelo professor. Sendo assim, ao procurar uma metodologia que desse suporte em sala de aula, para tornar a matemática mais significativa e que realmente ajudasse na formação desse novo cidadão, Foi desenvolvida: pesquisa e estudo sobre a resolução de problemas associada a modelos matemáticos, onde algumas de respostas foram encontradas. De acordo com o exposto, este trabalho tem na Resolução de problemas associada a modelos matemáticos, uma intervenção que foi realizada em uma turma de 8ª série do ensino fundamental regular na cidade de Castro, interior do Paraná. O problema que desencadeou a pesquisa com intervenção foi a necessidade de mudança na qualidade do ensino, estimulando e valorizando o aprendizado e o raciocínio lógico. 4 2 - POR QUE TRABALHAR COM A RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS E MODELOS MATEMÁTICOS? 2.1 – RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS “O que para alguns é um problema para outros é um exercício e para alguns outros uma distração”. (Ditado popular). Os problemas são de grande importância, pois a Matemática se desenvolveu pela necessidade de resolver problemas, desde os mais simples presentes no dia a dia, até os mais complicados. No ensino da matemática, um problema ainda que simples, pode acender o gosto pelo raciocínio, pelo trabalho mental e pela curiosidade, levando assim ao gosto pela resolução de problemas, ao interesse pela matemática e a aprender a utilizar e a ampliar conceitos matemáticos. Dante (2000, p.11) ressalta que “[...] um dos principais objetivos do ensino da matemática é fazer o aluno pensar produtivamente e para isso, nada melhor que apresentar-lhes situações problemas que o envolvam, o desafiem e o motivem a querer resolvê-las”. Percebemos que há um problema quando queremos atingir uma meta e não sabemos como alcançar, e esta solução ou decisão requer considerável meditação e habilidade. Para a matemática, um problema terá mais valor quando todas as estratégias e idéias tenham que ser montadas e organizadas para sua resolução. Há bons problemas para o desenvolvimento do raciocínio matemático, quando analisamos um problema, devemos observar a sua utilidade para o assunto em questão, um problema é útil quando ele aprimora e define conceitos matemáticos. É necessário avaliar se o problema é desafiador e se ele contribui para o amadurecimento do resolvedor nesta habilidade, também devemos saber diferenciar um exercício de um problema. O exercício é um treinamento de capacidades matemáticas já conhecidas pelo resolvedor, o exercício envolve a utilização de resultados teóricos, enquanto o problema necessita de criatividade, invenção e estratégias. 5 Sendo assim um problema deve: • Ter um enunciado que seja acessível à compreensão de seus resolvedores; • exercitar a mente do aluno no raciocínio lógico matemático, exigindo dele criatividade na resolução; • solidificar conceitos adquiridos; • levar o aluno ao gosto por sua resolução (jogos matemáticos, desafios e problemas de lógica, despertam no aluno os gostos por sua resolução). Entender um problema é mais do que apenas decifrar os códigos da escrita e entender símbolos matemáticos. O aluno precisa compreender o problema, mas não só isto: deve também desejar resolve-lo. Se lhe faltar compreensão e interesse, isto nem sempre será culpa sua. O problema deve ser bem escolhido, nem muito difícil nem muito fácil, natural e interessante, e um certo tempo deve ser dedicado à sua apresentação natural e interessante. (POLYA, 2006, p. 5) Analisando a resolução de problemas Dante (2000) diz que ensinar a resolver problemas não é fácil, pois envolve uma variedade de processos de pensamento que devem ser desenvolvidos pelo aluno com o auxílio do professor. O professor que deseja desenvolver nos estudantes a capacidade de resolver problemas deve incutir em suas mentes algum interesse por problemas e proporcionar-lhes muitas oportunidades de imitar e de praticar. [...] Além disso, quando o professor resolve um problema em aula, deve dramatizar um pouco as suas idéias e fazer a si próprio as mesmas indagações que utiliza para ajudar os alunos. Graças a esta orientação, o estudante acabará por descobrir o uso correto das indagações e sugestões e, ao fazê-lo, adquirirá algo mais importante do que o simples conhecimento de um fato matemático qualquer. (POLYA, 2006, p. 4 ) 6 Polya determinou quatro fases a serem seguidas para a resolução de um problema e cada fase tem a sua importância para a compreensão e formação de conceitos. Dentro de cada fase algumas indagações devem ser feitas: • Compreendendo o Problema: a) O que o problema está pedindo? b) Quais informações que o problema apresenta? c) Um esquema ou uma figura ajudaria na sua resolução? • Estabelecendo um plano: a) Que estratégia você tentará para resolver o problema? b) Você se lembra de algum outro problema parecido com este que pode lhe ajudar a resolvê-lo? c) Tente resolver o problema em partes. d) Se necessário utilize-se de gráficos e tabelas. • Executando o plano: a) Execute o plano elaborado, observando cada passo. b) Resolva cada cálculo indicado no plano. • Fazendo um retrospecto: a) Verifique se a solução encontrada é a resposta correta para o problema. b) Há outra forma de se resolver este problema? c) O método ou a forma como o problema foi resolvido pode ser utilizada para resolver problemas semelhantes? Trabalhando com as fases determinadas por Polya o professor levará os alunos a se envolverem de forma gradual e independente, elaborando estratégias e procurando caminhos para obter uma solução do problema. A matemática é prática, se ela está presente na vida e no cotidiano das pessoas, então devemos fazer com que esta disciplina seja apresentada ao aluno com situações reais, tiradas do cotidiano dos mesmos, é desta forma que os modelos matemáticos devem ser trabalhados em sala de aula, aliados a resolução de problemas. 2.2- MODELOS MATEMÁTICOS Modelos matemáticos: arte utilizada por grandes matemáticos na resolução ou compreensão de situações problemas do mundo real (Bassanezi e Biembengut, 1989). 7 Os problemas surgem do interesse do próprio aluno, determinados através de um tema e a procura de uma resposta é feita através do Modelo Matemático, que simula aquela situação, possibilitando a exploração de conceitos e idéias matemáticas, pois “ao propor o problema em sala de aula o professor estará incorporando a sua representação do fato real usando linguagem matemática e, portanto estará trabalhando numa abstração para o aluno. É muito importante que essa abstração, não desligue o aluno da realidade ...” ( Ambrosio, 1999 ). Segundo o dicionário da língua portuguesa, modelo significa uma representação de alguma coisa, um padrão ideal a ser atingido ou um tipo particular dentro de uma série, podemos dizer que um modelo matemático é a representação de situações em termos matemáticos, originárias de outros campos científicos ou do dia-a-dia do aluno por meio da matemática. O ser humano busca sempre a idéia de modelo para agir ou comunicar-se, é próprio ao homem recorrer a modelos. Muitos matemáticos, físicos e cientistas utilizam modelos para trabalhar, demonstrar e aprimorar suas descobertas. Segundo, Biembengut e Hein a construção de um Modelo Matemático associado a um experimento aleatório consiste em: a) elaborar uma ou mais equações matemáticas que possibilitem o estudo de uma característica que se queira observar. b) fazer previsões a respeito de valores futuros. c) proporcionar uma aproximação aos valores observados em uma experiência. d) determinar equações matemáticas que possibilitem a determinação de valores iguais aos obtidos experimentalmente. e) exigir que algumas hipóteses sejam admitidas, a fim de se poder determiná-lo. f) obter uma representação abstrata de algum aspecto da realidade observada. 8 Com a resolução de problemas aliada a modelos matemáticos, podemos dizer que estamos levando os alunos a um ambiente de aprendizagem onde convidamos estes a indagar e/ou investigar situações de outras áreas. Bean (2001, p. 55), enfoca a importância das conexões da matemática escolar com a vida do aluno. O modelo, portanto nada mais é do que uma ferramenta que permite a interação entre a realidade e a Matemática. Bassanezi (2002, p.31) enfatiza que modelos são representações aproximadas da realidade e que nenhum modelo deve ser considerado definitivo, ou seja, que “um bom modelo é aquele que propicia a formulação de novos modelos”. Bassanezi e Biembengut (1995) sugerem etapas para a introdução do trabalho com Modelagem: 1. escolher um tema central para ser desenvolvido pelos alunos; 2. recolher dados gerais e quantitativos que ajudem na elaboração de hipóteses; 3. elaborar problemas conforme interesse dos grupos; 4. selecionar as variáveis envolvidas nos problemas e formular as hipóteses; 5. sistematizar os conceitos que serão utilizados para resolução dos modelos que fazem parte do conteúdo programático. 6. interpretar a solução (analítica e, se possível, graficamente); 7. validar os modelos. 9 3 - INTERVENÇÃO O objetivo desta intervenção foi de trabalhar com a Metodologia da Resolução de Problemas, aliada, a modelos matemáticos para levar o aluno a um contato maior com a realidade. Isto significa trabalhar com situações abertas, de modo a levar o aluno a buscar e adequar estratégias, não somente para solucionar os problemas propostos, mas também para os problemas do seu dia a dia, desenvolvendo no aluno a capacidade de resolver problemas. Resolver problemas provoca tomada de decisões, e tomar decisões leva a considerar variáveis de acordo com a necessidade da situação. O trabalho realizado foi desenvolvido na 8ª série B do Colégio Estadual Padre Nicolau Baltasar – Ensino Fundamental e Médio, na cidade de Castro. A turma contava com 32 alunos matriculados, sendo que 54% da turma é oriunda da zona rural. Este trabalho foi uma proposta de intervenção desenvolvida no ano de 2007, para ser aplicada no primeiro semestre de 2008, esta proposta faz parte das atividades atribuídas aos participantes do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, que é um programa de formação continuada, implementado pela Secretaria de Estado da Educação, em parceria com a Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e Universidades Públicas Estaduais e Federais do Paraná, direcionado para a melhoria das práticas docentes e de gestão escolar, através do aperfeiçoamento dos professores da Educação Básica. O objetivo desta intervenção é avaliar o trabalho com a resolução de problemas aliada a modelos matemáticos, na busca de desenvolver o interesse e habilidades dos alunos para resolver problemas. Sendo considerados como objetivos específicos: a) avaliar o desenvolvimento da habilidade de resolver problemas; b) despertar no aluno o gosto e o interesse em atividades de raciocino matemático. c) mostrar que a matemática está presente em seu cotidiano e faz parte do seu dia a dia. 10 3.1- DESENVOLVIMENTO DA INTERVENÇÃO O trabalho de intervenção foi o desenvolvimento do projeto Folhas, este é um projeto de formação continuada que influencia a prática docente, é uma produção colaborativa, realizada pelos profissionais da educação, com textos de conteúdos pedagógicos que constituirão material didático para os alunos e apoio ao trabalho docente . PICOS, MONTES E MONTANHAS, QUAL A DIFERENÇA?, é o nome do projeto Folhas elaborado no ano de 2007, este projeto contempla as disciplinas de Ciências e Geografia, foi composto com a finalidade de trabalhar o conteúdo estruturante de: Geometria, conteúdo: trigonometria. O trabalho com os alunos começou com conversa sobre Picos, Montes e Montanhas. Na parte de Geografia, os alunos observaram o relevo e pesquisaram sobre as montanhas, os picos e os montes, também analisaram e determinaram suas principais propriedades e diferenças, observaram as altitudes determinaram o que é um Pico, uma montanha e um monte. Na parte de Ciências, pesquisaram sobre os efeitos da altitude no organismo humano como também no movimento de outros corpos, onde o ar é rarefeito, este é encontrado em grandes altitudes. No nível do mar, o ar é pesado, com uma massa estável de 1 kg por metro cúbico. Quando subimos, a pressão do ar vai diminuindo, ao chegarmos numa altitude de 3 km, a pressão do ar é de somente 700 g por metro cúbico, causando dificuldade de respiração. Com as pesquisas e conversas sobre o assunto, surgiu o interesse em calcular a altura de montanhas e morros. Conversamos sobre o Sistema de Posicionamento Global, popularmente conhecido por GPS ( do inglês Global Positioning System), que é um sistema de posicionamento por satélite utilizado para determinação da posição de um receptor na superfície da Terra ou em sua órbita. Com o uso do GPS seria bem mais fácil calcular a altura de um morro, mas nem sempre podemos dispor desse aparelho. Então, como podemos calcular a altura de uma montanha sem utilizar o GPS? Essa foi a pergunta que deu início ao nosso problema. 11 Com esta situação problema teve início o conteúdo matemático propriamente dito. Ao observar as formas de uma montanha e analisar possibilidades para calcular essa altura, os alunos constataram que é possível formar um triângulo sempre que juntar os três pontos, base da montanha, ponto mais alto de uma montanha e desse ponto marcar o terceiro que seria a base da altura. Os alunos pesquisaram sobre o triângulo, foi uma pesquisa de observação para ver onde o triângulo é utilizado e encontrado. Um grupo de quatro alunos observou sobre a estabilidade do triângulo, demonstrando a seguinte experiência. Com quatro palitos unidos, como mostra a figura a seguir . eles colocaram para a classe que o quadrado como outros polígonos, não são formas estáveis e, muitas vezes, o triângulo é utilizado para dar a estabilidade a essas formas. Os alunos concluíram que em muitas construções o triângulo se faz necessário para dar a devida estabilidade às formas. 12 A tabela sobre a classificação dos triângulos foi construída pelos alunos, fizeram a classificação em relação aos lados de um triângulo, como a classificação em relação aos ângulos. Os alunos construíram vários triângulos e constataram que quando a soma dos dois lados menores de um triângulo for maior que o maior lado, esse triângulo existe, quando isso não acontece, não há triângulo. Com a classificação dos triângulos surgiu a necessidade de conhecer mais sobre este polígono, começou um trabalho com a semelhança de triângulos. Os alunos compararam, observaram e constataram que quando dois triângulos possuem todos os ângulos iguais, os seus lados serão proporcionais. As propriedades de semelhança de triângulos foram trabalhadas em sala de aula, juntamente com algumas atividades e problemas. A continuação das atividades aconteceu com a observação, fora de sala de aula, da semelhança de triângulos, os alunos calcularam algumas alturas usando a projeção de sombras, também calcularam algumas distâncias inacessíveis, utilizando triângulos semelhantes, para isso usaram a quadra e outras dependências do colégio. Com os trabalhos que foram realizados, os alunos já haviam constatado que o triângulo retângulo era o que mais estava sendo utilizado, este triângulo era o que mais aparecia nas construções como também nos problemas e atividades. Uma pesquisa sobre o triângulo retângulo foi realizada, conhecer suas propriedades e relações métricas era fundamental para o objetivo final. Um pouco da história da matemática ganhou destaque quando principiou o assunto sobre o Teorema de Pitágoras, esta etapa foi bastante trabalhosa e demorada, devido ao conteúdo envolver as equações do segundo grau. Estas foram trabalhadas anteriormente, com o estudo da parte algébrica, em forma de cálculo de valor numérico e alguns exercícios para que calculassem o valor do delta, que calculassem o valor de x com fórmula resolutiva da equação do segundo grau e também sabiam estabelecer os coeficientes em uma equação. As equações do segundo grau continuaram a ser 13 trabalhadas, não somente em forma de problemas, mas também em forma de atividades e de exercícios de fixação. As relações métricas no triângulo retângulo foram discutidas e resolvidas junto com o teorema de Pitágoras e as equações do segundo grau. Desde o início do trabalho, foram realizadas algumas atividades e problemas necessários para fixação e verificação de alguns conteúdos. Durante um bimestre a turma já havia aprendido e descoberto bastante, mas ainda, não sabiam calcular a altura de uma Montanha. A implementação continuou, agora com todo o conhecimento já adquirido, os alunos tinham que estabelecer como calcular a altura de uma montanha.Para tanto utilizaram a figura a seguir:Onde BC//DE//FG//HI//JL. A primeira conclusão que a classe chegou foi de que todos os triângulos formados eram retângulos, depois concluíram que também eram semelhantes, logo os seus ângulos seriam iguais e os lados homólogos eram proporcionais, sendo assim as razões entre os seus lados seriam sempre as mesmas. As razões trigonométricas do triângulo retângulo foram apresentadas e comentadas. As 14 relações básicas entre as medidas dos lados do triângulo retângulo e seus ângulos são: seno, cosseno e tangente. O seno, o cosseno e a tangente apareceram através de problemas e exercícios, os alunos demonstraram suas relações e seus valores. A tabela com o valor de seno, cosseno e tangente de 30, 45 e 60 graus, foi montada e demonstrada pelos próprios alunos. Um aluno observou na tabela a relação entre as razões, ele viu que a tangente de um ângulo, era sempre o resultado da divisão do seno pelo cosseno desse mesmo ângulo. Perguntei como ele havia chego a esta conclusão? Ele veio a frente e com os valores da tabela dos senos, cossenos e tangentes de 30º, 45º e 60º, ele resolveu as divisões do seno pelo cosseno e o resultado era sempre igual a tangente do mesmo ângulo. Os outros alunos gostaram da demonstração e da observação feita por este aluno. Também resolveram alguns exercícios e atividades com as razões trigonométricas, em sala de aula. À véspera de desenvolver um trabalho de campo, fez-se necessário que os alunos descobrissem como calcular os ângulos de observação e o mais difícil, com o que calcular? Surgiu a necessidade de um teodolito, os alunos procuraram na internet e conseguiram achar alguns modelos, em grupos de três a quatro pessoas, eles construíram um teodolito simples, e testaram dentro das dependências do colégio suas habilidades para medir os ângulos, como também a precisão do teodolito. Agora a classe estava pronta para fazer um trabalho de campo, já estavam aptos a calcular a altura de uma montanha, como outras distâncias e medidas inacessíveis. Na cidade de Castro onde foi desenvolvida a implementação, há um rio, rio Iapó, que corta a cidade, o bairro onde o Colégio fica situado está há algumas quadras desse rio, como do balneário que existe em uma de suas margens. A classe saiu a campo, indo ao balneário Dr. Líbâneo Cardoso ( prainha ), e lá determinou-se a largura do rio, calculando a altura de um prédio que fica ao lado da prainha, agora só faltava calcular a altura de uma montanha. Calcular a altura de uma montanha dentro da cidade seria complicado, então procuramos um morro com o qual pudéssemos fazer essa atividade. Próximo do local onde estávamos, situa-se um morro, onde a aplicação foi realizada. Como base 15 de nosso morro, e para poder calcular a altura, trabalhamos com as medidas tomadas no início e no final da ponte, que passa sobre o rio Iapó. O trabalho inicial era para ser realizado em um bimestre, porém o tempo foi curto, pois os assuntos que deveriam ser introduzidos eram de grande importância e deveriam ser bem trabalhados para o bom rendimento da turma. A intervenção relatada iniciou-se no mês de maio e terminou no final de agosto. Realizar um trabalho de implementação de uma proposta, não é algo tão fácil assim, as atividades e resultados esperados nem sempre ocorrem da maneira desejada. Muitas surpresas fazem parte desta caminhada, alguns alunos acabaram se revelando melhores e mais capazes do que antes, outros, porém, tiveram mais dificuldades para realizar as atividades, principalmente no início do trabalho, até pegarem o jeito, eles diziam que já estavam acostumados a resolver os exercícios como era de costume. Resolver problemas de matemática nem sempre é fácil, mas aos poucos os alunos conseguiram obter os resultados esperados. Alguns alunos gostaram muito de resolver problemas, principalmente quando eram colocados como desafio para a turma. Para resolução de alguns problemas, foram montados grupos de três a quatro alunos, muitas vezes, esses grupos chegaram ao resultado seguindo estratégias diferentes, quando isto acontecia, os grupos apresentavam para a classe, a sua estratégia de resolução e de como obtiveram o resultado. No início houve preocupação, pois parecia que a turma estava produzindo muito devagar em relação aos conteúdos, a impressão era que se seguissem a ordem da apresentação e colocação dos conteúdos conforme o costume, a turma estaria mais adiantada, essa era a impressão que surgia, porém quando acabou a implementação do projeto, a classe estava mais adiantada nos conteúdos do que todas as outras oitavas séries, e quando um simulado foi aplicado no colégio a turma que apresentou o melhor rendimento em matemática, foi a 8ªsérie B, a média dessa turma ficou 20 por cento maior do que a da segunda melhor média das 8ªséries em matemática, no simulado foram colocadas questões para serem resolvidas em forma de problemas. 16 Os resultados de tal proposta para o ensino de matemática foram tão satisfatórios que estimulam a implantação deste método para todas as turmas, desde o inicio do ano letivo. 17 4 - CONCLUSÃO O trabalho demonstra que o aluno só será capaz de melhorar a capacidade de entender problemas, se mudar seu ponto de vista com relação à Matemática, essa mudança não ocorre de um dia para outro. É um processo longo e, que sem dúvida o professor terá papel fundamental como mediador. Não há um caminho que possa ser considerado único, assim é possível apontar como uma estratégia metodológica e colaborativa a “Resolução de problemas associada a modelos matemáticos”, que facilitará a assimilação do conteúdo da disciplina de Matemática, com aulas mais dinâmicas, saindo da rotina da sala de aula, fazendo com que o quadro de giz seja deixado “um pouco” de lado (já que é o método mais utilizado por nós professores). A Resolução de problemas associada a modelos matemáticos busca fazer os alunos pensarem, força o raciocínio e faz com que eles utilizem esses conhecimentos no seu dia-a-dia e que não engavetem numa parte do cérebro como sendo um conteúdo a mais da disciplina. O presente trabalho trouxe os seguintes benefícios: - O trabalho com conteúdos matemáticos a partir da realidade do meio em que vivem os alunos favorece a assimilação dos conteúdos.. - As fases do processo de resolução de problemas, que corresponde: a compreensão do problema, o estabelecimento de um plano, a execução do plano e a realização de uma retrospectiva ajudam a desenvolver o raciocínio lógico. - A resolução de problemas aliada a modelos matemáticos podem criar uma situação de indagação e investigação. - Partir de um tema central, que apresente dados gerais e quantitativos para as hipóteses, sempre de acordo com o interesse da turma, leva a um maior contato com a realidade. A partir dessa experiência desenvolvida com uma turma de 8ª série do ensino fundamental, do Colégio Padre Nicolau Baltasar, situado na cidade de Castro, foi possível concluir que a proposta de trabalho “Resolução de problemas associada a 18 modelos matemáticos” é viável, devido ao seu nível de simplicidade e ao fácil acesso na coleta dos dados a serem aplicados nas situações propostas e a investigação aplicada em Modelos Matemáticos favoreceu o desenvolvimento, nos alunos, de atitudes e habilidades em resolução de problemas. A escolha do tema “Picos, Montes e Montanhas. Qual a diferença?” despertou o interesse pela Matemática, pois a turma correspondeu às solicitações, envolvendose com as tarefas e esforçando-se para apresentar os dados colhidos em suas próprias investigações. Encerrando as atividades propostas, surge a conclusão de que conhecer maneiras diversificadas de trabalhar em sala de aula é de extrema importância para que professores e estudantes possam desenvolver o ensino e aprendizagem em parceria e cooperação. 19 5 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BASSANEZI,R. C. Ensino-aprendizagem com modelagem matemática: Uma nova estratégia. São Paulo: Contexto, 2002. BASSANEZI, R. C., BIEMBENGUT, M. S. Modelação matemática: uma alternativa para o ensino aprendizagem de matemática em cursos regulares. Bol. Informativo do Dep. Matem. Blumenau, v.10, n.33, p. 1-5, maio 1995. BRASIL. LDB 9394/96. Disponível em www.mec.gov.br Acessado em 25 de out. 2008. BRASIL. MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: introdução aos parâmetros curriculares nacionais/ Secretaria de educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. BRITO. M.R.F. Psicologia da Educação Matemática – Teoria e Pesquisa. Florianópolis:Insular, 2005. 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