1 UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ PROGRAMA DE DOUTORADO INTEGRADO EM ZOOTECNIA QUALIDADE DE SILAGENS DE CANA-DE-AÇÚCAR (Saccharum officinarum L.) COM DIFERENTES NÍVEIS DE GLIRICÍDIA [Gliricidia sepium (Jacq.) Kunth ex Walp.] CYRO REGO CABRAL JUNIOR Engenheiro Agrônomo AREIA - PB JUNHO DE 2007 2 UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ PROGRAMA DE DOUTORADO INTEGRADO EM ZOOTECNIA QUALIDADE DE SILAGENS DE CANA-DE-AÇÚCAR (Saccharum officinarum L.) COM DIFERENTES NÍVEIS DE GLIRICÍDIA [Gliricidia sepium (Jacq.) Kunth ex Walp.] CYRO REGO CABRAL JUNIOR AREIA - PB JUNHO DE 2007 3 CYRO REGO CABRAL JUNIOR QUALIDADE DE SILAGENS DE CANA-DE-AÇÚCAR (Saccharum officinarum L.) COM DIFERENTES NÍVEIS DE GLIRICÍDIA [Gliricidia sepium (Jacq.) Kunth ex Walp.] Tese apresentada ao Programa de Doutorado Integrado em Zootecnia, da Universidade Federal da Paraíba, do qual participam a Universidade Federal Rural de Pernambuco e Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Zootecnia. Área de Concentração: Forragicultura Comitê de Orientação: Prof. Dr. Divan Soares da Silva – Orientador Principal Profa. Dra. Edna Peixoto da Rocha Amorim AREIA - PB JUNHO - 2007 4 DEDICO Ao meu filho João Flávio S. Cabral, POR TODA paciência, ajuda, companheirismo e amor; pois mesmo nos momentos mais difíceis durante esta escalada, ele conseguiu ser um filho admirável. À Profa. Dra. Edma Carvalho de Miranda... ... POR TUDO! 5 AGRADECIMENTOS A Deus e a minha família pela vida, e por ainda me fazerem acreditar que o mundo em que vivemos possa vir a ser justo, harmonioso e fraterno. Aos meus orientadores Prof. Divan Soares da Silva e Profa. Edna Peixoto da R. Amorim, por todas as orientações, ensinamentos e confiança a mim depositadas. A todos que compuseram e compõem a Coordenação deste Programa. A FAPEAL, pelo suporte financeiro. Ao Prof. Roberto Jorge Vasconcelos dos Santos (Universidade Federal de Alagoas), pelo apoio e estímulo para que eu fizesse este curso. À Profa. Denise Maria Pinheiro (Universidade Federal de Alagoas), por sua orientação, custeio de análises químicas, cessão da infra-estrutura laboratorial e pelo grande empenho e desprendimento. Aos professores Roger Beleen e Patrícia Guimarães (Universidade Federal de Alagoas), por suas orientações e encorajamento quando da solicitação da minha bolsa de doutorado Sandwich junto a CAPES. Ao Prof. Yimim Cai, do National Institute of Grassland Science – NILGS, Japão, por acreditar no meu projeto de doutorado Sandwich. Aos professores Richard E. Muck e Jees D. Reed (Universidade de Wisconsin-EUA) e Limin Kung Jr. (Universidade de Delaware-EUA), por sua atenção e colaboração. A Maria Verônica Meira de Andrade, amiga de todas as horas boas e, principalmente, nos momentos difíceis que passei durante este Curso. A Leila Medeiros, Maria do Socorro Caldas Pinto, Rosilene Agra e Graça Medeiros por sua hospitalidade, amizade e prontidão. Aos colegas dos laboratórios de Bromatologia (Wilson, Jaqueline, Helton e Emanuell), de Microbiologia (Juliana e Márcio) e de Biotransformação de Alimentos (Cenira e Cristhiane), por suas contribuições nas respectivas análises. A Raul Cunha, pela forma correta, coerente e transparente quando nos representou junto ao Colegiado deste curso. A todos que direta e ou indiretamente contribuíram, ou não, para a realização desta. 6 “Quando a gente pensa que sabe todas as respostas, Vem a vida e muda todas as perguntas.” Autor desconhecido. ix LISTA DE TABELAS Capítulo 2 Tabela 1. Página Descrição das silagens exclusivas de cana-de-açúcar e das aditivadas com gliricídia sem e com emurchecimento.................. 31 2. Composição química dos componentes antes da ensilagem......... 35 3. Equações de regressão e coeficientes de determinação (R2) para a matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), lignina, cinza, carboidratos solúveis (CHOsol) e digestibilidade in vitro da MS (DIVMS) em função do armazenamento (A) nas silagens de cana com gliricídia fresca (C+GNE) e emurchecida (C+GE)....... 36 Coeficientes de correlação de Pearson (r) para as variáveis quantitativas das silagens de cana-de-açúcar aditivadas ou não com gliricídia fresca e emurchecida.............................................. 43 Componentes principais da análise de variáveis relacionadas com o valor nutricional das 28 silagens deste estudo.................... 44 Valores médios para as variáveis analisadas nas silagens selecionadas com menor grau de divergência nutricional nos grupos 1, 2 e 3................................................................................ 46 Otimização para as quatro silagens com maior valor nutritivo..... 48 4. 5. 6. 7. Capítulo 3 Tabela 1. 2. 3. 4. Página Descrição das silagens exclusivas de cana-de-açúcar e das aditivadas com gliricídia sem e com emurchecimento.................. 61 Microflora epífita (log UFC/g MV) da cana-de-açúcar e da gliricídia antes da ensilagem.......................................................... 63 Equações de regressão e coeficientes de determinação (R2) para leveduras, fungos, bacilos e bactérias totais em função do armazenamento (A) das silagens aditivadas com gliricídia fresca (C+GNE) e emurchecida (C+GE)................................................. 64 Coeficientes de correlação de Pearson (r) da contagem da microflora epífita das silagens de cana-de-açúcar aditivadas ou x 5. 6. 7. não com gliricídia fresca e emurchecida....................................... 67 Componentes principais da análise de variáveis relacionadas com a microflora epífita nas 28 silagens....................................... 68 Valores médios das variáveis analisadas nas silagens dos grupos 1 e 2............................................................................................... 69 Otimização para as quatro silagens com valores microbiológicos ótimos em relação ao percentual de cana-de-açúcar, gliricídia e emurchecimento............................................................................. 72 Capítulo 4 Tabela 1. 2. 3. 4. 5. Página Descrição das silagens exclusivas de cana-de-açúcar e das aditivadas com gliricídia sem e com emurchecimento.................. 87 Estabilidade aeróbica, ADITE-5 e ADITE-10 das silagens de cana-de-açúcar sem e com adição de gliricídia não emurchecida................................................................................... 90 Estabilidade aeróbica, ADITE-5 e ADITE-10 das silagens de cana-de-açúcar com adição de gliricídia emurchecida.................. 91 Valores médios da matéria seca (MS), pH, CHOsol e leveduras das silagens aditivadas com gliricídia fresca e expostas ao ar por até 10 dias...................................................................................... 92 Valores médios para a matéria seca (MS), pH, CHOsol e leveduras das silagens aditivadas com gliricídia emurchecida e expostas ao ar por até 10 dias........................................................ 95 Capítulo 5 Tabela Página 1. Otimização das silagens com base no valor nutritivo ótimo......... 116 2. Estabilidade aeróbica, ADITE-5 e ADITE-10 das silagens de cana-de-açúcar com adição de gliricídia emurchecida.................. 117 Componentes principais da análise de variáveis relacionadas com o valor nutricional das 28 silagens deste estudo.................... 117 Componentes principais da análise de variáveis relacionadas com a microflora epífita nas 28 silagens deste estudo................... 118 3. 4. xi 5. 6. Características químico-bromatológicas e microflora epífita nos componentes antes da ensilagem................................................... 120 Valores médios para as silagens exclusivas de cana (S1) e das aditivadas com 25% de gliricídia emurchecida aos 45 (S2), 90 (S3) e 120 dias de armazenamento (S4)........................................ 125 xii LISTA DE FIGURAS Capítulo 4 Figura 1. Página Temperaturas ambientais médias diárias obtidas durante o período experimental..................................................................... 89 Capítulo 5 Figura 1. Página Variação do pH nas silagens exclusivas de cana-de-açúcar (C) e as aditivadas com gliricídia fresca (GNE) ou emurchecida (GE) nos primeiros 15 dias após o fechamento do silo.......................... 122 xiii RESUMO GERAL Esta tese avaliou a qualidade de silagens de cana-de-açúcar Var. RB-92579 com diferentes níveis de adição de gliricídia fresca ou emurchecida por 15, 45, 90 e 120 dias de armazenamento e está dividida em quatro ensaios. O objetivo do Ensaio 1 foi avaliar a similaridade nutricional das silagens utilizando a análise de componentes principais (CP), de agrupamentos e de otimização experimental. Adotou-se um delineamento experimental inteiramente casualizado num esquema fatorial [(2x3x4) + 4], onde as 24 silagens de cana-deaçúcar (C) foram constituídas pela adição de gliricídia não emurchecida (GNE) ou emurchecida (GE), em três níveis (25, 50 e 75%), armazenadas durante 15, 45, 90 e 120 dias, além de mais quatro silagens confeccionadas exclusivamente com cana-de-açúcar, ambas com três repetições. Utilizou-se como silos baldes plásticos, vedados por lona plástica e fita adesiva. As variáveis foram: matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), lignina, cinza, carboidratos solúveis em água (CHOsol) e digestibilidade in vitro da MS (DIVMS). A avaliação nutricional das silagens baseou-se nos três primeiros CP, que explicaram 79,33% da variação total. A PB e CHO foram as variáveis de menor importância para explicar a variabilidade nutricional das silagens. A MS, DIVMS e lignina; FDA e cinza; e FDN, pertencentes ao CP1, CP2 e CP3, apresentaram menor dispersão dos escores nos referidos CP. A análise de otimização forneceu as quatro melhores misturas em relação aos fatores e variáveis analisadas, onde predominouse o percentual de 25% de GE nas silagens de cana. O Ensaio 2 caracterizou-se por quantificar a microflora epífita da C, GNE e GE e das misturas ensiladas com os respectivos componentes. Sub-amostras das silagens (±25,0 g) provenientes do Ensaio 1, foram diluídas em série nos respectivos meios de cultura para leveduras, fungos, bacilos e bactérias totais. A análise multivariada mostrou-se significativa para os efeitos dos fatores e variáveis analisadas (P<0,1). A avaliação microbiológica das silagens baseou-se nos dois primeiros componentes principais (Yi), explicando 83,09% da variação total. As leveduras, os fungos e as bactérias totais, incluídos no Grupo 1, explicaram 64,23% . Os bacilos tiveram menor importância para explicar a variabilidade na microflora epífita das silagens, ficando no Grupo 2 e explicaram somente 18,86% da variação total. A Análise de Otimização e o Índice de Desejabilidade forneceram as quatro melhores misturas em relação aos fatores e variáveis analisadas. Desta forma, 25% de GE apresentaram-se como aditivo vegetal controlador da fermentação microbiana indesejável nas silagens de C analisadas. O Ensaio 3 teve como objetivo avaliar a estabilidade aeróbica (EA) de silagens de cana-de-açúcar var. RB-92579 sem aditivo vegetal (SA) e aditivadas com 25, 50 e 75 % de GNE ou GE, previamente armazenadas por 45, 90 e 120 dias. O delineamento utilizado foi o inteiramente casualizado em esquema fatorial (2 x 3 x 3) + 3, totalizando 21 tratamentos. Foram colocados cerca de 300 g do material sem compactação em garrafas PET sem tampa e mantidos em galpão coberto. Cada unidade experimental e o referido ambiente tiveram suas temperaturas mensuradas às 8, 15 e 20 horas durante 10 dias consecutivos. Para tal, foram utilizados um termômetro digital com haste metálica e um com bulbo de mercúrio, respectivamente. As silagens exclusivas de cana com 45 dias de armazenamento (A), bem como as com 25 % de GNE com 45 e 120 DA, apresentaram 120 horas de EA (P<0,05). As silagens com 25 % de GE apresentaram EA de 168 horas (P<0,05), aos 45 e 90 DA. Isto sugere que o emurchecimento, a gliricídia e ou a variedade da cana utilizada, podem ter influenciado nas variáveis analisadas. As silagens exclusivas de cana e as que receberam GNE apresentaram incremento na MS e pH; decréscimo de CHOsol e leveduras. As que receberam 25 % de GE e que foram armazenadas por 90 e 120 dias apresentaram comportamento semelhante aos preconizados pela literatura. O Ensaio 4 objetivou avaliar silagens exclusivas de C (SC) da mesma variedade e o efeito xiv causado nestas pela adição de 25% de GE sobre as características fermentativas e a qualidade do material ensilado após armazenamentos de 45, 90 e 120 dias. O experimento foi conduzido em um delineamento inteiramente ao acaso, com três repetições, sendo a cana colhida após 12 meses e os ramos jovens foram procedentes de gliricídias adultas, emurchecidos ao sol por aproximadamente 6 horas. As misturas foram ensiladas em baldes plásticos de 10 litros sem válvula de escape e dispositivos para coleta de efluentes. Foram obtidos valores comparativos entre as SC e as SC+GE em relação à variação da MS, etanol, ácidos orgânicos e fenóis totais (FT), além da microflora epífita. Houve diferença (P<0,05) para MS, CHOsol, etanol, ácidos orgânicos, pH e microflora epífita. Para a capacidade tamponante e fermentativa houve aumento significativo (P<0,05); para FDN não houve diferença (P≥0,05). A população de leveduras mostrou-se altamente correlacionada com maiores concentrações de ácido acético, FT e etanol. O emurchecimento mostrou-se eficiente, enquanto o armazenamento apresentou oscilações quadráticas positivas ou negativas para a microflora epífita das silagens. Palavras-chave: Análise bromatológica, ensilagem, estabilidade aeróbica, microbiologia epífita, padrão de fermentação xv GENERAL ABSTRACT This thesis evaluate the quality of sugarcane silages (Var. RB-92579) with different levels of fresh or wilted gliricidia addition storage by 15, 45, 90 and 120 days, and was divided in four essays. The First Trial had the objective evaluating the nutritional similarity of variety RB-92579 sugarcane silages, harvested after 370 days growing and added with gliricidia, using principal components, clusters by Tocher test and experimental optimization. The adopted experimental design was entirely randomized in outline [(2x3x4) + 4], where the 24 silages in replicates of sugarcane (C) were composed by the addition of fresh gliricidia (GNE) or wilted (GE), in three levels (25, 50 and 75%), storage during 15, 45, 90 and 120 days, more 4 exclusive sugarcane silage, under the same experimental conditions. It was used as silos plastic boxes, sealed with sailcloth and adhesive ribbon. The variables were: dry matter (DM), crude protein (CP), neutral detergent fiber (NDF), acid detergent fiber (ADF), lignin, ash, water-soluble carbohydrates (WSC) and digestibility in vitro of DM (IVDDM). It was observed different significant p<.05) for all variables in function to wilting, gliricidia addition and storage. The nutritional evaluation of the silages was based in the three first principal components (PC), which explain 79.33% of total variation. The CP and WSC were the variables with lesser importance to explain the nutritional variability of the silages. The DM, IVDDM and lignin; ADF and ash; and NDF, belonged to PC1, PC2 and PC3, presented lower dispersion of the scores in the referred PCi. The optimization analyze offered the four best mixtures in relation to factors and variables tested, being 25% of GE the best result. The Second Trial had the objective characterizing the epiphytic microflora of C, GNE, GE and the mixtures ensilaged with the respective components. The used experimental design was entirely randomized in outline [(2x3x4) + 4)]. The sugarcane silages added with GNE or GE was made in the referred percentages: 100/0; 75/25; 50/50 and 25/75. The 28 treatments, each one with three replications, were kept in silos, sealed with sailcloth and adhesive ribbon, and maintained under controlled temperature, humidity and saved from rodent presence. The storage periods were 15, 45, 90 and 120 days, where occurred the silos opening and sampling. In relation to effects of factors and variables tested, the multivariate analyze showed significant differences (p<.1).The microbiologic analyze of the studied silages was based in the two first principal components (PCi), which explained 83.09% of the total variation. The yeast, fungus and total bacteria, included in the PC1, explained 64.23%. The bacilli had lower importance to explain the epiphytic micro flora variability of the silages, and were included in the PC2, explaining 18.86% of the total variation only. The 25% of GE may be a vegetal additive and it could be used with success to control undesirable secondary fermentation in sugarcane silages. The Third Trial had the objective to evaluate the aerobic stability (AS) of sugarcane var. RB-92579 silages under the levels of 25, 50 and 75 % of GNE and GE, previously storage by 45, 90 and 120 days (DS). The experimental design was entirely randomized in outline (2x3x3) + 3, adding up 21 treatments. They were put about 300.0 grams of silage without pressure into PET bottles and them, storage in a barn. Each experimental unit and the referred environmental had their temperatures taken at 8:00 AM, 3:00 and 8:00 PM during 10 consecutive days. For that, were used a digital thermometer with a linked metal stick and one with mercury bulb, respectively. The C+GE silages and 45 DS, as well as those with 25 % of GE with 45 and 120 DS presented 120 hours of AS (p<.05). The silages with 45 and 90 DA and 25 % of GE presented AS around 168 hours (p<.05). This suggests that the wilting, the used additive and or the adopted sugarcane variety may have influenced in the analyzed variable. Mostly, the exclusive sugarcane silages and the added with GE showed increase in the DM and pH; although the WSC and yeasts decreased in the same mixtures. At the silages, which were added with 25% of GE and storage by 90 and 120 days, presented analogous behavior in relation to cited literature. The major objective of xvi Fourth Trial was to evaluate exclusive sugarcane (RB-92574 variety) silages (C) and the effect caused on these by the addition of 25% of GE on the fermentative characteristics and the quality of the ensiled material after 45, 90 and 120 days. The experiment was conducted in an entirely randomized design with three replications, where the sugarcane was harvest after twelve months plantation (1st cut) and the younger stems were proceeded from adult gliricidias, wilted by six hours approximately under the sunshine. The mixtures were ensiled in plastic buckets with 10 liters of volumetric capacity unprovided of valves for gases release and device for effluent collection. Comparative values were obtained among the C and the C+GE in relation to DM variation, ethanol, organic acids and TF, yonder epiphytic microflora. There were differences (p<.05) of DM, water-soluble carbohydrates, ethanol, organic acids, pH and epiphytic microflora. To buffering and fermentative capacities presented significant difference (p<.05); whereas for NDF did not occur significant difference (p≥.05). The yeast population showed highly correlated with bigger concentrations of acetic acid, total phenols and ethanol. The wilting showed efficient, while the tested storage presented positive or negative squared oscillations to the epiphytic micro flora of the analyzed silages. Index words: Aerobic stability, chemical analyzes, ensilage, epiphytic microbial, fermentation pattern xvii SUMÁRIO Página Lista de Tabelas....................................................................................................................... ix Lista de Figuras....................................................................................................................... xii Resumo Geral.......................................................................................................................... xiii Abstract.................................................................................................................................... xv Considerações Iniciais………………………………………………………………. 1 Capítulo 1 – Referencial Teórico................................................................................ 3 Referências Bibliográficas…………………………………………………….......... 19 Capítulo 2 – Avaliação da Similaridade Nutricional de Silagens de Cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.) Aditivadas com Gliricídia [Gliricidia sepium (Jacq.) Kunth ex Walp.].......................................................................................................... 24 Resumo........................................................................................................................ 25 Abstract....................................................................................................................... 26 Introdução................................................................................................................... 27 Material e Métodos...................................................................................................... 30 Resultados e Discussão............................................................................................... 34 Conclusões.................................................................................................................. 49 Referências Bibliográficas…………………………………………………….......... 50 Capítulo 3 – Microflora Epífita em Silagens de Cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.) Aditivadas com Gliricídia [Gliricidia sepium (Jacq.) Kunth ex Walp.].......................................................................................................................... 54 Resumo........................................................................................................................ 55 Abstract....................................................................................................................... 56 Introdução................................................................................................................... 57 Material e Métodos..................................................................................................... 60 Resultados e Discussão............................................................................................... 63 Conclusões.................................................................................................................. 74 xviii Página Referências Bibliográficas…………………………………………………….......... 75 Capítulo 4 - Estabilidade Aeróbica em Silagens de Cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.) Aditivadas com Gliricídia [Gliricidia sepium (Jacq.) Kunth ex Walp.].......................................................................................................................... 78 Resumo........................................................................................................................ 79 Abstract....................................................................................................................... 80 Introdução................................................................................................................... 81 Material e Métodos..................................................................................................... 86 Resultados e Discussão............................................................................................... 89 Conclusões................................................................................................................... 98 Referências Bibliográficas…………………………………………………….......... 99 Capítulo 5 – Dinâmica Fermentativa de Silagens de Cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.) Aditivadas com Gliricídia [Gliricidia sepium (Jacq.) Kunth ex Walp.].......................................................................................................................... 105 Resumo........................................................................................................................ 106 Abstract....................................................................................................................... 107 Introdução................................................................................................................... 110 Material e Métodos..................................................................................................... 108 Resultados e Discussão............................................................................................... 114 Conclusões................................................................................................................... 137 Referências Bibliográficas…………………………………………………….......... 138 Considerações Finais................................................................................................... 147 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS O Brasil tem períodos com baixos níveis de precipitação pluvial para produção de alimentos destinados aos ruminantes. Estes períodos acontecem com maior freqüência na região Nordeste, onde longas estiagens atingem e dizimam grande parte dos cultivos nas pequenas e médias propriedades. Associa-se a estes aspectos climáticos, a falta de tecnologias alternativas para um manejo adequado, bem como o uso e a conservação das plantas forrageiras nativas e ou exóticas cultivadas nesta região, dentre as quais a cana-deaçúcar e a gliricídia. O corte e uso diário da cana-de-açúcar tornam-se problemáticos aos que se utilizam desta gramínea para a nutrição animal além das aceleradas perdas na sua qualidade nutricional após atingir o ponto de colheita ideal. Mesmo assim, a ensilagem de cana-deaçúcar ainda apresenta-se como uma excelente alternativa para a atividade agropecuária desenvolvida nestas fazendas num curto espaço de tempo, na época em que a forrageira apresenta seu melhor valor nutritivo. A silagem pode ser definida como um produto fermentado em meio anaeróbico onde, após acidificação, é utilizada para a preservação de produtos, dentre os quais, gramíneas e leguminosas, para alimentação de animais nas épocas de escassez nutricional. O rápido enchimento e fechamento do silo, além de uma adequada compactação do material, é a garantia das referidas condições de anaerobiose. As poucas pesquisas sobre a forma de conservação desta forragem como silagem ainda não apresentaram resultados satisfatórios e padronizados quanto aos resultados obtidos e quanto à recomendação adequada do uso desta técnica. 2 Associados a isto, a cada ano que passa mais variedades são desenvolvidas pelos programas de melhoramento genético, o que também faz com que haja grande diversidade nos resultados divulgados por essas respectivas pesquisas. É sabido que trabalhos desenvolvidos com silagens exclusivas de cana-de-açúcar têm mostrado que determinadas variedades de cana-de-açúcar produzem alimentação de baixa qualidade, com menor consumo voluntário pelos animais e desempenho insatisfatório, mas que também podem apresentar-se como de bom valor nutricional. Por outro lado, já existem trabalhos avaliando a adição dos mais variados aditivos para aumentar a qualidade destas silagens melhorando sua dinâmica fermentativa e ou sua estabilidade aeróbica. Um exemplo deste sucesso é o uso de aditivos vegetais à base de leguminosas. A grande vantagem desta associação deve-se ao fato de que a cada safra normalmente 20% da área de plantio da cana-de-açúcar podem ser renovados através do plantio destas. Estas leguminosas além de contribuírem como adubação nitrogenada melhoram os teores de proteína bruta da cana-de-açúcar. Baseado na hipótese de que a gliricídia possa vir a ser um poderoso aditivo vegetal em silagens de cana-de-açúcar, devido a sua contribuição nutritiva, fungiostática e bacteriostática, fungicida, bactericida, malaricida e anti-virótica (Capítulo 1), dentre outras, objetivou-se com este estudo avaliar a qualidade das silagens de cana-de-açúcar com diferentes níveis de gliricídia em relação à similaridade nutricional (Capítulo 2), microflora epífita (Capítulo 3), estabilidade aeróbica (Capítulo 4) e dinâmica da fermentação (Capítulo 5). 3 Capítulo 1 Referencial Teórico 4 Qualidade de Silagens de Cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.) com Diferentes Níveis de Gliricídia [Gliricidia sepium (Jacq.) Kunth ex Walp.] A Cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.) A cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.) é muito difundida no Brasil, tem uma alta produtividade de massa verde (80 a 120 t ha-1), baixo custo por unidade de matéria seca, capacidade de manter seu valor nutritivo por até seis meses e ter seu período de colheita coincidindo com o de escassez de forragem nas pastagens (Silva, 1993). Como principal ingrediente da ração de bovinos, possui sérias limitações do ponto de vista nutricional, devido ao desequilíbrio de nutrientes, teores muito baixos de proteína bruta e de minerais, principalmente o fósforo, o que acarreta uma baixa ingestão de matéria seca (MS) e utilização da energia digerida, apesar da digestibilidade (54 a 65% da MS) ser considerada como de valor intermediário (Boin & Tedeschi, 1993). Segundo Preston e Leng (1978), pesquisas com cana-de-açúcar foram incrementadas após trabalhos de digestibilidade aparente indicarem valores iguais a 70%, superiores às da silagem de milho devido em grande parte ao seu alto valor energético, relacionado a sua riqueza em sacarose. De fato, com esse valor de digestibilidade, poderia facilmente permitir ganhos de peso em bovinos de corte iguais ou maiores que 1 kg/animal/dia. Em rebanhos leiteiros, a cana tem sido considerada um alimento volumoso de bom valor nutritivo, conforme trabalho de Valvasori et al. (1995). 5 A Variedade RB-92579 de Cana-de-açúcar Segundo Barbosa et al. (2003) a variedade RB-92579 da cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.) possui ótima brotação no primeiro plantio (planta) e nos subseqüentes (socas) com colheita manual queimada, e boa com colheita manual crua. Seu alto perfilhamento em planta e soca, proporciona rápido fechamento das entrelinhas. Apesar de florescer pouco e de apresentar lenta velocidade de crescimento, é capaz de atingir alta produtividade agrícola nas quatro primeiras safras. Além de seu alto teor de açúcares totais recuperáveis e uma maturação média - geralmente de outubro a janeiro -, possui teor médio de fibra. Ainda de acordo com estes autores, esta gramínea contempla amplo intervalo de plantio - de julho a janeiro -, não tendo restrição a ambientes para seu desenvolvimento e boa produção. Outra característica marcante desta variedade é que a mesma é tolerante à seca e a herbicidas, com difícil despalhamento no período vegetativo e de fácil manejo na colheita. Quanto à sua fitossanidade, é resistente à ferrugem e ao carvão, doenças causadas por fungos. Em relação aos aspectos entomológicos, a mesma é tolerante à cigarrinha, apresenta resistência intermediária à escaldadura das folhas, à podridão vermelha e à ausência de amarelinho. Sendo uma variedade lançada recentemente, a literatura atual ainda apresenta escassos resultados relacionados a análises físico-químicas, microbiológicas e de dinâmica fermentativa mais detalhadas. Também não se tem conhecimento do uso desta variedade na forma de silagem exclusiva ou aditivada, o que desperta a atenção dos pesquisadores do Programa de Melhoramento Genético da Cana-de-açúcar-PMGCA e de outras instituições de ensino e pesquisa para a conservação pós-colheita desta forragem e posterior utilização na nutrição animal com menores perdas de matéria seca durante a estocagem, maior consumo voluntário e melhor desempenho. 6 A Gliricídia [Gliricidia sepium (Jacq.) Kunth ex Walp.] É uma árvore da família Leguminosae, sub-família Faboideae (Papilionoideae). No passado, a Gliricidia sepium foi descrita nos gêneros Robinia e Lonchocarpus. Segundo Allen & Allen (1981), o gênero Gliricidia, possui de 6 a 9 espécies diferentes. Já Hughes (1987) relata a existência de 3, ou talvez, 4 espécies desta planta na literatura existente. Além da G. sepium, outras espécies são relatadas, como a G. maculata, que é nativa da Península de Yucatán, no México; e G. guatemalensis, nativa de regiões altas entre 1.500 e 2.000 m de altitude, na região do México Meridional, Guatemala, El Salvador, Honduras e, possivelmente, a Nicarágua. Ambas as espécies possuem flores esbranquiçadas, vagens e sementes menores que as da G. sepium (Hughes, 1987; Parrota, 1992). Apesar da G. maculata ter sido considerada uma espécie diferente (Hughes, 1987; Parrota, 1992), existem autores que a caracterizam como um sinônimo botânico de G. sepium (Allen & Allen, 1981; Salazar, 1986; Smith & Van Houtert, 1987). O nome do gênero, Gliricidia, em latim significa "mata-ratos" e o nome específico, sepium, significa "cercas vivas", indicando o uso mais popular dado à espécie (Parrota, 1992). Existe uma variação considerável na cor e peso das sementes, na morfologia da bainha, flores e folhas de acordo com a espécie e seu centro de origem. São relatadas variações nas taxas de crescimento das plantas provenientes de diferentes localidades da Guatemala e Costa Rica. O peso das sementes aumenta proporcionalmente com a elevação da altitude (Ngulube, 1989; Salazar, 1986). A G. sepium é uma árvore caducifólia com folhagem sobre galhos grossos e irregulares que, com freqüência, se curvam para baixo. Pode atingir de 12 a 15 metros de altura, sem espinhos, com um tronco curto com diâmetro de até 30 cm (Parrota, 1992). 7 O uso de ramos e folhas de leguminosas arbóreas como alternativa alimentar é uma forma de suplementação nutricional para os animais, e tem como objetivo melhorar os índices de produtividade, com conseqüente incremento na renda familiar dos produtores. Neste caso, a gliricídia (Gliricidia sepium) pode compor níveis elevados na dieta de ruminantes, mas é como suplemento protéico para forragens tropicais, subprodutos e palhadas de baixa qualidade que tem sido enfatizado o seu uso. Não é recomendado para eqüinos, por possuir princípios potencialmente tóxicos para estes (Baggio, 1982). A utilização da G. sepium como suplemento na alimentação animal pode ser proveniente do aproveitamento das árvores plantadas na linha das cercas de moirões vivos. A cerca viva, sem ocupação de área adicional, pode prover cerca de 200,0 kg/ha/ano de matéria seca comestível para cada 0,10 km linear, podadas duas vezes ao ano (Carvalho Filho et al. 1997). Durante o período das águas, ocorre normalmente uma baixa aceitação de seus ramos e galhos pelos animais, sendo, nesta época, indicada para uso como adubação verde. Na estação seca ocorre a diminuição da qualidade do capim e a G. sepium passa a ser um bom complemento alimentar (Rangel et al. 1998). Entretanto, com o avançar do período seco, a gliricídia perde suas folhas; por essa razão não pode ser a principal fonte de proteína para este período. A gliricídia não costuma ser aceita de imediato nas primeiras vezes em que é fornecida in natura para os animais, sobretudo os bovinos; mas essa preferência varia de animal a animal. Normalmente, é necessário um período de adaptação para que haja o consumo, o que pode ser acelerado com o emurchecimento da folhagem, procedimento que melhora sua palatabilidade (Carvalho Filho et al. 1997). A conservação da biomassa (folhas e ramos tenros) produzida durante a estação chuvosa no semi-árido sob a forma de silagem, é uma estratégia de grande valor para a 8 suplementação de vacas de leite, alimentadas com palma forrageira como volumoso básico no período da estiagem. Segundo Carvalho Filho (1999), a silagem de G. sepium enriquecida com uréia é uma das formas de reduzir custos de alimentação com a compra de concentrados. Depois da Leucaena leucocephala, a G. sepium é certamente a leguminosa multifuncional mais utilizada em cultivos na América Central, onde em muitos casos pode produzir uma biomassa superior a leucena (Stewart et al., 1992). Uma das razões para esta recente popularidade deve-se a sua completa resistência a Heteropsylla cubana, que vem devastando a leucena em muitas partes dos trópicos do planeta. A G. sepium é conhecida comumente como gliricídia (Brasil), madre de cacao (Honduras, Porto Rico, Costa Rica), mata-ratón (Colômbia), cocoite (México) e outros nomes, como mata-ratos, "rabo de ratón", "madero negro" e "mother of cocoa". Destes, os mais pitorescos são "madre de cacao", devido a sua utilização para sombreamento em plantações de cacau, e "mata-ratón" por suas raízes serem utilizadas como veneno para roedores (National Academy of Sciences, 1980; Hughes, 1987; Parrota, 1992). Nativa desde o México até o norte da América do Sul foi introduzida na África, Sudeste da Ásia, América do Sul e Caribe (Standley & Steyermark, 1945; National Academy of Sciences, 1980). Também é descrita como nativa do Norte da América do Sul até a Venezuela e as Guianas (Parrota, 1992). A composição química de G. sepium varia segundo a idade, parte da planta, procedência e local de plantio (Kass, 1993). Há uma grande variabilidade genética entre procedências desta espécie, indicando a possibilidade de selecionar genótipos superiores quanto à produção de biomassa, adaptação ao ambiente, composição química, consumo pelos animais e concentração de compostos secundários que podem limitar o consumo desta espécie pelos animais (Ruiz, 1992). 9 Dados publicados sobre o conteúdo de nutrientes da gliricídia indicam a presença de teores elevados de proteína bruta (23%), fibra em detergente neutro (45%) e cálcio (1,7%). Os níveis de aminoácidos sulfurados e de triptofano são baixos (importantes na formação da proteína animal), devendo ser complementados com outras fontes; já os de lisina são satisfatórios (Smith & Van Houtert, 1987). Em experimentos realizados por Baggio & Heuveldop (1982), os resultados da análise química da gliricídia mostraram que as folhas jovens apresentaram maior quantidade de nitrogênio e fósforo; as folhas maduras, mais cálcio e magnésio; e os talos tenros, mais potássio. O nitrogênio ocorreu em quantidades que diferem estatisticamente entre as três partes vegetais (folhas maduras, folhas jovens e talos tenros). Os teores de cálcio foram diferentes entre talos tenros e folhas maduras. Já o fósforo, apresentou diferenças em nível de folhas jovens e talos tenros. Enquanto que os elementos potássio e magnésio se apresentaram nas mesmas proporções. Kabaija & Smith (1989), recolheu folhas aos 3, 6, 9 e 12 semanas após a rebrota, tanto durante as estações seca e chuvosa, e observou os efeitos da estação e da idade sobre o conteúdo nutricional das folhas de gliricídia. O conteúdo de matéria seca das folhas foi maior na estação seca (24%) do que no período chuvoso (20%); as folhas jovens (3 semanas) continham menos matéria seca (27%) que as mais velhas (12 semanas), com 47%. Os conteúdos de cinzas e de elementos químicos foram afetados simultaneamente pela idade e estação. Nas folhas jovens (6 semanas), os valores de cinza da estação seca (9,8%) foram inferiores aos da estação chuvosa (10%), com exceção das folhas mais velhas (12 semanas) em que se observou o contrário (9,0% e 7,9%, respectivamente). Quase todos os elementos químicos analisados se ajustaram a um padrão análogo, com algum desvio ocasional, como nos níveis de potássio, que eram sempre inferiores durante a estação seca independentemente da idade da planta (Kabaija & Smith, 1989). O maior 10 conteúdo de cinzas pode indicar uma maior disponibilidade de minerais, que em muitos sistemas de produção, as cinzas deixadas após a queima de resíduos de culturas, da derrubada de árvores, e mesmo proveniente da queima da lenha, são vistas como valiosa fonte de nutrientes que deve ser devolvida ao solo (Gliessman, 2001). Suas sementes possuem uma composição de 15,0% de óleo; 3,2% de cinzas; 8,5% de fibra; 15,7% de proteína e 44,7% de extrato livre de nitrogênio (Flores et al. 1988). Apesar de sua conhecida toxidez para os seres humanos quando consumida crua, as flores são fonte de pólen e néctar e têm um valor considerável na apicultura. Entretanto, podem ser usadas na alimentação humana após o cozimento ou fritura para eliminar as toxinas presentes (National Academy of Sciences, 1980; Villanueva, 1984). Também pode-se destacar o poder do banho com infusão das folhas, para combater doenças de pele, mais especificamente, sarnas, tumores, feridas, erisipelas e alergias em geral. Este mesmo tratamento é aplicado contra pulgas e piolhos de cachorros, em cavalos, aves e como compressas contra dor de cabeça, em seres humanos (Baggio & Heuveldop, 1982). No estado mexicano de Yucatán, vários componentes da gliricídia são usados medicinalmente por suas possíveis propriedades anti-histamínicas (alergias), anti-térmicas e diuréticas (Mendieta & Amo, 1981). A aparente qualidade das folhas da gliricídia, combinada com a alta e sustentável produção de biomassa, deveria torná-la pelo menos uma forragem tão importante quanto a leucena, mas seu uso é severamente limitado por problemas de palatabilidade em relação à possibilidade de toxidez. Estes efeitos são bem conhecidos na América Central, onde folhas ou vagens, misturadas com milho cozido, são tradicionalmente usadas como raticida (Standley & Steyermark, 1946). Esta toxicidade deve-se à conversão da cumarina a dicumarol - composto hemorrágico -, realizada por bactérias durante a fermentação. Tem 11 sido reportada também, inibição no crescimento em outros animais monogástricos incluindo-se aí os cavalos (Raharjo et al. 1987) e coelhos (Cheeke & Raharjo 1987). Existem poucas pesquisas a respeito dos prováveis efeitos tóxicos nos ruminantes alimentados com folhas frescas ou emurchecidas de gliricídia quando comparada com outras leguminosas arbóreas (p.e. Calliandra calothyrsus). De acordo com Lowry (1990), o único fator preocupante é em relação a sua palatabilidade. Os animais parecem recusar as folhas da gliricídia sem ao menos experimentá-las, o que sugere que o problema está relacionado com determinados compostos secundários voláteis liberados da superfície das folhas. Stewart et al. (1996) citam que concentrações de ácido cianídrico (HCN) acima de 4,0 mg/kg podem estar presentes na gliricidia. Níveis altos de nitratos (durante a estação chuvosa) são suspeitos de causar a síndrome da “queda do gado” na Colômbia, mas estes níveis tendem a decrescer no período seco; esta leguminosa pode funcionar como acumuladora deste nutriente, além de produzir alcalóides ainda não identificados. Existem evidências sobre a toxicidade desta planta em relação à alimentação animal. No entanto, as mesmas são ainda muito limitadas. Stewart et al. (1996) explicam que a gliricídia pode vir a ser tóxica para não-ruminantes, mas que existem ainda muitas dúvidas sobre a sua toxicidade para os ruminantes sob condições normais de pastejo. A Ensilagem da Cana-de-açúcar A ensilagem da cana-de-açúcar como uma forma de estocagem de volumoso em local próximo aos animais, e ainda pela facilidade de sua oferta, em relação às colheitas 12 diárias de material fresco no campo, surge como uma proposta natural para a sua utilização (Valvasori et al. 1995). Ainda segundo estes autores, a cana-de-açúcar também pode ser ensilada como outras forrageiras, pois contém as principais características necessárias para o processo de produção de silagem, tais como teor de matéria seca em torno de 25 a 30% (sendo o ideal próximo a 34%); teor de carboidratos solúveis próximo a 10% da matéria natural; e menor capacidade tamponante, que permite a queda do pH para valores próximos a 3,5 nos primeiros dias após o fechamento dos silos. Todavia, o alto teor de carboidratos solúveis, os quais promovem rápida proliferação de leveduras com produção de etanol, gás carbônico e água, pode consistir em consideráveis perdas da matéria seca. Tem-se demonstrado que a ensilagem da cana-de-açúcar de forma exclusiva ocasiona redução acentuada no seu valor nutritivo (Kung Jr. & Stanley 1982; Andrade et al. 2001), em decorrência da rápida transformação dos açúcares solúveis em álcool etílico pelas leveduras, um processo de fermentação secundário e ineficiente. A presença de amônia numa silagem também é utilizada como parâmetro de sua avaliação. McDonald et al. (1991) afirmou que a falta de estabilidade da silagem resulta na transformação do ácido lático em butírico e na degradação extensiva dos aminoácidos em amônia, CO2 e aminas. A extensão da degradação dos aminoácidos nas silagens de baixo pH depende, principalmente, do grau pelo qual a atividade clostrídica tenha sido suprimida, e isto está relacionado com a taxa de produção de ácido lático e queda do pH. Entende-se, afinal, que a qualidade das silagens pode ser estimada por meio da concentração de ácidos orgânicos (mais particularmente o ácido butírico), do nitrogênio amoniacal e, até certo ponto, do pH. Portanto, para melhorar a eficiência do processo de ensilagem da cana-de-açúcar a utilização de aditivos torna-se uma alternativa importante. 13 Microbiologia de Silagens de Cana-de-açúcar Considera-se uma boa fermentação aquela na qual bactérias desejáveis (Lactobacillus) são estimuladas a converter açúcares presentes na planta em ácido lático. Uma boa fermentação pode ser garantida pela adoção correta das técnicas de ensilagem para eliminar rapidamente o oxigênio do meio, possibilitando fermentação adequada nesta etapa do processo. Por outro lado, má fermentação é aquela na qual a quantidade de ácido produzido não é suficiente para prevenir a ação de bactérias indesejáveis (Clostridium), as quais produzem ácido butírico como fermentação secundária, elevam as perdas de matéria seca, aumentam a quebra de proteína e conseqüentemente diminuem a aceitação da silagem pelos animais (Pereira, 2004). Em situações adversas de ensilagem, deve-se estimular a produção de ácido lático, inibindo a fermentação secundária. A presença de açúcares, assim como a população de bactérias láticas, são importantes neste processo. As silagens preparadas com forrageiras de clima tropical e subtropical são caracterizadas pelas altas concentrações de ácido acético, o que sugere deficiência de bactérias produtoras de ácido lático (Cai et al., 2001). No entanto, algumas dessas silagens apresentam inicialmente altas concentrações de ácido lático, mas tornam-se instáveis e de baixa qualidade durante período mais longo de armazenamento. A maioria das enzimas que degrada proteína é ativa somente com pH acima de 5,0. A rápida acidificação do meio irá desnaturar essas enzimas, reduzir as perdas de proteínas da silagem e melhorar a aceitação pelos animais. Uma vez esgotado o oxigênio do meio, as bactérias anaeróbias prevalecem e a fermentação se torna adequada ao processo. No caso dos fungos, segundo Edds (1983), todos os animais são sensíveis à ação das micotoxinas, podendo ocorrer lesões agudas que são provocadas pela ingestão de doses 14 relativamente elevadas destas, ocasionando lesões hepáticas graves de efeito quase sempre letal, e ou crônicas, que produzem lesão progressiva, severa depressão no crescimento corporal e alterações hepátomas após um período prolongado de ingestão destes alimentos. Dentre estas doenças, a aspergilose - causada por toxinas produzidas por Aspergillus flavus -, é bastante conhecida pela comunidade científica e agropecuária. Já em relação aos organismos do reino monera, os gêneros Clostridium e Listeria, também são responsáveis por graves problemas aos animais, podendo levá-los a uma diminuição no consumo voluntário com perda de desempenho e até à morte. Dentre as patologias mais conhecidas, podem ser citadas o Botulismo e a Listeriose, respectivamente. Quanto à presença e desenvolvimento das leveduras, algumas são preocupantes em relação à saúde animal e humana, podendo ainda elevar as perdas de matéria seca da silagem pela produção de etanol. Dentre elas, podem ser citadas as dos gêneros Hansenulla, Torulopsis e Candida. A Estabilidade Aeróbica de Silagens de Cana-de-açúcar De acordo com Igarasi (2002) a resistência ao aumento da temperatura da silagem em relação à temperatura ambiente após a abertura do silo e conseqüente contato da mesma com o ar, denomina-se estabilidade aeróbica. A perda de nutrientes da silagem durante a exposição da camada superior1 ou lateral do material estocado no silo, a retirada e fornecimento para o animal, bem como a exposição ao ambiente aeróbico no cocho, é muito significativa. 1 Alguns autores citam, em trabalhos mais recentes, que é mais aconselhável a retirada de fatias da silagem no sentido horizontal do silo ao invés de o fazê-lo na vertical. 15 Ranjit e Kung Jr. (2000) demonstram que quando as silagens são expostas ao ar, microrganismos oportunistas que se encontravam em latência iniciam intensa atividade metabólica com produção de calor e consumo de nutrientes, resultando em perdas que, segundo McDonald et al. (1991), podem chegar a 15%. Balsabolobre et al. (2001), mencionam que a estabilidade aeróbia pode ser mensurada como o tempo gasto para que a temperatura da silagem exposta ao ambiente ultrapasse em 2ºC em relação à variação da temperatura ambiente. Keady & O´Kiely (1996) sugerem outra metodologia, na qual recomendam a diferença acumulada entre a temperatura da silagem e a temperatura ambiente por cinco dias após a abertura do silo. Pedroso (2003) trabalhando com silagens de cana-de-açúcar, exclusivas e ou inoculadas, armazenadas por até 180 dias, utilizou esta mesma metodologia para avaliação da estabilidade aeróbia, só que ao invés de analisaram as mesmas por cinco dias, a fizeram por 10 dias também, denominando tais metodologias como ADITE-5 e ADITE-10, respectivamente. O uso de aditivos que previnam as fermentações indesejáveis na fase aeróbia das silagens está sendo amplamente estudado. No entanto, os experimentos têm mostrado que quando um aditivo é eficiente durante a anaerobiose, o mesmo não apresenta tal eficácia na aerobiose. A presença de oxigênio devido à entrada de ar durante o período de estocagem ou na abertura do silo, favorece o crescimento de microrganismos aeróbios. Esses microrganismos utilizam vários substratos derivados diretamente da forragem ou indiretamente da fermentação. O resultado dessa atividade é a perda de nutrientes e conseqüentes reduções no valor nutritivo da silagem (Honig & Woolford, 1980). Williams et al. (1994) ressaltam que as perdas ocorridas durante a deterioração aeróbia são provocadas pela atividade microbiana, mas essa atividade é limitada, 16 normalmente, por fatores químicos e físicos, como fornecimento de oxigênio e alterações da temperatura. A suscetibilidade da silagem à deterioração parece ser governada mais pela população dos fungos do que pela composição química da silagem (Woolford, 1990). A respiração dos microrganismos aeróbios pode ser considerada como um dos principais agentes que influenciam a qualidade da silagem. Entretanto, o substrato utilizado para a respiração depende da classe a qual o microrganismo pertence, ou seja, as leveduras consomem apenas compostos solúveis (açúcares e produtos da fermentação), enquanto os fungos degradam uma ampla variedade de nutrientes, inclusive carboidratos estruturais e lignina (McDonald et al. 1991). A atividade destes, após a exposição aeróbia, além de ocasionar uma diminuição na quantidade de nutrientes presentes nas silagens afetando a sua qualidade, faz com que sejam produzidos compostos de aroma que podem influenciar negativamente no consumo voluntário animal; causar aumento do pH, favorecendo o desenvolvimento de microrganismos intolerantes à acidez; e produzir compostos químicos que afetem a palatabilidade da massa ensilada (Cai et al. 2001) Dinâmica Fermentativa de Silagens de Cana-de-açúcar Atualmente, uma grande variedade de aditivos está sendo recomendada para melhorar a qualidade da silagem. Um ponto fundamental, quando se utiliza um aditivo, é conhecer o quanto ele pode melhorar o consumo e a produção animal, e se, economicamente, é viável. Infelizmente, são poucos os trabalhos na literatura que abordam 17 todos estes parâmetros; normalmente, eles se detêm apenas nos aspectos qualitativos das silagens (Vilela, 2000). No processo de ensilagem de cana-de-açúcar, o principal problema são as perdas decorrentes da elevada produção de álcool etílico e gás carbônico pelas leveduras. De acordo com Woolford (1984), os principais fatores que possibilitam o rápido desenvolvimento de leveduras nas silagens de cana são os baixos teores de matéria seca (20 a 30%) e a elevada concentração de açúcares solúveis. Andrade et al. (2001) observaram redução na produção de etanol à medida que níveis mais altos de rolão-de-milho foram aplicados na ensilagem da cana-de-açúcar, demonstrando que o aumento do teor de matéria seca inibe a produção de etanol. Foi observada redução de 99% na produção de etanol com a elevação do teor de matéria seca de 20,9 para 27,7%. Além disso, dependendo da qualidade nutricional do material utilizado como aditivo absorvente, pode-se melhorar não só o padrão de fermentação, como também o valor nutritivo da silagem. Evangelista et al. (2002) concluíram que a adição de farelo de soja na ensilagem da cana-de-açúcar proporcionou melhoria significativa nas características nutricionais por meio da redução do crescimento e da sobrevivência de leveduras durante a fase anaeróbica e após a exposição ao ar (Driehuis et al. 1999; 2001; Weinberg et al. 1999). A degradação anaeróbica do ácido láctico a ácido acético a 1,2-propanodiol é um importante princípio deste efeito (Oude Elferink et al. 2001). Um pH entre 3,8 e 4,2 é o que se pode esperar de uma silagem considerada bem preparada. No entanto, isoladamente, o pH não pode ser considerado como critério seguro para a avaliação das fermentações, pois seu efeito inibidor sobre as bactérias depende da velocidade do declínio da concentração iônica e do grau de umidade do meio (Woolford, 1984). Entretanto, deve-se ressaltar que, conforme o tratamento que se dá à forragem antes 18 da ensilagem, ou segundo o tipo de aditivo adicionado, o pH pode ser elevado, o que não significará que a silagem obtida seja inadequada. Quanto aos ácidos orgânicos das silagens, os comumente determinados são o ácido acético, propiônico, isobutírico, valérico, isovalérico, succínico, fórmico e lático. O acético, o butírico e o lático são os mais importantes (McDonald, 1981). Todos estes ácidos contribuem para a acidez final da massa armazenada, porém, o ácido lático, em face de sua maior constante de dissociação, possui papel capital no processo fermentativo da silagem, pois é o responsável pela queda do pH a níveis inferiores a 4,2. Neste pH ocorrerá a inibição das bactérias do gênero Clostridium, responsáveis pelas fermentações indesejáveis no produto. Segundo Woolford (1984), os ácidos lático e acético produzidos pelas bactérias láticas (homo e heterofermentativas) desencadeiam, devido ao abaixamento do pH, a inibição da atividade das bactérias esporuladas. Assim, nas silagens de boa qualidade o ácido lático aparece em altas percentagens, enquanto o ácido butírico percentualmente apresenta-se baixo ou não-detectável. 19 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALLEN, O.N. and ALLEN, E.K. 1981. The Leguminosae. The University of Wisconsin Press. 812 p. ANDRADE, J.B.; FERRARI JR., E.; BRAUN, G. Valor nutritivo da silagem de cana-deaçúcar tratada com uréia e acrescida de rolão-de-milho. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.36, n.9, p.1169-1174, 2001. BAGGIO, A.J. Estabelecimento, manejo e utilización del sistema agroflorestal cercas vivas e Gliricidia sepium (Jacq.) Steud, en Costa Rica. 1982. 91p. 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Adotou-se um delineamento experimental inteiramente casualizado num esquema fatorial [(2x3x4) + 4], onde as 24 silagens em triplicata de cana-de-açúcar (C) foram constituídas pela adição de gliricídia não emurchecida (GNE) ou emurchecida (GE), em três níveis (25, 50 e 75%), armazenadas durante 15, 45, 90 e 120 dias, além de mais quatro silagens confeccionadas exclusivamente com cana-de-açúcar. Utilizou-se como silos experimentais baldes plásticos, vedados por lona plástica e fita adesiva. As variáveis discriminatórias foram matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), lignina, cinza, carboidratos solúveis em água (CHO) e digestibilidade in vitro da MS (DIVMS). Verificou-se (P<0,05) para todas as variáveis em função do emurchecimento, adição de gliricídia e armazenamento. A avaliação nutricional das silagens baseou-se nos três primeiros Yi, explicando 79,33% da variação total. A PB e CHO foram as variáveis de menor importância para explicar a variabilidade nutricional das silagens. A MS, DIVMS e lignina; FDA e cinza, e FDN, pertencentes ao Y1, Y2 e Y3, apresentaram menor dispersão dos escores nos referidos Yi. A análise de otimização forneceu as quatro melhores misturas em relação aos fatores e variáveis analisadas. Palavras-chave: agrupamentos, desejabilidade, otimização componentes principais, ensilagem, índice de 26 Nutritional Similarity of Sugarcane (Saccharum officinarum L.) Silages added with Gliricidia [Gliricidia sepium (Jacq.) Kunth ex Walp.] ABSTRACT The objective of this work was evaluate the nutritional similarity of variety RB92579 sugarcane silages, harvested after 370 days growing and added with gliricidia, using principal components, clusters by Tocher test and experimental optimization. The adopted experimental design was entirely randomized in outline [(2x3x4) + 4], where the 24 silages in replicates of sugarcane (C) were composed by the addition of fresh gliricidia (GNE) or wilted (GE), in three levels (25, 50 and 75%), storage during 15, 45, 90 and 120 days, more 4 exclusive sugarcane silage, under the same experimental conditions. It was used as experimental silos plastic boxes, sealed with sailcloth and adhesive ribbon. The discriminatory variables were dry matter (DM), crude protein (CP), neutral detergent fiber (NDF), acid detergent fiber (ADF), lignin, ash, water-soluble carbohydrates (WSC) and digestibility in vitro of DM (IVDDM). It was observed different significant P<.05) for all variables in function to wilting, gliricidia addition and storage. The nutritional evaluation of the silages based in the three first principal components, which explain 79.33% of total variation. The CP and WSC were the variables with lesser importance to explain the nutritional variability of the silages. The DM, IVDDM and lignin; ADF and ash; and NDF, belonged to Y1, Y2 and Y3, presented lower dispersion of the scores in the referred Yi. The optimization analyze offered the four best mixtures in relation to factors and variables tested. Keywords: Desirability index, ensilage, grouping, optimization, principal components, 27 INTRODUÇÃO De acordo com Pedroso (2003), a utilização da cana-de-açúcar, colhida diariamente e fornecida fresca aos animais, é tradicional e de amplo conhecimento dos pecuaristas, porém, o manejo industrial de canaviais exige que o corte dos talhões seja realizado de forma concentrada, para aumentar a eficiência dos tratos culturais. Além disso, o corte diário torna-se problemático quando se deseja utilizar a cana como forragem durante o ano todo, devido à dificuldade de colheita em dias de chuva e à perda no seu valor nutritivo durante o verão. Valvasori et al. (1995) citam que a cana-de-açúcar também pode ser ensilada com outras forrageiras, pois possui as principais características necessárias para o processo de produção de silagem, tais como teores de matéria seca variando de 25 a 30%; teores de carboidratos solúveis próximos a 10% da matéria natural; e menor capacidade tamponante, que permite a diminuição do pH para valores próximos a 3,5 nos primeiros dias após o fechamento dos silos. Todavia, os altos teores de carboidratos solúveis, os quais promovem rápida proliferação de leveduras com produção de etanol, gás carbônico e água, podem resultar em consideráveis perdas da matéria seca. Como principal ingrediente da ração de bovinos, a cana-de-açúcar possui sérias limitações do ponto de vista nutricional, devido ao desequilíbrio de nutrientes, teores muito baixos de proteína bruta e de minerais, principalmente o fósforo, o que acarreta baixa ingestão de matéria seca (MS) e utilização da energia digerida, apesar da digestibilidade (54 a 65% da MS) ser considerada como de valor intermediário (Boin & Tedeschi, 1993). Segundo Barbosa et al. (2003), a variedade da cana-de-açúcar RB-92579 possui alto teor de açúcares totais recuperáveis e teor médio de fibra bruta. Sendo uma variedade lançada recentemente, a literatura atual ainda apresenta escassos resultados relacionados às 28 análises físico-químicas, microbiológicas e de dinâmica fermentativa mais detalhadas. Também não se tem conhecimento do uso desta variedade na forma de silagem exclusiva ou aditivada, o que desperta a atenção dos pesquisadores do Programa de Melhoramento Genético da Cana-de-açúcar-PMGCA para a sua conservação pós-colheita. Trabalhos avaliando a adição de milho desintegrado com palha e sabugo e casca de café (Evangelista et al. 2002a), farelo de soja e farelo de algodão (Evangelista et al. 2002b), farelo de trigo e polpa cítrica (Lima et al. 2002a) na ensilagem de cana-de-açúcar, não apresentaram, em geral, efeitos sobre o perfil de fermentação, e os valores apresentados estiveram dentro dos padrões aceitáveis para silagens de boa qualidade. No entanto, estes autores verificaram que os aditivos protéicos testados contribuíram para a elevação do valor nutritivo destas silagens. A gliricídia [Gliricidia sepium (Jacq.) Kunth ex Walp.] é uma planta da família Fabaceae (alt. Leguminosae), nativa de vários países como o México, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras e Nicarágua, dentre outros. Apresenta boa tolerância a secas e está adaptada a uma pluviosidade anual de 650 a 3.500 mm. É normalmente usada como forragem, mas raramente os animais ruminantes a utilizam como pastagem devido a algumas restrições quanto a sua palatabilidade, a exceção dos caprinos. Pesquisas sugerem que a diminuição do consumo desta leguminosa in natura deve-se a compostos voláteis produzidos principalmente nas folhas jovens. No entanto, a adoção da técnica de emurchecimento por 12 a 24 horas pode aumentar o consumo pelos poligástricos. Na Indonésia, Sri Lanka, Colômbia ou Guatemala, este problema não é reportado já há algum tempo (NAS, 1980a). Segundo Roskoski et al. (1980) ao estudarem gliricídia de origem mexicana, relataram que as folhas contêm 21,96% de matéria seca, 12,09% de cinza, 19,92% de proteína bruta, 11,04% de fibra bruta, 42,65% de carboidratos solúveis e 69,69% de 29 digestibilidade in vitro da matéria seca. As análises fitoquímicas revelaram baixos teores de alcalóides em sementes e saponinas nas folhas, mas esta planta ainda é usada como forragem. Allen & Allen (1981) citam dados sugerindo que as folhas desprendidas dos ramos emitem determinados odores devido à ocorrência de cumarina produzida nas mesmas. Atualmente uma grande variedade de aditivos está sendo recomendada para melhorar a qualidade da silagem. Pedroso (2003) cita que aditivos químicos e inoculantes microbianos têm sido utilizados com o intuito de melhorar o padrão de fermentação e conservação das silagens, promovendo o desenvolvimento dos microrganismos benéficos, como as bactérias produtoras de ácido lático e a inibição dos indesejáveis, como as leveduras e os clostrídeos. Objetivou-se com este estudo avaliar a similaridade nutricional de silagens de canade-açúcar var. RB-92579, colhida aos 370 dias após o plantio e aditivadas com gliricídia armazenadas por diferentes períodos. 30 MATERIAL E MÉTODOS A variedade industrial de cana-de-açúcar (RB-92579) utilizada foi fornecida pelo Programa de Melhoramento Genético da Cana-de-açúcar - PMGCA em convênio com a Universidade Federal de Alagoas - UFAL, Campus Delza Gitaí, Rio Largo, AL. O corte e a ensilagem da cana-de-açúcar foram realizados no dia 26 de janeiro de 2005, após aproximadamente 12 meses de crescimento (primeiro corte). A cana foi colhida manualmente e picada, com a retirada parcial da palhada e completa das folhas, através de uma picadora de forragens modelo estacionário, regulada para corte com tamanho de partícula médio de 1,0 cm. O aditivo vegetal utilizado foi composto de ramos jovens de gliricídia fresca e ou emurchecida ao sol por aproximadamente 6 horas, que foram coletados de um campo formado por gliricídia no Campus Delza Gitaí. O corte do material amostrado também foi realizado na mesma picadora, mas o tamanho médio das partículas foi de aproximadamente 2,0 cm. Foram confeccionadas misturas (tratamentos) exclusivas de cana-de-açúcar (C), cana-de-açúcar mais gliricídia fresca (GNE) e cana-de-açúcar mais gliricídia emurchecida (GE) (Tabela 1). Após a ensilagem, os silos foram transportados para o Departamento de Fitotecnia da UFAL, em Rio Largo, AL, onde permaneceram em local coberto até o momento das aberturas previamente definidas para 15, 45, 90 e 120 dias após a ensilagem, o que caracterizou os respectivos tempos de armazenamento do material ensilado. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, em esquema fatorial [(2x3x4) + 4] gerando 28 tratamentos, utilizando três repetições. As datas de abertura dos silos foram: 10/fevereiro, 12/março, 26/abril e 26/maio de 2005. 31 Tabela 1 – Descrição das silagens exclusivas de cana-de-açúcar e das aditivadas com gliricídia sem e com emurchecimento Table 1 – Description of the exclusive sugarcane silages and of them without and with wilted gliricidia Trat amento Treat ment Canade-açúcar Gl iricídia Sugarca ne Emurchec imento Gli ricidia (%) (% Armazena mento Wilting Storage (horas/hou (dias/days rs) ) 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 15 45 90 120 15 45 90 120 15 45 90 120 15 45 90 120 15 45 90 120 15 45 90 120 15 45 90 MV) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 100,0 100,0 100,0 100,0 75,0 75,0 75,0 75,0 50,0 50,0 50,0 50,0 25,0 25,0 25,0 25,0 75,0 75,0 75,0 75,0 50,0 50,0 50,0 50,0 25,0 25,0 25,0 28 0,0 0,0 0,0 0,0 25,0 25,0 25,0 25,0 50,0 50,0 50,0 50,0 75,0 75,0 75,0 75,0 25,0 25,0 25,0 25,0 50,0 50,0 50,0 50,0 75,0 75,0 75,0 25,0 7 6 120 5,0 Como silos experimentais foram utilizados baldes plásticos de 10 L, cobertos com lona PVC e lacrados com fita adesiva para evitar a entrada de ar. A ensilagem foi 32 realizada, compactando-se cerca de 4,0 a 4,5 kg do material com uma ferramenta de madeira em camadas de 5 a 10 cm de espessura, buscando-se atingir uniformização da densidade das silagens entre os silos de aproximadamente 450 kg/m3. Nos dias de amostragem procedeu-se a abertura dos silos e foram obtidas amostras compostas de duas a três porções retiradas da parte central da massa de forragem contida em cada silo. As amostras destinadas à determinação de pH, dos teores de etanol e carboidratos solúveis em água, foram colocadas em sacos plásticos e estocadas em congelador (-10ºC) e as amostras utilizadas para as demais análises bromatológicas foram colocadas em sacos de papel e secas em estufa com ventilação forçada a 50ºC por 72 h. As amostras secas de silagem foram moídas contra peneira de malha de 1 mm e posteriormente analisadas para: a matéria seca (MS) em estufa a 105ºC por 8 horas; a proteína bruta (PB) segundo AOAC (1990); a fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) e a lignina foram avaliadas segundo Van Soest et al. (1985); a cinza foi obtida por incineração em mufla a 600ºC por 3 horas (Silva e Queiroz, 2002). Os teores de carboidratos solúveis (CHOsol) foram determinados em extratos aquosos das amostras das silagens, obtidos segundo método descrito por Kung Jr. (1996). O pH foi determinado nos extratos, antes da filtragem, através de um potenciômetro digital da marca TecNal®. As determinações dos teores de CHOsol foram realizadas pelo método colorimétrico segundo Dubois et al. (1956), diluindo-se os extratos aquosos das amostras de silagens, na proporção de 1 mL de extrato para 20 mL de água destilada. Após a obtenção dos dados, aplicou-se análise univariada e de superfície de resposta (RSM), componentes principais e agrupamento pelo método de Tocher. Para a escolha das quatro melhores silagens, a otimização foi baseada no índice de 33 desejabilidade (D), sugerido por Derringer & Suich, (1980)2. Para a obtenção dos valores ótimos de cada variável analisada neste experimento adotou-se intervalos colhidos em vários estudos. Para a variável PB, que não apresentou distribuição normal e ou homocedasticidade, foi realizada a transformação Inversa [y´ = 1 / (y + k)] com λ igual a 1,0 e k = 0. 2 D = m√ d1d2...dm 34 RESULTADOS E DISCUSSÃO A composição bromatológica dos componentes vegetais in natura e emurchecidos antes da ensilagem encontra-se na Tabela 2. A MS e a cinza, da gliricídia emurchecida por seis horas ao sol, obtiveram-se incrementos de 27,63 e 16,48%, respectivamente. Para a PB, CHOsol e DIVMS, verificou-se perdas de 19,5; 46,19 e 7,94%, respectivamente, com base na MS. Para as outras variáveis não se observou diferença acentuada. A cana-de-açúcar utilizada para a ensilagem apresentou teores elevados de MS e de CHOsol (34,96 e 29,92%) (Tabela 2) em relação à média dos valores relatados em trabalhos de pesquisa sobre ensilagem no Brasil, nos quais foram encontrados valores próximos de 27,0% de MS e 17,8% de CHOsol (Coan et al. 2002; Bernardes et al. 2002). Alguns trabalhos realizados no exterior indicam valores mais altos, como 52,0% de CHOsol na MS para cana colhida aos 7,5 meses de crescimento (Alli & Baker, 1982) ou 34,0% de CHOsol para cana colhida aos 16,5 meses, contendo 37,0% de MS (Alli et al. 1983). Utilizando aditivos químicos e microbianos em silagem de cana-de-açúcar, Pedroso (2003) encontrou para a MS valor de 34,5%; este corrobora o encontrado neste estudo (34,96%). Entretanto, os teores médios de FDN (49,6%) e FDA (32,5%) foram superiores aos obtidos neste experimento (37,63 e 22,51%). Dados publicados sobre o conteúdo de nutrientes de gliricídia indicam a presença de teores elevados de PB (17,0 a 23%) e FDN (45%) (Smith & Van Houtert, 1987). Segundo Kabaija & Smith (1989) a concentração de MS das folhas na estação seca varia de 24 a 27%. Para cinza, estes mesmos autores citam 9,8%. Estes resultados são semelhantes aos encontrados neste trabalho (Tabela 2). 35 Cabral et al. (2003), analisando gliricidia emurchecida por seis horas, relataram valores superiores aos encontrados neste estudo para a PB (19,6%) a FDN (60,92%) e para a DIVMS (72,14%) sendo que para a MS (25,69%) este valor foi inferior (Tabela 2). Tabela 2 - Composição química dos componentes antes da ensilagem Table 2 – Chemical composition of the components before ensilage process 1 Variáveis Cana-de-açúcar Variables (%) Sugarcane MS (DM ) PB2 (CP) FDN3 (NDF) FDA4 (ADF) Lignina (Lignin ) Cinza (Ash) CHOsol5 (WSC) DIVMS6 (IVDDM) 34,96 5,05 37,63 22,51 3,85 3,11 29,92 64,5 Gliricídia fresca Gliricídia emurchecida Fresh gliricidia Wilted gliricidia 23,63 16,15 41,38 25,09 4,24 6,37 30,48 68,78 30,11 13,00 40,20 25,61 4,12 7,42 16,40 63,32 1 Matéria seca (Dry matter); 2Proteína bruta (Crude protein); 3Fibra em detergente neutro (Neutral detergent fiber); 4Fibra em detergente ácido (Acid detergent fiber); 5 Carboidratos solúveis (Water-soluble carbohydrates); 6Digestibilidade in vitro da MS (DM in vitro digestibility). A Tabela 3 apresenta as equações de regressão e os respectivos coeficientes de determinação para a MS, PB, FDN, FDA, lignina, cinza, CHOsol e DIVMS. Através da metodologia de superfície de resposta, a apresentação dos resultados foi realizada considerando-se separadamente o aditivo fresco (GNE) e o que sofreu emurchecimento (GE). O teste usado para a significância dos coeficientes de regressão foi o F de Snedecor (P<0,1). Para manter a hierarquia dos termos de algumas das equações de regressão, alguns destes foram adicionados às referidas equações, mesmo apresentando-se não significativos. 36 Tabela 3. Equações de regressão e coeficientes de determinação (R2) para a matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), lignina, cinza, carboidratos solúveis (CHOsol) e digestibilidade in vitro da MS (DIVMS) em função do armazenamento (A) nas silagens de cana com gliricídia fresca (C+GNE) e emurchecida (C+GE). Table 3. Equations of Regression and determination coefficients (R2) for dry matter (DM), crude protein (CP), neutral detergent fiber (NDF), acid detergent fiber (ADF), lignin, ash, water soluble carbohydrates (WSC) and digestibility in vitro of dry matter (IVDDM) in function to storage (A) of the sugarcane silages added with fresh gliricidia (C+GNE) and wilted gliricidia (C+GE). Equações de regressão R2 (%) Variable Equations of regression MS ŷ = 0,35127 C + 0,2685 G – 0,001388** CG – 0,001804** CA – 92,12 DM 0,002068** GA + 0,000009207** CA2 + 0,000009343ns GA2 + 0,0007131ns CGA – 0,0000004608** CGA2 C+GE ŷ = 0,38996 C + 0,2705 G – 0,001381** CG – 0,001413** CA – 99,74 0,002068** GA + 0,000009207** CA2 + 0,000009343ns GA2 + 0,0007131ns CGA – 0,0000004608** CGA2 PB C+GNE ŷ = 0,04537 C + 0,19319 G + 0,001055** CG + 0,0003031** CA - 94,63 2 2 CP 0,0004235** GA - 0,000003203** CA - 0,000008629** GA 2 0,00004139* CGA + 0,0000003719** CGA C+GE ŷ = 0,1215 C + 0,2191 G - 0,002764** CG + 0,0005946** CA + 94,29 2 2 0,0007579** GA - 0,000003203** CA - 0,000008629** GA 2 0,00005959** CGA + 0,0000003719** CGA FDN C+GNE ŷ = 0,0001320 C + 0,00004198 G + 0,000003133** CG + 0,0000001926** 61,20 2 NDF CA + 0,000001905** GA + 0,0000000001457ns CA - 0,000000008116ns 2 2 GA - 0,00000005524* CGA + 0,0000000003771ns CGA C+GE ŷ = - 0,0001043 C - 0,0001865 G + 0,00001475** CG + 0,000002361** 99,9 CA + 0,000003968** GA + 0,0000000001457ns CA2 - 0,000000008116ns GA2 - 0,0000001394* CGA + 0,0000000003771ns CGA2 FDA C+GNE ŷ = 0,4388 C + 0,1908 G + 0,001174** GA 44,89 ADF C+GE ŷ = 0,3337 C + 0,2259 G + 0,001174** GA 51,65 Lignina C+GNE ŷ = 0,10399 C + 0,077908 G + 0,0005432* CG - 0,0004311 ns CA - 86,98 2 Lignin 0,0009543** GA + 0,000004661* GA - 0,00000209* CGA C+GE ŷ = 0,02764 C + 0,07693 G + 0,003359* CG + 0,0003331ns CA - 93,90 0,0004708** GA + 0,000004661* GA2 - 0,00003533* CGA Cinza C+GNE ŷ = 0,04427 C + 0,04781 G + 0,0004321** CG - 0,00007744** CA - 94,63 Ash 0,00001344** GA C+GE ŷ = 0,04981 C + 0,04596 G + 0,0004321** CG - 0,00007744** CA - 93,45 0,00001344**GA ns 85,14 CHOsol C+GNE ŷ = 0,3369 C + 0,4501 G - 0,006701* CG - 0,0008153** CA - 0,006645 2 2 WSC GA - 0,0000004426ns CA + 0,00004388** GA + 0,0001714□ CGA 2 0,000001131** CGA C+GE ŷ = 0,2424 C + 0,2955 G - 0,001949* CG - 0,0008153** CA - 0,005519ns 63,28 2 2 GA - 0,000004426ns CA + 0,0004388** GA + 0,0001714□ CGA 2 0,00000113** CGA DIVMS C+GNE ŷ = 0,7870 C + 0,7377 G - 0,0006209* CA - 0,00143** GA 51,76 IVDDM C+GE ŷ = 0,8846 C + 0,7052 G - 0,0006209* CA - 0,00143** GA 64,03 □ = (P<0,1). * = (P<0,05). ** = (P<0,01). *** = (P<0,001) pelo teste F. □ means (p<.1). * means (p<.05). ** means Variável Mistura Mix C+GNE (p<.01). *** means (p<.001) by F test. 37 Observa-se que as silagens aditivadas com GNE apresentaram menores teores de MS (35,13% para C e 26,85% para G). As interações CG, CA e GA apresentaram perdas (P<0,01) da ordem de 0,001388; 0,001804 e 0,002068 ponto percentual a cada dia de armazenamento. No entanto, após aproximadamente 50 dias da ensilagem, pode-se inferir que houve pequena recuperação de MS. Para as silagens que receberam GE, os teores de MS e as perdas para as mesmas interações foram maiores, destacando-se que os dois componentes da mistura apresentaram maiores teores de MS (38,99 e 27,05%, respectivamente). Coan et al. (2002) avaliando a composição química da cana-de-açúcar madura (12 meses de rebrota) ensilada em silos de PVC, durante 55 dias, relataram diminuição no teor de MS de 27,3 para 20,9%. Molina et al. (2002), através da amostragem de silagens de cana com 1, 3, 5, 7, 14, 28 e 56 dias de conservação, detectaram redução no teor de MS da silagem, entre o primeiro e o último dia considerados, de 27,94 para 21,58%. Pedroso (2003) cita que entre 15 e 120 dias após a ensilagem de cana-de-açúcar obteve valores para a MS de 27,2; 26,1; 25,4 e 26,6%; ratificando que há uma perda deste nutriente, mas posteriormente pode haver uma tendência de recuperação dos respectivos teores. Para a PB (Tabela 3), a contribuição foi maior quando houve maior acréscimo de GE, o que sugere ter havido menor proteólise devido ao menor teor de MS neste material. Observa-se que a interação C+GNE proporcionou incremento positivo (P<0,01) da ordem de 0,001055 ponto percentual a cada dia de armazenamento; o que não ocorreu com a mistura C+GE, que proporcionou perdas de 0,002764 ponto percentual no mesmo período. Porém ao observar o valor do coeficiente de regressão da interação GA (0,0007579; P<0,01), este sugere recuperação da PB e conseqüente melhoria na qualidade nutricional da massa ensilada. Molina et al. (2002), através da amostragem de silagens com 1 a 56 dias de conservação, não detectou redução no teor de PB da silagem, obtendo valores 38 iguais a 2,30 a 2,70%, respectivamente. Pedroso (2003) encontrou valores de PB iguais a 2,52; 2,82; 2,89 e 3,07% para os respectivos tempos de armazenamento 15, 45, 90 e 120 dias. A FDN das silagens confeccionadas à base de C+GNE apresentou incremento quadrático (P<0,01) para as interações CG, CA e GA, com valores iguais a 0,000003131; 0,0000001926 e 0,000001905 ponto percentual a cada dia de armazenamento, respectivamente (Tabela 3). Isto ocorreu nos primeiros 15 dias de armazenamento quando o percentual de GNE estava em torno de 62,0% nas silagens; após isto, a FDN teve um decréscimo de mesmo grau, chegando a valores próximos aos do dia da ensilagem à medida que o percentual de GNE ia aumentando até chegar a 75%. Observou-se um comportamento linear positivo (P<0,01) para esta variável, em relação ao tempo de armazenamento. Para as silagens que receberam GE, também foi observado um comportamento quadrático em relação à adição de GE, porém os valores de FDN quando a proporção de cana na mistura foi de 25,0% nos primeiros 15 dias de armazenamento, foram bem superiores aos das que receberam GNE. Em relação ao armazenamento, observou-se um incremento linear positivo à medida que se aumentava tal processo e que praticamente houve uma constância (ver coeficientes de regressão para CA2 e GA2 que se apresentam não significativos) desta variável aos 120 dias após a ensilagem. Coan et al. (2002) observou aumento nos constituintes da parede celular, com maiores concentrações de FDN (42,1 vs. 54,95%). Entretanto, Pedroso (2003), para um intervalo entre 15 e 120 dias encontrou valores para a FDN em silagens exclusivas de cana-de-açúcar que variaram de 58,9 a 70,6%. Para a FDA (Tabela 3) observou-se decréscimo linear negativo (P<0,01) para a adição de GNE gerando perdas de aproximadamente 50,0% na FDA, enquanto que houve acréscimo linear positivo para maiores tempos de armazenamento. Observa-se ainda que 39 além de iguais para todos os tempos de armazenamento, foram também os maiores para as silagens exclusivas de cana-de-açúcar. Para as que receberam GNE os incrementos lineares positivos (P<0,01) foram da ordem de 0,001174 ponto percentual a cada dia de armazenamento. Para as silagens que receberam GE, observou-se que os teores de FDA foram superiores nos 15 dias após a ensilagem em 22,59% em relação às que receberam GNE (19,08%), mas que, posteriormente, apresentaram o mesmo comportamento - linear negativo quanto à adição de GE e linear positivo quanto ao aumento do armazenamento -, das silagens de C+GNE. A exceção ocorreu aos 120 dias de armazenamento quando se pode observar um incremento da FDA em relação ao aumento percentual da GE. Alli et al. (1983) observaram aumento no teor de FDA de 29,9 para 43,1% da MS em apenas 10 dias após a ensilagem de cana-de-açúcar. Coan et al. (2002), após 55 dias do material exclusivo de cana-de-açúcar ser ensilado, observaram aumento nas concentrações de FDA (39,4 vs. 43,8%). Resultados superiores foram encontrados por Pedroso (2003), ao avaliar silagens de cana com 12 meses após o primeiro plantio, onde aos 15, 45, 90 e 120 dias após a ensilagem, a FDA já apresentava 43,4; 45,0; 44,6 e 44,7%, mostrando uma tendência de aumento ao longo do armazenamento. Houve diminuição da lignina tanto em relação à adição de GNE quanto ao armazenamento nas silagens aditivadas com GNE. A interação GA causou uma perda linear (P<0,05) da ordem de 0,0009543 ponto percentual, fazendo com que os respectivos valores chegassem a quase 100,0% menores (120 dias de armazenamento) que os encontrados com 15 dias após a ensilagem (de 9,91 a 4,14% de lignina, respectivamente). Para as silagens que receberam GE, ocorreu o inverso em relação aos teores inicial e final deste nutriente nas silagens aditivadas com GNE. A interação CG foi positiva (P<0,05) e da ordem de 0,003359 ponto percentual e para GA - da ordem de 0,0004708 ponto percentual (P<0,01) -, a interação foi linear, mas negativa. As silagens exclusivas de cana- 40 de-açúcar apresentaram valores para a lignina de 3,26%, aumentando para aproximadamente 12,37% quando aditivadas com 50,0% de GE, decrescendo quadraticamente para 9,34% com adição de 75% deste aditivo (Tabela 3). Coan et al. (2002) observaram aumento nos teores de lignina, com maiores concentrações deste composto fenólico de 6,8 vs. 7,2% após 55 dias de ensilagem da cana-de-açúcar. Pedroso (2003) também encontrou aumentos para esta variável após 15, 45, 90 e 120 de ensilagem de, respectivamente, 6,03; 6,62; 6,63 e 6,63%. A cinza teve comportamento quadrático similar em relação à adição de GNE e do armazenamento, onde apresentou incremento quadrático (P<0,01) positivo, com valores iniciais na ordem de 4,3% aos 15 dias de armazenamento (sem adição de GNE) a até pouco mais de 5,0% (com 75,0% de GNE) aos 120 dias de armazenamento. Mesmo assim, pôdese observar perdas (P<0.01) deste nutriente ao longo do armazenamento para a interação GA em 0,00001344 ponto percentual com base na MS. Em relação à adição de GE às silagens de cana-de-açúcar, resultados muito próximos dos obtidos (4,9 a 5,2%) foram observados (P<0,05) em relação ao acréscimo de GE e do armazenamento. Mais uma vez a interação CG e GA foi quadrática (P<0,01), crescente até os 120 dias de armazenamento e na mesma ordem da mistura anterior (Tabela 3). De acordo com Pedroso (2003), os teores de cinza também tiveram aumento linear, apresentando valores iguais a 4,01; 4,15; 4,19 e 4,23% à medida que o tempo de armazenamento passou de 15 para 120 dias. Houve resposta quadrática (P<0,01) para CHOsol nas silagens de C+GNE, onde se observou menor concentração nas misturas que receberam 25 a 50% de GNE, mas com recuperação deste nutriente nos armazenamentos por 45 a 90 dias. No geral, pode-se afirmar que à medida que se adicionou 75% de GNE houve recuperação de CHOsol e que houve perda significativa deste (32,46 para 28,17%) dos 15 aos 120 dias de armazenamento. As interações CG e CA contribuíram para esta perda na ordem de 41 0,006701 (P<0,05) e 0,0008153 (P<0,01) ponto percentual, respectivamente, à diminuição de 1,0% de cana-de-açúcar na mistura e um dia de armazenamento das silagens (Tabela 3). Resultados inferiores foram encontrados por Pedroso (2003) ao avaliar silagens exclusivas de cana-de-açúcar após ½; 1, 2, 3, 7, 15, 45, 90, 120 e 180 dias. Para os tempos de armazenamento entre 15 e 120 dias, este autor encontrou valores que decresceram na ordem de 9,02 a 5,98%; mostrando a necessidade da incorporação de novos aditivos para a manutenção e ou o aumento destes teores. Para a DIVMS no material que recebeu GNE, observou-se diminuição nos respectivos valores tanto para as interações CA (0,0006209; P<0,05) e GA (0,00143; P<0,01) ponto percentual a cada dia de armazenamento. No entanto, pode-se afirmar que esta variável obteve maiores valores - lineares positivos -, à medida que maiores foram os períodos de armazenamento. Ao passo que, em relação ao aditivo, os melhores valores situaram-se para os percentuais de 25 a 55% de adição de GNE. Para o que recebeu GE, as perdas foram as mesmas das interações anteriores, com um diferencial que a cana usada nas misturas com GE apresentaram-se com um valor superior aos da que recebeu GNE (88,46 vs. 78,7%); o contrário aconteceu com os aditivos que apresentaram pequenas perdas em relação ao emurchecimento aplicado (73,77 vs. 70,52%) (Tabela 3). O mesmo comportamento ocorreu para as misturas que receberam GE e às exclusivas de cana-deaçúcar. A diminuição do valor nutritivo da cana-de-açúcar com a ensilagem foi relatada por Alcântara et al. (1989) que observaram redução na digestibilidade in vivo da MS (66,4 vs. 55,3%) em carneiros machos alimentados com silagem, em relação aos que receberam a forragem fresca, tendo sido as dietas suplementadas com uréia e minerais. Ao avaliar a DIVMS em novilhas da raça holandesa alimentadas com rações completas contendo (% da MS) 45,9% de silagem de cana; 15,0% de polpa cítrica peletizada; 35,7% de grão moído de 42 milheto; mais uréia (1,55%) e suplementação mineral (1,84%), Pedroso (2003) observou que a DIVMS inicial da cana-de-açúcar, que era semelhante à de variedades que têm sido recomendadas para alimentação de bovinos (Rodrigues et al. 2001), sofreu redução de 25,0% até o 45º dia de armazenamento, sendo que após esse período a silagem sofreu redução na sua digestibilidade de apenas 3,6%, até o 180º dia. Neste mesmo estudo, o padrão de redução nos valores da digestibilidade refletiu o aumento da concentração de FDN e FDA na MS da silagem, que apresentaram aumento em suas concentrações de 42,5 e 38,5%, respectivamente, até o 45º dia e tendência de estabilidade desse ponto até o último dia de amostragem (180 dias). Ainda com relação às variáveis analisadas neste trabalho, as frações lignina e cinza da silagem, bem como a FDN e a FDA, tornaram-se mais concentradas na MS da silagem ao passar do tempo. Isso foi decorrente da perda de nutrientes na forma de gases, e pelo efluente, durante a ensilagem. O teor de PB também apresentou maior concentração na MS a partir do 15º dia de ensilagem, devido ao mesmo motivo; no entanto pode-se notar que houve diminuição na concentração deste nutriente até o 3º dia após o fechamento do silo. Tal fato pode ser creditado à perda de amônia produzida A Tabela 4 apresenta os coeficientes de correlação de Pearson (R) para as variáveis analisadas durante a armazenagem das 28 silagens de cana-de-açúcar aditivadas com gliricídia fresca ou emurchecida por seis horas ao sol. 43 Tabela 4 - Coeficientes de correlação de Pearson (r) para as variáveis quantitativas das silagens de cana-de-açúcar aditivadas ou não com gliricídia fresca e emurchecida Table 4 - Pearson’s coefficients of correlation to analyzed quantitative variables from the sugarcane silages non-added and added with fresh or wilted gliricidia MS DIVMS CHOsol PB FDN FDA Lignina Cinza DM IVDDM CP NDF ADF Lignin Ash WSC MS 1,00 DIVMS 0,47* 1,00 0,27 1,00 CHOsol 0,33 PB -0,56* -0,22 -0,25 1,00 FDN 0,09 0,27 0,20 0,11 1,00 FDA -0,04 -0,09 0,06 -0,27 0,12 1,00 Lignina 0,54* 0,43* 0,28 -0,21 0,35 -0,51* 1,00 Cinza -0,02 0,02 -0,21 0,28 -0,24 -0,69* 0,33 1,00 MS = matéria seca; DIVMS = digestibilidade in vitro da MS; CHO = carboidratos solúveis em água; PB = proteína bruta; FDN = fibra em detergente neutro; FDA = fibra em detergente ácido; lignina e cinza. DM = dry matter; IVDDM = Digestibility in vitro of DM; WSC = water soluble carbohydrates; CP = crude protein; NDF = neutral detergent fiber; ADF = acid detergent fiber; lignin and ash. * = (P<0,05). * means (p<.05). Verificou-se significância (P<0,05) diretamente proporcional para DIVMS com MS e lignina e lignina com MS. No entanto houve correlação significativa (P<0,05) e inversamente proporcional para PB com MS; lignina com FDA e cinza com FDA (Tabela 4). Pedroso (2003) estudando algumas destas variáveis em silagens exclusivas de cana-deaçúcar, cita que a percentagem de CHOsol foi inversamente proporcional a FDN (r = 0,97) e manteve relação diretamente proporcional com a DIVMS (r = 0,97). Similaridade nutricional A avaliação da similaridade nutricional das 28 silagens em estudo baseou-se nos três primeiros componentes principais, uma vez que a variância acumulada nos dois primeiros componentes explicou apenas 58,37% da variância total (Tabela 5), inferior ao limite de 70% sugerido por Jollife (1986) para a viabilidade do uso dessa técnica com apenas os dois primeiros componentes principais. Os três primeiros componentes principais explicaram 73,58% da variação total. 44 Tabela 5 - Componentes principais da análise de variáveis relacionadas com o valor nutricional das 28 silagens deste estudo Table 5 - Principal components from the analysis of variables related to the 28 silages studied in this research Variância EVT VA (autovalor) (%) (%) Autovetores CPi Variance TEV AV PCi Eigenvectors (eigenvalue) (%) (%) MS DIVMS CHOsol PB FDN FDA Lig Cinza DM IVDDM WSC CP NDF ADF Lig Ash Y1 2,56 32,03 32,03 0,82 0,56 0,02 0,71 -0,53 0,36 -0,19 0,79 Y2 2,11 26,34 58,37 0,10 -0,01 0,28 -0,46 0,16 0,89 -0,42 -0,89 Y3 1,22 15,21 73,58 -0,32 0,14 0,13 0,58 0,84 0,03 0,12 -0,17 CPi = componentes principais; EVT = explicação da variância total; VA = variância acumulada; MS = matéria seca; DIVMS = digestibilidade in vitro da matéria seca; CHOsol = carboidratos solúveis; PB = proteína bruta; FDN = fibra em detergente neutro; FDA = fibra em detergente ácido; Lig = lignina. PCi = principal components; TEV = Percentage of total variance; DM = dry matter; IVDDM = digestibility in vitro of DM; WSC = water soluble carbohydrates; CP = crude protein; NDF = neutral detergent fiber; ADF = acid detergent fiber; Lig = lignin. Com base no princípio de que a importância relativa dos componentes principais decresce do primeiro para o último, tem-se que os últimos componentes são responsáveis pela explicação de uma fração mínima da variância total disponível (Cruz & Regazzi, 1997). É possível verificar na Tabela 5 que a FDN, FDA e cinza (0,84; 0,89 e - 0,89; respectivamente) foram as três variáveis que apresentaram maiores coeficientes de ponderação (autovetor), em valor absoluto, nos componentes de menor autovalor (menor proporção de variação explicada), sendo assim, considerada de menor importância para explicar a variabilidade nutricional das silagens de cana-de-açúcar relacionadas à parte da fração fibrosa e mineral. Considerando os dois últimos componentes principais, observa-se variáveis passíveis de descarte (invariantes) entre as silagens estudadas, e ou redundantes, por estarem correlacionadas com as outras variáveis. A possibilidade de descarte das variáveis que contribuem pouco para a discriminação do material avaliado é importante, pois permite a redução da mão-de-obra, do tempo e do custo despendido na experimentação (Cruz, 1990; Cruz & Regazzi, 1997). Embora a técnica de componentes principais indique 45 que as variáveis citadas sejam de menor importância nesta avaliação, estas não foram descartadas por estarem significativamente correlacionadas - no caso da FDA (Tabela 4), com a lignina (r = - 0,51) e a cinza (r = - 0,69). No caso da FDN, a mesma é necessária para a avaliação do padrão de fermentação de silagens, a exemplo da relação FDN:CHOsol, o que não justificaria sua eliminação. Azevedo et al. (2003), também adotaram este procedimento quanto ao descarte da variável FDN. Segundo estes autores, a mesma não pôde ser descartada devido à necessidade da obtenção das variáveis hemicelulose, fração indegradável da FDN e taxa de degradação da fração potencialmente da FDN. Pela dispersão dos escores referentes à posição de cada tratamento (24 silagens de cana-de-açúcar aditivadas com GNE ou GE mais as quatro silagens sem aditivo), pode-se observar que, após a classificação final, os tratamentos 3, 4, 5, 7, 8, 10, 11, 12, 14, 16 e 19; os tratamentos 20, 21, 22, 23 e 24; e os tratamentos 6, 9, 17, 18 e 26, compuseram, respectivamente, os grupos 1, 2 e 3, devido à menor dispersão dos escores, nos três primeiros componentes principais, tendo sido considerados dentro de cada grupo, como os mais similares. É importante ressaltar que a formação dos grupos pela análise de agrupamentos foi baseada na distância euclidiana média, em que os tratamentos foram considerados similares devido à menor distância. A Tabela 6 apresenta os valores médios, relativos às variáveis MS, DIVMS, CHOsol, PB, FDN, FDA, lignina e cinza para os três primeiros grupos de tratamentos. 46 Tabela 6 - Valores médios para as variáveis analisadas nas silagens selecionadas com menor grau de divergência nutricional nos grupos 1, 2 e 3 Table 6 - Average values for the analyzed variables from selected silages with lower nutritional divergence degree in the groups 1, 2 and 3 1 Variável Grupos de tratamentos Variable Treatment Groups (%) MS (DM) DIVMS2 (IVDDM) CHOsol3 (WSC) PB4 (CP) FDN5 (NDF) FDA6 (ADF) Lignina (Lignin) Cinza (Ash) G1 24,41 66,26 26,41 7,49 54,95 39,36 5,54 5,15 G2 27,65 59,42 27,32 7,17 68,60 40,89 7,92 4,49 G3 26,22 66,51 24,17 8,91 41,28 31,69 7,09 5,39 1 Matéria seca (dry matter); 2digestibilidade in vitro da MS (digestibility in vitro of DM); 3carboidratos solúveis (water soluble carbohydrates); 4 proteína bruta (crude protein); 5fibra em detergente neutro (neutral detergent fiber); 6fibra em detergente ácido (acid detergent fiber). Otimização experimental De acordo com Barros Neto et al. (2002) é através de um planejamento experimental que se obtém com custo e tempo mínimos, as informações que se desejam a respeito do efeito das proporções de cada componente presente na mistura sobre as características do produto final resultante desta mistura. Além disto, conhece-se o erro experimental associado à informação de que se dispõe, podendo-se estabelecer o grau de confiança da mesma. Heinsman e Montgomery (1995), tratando da otimização de produtos usando experimentos com misturas (EM) argumentam sobre a relevância de tais projetos. Estes autores ao citarem que o desenvolvimento de fórmulas para diversos produtos é tradicionalmente feito por tentativas e erros, tendo-se que sempre variar as proporções de 47 um dos ingredientes por vez. Isto pode consumir muito tempo e não permite uma compreensão das interações que possam existir entre os diversos ingredientes. Com base nesta técnica, definiu-se as quatro melhores misturas (Tabela 7), permitindo assim, a continuidade das análises com maior economia e menor tempo. Os intervalos definidos em relação ao ponto ótimo para cada uma das variáveis analisadas pelo pacote estatístico utilizado foram retirados de diversos trabalhos constantes na literatura atual. A Tabela 7 mostra as quatro silagens que melhor apresentaram seus valores ótimos dentro dos intervalos fixados a priori (para os componentes cana-de-açúcar e gliricídia); e a posteriori (armazenamento e variáveis analisadas) de acordo com o índice de desejabilidade (Derringer & Suich, 1980). Pode-se observar que a maior freqüência foi para a mistura onde houve predominância média de 75% de cana-de-açúcar + 25% de gliricídia; o emurchecimento da gliricídia por seis horas ao sol apresentou-se como melhor alternativa para a confecção das respectivas silagens; de um intervalo pré-fixado de 15 a 120 dias de armazenamento, houve predominância média para as quatro primeiras silagens com períodos próximos de 120 dias. Respectivamente, as mesmas misturas (silagens) apresentaram índices de desejabilidade iguais a 1,0. 48 Tabela 7 - Otimização para as quatro silagens com maior valor nutritivo Table 7 - Optimization to the four best silages with higher nutritive value Componentes (%) Components Cana-de-açúcar Mistura 1 Mistura 2 Mistura 3 Mistura 4 Mix1 Mix 2 Mix 3 Mix 4 Intervalo1 Valor Ótimo2 Valor Ótimo2 Valor Ótimo2 Valor Ótimo2 Range Optimal Value 25,0-100,0 66,13 Optimal Value 67,11 Optimal Value 65,82 Optimal Value 65,45 32,89 34,18 34,55 Sugarcane 0,0-75,0 Gliricídia 33,87 Gliricidia Fatores Factors Emurchecimento (horas) Intervalo1 Valor Ótimo2 Valor Ótimo2 Valor Ótimo2 Valor Ótimo2 Range 0-6 Optimal Value 6 Optimal Value 6 Optimal Value 6 Optimal Value 6 15-120 112 118 111 110 Wilting (hours) Armazenamento (dias) Storage (days) Variáveis (%) Variables MS (DM) PB (CP) FDN (NDF) FDA (ADF) Lignina (Lignin) Cinza (Ash) CHOsol (WSC) DIVMS (IVDDM) Intervalo3 Valor Ótimo2 Valor Ótimo2 Valor Ótimo2 Valor Ótimo2 Range Optimal Value 30,0-33,2 30,08 3,1-16,2 5,72 37,8-67,0 54,88 20,2-56,1 36,24 3,9-12,7 5,76 3,4-5,9 5,19 20,5-32,9 24,23 68,8-88,8 72,3 Optimal Value 30,08 5,87 54,64 36,98 5,53 5,14 23,38 72,01 Optimal Value 30,05 5,68 54,86 36,11 5,79 5,20 24,37 72,3 Optimal Value 30,01 5,64 54,84 35,97 5,82 5,18 24,51 72,28 Índice de desejabilidade 0,0-1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 Desirability Index 1 Valores intervalares definidos a priori na base de procedimentos do programa estatístico adotado. Defined values by the used statistical program a priori. 2Melhor valor encontrado para a respectiva variável. Best value for each 3 variable. Intervalos definidos segundo literatura atual. Ranges defined according to actual literature. Isto sugere que a técnica de otimização de misturas foi aplicada com sucesso e que análises posteriores consideradas de maior importância, de custos mais elevados - como as referentes à dinâmica da fermentação, atividade enzimática e bioensaios com fungos, leveduras e bactérias -, e que o fator tempo seja preponderante, poderão ser realizadas com maior eficiência científica, acurácia e inferência estatística. 49 CONCLUSÕES A análise de Experimentos com Misturas através do Índice de desejabilidade indicou que as melhores silagens de cana com diferentes níveis de gliricídia são as confeccionadas na proporção aproximada de 75 e 25% de cana e gliricídia emurchecida, com armazenamento em torno de 120 dias. 50 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALCÂNTARA, E.; AGUILERA, A.; ELLIOT, R.; SHIMADA, A. Fermentation and utilization by lambs of sugarcane harvested fresh and ensiled with and without NaOH. 4. Ruminal Kinetics. Animal Feed Science and Technology, v.23, p.323-331, 1989. 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Ithaca: Cornell University, 1985, 202 p. 54 Capítulo 3 Microflora epífita em silagens de cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.) aditivadas com gliricídia [Gliricidia sepium (Jacq.) Kunth ex Walp.] 55 Microflora epífita em silagens de cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.) aditivadas com gliricídia [Gliricidia sepium (Jacq.) Kunth ex Walp.] RESUMO Objetivou-se com este trabalho caracterizar a microflora epífita da cana-de-açúcar (C), da gliricídia fresca (GNE) e emurchecida (GE) e das misturas ensiladas com os respectivos componentes. Este estudo foi desenvolvido na Universidade Federal de Alagoas-UFAL, de janeiro a dezembro de 2005. O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado em esquema fatorial [(2x3x4) + 4]. As silagens de cana-de-açúcar aditivadas com GNE e GE foram confeccionadas nas proporções: 100/0, 75/25, 50/50 e 25/75. Os 28 tratamentos, com três repetições cada, foram acondicionados em silos experimentais (baldes plásticos de 10L), vedados com lona de PVC e mantidos sob condições controladas de temperatura, umidade e proteção da presença de roedores. Os tempos de armazenamento das silagens foram: 15, 45, 90 e 120 dias, nos quais foram abertos para a coleta de amostras. A análise multivariada mostrou-se significativa para os efeitos dos fatores e variáveis analisadas (P<0,1). A avaliação microbiológica das silagens baseou-se nos dois primeiros componentes principais (Yi), explicando 83,09% da variação total. As leveduras, os fungos e as bactérias totais, incluídos no Y1, explicaram 64,23% . Os bacilos tiveram menor importância para explicar a variabilidade na microflora epífita das silagens, ficando no Y2 e explicaram somente 18,86% da variação total. A análise de otimização forneceu as quatro melhores misturas em relação aos fatores e variáveis analisadas. Desta forma, 25% de gliricídia emurchecida pode vir a ser um aditivo vegetal controlador da fermentação microbiana indesejável em silagens de cana-de-açúcar. Palavras-chave: Bacilos, bactérias, ensilagem, fungos, leveduras 56 Epiphytic microflora on sugarcane (Saccharum officinarum L.) silages added with gliricidia [Gliricidia sepium (Jacq.) Kunth ex Walp.] ABSTRACT The objective of this work was characterizes the epiphytic micro flora of sugarcane, fresh gliricidia (GNE), wilted gliricidia (GE) and mixtures ensilaged with the respective components. This study was conducted at the Universidade Federal de Alagoas-UFAL, from January thru December, 2005. The used experimental design was entirely randomized in outline [(2x3x4) + 4)]. The sugarcane silages added with GNE or GE was made in the referred percentages: 100/0; 75/25; 50/50 and 25/75. The 28 treatments, each one with three replications, were kept in experimental silos (plastic boxes), sealed with sailcloth and adhesive ribbon, and maintained under temperature controlled, humidity and saved from rodent presence. The storage periods were 15, 45, 90 and 120 days, where occurred the silos opening and sampling. In relation to effects of factors and variables tested, the multivariate analyze showed significant differences (P<.1).The microbiologic analyze of the studied silages was based in the two first principal components (Yi), which explained 83.09% of the total variation. The yeast, fungus and total bacteria, included in the Y1, explained 64.23%. The bacilli had lower importance to explain the epiphytic micro flora variability of the silages, and were included in the Y2, explaining 18.86% of the total variation only. The 25% of gliricidia may be a effective additive and it could be used with success to control undesirable secondary fermentation in sugarcane silages. Keywords: Bacilli, bacteria, ensilage, fungus, yeast 57 INTRODUÇÃO A cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.) é muito difundida no Brasil, tem elevada produtividade de massa verde (80 a 120 t/ha), baixo custo por unidade de matéria seca, capacidade de manter seu valor nutritivo por até seis meses e ter seu período de colheita coincidindo com o de escassez de forragem nas pastagens (Silva, 1993). No entanto, ocorrem grandes perdas na matéria seca devido às fermentações indesejáveis causadas por microrganismos que levam a redução no teor de carboidratos solúveis, ácidos lático e acético e aumento relativo no teor de FDA das silagens (Alli et al. 1983). Segundo Pedroso (2003), os microrganismos naturalmente presentes nas plantas forrageiras, chamados de microflora epífita, são responsáveis pela fermentação das silagens, afetando também a sua estabilidade aeróbia e a eficiência dos inoculantes microbianos. O número de microrganismos epífitas é variável, de acordo com o tipo de forragem, estádio de maturidade das plantas, clima, corte e condicionamento das forrageiras (Lin et al. 1992), bem como pela ocorrência de incêndio prévio (Bernardes et al. 2002). Geralmente, os microrganismos existentes em maior número nas plantas forrageiras são as enterobactérias, as leveduras e os fungos, que competem com os lactobacilos pelos açúcares durante a ensilagem, sendo considerados indesejáveis (Bolsen et al. 1992). Além disso, a presença de leveduras, na ordem de 106 UFC/g de forragem (Alli et al. 1983), é prejudicial ao processo de ensilagem, porque estes microrganismos não contribuem para a acidificação e estão associados com a deterioração aeróbia das silagens (Driehuis et al. 1999) e não são inibidas pelo pH normalmente encontrado nas silagens. Rotz e Muck (1994) consideram que, sempre que houver penetração de ar nas silagens, as leveduras e mofos, além de causarem a deterioração aeróbica e perdas no valor 58 nutritivo da forragem, promovem a elevação do pH, aumentando o risco de desenvolvimento de microrganismos patogênicos, como a Listeria monocytogenes. A população de bactérias láticas epífitas é muito variável; oscila de nenhuma a diversos milhões de unidades formadoras de colônias (UFC) por grama de forragem (Satter et al. 1988). Tem-se estimado que o número e tipos apropriados de organismos que se encontram na natureza são menores que 25% do ideal que se pode obter (Pedroso, 2003). Ainda são poucos os trabalhos que avaliam o efeito de aditivos vegetais ricos em proteína e carboidratos nas silagens de cana-de-açúcar. Também são escassos os estudos sobre a contagem de leveduras nestas mesmas silagens, podendo ser citados os de González e McLeod (1976) e Alli et al. (1983) e raríssimos os que procuraram caracterizar a população epífita da cana. Dentre estes, pode-se citar o de Lopez et al. (1988). É necessário considerar que além das alterações na composição química dos alimentos, o desenvolvimento de fungos pode ser prejudicial à saúde dos animais e das pessoas que manuseiam estes ingredientes ou alimentos. Segundo Edds (1983), todos os animais são sensíveis à ação das micotoxinas, podendo ocorrer lesões agudas que são provocadas pela ingestão de doses relativamente elevadas destas, ocasionando lesões hepáticas graves de efeito quase sempre letal, e, ou, crônicas, que produzem lesão progressiva, severa depressão no crescimento corporal e alterações hepátomas após período prolongado de ingestão destes alimentos. Dentre estas doenças, a aspergilose causada por toxinas produzidas por Aspergillus flavus -, é bastante conhecida pela comunidade científica e agropecuária. Segundo Sabino (1987), os gêneros Aspergillus, Penicillium e Fusarium, capazes de crescer em diversos substratos e sob condições ambientais variáveis, são produtores de micotoxinas (p.e. aflatoxinas) que ocasionam patologias nos animais. Os fungos A. glaucus e A. fumigatus, ambos patogênicos, produzem esporos que provocam doença respiratória maléfica em eqüinos e aves, além de 59 causar problemas digestivos com o comprometimento do desempenho destes animais (Pregnolato, 1985). Já em relação aos organismos do reino monera, Muck (1992) cita que os gêneros Clostridium e Listeria, como responsáveis por graves problemas em animais, podendo ocasionar diminuição no consumo voluntário, perda de desempenho e ou levá-los à morte. Dentre as patologias mais conhecidas, podem ser citadas o Botulismo e a Listeriose, respectivamente. Quanto à presença e desenvolvimento das leveduras, algumas são preocupantes em relação à saúde animal e humana, podendo ainda elevar as perdas de matéria seca da silagem pela produção de etanol. Dentre elas, podem ser citadas as dos gêneros ácidometabolizantes como Candida e Hansenulla - as mais preocupantes -, e as fermentativas Torulopsis e Saccharomyces (Mahanna, 1994). A gliricídia [Gliricidia sepium (Jacq.) Kunth ex Walp.] é uma leguminosa originária da América Central e já é cultivada em várias regiões do Brasil. Esta planta, além de possuir alto valor protéico (Atta-Krah, 1987), sintetiza fitoquímicos que atuam como poderosos agentes micostáticos, bactericidas e malaricidas (Ignatushchenko et al. 1997), o que sugere ter a mesma um grande potencial no controle de fermentações indesejáveis em silagens de cana-de-açúcar. Com base no exposto, objetivou-se com este trabalho caracterizar e quantificar a microflora epífita das silagens de cana-de-açúcar aditivadas com gliricídia. 60 MATERIAL E MÉTODOS Este experimento foi conduzido no Laboratório de Fitopatologia e Fitossanidade, da Universidade Federal de Alagoas-UFAL, de janeiro a dezembro de 2005. A cana-de-açúcar var. RB-92579 foi cedida pelo Programa de Melhoramento Genético da Cana-de-açúcarPMGCA/UFAL. Os ramos jovens de gliricídia foram colhidos numa área já existente da Universidade Federal de Alagoas-UFAL. A cana-de-açúcar desfolhada e sem palhada não sofreu pré-secagem, ao passo que os ramos jovens da gliricídia colhidos foram utilizados sob o estádio fresco ou emurchecido, por aproximadamente 6 horas de exposição ao sol. Foram coletadas amostras dos componentes da mistura antes da ensilagem para posteriores análises. Os tratamentos foram: a) silagens exclusivas contendo 100% de cana-de-açúcar (C); b) silagens compostas de 75% de cana-de-açúcar + 25% de gliricídia fresca (GNE) ou emurchecida (GE); c) silagens compostas de 50% de cana-de-açúcar + 50% de GNE ou GE; e d) silagens compostas de 25% de cana-de-açúcar + 75% de GNE ou GE. Os tempos de armazenamento do material ensilado foram: 15, 45, 90 e 120 dias (Tabela 1). O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado em esquema fatorial [(2 x 3 x 4) + 4] com três repetições. A mistura ocorreu após trituração em máquina forrageira com tamanho de partícula de aproximadamente 1,0 cm para cana-de-açúcar e de 2,5 cm para a GNE ou GE. Procurou-se manter uma densidade média de 450 kg/m3 durante o processo de compactação do material. Os silos foram identificados, vedados utilizandose lona plástica e fita adesiva e armazenados em galpão protegidos contra roedores. Durante a abertura dos silos foram colhidas amostras (± 25g) de cada uma das 28 silagens, acondicionadas em tubos de ensaio previamente esterilizados, fechados e 61 mantidos resfriados em caixas de poliestireno (“isopor”) contendo bolsas de gelo, para serem encaminhados para o laboratório. Tabela 1 – Descrição das silagens exclusivas de cana-de-açúcar e das aditivadas com gliricídia sem e com emurchecimento Table 1 – Description of the exclusive sugarcane silages and of them without and with wilted gliricidia Tratamento Treatment 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 Cana-de açúcar Gliricídia Emurchecimento Armazenamento Sugarcane Gliricidia Wilting Storage (%) (%) (horas/hours) (dias/days) 0,0 0,0 0,0 0,0 25,0 25,0 25,0 25,0 50,0 50,0 50,0 50,0 75,0 75,0 75,0 75,0 25,0 25,0 25,0 25,0 50,0 50,0 50,0 50,0 75,0 75,0 75,0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 15 45 90 120 15 45 90 120 15 45 90 120 15 45 90 120 15 45 90 120 15 45 90 120 15 45 90 6 120 100,0 100,0 100,0 100,0 75,0 75,0 75,0 75,0 50,0 50,0 50,0 50,0 25,0 25,0 25,0 25,0 75,0 75,0 75,0 75,0 50,0 50,0 50,0 50,0 25,0 25,0 25,0 25,0 75,0 O isolamento e a contagem dos microrganismos deram-se segundo Lin et al. (1992). Amostras das silagens (25,0 g) foram pesadas em béqueres esterilizados contendo 250 mL de água destilada, trituradas em liquidificador e filtradas em papel de filtro 62 Whatman N0. 10. As diluições em série (partindo-se de 10-1 a até 10-4) foram realizadas adicionando-se 1 mL do extrato filtrado obtido em tubos de ensaio contendo 9 mL da solução de cloreto de sódio (NaCl) a 0,85%. Utilizou-se um aparelho de ultra-som durante 10 minutos a 28°C para a homogeneização das sub-amostras. A inoculação foi realizada em placas de Petri contendo os meios de cultura seletivos para cada um dos microrganismos. Para quantificação de bacilos, adotou-se a mesma metodologia (Lin et al. 1992), no entanto, para a inoculação destes, retirou-se os tubos de ensaio do aparelho de ultra-som após 20 minutos e banho-maria a 80°C. Após a obtenção dos dados, aplicou-se análise multivariada (análise de componentes principais e de agrupamentos por Tocher). Para a escolha das silagens com os valores ótimos, a otimização foi baseada no índice de desejabilidade, sugerido por Derringer & Suich (1980). Para a obtenção dos valores ótimos de cada variável analisada neste experimento, adotou-se intervalos sugeridos por Mahanna (1994). Todas as variáveis analisadas não apresentaram distribuição normal e ou homocedasticidade. Sendo assim, foram realizadas as transformações: Inversa [y´ = 1 / (y + k)] com λ igual a -1,0 e k = 74032,4 (leveduras); raiz quadrada [√X + 0,6] com λ igual a 0,5 e k = 0,6 (fungos); raiz quadrada [√X + 0,5] com λ igual a 0,5 e k = 0 (bacilos e bactérias totais). 63 RESULTADOS E DISCUSSÃO Os dados obtidos quanto à análise microbiana da cana-de-açúcar, gliricídia fresca e nos emurchecidos por 6 horas antes da ensilagem encontram-se apresentados na Tabela 2. Tabela 2. Microflora epífita (log UFC/g MV) da cana-de-açúcar e da gliricídia antes da ensilagem Table 2. Epiphytic micro flora (log CUF/g GM) of the components sugarcane, fresh gliricidia and wilted gliricidia before ensilaging Componentes Fungos Leveduras Bactérias totais Bacilos Components Cana-de-açúcar Sugarcane Gliricídia fresca Fresh gliricidia Gliricídia emurchecida Wilted gliricidia Fungi Yeast Total bacteria Bacilli 1,43 7,03 9,0 6,78 0,22 0,0 8,53 0,0 0,82 0,0 8,41 6,58 A Tabela 3 apresenta as equações de regressão e os respectivos coeficientes de determinação para leveduras, fungos, bacilos e bactérias totais. A apresentação dos resultados foi realizada considerando-se separadamente o aditivo fresco (GNE) e o que sofreu emurchecimento (GE). O teste usado para a significância dos coeficientes de regressão foi o F de Snedecor (P<0,1). Para manter a hierarquia dos termos de algumas das equações de regressão, alguns destes foram adicionados às referidas equações, mesmo apresentando-se não-significativos. 64 Tabela 3. Equações de regressão e coeficientes de determinação (R2) para leveduras, fungos, bacilos e bactérias totais em função do armazenamento (A) das silagens aditivadas com gliricídia fresca (C+GNE) e emurchecida (C+GE) Table 3. Equations of Regression and determination coefficients (R2) for yeast, fungi, bacilli and total bacteria in function to storage of the sugarcane silages added with fresh gliricidia (C+GNE) and wilted gliricidia (C+GE) Variável Mistura Variable Mix Leveduras Yeast C+GNE C+GE Fungos Fungi C+GNE C+GE Bacilos Bacilli C+GNE C+GE Bact. totais Total bacteria C+GNE C+GE ns ns Equações de regressão Equations of regression ŷ = - 0,000000002427 C - 0,00000005253 G + 0,000000001189*** CA + 0,000000005421*** GA - 0,00000000004285*** GA2 ŷ = - 0,00000002427 C – 0,00000008446 G + 0,000000001189*** CA + 0,000000006753*** GA – 0,00000000004285*** GA2 ŷ = 0,07943 C - 0,01154 G + 0,0005803ns CG - 0,0002797** CA + 0,0008031ns GA – 0,00001755** CGA ŷ = 0,12035 C + 0,1197 G - 0,004699ns CG - 0,00132** CA 0,001449ns GA+ 0,00006403** CGA ŷ = 0,2352 C - 0,01241 G + 0,00593** CG - 0,0002343ns CA + 0,008763* GA - 0,000000675ns CA2 - 0,00007302* GA2 - 0,0002591▫ CGA + 0,000001967** CGA2 ŷ = 0,51772 C + 0,6566 G + 0,00917** CG + 0,001361 ns CA + 0,01518* GA - 0,000000675ns CA2 - 0,00007306* GA2 - 0,000396▫ CGA + 0,000001967** CGA2 ŷ = 318,5425 C + 264,0832 G - 1,6258ns CG – 1,39282** CA 3,1224** GA + 0,01178** GA2 + 0,024430** CGA ŷ = 344,1199 C + 268,2 G - 4,6799ns CG - 2,2648** CA 3,5776** GA + 0,01177** GA2 + 0,06421** CGA R2 %) 78,25 84,36 86,33 91,11 87,28 89,77 77,38 9,01 = (P≥0,1). □ = (P<0,1). * = (P<0,05). ** = (P<0,01). *** = (P<0,001). means (p≥.1). □ means (p<.1). * means (p<.05). ** means (p<.01). *** means (p<.001). Observa-se que, em relação ao emurchecimento do aditivo vegetal utilizado nas silagens de cana-de-açúcar, houve efeito significativo (P<0,05), visto que a análise de Experimentos com Misturas realizadas para todos os microrganismos, gerou modelos preditivos tanto para as que receberam gliricídia fresca (GNE) quanto para as que receberam a pré-seca (GE) ao sol por 6 horas aproximadamente (Tabela 3). Em relação às leveduras, as silagens de C + GNE apresentaram diferença significativa para a interação cana (C) e armazenamento (A), com incremento positivo no número de unidades formadoras de colônia por grama de matéria verde (UFC/g MV) na ordem de 0,0002941 ponto percentual a cada dia de armazenamento e incremento percentual de cana. Ao passo que, com relação à interação gliricídia fresca (GNE) e 65 armazenamento, ocorreu o inverso, ou seja, um decréscimo na população de leveduras na ordem de 0,00002562 ponto percentual. Estes resultados sugerem que há influência da adição da gliricídia na silagem de cana-de-açúcar devido ao seu poder micostático através de seu metabolismo secundário. Os resultados para a adição de GE nas silagens de C mostram que o desenvolvimento da referida população de leveduras foi menor em relação à interação CxA (0,0003417%) e GxA (0,0001279%), indicando que ao aumentar o teor de matéria seca nas silagens, aumenta-se a pressão osmótica do meio e consequentemente, dificultou a proliferação destes microrganismos ao longo do armazenamento. Para a população de fungos observa-se que à medida que aumentou o percentual da GNE nas silagens de cana-de-açúcar, houve diminuição significativa quadrática (P<0,05) na referida população destes microrganismos, onde foi observada ausência ou seus esporos estavam em latência. Em relação ao armazenamento, observa-se que nas silagens exclusivas de cana-deaçúcar houve diminuição linear (P<0,05) da ordem de 0,0002797 ponto percentual a cada dia de armazenamento. Nas silagens com maior adição de GNE o percentual de fungos sofreu incremento linear (P<0,05) chegando a valores próximos de 4,5%. Aos 120 dias de armazenamento das silagens pode-se verificar menor porcentagem fúngica para a relação percentual 50:50, mas que aumentou a partir deste ponto, o que sugere que esta seja a melhor relação quando o aditivo não for pré-secado. Quando a adição foi feita com GE nas silagens de cana-de-açúcar, ocorreu o mesmo efeito negativo e quadrático para fungos (P<0,05), onde houve diminuição de 0,00132% para a interação CxA e nenhuma diferença (P≥0,05) para a interação GxA. Para a quantificação de bactérias totais observaram-se maiores valores (24.145,0 UFC/g MV) para as silagens exclusivas de cana-de-açúcar e decréscimo linear (P<0,05) de 66 1,3928% a cada dia de armazenamento. À medida que se aumentou o percentual de GNE nas silagens de cana-de-açúcar observou-se um decréscimo de 89,7% na população destes microrganismos até a proporção C/GNE atingir 25/75%, quando atingiu-se um valor de 8.009,0 UFC/g MV. Quando o aditivo sofreu emurchecimento, houve o mesmo comportamento, porém a diminuição dos valores referentes a quantificação de bactérias totais foi de aproximadamente 25%. As interações CxA e GxA foram significativas e negativas (P<0,01) e influenciaram no número de UFC/g MV das silagens na ordem de 2,2648 e 3,5776%, a cada adição de GE e dia de armazenamento, respectivamente. Mais uma vez, obteve-se maior população de bactérias totais nas silagens exclusivas de cana-deaçúcar, sugerindo que o aditivo vegetal utilizado também pode controlar estes microrganismos. Para a população de bacilos nas silagens exclusivas de cana-de-açúcar não se observou variação no número de unidades formadoras de colônias por grama de matéria verde. Para as que receberam GNE e GE houve decréscimo à medida que se aumentou o percentual do referido aditivo e o armazenamento das respectivas silagens. Ficou evidenciado que a gliricídia pode ser utilizada como controladora de bactérias degradadoras de proteínas, as chamadas comumente de proteolíticas, ao observar os valores encontrados para os coeficientes referentes às interações CA2, GA2 e CGA, 0,000000675, - 0,00007302 e - 0,0002591▫, respectivamente, para ambos os teores de MS da gliricídia. Nas silagens com adição de 75% de GNE se observou as menores populações de bactérias totais tanto nos primeiros dias quanto nos últimos dias após a ensilagem do material. Quando a gliricídia sofreu emurchecimento, os resultados sugerem que houve contaminação do material ao entrar em contato com o solo. O incremento foi positivo e linear (P<0,01) e se deu em maior destaque aos 120 dias após a ensilagem. Neste caso, os 67 resultados sugerem que, mesmo com o aumento da pressão osmótica, do percentual de GE nas silagens e do tempo de armazenamento, a população de bacilos não foi controlada pelos metabólitos secundários da gliricídia e que provavelmente houve perdas de matéria seca e valor nutritivo do material ensilado. Percebe-se que a gliricídia influenciou significativamente na microflora epífita das silagens analisadas neste estudo, pois a mesma sintetiza fitoquímicos (fenóis totais, saponinas, xantonas, dentre outros) que atuam como poderosos agentes micostáticos, bactericidas e malaricidas (Ignatushchenko et al. 1997). A Tabela 4 apresenta os coeficientes de correlação de Pearson (R) para as variáveis analisadas durante a armazenagem das 28 silagens de cana-de-açúcar aditivadas com gliricídia fresca ou emurchecida por seis horas ao sol. Tabela 4 - Coeficientes de correlação de Pearson (r) da contagem da microflora epífita das silagens de cana-de-açúcar aditivadas ou não com gliricídia fresca e emurchecida Table 4 - Pearson’s coefficients of correlation to analyzed quantitative epiphytic micro flora from the sugarcane silages non-added and added with fresh or wilted gliricidia Leveduras Fungos Bacilos Bactérias totais Leveduras Yeast Fungos Fungus Bacilos Bacilli Bactérias totais Total bacteria ns ns Yeast Fungus Bacilli Total bacteria 1,00 - - - 0,52** 1,00 - - -0,31ns -0,49** 1,00 - 0,67** 0,73** -0,38* 1,00 = (P≥0,1). * = (P<0,05). ** = (P<0,01). means (p≥.1). * means (p<.05). ** means (p<.01). Observou-se correlação linear e diretamente proporcional para leveduras e fungos (r = 0,52; P<0,01) e leveduras e bactérias totais (r = 0,67; P<0,01). Em relação a fungos e bacilos, observou-se correlação linear inversamente proporcional (r = - 0,49; P<0,01), o 68 que sugere algum tipo de controle populacional por parte dos fungos estabelecidos nas silagens analisadas sobre a população de bacilos. Para a correlação linear entre bactérias totais e bacilos observou-se a mesma tendência (r = - 0,38; P<0,05). Isto sugere que a acidificação dos substratos causada por determinados gêneros incluídos no grupo das bactérias totais (hetero e ou homofermentativas) pode ter exercido efeito controlador sobre os bacilos. Similaridade microbiológica A avaliação da similaridade microbiana das 28 silagens em estudo baseou-se nos dois primeiros componentes principais que explicaram 83,1% da variação total. Tabela 5 - Componentes principais da análise de variáveis relacionadas com a microflora epífita nas 28 silagens Table 5 - Principal components from the analysis of variables related to the 28 silages studied in relation to epiphytic micro flora CPi PCi Variância (autovalor) EVT (%) VA (%) Variance (Eigenvalue) TEV (%) AV (%) Leveduras Yeast Y1 2,57 64,23 64,23 0,31 Y2 0,75 18,86 83,09 0,51 CPi = componentes principais; EVT = explicação acumulada. PCi = principal components; TEV accumulated variance. Autovetores (Eigenvectors) Fungos Bacilos Fungus Bacilli 0,34 -0,25 -0,07 0,98 da variância total; = Percentage of Bactérias Totais Total bacteria 0,35 0,32 VA = variância total variance, Com base no princípio de que a importância relativa dos componentes principais decresce do primeiro para o último, tem-se que os últimos componentes são responsáveis pela explicação de uma fração mínima da variância total disponível (Cruz & Regazzi, 1997). É possível verificar na Tabela 5 que os bacilos (0,98) foram a variável que apresentou maior coeficiente de ponderação (elemento do autovetor), em valor absoluto, 69 nos componentes de menor autovalor (menor proporção de variação explicada), sendo assim, considerada de menor importância para explicar a variabilidade microbiológica das silagens de cana-de-açúcar relacionadas às fermentações primária (desejável) e secundária (indesejável). A dispersão dos escores referentes à posição de cada tratamento (24 silagens de cana-de-açúcar aditivadas com GNE ou GE mais as quatro silagens sem aditivo), em relação a sua ortogonalidade cartesiana, pode ser observada após a classificação final, onde os tratamentos 7, 8, 10, 11, 12, 14, 18, 21, 25 e 26 e os tratamentos 4, 15, 16, 19, 20, 22, 23, 24, 27 e 28 compuseram, respectivamente, os grupos Y1 e Y2, devido à menor dispersão dos escores, nos dois primeiros componentes principais, tendo sido considerados dentro de cada grupo, como os mais similares. A Tabela 6 apresenta os valores médios, relativos às variáveis leveduras, fungos, bacilos e bactérias totais para os dois primeiros grupos de tratamentos. Tabela 6 – Valores médios das variáveis analisadas nas silagens dos grupos 1 e 2 Table 6 – Average values for the analyzed variables from selected silages with lower microbiological divergence degree in the groups 1 and 2 Variável Grupos de tratamentos Variable Treatment Groups (log UFC/g MV) Leveduras Yeast Fungos Fungus Bacilos Bacilli Bactérias Totais Total bacteria G1 G2 4,54 3,28 4,00 1,02 2,44 2,71 8,26 6,98 Os dados da Tabela 6 explicam em termos de média aritmética -, que praticamente a população de bacilos manteve-se a mesma nos dois primeiros grupos, ou seja, os 70 respectivos tratamentos apresentaram populações de bacilos semelhantes corroborando a hipótese de que foram controlados pelos outros microrganismos durante a fase anaeróbica. Otimização experimental De acordo com Barros Neto et al. (2002) é através de um planejamento experimental que se obtém com custo e tempo mínimos, as informações que se desejam a respeito do efeito das proporções de cada componente presente na mistura sobre as características do produto final resultante desta mistura. Além disto, conhece-se o erro experimental associado à informação de que se dispõe, podendo-se estabelecer o grau de confiança da mesma. Heinsman e Montgomery (1995), tratando da otimização de produtos usando experimentos com misturas (EM) argumentam sobre a relevância de tais projetos. Estes autores ao citarem que o desenvolvimento de fórmulas para diversos produtos é tradicionalmente feito por tentativas e erros, tendo-se que sempre variar as proporções de um dos ingredientes por vez. Isto pode consumir muito tempo e não permite uma compreensão das interações que possam existir entre os diversos ingredientes. Com base nesta técnica, definiu-se as quatro melhores misturas (Tabela 7), permitindo assim, a continuidade das análises com maior economia e menor tempo. Os intervalos definidos para o ponto ótimo para cada uma das variáveis analisadas pelo pacote estatístico utilizado foram retirados de diversos trabalhos constantes na literatura científica. A Tabela 7 mostra as quatro silagens que apresentaram valores ótimos dentro dos intervalos fixados a priori (para os componentes cana-de-açúcar e gliricídia); e a posteriori (para os fatores emurchecimento e armazenamento; e variáveis analisadas) de acordo com o índice de desejabilidade (Derringer & Suich, 1980). Pode-se observar que houve predominância média de 75% de cana-de-açúcar + 25% de gliricídia. 71 O aditivo vegetal pré-secado por seis horas ao sol, apresentou-se como sendo a melhor alternativa para a confecção das respectivas silagens, porém, observou-se a presença de bacilos no material emurchecido. Este tipo de contaminação acontece normalmente quando o substrato utilizado para a pré-secagem da forragem contém uma quantidade de matéria orgânica rica em húmus ou serrapilheira, ou que foram anteriormente utilizadas para pastejo. De um intervalo pré-fixado de 15 a 120 dias de armazenamento, houve predominância média para as quatro primeiras silagens com períodos próximos de 110 dias. Respectivamente, as mesmas misturas (silagens) apresentaram índices de desejabilidade iguais a 1,0. O autor desta tese de doutorado sugeriu um número aproximado de 108 UFC/g MV de bactérias totais para que fosse realizada tal otimização. Esta sugestão baseou-se no fato de que, na maioria dos trabalhos envolvendo adição de inoculantes microbianos em silagens de cana-de-açúcar, somente em relação ao número de bactérias produtoras de ácido lático e ou ácido acético – excluindo-se outras espécies homo e heterofermentativas -, a quantidade normalmente sugerida é de 106 UFC/g MV, o que sugere que não está sendo considerada a microflora original das forragens envolvidas na ensilagem nem a provável contaminação por máquinas colheitadeiras e picadoras, e ou o substrato no qual as plantas são emurchecidas. 72 Tabela 7 - Otimização para as quatro silagens com valores microbiológicos ótimos em relação ao percentual de cana-de-açúcar, gliricídia e emurchecimento Table 7 - Optimization to the four best silages with optimal microbiological values in relation to percentage of sugarcane and gliricidia, and wilting Componentes (%) Components Cana-de-açúcar Intervalo1 Mistura 1 Mistura 2 Mistura 3 Mistura 4 Mix1 Mix 2 Mix 3 Mix 4 Range Valor Ótimo2 Valor Ótimo2 Valor Ótimo2 Valor Ótimo2 25,0-100,0 Optimal Value 63,39 Optimal Value 60,34 Optimal Value 79,17 Optimal Value 74,0 0,0-75,0 36,61 39,66 20,83 26,0 Intervalo1 Range Valor Ótimo2 Valor Ótimo2 Valor Ótimo2 Valor Ótimo2 0-6 Optimal Value 6 Optimal Value 6 Optimal Value 6 Optimal Value 6 15-120 93 118 97 114 Intervalo3 Valor Ótimo2 Valor Ótimo2 Valor Ótimo2 Valor Ótimo2 Optimal Value Optimal Value Optimal Value Optimal Value <105 104 104 103 103 <105 103 103 102 102 <105 102 102 103 103 <108* 108 108 107 107 Sugarcane Gliricídia Gliricidia Fatores Factors Emurchecimento (horas) Wilting (hours) Armazenamento (dias) Storage (days) Variáveis Variables Leveduras (UFC/g MV) Yeast (FCU/g GM) Fungos (UFC/g MV) Fungi (FCU/g GM) Bacilos (UFC/g MV) Baccilli (FCU/g GM) Bact. totais (UFC/g MV) Total bacteria (FCU/g GM) Índice de otimização Desirability Range 0,0-1,0 1, 1,0 1,0 1,0 0 1 Valores intervalares definidos a priori na base de procedimentos do programa estatístico adotado. Defined values by the used statistical program a priori. 2Melhor valor encontrado para a respectiva variável. *Número de bactérias sugerido por este autor baseado nos encontrados nas silagens. Best value for each variable.3Intervalos definidos segundo literatura atual. Ranges defined according to actual literature.*Author suggestion based in gained results in the silages. Desta forma, a técnica de otimização de misturas foi aplicada com sucesso, e análises posteriores, consideradas de maior importância e de custos mais elevados - como as referentes à identificação das espécies epífitas mais patogênicas (Clostridium botulinum, Bacillus sp. Listeria monocytogenes, A. flavus, Fusarium moniliforme, Penicillum ssp. 73 Hansenula ssp. e Candida ssp.), das de maior benefício (Lactobacillus plantarum e Lactobacillus buchneri) e dos bioensaios utilizando-se extratos em diferentes níveis do aditivo vegetal (gliricídia) no controle destes microrganismos (por cromatografia de camada delgada - TLC), sem deixar de ser considerado o fator tempo -, poderão ser realizadas com maior eficiência e acurácia nas quatros misturas/silagens indicadas. 74 CONCLUSÕES A análise de Experimentos com Misturas através do Índice de desejabilidade indicou que as melhores silagens de cana com diferentes níveis de gliricídia são as confeccionadas na proporção aproximada de 75 e 25% de cana e gliricídia emurchecida, com armazenamento em torno de 90 a 120 dias. 75 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALLI, I; FAIRBAIRN, R.; BAKER, B.E. The effects of ammonia on the fermentation of chopped sugarcane. Animal Feed Science and Technology. v. 9, p. 291-299, 1983. 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Piracicaba: FEALQ, 1993. p.59-74. 78 Capítulo 4 Estabilidade Aeróbica em Silagens de Cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.) Aditivadas com Gliricídia [Gliricidia sepium (Jacq.) Kunth ex Walp.] 79 Estabilidade Aeróbica em Silagens de Cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.) Aditivadas com Gliricídia [Gliricidia sepium (Jacq.) Kunth ex Walp.] RESUMO Objetivou-se com este trabalho avaliar a estabilidade aeróbica (EA) de silagens de cana-de-açúcar var. RB-92579 sem aditivo vegetal (SA) e aditivadas com 25, 50 e 75 % de gliricídia fresca ou emurchecida, previamente armazenadas por 45, 90 e 120 dias. O delineamento utilizado foi o inteiramente casualizado em esquema fatorial (2 x 3 x 3) + 3, totalizando 21 tratamentos. Foram colocados cerca de 300 g do material sem compactação em garrafas PET sem tampa e mantidos em galpão coberto. Cada unidade experimental e o referido ambiente tiveram suas temperaturas mensuradas às 8, 15 e 20 horas durante 10 dias consecutivos. Para tal, foram utilizados um termômetro digital com haste metálica e um com bulbo de mercúrio, respectivamente. As silagens SA com 45 dias de armazenamento (DA), bem como as com 25 % do aditivo não-emurchecido com 45 e 120 DA, apresentaram 120 horas de EA (P<0,05). As silagens com 25 % de aditivo emurchecido apresentaram EA de 168 horas (P<0,05), aos 45 e 90 DA. Isto sugere que o emurchecimento, o aditivo vegetal e ou a variedade da cana utilizada, podem ter influenciado nas variáveis analisadas. De uma forma geral, as silagens exclusivas de cana e as que receberam GNE apresentaram incremento para MS e pH, e decréscimo para CHO e leveduras. As que foram aditivadas com GE na ordem de 25% e armazenadas por 90 e 120 dias apresentaram comportamento semelhante aos preconizados pela literatura. Palavras-chave: ADITE-5, ADITE-10, aditivo vegetal, conservação de forragens, ensilagem. 80 Aerobic Stability of Sugarcane (Saccharum officinarum L.) Added with Gliricidia [Gliricidia sepium (Jacq.) Kunth ex Walp.] ABSTRACT This study had the objective to evaluate the aerobic stability of sugarcane var. RB92579 silages added with 25, 50 and 75 % of non wilted (WWA) and wilted (WA) gliricidia, previously storage by 45, 90 and 120 days. The experimental design was entirely randomized in outline (2x3x3) + 3, adding up 21 treatments. They were put about 300.0 grams of silage without pressure into PET bottles and them, storage in a barn. Each experimental unit and the referred environmental had their temperatures taken at 8:00 AM, 3:00 and 8:00 PM during 10 consecutive days. For that, were used a digital thermometer with a linked metal stick and one with mercury bulb, respectively. The silages WA and 45 DS, as well as those with 25 % of WWA with 45 and 120 DS presented 120 hours of AS (p<.05). The silages with 45 and 90 DA and 25 % of WA presented AS around 168 hours (p<.05). This suggests that the wilting, the used additive and or the adopted sugarcane variety may have influenced in the analyzed variable. By and large, the exclusive sugarcane silages and the added with WWA showed increase in the DM and pH; although the CHO and yeast decreased in the same mixtures. The silages which were added with 25% of WA gliricidia and storage by 90 and 120 days presented analogous behavior in relation to literature cited. Keywords: ADITE-5, ADITE-10, ensilage, forage conservation, vegetable additive 81 INTRODUÇÃO De acordo com Vilela (1994) as forrageiras de clima tropical apresentam contraste entre valor nutritivo e produtividade devido principalmente ao efeito adverso das condições climáticas à época do corte. Sendo assim, com o aumento da matéria seca ao longo do tempo, as forrageiras tem seu valor nutritivo reduzido. A cana-de-açúcar pode ser incluída neste grupo por apresentar problemas de colheita à época das chuvas - devido ao encharcamento do solo -, dificultando o acesso das máquinas colheitadeiras, além de uma maior probabilidade do aparecimento de doenças e pragas; ora por alterações bromatológicas, como queda no valor de sacarose, aumento nos teores de matéria seca, fibra e lignina; e até por perdas devido ao flechamento ou pendoamento à época da seca (Pedroso, 2003). Em relação aos altos percentuais de umidade das gramíneas – normalmente as forrageiras são colhidas para serem ensiladas, quando ainda apresentam-se em seu estádio vegetativo -, Muck (1990) sugere a utilização da técnica de emurchecimento, pois a mesma possibilita o armazenamento de forragens cortadas com baixo teor de matéria seca, no qual, as fermentações secundárias ocorridas durante a conservação da silagem, são controladas com maior eficiência por meio do aumento da pressão osmótica. Muck & Kung Jr. (1997), além de outros autores, citam que na ensilagem, o primeiro passo é manter as condições anaeróbias, haja vista que o processo aeróbico converterá açúcares em dióxido de carbono, água e calor, o que é uma forma de energia perdida. Após a abertura dos silos, a presença de oxigênio poderá interferir nas perdas de nutrientes, devido ao metabolismo de açúcares e produtos da fermentação por bactérias, fungos e leveduras. Este é um processo que geralmente se dá na camada superior do material ensilado que fica em contato com o meio externo. 82 Segundo Igarasi (2002) a perda de nutrientes da silagem durante a exposição do painel no silo, a retirada e fornecimento para o animal, bem como a exposição ao ambiente aeróbico no cocho, é muito significativa. Ranjit & Kung Jr. (2000) demonstram que quando as silagens são expostas ao ar, microrganismos oportunistas iniciam atividade metabólica, produzindo calor e consumindo nutrientes, resultando em perdas, às quais, segundo McDonald et al. (1991), podem chegar a 15% com base na matéria seca. A resistência ao aumento da temperatura da silagem no painel do silo e durante toda a oferta ao animal no cocho, é denominada como estabilidade aeróbia. Balsabolobre et al. (2001), mencionam que a estabilidade aeróbia pode ser mensurada como o tempo gasto para que a temperatura da silagem exposta ao ambiente ultrapasse em 2ºC em relação à variação da temperatura ambiente. Keady & O´Kiely (1996) sugerem outra metodologia, na qual recomendam a diferença acumulada entre a temperatura da silagem e a temperatura ambiente por cinco dias após a abertura do silo. Pedroso (2003) trabalhando com silagens de cana-de-açúcar, exclusivas e ou inoculadas, armazenadas por até 180 dias, utilizou esta mesma metodologia para avaliação da estabilidade aeróbia, só que ao invés de analisaram as mesmas por cinco dias, a fizeram por 10 dias também, denominando tais metodologias como ADITE-5 e ADITE-10, respectivamente. O uso de aditivos que previnam as fermentações indesejáveis na fase anaeróbia e aeróbia das silagens está sendo amplamente estudado. No entanto, os experimentos têm mostrado que quando um aditivo é eficiente durante a anaerobiose, o mesmo não apresenta tal eficácia na aerobiose. A presença de oxigênio devido à entrada de ar durante o período de estocagem ou na abertura do silo, favorece o crescimento de microrganismos aeróbios. Esses microrganismos utilizam vários substratos derivados diretamente da forragem ou 83 indiretamente da fermentação. O resultado dessa atividade é a perda de nutrientes e conseqüentes reduções no valor nutritivo da silagem (Honig & Woolford, 1980). Williams et al. (1994) ressaltam que as perdas ocorridas durante a deterioração aeróbia são provocadas pela atividade microbiana, mas essa atividade é limitada, normalmente, por fatores químicos e físicos, como fornecimento de oxigênio e alterações da temperatura. A suscetibilidade da silagem à deterioração parece ser governada mais pela população dos fungos do que pela composição química da silagem (Woolford, 1990). A respiração dos microrganismos aeróbios pode ser considerada como um dos principais agentes que influenciam a qualidade da silagem. Entretanto, o substrato utilizado para a respiração depende da classe a qual o microrganismo pertence, ou seja, as leveduras consomem apenas compostos solúveis (açúcares e produtos da fermentação), enquanto os fungos degradam uma ampla variedade de nutrientes, inclusive carboidratos estruturais e lignina (McDonald et al. 1991). A atividade destes, após a exposição aeróbia, além de ocasionar uma diminuição na quantidade de nutrientes presentes nas silagens afetando a sua qualidade, faz com que sejam produzidos compostos de aroma que podem influenciar negativamente no consumo voluntário animal; causar aumento do pH, favorecendo o desenvolvimento de microrganismos intolerantes à acidez; e produzir compostos químicos que afetem a palatabilidade da massa ensilada (Cai et al. 2001) A cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.) é muito difundida no Brasil, tem uma alta produtividade de massa verde (80 a 120 t/ha), baixo custo por unidade de matéria seca, capacidade de manter seu valor nutritivo por até seis meses e ter seu período de colheita coincidindo com o de escassez de forragem nas pastagens (Silva, 1993). Ao ser ensilada, acontecem grandes perdas de matéria seca e quando a silagem da mesma entra 84 em contato com o ar, rapidamente as leveduras presentes produzem etanol, e conseqüentemente, devido ao forte odor alcoólico, há diminuição no seu consumo pelos ruminantes. A gliricídia [Gliricidia sepium (Jacq.) Kunth ex Walp.] é uma leguminosa originária da América Central e já é cultivada em várias regiões do Brasil. Esta planta, além de possuir alto valor protéico (Atta-Krah, 1987), sintetiza fitoquímicos que atuam como poderosos agentes micostáticos, bactericidas e malaricidas (Ignatushchenko et al. 1997), o que sugere ter a mesma um grande potencial no controle de fermentações indesejáveis em silagens de cana-de-açúcar. Durante o período das águas, ocorre normalmente uma baixa aceitação de seus ramos e galhos pelos animais, sendo, nesta época, indicada para uso como adubação verde. Na estação seca ocorre a diminuição da qualidade do capim e a gliricídia passa a ser um bom complemento alimentar (Rangel et al. 1998). Entretanto, com o avançar do período seco, a gliricídia perde suas folhas; por essa razão não pode ser a principal fonte de proteína para este período. A gliricídia não costuma ser aceita de imediato nas primeiras vezes em que é fornecida in natura para os animais, sobretudo aos bovinos; mas essa preferência varia de animal a animal. Normalmente, é necessário um período de adaptação para que haja o consumo, o que pode ser acelerado com o emurchecimento da folhagem, procedimento que melhora sua palatabilidade (Carvalho Filho et al. 1999). A conservação da biomassa (folhas e ramos tenros) produzida por espécies vegetais no início da estação seca no semi-árido sob a forma de silagem, é uma estratégia de grande valor para a suplementação de vacas de leite alimentadas com palma forrageira como volumoso básico no período da estiagem. Segundo Carvalho Filho (1999), a silagem 85 de gliricídia enriquecida com uréia é uma das formas de reduzir custos de alimentação com a compra de concentrados. Depois da leucena (Leucaena leucocephala), a gliricídia é certamente a leguminosa multifuncional mais utilizada em cultivos na América Central, onde em muitos casos pode produzir uma biomassa superior a leucena (Stewart et al. 1992). Uma das razões para esta recente popularidade deve-se a sua completa resistência à mariposa Heteropsylla cubana, que vem devastando a leucena em muitas partes dos trópicos do planeta. Assim, a possibilidade de realizar experimentos com esta leguminosa desempenhando o papel de aditivo controlador de fermentações indesejáveis durante as fases envolvidas na conservação anaeróbia e aeróbia vem despertando o interesse de alguns pesquisadores. Esta leguminosa apresenta-se como importante controladora da germinação de esporos de Clostridium botulinum, na qual, a inibição destas bactérias se dá pela quelação dos nitratos produzidos pela gliricídia às mesmas, protegendo assim, os referidos consumidores (Miller, 1980; Sofos & Busta, 1980). Outros metabólitos secundários como fenóis totais, xantonas e saponinas, podem influenciar positivamente na estabilidade aeróbia de silagens de cana-de-açúcar. Desta forma, objetivou-se com este experimento avaliar a estabilidade aeróbica de silagens de cana-de-açúcar aditivadas com gliricídia fresca ou emurchecida, sob diferentes percentuais de inclusão no material ensilado. 86 MATERIAL E MÉTODOS Este experimento foi conduzido no Laboratório de Biotransformação de Produtos Naturais e Bromatologia e Laboratório de Fitopatologia e Fitossanidade, ambos pertencentes à Universidade Federal de Alagoas-UFAL, em 2005. As silagens foram compostas por cana-de-açúcar var. RB-92579 e gliricídia provenientes do município de Murici e Rio Largo-AL, respectivamente. O delineamento utilizado foi o inteiramente casualizado em esquema fatorial [2 x 3 x 3) + 3], totalizando 21 tratamentos e em três repetições (Tabela 1). Não foram analisados os tratamentos com 15 dias após a ensilagem por haver a possibilidade de ainda não terem obtido estabilidade anaeróbia. A cana foi colhida manualmente aos 12 meses após o primeiro plantio, sem queima, despontada, despalhada e não sofreu pré-secagem; ao passo que em relação à gliricídia, ramos jovens foram utilizados no estado in natura ou pré-secos por aproximadamente 6 horas de exposição ao sol. Como silos experimentais foram utilizados baldes plásticos de 10 L, cobertos com lona PVC e lacrados com fita adesiva para evitar a entrada de ar. A ensilagem foi realizada compactando-se cerca de 4,0 a 4,5 kg do material com uma ferramenta de madeira em camadas de 5 a 10 cm de espessura, buscando-se atingir valores médios de densidade das silagens de aproximadamente 450 kg/m3. A abertura dos silos e coleta de amostras (± 400 g) procederam-se em 12/março, 26/abril e 26/maio de 2005, respectivamente. As mesmas foram acondicionadas em sacos plásticos, mantidas resfriadas em caixas de poliestireno (“isopor”) contendo bolsas de gelo, e encaminhadas para o referido laboratório e conservadas em freezer a -18 ºC. 87 Tabela 1 – Descrição das silagens exclusivas de cana-de-açúcar e das aditivadas com gliricídia sem e com emurchecimento Table 1 – Description of the exclusive sugarcane silages and of them without and with wilted gliricidia Tratamento Treatment 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Cana-de-açúcar Sugarcane (%) 100,0 100,0 100,0 75,0 75,0 75,0 50,0 50,0 50,0 25,0 25,0 25,0 75,0 75,0 75,0 50,0 50,0 50,0 25,0 25,0 Gliricídia Gliricidia (%) 0,0 0,0 0,0 25,0 25,0 25,0 50,0 50,0 50,0 75,0 75,0 75,0 25,0 25,0 25,0 50,0 50,0 50,0 75,0 75,0 21 25,0 75,0 Emurchecimento Wilting (horas/hours) 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 6 6 6 6 6 6 6 6 6 Armazenamento Storage (dias/days) 45 90 120 45 90 120 45 90 120 45 90 120 45 90 120 45 90 120 45 90 120 A estabilidade aeróbica das silagens (expressa em horas) foi avaliada através do controle da temperatura das silagens expostas ao ar, segundo método adaptado de Kung Jr. (2000). Amostras únicas de aproximadamente 300 g das silagens armazenadas por 45, 90 e 120 dias foram colocadas sem compactação em garrafas tipo “Pet” sem tampa e mantidas em local fechado para evitar grandes variações na temperatura ambiente. As temperaturas foram tomadas três vezes ao dia (8:00, 15:00 e 20:00 horas) por meio de um termômetro digital com haste de alumínio sempre inserindo-a no centro geométrico da massa de forragem de cada garrafa. Considerou-se o início da deterioração quando a temperatura das silagens atingiu 2ºC acima da temperatura ambiente tomada nos mesmos intervalos através de leituras em um termômetro localizado próximo. Foi 88 considerado também o acúmulo de cinco e 10 dias da diferença média diária entre a temperatura das silagens expostas ao ar e a temperatura ambiente (ADITE-5 e ADITE-10, expressas em °C). Foram também determinados os valores da matéria seca (MS), pH e contagem de leveduras, para melhor inferência sobre o processo de deterioração aeróbica. Amostras de silagem em média de 70 g foram levados para estufa com circulação forçada de ar a 40ºC por 72 horas e em seguida à secagem, foram moídas contra peneira de 1 mm para posterior determinação da MS a 105ºC por 8 horas. O pH foi determinado em extratos aquosos (Kung Jr. 1996), antes da filtragem, através de um potenciômetro digital. O isolamento e a contagem das leveduras deram-se segundo Lin et al. (1992). Amostras das silagens (25,0 g) foram pesadas em recipientes esterilizados contendo 250 mL de água destilada, trituradas em liquidificador e filtradas em papel de filtro Whatman N0. 10. As diluições em série (partindo-se de 10-1 a até 10-4) foram realizadas adicionando-se 1 mL do extrato filtrado obtido em tubos de ensaio contendo 9 mL da solução de cloreto de sódio (NaCl) a 0,85%. Utilizou-se um aparelho de ultra-som durante 10 minutos a 28°C para a homogeneização das sub-amostras. A inoculação foi realizada em placas de Petri contendo o meio de cultura Batata Dextrose Agar (BDA), sendo incubadas em 25 a 30ºC por 2 a 4 dias. A análise estatística foi composta de análise univariada e teste F, antecedida dos testes de normalidade dos resíduos (Lilliefors) e homocedasticidade (Cochran). Para a verificação da existência ou não de significância estatística entre as misturas (silagens) utilizou-se o teste de Tukey (HSD; P<0,05) e para os valores médios obtidos antes e depois da exposição aeróbia, utilizou-se o teste t de Student para dados pareados (P<0,05). Os dados obtidos de leveduras foram transformados heterocedasticidade detectada nos valores originais. para Log (xi) devido à 89 RESULTADOS E DISCUSSÃO As temperaturas ambientais (oC) durante o período experimental foram coerentes com as esperadas para esta época do ano (Figura 1). Além do mais, não foram observados picos acentuados que ultrapassassem valores acima de 30ºC. Estes valores são favoráveis à proliferação de leveduras e bactérias patogênicas (Lin et al. 1992). 8:00 h 15:00 h 20:00 h Temp. ambiente (°C) 29,00 28,00 27,00 26,00 25,00 24,00 23,00 22,00 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Exposição das silagens (em dias ) Figura 1 – Temperaturas ambientais médias diárias obtidas durante o período experimental. Figure 1 – Daily means of environmental temperatures gained during the experimental essay. Para o aditivo fresco, pode-se observar que as silagens/tratamentos que apresentaram 120 horas de EA, ADITE-5 de 6,57 horas e ADITE-10 de 19,8 horas foram: a) cana sem aditivo e com 45 dias de armazenamento; e b) cana aditivada com 25% de gliricídia com 45 e 120 dias de armazenamento. À medida que aumentou o percentual de gliricídia nas silagens de cana, houve uma forte diminuição (P<0,05) na EA, bem como maiores valores para ADITE-5 E ADITE-10 (Tabela 2). 90 Tabela 2 - Estabilidade aeróbica, ADITE-5 e ADITE-10 das silagens de cana-de-açúcar sem e com adição de gliricídia não emurchecida Table 2 – Aerobic stability, ADITE-5 and ADITE-10 of the sugarcane silages without and with addition of fresh gliricidia Misturas Mixtures 0 0 45 0 0 90 0 0 120 0 25 45 0 25 90 0 25 120 0 50 45 0 50 90 0 50 120 0 75 45 0 75 90 0 75 120 Estabilidade aeróbia (horas) Aerobic stability (hours) 120 a 96 b 72 c 120 a 96 b 120 a 96 b 72 c 48 d 48 d 24 e 24 e ADITE-5 6,6 j 6,6 i 8,9 d 6,4 l 8,9 d 8,0 g 8,8 e 7,9 h 10,0 b 9,5 c 10,5 a 8,8 f ADITE-10 19,8 i 18,5 j 21,4 i 18,3 l 22,6 e 27,7 a 21,4 g 20,4 h 22,3 f 24,7 c 27,3 b 23,0 d Letras diferentes para a mesma variável, indicam diferença significativa pelo teste de Tukey (HSD; P<0,05). Different letters for the same variable, indicate significant difference by Tukey test (HSD; p<.05). Em relação ao aditivo emurchecido, sua adição em 25 % e armazenamento de 45 e 90 dias, obteve-se EA de 168 horas, ADITE-5 de 6,03 horas e ADITE-10 de 17,98 horas (P<0,05), ou seja, um incremento de 48 horas em relação às silagens aditivadas com gliricídia fresca. No entanto, observou-se a mesma tendência ao aumentar o percentual do aditivo nas respectivas silagens. O ADITE-5 e o ADITE-10 apresentaram-se de forma inversamente proporcional (P<0,05) (Tabela 3). 91 Tabela 3 - Estabilidade aeróbica, ADITE-5 e ADITE-10 das silagens de cana-de-açúcar com adição de gliricídia emurchecida Table 3 – Aerobic stability, ADITE-5 and ADITE-10 of the sugarcane silages added with wilted gliricidia Misturas Mixtures 6 25 45 6 25 90 6 25 120 6 50 45 6 50 90 6 50 120 6 75 45 6 75 90 6 75 120 Estabilidade aeróbia (horas) Aerobic stability (hours) 168 a 168 a 144 b 144 b 144 b 96 c 48 d 48 d 24 e ADITE-5 ADITE-10 6,0 f 5,6 h 5,9 g 6,0 f 6,5 e 8,4 d 10,0 a 9,7 c 9,7 b 18,0 g 17,1 h 17,1 i 18,3 e 18,1 f 21,3 d 24,2 c 24,7 a 24,3 b Letras diferentes para a mesma variável, indicam diferença significativa pelo teste de Tukey (HSD; P<0,05). Different letters for the same variable, indicate significant difference by Tukey test (HSD; p<.05). Os resultados sugerem que o emurchecimento por 6 horas da gliricídia, bem como suas proporções (na ordem de 25 a 50 %) proporcionaram maiores tempos de estabilidade aeróbica. Isto ocorreu também em relação à soma das diferenças das temperaturas do ambiente e das silagens, onde apresentaram acúmulos, aos cinco e dez dias, inferiores às outras silagens. Em recente trabalho realizado por Pedroso (2003) foram observados tempos de estabilidade para silagens de cana-de-açúcar na ordem de 48 horas, ADITE-5 de 41 ºC e ADITE-10 de 89 ºC. Foram encontrados também valores na ordem de 37 ou 38 horas para a silagem de milho (Higginbotham et al. 1998; Ranjit et al. 2002) e de até 183 horas em um experimento com silagem de capim azevém (Driehuis et al. 2000). A Tabela 4 apresenta os resultados para a MS, pH, CHOsol e contagem de leveduras antes e após a exposição aeróbia das silagens de cana-de-açúcar aditivadas com gliricídia fresca. 92 Tabela 4 - Valores médios da matéria seca (MS), pH, CHOsol e leveduras das silagens aditivadas com gliricídia fresca e expostas ao ar por até 10 dias Table 4 - Average means to dry matter (DM), pH, WSC and yeast of the silages added with fresh gliricidia and exposed to air during until 10 days Variáveis MS Variables DM (%) PEO21 O2EP (dias/days) pH CHOsol Leveduras WSC (%) (Log UFC) Yeast (Log CFU) 0 10 0 10 0 10 0 10 27,87a 29,08a 26,68a 27,89a 25,69a 24,38a 26,66a 24,44a 23,46a 23,64a 21,03a 34,72b 30,58b 29,08b 36,85b 29,17b 35,06b 36,17b 41,05b 29,68b 50,31b 24,87b 3,71a 3,87a 3,26a 4,10a 3,75a 3,76a 3,99a 3,87a 3,84a 5,14a 6,68a 3,80a 6,35b 3,39a 4,12a 7,25b 5,13b 6,98b 4,65a 8,02b 6,17b 9,96b 8,61a 7,71a 2,11a 5,63a 0,85a 1,55a 5,10a 0,77a 0,67a 1,53a 1,59a 3,35b 3,21b 1,02b 4,05b 0,06a 0,04b 3,08b 0,00a 0,00a 0,00b 0,00b 7,87a 7,55a 0,00a 7,83a 7,53a 0,00a 7,81a 7,53a 7,40a 7,80a 7,51a 1,26b 7,99a 3,96b 2,97b 3,99b 3,24b 2,68b 4,68b 7,14a 7,26a 7,54a 18,41a 28,71b 11a 99a ,98a ,74b ,40a 7,66a Tratamentos2 Treatments 0 0 45 0 0 90 0 0 120 0 25 45 0 25 90 0 25 120 0 50 45 0 50 90 0 50 120 0 75 45 0 75 90 0 75 120 Diferentes letras para cada variável nas linhas significam haver diferença estatística pelo teste t de Student; P<0,05). Different letters for each variable means have statistical difference by t test (p<.05). 1 Períodos de exposição ao oxigênio. Oxygen exposure periods. 2 Ver Tabela 1. See Table 1. Houve aumento no teor da MS nos tratamentos que tiveram maior estabilidade aeróbica (1 e 6; 168 horas) na ordem de 6,85 e 10,68%, do primeiro ao décimo dia de exposição aeróbia; mantendo-se na faixa preconizada como ótimas pela literatura, mesmo apresentando diferença significativa (P<0,05). Para o tratamento 1, formado por silagens exclusivas de cana-de-açúcar, não foi verificada variação significativa para o pH (3,71 a 3,81). Isto sugere que determinadas espécies de bactérias como Lactobacillus reuteri possam ter produzido substâncias como a reuterina e o diacetil (Talarico & Dobrogosz, 1989), controlando ou diminuindo a 93 população de leveduras e causando um gasto energético (redução de CHOsol). Uma explicação para a manutenção do pH dentro dos limites aceitáveis é que pode ter havido uma produção maior de ácido acético ou propiônico produzidos pela microflora bacteriana heterofermentativa da respectiva silagem de cana-de-açúcar. Pode ter havido uma alta produção de etanol, contribuindo na diminuição das leveduras, e ou, o estabelecimento de fungos aeróbios antagônicos do gênero Trichoderma (Cabral Jr., 2003). Para o tratamento 6, o número de leveduras no primeiro dia de exposição ao ar igual a 0,0 UFC/g MV talvez possa ser devido à produção de reuterina e diacetil por lactobacilos controlando tais microrganismos (Talarico & Dobrogosz, 1989), à amostragem ou à fase de isolamento no laboratório -, mas o fato é que, apesar desta diferença estatística (P<0,05), a variação foi de 0,0 (ou n.d.) a 3,24 log, o que ainda é um número muito baixo para causar grandes transformações do açúcar em etanol e CO2 com conseqüente perda de MS. No entanto houve decréscimo de CHOsol na ordem de 99,9%; tal diminuição pode ser atribuída pela utilização deste nutriente como fonte de energia para a respiração de microrganismos (Driehuis et al. 1999) ou diluído e lixiviado na forma de efluentes depositados no fundo dos silos. O aumento do pH até o décimo dia sugere que a microflora epífita possa ter utilizado parte do lactato e ou do acetato, tornando o meio menos ácido; ou que seguiu a mesma tendência de aumento da MS. Esta tendência também foi observada por Castro et al. (2001) e Coan et al. (2001) ao estudarem silagens de Tifton (Cynodon sp.) tendo encontrado pH de 5,36 e 30,0% MS, e capim Tanzânia (Panicum sp.), pH de 4,8 e 31,3% MS, respectivamente. Em relação aos tratamentos 3, 4 e 5, apesar de menor estabilidade aeróbica (na ordem de 140 horas) as inferências aplicadas aos dois tratamentos anteriores podem ser aqui adotadas. Mesmo assim, observa-se recuperação de MS, valores de pH praticamente iguais, à exceção do tratamento 5, onde pode ter havido desenvolvimento de outros 94 microrganismos consumidores de lactato e acetato juntamente com CHO, além da diminuição do número de UFC de leveduras. Para os demais tratamentos que receberam GNE (silagens de número 6, 7, 8, 9, 10 11 e 12), houve grande oscilação nos teores de MS, traduzindo-se como aumento no teor de MS, aumentos significativos nos valores de pH do 1º ao 10º dia e consumo dos CHOsol residuais. Em contrapartida, observou-se uma diminuição da população de leveduras (tratamentos 7, 8, 9 e 10) e uma tendência de aumento no número destas (tratamentos 11 e 12). Tais aumentos podem ser atribuídos à maior percentagem (50,0 e 75,0%) do aditivo nas silagens analisadas, haja vista estar este em estádio fresco, tamanho maior das partículas e consequentemente maior aeração da massa exposta. Observa-se que nos tratamentos 2, 9, 10, 11 e 12, o número de leveduras alcançou a ordem de 106 UFC/g MV. Alli et al. (1983), relatam que a presença de leveduras, na ordem de 106 UFC/g de forragem é prejudicial ao processo de ensilagem, porque estes microrganismos não contribuem para a acidificação, e estão associados com a deterioração aeróbia das silagens (Driehuis et al. 1999). Além disto, o desenvolvimento das leveduras pode ser prolongado, e seu controle é dificultado, por não serem inibidas pelo pH normalmente encontrado nas silagens. Para a maioria das espécies o pH ótimo encontra-se entre 3,5 e 6,5, sendo que algumas espécies são capazes de sobreviver em silagens com pH igual ou inferior a 2,0 (McDonald et al. 1991). A Tabela 5 apresenta os resultados para a MS, pH, CHOsol e contagem de leveduras antes e após a exposição aeróbia das silagens de cana-de-açúcar aditivadas com gliricídia emurchecida por aproximadamente 6 horas. 95 Tabela 5 - Valores médios para a matéria seca (MS), pH e leveduras das silagens aditivadas com gliricídia emurchecida e expostas ao ar por até 10 dias Table 5 - Average means to dry matter (DM), pH and yeast of the silages added with wilted gliricidia and exposed to air during until 10 days Variáveis MS Variables DM (%) PEO21 O2EP (dias/days) pH CHOsol Leveduras WSC (%) Yeast (Log UFC) 0 10 0 10 0 10 0 10 32,65a 31,99a 30,45a 28,90a 28,14a 25,67a 24,68a 25,57a 32,36a 32,04a 33,70b 36,98b 39,24b 44,64b 48,27b 47,85b 4,20a 4,02a 3,89a 4,60a 4,35a 4,09a 4,11a 4,14a 4,77a 4,14a 4,80b 4,96a 4,68a 6,57b 6,69b 6,12b 6,11a 4,28a 1,63a 7,87a 7,13a 5,45a 5,33a 5,39a 5,45a 4,02a 1,21a 7,65a 6,96a 2,57b 2,36b 3,33b 7,53a 7,28a 0,00a 7,58a 7,28a 0,00a 7,63a 7,60a 2,66b 2,98b 0,76a 5,65a 5,12a 6,66b 6,26b 6,34b 23,69a 42,68b 4,08a ,72b ,48a ,00a 19a ,91a Tratamentos2 Treatments 6 25 45 6 25 90 6 25 120 6 50 45 6 50 90 6 50 120 6 75 45 6 75 90 6 75 120 Diferentes letras para cada variável nas linhas significa diferença estatística pelo teste t de Student (P<0,05). Different letters for each variable means have statistical difference by t test (p<.05). 1 Períodos de exposição ao oxigênio. Oxygen exposure periods. 2 Ver Tabela 1. See Table 1. Para os tratamentos 13 e 14, que de acordo com a Tabela 5, apresentaram a maior estabilidade aeróbia (168 horas), não foram observadas diferenças significativas para MS, pH e CHOsol. Tal tendência de manutenção de estabilidade aeróbica e na qualidade destas silagens pode estar associada à diminuição observada no número de leveduras em ambos os tratamentos (de 7,53 a 2,66 log; 7,28 a 2,98 log). Os valores encontrados no último dia de exposição ao ar estão próximos do máximo preconizado por Alli et al. (1983) que é da ordem de 106 UFC/g MV. Isto pode ser explicado talvez pela ação do emurchecimento sobre o aditivo utilizado, aumentando a pressão osmótica e diminuindo a fermentação secundária. Uma outra hipótese é que o etanol tenha controlado tais microrganismos (Gutierez, 1991). 96 Simões et al. (2000) afirmam que produção de metabólitos secundários por leguminosas, dentre elas a gliricídia (NAS, 1980; Villanueva, 1984), pode também ter exercido redução no número de UFC de leveduras. Alguns destes metabólitos não são facilmente volatilizados durante a exposição aeróbia da massa ensilada devido à interação dos mesmos com determinados nutrientes (p.e. taninos condensados, furanocumarinas, ligninas e saponinas). Para os tratamentos 15, 16 e 17 que apresentaram estabilidades aeróbicas iguais a 140 horas (Tabela 5), apesar de apresentarem diferença estatística (P<0,05) para MS e pH, observa-se que as mesmas foram muito pequenas, mantendo as respectivas silagens dentro dos intervalos preconizados pela literatura em relação a sua qualidade. Não se observou diminuição nos teores de CHOsol, o que pode ser atribuído a ausência de demanda energética por microrganismos ou pelo aumento da pressão osmótica devido ao aumento do teor de MS pelo emurchecimento do aditivo. A população de leveduras manteve-se estatisticamente igual (P≥0,05), podendo ter sido controlada por metabólitos secundários oriundos do aditivo ou pela ação enzimática sobre a lignina (lignanas e neolignanas) exercida pelas polifenoloxidases produzindo fenóis (Barbosa Filho, 1999). De acordo com McDonald et al. (1991), a hidrólise da hemicelulose pode ser realizada por hemicelulases provenientes da planta e das bactérias, e também por ácidos orgânicos produzidos na fermentação, o que faz com que esta atuação resulte em outra forma de contribuição energética. Os tratamentos 18, 19, 20 e 21 foram os que apresentaram uma menor estabilidade aeróbica (decrescendo de aproximadamente 90 horas a até menos de 20 horas); maiores aumentos de MS e pH; e decréscimos diretamente proporcionais em relação ao CHOsol e leveduras. Mais uma vez o tamanho das partículas juntamente com a conseqüente maior aeração da massa ensilada exposta ao ar parece ter contribuído para uma menor 97 estabilidade aeróbica destes tratamentos. No entanto, deve-se ressaltar a mesma tendência no controle de leveduras, mesmo quando o aditivo, agora emurchecido, teve uma maior participação percentual nas silagens de cana-de-açúcar. McDonald et al. (1991) relata que os fungos, em especial as leveduras, são os microrganismos mais frequentemente associados à deterioração aeróbia das silagens. Enquanto isto, Henderson et al. (1979) reforça a hipótese de que somente a contagem de leveduras não explica as diferenças na estabilidade da massa ensilada e exposta ao ar. Brookes (1990) sugere que um número de leveduras maior que 105 UFC/g MS associado ao incremento da produção de gás carbônico (CO2) são indicativos de deterioração aeróbica. Enquanto isto, Henderson (1993) cita que silagens com menores populações de leveduras também podem apresentar características de uma rápida deterioração, bastando para tal que enterobactérias se estabeleçam e metabolizem o lactato a acetato, no que causaria aumento no pH do meio e consequentemente a proliferação de fungos oportunistas como Aspergillus sp., Fusarium sp. e Trichoderma sp., encontrados principalmente no topo dos silos (McDonald et al. 1991). 98 CONCLUSÕES O armazenamento mais prolongado das silagens e a percentagem de gliricídia emurchecida na ordem de 25% apresentaram silagens de cana-de-açúcar com melhor qualidade e controlou a população de leveduras aumentando o período de exposição aeróbica das silagens analisadas. 99 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALLI, I; FAIRBAIRN, R.; BAKER, B.E. The effects of ammonia on the fermentation of chopped sugarcane. Animal Feed Science and Technology. v. 9, p. 291-299, 1983. ATTA–KRAH, A.N. 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Aditivadas com Gliricídia [Gliricidia sepium (Jacq.) Kunth ex Walp.] RESUMO Objetivou-se com este estudo avaliar silagens exclusivas de cana-de-açúcar (SEC) variedade RB-92579 e o efeito causado nestas pela adição de 25% de gliricídia emurchecida (SC+GE) sobre as características fermentativas e a qualidade do material ensilado após armazenamento de 45, 90 e 120 dias. O experimento foi conduzido em um delineamento inteiramente ao acaso, com três repetições, sendo a cana colhida após 12 meses (1º corte) e os ramos jovens foram procedentes de gliricídias adultas, emurchecidos ao sol por aproximadamente 6 horas. As misturas foram ensiladas em baldes plásticos de 10 litros sem válvula de escape e dispositivos para colheita de efluentes. Foram obtidos valores comparativos entre as SEC e as SC+GE em relação à variação da matéria seca, etanol, ácidos orgânicos e fenóis totais, além da microflora epífita. Houve diferenças (P<0,05) para matéria seca, carboidratos solúveis, etanol, ácidos orgânicos, pH e microflora epífita. Para a capacidade tamponante e fermentativa houve aumento significativo (P<0,05); enquanto que para fibra em detergente neutro não houve diferença significativa (P≥0,05). A população de leveduras mostrou-se altamente correlacionada com maiores concentrações de ácido acético, fenóis totais e etanol. O emurchecimento mostrouse eficiente, enquanto o armazenamento apresentou oscilações quadráticas positivas ou negativas para a microflora epífita das silagens. Palavras-chave: bromatologia, ensilagem, microflora epífita, padrão de fermentação 107 Fermentative Dynamic of Sugarcane (Saccharum officinarum L.) Added with Gliricidia [Gliricidia sepium (Jacq.) Kunth ex Walp.] ABSTRACT The major objective of this trial was to evaluate exclusive sugarcane (RB-92574 variety) silages (ESS) and the effect caused on these by the addition of 25% of wilted gliricidia (SS+WG) on the fermentative characteristics and the nutritional quality of the ensiled material after 45, 90 and 120 days. The experiment was conducted in an entirely randomized design with three replications, where the sugarcane was harvest after twelve months plantation (1st cut) and the younger stems were proceeded from adult gliricidias, wilted by six hours approximately under the sunshine. The mixtures were ensiled in plastic buckets with 10 liters of volumetric capacity unprovided of valves for gases release and device for effluent collection. Comparative values were obtained among the ESS and the SS+WG in relation to dry matter variation, ethanol, organic acids and total phenols, yonder epiphytic micro flora. There were differences (p<.05) of dry matter, water soluble carbohydrates, ethanol, organic acids, pH and epiphytic micro flora. To Buffering and Fermentative Capacities presented significant difference (p<.05); whereas for neutral detergent fiber did not occur significant difference (p≥.05). The yeast population showed highly correlated with bigger concentrations of acetic acid, total phenols and ethanol. The wilting showed efficient, while the tested storage presented positive or negative squared oscillations to the epiphytic micro flora of the analyzed silages. Index words: chemical analyzes, ensilage, epiphytic micro flora, fermentation pattern 108 INTRODUÇÃO A silagem pode ser definida como um produto fermentado em meio anaeróbico onde, após acidificação, é utilizada para a preservação de produtos - dentre os quais, gramíneas e leguminosas -, para nutrição de animais nas épocas de escassez de alimentos. O rápido enchimento e fechamento do silo, além de uma boa compactação do material, é a garantia da referida condição de anaerobiose. De acordo com Rees (1997) a exclusão do ar entre as partículas do material ensilado, facilita o crescimento de organismos anaeróbicos resultando na produção de etanol e numa variedade de ácidos orgânicos como o acético, butírico e o lático. Um dos principais objetivos deste processo é o favorecimento do crescimento de bactérias produtoras de ácido lático bem como a inibição do desenvolvimento de outros microrganismos potencialmente danosos ao meio e ou ao animal. Estes organismos, principalmente clostrídeos, listérias e enterobactérias, degradam aminoácidos e sintetizam ácido butírico de baixíssima palatabilidade (Lindgren et al. 1987) e podem também causar doenças como Botulismo e Listeriose. Uma boa silagem apresenta alta produção de ácido lático e um pH em torno de 4,0, a qual é normalmente suficiente para inibir a maioria dos microrganismos, particularmente pelo efeito direto dos íons de hidrogênio, mas principalmente pela intensificação dos efeitos tóxicos dos ácidos orgânicos. O resultado é uma considerável redução na atividade microbiana e, enquanto a não entrada de ar no silo estiver garantida, maior será o tempo de armazenamento da silagem. A fermentação dos produtos colhidos para a produção de silagem, é considerada como um processo complexo, envolvendo vários fatores bióticos e abióticos, alguns destes incontroláveis. O silo uma vez aberto, caso contenha silagem de baixa qualidade devido a 109 alguma deterioração, certamente causará efeitos negativos na produção de leite, ganho de peso e na saúde dos animais (Brookes & Buckle, 1992). Por esta razão, existe uma pressão comercial muito forte para que haja o desenvolvimento de técnicas que proporcionem silagens de alto valor nutricional. Atualmente, uma grande variedade de aditivos está sendo recomendada para melhorar a qualidade da silagem. Um ponto fundamental, quando se utiliza um aditivo, é conhecer o quanto ele pode melhorar o consumo e a produção animal, e se economicamente o mesmo é viável. Infelizmente, são poucos os trabalhos na literatura que abordam todos estes parâmetros. Geralmente eles se detêm apenas nos aspectos qualitativos das silagens (Vilela, 1985). Aditivos ricos em carboidratos foram usados na ensilagem de forrageiras com níveis de carboidratos solúveis abaixo do nível crítico estabelecido para forrageiras tropicais. O capim-elefante, cortado com idade inferior a 60 dias, é uma destas forrageiras, e o uso de estimulantes da fermentação, como melaço, farelos e, particularmente, o milho e a mandioca, ocuparam lugar de destaque nas pesquisas com aditivos. O rolão de milho (Andrade, 1995), assim como o grão triturado (Lopes & Monks, 1983), foram empregados na ensilagem do capim-elefante, proporcionando silagens com fermentações adequadas. No entanto, é sob a forma de fubá que no passado foi exaustivamente pesquisado; neste particular, existem dúvidas se é o milho ou a mandioca a melhor fonte de açúcares a ser fermentada, uma vez que é o amido a principal fonte de carboidrato destes aditivos. Por outro lado, o autor verificou que o fubá aumentou os teores de MS e a digestibilidade in vitro da MS das silagens. Muniz et al. (1972) verificaram a influência do uso de 4% de fubá de milho como aditivo na ensilagem do capim-elefante cv. Mineiro, e concluíram que o aditivo não alterou as características da fermentação da silagem e não foi 110 economicamente vantajoso, uma vez que os ganhos de peso dos novilhos alimentados com as silagens, com ou sem aditivo, não diferiram (169 a 148 g/cab/dia). A mandioca, normalmente usada sob a forma de raspa, também não parece contribuir como fonte de carboidratos solúveis facilmente fermentáveis, pois, segundo Godoy, citado por Farias & Gomide (1973), 75,7% dela é constituída por amido. Estes dois autores estudaram os efeitos do emurchecimento e da adição da raspa de mandioca sobre a ensilagem do capim-elefante e verificaram que o aditivo aplicado na dose de 75 kg/t de massa verde, elevou os teores de MS, carboidratos solúveis e digestibilidade in vitro da MS das silagens. No entanto, a raspa da mandioca não se revelou uma fonte de carboidratos facilmente fermentáveis pelos Lactobacillus. A cana-de-açúcar pode ser ensilada com outras forrageiras, pois contém as principais características necessárias para o processo de produção de silagem: teor de matéria seca em torno de 25 a 30% (sendo o ideal próximo a 34%); teor de carboidratos solúveis próximos a 10% da matéria natural e baixo poder tampão, que permite a queda do pH para valores próximos a 3,5. Todavia, o alto teor de carboidratos solúveis, os quais promovem rápida proliferação de leveduras com produção de etanol e gás carbônico, resulta em perdas na matéria seca consideráveis (Valvasori et al. 1995). Tem-se demonstrado que a ensilagem exclusiva de cana-de-açúcar ocasiona redução acentuada no seu valor nutritivo (kung Jr. & Stanley, 1982; Andrade et al. 2001), em decorrência da rápida fermentação dos açúcares solúveis em etanol pelas leveduras, um processo fermentativo indesejável. Freitas et al (2006) cita que, para melhorar a eficiência do processo de ensilagem da cana-de-açúcar, a utilização de aditivos torna-se uma importante alternativa. Estes autores utilizaram como aditivo na ensilagem de cana-de-açúcar, o resíduo da colheita de soja e concluíram que tal associação melhorou a qualidade nutritiva da silagem, promovendo 111 menores perdas de matéria seca e carboidratos solúveis devido à redução na produção de etanol e menor acúmulo dos componentes da parede celular. No entanto, observaram uma redução na digestibilidade da forragem ensilada. A inclusão de leguminosas como a soja, a leucena e a gliricidia durante a ensilagem de forrageiras tropicais, tem melhorado o valor nutritivo das silagens de milho (Eichelberger et al. 1996; Iglesias et al. 1992), do capim-elefante (Ojeda et al. 1990) ou mesmo de outras forrageiras como o capim-guiné, a grama bermuda e o capim-pangola (Tjandraatmadja et al. 1993; Ojeda et al. 1990). Pedroso (2003) cita que aditivos químicos e inoculantes microbianos têm sido utilizados com o intuito de melhorar o padrão de fermentação e conservação destas silagens, promovendo o desenvolvimento dos microrganismos benéficos, como as bactérias produtoras de ácido lático e a inibição dos indesejáveis, como as leveduras e clostrídeos. Este e outros autores (Driehuis et al. 1999; 2001; Weinberg et al. 1999) têm demonstrado que a adição de inoculantes contendo Lactobacillus buchneri melhora a estabilidade aeróbica de silagens de cana-de-açúcar por meio da redução do crescimento e da sobrevivência de leveduras durante a fase anaeróbica e após a exposição ao ar. A degradação anaeróbica do ácido lático a ácido acético e propiônico é um importante princípio deste efeito (Oude Elferink et al. 2001). Trabalhos avaliando a adição de milho desintegrado com palha e sabugo e casca de café (Evangelista et al. 2002a), farelo de soja e farelo de algodão (Evangelista et al. 2002b), farelo de trigo e polpa cítrica (Lima et al. 2002a) na ensilagem de cana-de-açúcar, não apresentaram, em geral, efeitos sobre o perfil de fermentação, e os valores apresentados estiveram dentro dos padrões aceitáveis para silagens de boa qualidade. No entanto, estes mesmos autores verificaram que os aditivos protéicos testados contribuíram para a elevação do valor nutritivo destas silagens. 112 A gliricídia [Gliricidia sepium (Jacq.) Kunth ex Walp.] é uma planta da família Fabaceae (alt. Leguminosae). É nativa de vários países como o México, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras e Nicarágua, dentre outros. Apresenta boa tolerância à secas e está adaptada a uma pluviosidade anual de 650 a 3.500 mm. É normalmente usada como forragem, mas raramente os animais ruminantes a utilizam como pastagem exclusiva devido a restrições quanto a sua palatabilidade, à exceção dos caprinos. Pesquisas sugerem que a diminuição do consumo desta leguminosa in natura deve-se a compostos sintetizados pelo metabolismo secundário, produzidos principalmente nas folhas mais jovens. No entanto, a adoção da técnica de emurchecimento por 12 a 24 horas pode aumentar o consumo pelos poligástricos. Na Indonésia, Sri Lanka, Colômbia ou Guatemala, este problema não é reportado já há algum tempo (NAS, 1980a). Segundo Roskoski et al. (1980) estudando a gliricídia de origem mexicana, observaram que as folhas contêm 11,96% de umidade, 12,09% de cinza, 19,92% de proteína bruta, 11,04% de fibra bruta, 42,65% de carboidratos solúveis e 69,69% de digestibilidade in vitro da matéria seca. As análises fitoquímicas revelaram baixos níveis de alcalóides, fenóis totais e saponinas nas folhas. Allen e Allen (1981) citam dados sugerindo que as folhas desprendidas dos ramos emitem determinados odores devido à ocorrência de ácido p-cumárico e furanocumarinas produzidos pelas mesmas, o que sugere que esta planta pode ter uma forte influência na dinâmica fermentativa de silagens, além de melhorar o valor nutritivo da massa ensilada. A conservação da biomassa da gliricídia - produzida no final da estação chuvosa no semi-árido -, sob a forma de silagem, tem sido uma estratégia de grande valor para a suplementação de vacas de leite alimentadas com palma forrageira como volumoso básico no período da estiagem. Segundo Carvalho Filho (1999), a silagem de G. sepium 113 enriquecida com uréia é uma das formas de reduzir custos de alimentação com a compra de concentrados. Depois da L. leucocephala, a gliricídia é certamente a leguminosa multifuncional mais utilizada em cultivos na América Central, onde em muitos casos pode produzir uma biomassa superior à leucena (Stewart et al. 1992). Uma das razões para esta recente popularidade deve-se a sua completa resistência à mariposa Heteropsylla cubana, que vem devastando a leucena em muitas partes dos trópicos do planeta. A possibilidade de realizar experimentos com a gliricídia avaliando seu papel de aditivo como controlador das fermentações indesejáveis durante as fases envolvidas na conservação anaeróbia e aeróbia vem despertando o interesse de alguns pesquisadores. Objetivou-se com este estudo avaliar a dinâmica fermentativa de silagens de canade-açúcar e o efeito da adição de gliricídia emurchecida desempenhando a função de aditivo vegetal sobre as características fermentativas e a qualidade do material ensilado. 114 MATERIAL E MÉTODOS Este experimento foi conduzido no Laboratório de Biotransformação de Produtos Naturais e Bromatologia do Instituto de Química e Biotecnologia, Universidade Federal de Alagoas-UFAL, em 2006. As silagens foram compostas de cana-de-açúcar var. RB-92579 e gliricídia, provenientes dos municípios de Murici-AL e Rio Largo-AL, respectivamente. A cana-deaçúcar não sofreu queima antes do corte para garantir seu teor de sacarose, foi colhida aos 12 meses de idade (1º corte), despontada (sem as folhas verdes), despalhada (sem as folhas secas do colmo mediano) e ensilada in natura. A gliricídia (ramos jovens colhidos de plantas adultas) utilizada neste estudo desempenhou a função de aditivo vegetal nas silagens de cana-de-açúcar e foi emurchecida ao sol por aproximadamente 6 horas antes da ensilagem. Foram escolhidos quatro tratamentos provenientes de um experimento anterior a este, cujo delineamento utilizado foi o inteiramente casualizado em esquema fatorial do tipo [2 x 3 x 3) + 3] totalizando 21 tratamentos com três repetições. Dentre estes, um foi eleito para atuar como tratamento referência3 (silagens exclusivas de cana-de-açúcar armazenadas por 120 dias e que apresentaram maior semelhança no declínio do pH em relação à supracitada); os outros três foram silagens compostas por 75% de cana-de-açúcar + 25% de gliricídia emurchecida e armazenadas por 45, 90 e 120 dias). Para tal, adotou-se a metodologia descrita por Derringer & Suich, (1980) (Tabela 1), ajustando os valores citados na referida tabela em relação ao fator “tempo de armazenamento” para os utilizados no planejamento experimental deste estudo; bem como a avaliação da estabilidade aeróbica, ADITE-5 e ADITE-10 (Tabela 2), para a 3 Escolha segundo critério deste autor. 115 escolha das respectivas silagens. Além destes, as silagens armazenadas por 15 dias foram descartadas devido à possibilidade de ainda não apresentarem estabilidade anaeróbica. As misturas constantes da Tabela 1 foram escolhidas a partir da Análise de Componentes Principais (PCA) considerando a similaridade nutricional e à quantificação da microflora epífita das silagens analisadas (Tabelas 3 e 4). 116 Tabela 1 - Otimização das silagens com base no valor nutritivo ótimo Table 1 – Optimization of the silages based in the optimal nutritive value Componentes (%) Components Cana-de-açúcar Sugarcane Gliricídia Gliricidia Fatores Factors Emurchecimento (horas) Wilting (hours) Armazenamento (dias) Storage (days) Variáveis Variables MS (%) (DM%) FDN (%) (%NDF) FDA (%) (%ADF) Lignina (%) (%Lignin) Cinza (%) (%Ash) DIVMS (%) (%IVDDM) Leveduras (UFC/g MV) Yeast (FCU/g GM) Fungos (UFC/g MV) Fungi (FCU/g GM) Bact. totais (UFC/g MV) Total bacteria (FCU/g GM) Índice de desejabilidade 1 Intervalo 1 Silagem 1 Silagem 2 Mix1 Mix 2 Valor Ótimo 2 Valor Ótimo Silagem 3 Mix 3 2 Valor Ótimo2 Range Optimal Value Optimal Value Optimal Value 25,0-100,0 73,32 76,56 79,87 0,0-75,0 26,68 Intervalo 1 Valor Ótimo 23,44 2 Valor Ótimo 20,13 2 Valor Ótimo2 Range Optimal Value Optimal Value Optimal Value 0-6 6 6 6 45-120 112 98 47 Intervalo3 Valor Ótimo2 Valor Ótimo2 Valor Ótimo2 Range Optimal Value Optimal Value Optimal Value 30,0-33,2 30,08 32,34 34,98 37,8-67,0 44,88 54,64 55,21 20,2-56,1 46,24 36,98 35,14 3,9-12,7 3,96 5,53 4,96 3,4-5,9 5,19 5,14 4,12 68,8-88,8 72,3 72,01 73,54 ≤105 104 104 104 ≤105 103 103 103 ≤108 108 108 107 0,0-1,0 1,0 1,0 0,97 Desirability Index Valores intervalares definidos a priori na base de procedimentos do programa estatístico adotado. Defined values by the used statistical program a priori. 2 3 Melhor valor encontrado para a respectiva variável. Best value for each variable. Intervalos definidos segundo literatura atual. Ranges defined according to actual literature. 117 Tabela 2 - Estabilidade aeróbica, ADITE-5 e ADITE-10 das silagens de cana-de-açúcar com adição de gliricídia emurchecida Table 2 – Aerobic stability, ADITE-5 and ADITE-10 of the sugarcane silages added with wilted gliricidia Estabilidade aeróbia (horas) Aerobic stability (hours) 6 25 45 168 a 6 25 90 168 a 6 25 120 144 b 6 50 45 144 b 6 50 90 144 b 6 50 120 96 c 6 75 45 48 d 6 75 90 48 d 6 75 120 24 e Misturas Mixtures ADITE-5 ADITE-10 6,0 f 5,6 h 5,9 g 6,0 f 6,5 e 8,4 d 10,0 a 9,7 c 9,7 b 18,0 g 17,1 h 17,1 i 18,3 e 18,1 f 21,3 d 24,2 c 24,7 a 24,3 b Letras diferentes para a mesma variável, indicam diferença significativa pelo teste de Tukey (HSD; P<0,05). Different letters for the same variable, indicate significant difference by Tukey test (HSD; p.<.05). Tabela 3 - Componentes principais da análise de variáveis relacionadas com o valor nutricional das 28 silagens deste estudo Table 3 - Principal components from the analysis of variables related to the 28 silages studied in this work CPi PCi Variância EVT VA (autovalor) (%) (%) Variance (eigenvalue) TEV (%) AV (%) Autovetores Eigenvectors MS DM Y1 Y2 Y3 2,56 2,11 1,22 32,03 32,03 0,82 26,34 58,37 0,10 15,21 73,58 -0,32 DIVMS CHOsol PB FDN FDA Lig Cinza IVDDM WSC CP NDF ADF Lig Ash 0,71 -0,01 0,14 0,56 0,28 0,13 -0,53 -0,46 0,58 0,36 0,16 0,84 -0,19 0,89 0,03 0,79 -0,42 0,12 0,02 -0,89 -0,17 CPi = componentes principais; EVT = explicação da variância total; VA = variância acumulada; MS = matéria seca; DIVMS = digestibilidade in vitro da matéria seca; CHO = carboidratos solúveis; PB = proteína bruta; FDN = fibra em detergente neutro; FDA = fibra em detergente ácido; Lig = lignina. PCi = principal components; TEV = Percentage of total variance; DM = dry matter; IVDDM = digestibility in vitro of DM; WSC = water soluble carbohydrates; CP = crude protein; NDF = neutral detergent fiber; ADF = acid detergent fiber; Lig = lignin. 118 Tabela 4 - Componentes principais da análise de variáveis relacionadas com a microflora epífita nas 28 silagens deste estudo Table 4 - Principal components from the analysis of variables related to the 28 silages relation to epiphytic micro flora CPi PCi Variância EVT VA (autovalor) (%) (%) Variance (eigenvalue) TEV (%) AV (%) studied in Autovetores Eigenvectors Leveduras Fungos Bacilos Bactérias Totais Y1 Y2 2,57 0,75 64,23 64,23 18,86 83,09 Yeast Fungus Bacilli Total bacteria 0,31 0,51 0,34 -0,07 -0,25 0,98 0,35 0,32 CPi = componentes principais; EVT = explicação da variância total; VA = variância acumulada. PCi = principal components; TEV = Percentage of total variance, accumulated variance. As determinações químico-bromatológicas, microbiológicas e algumas das variáveis relacionadas ao poder fermentativo das silagens foram: Matéria seca (MS) segundo AOAC, 1990; Fibra em detergentes neutro (FDN) e ácido (FDA), lignina e digestibilidade in vitro da MS (Van Soest et al. 1985); Carboidratos solúveis em água (Dubois et al. 1956); Poder tamponante (Playne & McDonald, 1966); Relação CHOsol:PT (Weissbach, 1968); Etanol (densímetro digital); Ácidos orgânicos (cromatografia gasosa); pH (potenciômetro digital); Capacidade fermentativa (CF)4 (Weissbach & Honig, 1996); Fenóis totais (FT) (método com reagente Folin-Ciocalteu) e isolamento e quantificação da microflora epífita (Lin et al. 1992). Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância, antecedida dos testes de normalidade dos resíduos (Teste de Lilliefors) e homocedasticidade da variância dos erros (Teste de Cochran). Para a verificação da existência ou não de significância entre as médias dos tratamentos utilizou-se o teste de Tukey (HSD; P<0,05). 4 CF = MS + [8 (CHOsol/PT)]. 119 RESULTADOS E DISCUSSÃO A Tabela 5 apresenta os resultados encontrados nos componentes constituintes das silagens escolhidas para comparação e análise. O pH entre 3,8 e 4,2 é o que se pode esperar de uma silagem considerada bem preparada. No entanto, isoladamente, o pH não pode ser considerado como critério seguro para a avaliação das fermentações, pois seu efeito inibidor sobre as bactérias depende da velocidade do declínio da concentração iônica e do grau de umidade do meio (Woolford, 1984). As variáveis empregadas como critério de classificação para silagens com bom padrão de fermentação abrangem, dentre as mais destacadas pela literatura, a matéria seca, o pH, os ácidos orgânicos, os carboidratos solúveis, a capacidade tamponante e a microflora epífita da mesma (Mahanna, 1994). De acordo com Pereira et al. (2004) a avaliação dos componentes, in natura ou présecados, que irão participar da confecção da silagem, é extremamente importante para o sucesso na produção da mesma. A eficiência na preservação e o valor da silagem produzida são relevantes, mas a escolha da cultura, a época e as formas da colheita e a variabilidade bromatológica do produto a ser ensilado, mesmo que o mesmo esteja em condições aparentemente similares quanto a alguns parâmetros, são também de extrema significância. 120 Tabela 5 - Características químico-bromatológicas e microflora epífita nos componentes antes da ensilagem Table 5 – Chemical and epiphytic microflora characteristics in the components before ensilage process Sugarcane Gliricídia fresca Gliricídia emurchecida Fresh gliricidia Wilted gliricidia 34,96 23,63 30,11 37,63 41,38 40,20 29,92 30,48 16,40 37,30 127,79 114,57 0,80 0,24 0,14 1,26 1,36 2,45 nd7 nd Nd nd nd Nd nd nd Nd nd nd Nd nd nd Nd pH 5,5 6,26 6,18 CF5 41,36 25,55 31,23 0,43 15,19 9,20 108 0,0 0,0 107 106 107 108 108 108 Cana-de-açúcar 1 MS (%) DM (%) FDN2 (% MS) NDF (% DM) CHOsol3 (% MS) WHC (% DM) PT4 (e.mg/100g MS) BC (e.mg/100g MS) CHOsol:PT WHC:BC FDN:CHOsol NDF/WSC Etanol (%MS) Ethanol (DM%) Ac. lático (%MS) Latic acid (DM%) Ác. acético (%MS) Acetic acid (DM%) Ac. butírico (%MS) Butiric acid (DM%) Ac. propiônico (%MS) Propionic acid (DM%) FC FT6 (g/kg MS) TP (g/kg DM) Leveduras (UFC/gMV) Yeast (CFU/gGM) Fungos (UFC/gMV) Fungus (CFU/gGM) Bactérias totais (UFC/gMV) Total bactéria (CFU/gGM) 1 Matéria seca; 2Fibra em detergente neutro; 3Carboidratos solúveis em água; tamponante; 5Capacidade fermentativa; 6Fenóis totais; 7não determinado. 1 4 Poder Dry matter; 2Neutral detergent fiber; 3Water soluble carbohydrates; 4Buffering capacity; 5Fermentative capacity; 6Total phenols; 7non-determined. 121 Entretanto, deve-se ressaltar que, conforme o tratamento que se dá à forragem antes da ensilagem, o emurchecimento realizado por 6 horas, e, ou, segundo o tipo de aditivo adicionado - 25% de gliricídia, uma planta leguminosa de elevado poder tamponante; o pH pode ser elevado, o que não significará que a silagem obtida seja de qualidade inadequada. A mistura que mais similarmente se comportou e que mostrou-se com maior padrão de constância em relação ao pH, foi a silagem confeccionada com 75% de cana-de-açúcar e 25% do aditivo gliricídia emurchecido (75%C+25%GE) (Figura 1). 122 75%C+25%GNE 50%C+50%GNE 100%C 100%C 6,5 6,5 6,0 5,5 6,0 5,5 5,0 4,5 5,0 4,5 4,0 3,5 4,0 3,5 0 0,5 1 3 7 0 15 100%C 6,5 6,0 5,5 6,0 5,5 5,0 4,5 5,0 4,5 4,0 3,5 4,0 3,5 0,5 1 3 7 15 0 D i a s a pós a e nsi l a ge m 50%C+50%GE 6,5 6,0 5,5 5,0 4,5 5,0 4,5 4,0 3,5 4,0 3,5 1 3 7 D i a s a pós a e n si l a g e m 15 0,5 1 3 100%C 7 25%C+75%GE 100%C 6,0 5,5 0,5 7 15 D i a s a pós a e nsi l a ge m 6,5 0 3 75%C+25%GE 6,5 0 1 D i a s a pós a e nsi l a ge m D i a s a pó s a e m si l a ge m 25%C+75%GNE 0,5 15 0 0,5 1 3 100%C 7 15 D i a s a p ós a e nsi l a ge m Figura 1 – Variação do pH nas silagens exclusivas de cana-de-açúcar (C) e as aditivadas com gliricídia fresca (GNE) ou emurchecida (GE) nos primeiros 15 dias após o fechamento do silo. Figure 1 - pH variation in the exclusive sugarcane silages (100% C) and the added with fresh (GNE) and wilted gliricidia (GE) in the first 15 days after silo closing. Este comportamento corrobora os critérios anteriormente adotados para a escolha dos melhores tratamentos para a avaliação da dinâmica da fermentação. Os resultados obtidos neste estudo para a silagem de cana-de-açúcar exclusiva são similares aos obtidos 123 por Pedroso (2003) em um experimento analisando a mesma espécie (variedade RB835486) sob os tempos pós-ensilagem iguais a ½, 1, 2, 3, 7 e 15, 45, 90, 120 e 180 dias. Em relação às silagens de cana-de-açúcar aditivadas com GE (25% de aditivo emurchecido) pode-se inferir que o emurchecimento, associado a fatores como tamanho de partícula, estádio de maturidade, teor elevado de carboidratos solúveis, dentre outros, provocou declínio similar às silagens exclusivas de cana-de-açúcar. Tal ocorrência, pode não ter causado alterações na qualidade destas silagens. Segundo Muck & Bolsen (1991), a preservação da forragem na forma de silagem é baseada no processo de conservação em meio ácido, sob rápido decréscimo do pH levando à redução da atividade proteolítica, mediada por enzimas da própria planta, cessando o crescimento de microrganismos anaeróbios indesejáveis, em especial enterobactérias e clostrídeos. De acordo com McDonald et al. (1991), há queda mais acentuada até o terceiro dia de abertura dos silos, com tendência à estabilidade no décimo quarto dia, podendo ocorrer tal estabilidade ainda antes do décimo dia, quando se trabalha com forragens que apresentam altos teores de açúcar e baixos teores de proteína. A Tabela 6 apresenta os valores médios obtidos para as silagens exclusivas de cana (S1) e para as aditivadas com 25% de gliricídia emurchecida aos 45 (S2), 90 (S3) e 120 dias de armazenamento (S4). O valor encontrado para a MS das silagens exclusivas de cana-de-açúcar (S1) aos 120 dias de armazenamento (26,02%) foi menor que o encontrado antes da ensilagem desta gramínea (34,96%). Este resultado corrobora o encontrado por Pedroso (2003) de 26,6% sob o mesmo período de conservação da silagem de cana-de-açúcar. Valores maiores para MS (27,4; 28,6 e 28,3%) foram encontrados por Coan et al. (2002), Freitas et al. (2006) e Molina et al. (2002), respectivamente. No entanto, Valvasori et al. (1995) citam que o ideal 124 deve estar em torno de 34%. Woolford (1984) explica que um dos principais fatores que possibilitam o rápido desenvolvimento de leveduras nas silagens de cana são os baixos teores de MS (20 a 30%). As silagens S1 apresentaram diferença significativa (P<0,05) em relação às silagens aditivadas (Tabela 6). O armazenamento não influenciou (P≥0,05) a MS das S2, S3 e S4, que apresentaram teores iguais a 32,60; 31,94 e 31,60%, respectivamente. Freitas et al. (2006) analisando silagens de cana aditivadas com 10% de resíduo da colheita de soja após 45 dias de armazenamento, encontraram valor igual a 28,0% para MS, discordando com os encontrados neste estudo. A adição de 25% de gliricídia emurchecida manteve os teores de MS dentro da faixa de 25 a 35%, considerada por Cheeke (1999) como o ideal para a obtenção de silagens de qualidade adequada. Para a FDN não foi observada diferença significativa (P≥0,05) para as quatro silagens analisadas (Tabela 6). Os valores desta variável nas silagens exclusivas de cana (64,91%) foram inferiores aos encontrados (70,6%) por Pedroso (2003) sob o mesmo tempo de armazenamento e maiores que os 60,3% de MS citados por Freitas et al. (2006). Este mesmo autor encontrou para FDN na silagem de cana aditivada com resíduo de soja valores na ordem de 52,5% na MS. No presente estudo foram encontrados resultados superiores para as silagens aditivadas com 25 % de gliricídia (64,32; 63,16 e 55,52%), mas que de uma maneira geral, estão próximos aos encontrados na literatura para silagens de cana aditivadas com outras leguminosas. De acordo com Van Soest (1994), a fração fibrosa do material ensilado pode ser acrescida percentualmente em condições de intensa formação de efluentes durante o processo fermentativo, no qual os componentes solúveis em água são reduzidos proporcionalmente ao aumento da fração menos fermentável insolúvel em água, particularmente os constituintes da parede celular. 125 Tabela 6 – Valores médios para as silagens exclusivas de cana (S1) e das aditivadas com 25% de gliricídia emurchecida aos 45 (S2), 90 (S3) e 120 dias de armazenamento (S4) Table 6 - Average means to the exclusive sugarcane silages (S1) and of the silages added with 25% of wilted gliricidia by 45 (S2), 90 (S3) and 120 days of storage (S4) Tratamentos Treatments Variáveis S1 S2 S3 S4 26,02 b8 32,60 a 31,94 a 31,60 a 64,91 a 64,32 a 63,16 a 55,52 a 20,89 b 26,10 a 24,34 a 21,53 b 58,01 c 89,83 b 87,85 b 110,20 a 0,36 a 0,29 b 0,28 b 0,20 c 38,8 a 3,5 b 2,1 b 1,4 b 6,1 c 9,7a 8,4b 7,9 b 12,5 a 7,1 c 9,4 b 9,6 b 0,04 b 0,16 a 0,15 a 0,03 b 0,4 a 0,3 a 0,4 a 0,4 a 3,3 b 4,1 a 3,9 a 3,9 a 29,1 b 34,9 a 34,2 a 33,2 b 10,9 a 3,5 c 8,3 b 12,4 a Variables MS1 (%) DM (%) FDN2 (% MS) NDF (% DM) CHOsol3 (% MS) WHC (% DM) PT4 (e.mg/100g MS) BC (e.mg/100g MS) CHO:PT WHC:BC Etanol (%MS) Ethanol (DM%) Ác. lático (%MS) Latic acid (DM%) Ác. acético (%MS) Acetic acid (DM%) Ác. butírico (%MS) Butiric acid (DM%) Ác. propiônico (%MS) Propionic acid (DM%) pH CF5 FC FT6 (g/kg MS) TP (g/kg DM) Leveduras (UFC/gMV) 102 b 104 a 103 a 10 b Yeast (CFU/gGM) Fungos (UFC/gMV) 105 a 10 b 10 b 105 a Fungus (CFU/gGM) Bactérias totais (UFC/gMV) 108 a 108 a 108 a 107 b Total bactéria (CFU/gGM) 1 Matéria seca; 2Fibra em detergente neutro; 3Carboidratos solúveis em água; 4Poder tamponante; 5Capacidade fermentativa; 6Fenóis totais. 1Dry matter; 2Neutral detergent fiber; 3Water soluble carbohydrates; 4Buffering capacity; 5Fermentative capacity; 6Total phenols; 7non-determined. 8 Letras iguais na mesma linha indicam ausência de significância estatística pelo teste de Tukey (HSD; P≥0,05). Same letters at the line indicate absence of statistic significance by Tukey test (HSD; P≥.05). 126 Pedroso (2003) cita que a maior concentração dos componentes da fibra na MS das silagens deve-se à perda de CHOsol na forma de gases durante a fermentação, o que resulta também na produção de água, diminuindo o teor de MS da forragem. Esses efeitos corroboram a afirmação de Zago (1991) quanto às modificações ocorridas durante o processo fermentativo, reduzindo o teor de MS em conseqüência à produção da “água de metabolismo”, aumentando a porcentagem de FDN na MS. Em relação à não existência de diferenças significativas para FDN nas respectivas silagens, Merchem & Bourquin (1994) citam que o método de conservação (ensilagem) normalmente tem pouco efeito na composição dos carboidratos estruturais das forragens. Segundo Merchen e Satter (1983), a extensão e o local da digestão dos carboidratos fibrosos não diferem significativamente entre fenos e silagens. O teor de CHOsol para a S1 (20,89%; Tabela 6) foi muito superior aos citados por Pedroso (2003) e Freitas et al. (2006) que encontraram 5,98 e 6,4% na MS, respectivamente. No entanto, alguns trabalhos encontraram 52,0% de CHOsol na MS para cana aos 7,5 meses de idade (Alli & Baker, 1982) e 34% de CHOsol para as com 16,5 meses (Alli et al. 1983). Um aspecto importante a ser ressaltado é o de que a relação encontrada entre os percentuais de FDN e CHOsol revelou um índice de 3,11. Segundo Rodrigues et al. (2001), o valor da relação entre os teores de FDN e de sacarose tem sido utilizado na avaliação da qualidade nutritiva da cana-de-açúcar, considerando-se valores menores ou iguais a 3,0 como indicativos de que o teor de FDN não será limitante ao consumo de MS pelos animais e, conseqüentemente, de açúcares que fornecem a maior parte da energia digerível para os animais alimentados com esta forragem. Para as S2, S3 e S4 obteve-se índices iguais a 2,44; 2,60 e 2,58; o que demonstra que a adição de GE na silagem de cana não comprometeria tal consumo de MS também. 127 Pode-se verificar que, para as respectivas silagens, foram obtidos valores referentes aos CHO de 26,10; 24,34 e 21,53% na MS (Tabela 6). A S4 foi semelhante à silagem exclusiva de cana; este mesmo comportamento foi verificado entre a S2 e a S3 (P≥0,05). Freitas et al. (2006) encontrou na massa ensilada de cana aditivada com restos da cultura de soja um teor de 9,8% na MS. Vale ressaltar que estes teores quando calculados com base na matéria verde apresentam valores absolutos maiores. Pode-se inferir que, mesmo ocorrendo perdas de CHOsol durante o processo de fermentação, os percentuais de CHOsol na gliricídia emurchecida antes da ensilagem (16,40%) contribuíram para a manutenção deste nutriente na massa ensilada. Isto reforça a teoria de que o emurchecimento aumenta a pressão osmótica do conteúdo celular e minimiza a fermentação indesejável que gera perda de MS na forma de gases ou efluentes. O poder tamponante (PT) é determinado pela quantidade de ácido requerida para baixar o pH da forragem no interior do silo a um nível estável. Assim, a resistência à alteração do pH durante o processo de fermentação é devida à capacidade de tamponamento da planta, que é característica de cada forrageira e se altera com os seus estádios de maturação (Moisio & Heikomen, 1994). Os valores encontrados para o poder tampão nas silagens de cana exclusivas e nas aditivadas estão apresentados na Tabela 6. Das quatro silagens analisadas, a S1 apresentou o menor valor (58,01 e.mg HCl/100mL). Quanto às outras três silagens, valores bem superiores (P<0,05) foram encontrados (89,83; 87,85 e 110,20 e.mg HCl/100mL). As variações calculadas para o poder tampão em relação a S1 ficaram dentro do intervalo de 51,44 a 89,97%. Estes resultados foram menores que os citados por Evangelista et al. 2002a, para a adição do farelo de soja na silagem de cana (361,0% de variação). Estes autores, apesar de ressaltarem tal magnitude, citam ainda que os mesmos estejam dentro dos padrões aceitáveis para silagens de boa qualidade. Fica evidente que a 128 inclusão da gliricídia, na silagem de cana-de-açúcar elevou a capacidade tamponante. Outro aspecto a ser considerado é que a mesma foi pré-secada e aumentou os teores de MS da massa ensilada. De acordo com Bernardes et al. (2002) isto também aconteceu, quando o mesmo aumentou a adição de milho debulhado com palha e sabugo (MDPS) para 10% ao ensilar esta mesma gramínea. A análise da capacidade tamponante de silagens durante a sua conservação torna-se importante, pois está relacionada à estabilidade anaeróbia, pouco estudada por pesquisadores nacionais. Nussio et al. (2003) cita que aos 252 dias, o efeito preservador causado pelo ácido lático desapareceu em decorrência da deterioração de silagens feitas com azevém, sendo este um fato não comumente observado, mas possível de acontecer. Segundo Keady & Steen (1995) outra explicação provável seria a de que na ausência de substrato fermentescível, linhagens de Lactobacillus plantarum são capazes de fermentar lactato a acetato, o que leva ao aumento no pH e permite que microrganismos indesejáveis como clostrídeos se tornem ativos. De acordo com Igarasi (2002) para um rápido abaixamento do pH é imprescindível que exista no ambiente quantidade suficiente de CHOsol a ser fermentado pelas bactérias, e que o poder tampão não seja capaz de impedir o abaixamento do pH aos níveis desejáveis. Assim, a relação entre o teor de carboidratos solúveis e o poder tampão da forragem é mais uma variável, segundo Wiessbach et al. (1974) para prever a qualidade de produtos ensilados. Os valores encontrados neste estudo apresentaram decréscimo significativo (P<0,05) para a S1 até a S4 de 0,36 a 0,20. Estes valores ficaram bem abaixo do recomendado por Weissbach (1968), que menciona um valor crítico mínimo igual a 3,0. Os baixos resultados obtidos desta relação deveram-se mais ao poder tampão; entretanto, os teores de CHOsol favoreceram o processo fermentativo, uma vez que maiores 129 concentrações destes açúcares também favorecem o rápido declínio do pH (McDonald et al. 1991). As silagens exclusivas de cana-de-açúcar armazenadas por 120 dias (S1) apresentaram 38,8% de etanol na MS, valor este que pode ser considerado alto, pois os valores encontrados na literatura para estes mesmos tempos de estocagem situam-se entre 5,5 e 15,5% de etanol na MS (Preston et al. 1976; Kung Jr. & Stanley, 1982). Entretanto deve-se levar em consideração o tipo de silo utilizado neste experimento; os mesmo não dispunham de válvulas de escape para gases nem para efluentes, o que pode certamente ter concentrado tal produto em maior quantidade. McDonald et al. (1991) cita que apesar de potencialmente aproveitável como substrato energético, o etanol produzido nas silagens de cana é rapidamente volatilizado no silo e no cocho, podendo acarretar perdas de até 48% de MS. Pedroso (2003) encontrou, para silagens sob condições similares as deste estudo, 6,12% de etanol na MS. Bernardes et al. (2002) também detectaram teores de etanol em torno de 7% na MS em silagens conservadas por 55 dias. Já Freitas et al. (2006), após ensilarem cana por 45 dias, encontraram valores de etanol na ordem de 17,8% na MS. Para S2, S3 e S4, detectou-se níveis similares, porém bem inferiores (3,5; 2,1 e 1,4% na MS) para etanol (P≥0,05). Freitas et al. (2006) observaram um decréscimo de aproximadamente 43,0% na concentração de etanol (17,8 a 7,6% na MS) na ensilagem de cana após a adição do resíduo de soja. Os resultados obtidos no presente estudo podem ser explicados pela provável ação controladora de determinados fitoquímicos produzidos pela gliricídia sobre a população de leveduras (Nussio et al. 2003). Este mesmo efeito controlador sobre as leveduras pode ser atribuído à elevada concentração do ácido acético; à MS; à presença de fungos antagonistas (p.e. Trichodema spp.) no topo do silo; produção de diacetil (Jay, 1982) e ou à reuterina (Talarico & Dobrogosz, 1989) – substâncias 130 inibidoras de microrganismos, produzidas por algumas cepas de lactobacilos; enzimas, como as polifenoloxidases (PPOs) - pela metabolização das ligninas da parede celular sintetizando fenóis (Cheynier & Moutounet, 1992) e atuando como fungiostáticos (Ignatushchenko et al. 1997) na massa ensilada com GE. Verificou-se maiores valores (P<0,05) de ácido lático para S2, S3 e S4 (9,7; 8,4 e 7,9% na MS) em relação à S1 (6,1% na MS) (Tabela 6). Os valores encontrados neste estudo estão de acordo com os recomendados por Kung Jr. (2001), o que caracteriza que as referidas silagens apresentaram boa capacidade de conservação. Freitas et al. (2006) citam teores de lactato próximos a 4,3 e 4,8% na MS, respectivamente para a silagem controle (cana) e as aditivadas com 10% de resíduo de colheita de soja. Os valores obtidos por esses autores podem ter sido inferiores aos encontrados neste estudo devido ao menor percentual do aditivo pelos mesmos, bem como sua composição bromatológica e o estágio avançado da maturidade da soja, além da microbiologia do solo em que se encontrara tal cultura. O ácido acético foi maior na S1 (12,5%) em relação às S2 (7,1%), S3 (9,4%) e S4 (9,6%) (Tabela 6). Estes valores são considerados elevados se comparados aos verificados por Andrade et al. (2001) que variaram de 0,9 a 2,2% de ácido acético na MS e aos citados por Freitas et al. (2006) que mostraram uma variação de 3,5% (silagem controle) para 3,1% de ácido acético na silagem aditivada com resíduo de soja. Essa maior concentração de ácido acético indica a presença de bactérias heterofermentativas (p.e. Lactobacillus buchneri) (Driehuis et al. 2001). Por outro lado, McDonald et al. (1991) sugerem que a elevada produção de ácido acético pode ser indício da atuação de enterobactérias, que ocorrem durante os primeiros estágios pós-ensilagem, causando forte competição por nutrientes juntamente com as bactérias produtoras de ácido lático. Estes microrganismos têm pouca atividade 131 proteolítica, porém são capazes de degradar alguns aminoácidos, contribuindo para a produção de amônia e aminas biogênicas, a exemplo dos clostrídeos. Amos et al. (1996) reforça que existe perda seletiva de aminoácidos durante a ensilagem, decorrente da proteólise e deaminação. Os aminoácidos que menos foram recuperados após a ensilagem foram a arginina, a histidina, a lisina e a treonina, quando avaliados em silagens de alfafa, trigo e milho. Em um segundo experimento esses autores observaram que os aminoácidos de cadeia ramificada foram mais resistentes à degradação anaeróbica. Tais citações, além de mostrarem o benefício do ácido acético quanto ao controle de perdas de MS pelas leveduras, alertam para a necessidade do uso de suplementos protéicos que aumentam a ingestão de MS e a produção animal (Wilkins et al. 1999). Woolford (1984) preconiza que os teores de ácido butírico nas silagens de boa qualidade não devem ultrapassar 0,2% na MS. Enquanto isto, Kung Jr. (2001) definiu que em silagens de capins tropicais os teores deste ácido deveriam ser iguais a 0%. Este trabalho revelou teores de 0,04; 0,16; 0,15 e 0,03% na MS em relação ao butirato (P<0,05). Observa-se que estes valores foram menores que os preconizados por Woolford (1984), porém maiores que os preconizados por Kung Jr. (2001). Em recente estudo realizado por Freitas et al. (2006) não foi detectada a presença de ácido butírico em nenhuma das silagens exclusivas de cana ou aditivadas com resíduo de soja. Os valores para esta variável são explicados pela análise microbiológica realizada nas plantas usadas, onde foi identificada a presença de bacilos, tanto no aditivo emurchecido antes da ensilagem quanto nas próprias silagens. Baixos níveis deste ácido são devido ao fato das bactérias deste gênero ter pouca ou nenhuma atividade em meio ácido e anaeróbico (Rees, 1997). No entanto, Katz & Demain (1977) citam que um número conhecido de espécies deste gênero também é produtor de compostos antifúngicos, e que 132 durante a fase de exposição aeróbica da silagem, os bacilos podem contribuir para uma maior estabilidade pós-abertura do silo. Woolford (1975) relata que os ácidos graxos saturados, contendo de 1 a 12 carbonos, apresentam propriedades antimicrobianas, onde, o aumento dessa atividade é diretamente proporcional ao aumento da cadeia carbônica nos ácidos e inversamente correlacionado com a diminuição do pH. Segundo este autor, o ácido butírico é um efetivo inibidor de leveduras, no entanto, a depender da sua concentração, pode fazer com que as silagens sejam rejeitadas por possuírem odor desagradável. O ácido propiônico foi detectado nas quatro silagens analisadas, respectivamente sob concentrações similares (P≥0,05) iguais a 0,4; 0,3; 0,4 e 0,4% na MS. Woolford (1975) ressalta que em silagens sob pH 3 e 4, o efeito inibitório sobre mofos e leveduras foi aumentado. Neste caso, a efetividade deste ácido, intensificada com o aumento da sua cadeia, o tornou mais eficiente. Além disto, as concentrações de propionato nas silagens analisadas neste estudo encontraram-se dentro da faixa de 0 a 1%, citada por Mahanna (1994) para classificação de silagens de boa qualidade. Teores de propionato superiores (1,6%) aos verificados na S1 (0,4%) foram citados por Freitas et al. (2006) após 45 dias da ensilagem de cana exclusiva e da ordem de 0,7% na MS quando as mesmas foram aditivadas com resíduo de soja. Já Driehuis et al. (2001) encontraram ácido propiônico variando de 1,5 a 1,7% na MS de silagens aditivadas com Lactobacillus buchneri após 119 dias de armazenamento. Além da Lactobacillus buchneri (Freitas et al. 2006), os únicos microrganismos responsáveis pela formação de ácido propiônico presentes nas silagens são os clostrídeos e as espécies de Propionibacterium (McDonald et al. 1991). Estas bactérias produzem o ácido propiônico pela fermentação do ácido lático. Uma vez detectada a presença de ácido propiônico nas silagens analisadas, tal 133 fato permite inferir que estas bactérias se desenvolveram na massa ensilada, mesmo sem a adição de inoculantes contendo seus esporos. A capacidade fermentativa (CF) é mais um instrumento que pode proporcionar melhores estratégias de manejo com a finalidade de otimizar as características das plantas, e assim proporcionar adequada fermentação no processo de conservação da forragem (Igarasi, 2002). Oude Elferink et al. (1999) relatam que a CF está diretamente proporcional aos teores de MS e de CHO, e inversamente proporcional ao PT. As S2 e S3 apresentaram maior CF (34,9 e 34,2) (P<0,05) que as S1 e S4 (29,1 e 33,2) (P≥0,05). Não foi possível estabelecer relação entre os teores de MS, CHO e PT das silagens analisadas (Tabela 6). O que sugere coerência em relação às S1, o mesmo não acontece em relação à S4 – era de se esperar uma menor CF para este tratamento -, visto que esta apresentou PT maior (110,20 e.mg) aos 120 dias de armazenagem do que a S1, mesmo tendo sido observado teores similares de CHO (P≥0,05). De acordo com Carvalho et al. (2000) os fenóis totais (p.e. ligninas, taninos, cumarinas) estão amplamente distribuídos no reino vegetal e nos microrganismos. Trata-se de um sólido incolor, cristalino, com ponto de ebulição de 182ºC, solúvel em etanol e parcialmente solúvel em água, alta capacidade acidificante e biocida, inibindo determinados processos biológicos (Butler et al. 1984). No presente estudo, a análise de fenóis totais (FT) revelou diferença significativa (P<0,05) entre as S2, S3 e S4 (3,5; 8,3 e 12,4g/kg de MS) (Tabela 6). Observou-se em todos os tratamentos com GE um incremento (P<0,05) em relação ao tempo de armazenamento utilizado, em paralelo à diminuição do teor de etanol (r = 0,73) e do número UFC de leveduras (r = - 0,90). Para S1 foi observado, apesar do seu alto teor de etanol produzido, concentrações de FT iguais à da S4 (P<0,05); o que ratifica a hipótese de que tempos mais prolongados de armazenamento influenciam nesta variável. 134 Uma provável explicação está na lenta degradação das ligninas pelas polifenoloxidades, com conseqüente produção de FT. Os valores de pH (Tabela 6) ao serem correlacionados linearmente com FT, comportamento inversamente proporcional (r = - 0,55). Não foram encontrados números elevados de UFC para leveduras nas quatro silagens analisadas (Tabela 6). A menor quantidade de UFC destes microrganismos nas S1 (102) e S4 (10) provavelmente pode ser explicada pela ação inibidora do etanol, acetato e FT, além do maior tempo de armazenamento (120 dias) e MS. Tal inferência pode ser admitida também para as S2 (104) e S4 (103) ao correlacionar-se linearmente às maiores quantidades encontradas para leveduras com menores concentrações de etanol, acetato e FT e aos maiores valores para CHO e lactato. Pode-se observar também que nestas silagens a concentração de propionato foi menor, o que pode ratificar tal incremento. Freitas et al. (2006) citam que nas silagens de cana com ou sem resíduo de soja, não foi possível estabelecer uma relação coerente entre a população de leveduras com a concentração oscilante de etanol. No entanto, resultados mais consistentes do efeito dos ácidos graxos de cadeia curta (p.e. acético e propiônico) sobre as leveduras e fungos podem ser observados em ensaios avaliando a estabilidade aeróbia de silagens (Ohyama et al. 1975; Britt et al. 1975; Mann & McDonald, 1976). Jonsson & Pahlow (1984) citam que em condições anaeróbicas estritas, há um decréscimo no grupo de leveduras utilizador de lactato para cerca de 102 UFC/g de MS, preservando assim, maiores teores deste ácido nas silagens. Ainda segundo estes autores, tal grupo representa cerca de 15% da população final de leveduras e citam como membros principais as espécies Candida lambica e Saccharomyces exiguus. O restante da população de leveduras é representado em sua maioria pelo gênero Saccharomyces, no qual são fermentativas, mas não podem oxidar o 135 lactato sob estas condições de anaerobiose, tendo-se como exemplo S. dairensis (Middlehoven & Franzen, 1986). Os fungos apresentaram comportamento inverso em relação às leveduras (Tabela 6). As maiores quantidades de UFC por grama de matéria seca foram encontradas nas S1 (105) e S4 (105) (P≥0,05). Estas silagens foram armazenadas por 120 dias, o que corrobora Rotz & Muck (1994) ao citarem que estes microrganismos têm crescimento mais lento que as leveduras, e normalmente apresentam menor população durante a armazenagem, devido a sua maior sensibilidade à falta de oxigênio. Mesmo assim, o número de UFC por grama de MS está dentro do intervalo 0 a 105 sugerido por Mahanna (1994) para silagens de boa qualidade. Pode-se inferir que a instalação de fungos antagonistas no topo do silo (p.e. Trichoderma) diminuiu a população de Aspergillus, Fusarium e Penicillum nas S1, S2 (10 UFC/g de MS), S3 (10 UFC/g de MS) e S4; ou que a mesma foi controlada por bactérias ácido-láticas (BAL) devido à produção de compostos antifúngicos (Hill, 1989; Karunaratne et al. 1990; Haikara et al. 1994) e ou pela menor concentração de etanol e acetato nestas silagens. Para bactérias totais foram observados valores iguais a 108 para as S1, S2 e S3 (P≥0,05); enquanto que para a S4, detectou-se valor menor na ordem de 107 (P<0,05). À exceção dos bacilos, que foram detectados separadamente, podem estar incluídas neste grupo várias das espécies envolvidas durante o processo anaeróbico da ensilagem. Mesmo a literatura citando que deste grupo, 70% aproximadamente é de bactérias ácido-láticas (BAL) os números encontrados neste trabalho foram maiores que 105 UFC/g de MS sugeridos por Mahanna (1994). No entanto, Keady & Steen (1995) sugerem que em tempos prolongados de armazenamento, as espécies comumente encontradas nas silagens geram novas cepas ácido-tolerantes fazendo com que este número aumente acompanhado da diminuição de lactato (Tabela 6). 136 Observou-se neste estudo que o número de UFC por grama de MS foi maior também na GE, supondo-se que além da provável contaminação durante a colheita e picagem, houve inoculação involuntária devido ao tipo de solo utilizado durante tal présecagem. 137 CONCLUSÕES 9 O emurchecimento da gliricídia aumentou a MS nas silagens de cana aditivadas, manteve teores semelhantes para FDN, CHO, etanol e ácido propiônico. 9 O armazenamento mais prolongado aumentou as concentrações de fenóis totais, de acetato e a população de fungos. 9 Os ácidos orgânicos, o etanol e os fenóis controlaram as leveduras nas silagens. 138 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALLEN, O.N. & ALLEN, E.K. 1981. The Leguminosae. The University of Wisconsin Press. 812 p. 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Dentre estes, está o uso da cana-de-açúcar como matéria primária para a produção de etanol, comumente conhecido como álcool combustível. Diante do exposto acima, todos os esforços realizados para a confecção desta tese de doutorado, buscando melhores tecnologias e silagens de cana-de-açúcar para o consumo e desempenho animal, e, conseqüentemente, o aumento da oferta de carne, leite e seus derivados para o homem, parecem ínfimos, ou mesmo, porque não, fora do atual contexto global. No entanto, não podemos deixar de ressaltar que existe um outro viés para esta questão, que é a necessidade urgente de novos métodos para o incremento e melhoria dos sistemas de produção agropecuários no nordeste brasileiro, particularmente nas zonas semiáridas e áridas; áreas cujas condições edafo-climáticas são especiais e a maioria da 148 população encontra-se abaixo da linha da pobreza. Toda esta discussão fica ainda mais “especial” quando constatamos que estes habitantes não podem ser incluídos e nem responsabilizados por tais problemas ambientais; mas sim, segundo pesquisas destes mesmos cientistas, que estão sendo vítimas de práticas adotadas pelos que fazem a agricultura e a pecuária atuais. Neste sentido, sinto-me à vontade de fazer algumas considerações finais em relação a este estudo de tese realizado. Em primeiro lugar, e aproveitando algumas considerações de ordem ambiental supracitadas, pode-se observar ser possível a obtenção de silagens de cana-de-açúcar quando aditivadas com gliricídia, e de até mesmo quando não aditivadas, através da mensuração das respectivas estabilidades anaeróbicas e aeróbicas, que houve uma menor emissão de CO2 na atmosfera e, provavelmente, menor produção de efluentes no solo, pois quanto maior é a citada estabilidade, implica-nos a dizer que menor foi a conversão de açúcares - na massa ensilada e na exposta ao ar -, por microrganismos a etanol, gás carbônico e água. No campo da extensão rural, um aspecto importante é o tocante à possibilidade da melhoria das condições sócio-econômicas daquela população. Todos sabem que muito pouco esta população é lembrada e, menos ainda, tem acesso a tais tecnologias. Assim, a conservação de forragens sob a forma de silagem utilizando a cana-de-açúcar e a gliricídia, guardadas as suas devidas proporções, é viável e de fácil manejo, sem envolver grandes investimentos e áreas. No campo da pesquisa fica evidenciado que, a aplicação dos conceitos químicobromatológicos, por si só, não são suficientes para a avaliação qualitativa das silagens e posterior escolha das melhores misturas. Necessário se faz ter o envolvimento multidisciplinar de profissionais de diversas áreas tais como a Biologia, a Química e a 149 Estatística, pois são inúmeros os processos que envolvem tal forma de conservação póscolheita. Neste estudo tivemos a felicidade de conseguir tal envolvimento e podermos fazer algumas observações abaixo mencionadas: 9 De um intervalo pré-fixado de 15 a 120 dias de armazenamento, houve predominância média para as quatro primeiras silagens com períodos próximos de 110 dias. Respectivamente, as mesmas misturas (silagens) apresentaram índices de desejabilidade máximos, o que converge para os objetivos deste trabalho e ratifica que a utilização da técnica estatística denominada “Experimentos com Misturas” pode ser facilmente aplicada à forragicultura. 9 Esta mesma técnica sugere que em análises posteriores, consideradas de grande importância, mas de custos elevados - como as referentes à identificação (por ribotipagem/eletroforese) das espécies epífitas mais patogênicas (Clostridium botulinum, Bacillus sp. Listeria monocytogenes, Arpergillus flavus, Fusarium moniliforme, Penicillum ssp. Hansenula ssp. e Candida ssp., etc.) e das de maior benefício (Lactobacillus plantarum e Lactobacillus buchneri, dentre outras), de bioensaios utilizando-se de fitoquímicos sob diferentes concentrações produzidos pelo metabolismo secundário da gliricídia no controle destes e de outros microrganismos (por cromatografia de camada delgada - CCD), da identificação e quantificação de micotoxinas de origem fúngica e ou bacteriana (por cromatografia líquida de alta eficiência – CLAE), dos processos que envolvem a atividade enzimática degradando nutrientes (por espectrofotometria), sem deixar de ser considerados os fatores tempo e mão-de-obra -, poderão ser realizadas com maior eficiência, acurácia e inferência estatística nas respectivas misturas/silagens. 150 9 Ao término desta pesquisa, fica claro aos envolvidos na mesma, principalmente a mim e aos meus orientadores que, muito ainda se tem a fazer. Novos estudos como o consumo e desempenho animal, a influência na integridade dos tecidos e órgãos dos animais após consumirem tais silagens, bem como a qualidade dos produtos (carne, leite e seus derivados) podem servir como idéias ou hipóteses para novos trabalhos.