Nome completo: ANA TERESA COSTA FIGUEIREDO CANDIDATURA AO MESTRADO da Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas Linha de pesquisa: Sexualidade, Género e Corpo Lisboa/Portugal Junho de 2011 1 1) Resumo (máximo 20 linhas) …………………………………. 3 2) Objetivos …………………………………………………………. 3 3) Justificativa e delimitação, com base na bibliografia……. 6 4) Procedimentos metodológicos e forma de análise dos resultados …………………………………………………………. 9 5) Plano de trabalho……………………………………………… 12 6) Bibliografia……………………………………………………… 14 2 Resumo: Pretendo reflectir sobre as práticas de parentesco e as questões de género em contexto hospitalar no âmbito da antropologia das emoções. Hipótese formulada: uma situação limite (doença prolongada, acidentes fatais, cuidados paliativos) define, de certo modo, o tipo de solidariedade, reciprocidade que os atores sociais estabelecem entre si. Todas estas circunstâncias levam os seus intervenientes a estados emocionais vulneráveis. A função social do palhaço será, de algum modo, desbloquear esses mesmos estados ao criar empatia através da sua poesia e humor com o ator social. O enfoque escolhido será o de observar e analisar a relação dos acompanhantes do menor com o artista (palhaço) e todo o estado emocional envolvido. “Relação dentro de uma configuração de valores (envolvendo noções de tempo, espaço, parentesco, emoção) inserido num contexto social e económico.” [Fonseca p ] Todas estas conjecturas estarão assentes em termos metodológicos precisos: observações práticas e discursos da vida cotidiana. O meu interesse foca-se essencialmente no estudo da emoção, nas relações de afecto que os atores sociais estabelecem entre si e nos papéis que os mesmos assumem. Isto é, como é que a arte de palhaço, expressa de um modo extra cotidiano,1 é representativa dessas relações cotidianas? 2) Objetivos Existindo na literatura das ciências sociais um vasto campo teórico para explicar as manifestações humorísticas assim como análises metodológicas, referentes à antropologia das emoções, buscarei justificar e delimitar o campo de estudo com base na bibliografia existente. 1 O palhaço/clown como veremos adiante é uma persona. Isto é, uma dilatação do actor. Nesta perspectiva, a corporalidade, os gestos, a voz, as emoções expressam-se de um modo extra quotidiano. Jogando com a verdade individual do actor este dilata-a, transformando-a em força teatral. 3 Em suma, encontrar uma bibliografia antropológica bem orientada, bons trabalhos já realizados, no âmbito de outras disciplinas, é fundamental para sustentar a pesquisa que já é, em larga medida, empírica. Por outras palavras, sistematizar questões, criar um método analítico passível de uma maior eficácia no estudo empírico. Em diversos artigos, livros e palestras a que assisti a criança hospitalizada está sempre no centro das dissertações, o que naturalmente é legítimo. Todavia, ao longo destes oito anos de trabalho nos hospitais, como doutora palhaça, sempre houve uma facção de pessoas que ali está presente e que muitas vezes se dilui para um segundo plano: os pais, os avós, familiares e amigos que acompanham o paciente e que o amam incondicionalmente. A coragem, a fragilidade, a obstinação e a mágoa umas vezes expressa outras recalcadas são manifestações emocionais, umas vezes visíveis e outras sutis2. Proponho, assim, centrar-me nos acompanhantes enquanto agentes sociais providos de emoções, fazendo um estudo comparativo dos diferentes contextos sócio - culturais. O meu interesse será o de analisar quais as condicionantes sociais, culturais, geográficas, económicas e políticas a que os acompanhantes dos pacientes estão sujeitos e de tentar compreender em que medida isso afecta o sentido de humor e a capacidade de rir, de se emocionarem por um momento poético. 2 O fato de ser mãe muitas vezes se aflora perante situações bastante vulneráveis. Por vezes é árduo, mas não impossível, o exercício de gerir emoções. Na verdade essa gestão tem que estar efectivamente impressa no trabalho. Eis alguns exemplos: a) Visitar uma mãe que mesmo tendo o filho em estado terminal tem a capacidade de sorrir, de brincar e de demonstrar doçura. b) Enfrentar o olhar de uma mãe, cuja a relação de cumplicidade e empatia com os palhaços está estabelecida, que no corredor aguarda “simplesmente” pela morte corpórea da filha. c) O pai, que aos poucos (durante semanas), se vai aproximando, conquistando e deixando-se conquistar pela dupla de palhaços, pelo simples fato da dupla respeitar a tristeza e depressão do menino de 10 anos não impondo a sua presença no quarto, não entrando. d) Pessoas que adoptam crianças com doenças graves e incuráveis. e) A noticia do diagnóstico. A relação com a instituição hospitalar e sua equipa. f) Pessoas que largam os empregos e os outros filhos para acompanharem a criança hospitalizada. g) Casais que se desfazem pela dificuldade de enfrentar juntos a doença da criança. h) Redes sociais que se intensificam ou desvanecem perante tal adversidade. 4 Por outras palavras, analisar as semelhanças e diferenças no modo de manifestar emoções e afectos perante uma situação idêntica (a doença prolongada e suas implicações, a doença crónica da criança, a perda) em contextos diferentes. O papel da mulher e do homem, numa situação de doença de um menor, será um dos aspectos a analisar. Quem abdica do quê na sua rotina e interesses para poder fazer um acompanhamento mais ou menos prolongado durante a hospitalização do menor. Assim como proponho-me a reflectir em torno do conceito de família com base na perspectiva de Bourdieu. A partir de observações práticas e num discurso da vida cotidiana pretendo fazer uma análise em torno do discurso da família e como a construção social da mesma é vivida na prática pelos seus intervenientes. Deste modo questionarei qual o papel das emoções, enquanto fenómeno sócio cultural. Quais as implicações sociais e económicas a que um parente se sujeita quando decide acompanhar a tempo inteiro uma criança hospitalizada? Qual a relação do doutor palhaço com estas pessoas, que mesmo quando a criança está a dormir se “insiste” em visitar, oferecendo um pouco da nossa atenção e carinho? Há gestos que não precisam de palavras. Porém o simples gesto de olhar nos olhos, de mostrar de forma lúdica, poética que sabemos que aquela pessoa que ali está com a sua criança faz a diferença e pode transformar um pequeno momento define a importância da interação estabelecida. A criança, e/ou o visitado/ acompanhante possuem a soberania sobre o palhaço não querendo receber a sua visita. O médico, a enfermeira, a auxiliar quando entram é para fazer algo que normalmente os pacientes e seus acompanhantes não podem recusar. Porém, o palhaço é uma presença que oferece a possibilidade de se rejeitar. No contexto hospitalar o doutor palhaço é um ser liminar que atravessa corredores, “invade”3 serviços e quartos. O doutor palhaço é um transformador de momentos num contexto umas vezes mais humanizado, outras nem tanto, onde as burocracias, os tempos de espera, o silêncio dos médicos podem exasperar os adultos que acompanham a hospitalização das crianças. 3 A nossa presença é proposta e não imposta. 5 Como manter a esperança, o humor em situações adversas? As adversidades e resolução das mesmas variam de hospital para hospital4, de país para país? Qual a ligação entre as circunstâncias sócio culturais, económicas e políticas com a manifestação emocional dos atores sociais? 3) Justificativa e delimitação, com base na bibliografia A arte do palhaço Bouissac refere que na cultura ocidental o clown não é, espontaneamente, considerado como actor, performer, profissional. Apesar de não ser gratificante para os profissionais de espectáculo que exercem tal arte constatar que esta observação, de fato esta ideia faz parte dosenso comum. Mesmo o meio artístico vê a arte do palhaço como uma arte menor, menos sublime, menos intelectual. Cabe então, aos artistas ou a quem se interessar pelo tema de dignificar esta arte secular, o que requer dedicação e anos de pesquisa e trabalho. E neste ponto surgiu uma das minhas primeiras questões: Como abordar a questão da dignidade? A dignidade do actor palhaço e do espectador no contexto hospitalar? Através da sua lógica individual o clown põe as coisas fora do lugar, desordena uma ordem pré estabelecida. O palhaço é um provocador maldito ou benigno. Põe em causa o poderes instituídos assim como lógicas vigentes. Outra questão coloca-se então: que tipo de humor se deve utilizar em contexto hospitalar?5 O bufão é uma figura teatral que encarna as dores da humanidade e as suas deformações internas. Tal como o clown o bufão é uma persona, não uma personagem. O bufão é o lado avesso do actor, é um segregado da sociedade que ao mesmo tempo que o rejeita necessita dele. Herdeiro do bufão o clown mostra as suas fragilidades e por isso o espectador ou se ri 4 No caso português as visitas dos doutores palhaços do ONV são feitas em hospitais públicos. A adequação é uma preocupação constante no nosso grupo de palhaços. A especificidade do contexto hospitalar exige que o nível de adequação esteja presente para não ferir susceptibilidades em situações já por si frágeis. Religião e política são temas delicados que há que ter sensibilidade para os utilizar. Essa sensibilidade afina-se com a observação e leitura do espaço. Há uma preocupação constante em jogar numa dimensão poética, não focando no estado anímico da criança. Por outras palavras, focar no lado positivo da pessoa visitada. 5 6 ou emociona-se, porque se identifica. A identificação é a capacidade que a pessoa tem de se rir de si própria, no reconhecimento de determinado comportamento quotidiano. Isto é, o clown é o espelho do ser humano de forma dilatada. O clown é um ser à parte por ter a sua própria lógica. É um inadaptado e/ou um adaptado à sua maneira. Ele acredita que pode mudar o mundo. Como Fellini define: “O clown é uma mistura de dor e humor”. Desprendido das máscaras sociais, o clown aceita o fracasso e o ridículo. No hospital, especificamente, o doutor palhaço ao estabelecer interacção possibilita que a criança e/ou o acompanhante mandem de forma lúdica nele. Isto é, que a relação tradicional de circo cara branca/ Augusto se estabeleça. A dupla de origem europeia cara branca e o Augusto é uma enfatização da cultura. O branco ou o cara branca representa a competência artística, a aparência sofisticada, a proeminência social. O Augusto é o maltrapilho exagerado, é o inverso do Branco6. Segundo Bouissac o modo como o comportamento normal é demonstrado pelos dois palhaços produz uma teoria sociológica e antropológica. Por outras palavras, com base numa referência social formula-se um problema cultural e o clown resolve à sua maneira, na sua lógica. Encaramos, deste modo, com a oposição cultura/natureza. O branco representa os valores hiper culturais, é o campeão do sentimento natural e o Augusto personifica a negação da cultura que simultaneamente a promove. Bouissac coloca a questão: “ Se as continuas tensões da sociedade, os conflitos, as mudanças estão sempre a acontecer há então possibilidade de conhecer algo acerca de algo?” [1990: 207]. Todas as organizações sociais possuem o problema do tempo e do modo como as mesmas se mantém. A domesticação do tempo é um instrumento para a edificação da cultura. Sem passado nem futuro, o clown dribla o tempo, é um burlão, finta os tempos difíceis. O riso, segundo Bergson, é um gesto social. O riso serve para que a sociedade chame à ordem as pessoas que fazem parte das normas e da estrutura social instituída. As relações de poder, as alianças matrimoniais, 6 É curioso observar em Chaplin que em algumas situações ele encarna o vagabundo, noutras ele ascende de classe social. Todavia a sua ingenuidade e inversão de valores mantém-se. A sua persona (dilatação de si) tem características de Augusto. 7 os nascimentos, as mortes são processos sociais transversais às diversas organizações sociais. A arte de fazer rir e emocionar como função social é a matriz deste trabalho. Na sua tese Ana Elvira Wuo [1999] defende que o lazer e a ludicidade aligeiram e intensificam as relações. O clown coloca a lupa das emoções, tocando o público com o seu lirismo. O jogo, a festa, a recreação são manifestações de lazer que pressupõe um envolvimento social. O clown surge como veículo de sociabilização, cuja a função não é terapêutica mas pode ter esse efeito. Citado por Wuo, Elias afirma que o processo civilizacional condiciona as emoções e o modo como estas devem-se manifestar na esfera pública. Contrariamente o clown permite-se errar e demonstrar os seus sentimentos. Joga com a sua verdade. “ O interessante não é o erro, mas aprender a criar soluções mais complicadas que o próprio erro.” [Wuo 1999: 54] O carácter social do riso substitui rituais solenes por uma contrapartida grotesca. Há uma revelação do mundo através do jogo e do riso. A função do clown é uma função “transformadora do meio social e pessoal dentro de um processo histórico interminável e civilizacional.” [Wuo 1999: 55]. A liminialidade, como Turner, invoca é um estado social que me interessa pessoalmente. A presença do clown num contexto hospitalar invoca esse estado liminar, onde o clown não pertencendo a nenhuma classe social (out cast) relaciona-se com todas pessoas sem distinguir o seu estatuto. O palhaço, desta forma, funciona como elo entre o cotidiano e o extra cotidiano, entre as hierarquias sociais e suas normas das quais ele não faz parte. É um ser simultaneamente apaziguador e destabilizador. As distorções provocam reflexão. O cómico actua como instrumento de consciência. O entretimento e a reflexão caracterizam o teatro que não é senão a representação da vida quotidiana. Essa ambiguidade, essa inconsistência aparente reforça o colectivo e as estruturas sociais existentes. Se por um lado o teatro é a representação de uma ordem social e da estrutura de poder, o humor é um questionamento idealizado em torno da “ concepção da realidade do que deveria ser a ordem social.” [Camargo 1989: 102]. 8 Em suma, as actividades artísticas são processos civilizacionais que possibilitam a capacidade de se efectuar uma revidação emocional em consonância com o controle social. As actividades artísticas são representações que permitem usufruir do lazer e de transformar a vida. Assim, algumas questões se colocam em relação às emoções: Existem variantes ou não no modo como os indivíduos se emocionam e se exprimem nas diferentes culturas e contextos sociais? Sendo universal o riso e o humor, como é que este se manifesta culturalmente? Existe efectivamente um humor universal?7 Qual a sua função social? Antropologia das emoções Menos susceptível de se submeterem a análises em termos de sociedade e cultura, as emoções estão remetidas para um campo de interioridade e irracionalidade. Pode-se, contudo, estudar as emoções a partir de um prisma antropológico? É possível compreender o papel das emoções dentro de uma cultura? “Os antropólogos consideram, geralmente, as emoções como algo relevante do domínio da psicologia, categoria flutuante, objecto impossível de descrever.” [Surrales e Calonge]. É a partir dos anos de 1980 que as emoções se tornam um objecto específico de pesquisa. O indivíduo e a sociedade, as emoções são aspectos marcantes de um estilo de sociedade cuja a sua instrumentalização permite construir análises teóricas nas ciências sociais. Catherine Lutz e Lila Abu- Lughod criam a relação entre vida afectiva e o seu contexto social e cultural, defendendo que as emoções são construções que correspondem a certas condições sócio - culturais cujo o papel é determinante na formação e definição desse mesmo contexto. Em 1921, Marcel Mauss chama a atenção para a relação da interioridade com o meio social, afirmando mesmo que os sentimentos têm 7 Tomemos como exemplo o Chaplin. Além de ser conhecido nos quatro cantos do mundo, a sua comicidade atinge diferentes níveis de percepção consoante as referências dos espectadores. 9 um carácter pouco individual na medida em que estes são instrumentos de coesão social. Mauss vem retirar, de certa maneira, o estudo das emoções do âmbito da filosofia onde há uma diferenciação marcante entre o emocional e a vida racional e do âmbito da biologia onde se alvitra que as modificações e seus mecanismos biológicos estão na base das reacções emocionais. Em 1986 Catherine Lutz e Geoffrey White publicam em The annual review of Anthropology um capítulo cujo título é :” The Anthropology of emotions”. Neste capítulo o termo emoção é recontextualizado, acentuando a dimensão pública, social e cognitiva da experiência afectiva como critica à abordagem dicotómica ocidental: racional/irracional; público/privado; social/individual. Contemporaneamente, Robert Levy e Michéle Rosaldo propõem uma nova forma de pensar o tema, advogando que as emoções são construções mentais e ideias agenciadas distintamente segundo as culturas. Por outras palavras, as emoções são uma construção interactiva entre o eu e o outro. Segundo Catherine Lutz e Abu- Lughod, a cultura Ocidental tende a enfatizar a racionalidade onde o controle e a ordem são atributos valorativos. Deste modo, a experiência emocional é remetida para algo ora prazeroso, ora doloroso. Partindo da comparação de materiais etnográficos as autoras pretendem teorizar as emoções como fenómeno social. A noção de discurso de Foucault servirá, assim, de inspiração teórica. Deste modo, as emoções, segundo as autoras, são tributárias de relações de poder entre grupos sociais que expressam e reforçam essas mesmas relações. Encaradas na cultura ocidental, ora como “sinais de fraqueza” ora como “força poderosa”, o controle das emoções é valorizado preponderantemente nas relações sociais. Simultaneamente a compaixão, enquanto conjunto de sentimentos que estabelece vínculos entre pessoas, é um valor social da cultura euro americana. Neste ponto estabelece-se uma micro política emocional onde a troca de compaixão aproxima por um lado as pessoas e por outro pode aprofundar o abismo social. Quem merece compaixão e porquê? No caso dos acompanhantes das crianças hospitalizadas não se trata de estudar somente minorias desfavorecidas fora do contexto social de quem estuda. Pelo contrário, qualquer pessoa pode estar sujeito a uma 10 vicissitude destas no seu percurso de vida. A doença e a morte “não escolhe” extractos sociais nem etnias ou nacionalidades. Quais, então, as condicionantes sociais, económicas e politicas a que os atores sociais estão sujeitos para que as suas emoções, o seu humor, a sua capacidade de rir se construa e se exprima? Qual o papel do clown enquanto veiculo de expressão dessas construções em contexto hospitalar numa realidade ocidental8? Neste caso é dar voz ao que eventualmente não é ouvido com frequência: as emoções num enquadramento antropológico em conexão com a arte do palhaço directamente e com a saúde física e mental dos actores sociais. A escolha do tema do projeto de investigação surgiu da minha prática profissional, enquanto artista, e vários paradigmas surgiram dessa mesma prática. Falar da literatura científica internacional e da literatura existente no Brasil é essêncial à execução mais aprofundada do estudo que proponho realizar. O objetivo deste trabalho é o de estabelecer um diálogo frutífero entre a antropologia (social e cultural) e arte do palhaço em contexto hospitalar. Proponho realizar um estudo interdisciplinar focado nos acompanhantes e não nas crianças ou na equipa hospitalar. Assim, será necessário tomar conhecimento de quais as disciplinas que abordam o estudo das emoções que não a antropologia. Adoptando uma postura de pesquisa reflexiva9 desejo que este trabalho contribua de alguma forma para a produção de conhecimento cientifico e para uma melhor qualidade de vida dos intervenientes. 8 O meu interesse será o de fazer um estudo comparativo entre a realidade brasileira e a realidade portuguesa, espanhola e francesa. 9 Apreendendo os factos; analisando os pesquisados; compreendendo o melhor o indivíduo e os processos sociais 11 A capacidade de trocar conhecimento, seja ele científico ou meramente empírico, é uma mais valia para responder a uma questão transversal aos indivíduos enquanto agentes sociais: “quem sou eu?” Aparentemente metafísica, esta questão remete para um tema que está na ordem do dia nas empresas, instituições e relações interpessoais: a inteligência emocional. Em suma, qual o contributo que a relação entre antropologia e arte do palhaço pode oferecer a um bem-estar social assente na inteligência emocional? O meu objetivo é o de estudar a interação do palhaço com os parentes e acompanhantes da criança hospitalizada. Deste modo, o estudo que pretendo desenvolver insere-se, de um ponto de vista teórico e metodológico, na linha de pesquisa Sexualidade, género e corpo. A partir do pressuposto metodológico da teoria da prática, pretendo reflectir em torno das relações de parentalidade, das questões de gênero em contexto hospitalar com base no contributo do estudo da antropologia das emoções 4) Procedimentos metodológicos e forma de análise dos resultados; Minha reflexão metodológica incidirá na análise de uma problemática inserida no contexto da sociedade contemporânea (Feldman – Bianco, 1987: 7). O pressuposto teórico e metodológico escolhido é o da “teoria da ação”. 1ª Etapa: Delimitar o meu campo de observação em três espaços distintos. Serviços pediátricos visitados: 1. Doutores da Alegria em São Paulo/ Brasil 2. Operação Nariz Vermelho em Lisboa/ Portugal 3. Payospital em Valência/ Espanha 12 2ª Etapa: Fazer um levantamento das disciplinas que abordam o estudo que não a antropologia. Fazer um reconhecimento do fenómeno através de dados qualitativos, quantitativos, informativos e bibliográficos Tendo, no entanto, um conhecimento, a priori, da escassez do estudo que pretendo desenvolver e de algum modo da falta de diálogo interdisciplinar das pesquisas até à data efectuadas; focar-me-ei nos acompanhantes e não nas crianças ou na equipa hospitalar. 3ª Etapa: . Enfoque micro sociológico com base numa “perspectiva histórica da sociedade em movimento e em constante fluxo” (Fieldman Bianco 1987: 11) com gente no tempo e no espaço; . Análise da razão prática- observação do comportamento concreto, das suas ações e interações sociais. Análise da relação dos indivíduos e o sistema social dando enfoque às contradições, às variações, ao conflito de normas e à manipulação de regras. (Fieldman – Bianco 1987: 24); . Atores sociais- o que as pessoas fazem e o que as pessoas dizem (Malinovski); . culturais Analisar e detalhadamente históricos de os pequena processos políticos, escala partir a da económicos, perspectiva antropológica; . Relacionar o nível micro com o nível macro da análise; . Observação participante e sistemática; . Fazer um estudo comparativo entre três realidades hospitalares em diferentes contextos sócio cultural; . “Fazer uma análise sincrónica com uma perspectiva diacrónica dos acontecimentos” (F. Bianco 1987: 31); 13 5) Plano de trabalho 1º Preparação da investigação. Revisão da literatura existente sobre o tema, recolha e elaboração dos dados qualitativos, procura e contato com hospitais, pessoas e associações de palhaços, construção de entrevistas 2º Pesquisa de terreno, etnografia 3º Primeira análise do material etnográfico, aprofundamentos teóricos e metodológicos 4º Fase de escritura e elaboração da tese 5º O trabalho de investigação/ cruzamento de dados: a) Documentação bibliográfica b) Terreno c) Análise e interpretação do material etnográfico d) Construção e reflexão teórica num processo caracterizado pela interdependência entre as fases Resultados esperados: Melhorar a compreensão de contextos específicos inseridos numa macro sociedade; esclarecer a situação dos pais e acompanhantes; produzir conhecimento que possa contribuir para a orientação de políticas públicas, tentar contribuir a nível teórico e prático para a melhoria da qualidade de vida dos atores sociais que se encontram nas circunstâncias estudadas. 14 6) Bibliografia Barba, Eugénio, Além das Ilhas Flutuantes, Editora HUCITEC Editora UNICAMP, São Paulo-Campinas, 1991. Beaud, Stéphane e Florence Weber, Guia para a pesquisa de campo, produzir dados etnográficos, Editora Vozes, Petrópolis, 2003 (1997). Bourdieu, Pierre, O espírito da família, razões prática sobre a teoria a cção, Editora Celta, Lisboa, 1997. Fonseca, Cláudia, Cavalo Amarrado também pasta, honra e humor em grupo popular brasileiro. http://www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_15/rbcs15_02.ht m (visitado em 19 de Junho de 2011) Bouissac, Paul,«The profanation of the sacred in circus clown performances», in By means of performance, Intercultural Studies of theatre and ritual (edited by Richard Schechner and Willa Appel), Cambridge University Press, 1990. Costa, Lívia e Jacquet, Christine. Emoção e experiência corporal na trajectória de conversão: um estudo de caso. Ver. Bras. Crescimento desenv. Hum. 2006, vol.16, no 3 [citado 2010-06-14], pp. 83-94. Feldman- Bianco (introdução e Organização). Antropologia das Sociedades Contemporâneas- Métodos. São Paulo: Global, 1987. Pussetti, Chiara, A patologização da diversidade. Uma reflexão antropológica sobre a noção de culture – bound syndrome, Etnográfica, Vol. X (1), 2006, PP.5-40. 15 Reddy, William M, «Against Constructionism: The Historical Ethnography of Emotions» in Current Anthropology, Vol. 38, No. 3. (Jun., 1997), pp.327-351. White, Geoffrey M.; Catherine Lutz. “The Anthropology of Emotions” in Annual Rewie of Anthropology, Vol. 15. (1986), pp. 405-436. Wuo, Ana Elvira, hospitalizadas, O clown Universidade visitador Estadual no de tratamento Campinas, de crianças Faculdade de Educação Física, 1999. http://www.miriamgrossi.cfh.prof.ufsc.br/disciplinas/generolisboa2009.html (visitado em 19 de Junho de 2011) 16