Nome completo: ANA TERESA COSTA FIGUEIREDO
CANDIDATURA AO MESTRADO da Universidade
Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e
Ciências Humanas
Linha de pesquisa: Sexualidade, Género e Corpo
Lisboa/Portugal Junho de 2011
1
1) Resumo (máximo 20 linhas) …………………………………. 3
2) Objetivos …………………………………………………………. 3
3) Justificativa e delimitação, com base na bibliografia……. 6
4) Procedimentos metodológicos e forma de análise dos
resultados …………………………………………………………. 9
5) Plano de trabalho……………………………………………… 12
6) Bibliografia……………………………………………………… 14
2
Resumo:
Pretendo reflectir sobre as práticas de parentesco e as questões de
género em contexto hospitalar no âmbito da antropologia das emoções.
Hipótese formulada: uma situação limite (doença prolongada, acidentes
fatais, cuidados paliativos) define, de certo modo, o tipo de solidariedade,
reciprocidade que os atores sociais estabelecem entre si. Todas estas
circunstâncias
levam
os
seus
intervenientes
a
estados
emocionais
vulneráveis. A função social do palhaço será, de algum modo, desbloquear
esses mesmos estados ao criar empatia através da sua poesia e humor com
o ator social.
O enfoque escolhido será o de observar e analisar a relação dos
acompanhantes do menor com o artista (palhaço) e todo o estado
emocional envolvido. “Relação dentro de uma configuração de valores
(envolvendo noções de tempo, espaço, parentesco, emoção) inserido num
contexto social e económico.” [Fonseca p ]
Todas estas conjecturas estarão assentes em termos metodológicos
precisos: observações práticas e discursos da vida cotidiana.
O meu interesse foca-se essencialmente no estudo da emoção, nas
relações de afecto que os atores sociais estabelecem entre si e nos papéis
que os mesmos assumem.
Isto é, como é que a arte de palhaço, expressa de um modo extra
cotidiano,1 é representativa dessas relações cotidianas?
2) Objetivos
Existindo na literatura das ciências sociais um vasto campo teórico
para
explicar
as
manifestações
humorísticas
assim
como
análises
metodológicas, referentes à antropologia das emoções, buscarei justificar e
delimitar o campo de estudo com base na bibliografia existente.
1
O palhaço/clown como veremos adiante é uma persona. Isto é, uma dilatação do actor. Nesta
perspectiva, a corporalidade, os gestos, a voz, as emoções expressam-se de um modo extra quotidiano.
Jogando com a verdade individual do actor este dilata-a, transformando-a em força teatral.
3
Em suma, encontrar uma bibliografia antropológica bem orientada,
bons trabalhos já realizados, no âmbito de outras disciplinas, é fundamental
para sustentar a pesquisa que já é, em larga medida, empírica. Por outras
palavras, sistematizar questões, criar um método analítico passível de uma
maior eficácia no estudo empírico.
Em diversos artigos, livros e palestras a que assisti a criança
hospitalizada está sempre no centro das dissertações, o que naturalmente é
legítimo. Todavia, ao longo destes oito anos de trabalho nos hospitais, como
doutora palhaça, sempre houve uma facção de pessoas que ali está
presente e que muitas vezes se dilui para um segundo plano: os pais, os
avós, familiares e amigos que acompanham o paciente e que o amam
incondicionalmente. A coragem, a fragilidade, a obstinação e a mágoa umas
vezes expressa outras recalcadas são manifestações emocionais, umas
vezes visíveis e outras sutis2.
Proponho, assim, centrar-me nos acompanhantes enquanto
agentes
sociais
providos
de
emoções,
fazendo
um
estudo
comparativo dos diferentes contextos sócio - culturais.
O meu interesse será o de analisar quais as condicionantes sociais,
culturais, geográficas, económicas e políticas a que os acompanhantes dos
pacientes estão sujeitos e de tentar compreender em que medida isso
afecta o sentido de humor e a capacidade de rir, de se emocionarem por um
momento poético.
2
O fato de ser mãe muitas vezes se aflora perante situações bastante vulneráveis. Por vezes é árduo, mas
não impossível, o exercício de gerir emoções. Na verdade essa gestão tem que estar efectivamente
impressa no trabalho.
Eis alguns exemplos:
a) Visitar uma mãe que mesmo tendo o filho em estado terminal tem a capacidade de sorrir, de brincar e
de demonstrar doçura.
b) Enfrentar o olhar de uma mãe, cuja a relação de cumplicidade e empatia com os palhaços está
estabelecida, que no corredor aguarda “simplesmente” pela morte corpórea da filha.
c) O pai, que aos poucos (durante semanas), se vai aproximando, conquistando e deixando-se conquistar
pela dupla de palhaços, pelo simples fato da dupla respeitar a tristeza e depressão do menino de 10 anos
não impondo a sua presença no quarto, não entrando.
d) Pessoas que adoptam crianças com doenças graves e incuráveis.
e) A noticia do diagnóstico. A relação com a instituição hospitalar e sua equipa.
f) Pessoas que largam os empregos e os outros filhos para acompanharem a criança hospitalizada.
g) Casais que se desfazem pela dificuldade de enfrentar juntos a doença da criança.
h) Redes sociais que se intensificam ou desvanecem perante tal adversidade.
4
Por outras palavras, analisar as semelhanças e diferenças no modo
de manifestar emoções e afectos perante uma situação idêntica (a doença
prolongada e suas implicações, a doença crónica da criança, a perda) em
contextos diferentes.
O papel da mulher e do homem, numa situação de doença de um
menor, será um dos aspectos a analisar. Quem abdica do quê na sua rotina
e interesses para poder fazer um acompanhamento mais ou menos
prolongado durante a hospitalização do menor. Assim como proponho-me a
reflectir em torno do conceito de família com base na perspectiva de
Bourdieu. A partir de observações práticas e num discurso da vida cotidiana
pretendo fazer uma análise em torno do discurso da família e como a
construção social da mesma é vivida na prática pelos seus intervenientes.
Deste modo questionarei qual o papel das emoções, enquanto fenómeno
sócio cultural. Quais as implicações sociais e económicas a que um parente
se sujeita quando decide acompanhar a tempo inteiro uma criança
hospitalizada? Qual a relação do doutor palhaço com estas pessoas, que
mesmo quando a criança está a dormir se “insiste” em visitar, oferecendo
um pouco da nossa atenção e carinho?
Há gestos que não precisam de palavras. Porém o simples gesto de olhar
nos olhos, de mostrar de forma lúdica, poética que sabemos que aquela
pessoa que ali está com a sua criança faz a diferença e pode transformar
um pequeno momento define a importância da interação estabelecida.
A criança, e/ou o visitado/ acompanhante possuem a soberania sobre
o palhaço não querendo receber a sua visita. O médico, a enfermeira, a
auxiliar quando entram é para fazer algo que normalmente os pacientes e
seus acompanhantes não podem recusar. Porém, o palhaço é uma presença
que oferece a possibilidade de se rejeitar.
No contexto hospitalar o doutor palhaço é um ser liminar que
atravessa corredores, “invade”3 serviços e quartos. O doutor palhaço é um
transformador de momentos num contexto umas vezes mais humanizado,
outras nem tanto, onde as burocracias, os tempos de espera, o silêncio dos
médicos podem exasperar os adultos que acompanham a hospitalização das
crianças.
3
A nossa presença é proposta e não imposta.
5
Como manter a esperança, o humor em situações adversas? As
adversidades e resolução das mesmas variam de hospital para hospital4, de
país para país? Qual a ligação entre as circunstâncias sócio culturais,
económicas e políticas com a manifestação emocional dos atores sociais?
3) Justificativa e delimitação, com base na bibliografia
A arte do palhaço
Bouissac
refere
que
na
cultura
ocidental
o
clown
não
é,
espontaneamente, considerado como actor, performer, profissional. Apesar
de não ser gratificante para os profissionais de espectáculo que exercem tal
arte constatar que esta observação, de fato esta ideia faz parte dosenso
comum. Mesmo o meio artístico vê a arte do palhaço como uma arte
menor, menos sublime, menos intelectual. Cabe então, aos artistas ou a
quem se interessar pelo tema de dignificar esta arte secular, o que requer
dedicação e anos de pesquisa e trabalho.
E neste ponto surgiu uma das minhas primeiras questões: Como
abordar a questão da dignidade? A dignidade do actor palhaço e do
espectador no contexto hospitalar?
Através da sua lógica individual o clown põe as coisas fora do lugar,
desordena uma ordem pré estabelecida. O palhaço é um provocador maldito
ou benigno. Põe em causa o poderes instituídos assim como lógicas
vigentes. Outra questão coloca-se então: que tipo de humor se deve utilizar
em contexto hospitalar?5
O bufão é uma figura teatral que encarna as dores da humanidade e
as suas deformações internas. Tal como o clown o bufão é uma persona,
não uma personagem. O bufão é o lado avesso do actor, é um segregado
da sociedade que ao mesmo tempo que o rejeita necessita dele. Herdeiro do
bufão o clown mostra as suas fragilidades e por isso o espectador ou se ri
4
No caso português as visitas dos doutores palhaços do ONV são feitas em hospitais públicos.
A adequação é uma preocupação constante no nosso grupo de palhaços. A especificidade do contexto
hospitalar exige que o nível de adequação esteja presente para não ferir susceptibilidades em situações já
por si frágeis. Religião e política são temas delicados que há que ter sensibilidade para os utilizar. Essa
sensibilidade afina-se com a observação e leitura do espaço. Há uma preocupação constante em jogar
numa dimensão poética, não focando no estado anímico da criança. Por outras palavras, focar no lado
positivo da pessoa visitada.
5
6
ou emociona-se, porque se identifica. A identificação é a capacidade que a
pessoa tem de se rir de si própria, no reconhecimento de determinado
comportamento quotidiano. Isto é, o clown é o espelho do ser humano de
forma dilatada. O clown é um ser à parte por ter a sua própria lógica. É um
inadaptado e/ou um adaptado à sua maneira. Ele acredita que pode mudar
o mundo. Como Fellini define: “O clown é uma mistura de dor e humor”.
Desprendido das máscaras sociais, o clown aceita o fracasso e o ridículo.
No hospital, especificamente, o doutor palhaço ao estabelecer
interacção possibilita que a criança e/ou o acompanhante mandem de forma
lúdica nele. Isto é, que a relação tradicional de circo cara branca/ Augusto
se estabeleça.
A dupla de origem europeia cara branca e o Augusto é uma
enfatização da cultura. O branco ou o cara branca representa a competência
artística, a aparência sofisticada, a proeminência social. O Augusto é o
maltrapilho exagerado, é o inverso do Branco6. Segundo Bouissac o modo
como o comportamento normal é demonstrado pelos dois palhaços produz
uma teoria sociológica e antropológica. Por outras palavras, com base numa
referência social formula-se um problema cultural e o clown resolve à sua
maneira,
na
sua
lógica.
Encaramos,
deste
modo,
com a
oposição
cultura/natureza. O branco representa os valores hiper culturais, é o
campeão do sentimento natural e o Augusto personifica a negação da
cultura que simultaneamente a promove. Bouissac coloca a questão: “ Se
as continuas tensões da sociedade, os conflitos, as mudanças estão sempre
a acontecer há então possibilidade de conhecer algo acerca de algo?”
[1990: 207].
Todas as organizações sociais possuem o problema do tempo e do
modo como as mesmas se mantém. A domesticação do tempo é um
instrumento para a edificação da cultura. Sem passado nem futuro, o clown
dribla o tempo, é um burlão, finta os tempos difíceis.
O riso, segundo Bergson, é um gesto social. O riso serve para que a
sociedade chame à ordem as pessoas que fazem parte das normas e da
estrutura social instituída. As relações de poder, as alianças matrimoniais,
6
É curioso observar em Chaplin que em algumas situações ele encarna o vagabundo, noutras ele ascende
de classe social. Todavia a sua ingenuidade e inversão de valores mantém-se. A sua persona (dilatação de
si) tem características de Augusto.
7
os nascimentos, as mortes são processos sociais transversais às diversas
organizações sociais.
A arte de fazer rir e emocionar como função social é a matriz deste
trabalho. Na sua tese Ana Elvira Wuo [1999] defende que o lazer e a
ludicidade aligeiram e intensificam as relações. O clown coloca a lupa das
emoções, tocando o público com o seu lirismo. O jogo, a festa, a recreação
são manifestações de lazer que pressupõe um envolvimento social. O clown
surge como veículo de sociabilização, cuja a função não é terapêutica mas
pode ter esse efeito.
Citado por Wuo, Elias afirma que o processo civilizacional condiciona
as emoções e o modo como estas devem-se manifestar na esfera pública.
Contrariamente
o
clown
permite-se
errar
e
demonstrar
os
seus
sentimentos. Joga com a sua verdade. “ O interessante não é o erro, mas
aprender a criar soluções mais complicadas que o próprio erro.” [Wuo 1999:
54]
O
carácter
social
do
riso
substitui
rituais
solenes
por
uma
contrapartida grotesca. Há uma revelação do mundo através do jogo e do
riso. A função do clown é uma função “transformadora do meio social e
pessoal dentro de um processo histórico interminável e civilizacional.” [Wuo
1999: 55]. A liminialidade, como Turner, invoca é um estado social que
me interessa pessoalmente. A presença do clown num contexto hospitalar
invoca esse estado liminar, onde o clown não pertencendo a nenhuma
classe social (out cast) relaciona-se com todas pessoas sem distinguir o seu
estatuto. O palhaço, desta forma, funciona como elo entre o cotidiano e o
extra cotidiano, entre as hierarquias sociais e suas normas das quais ele
não faz parte. É um ser simultaneamente apaziguador e destabilizador.
As distorções provocam reflexão. O cómico actua como instrumento
de consciência. O entretimento e a reflexão caracterizam o teatro que não é
senão a representação da vida quotidiana. Essa ambiguidade, essa
inconsistência
aparente
reforça
o
colectivo
e
as
estruturas
sociais
existentes. Se por um lado o teatro é a representação de uma ordem social
e da estrutura de poder, o humor é um questionamento idealizado em torno
da “ concepção da realidade do que deveria ser a ordem social.” [Camargo
1989: 102].
8
Em suma, as actividades artísticas são processos civilizacionais que
possibilitam a capacidade de se efectuar uma revidação emocional em
consonância
com
o
controle
social.
As
actividades
artísticas
são
representações que permitem usufruir do lazer e de transformar a vida.
Assim, algumas questões se colocam em relação às emoções:
Existem variantes ou não no modo como os indivíduos se emocionam e se
exprimem nas diferentes culturas e contextos sociais? Sendo universal o
riso e o humor, como é que este se manifesta culturalmente? Existe
efectivamente um humor universal?7 Qual a sua função social?
Antropologia das emoções
Menos susceptível de se submeterem a análises em termos de
sociedade e cultura, as emoções estão remetidas para um campo de
interioridade e irracionalidade. Pode-se, contudo, estudar as emoções a
partir de um prisma antropológico? É possível compreender o papel das
emoções dentro de uma cultura? “Os antropólogos consideram, geralmente,
as emoções como algo relevante do domínio da psicologia, categoria
flutuante, objecto impossível de descrever.” [Surrales e Calonge]. É a partir
dos anos de 1980 que as emoções se tornam um objecto específico de
pesquisa.
O indivíduo e a sociedade, as emoções são aspectos marcantes de
um estilo de sociedade cuja a sua instrumentalização permite construir
análises teóricas nas ciências sociais. Catherine Lutz e Lila Abu- Lughod
criam a relação entre vida afectiva e o seu contexto social e cultural,
defendendo que as emoções são construções que correspondem a certas
condições sócio - culturais cujo o papel é determinante na formação e
definição desse mesmo contexto.
Em 1921, Marcel Mauss chama a atenção para a relação da
interioridade com o meio social, afirmando mesmo que os sentimentos têm
7
Tomemos como exemplo o Chaplin. Além de ser conhecido nos quatro cantos do mundo, a sua
comicidade atinge diferentes níveis de percepção consoante as referências dos espectadores.
9
um carácter pouco individual na medida em que estes são instrumentos de
coesão social.
Mauss vem retirar, de certa maneira, o estudo das emoções do
âmbito da filosofia onde há uma diferenciação marcante entre o emocional e
a vida racional e do âmbito da biologia onde se alvitra que as modificações
e seus mecanismos biológicos estão na base das reacções emocionais.
Em 1986 Catherine Lutz e Geoffrey White publicam em The annual
review of Anthropology um capítulo cujo título é :” The Anthropology of
emotions”. Neste capítulo o termo emoção é recontextualizado, acentuando
a dimensão pública, social e cognitiva da experiência afectiva como critica à
abordagem
dicotómica
ocidental:
racional/irracional;
público/privado;
social/individual.
Contemporaneamente, Robert Levy e Michéle Rosaldo propõem uma nova
forma de pensar o tema, advogando que as emoções são construções
mentais e ideias agenciadas distintamente segundo as culturas. Por outras
palavras, as emoções são uma construção interactiva entre o eu e o outro.
Segundo Catherine Lutz e Abu- Lughod, a cultura Ocidental tende a
enfatizar a racionalidade onde o controle e a ordem são atributos
valorativos. Deste modo, a experiência emocional é remetida para algo ora
prazeroso, ora doloroso. Partindo da comparação de materiais etnográficos
as autoras pretendem teorizar as emoções como fenómeno social. A noção
de discurso de Foucault servirá, assim, de inspiração teórica. Deste modo,
as emoções, segundo as autoras, são tributárias de relações de poder entre
grupos sociais que expressam e reforçam essas mesmas relações.
Encaradas na cultura ocidental, ora como “sinais de fraqueza” ora como
“força poderosa”, o controle das emoções é valorizado preponderantemente
nas relações sociais. Simultaneamente a compaixão, enquanto conjunto de
sentimentos que estabelece vínculos entre pessoas, é um valor social da
cultura euro americana. Neste ponto estabelece-se uma micro política
emocional onde a troca de compaixão aproxima por um lado as pessoas e
por outro pode aprofundar o abismo social. Quem merece compaixão e
porquê?
No caso dos acompanhantes das crianças hospitalizadas não se trata
de estudar somente minorias desfavorecidas fora do contexto social de
quem estuda. Pelo contrário, qualquer pessoa pode estar sujeito a uma
10
vicissitude destas no seu percurso de vida. A doença e a morte “não
escolhe” extractos sociais nem etnias ou nacionalidades. Quais, então, as
condicionantes sociais, económicas e politicas a que os atores sociais estão
sujeitos para que as suas emoções, o seu humor, a sua capacidade de rir se
construa e se exprima? Qual o papel do clown enquanto veiculo de
expressão dessas construções em contexto hospitalar numa realidade
ocidental8?
Neste caso é dar voz ao que eventualmente não é ouvido com
frequência: as emoções num enquadramento antropológico em conexão
com a arte do palhaço directamente e com a saúde física e mental dos
actores sociais.
A escolha do tema do projeto de investigação surgiu da minha prática
profissional, enquanto artista, e vários paradigmas surgiram dessa mesma
prática. Falar da literatura científica internacional e da literatura existente
no Brasil é essêncial à execução mais aprofundada do estudo que proponho
realizar.
O objetivo deste trabalho é o de estabelecer um diálogo frutífero
entre a antropologia (social e cultural) e arte do palhaço em contexto
hospitalar.
Proponho
realizar
um
estudo
interdisciplinar
focado
nos
acompanhantes e não nas crianças ou na equipa hospitalar. Assim, será
necessário tomar conhecimento de quais as disciplinas que abordam o
estudo das emoções que não a antropologia.
Adoptando uma postura de pesquisa reflexiva9 desejo que este
trabalho
contribua
de
alguma
forma
para
a
produção
de
conhecimento cientifico e para uma melhor qualidade de vida dos
intervenientes.
8
O meu interesse será o de fazer um estudo comparativo entre a realidade brasileira e a realidade
portuguesa, espanhola e francesa.
9
Apreendendo os factos; analisando os pesquisados; compreendendo o melhor o indivíduo e os processos
sociais
11
A
capacidade
de
trocar
conhecimento,
seja
ele
científico
ou
meramente empírico, é uma mais valia para responder a uma questão
transversal aos indivíduos enquanto agentes sociais: “quem sou eu?”
Aparentemente metafísica, esta questão remete para um tema que
está na ordem do dia nas empresas, instituições e relações interpessoais: a
inteligência emocional.
Em suma, qual o contributo que a relação entre antropologia e
arte do palhaço pode oferecer a um bem-estar social assente na
inteligência emocional? O meu objetivo é o de estudar a interação
do
palhaço
com
os
parentes
e
acompanhantes
da
criança
hospitalizada. Deste modo, o estudo que pretendo desenvolver insere-se,
de um ponto de vista teórico e metodológico, na linha de pesquisa
Sexualidade, género e corpo. A partir do pressuposto metodológico da
teoria da prática, pretendo reflectir em torno das relações de parentalidade,
das questões de gênero em contexto hospitalar com base no contributo do
estudo da antropologia das emoções
4) Procedimentos metodológicos e forma de análise dos
resultados;
Minha reflexão metodológica incidirá na análise de uma problemática
inserida no contexto da sociedade contemporânea (Feldman – Bianco,
1987: 7). O pressuposto teórico e metodológico escolhido é o da “teoria da
ação”.
1ª Etapa:
Delimitar o meu campo de observação em três espaços distintos.
Serviços pediátricos visitados:
1. Doutores da Alegria em São Paulo/ Brasil
2. Operação Nariz Vermelho em Lisboa/ Portugal
3. Payospital em Valência/ Espanha
12
2ª Etapa:
Fazer um levantamento das disciplinas que abordam o estudo que
não a antropologia.
Fazer
um
reconhecimento
do
fenómeno
através
de
dados
qualitativos, quantitativos, informativos e bibliográficos
Tendo, no entanto, um conhecimento, a priori, da escassez do estudo
que
pretendo
desenvolver
e
de
algum
modo
da
falta
de
diálogo
interdisciplinar das pesquisas até à data efectuadas; focar-me-ei nos
acompanhantes e não nas crianças ou na equipa hospitalar.
3ª Etapa:
. Enfoque micro sociológico com base numa “perspectiva histórica da
sociedade em movimento e em constante fluxo” (Fieldman Bianco 1987:
11) com gente no tempo e no espaço;
. Análise da razão prática- observação do comportamento concreto,
das suas ações e interações sociais. Análise da relação dos indivíduos e o
sistema social dando enfoque às contradições, às variações, ao conflito de
normas e à manipulação de regras. (Fieldman – Bianco 1987: 24);
. Atores sociais- o que as pessoas fazem e o que as pessoas dizem
(Malinovski);
.
culturais
Analisar
e
detalhadamente
históricos
de
os
pequena
processos
políticos,
escala
partir
a
da
económicos,
perspectiva
antropológica;
. Relacionar o nível micro com o nível macro da análise;
. Observação participante e sistemática;
. Fazer um estudo comparativo entre três realidades hospitalares em
diferentes contextos sócio cultural;
. “Fazer uma análise sincrónica com uma perspectiva diacrónica dos
acontecimentos” (F. Bianco 1987: 31);
13
5) Plano de trabalho
1º Preparação da investigação. Revisão da literatura existente sobre o
tema, recolha e elaboração dos dados qualitativos, procura e contato com
hospitais, pessoas e associações de palhaços, construção de entrevistas
2º Pesquisa de terreno, etnografia
3º Primeira análise do material etnográfico, aprofundamentos teóricos e
metodológicos
4º Fase de escritura e elaboração da tese
5º O trabalho de investigação/ cruzamento de dados:
a) Documentação bibliográfica
b) Terreno
c) Análise e interpretação do material etnográfico
d) Construção e reflexão teórica num processo caracterizado pela
interdependência entre as fases
Resultados esperados:
Melhorar a compreensão de contextos específicos inseridos numa macro
sociedade; esclarecer a situação dos pais e acompanhantes; produzir
conhecimento que possa contribuir para a orientação de políticas públicas,
tentar contribuir a nível teórico e prático para a melhoria da qualidade de
vida dos atores sociais que se encontram nas circunstâncias estudadas.
14
6) Bibliografia
Barba, Eugénio, Além das Ilhas Flutuantes, Editora HUCITEC Editora
UNICAMP, São Paulo-Campinas, 1991.
Beaud, Stéphane e Florence Weber, Guia para a pesquisa de campo,
produzir dados etnográficos, Editora Vozes, Petrópolis, 2003 (1997).
Bourdieu, Pierre, O espírito da família, razões prática sobre a teoria a
cção, Editora Celta, Lisboa, 1997.
Fonseca, Cláudia, Cavalo Amarrado também pasta, honra e humor em
grupo popular brasileiro.
http://www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_15/rbcs15_02.ht
m (visitado em 19 de Junho de 2011)
Bouissac,
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sacred
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theatre and ritual (edited by Richard Schechner and Willa Appel),
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Costa, Lívia e Jacquet, Christine. Emoção e experiência corporal na
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Feldman-
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Organização).
Antropologia
das
Sociedades Contemporâneas- Métodos. São Paulo: Global, 1987.
Pussetti,
Chiara,
A
patologização
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diversidade.
Uma
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antropológica sobre a noção de culture – bound syndrome, Etnográfica,
Vol. X (1), 2006, PP.5-40.
15
Reddy, William M, «Against Constructionism: The Historical Ethnography
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Wuo,
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http://www.miriamgrossi.cfh.prof.ufsc.br/disciplinas/generolisboa2009.html (visitado em 19 de Junho de 2011)
16
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Nome completo: ANA TERESA COSTA