Introdução à Análise de Risco OMS Global Salm-Surv Brasília, Brasil Setembro 2008 Sara Monteiro Pires Síntese • • • • • Contexto Introdução e Objetivos Aplicações Estrutura e princípios Considerações finais Contexto • Consumidor alarmado e bem informado • Preocupação crescente “O que estamos comendo?” Contexto (Cont) • Produção massiva de alimentos • Maior exposição – – – – Aumento do número de serviços alimentares Aumento de serviços de restauração Viagens/ Turismo Aumento do comércio internacional Contexto (contd.) “Para a formulação de políticas com respeito aos alimentos, os governos devem ter em conta a necessidade de seguranca alimentar dos consumidores e devem adotar padrões do Codex Alimentarius ou, na sua ausência, outros padrões internacionais de alimentação geralmente aceites.” O Codex Alimentarius tem relevância para o comércio internacional de alimentos. Contexto (contd.) • Aumento da incidência de infecções alimentares – – – – – Salmonella Campylobacter Listeria E. coli verocitotoxinogénica … Introdução ”A arte da saúde pública (veterinária) implica a tomada de decisões acertadas/ apropriadas baseadas em informação imperfeita.” A Análise de Risco é uma ferramenta reconhecida para a definição de prioridades em saúde pública e gestão de perigos alimentares. Objetivos da Análise de Risco • Investigar o potencial de efeitos adversos na saúde consequentes à exposição a um perigo através de um processo estruturado e sistematizado • Desenvolver opções para a mitigação do risco • Facilitar a comunicação interativa entre as partes interessadas e envolvidas no processo Aplicações da Análise de Risco Utilizada em diferentes disciplinas • Engenharia – Energia Nuclear – Indústria química – Eng. Civil • Gestão e finanças – Gestão de projeto – Empréstimos bancários – Bolsa – Seguradoras • Saúde – Toxicologia – Indústria farmacêutica – Radiação Análise de Risco • Comércio Internacional – – – – Acordo Geral de Tráfico e Comércio (GATT) Organização Mundial de Comérico (1995) Acordo Sanitário e Fito-sanitário (SPS) Barreiras de comérico só possíveis quando baseadas em availações (de risco) científicas – OIE – Codex Alimentarius – WHO/FAO JEMRA • Epidemiologia (veterinária) e segurança alimentar – Encefalopatia espongiforme bovina (BSE) – Salmonella, Campylobacter, E. coli Análise de Risco Guidelines • OIE - Análise de risco de importação • Codex alimentarius – Seguranca alimentar Análise de Risco Terminologia • Perigo Agente biológico, químico ou físico capaz de causar efeitos adversos na saúde • Risco Produto da probabilidade (p) de ocorrência, magnitude (m) e consequências (c) de um efeito adverso Análise de Risco Processo constituído por três componentes (FAO/ WHO, 1995) – Avaliação do risco – Gestão do risco – Comunicação do risco Análise de Risco Avaliação Gestão do risco do risco Comunicação do risco Análise de Risco Avaliação do risco Gestão do risco Comunicação do risco Processo interativo, não sequencial Análise de Risco Avaliação do risco Comunicação do risco Gestão do risco Separação funcional entre a Avaliação e a Gestão do risco Assegurar a integridade científica Análise de Risco Sobreposição Avaliação do risco Gestão do risco Comunicação do risco Análise de Risco Sobreposição Avaliação do risco Gestão do risco Comunicação do risco Fase inicial Análise de Risco Sobreposição Avaliacção do risco Gestão do risco Fase incial Ciência Comunicação do risco Análise de Risco Sobreposição Avaliação do risco Gestão do risco Fase Inicial Ciência Comunicação do risco Política Análise de Risco •Avaliação de alternativas para a mitigação do risco Gestão do risco •Selecção, implementação e revisão das opções e medidas de controle •Processo político e administrativo de determinação do risco aceitável baseado em considerações • Éticas •Práticas • Económicas • Técnicas Análise de Risco 4 Componentes • “Avaliação” do risco (Risk evaluation) Gestão do risco • Avaliação de alternativas • Implementação • Monitorização e revisão Análise de Risco Avaliação do risco •Avaliação científica de efeitos adversos conhecidos ou potencias resultantes da exposição a perigos alimentares Análise de Risco Três perguntas importantes Avaliação do risco O que pode correr mal? Quão provável é que aconteça? Se acontecer, quais são as consequências? Análise de Risco Três princípios importantes Avaliação do risco Científica Independente Transparente Análise de Risco • Metodologia de organização da informação de uma maneira estruturada e sistemática Avaliação do risco • 4 Passos: • Identificação do perigo • Caracterização do perigo • Avaliação da exposição • Caracterização do risco • Recomendações (suporte na decisão) • Processo científico e técnico Análise de Risco • Processo interativo Comunicação do risco • Troca aberta de informação e opinião, dando origem a um melhor conhecimento do risco e decisões relacionadas com o risco • Aquisição de informação • Distribuição de informação Notas finais • Ter em conta riscos e benefícios • Gestão do Risco - Utilização correta dos resultados da Avaliação do Risco • Comunicação correta do risco e à audiência certa Avaliação de Risco Síntese • • • • • Objetivos Princípios Passos Modelização Exemplos Objetivos • Estimar, avaliar, discutir e documentar o risco de um evento adverso e a sua mitigação (redução do risco) AR em Seguranca Alimentar • Avaliação de Risco Microbiológica (ARM) • Avaliação de Risco Toxicológica Aplicações - ARM • Calcular valores/ estimativas de risco de uma infecção humana ou animal • Investigar o mecanismo subjacente de disseminação de um agente patogênico numa população animal ou produto alimentar • Quantificar a importância dos vários passos da cadeia alimentar da produção ao consumo Production P N Retail N P Preparation N P Consumption Exposure Aplicações - ARM • Explorar os efeitos de estratégias de controle ou redução • Identificar lacunas de conhecimento/ falta de dados • Explorar a relação custo/ benefício de estratégias alternativas de intervenção Finalidade da ARM • Auxiliar as entidades gestores de risco na tomada de decisões: – Aceitar o risco estimado Não fazer nada – Elaborar e implementar estratégias de redução do risco – Recusar o risco estimado e.g. Banir produto alimentar • O objetivo específico da MRA deve ser defenido, e.g. – Fornecer estimativa de incidência humana de doenca por 100,000 – Diminuição da incidência - mudança específica numa medida de gestão de risco 3 Princípios Importantes • Científica • Independente • Transparente 3 Perguntas Importantes O que pode correr mal? Quão provável é que aconteça? Perigo Probabilidade Se acontecer, quais são as consequências? Consequência Terminologia • Perigo Agente biológico, químico ou físico capaz de causar efeitos adversos na saúde • Risco Produto da probabilidade (p) de ocorrência, magnitude (m) e consequências (c) de um efeito adverso Risco = p * m * C Se p, m ou c=0, Risco=0 Avaliação de Risco - Passos Identificação do Perigo Identificação do microorganismo/ toxina capaz de causar efeito adverso e que pode estar presente num determinado alimento/ grupo de alimentos Requer dados de: Informação: • Estudos epidemiológicos • Bases de dados públicas ou industriais • Vigilância • Estudos clínicos • Estudos laboratoriais •… • Governo • Organizações internacionais • Literatura científica Avaliação de Risco - Passos Identificação do Perigo Caracterização do perigo Avaliação qualitativa ou quantitativa da severidade e duração dos efeitos adversos associados à ingestão do microorganismo Considerar factores relacionados com: • Microorganismo – patogeniecidade, replicabilidade, infecciosidade, … • Hospedeiro – susceptibilidade, fact. genéticos, exposição prévia, … • Alimento – capacidade de alteração da patogenecidade (e.g. gordura) • Relação dose-resposta Avaliação de Risco - Passos Identificação do Perigo Caracterização do Perigo Avaliação da Exposição Descrição do percurso da produçao ao consumo. Estimativa da ingestão do microorganismo através de cada fonte/ via. Considerar: • Prevalência e concentração • Modelos preditivos • Alterações ao longo do tempo • Padrões de consumo • ... Avaliação de Risco - Passos Identificação do Perigo Caracterização do Perigo Avaliação da Exposição Integração dos 3 passos anteriores. Caracterização do Risco Estimativa da probabilidade de ocorrência e severidade dos efeitos adversos - risco. Tipos de Avaliação de Risco • Qualitativa – Focada no perigo – Narrativa • Quantitativa – Focada no risco – Numérica Avaliação de Risco Qualitativa • Discussão e categorização do risco • Informação/ dados insuficientes para estimativa do risco • Ranking, definição de prioridades • Resultado típico: – Risco reduzido, moderado, elevado Avaliação de Risco Quantitativa • Tentativa de quantificação do efeito adverso e da sua magnitude • Modelo: – Sistema de distribuições de probabilidade interrelacionadas – descrevendo a incerteza e variabilidade • Resultado: – Valor médio ou Distribuição de probabilidade Avaliação de Risco Quantitativa • Requer dados e conhecimento • Complexa • Disponibilidade de dados – avaliação mais objetiva Estrutura do modelo Pressupostos Subjetivos Avaliação de Risco Quantitativa Modelos Determinísticos Modelos Estocásticos Todas as variáveis são representadas por valores únicos (média, mediana,…) Point estimate Variáveis representadas por Distribuicöes de probabilidade Exemplo: Número de animais infectados (r) num grupo de 100 (n) no qual a prevalência (p) é 1% 0 .4 Determinístico Estocástico r=nxp=1 Binomial (100, 0.01) 0 .0 0 2 1 5 7 . . 0 . 0 . 5 0 5 . Avaliação de Risco Quantitativa Distribuições de probabilidade a) Triangle distributions 0.1 b) Uniform distributions 0.1 Triangle(0,10,20) Uniform(5,15) 0.08 0.08 0.06 Triangle(0,20,50) Uniform(2,20) 0.06 Triangle(0,50,50) 0.04 0.04 0.02 0.02 0 0 0 10 20 30 40 50 0 c) PERT distributions 10 15 20 d) A General distribution PERT(0,10,20) 5 5 0.7 PERT(0,49,50) General(4,15,{7,9,11},{2,3,.5}) 0.6 4 0.5 3 0.4 PERT(0,20,50) 0.3 2 0.2 1 0.1 0 0 0 10 20 30 40 50 0 e) A Cumulative distribution 1 5 10 15 f) A Discrete distribution 0.5 Cumulative(0,10,{1,4,6},{0.2,0.5,0.8}) 0.8 0.4 0.6 0.3 0.4 0.2 0.2 0.1 0 Discrete({1,2,3},{0.4,0.5,0.1}) 0 0 2 4 6 8 10 0 1 2 3 4 Variabilidade e incerteza • Variabilidade Diferenças reais nas propriedades de uma população ou indivíduo no tempo, espaço, etc. Näo pode ser reduzida. Exs: - Prevalência do agente em diferentes explorações - Concentração em diferentes partes do alimento - Homem: idade, raca, peso, genótipo, imunidade • Incerteza Falta de conhecimento sobre o verdadeiro valor da variável. Pode ser reduzida com aumento de dados. Exs: - Incerteza estatística por amostras reduzidas. - Base de dados näo totalmente representativa. Variabilidade e incerteza • Variabilidade Documentar • Incerteza Fundamentar Indicador de confiança do resultado Exemplo Avaliação de risco quantitativa de Campylobacter jejuni em frangos Bjarke Christensen, Helle Sommer, Niels Nielsen, Hanne Rosenquist National Food Institute, Dinamarca Contexto - 1998 • A incidência de infeções entéricas humanas causadas por Campylobacter aumentou significativamente desde o início da década de 90. Em 1999, Campylobacter ultrapassou Salmonella. • Foi elaborado um perfil de risco Number of registrated human cases 6000 5000 4000 3000 2000 1000 0 1984 1986 1988 1990 Cam pylobacter jejuni/coli Lis teria m onocytogenes VTEC 1992 1994 1996 Salm onella s pp. Yers inia enterocolitica 1998 2000 Contexto - 1999 Com base no perfil de risco, foi “encomendada”uma avaliação de risco quantitativa (ARQ) de Campylobacter termofílico em carne de frango. Contexto - 1999 A ARQ encomendada deve seguir: • O formato do procedimento formal de Análise de risco publicado pela FAO/OMS (Análise de risco = gestão de risco, avaliação de risco, comunicação de risco), e • Os princípios do processo de avaliação de risco publicados pela Comissão do Codex Alimentarius (Avaliação de risco = identificação do perigo, caracterização do perigo, avaliação da exposicão, caracterização do risco) Objetivo • Objetivo da ARMQ: – Estimar a importância relativa de diferentes estratégias de intervenção na probablilidade de doença humana associada com Campylobacter jejuni em frangos. Identificação do perigo • Campylobacter – causa mais importante de infeções entéricas na maioria dos países ocidentais • Incidência na Dinamarca em 1999: 78 casos por 100,000 habitantes – ~90% dos casos: Campylobacter jejuni – ~10% Campylobacter coli • Número real de infeções por Campylobacter (estimado): 30,000 a 40,000 (incidência 6008300 por 100,000 habitantes) Identificação do perigo (contd.) • Elevada prevalência de Campylobacter em galinhas • Estudos de caso-controle identificaram consumo de frango e/ou manipulação de carne de frango como fatores de risco importantes para campylobacteriose humana • Dados do impacto de medidas de control de Campylobacter implementadas noutros países na incidência humana Caracterização do perigo • Efeitos adversos na saúde – Enterocolite aguda, febre, dor abdominal aguda, diarréia aguada a sanguinolenta – PI: 1 a 3 dias – Na maioria dos casos, diarréia autolimitante e pode perisistir até uma semana – Sequelas: artrite reativa, infeção estéril multi-articular, síndrome Guillain-Barré – Desenvolvimento de resistência antimicrobiana (C. jejuni resistente a fluorquinolonas) Caracterização do perigo (contd.) • Relação dose-resposta Pinf = 1- (1-p)n Pinf: Probabilidade de pelo menos um dos n organismos infectar o hospedeiro p: Probabilidade de infecção de um indivíduo Avaliação da exposição • Dois modelos matemáticos consecutivos desenvolvidos para estimar a probabilidade e magnitude de exposição a Campylobacter pelo consumo de galinha Dados (input) Flock prevalence Concentration after bleeding Tamanho do bando Prevalence of Campylobacter jejuni Module 1: Slaughter and processing Module 2: Preparation and consumption Doseresponse Concentration of Campylobacter jejuni Pinfection & Pillness Avaliação da exposição Caracterização do risco • Exposicão estimada • Dose-resposta • Estimativa de risco – Número estimado de casos humanos associados ao consumo de carne de frango: 1 caso por cada 14,300 refeições – Número estimado de refeições com carne de frango na Dinamarca: 201 milhões por ano – Número esperado de casos associados ao consumo de carne de frango contaminada com Campylobacter preparada em casas particulares: 14,000 por ano • Homens jovens (18-29 anos de idade) sob risco mais elevado 2,5e-04 2,0e-04 1,5e-04 1,0e-04 5,0e-05 0,0e+00 Registered number of human campylobacteriosis per 100,000 population Fe m a Fe l es m < al 20 e s Fe m 20 al 29 es Fe 3 m 0 -5 al 9 es M >5 al 9 es M al < 2 es 0 2 M 0al 29 es 3 M 0-5 al 9 es > 59 Fe m Fe al e m s< a 18 Fe l es 1 m al 8 -2 e 9 Fe s 3 m 0 -6 al es 5 M >6 al 5 e M s< al es 18 M 18 al es 2 9 3 M 0-6 al es 5 > 65 Estimated probability of illness per meal Resultados 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 Probabilidade de doença estimada comparada com o número de casos de campylobacteriose reportados Caracterizacão do risco (contd.) 0,7 0,6 Simulated values Probability 0,5 Measured semiquantitative values 0,4 0,3 0,2 0,1 0 <0.4 0.4-4 4-40 40-400 400-4000 >4000 Concentration (CFU/g) Número previsto de Campylobacter em carne de frango produzida na Dinamarca comparado com valores medidos nas unidades de retalho (Açougue) em 2000 Mean probability of illness per meal • Efeito das estratégias de mitigação do risco 2,0e-4 1case per 6000 meals 1,5e-4 1,0e-4 1 case per 26000 meals 5,0e-5 1case per 14000 meals 0,0e+0 Chilled chickens Frozen chickens Chilled + frozen chickens Probabilidade de doenca estimada associada com a preparacão de carne de frango refrigerada comparada com galinha congelada Obrigada pela atenção