LIDUÍNA BENIGNO XAVIER
B ANCO DO B RASIL I TINERÁRIOS DA EDUCAÇÃO NO B ANCO D
BRASIL I TINERÁRIOS DA EDUCAÇÃO NO B ANCO DO B RASIL I TINER
RIO DA EDUCAÇÃO NO B ANCO DO B RASIL I TINERÁRIOS DA EDUCA
NO
LIDUÍNA BENIGNO XAVIER
TEXTO E ORGANIZAÇÃO
B ANCO DO B RASIL I TINERÁRIOS DA EDUCAÇÃO NO B ANCO D
BRASIL I TINERÁRIOS DA EDUCAÇÃO NO B ANCO DO B RASIL I TINER
RIO DA EDUCAÇÃO NO B ANCO DO B RASIL I TINERÁRIOS DA EDUCA
NO
Todos os direitos reservados ao Banco do Brasil S.A.
Banco do Brasil
Presidente: Antônio Francisco de Lima Neto
Vice-presidência Gestão de Pessoas e Responsabilidade Socioambiental
Vice-presidente: Luiz Oswaldo Sant’Iago Moreira de Souza
Diretoria Gestão de Pessoas
Diretor: Juraci Masiero
Gerência de Educação e Desenvolvimento de Competências Profissionais
Gerente executivo: Pedro Paulo Carbone
Divisão de Desenvolvimento de Competências Profissionais
Gerente de divisão: Vânia Maria Lopes Venâncio
Texto e organização: Liduína Benigno Xavier
Edição: Banco do Brasil
Grupo de trabalho
Coordenação: Simone de Oliveira Matos
Colaborador responsável: Maria de Fátima Barreto Carvalho
Pesquisa: Álvaro Antônio Batista da Silva, Luiz Jorge Mir
Colaboração: Eliete de Cássia Silva Barroso, Eliézer Alcântara Lima, Mariléa Alves de
Figueiredo Melo
Ilustração: Cosmo Lopes de Sousa, Edu Carvalho, Ítalo Cajueiro, Krishnamurti Martins Costa,
Marcus Eurício Álvaro, Zeluca
Projeto gráfico e capa: Versal Multimídia
Ilustração da capa: André Luís do Nascimento
Revisão: Angélica Pereira de Almeida, José Carlos Salomão
Revisão bibliográfica: Christiane Mara Reis
Foto - contra-capa: Álvaro Henrique
Sede da DIPES - Brasília DF
Ficha catalográfica
658.386 B161i
Banco do Brasil
Itinerários da educação no Banco do Brasil / Banco do Brasil; texto e organização de Liduína Benigno
Xavier; ilustrações de Cosmo Lopes de Sousa, Edu Carvalho, Ítalo Cajueiro, Krishnamurti Martins Costa,
Marcus Eurício Álvaro, Zeluca. – Brasília: Banco do Brasil, 2007.
278p; 16,3 x 23,6 cm.
1. Educação. I. Banco do Brasil. III. Título.
As opiniões contidas nas narrativas e depoimentos são de inteira responsabilidade dos entrevistados.
As entrevistas foram transcritas e editadas para melhor compreensão.
As informações de locais, datas e nomes dos cursos que aparecem em algumas fotos foram
fornecidas por participantes ou educadores.
Venda proibida.
Nenhuma parte desta obra pode ser copiada, reproduzida por meios mecânicos ou quaisquer
outros meios, sem autorização prévia do Banco do Brasil.
Agradecimentos
Aos primeiros leitores, que atendendo a convite,
examinaram com olhar crítico o “Itinerários”
com vontade de torná-lo melhor.
Ao jornalista
Márcio Cotrim.
Aos professores
Miguel Arroyo e Rogério Córdova.
Aos funcionários aposentados
Antônia de Maria V. B. do Rego, a Beiga, Joaquim
Ferreira Amaro, Maria Elizabeth Mori, Mário
Batista Catelli, Mário de Muzio Vieira Guimarães,
Maurício Teixeira da Costa e Roque Tadeu Gui.
Aos funcionários
José Nogueira, Marcos Fadanelli Ramos e Newton
Ribeiro Machado Neto.
Sumário
Fac-símile ................................................................................................................................
Prefácio ....................................................................................................................................
15
17
Primeiras palavras
21
.......................................................................................................
Parte I
Itinerários da educação no Banco do Brasil
Introdução
.................................................................................................................................
O livro .........................................................................................................................................
A história... .................................................................................................................................
O método de trabalho ...........................................................................................................
27
27
31
32
Primeiro capítulo
Das origens (1808 a 1964)
Antes de tudo... ........................................................................................................................
É proclamada a República .....................................................................................................
O século XX caminha... .........................................................................................................
Preparação para o trabalho – as burrinhas .........................................................................
A reforma bancária .................................................................................................................
Projetando o DESED ..............................................................................................................
A educação faz diferença – Vida de educando ...............................................................
– Na Paraíba ...........................................................................
35
38
41
43
44
45
48
49
Segundo capítulo
Os tempos do DESED – Departamento de Seleção e Desenvolvimento
de Pessoal (1965 a 1996)
Primeiros desafios...
.................................................................................................................
50
Cipadiando... ............................................................................................................................
Trabalho pedagógico – passos iniciais ................................................................................
Depois do começo ...................................................................................................................
A Revista DESED ...................................................................................................................
Rumo a uma filosofia de educação .....................................................................................
Educação permanente ............................................................................................................
Relações Humanas – a contradição ...................................................................................
Novas diretrizes ........................................................................................................................
Plano de desenvolvimento gerencial .................................................................................
Gerência média e formação do pessoal .............................................................................
Programa de Pós-graduação no País – PPG .....................................................................
Fim da Conta de Movimento – impacto
.....................................................................
Começa a década de 1990 .....................................................................................................
A sistematização da educação no Banco do Brasil – proposta de 1990 ...................
Administração do Fator Humano .......................................................................................
Avaliação de desempenho – você escreve a sua história ................................................
Gerência para o Desenvolvimento Organizacional ........................................................
Plano de sucessão empresarial – desenvolvimento de executivos ..............................
Repensando o DESED ...........................................................................................................
Alfabetização de adultos .........................................................................................................
A caminho, novos desafios... ................................................................................................
A educação faz diferença – Primeira carta ......................................................................
– O valor da convivência .....................................................
54
56
57
59
61
63
66
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72
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74
76
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79
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83
84
85
87
90
91
94
95
Terceiro capítulo
Para onde vamos?
A GEDEP - Gerência de Desenvolvimento Profissional (1996 a 2002)
A nova estrutura ........................................................................................................................ 96
Gestão do conhecimento ....................................................................................................... 98
Programa Profissionalização ................................................................................................... 102
Programa de Formação e Aperfeiçoamento em Nível Superior – PFANS ................ 106
Leia mais... ................................................................................................................................. - 109
O Germinal ................................................................................................................................ 111
Instrutores residentes ............................................................................................................... 113
Programa de Identificação e Desenvolvimento de Novos Gestores ........................ ... 114
Trilhas – caminhos para o desenvolvimento ..................................................................... 116
Educação a distância ................................................................................................................ 118
A Universidade Corporativa Banco do Brasil – UniBB ................................................ 120
A transição ................................................................................................................................. 123
A educação faz diferença – Cultura Organizacional .................................................... 125
Quarto capítulo
O futuro é um lugar que mora perto
GEDUC – Gerência de Educação e Desenvolvimento de Competências
Profissionais (de 2003 a 2006)
Educação corporativa ..............................................................................................................
Projetando a educação ............................................................................................................
O trabalho educativo ..............................................................................................................
A Educadoria, uma história à parte .....................................................................................
Educar, por quê? ........................................................................................................................
Educação e sustentabilidade ..................................................................................................
Desenvolvendo competências ...............................................................................................
Gestão e educação ....................................................................................................................
Desenvolvimento regional sustentável ...............................................................................
Educação para a inclusão social ............................................................................................
Prática educativa e inclusão humana ..................................................................................
Educação e democracia ...........................................................................................................
A educação faz diferença – Caminhada ...........................................................................
– Tom Zé ..................................................................................
126
129
130
133
138
142
145
147
148
149
151
154
159
160
Considerações finais
161
.............................................................................................................
Relação dos chefes e gestores da área de educação do Banco do Brasil
nos diferentes períodos ........................................................................................................ 165
Parte II
Marcos ilustrativos da educação
Apresentação ...............................................................................................................................
Ser integral .................................................................................................................................
Aprendizagem ............................................................................................................................
BB Educar ..................................................................................................................................
Desenvolvimento sustentável ...............................................................................................
Vida de educando .....................................................................................................................
169
172
175
176
178
179
Parte III
Narrativas temáticas
Apresentação ...............................................................................................................................
O DESED ..................................................................................................................................
Educação .....................................................................................................................................
Educação a distância ................................................................................................................
Educação popular – o BB Educar ........................................................................................
Educadoria ..................................................................................................................................
Ensino-aprendizagem .............................................................................................................
Os Fóruns – de Recursos Humanos e de Gestão de Pessoas e Responsabilidade
Socioambiental do Banco do Brasil ...................................................................................
GEPES Regionais ....................................................................................................................
Identidade socioprofissional ..................................................................................................
MBA .............................................................................................................................................
Memória .....................................................................................................................................
Pressupostos filosóficos da educação no Banco do Brasil ............................................
Programa Desenvolvimento de Altos Executivos ...........................................................
Programa Memória da Educação .........................................................................................
Projeto Político-pedagógico ...................................................................................................
Responsabilidade socioambiental ........................................................................................
Revista DESED ........................................................................................................................
Universidade aberta ..................................................................................................................
Universidade Corporativa Banco do Brasil – UniBB .....................................................
A educação faz diferença – Tornando-se educador ......................................................
185
186
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228
230
232
Parte IV
Memória imagética
Apresentação ............................................................................................................................... 235
Lista de fotos ............................................................................................................................... 236
Final
Última reflexão
.......................................................................................................
263
................................................................................................................................
265
Heráclito ou Parmênides?
Bibliografia
Encarte
DVD do documentário: Pioneiros da Educação no Banco do Brasil
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 15
Fac-símile da portaria que comunica ao corpo funcional do Banco do Brasil a
criação do Departamento de Seleção e Desenvolvimento de Pessoal – DESED.
O documento inaugura, também, estes “Itinerários”.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 17
Prefácio
Caminhando e lembrando
Itinerários, caminhadas e trajetórias percorridas por tantos (tantas) profissionais
do Banco do Brasil.
Todo itinerário cruza lugares reais e imaginários, ideários e utopias, avenidas
abertas e trilhas incertas. Exige paradas para lembrar e retomar caminhos, sobretudo, em cruzamentos incertos. De tudo isso houve nesses Itinerários da
Educação no Banco do Brasil. Aí está sua riqueza enquanto testemunho sincero
de uma caminhada orientada mais por tentativas e ousadias que por certezas.
Itinerários de educação. O campo da educação e formação dos seres humanos
é dos mais incertos. Incertezas inerentes à complexidade de nos conformarmos
como seres humanos em contextos sociais tão pouco humanos. Que concepção
e que prática de educação se revelam nesses “Itinerários”? Educar é possibilitar
a apropriação dos conhecimentos, das ciências e das técnicas, dos valores, linguagens e artes, da cultura da humanidade. Educar significa apropriar-nos dessa
riqueza humana e contribuir para que as pessoas, as instituições e a sociedade
se apropriem desse desenvolvimento cognitivo, científico e tecnológico, mas
também cultural, ético, artístico e simbólico. Entretanto dar conta dessa plural
riqueza cultural sempre será um itinerário tenso e inseguro. Daí a tentação a
optar apenas pelo aprendizado e domínio de técnicas, habilidades e competências. Reduzir a educação a esses domínios sempre será mais seguro, programável
e controlável.
Quando formar seres humanos na pluralidade de suas dimensões entra em
jogo, a travessia torna-se mais complexa, incerta e tensa: menos programável.
Esta é a opção desafiante que se revela nesses Itinerários da Educação no Banco
do Brasil.
18 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
Itinerários de educação de pessoas. A história da educação do Banco é, em
primeiro lugar, uma história formadora de inúmeras pessoas e profissionais
envolvidos no planejamento, nos cursos, nas avaliações, nos tensos e formadores
embates sobre como rever concepções e visões de mundo e de ser humano.
Rever, inclusive, visões da própria instituição e de sua função social e pública.
Nos Itinerários aparece, com destaque, a opção do Banco por priorizar o direito
dos seus trabalhadores à sua formação como profissionais e como pessoas, o
direito a dominar conhecimentos e competências, a repensar valores, culturas e
identidades e a participar na construção das responsabilidades sociais e públicas
da instituição. Esta é a opção determinada de educação que aparece nestes
Itinerários.
O mais marcante é revelar que em todo o processo educativo os próprios
educadores são reeducados. São destacados, nestas narrativas, processos de
educadores e educandos em diálogos coletivos, formadores, porque tensos.
Os “Itinerários” revelam processos nada pacíficos, mas carregados de embates
sobre os valores dados ao trabalho, à ciência e à tecnologia, à função das
instituições públicas especificamente financeiras.
Itinerários da Educação no Banco do Brasil. O próprio Banco se revela em
processos de formação. Há uma intenção explícita de debater o como conformar
a instituição para cumprir sua função social, pública em um projeto de sociedade
e de país.
Os “Itinerários” revelam indagações sobre que valores e que cultura institucional,
sobre que projeto de sociedade e que papel cabe ao Banco. Os embates sobre
essas indagações traspassam o projeto de educação. Se já é tenso equacionar um
projeto de formação de pessoas, de trabalhadores, é muito mais tenso vincular
esse percurso a um projeto de instituição e de sociedade. Os embates no projeto
de educação estão instigados pelas tensões mais de fundo sobre a conformação
de um projeto de Brasil: um projeto democrático e igualitário, de inclusão de
todos na cultura e na riqueza produzidas.
Nesses embates, aqui relembrados, foram se perfilando os projetos de educação
do Banco do Brasil. Aí radica sua dinâmica formadora: serem itinerários de
educação da própria instituição e da sociedade e não apenas dos seus profissionais.
Itinerários que se atrevem a reeducar nossa cultura política social e econômica.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 19
Caminhando e lembrando, ou melhor, lembrando para um novo caminhar,
para retomar trajetórias e itinerários mais desafiantes. Indagar-nos sobre
percursos feitos para alicerçar compromissos com novos percursos. Lembrar,
sem interrogar-nos, é saudosismo. Toda lembrança e toda memória celebrada
implicam compromissos, projetos e a retomada da estrada.
Que a lembrança desses Itinerários da Educação no Banco do Brasil estimule
novos itinerários que mereçam também ser celebrados.
MIGUEL G. ARROYO
Professor titular emérito da FAE-UFMG
Primeiras palavras
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 23
Primeiras palavras
Somos um país de pouca memória. E já se disse da memória que ela é “uma
arma revolucionária”. Por isso mesmo, é em boa hora que nos chegam estes
Itinerários da Educação no Banco do Brasil.
Nada lapidado ainda, é como se fosse um limpar de poeira que encobre um
tesouro do Banco.
Uma equipe dedicada se pôs a reunir depoimentos de construtores desta
história, a coletar documentos poucos e esparsos e a tentar extrair daí uma
visão sobre o que representaram – e ainda representam – 41 anos de educação
no Banco do Brasil.
O DESED – Departamento de Seleção e Desenvolvimento de Pessoal – enquanto gestor da área de educação da empresa, é personagem central desta história. Sua
influência em muitos momentos de transformação deste Banco que completa, em
2008, duzentos anos de existência, é palpável e visivelmente grandiosa.
A saga dos pioneiros, as dificuldades iniciais, a evolução das metodologias e dos
princípios de educação, a consonância/discrepância com os variados momentos
de vida nacional, as diversas formas de educação – importantes para uma
empresa com funcionários espalhados pelo Brasil e pelo mundo – os autores
que influenciaram cada momento, tudo isso e muito mais ainda, pulula nestas
páginas que parecem vida pela vivacidade, entusiasmo e saudosa presença
permanente de um passado que vive nos depoimentos dos entrevistados, pois
todos têm essa história como sua, a confundir-se com a própria vida.
Salta, entretanto, da leitura destas páginas – diria até da degustação destas
páginas (de tão gostosas de ler que são!) – salta uma presença desafiadora do
que se costumou chamar a Turma do RH.
Essa não era uma turma fácil. Questionadora, inquieta, sonhadora, tornou-se
um sinal de contradição dentro do DESED – que é o que enriquece um processo pedagógico. Dela se dizia até que se amava tanto quanto se xingava.
24 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
Essa contradição não morreu. Permanece viva. Bastou que se soubesse que falaria
disto nestas Primeiras palavras, para se reacender o debate acalorado. Não me
omito, porém, de fazê-lo por não ser adepto de um falar burocrático que encerre,
desvele a assepsia de uma pseudo-neutralidade. O contraditório é da essência
da vida e do saber. E neutra nunca foi sequer a instituição, principalmente ao
defender a neutralidade.
Mas, graças a essas contradições, durante a própria ditadura que ceifava lideranças, conseguiu-se falar, no Banco, de liderança e de outras questões do fazer
democrático. Em épocas de autoritarismo, discutiam-se as “raízes do comportamento autoritário”. Numa instituição e num país centrados na ordem, na disciplina e na hierarquia, falava-se de cooperação e reversibilidade. Dentro de um
sistema que coibia a conversa de três pessoas, construía-se a discussão sobre temas como grupo, papel, comunicação, diálogo e até – pasmem! – democracia.
O tempo passou, mudaram-se os tempos, e a palavra de antes tenta, agora, encarnar-se. O verbo tenta se fazer carne.
Por isso diria que o DESED se foi, mas sua presença permanece. Como era ele:
lutando, buscando o novo e o diferente, “nem sempre ganhando, nem sempre
perdendo, mas aprendendo a jogar”.
Não apenas aproveitemos a leitura gostosa destas páginas, ou partilhemos esta
história. Vistamo-nos do mesmo entusiasmo e paixão de quantos, de uma forma ou de outra, construíram esta história e/ou escreveram este livro e compreendamos que há uma missão a continuar.
A noite vai passando e “a madrugada está madura”. A madrugada em que o
verbo se faça carne.
Luiz Oswaldo Sant’Iago Moreira de Souza
Parte I
Itinerários da educação
no Banco do Brasil
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 27
Introdução
Às vezes, nós é que não percebemos o ‘parentesco’ entre os tempos
vividos e perdemos, assim, a possibilidade de ‘soldar’ conhecimentos
desligados e, ao fazê-lo, iluminar com os segundos, a precária claridade
dos primeiros.
Paulo Freire
O livro
C
ompreender o movimento da história é fundamental. Captar sua dinâmica ajuda-nos a visualizar o futuro como itinerário possível. A mirar
oportunidades. A precaver-nos de possíveis ameaças. Movimento essencial num mundo em contínua transformação. Cenário onde a automação, a
comunicação intensa e ininterrupta, o trabalho flexível e as fronteiras econômicas voláteis aceleram a dinâmica organizacional.
A conservação da memória, além de permitir a prospecção do futuro, ajuda na
construção da identidade. Há que preservá-la para o aproveitamento dos saberes
produzidos pelas gerações. Tarefa que, longe de ter caráter ilustrativo, é mister
realístico de suprimento de informações e conhecimentos.
É frase corrente que os homens passam e as organizações permanecem. Mas,
basta olhar a história para constatar: nas organizações duradouras, as pessoas são “insubstituíveis”. Elas são singularidades. Conferem personalidade às
instituições. O que passa é a espécie de vínculo formal que as une. As pessoas
perduram no que sedimentaram. Nas realizações, afetos, contribuições cotidianas. Suas marcas.
E é com essas certezas que este livro quer proporcionar uma viagem cujo percurso mobilize o leitor a refletir sobre as interrogações que nutriram a produção deste documento: como tem sido o esforço para a formação do pessoal na
instituição ao longo de sua história? Que olhar podemos lançar ao horizonte
das suas ações formativas? Inquietações presentes na construção da história da
educação no Banco do Brasil.
28 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
Tudo começa com a construção da Genealogia – levantamento do histórico dos
cursos criados no Banco, existentes e extintos. Um trabalho minucioso, cujo objetivo é registrar a origem e destino das soluções educacionais do Banco, desde
os primórdios. Foi só iniciar a tarefa e perceber que se fazia necessário consolidar a colheita da pesquisa. Daí, o projeto cresceu e o grupo de trabalho também.
A equipe recebeu o nome de GT – Programa Memória da Educação. O GT,
então, passou a trabalhar em quatro frentes: elaboração de documentário sobre
os pioneiros da educação no Banco; confecção da genealogia dos cursos; criação
da Coleção Especial de Educação e produção de um livro sobre a memória da
ação educativa. Nessas iniciativas, preservar a memória é a meta absoluta.
Você deve estar se perguntando a que público se destina este livro. O “Itinerários” foi idealizado para todos os que se interessam pela educação. Dirige-se aos
que precisam ou querem conhecer mais sobre a capacitação profissional realizada no âmbito das empresas. É propício, também, ao leitor, funcionário do Banco, ou não, que gostaria de conhecer um pouco da história de uma instituição
financeira da estatura do Banco do Brasil.
Não nos limitamos a registrar uma memória factual – simples enumeração de
fatos. Por isso, incluímos no texto algumas reflexões balizadas nos pressupostos da
Universidade Corporativa Banco do Brasil e em teorias das Ciências Humanas e
Sociais. Tudo para ampliar a compreensão da história educacional na empresa.
Julgamos que alguns esclarecimentos introdutórios são essenciais para boa
navegação neste livro, cuja estrutura se desenvolve em quatro sessões, assim,
delineadas:
A primeira parte é o texto Itinerários da educação no Banco do Brasil – um
apanhado de fatos e momentos que marcaram as políticas e ações educacionais
na empresa. O texto se apresenta em capítulos, divididos conforme períodos
demarcados, de acordo com o modelo organizacional do momento.
Nossa instituição é rica e tem longa história. Para o percurso deste Itinerários,
tínhamos que escolher “para onde olhar”. Tantos são os fatos a compor nossa
caminhada. Por isso, estabelecemos como critério desenvolver o “Itinerários” dando
ênfase aos fatos ou aspectos que em nossa avaliação são destaques no período.
Os “Marcos ilustrativos da educação” compõem a segunda parte e trazem
ilustrações sobre alguns aspectos representativos da educação na empresa.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 29
Tudo traduzido pela sensibilidade dos traços dos funcionários ilustradores,
freqüentadores assíduos dos materiais didáticos que apóiam a ação pedagógica
do Banco.
É importante registrar homenagem póstuma ao funcionário Marcus Eurício
Álvaro. Por muitos anos, a mágica de sua pena deu vida a imagens que povoaram
apostilas e folhetos. Ajudaram a traduzir as mensagens institucionais. Seu traço
também delineou nosso jeito de fazer educação.
A terceira parte do livro são as Narrativas temáticas. O texto dissertativo,
por mais fiel que se apresente, traz o viés do redator. Por isso, é fundamental
trazer opiniões, testemunhos e visões. Expressões substantivas, pinçadas do
próprio discurso de atores fundamentais na construção histórica do processo
educacional.
Para facilitar a localização segundo o interesse do leitor, as narrativas estão organizadas por assuntos. Para saber mais sobre a história da Educadoria, por
exemplo, o leitor pode ir direto ao tema.
A quarta parte do livro é dedicada à Memória imagética. No afã de ampliar a
presença das pessoas no registro dessas memórias, destinamos um segmento
à memória de imagens. Lugar reservado aos registros fotográficos de cursos e
eventos. E depois, incluímos uma reflexão sobre mudança e permanência que
chamamos Última reflexão, um jeito encontrado para fechar o livro com os
olhos no porvir. Finalmente, vem a bibliografia.
Entre as sessões que compõem o livro, incluímos páginas especiais sob o título: A educação faz diferença. O objetivo é fixar que a história da educação no
Banco é construída à luz de um pressuposto maior: o valor da educação para a
construção do conhecimento na empresa.
Nossas ações estão circunscritas num espaço sócio-cultural-econômico. Sofrem
suas injunções. Tendo esse pressuposto como guia, buscamos contextualizar os
acontecimentos internos no cenário macroeconômico e social.
Nada melhor para ajudar a guardar fatos nas mentes e corações do que ligar os
eventos às manifestações estéticas. A arte tem leveza e, por conseqüência, forte
apelo didático. Aproveitamos isso para desenvolver o itinerário aqui traçado em
paralelo com os acontecimentos artísticos brasileiros, no desenrolar do tempo.
30 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
Assim, ao final de cada página figuram vinhetas que registram eventos culturais
brasileiros. Serão guias culturais mnemônicos nessa incursão pela educação institucional. Esses fatos não guardam relação com o conteúdo das páginas aonde
figuram. Visam tão somente, contextualizar o panorama cultural brasileiro em
paralelo com a história educacional do Banco.
A história não caminha em linha reta e também nossa memória não guarda
registros de forma linear. Um acontecimento do presente traz embutidas as
construções e contradições do que o antecedeu. Com isso em vista, procuramos
desenvolver o texto de forma direta, organizada temporalmente, para facilitar
sua leitura. Entretanto, em alguns momentos precisamos fazer remissões, voltar
no tempo para ajudar o leitor a fazer ligações entre um período e outro, para
melhor apreensão dos aspectos estruturantes da realidade examinada.
Optamos, ainda, por desenvolver o texto no presente histórico, ou seja, o tempo
verbal utilizado em cada período será sempre o presente. A idéia é “viajarmos no
tempo” e tentar olhar cada época a partir de suas próprias lentes temporais.
Escolhemos, também, manter a mesma terminologia usada em cada período.
Por exemplo, em 1965, no início do DESED – Departamento de Seleção e
Desenvolvimento de Pessoal, primeiro órgão interno a responder pela sistematização das ações educativas no Banco, os educadores corporativos eram chamados de “professores ou lentes”. Utilizamos o termo professor para aquela época.
Tudo para dar maior nitidez histórica ao momento.
O “Itinerários” foi concebido de forma que as partes que o compõem se complementam, por isso, a leitura e exame de cada sessão é fundamental para a
apreensão da mensagem que o livro encerra. As Narrativas temáticas, a Memória imagética, as ilustrações, os testemunhos e histórias resgatados nas páginas
A educação faz diferença formam um todo indissociável, pois a objetividade do
resgate aqui empreendido se firma pela intersubjetivadade. Ou seja, a realidade
objetiva é acessada a partir de diferentes pontos de vista, das perspectivas distintas dos sujeitos que construíram a história.
Como suplemento, este livro inclui encarte com o documentário: Pioneiros da
Educação no Banco do Brasil, que é parte das ações que compõem o Programa
Memória da Educação no Banco do Brasil e tem emocionado a todos que o
assistem. Encontro histórico dos primeiros funcionários que enveredaram pelos
caminhos da educação institucional. O filme tem inestimável valor histórico.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 31
A história...
No infinito da duração, um ponto minúsculo e que foge incessantemente;
um instante que, mal nasce, morre. Mal falei, mal agi e minhas palavras
e meus atos naufragam no reino da memória. São palavras, ao mesmo
tempo banais e profundas do jovem Goethe: não existe presente, apenas
um devir.
Marc Bloch
Somos seres históricos. Nossas ações produzem história e são alcançadas pela
historicidade que as institui. Só agimos porque acreditamos no futuro, no
devenir. Por isso, a esperança é o horizonte do trabalho humano. Foi adotando
essa certeza como base de sua Pedagogia da Esperança, que Paulo Freire, por
exemplo, deu à esperança o estatuto de imperativo do agir humano.
E porque agimos acreditando construir o futuro, ou seja, porque nossa ação é
esperançosa e o cotidiano será história, o dia-a-dia nos convida, eternamente, a
zelar pela preservação da memória.
A história da educação no Banco do Brasil corre por longo curso cheio de
meandros. Confunde-se com a história do Banco que, por sua vez, é permeada
pela história do País. Difícil puxar o fio da meada. Decifrar-lhe a textura.
Desvendar-lhe as cores. O trabalho tem sido o princípio fundamental que
alicerça a prática educativa em que mestres e aprendizes alternam saberes.
O papel da educação no processo de humanização e disseminação da cultura
institucional é marcante. Homens e mulheres, na condição de educadores e
educandos, vão construindo a tapeçaria fundamental desse percurso. Trama
delineada por sucessos e retrocessos. Tropeços e êxitos. Tudo enfrentado pela
vontade de quem pensa e faz.
São muitas as perspectivas das quais se pode “enxergar” a história do Banco: a
história da construção de seus prédios; a história das reformas administrativas;
a história do envolvimento dos seus funcionários em ações de promoção da
cidadania. Podemos periodizar os acontecimentos históricos do País, vinculandoos às mudanças de rumos impostos ao Banco. E tantos outros recortes que a
memória da empresa pode oferecer.
32 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
A instituição tem singular história, mas cada ângulo escolhido para análise
proporciona ao memorialista a observação de diferentes episódios. Marcos que
contam porque a instituição atravessa séculos.
Nesse horizonte, mergulhamos na tarefa de resgatar uma memória das políticas,
ações e fatos educativos no Banco. A palavra resgatar pode ter conotação pretensiosa,
se fruto da onipotência do memorialista. Não foi o caso. Abraçamos o trabalho
com a humildade a nos lembrar, continuamente, a grandeza do desafio.
Resgatar, aqui, tem o sentido de buscar, coletar, juntar, sistematizar o possível
para uma visão mais estruturada do caminhar da área da educação na empresa.
O método de trabalho
Vasculhar informações para integrá-las num corpo memorial que corresponda
ao desenrolar histórico do fenômeno investigado, permite diferentes formas de
acesso aos dados. Neste trabalho, optamos por duas formas: a coleta e a busca.
Na coleta, realizamos extensa pesquisa em fontes formais. Examinamos livros,
manuais, documentos internos, legislação, instruções, publicações institucionais: revistas, informativos e apostilas. Pesquisamos, também trabalhos acadêmicos que fazem parte do acervo das bibliotecas do Banco e documentos doados
por funcionários da ativa e aposentados, principalmente por educadores.
A fonte documental, por excelência, foi o arquivo da memória técnica da área da
Diretoria Gestão de Pessoas que desenvolve as ações educativas institucionais.
Para a busca de informações, foram ouvidos educadores aposentados e da ativa,
educandos, técnicos da área e funcionários que, direta ou indiretamente, tiveram
participação nas políticas e ações educacionais.
A escuta exige vigilância redobrada do memorialista. Os entrevistados trazem
informações dispersas, vivas, de difícil acesso, mas vitais para a reconstituição
da totalidade. Foram ouvidas mais de cem pessoas. A entrevista proporcionou
aproximação maior com vivências e impressões. Propiciou conhecer iniciativas,
projetos pessoais e vida profissional. Os “causos” e o que mais quisessem
compartilhar. Tudo foi valioso.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 33
O fruto das conversas e dos depoimentos colhidos, foi gravado e transcrito
para compor, juntamente com a informação documental, a definição
memorialística da educação institucional. Em alguns casos, a entrevista foi
substituída por depoimento escrito, opção só adotada na impossibilidade
absoluta do contato face-a-face.
É imprescindível registrar que o trabalho foi possível graças à generosidade
dos que entregaram, em depoimentos desprendidos, a história presa nas suas
lembranças. Graças aos que, sabendo-se construtores da história, guardaram
memórias que frutificaram das suas tarefas.
A história mora no tempo. É impossível tocá-la. Mas podemos criticá-la,
confirmá-la. Aprender com ela. O veículo para esse exame é a memória.
Mas quando passamos a história pelo crivo das lembranças, pelo olhar das
reminiscências, há sempre lacunas, imprecisões.
Na realização deste trabalho, o tempo, sempre escasso para qualquer pesquisa
histórica, e a necessidade de avançar numa cultura de preservação da memória
institucional, constituiram-se, em alguns momentos, em dificuldades para
que as informações se vestissem com dados exatos.
As datas, locais, nomes, organogramas e fluxos de trabalho nem sempre estavam
bem especificados nos documentos escritos ou na oralidade. O memorialista
quer precisão. Mas, nessas ocasiões, é preciso utilizar aproximações e estimativas
para compor a informação. Expedientes que, mesmo que queiramos evitar,
às vezes são necessários. São recursos técnicos, para consolidar um quadro
histórico que faça sentido.
Vale registrar, entretanto, que onde constam nomes, datas, cargos, organogramas, a informação é fiel aos registros encontrados. Os dados estimados e as informações aproximadas, no desenrolar do texto, serão sinalizados para o leitor.
Convém destacar também que investigar e explicitar a tradução da história é
tarefa árdua. Exige rigor: seja quando procuramos a memória que se esconde
nos documentos oficiais ou a que dorme esquecida em gavetas e arquivos, seja
a história que pulsa na vida das pessoas.
34 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
Mas, o que é que distingue uma história de outra?
Existem muitas respostas para tal pergunta. Optamos por fixar a história aqui
registrada, a partir de dois pilares: o tempo e as pessoas.
O tempo é o substrato. É o quando a história se desenrola. Por isso este panorama histórico está organizado em períodos.
As pessoas encarnam histórias de vida. Todas com sentido, significado. Valor.
Reconhecendo isso o resgate dessa história é, sobretudo, um tributo às pessoas
que acreditaram e trabalharam pela educação no Banco. Por isso, escolhemos
contá-la, também, por meio de narrativas e imagens.
Foi realizado grande esforço para ampliar o coletivo envolvido na construção
dessas memórias. Somos mais de oitenta mil. Se somarmos a esse número as
pessoas que, por motivos variados, não estão mais entre nós, teremos uma
quantidade astronômica. É impossível nomear, individualmente, os protagonistas dessas memórias. Esperamos que se reconheçam nas narrativas, textos e
imagens aqui registradas. Espelhos que refletem, de alguma forma, a história
de cada um de nós.
Por isso, a escolha do método teve como objetivo proporcionar a integração
das informações numa base corporativa de conhecimentos, acessível a todos. O
rigor, a valorização e o respeito pelas contribuições recebidas foram bússolas que
orientaram o trabalho.
Tudo a serviço da preservação do edifício histórico que homens e mulheres
construímos na caminhada pelos territórios da educação no Banco do Brasil.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 35
Primeiro capítulo
Das origens
(1808 a 1964)
No vigor de sua constituição ontológica, o homem deseja ardentemente
conhecer.
Aristóteles
Antes de tudo...
A
educação permeia a ação e o cotidiano das organizações humanas.
Assim, a educação na empresa, no sentido amplo, nasce no momento
da fundação da própria instituição, quando em 12 de outubro de 1808
é expedido o alvará que cria o Banco do Brasil.
A história da educação no Banco não pode ser pensada de forma abstrata, sem
levarmos em conta a história do Brasil. Suas políticas de formação de pessoal
sempre guardaram estreita relação com a orientação política e com o perfil
socioeconômico predominante em cada período histórico do País. A direção
pedagógica da empresa caminha em consonância com a dinâmica sociopolítica
em que está imersa. Assim, iniciamos esses “Itinerários” com algumas notas
sobre fatos históricos que ajudam a compor um retrato das feições do País, para
um melhor entendimento de como, posteriormente, o Banco vai projetando
políticas e sistematizando suas ações educativas.
A gênese do Banco é indissociável do incremento da vida comercial advinda
com a abertura dos portos do Brasil e a conseqüente necessidade de um robusto
meio de troca e da criação de uma agência emissora de papel-moeda. A despeito
da sua função original de emissor monetário para as despesas do governo, já nos
seus primeiros anos de vida o Banco exerce papel de propulsor das atividades
sociais e econômicas.
Nasce João Caetano dos
Santos, precursor da arte
dramática brasileira.
1810
1808
Em 16 de dezembro de 1815, em decorrência da elevação do Brasil à categoria
de Reino Unido, um grupo de grandes negociantes, satisfeitos com a nova
condição do País, decide compor, via subscrição, um capital em favor da
29 de outubro. Fundação da
Biblioteca Nacional.
36 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
instrução pública. O rei D. João VI decide, então, pela constituição de um
fundo público, via subscrição de ações do Banco do Brasil, para servir à causa
da instrução. O Banco inicia sua caminhada como instituição profundamente
ligada aos destinos do País.
Em 1820, um balanço mostra que o Banco financia importantes obras públicas,
entre elas, o Teatro São João, depois denominado São Pedro, e a Alfândega, cujo
projeto arquitetônico foi desenhado pela Missão Artística Francesa. Segundo o
historiador Afonso Arinos, no período, o Banco guarda íntima relação com a
administração pública e recebe seu influxo.
A Independência, em 1822, desperta o pensamento político que, até então,
estava submerso unicamente nas questões econômicas. O nacionalismo impresso
no dístico Independência ou Morte traz o interesse pelos ideais da Revolução
Francesa. A administração do Banco sofre essas conjunções históricas. Há grandes
dificuldades para livrar-se da prática comercial calcada na supervalorização
mercantilista do ouro. É também difícil dar vigor à crença no papel-moeda e
valorizar o crédito, conforme previa o pensamento liberal inglês.
O Brasil do Primeiro Império – 1822 a 1831 – vê a liquidação do Banco do
Brasil em 1829 e a abdicação de D. Pedro I, que põe fim ao seu governo, de
natureza centralista e que atravessou forte crise econômica.
Até 1840, o Brasil é governado provisoriamente por regentes que enfrentam
muitos movimentos de revolta. Entre 1829 e 1838, não existe no País, qualquer
instituição bancária regular e formalmente constituída. As transações comerciais
e creditícias são realizadas de forma espontânea e arbitrária. As conturbações
levam as elites a um acordo para manter a unidade do País, que se assentava
sobre o latifúndio e a escravidão.
Criada a Escola
Real de Ciências,
Artes e Ofícios.
1840
1816
Assim, D. Pedro II é coroado para reinar no País no Segundo Império, que
vai de 1840 a 1889. É um momento de estabilidades política e econômica.
Destaca-se o empreendedorismo do Barão de Mauá, Irineu Evangelista de
Souza, que funda os estaleiros da Baía de Guanabara para suprir as necessidades
das marinhas mercante e de guerra, e constrói a primeira estrada de ferro. É
ele, também, o principal fundador do Banco do Brasil, que tem autorização
para abertura e estatutos aprovados em 2 de julho de 1851. Além de Mauá,
Surgem no Recife, sociedades com o fim de dar maior solenidade às apresentações dos Pastoris – representações
teatrais do nascimento de Cristo – que têm seu apogeu
no primeiro quarto do século XIX.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 37
ressalta-se o Visconde de Itaboraí, ou Rodrigues Torres, que trabalha para a
organização e recriação do Banco. Rodrigues Torres foi presidente do Banco em
dois períodos: de 1855 a 1857 e de 1858 até 1859. Os dois intervalos sofrem
algumas interrupções. A partir de 1859, ele assume o cargo de inspetor geral da
instrução primária e secundária do Rio de Janeiro.
Capistrano de Abreu faz um balanço da década de 1850 como sendo a mais
profícua do Império, conforme Pacheco (1979:293. 10 volume):
Fechou-se o livro miserável do tráfico africano... tratou-se de
liquidar a onerosa herança dos limites, legada pelas metrópoles
peninsulares. Regularizaram-se e amiudaram-se as comunicações
por vapor com a Europa... Nestes vinte anos notamos: o bill abedeen
contra o tráfico; as poesias de Gonçalves Dias; a aparição da cólera
e da febre amarela que nunca mais nos deixou de todo; a navegação
a vapor para a Europa; os livros de Álvares de Azevedo; os começos
da ferroviação e do telégrafo; a grande expansão da cultura do café,
que centralizou a riqueza pública nas Províncias do Rio de Janeiro,
São Paulo e Minas Gerais...
No período, há tratativas e ações com o objetivo de criar órgãos dedicados à
cultura e um sistema de ensino para o País, mas as concepções de educação
da época são fruto do pensamento conservador europeu impregnado nos
intelectuais brasileiros. Os escravos trabalham sob coação. Por isso, é somente
com a abolição da escravatura que surge a necessidade de se pensar uma educação
que torne a força de trabalho mais produtiva.
Joaquim Manuel de
Macedo publica A
Moreninha.
1875
1844
Apesar da proibição do tráfico de escravos, o escravismo permanece até 1888. A
forma dominante de educação profissional, que atende ao modelo de produção
escravista, é voltada para uma formação ruralista dos senhores das terras. Mas
os patronatos agrícolas, que são maioria na educação do Brasil imperial, não
inspiram os modelos de formação profissional no início da República. O ensino
manufatureiro é que dá o tom da educação profissional. Fato que sinaliza que a
educação brasileira encerra, desde o início, um paradoxo.
Bernardo Guimarães escreve
A Escrava Isaura.
38 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
Os ingredientes dessa contradição estão na formação da nossa cultura,
fortemente influenciada pelo pensamento da Antigüidade Clássica, que
rejeitava o trabalho braçal, e pelo ensino jesuítico, baseado também nos
valores do classicismo.
Assim, enquanto o modelo produtivo brasileiro ainda é de base rural, o ensino
profissional tem caráter manufatureiro e a educação escolar formal é livresca e
amparada na didática jesuítica. Então, na origem, o sistema educacional do País
traz já um problema: trabalho e educação desligados.
Em 1891, o Banco do Brasil cede ao Banco da República dos Estados Unidos
do Brasil os direitos de emissão que lhe haviam sido dados pelo decreto nº
253 de 8 de março de 1890. Em 17 de dezembro de 1892, o presidente da
República referenda posição do então ministro da fazenda, Rodrigues Alves e
decreta a fusão dos dois bancos.
É proclamada a República
O Banco do Brasil, o mais antigo do País, se recomendara, tanto
nas épocas de paz como nas de perturbação e de guerra, por serviços
relevantes, já reconhecidos e proclamados, sempre que o governo os
exigiu, sem excetuar o do novo regime proclamado em 15 de novembro
de 1889. Era, assim, tradicional e ininterrupta a adesão do Banco do
Brasil às instituições da Nação.
Declaração do presidente do Banco do Brasil, Sousa Dantas, ao presidente da
República.
Aberta a primeira sala
de cinema no Brasil.
1899
1897
Após a Proclamação da República, o Marechal Deodoro da Fonseca chefia o
País, agora República dos Estados Unidos do Brasil e com nova bandeira. São
instituídos o sufrágio universal e a liberdade de culto, bem como a separação
entre a Igreja e o Estado. Mas a passagem de Deodoro no governo é curta,
pois o Congresso Nacional delibera pela assunção do vice-presidente, Floriano
Peixoto ao cargo. Tempos de agitação e revoltas que levam os ricos cafeicultores
a reivindicar a pacificação dos tumultos e a construção de ferrovias para a
exportação do café.
O século XIX chega ao fim. Machado
de Assis publica Dom Casmurro.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 39
Há, nas primeiras décadas da República, alguns processos sociais que mudam
a feição do País, com repercussão significativa na estrutura social e, em
conseqüência, nas questões educacionais.
A imigração estrangeira, a urbanização e a industrialização impulsionam os
movimentos sociais e sindicais. A expansão da cafeicultura traz os imigrantes. Eles,
que chegam atraídos pela oportunidade, contribuem para a industrialização.
Tal dinâmica induz o crescimento das cidades, com o aumento de fábricas e
órgãos públicos necessários à regulação das atividades. É um momento que
exige sistematização do funcionamento do País.
O decreto 1.455, de 30 de setembro de 1905, aprova os estatutos, que entre
outras medidas, liquidam o Banco da República do Brasil. Inicia-se, assim, a
terceira e atual fase jurídica do Banco. O governo passa a deter cinqüenta por
cento do capital da instituição, e também, o controle administrativo.
Nasce um novo banco: Banco do Brasil. A necessidade do cumprimento do
seu papel no contexto da economia nacional imprime forte movimento de
reorganização interna e de institucionalização.
Em 1906, são fixados critérios institucionais para recrutamento e seleção de
pessoal. Fica estabelecido que a admissão ao Banco só será possível por meio
de concurso público. Mas a realização do primeiro certame ocorre somente em
1917. Dos 596 inscritos, 237 conseguem aprovação. Nos primeiros tempos,
as atividades bancárias, simples e pouco diversificadas, pedem uma preparação
restrita às necessidades dos postos de trabalho.
As operações bancárias exigem noções de aritmética e rudimentos do
idioma pátrio, conhecimentos suficientes para garantir o desempenho dos
funcionários que executam tarefas de natureza administrativa e contábil. A
confecção de correspondências de rotina e os fundamentos de contabilidade
para lançamentos contábeis simplificados constituem aporte de competências
necessárias ao trabalho.
Euclides da Cunha
publica Os Sertões.
1915
1902
A socialização dos saberes acontece na azáfama das atividades diárias. Os mais
experientes compartilham o conhecimento das tarefas e instruções com os
É publicada a obra Triste fim
de Policarpo Quaresma, de
Lima Barreto.
40 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
principiantes. O chefe imediato responde pela preparação dos funcionários
sob seu comando.
Assim, a capacitação para o trabalho se realiza por meio do binômio chefe/
subordinado, que constitui a unidade básica em que, no limite, a empresa “revelase” ao funcionário. Eficiência, disciplina, qualificação, valores institucionais,
tudo é visto a partir dos filtros desse núcleo de relacionamento.
O tempo corre. No Brasil de 1922, a Semana de Arte Moderna divulga a estética
modernista. O escritor Oswald de Andrade convida para uma “antropofagia”
em relação à cultura européia. Para ele, os brasileiros devem absorver o essencial
daquela cultura, mas criar seu jeito próprio de produzir e lidar com a arte. Esse
é o fato cultural mais importante do ano. No Banco, no mesmo ano, em 24
de agosto, o presidente Epitácio Pessoa assina o texto inicial do projeto para
criação da Carteira de Crédito Agrícola do Banco do Brasil. A medida tem
grande importância histórica para a instituição e é resultado da preocupação,
desde a independência política do País, com a necessidade de organizar o crédito
agrícola. A falta de uma instituição bancária capaz de regular eficientemente as
operações havia retardado sua criação.
No ano de 1930, o governo Getúlio Vargas cria o Ministério da Educação. Somos
um país de analfabetos, em que a escola primária, cinco anos iniciais, é um luxo,
e o ensino secundário, seletivo, rígido, é destinado a poucos indivíduos.
A situação recebe análise crua de Monteiro Lobato (CUNHA 2000:199):
Um volver de olhos sobre o país revela uma estrutura sui generis. Em
baixo, a massa imensa de Jecas, meros puxadores de enxadas... em cima,
um bacharelismo furiosamente apetrechado de diplomas e anéis...
Monteiro Lobato, às vezes, defendia posicionamentos polêmicos, mas a citação
serve para dar uma noção dos desafios que a educação brasileira teria para
enfrentar o analfabetismo e o caráter desigual da distribuição de oportunidades
educacionais no País.
Pixinguinha compõe
Carinhoso.
1922
1917
Numa época em que o objetivo da sociedade brasileira é difundir o restrito
ensino primário, o desembaraço na escrita é muito valorizado. Até meados
Realiza-se, em São Paulo, a
Semana de Arte Moderna.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 41
da década de 1940, conhecimentos de aritmética e rudimentos da língua
fazem enorme diferença. Trabalhadores com tais predicados fogem de tarefas
manuais ainda muito ligadas à condição dos escravos e que poderiam rebaixálos numa classificação social que ainda ressente-se da memória do escravismo
como fonte de mão-de-obra.
O ingresso no Banco, via concurso público, traz à empresa quadros preparados
para as tarefas da rotina bancária. O modelo administrativo é sustentado
pela rígida hierarquia e pela burocracia pensada e executada por funcionários
com nível de instrução acima da média, formação que os coloca em posição
de destaque. Os detentores de cargos mais altos, inclusive, têm influência nas
esferas governamentais.
O cenário econômico avança em complexidade. A Segunda Guerra transforma a
dinâmica mundial. A despeito do genocídio e das perdas econômicas, o esforço
bélico, realizado pelas potências visando o bom desempenho no conflito, traz
grande estímulo ao progresso técnico e industrial. Tal fato, inclusive, acelera
enormemente a recuperação no período que sucede à guerra.
A tecnologia tem considerável impulso. À palavra eficiência, que até então
era o guia das ações produtivas e administrativas, é acrescentado o termo:
eficácia. Não basta fazer bem feito. Agora, é necessário fazer bem feito o que
precisa ser feito.
O século XX caminha...
Como já foi dito, o Banco acompanha o movimento da sociedade. É atingido
pelos seus reflexos. Até o final da década de cinqüenta e início dos anos sessenta
do século XX, atua como um banco comercial, mas executa a política creditícia
do governo junto ao setor produtivo. Acumula funções próprias de autoridade
monetária.
Criado o Museu
Histórico Nacional.
1928
1922
Detém, desde 1930, o monopólio sobre as operações de câmbio e é regulador
das taxas de juros. Além de garantir liquidez ao sistema bancário, impede perdas
no sistema produtivo. Representa peça essencial para o equilíbrio da política
monetária.
Carlos Drumond de Andrade
lança o poema No meio do
Caminho.
42 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
A preparação dos funcionários para o serviço ainda ocorre, quase exclusivamente, na própria unidade de trabalho. O superior hierárquico continua sendo o
responsável e realizador das ações de preparação para o trabalho. A demanda é
ditada pelas especificidades das tarefas a executar.
A participação de funcionários em cursos ou eventos externos, de natureza
formativa, limita-se ao atendimento de requisições das funções ou tarefas
que, por sua especificidade ou natureza, não podem ser treinadas pela forma
costumeira. Além disso, o treinamento de funcionários em entidades externas é
direcionado aos níveis mais elevados da organização.
Antes da sistematização das ações educativas do Banco, os funcionários que
pretendem avançar rumo à escolaridade de nível superior, têm de fazê-lo,
unicamente, às suas expensas. Alguns conseguem licença ou aproveitam o tempo
disponível para dedicar-se aos estudos. A maioria desiste de cursar a universidade.
A experiência funcional é vista como substitutivo, à altura, do curso de nível
superior. É comum ouvir-se a expressão: “o Banco é uma faculdade”.
A criação, em 1936, da Carteira de Crédito Agrícola e Industrial trouxera novos
requisitos de conhecimentos e habilidades. A Carteira de Comércio Exterior
também demanda níveis e tipos de competências diferentes das costumeiras
atividades bancárias. Esse fato proporciona, ao grupo de funcionários lotados
nessas carteiras, maiores oportunidades para participar de cursos contratados
em instituições externas. É criada, inclusive, a Divisão de Seleção e Treinamento
de Pessoal – SETRE, ligada à Carteira de Crédito Agrícola e Industrial, que
monitora as necessidades de treinamento do pessoal ligado à carteira.
Carlos Drummond de Andrade
publica Alguma Poesia.
1931
1930
Na década de 1960 a agência Centro São Paulo também faz ensaios pioneiros. O
funcionário Walter Ribeiro coordena as ações de capacitação de pessoal daquela
unidade. Os funcionários destacados pela habilidade didática ou pelo notório
domínio de temas administrativos ou de relações humanas são chamados a
contribuir com a formação dos demais colegas. Alguns desses funcionários,
mais tarde, são indicados para atuar como instrutores da instituição.
O primeiro samba de Noel
Rosa, Com que Roupa?, é
sucesso do carnaval.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 43
Preparação para o trabalho – as burrinhas
Aprender a fazer não pode, pois, continuar a ter o significado simples de preparar alguém para uma tarefa material bem determinada...
Como conseqüência, as aprendizagens devem evoluir e não podem ser
consideradas como simples transmissões de práticas mais ou menos rotineiras, embora estas continuem a ter um valor formativo que não é
de se desprezar.
Trecho do relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI.
Apesar dessas iniciativas, pode-se dizer que a modalidade de treinamento em
serviço é base da qualificação profissional ampla, na empresa. Prática pedagógica
segundo a qual as instruções institucionais, denominadas Codificação de
Instruções Circulares – CIC, são fontes de informação e cumprem o papel
de apoio didático. O notório saber de funcionários em determinados serviços
legitima-os como preceptores dos demais colegas.
O treinamento em serviço tem eficácia quando é necessária imediaticidade nos
resultados e o conteúdo a ser repassado é de natureza instrumental. Entretanto,
numa instituição com as dimensões do Banco, essa modalidade, sozinha,
não dá conta da capacitação funcional. No nível organizacional, esse modelo
não permite o estabelecimento de mecanismos de controle institucional do
processo de ensino/aprendizagem. Além disso, pode levar ao rebaixamento da
qualidade das variáveis pedagógicas implícitas no ato educativo de preparação
para o trabalho, uma vez que a simplificação do processo, principalmente nas
situações em que a falta de tempo previsto para o treinamento em serviço, e
também a pouca habilidade didática do orientador, causam o repasse de roteiros
empobrecidos de procedimentos, que são repetidos ad aeternum.
Sérgio Buarque de Holanda publica
Raízes do Brasil. Livro inovador.
Busca a identidade nacional.
1940
1936
No Banco, à época, essa prática é amplamente utilizada. O funcionário mais
experiente registra a rotina de trabalho em pequenos pedaços de papel, apelidados
de “burrinhas”, e repassa-os ao colega em situação de treinamento no serviço ou o
próprio aprendiz anota as informações indispensáveis à operacionalização de sua
tarefa para usá-las indefinidamente. A urgência para desembaraçar-se das tarefas
e as condições insuficientes para um aprendizado amplo, levam o funcionário
Mário Quintana
lança A Rua dos
Cataventos.
44 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
a não questionar o uso do expediente. A prática pedagógica – humana e crítica –,
entretanto, preconiza que o dispositivo pode ser usado como um repasse de
informações imediatas, mas não deve ser a tônica das ações de capacitação, pois
reproduz o trabalho apenas na perspectiva da lógica utilitarista.
A reforma bancária
A Lei da Reforma Bancária, n° 4.595, de 31.12.1964, instituída no governo
militar, traz mudanças à instituição. A criação do Banco Central do Brasil e
do Conselho Monetário Nacional diminuem o status do Banco do Brasil, que
passa a atuar, preponderantemente, como executor dos serviços bancários de
interesse do governo federal. Embora tenha diminuído seu prestígio político,
a instituição não perde importância no âmbito do sistema financeiro. Como
dispõe a lei, o Banco será o “principal executor dos serviços bancários de
interesse do governo” e atuará como banco de fomento nas áreas rural e de
exportação. A instituição administrará, também, um mecanismo que lhe
assegurará o suprimento automático de recursos para operações de interesse
governamental: a Conta de Movimento. O presidente do Banco será integrante
do Conselho Monetário Nacional. Esses aspectos ainda mantêm a empresa em
posição diferenciada junto à concorrência e, apesar das mudanças, a identidade
sócioprofissional dos funcionários permanece fortemente ligada à estabilidade e à
tradição da empresa.
A nova realidade impõe a revisão dos processos de trabalho para uma
participação competitiva no mercado financeiro e pede urgência na capacitação
dos funcionários. O recrutamento de mais de 1.200 servidores do Banco para
atuarem em órgãos da administração pública, principalmente no recém-criado
Banco Central do Brasil, agrava a situação e provoca evasão de quadros técnicos
qualificados. Nesse cenário configura-se, com maior vigor, a necessidade de o
Banco institucionalizar o esforço de formação e manutenção de seus quadros.
O Bumba-meu-boi já é objeto de atenção
dos intelectuais do Maranhão. Isto porque
começa a ser percebido como o guardião
da tradição maranhense.
1958
1940
Quanto mais se institucionaliza, mais o Banco avança na sistematização de seus
processos administrativos e necessita ancorar-se num sistema educacional. Toda
mudança organizacional implica a existência de modelo pedagógico que irradie
valores e crenças na direção desejada. Ou seja, a forma como uma organização
João Gilberto lança o disco
Chega de Saudade. Nasce
oficialmente a Bossa Nova.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 45
mobiliza e transforma sua cultura, seus valores e práticas é que vai determinar a
realização de seu escopo institucional.
A solução para a diáspora do pessoal mais qualificado e a forma de avançar
no estabelecimento de política de pessoal, via sistematização do treinamento
e da seleção, será a criação de órgão que centralize as ações de capacitação
funcional.
Nos planos para a criação do órgão, a hipótese é que, dessa forma, a instituição
acenará para os funcionários que o treinamento é via de obtenção de cargos
melhor remunerados, fator motivacional que ajudará na manutenção dos
funcionários mais preparados, constantemente assediados para assumirem
posições no governo que acaba de se instalar.
O governo militar impõe ao País nova ordem político-institucional. O presidente
Castello Branco inaugura a série de cinco presidentes militares. Há urgência
de realizar reformas. O regime adota o modelo tecno-burocrático para uma
“modernização conservadora”, que exclui da cena política as classes populares e
os trabalhadores, opção que interrompe as discussões sobre temas nacionais. A
política econômica guarda estreita vinculação ao capital internacional.
A opção desenvolvimentista deixa a classe trabalhadora alijada dos mecanismos
de proteção social e estabelece padrão de consumo industrial que favorece,
sobretudo, as elites. Para a implantação do modelo, o País lança mão de apoio
tecnológico e financeiro das multinacionais que dão suporte à modernização dos
setores de energia, transportes e comunicações. A diversificação das importações
foi marco no governo militar. Nesse cenário, o Banco é utilizado como máquina
eficiente para ajudar o Estado na busca da eficácia operacional. Uma força
propulsora do desenvolvimento econômico.
Projetando o DESED
O Pagador de Promessas
recebe a Palma de Ouro, em
Cannes.
1963
1962
A necessidade de corresponder a essas expectativas acelera medidas voltadas
para uma política de pessoal capaz de manter o quadro de funcionários
qualificados. A eficácia, a disciplina e a integração à casa são emblemas de bom
desempenho funcional. No segundo semestre de 1964, o Banco designa um
Deus e o Diabo na Terra do Sol é
o primeiro filme integralmente da
autoria de Glauber Rocha.
46 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
grupo de funcionários com a incumbência de criar um órgão que centralize
os esforços de formação, recrutamento e seleção do pessoal. A fim de colher
subsídios para a empreitada, o grupo é designado para participar, na Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC, do VIII Curso de Técnicas
de Treinamento.
O curso visa dar subsídios aos participantes para a criação do centro de treinamento e os ajudaria a formar os instrutores da casa. Os funcionários destacados para participar do evento são: Dílson Garcia de Mattos, Fernando Viguê
Loureiro, Jefferson Paes de Figueiredo, Milton de Mattos da Silva, Nelcy Carlos Louro Pereira e Vicente Monteiro Avólio.
O Banco seria o pioneiro, entre as empresas ligadas ao governo, a manter
um processo institucionalizado de treinamento. No período, poucas empresas
multinacionais de grande porte mantinham sistemas formais de qualificação.
Em 7 de maio de 1965, o então diretor superintendente do Banco, Luiz de
Paula Figueira, assina documento com posicionamento favorável à proposta
de constituição da agência interna de formação e seleção de pessoal. O anteprojeto GT VI de 26.5.1965, elaborado pelo grupo de trabalho encarregado
de estudar o assunto, contém argumentos que fundamentam a necessidade de
criação do centro.
Tom Jobim compõe
Garota de Ipanema.
1964
1963
Os diretores abraçam a sugestão: Arthur Ferreira dos Santos defende a medida,
pois vê vantagens na centralização das atividades relativas ao pessoal; Cláudio
Pacheco Brasil posiciona-se a favor e visualiza a possibilidade de incorporação,
pelo novo órgão, das atividades dos centros de estudos já existentes, como a
Divisão de Seleção e Treinamento de Pessoal – SETRE, que funciona ligada
à Carteira de Crédito Agrícola e Industrial; Luiz Biolchini aponta a medida
como alternativa para suprir a carência de técnicos para os postos mais elevados
da empresa; Aldo Baptista Franco da Silva Santos argumenta que a carência
de pessoal “de elevado gabarito técnico” para o estudo e implementação dos
complexos encargos que o governo impõe ao Banco é um problema enfrentado
pela chefia da Carteira de Comércio Exterior, e a criação de um departamento
para conduzir a capacitação do pessoal atacaria o problema diretamente.
Parintins (AM) começa seu festival no formato
atual. Já é destaque a rivalidade entre as torcidas
dos bois Garantido e Caprichoso.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 47
Outra preocupação ventilada pela diretoria é a freqüente cessão de funcionários a
outros órgãos do governo para repasse de conhecimentos, enquanto nas agências
e na direção geral há escassez de funcionários preparados para os trabalhos da
área internacional.
O posicionamento da diretoria é decisivo. Em 31.5.1965, expede-se a portaria
n° 1.935, que oficializa a criação, em 26.5.1965, do Departamento de Seleção
e Desenvolvimento do Pessoal – DESED. O departamento passa a funcionar,
provisoriamente, na Rua 1º de Março, no Rio de Janeiro. Pouco tempo depois,
muda-se para a Avenida Rio Branco, 120.
O primeiro a chefiar o DESED é o funcionário Manoel Salek, ex-contador
da Agência Centro Rio de Janeiro. Ele trabalhara, até então, com o diretor
superintendente, lá mesmo, no 4º andar.
Ao implantar o departamento, voltado para a qualificação de seu pessoal, o
Banco acompanha a dinâmica desenvolvimentista do País. A problemática
educacional ocupa importante espaço nos debates, num mundo empolgado
com a escalada de conquistas científicas e tecnológicas.
O governo, preocupado em expandir a economia, pede à classe empresarial
apoio para generalizar e aprofundar a educação da juventude como fator de
desenvolvimento. Adota uma visão de educação utilitária. Educação para a
melhoria da produção e dos níveis de produtividade nos múltiplos ramos de
atividades do País. O lema é: “Educação para o Desenvolvimento”.
Oduvaldo Viana Filho,
o Vianinha, escreve a
peça Opinião.
1964
1964
O Banco também é convocado a modernizar-se. Inspirado no lema “Tradição
que se moderniza”, passa a realizar treinamento sistemático do pessoal nos
vários níveis.
Otto Lara Resende recebe
o Prêmio Lima Barreto pelo
romance O Braço Direito.
A educação faz diferença
Vida de educando
Em 1967, o gerente de uma cidade de Minas Gerais vai pela
primeira vez ao Rio de Janeiro.
Participará de curso no DESED.
Dormiu mal, na véspera da viagem.
No aeroporto, o burburinho de pessoas e o movimento só
aumentaram sua vontade de desistir.
No trajeto para o hotel, o taxista dilatou o percurso. Ganhou um
trocado, às custas do neófito visitante.
Preocupado com a volta à sala de aula, pensa em tudo: quarenta e
nove anos de idade. Gerente, na cidade, há cinco anos. Não pega
num livro há mais de vinte.
Leitura, somente a passada de olhos nas revistas que compra
para a filha.
Lê, esporadicamente, os jornais da capital.
Quando chega ao local da aula, estão lá, para abrir o evento: um
ministro de Estado, o presidente do Banco e o chefe do DESED.
Começam as aulas. Todos recebem uma pasta com o material
didático e livros.
Carga horária de oito horas.
Nos intervalos, o assunto preferido é a prova final. Há grande receio.
No final da aula, todos os dias, o coordenador informa o que
deve ser estudado no hotel. Muito a estudar. “É preciso meter a
cara nos livros”.
No fim do curso, o teste. O “bicho” nem foi tão feio quanto o
pintaram.
Manhã seguinte, hora de voltar para casa.
Satisfeito, deu o roteiro para o motorista.
Pôde escolher o trajeto com segurança:
– Ao aeroporto, por favor!
– E pelo aterro do Flamengo, hein!, velho.
Extraído e adaptado da matéria: O outro lado do CIPAD. Revista DESED. nº 9. 3º trimestre.1968.
A educação faz diferença
Na Paraíba
Corre o ano de 1978.
Um colega é convocado para cursar o 36º Curso de Introdução
ao Banco, o INTRO.
Ele preenche o requisito básico. Tem menos de um ano de
Banco.
Recebe o comunicado do subgerente. Pessoa preocupada com
a qualificação dos colegas.
Fica pensativo.
Rapaz tímido. Não gosta de ambientes estranhos.
Pensa: e se eu ficar embaraçado diante da turma?
Comunica que não fará o curso.
Os colegas ponderam. Mostram, ao introvertido companheiro,
os benefícios que a oportunidade poderá trazer.
A insistência vence. O colega faz o curso.
No retorno, vai à gerência.
Comunica que a experiência foi gratificante. Deu resultados, não
só para a sua a vida profissional. Melhorou como pessoa.
Na agência e em casa, todos constataram. Ele estava mais
sociável. Comunicativo.
O episódio dá mais frutos.
A administração da agência envia carta à diretoria.
Pede que o curso seja estendido a mais funcionários.
Resultado: a diretoria atende.
Em 26.10.1979, a chefia do DESED assina despacho
ampliando a participação no INTRO para os funcionários
com até dois anos de casa.
A carta de Monteiro, na Paraíba, provoca a discussão do assunto
e está anexada ao referido despacho.
Extraído de carta da Agência Monteiro - PB ao DESED, em 1978.
Segundo capítulo
Os tempos do DESED
– Departamento de Seleção e
Desenvolvimento de Pessoal (1965 a 1996)
Nem a arte nem a sabedoria é algo acessível, se não há aprendizado
Demócrito
Primeiros desafios...
Na origem, o Departamento de Seleção e Desenvolvimento de Pessoal – DESED
tem a missão de favorecer e intensificar o aprimoramento do pessoal para
promover o engrandecimento do Banco como instituição nacional a serviço
do Brasil. O País está mergulhado no esforço de modernização exigido para seu
alinhamento à corrida desenvolvimentista proposta pelo governo.
A tarefa principal do DESED é sistematizar a formação dos quadros do Banco. Para tal, deve proporcionar novos conhecimentos e aprimorar habilidades
e atitudes para um patamar além do treinamento em serviço, tradicionalmente
utilizado.
A nova realidade organizacional intensifica a necessidade de preparação dos segmentos gerenciais da empresa. Além disso, é preciso reforçar o compromisso
de colaboração e cooperação funcional diante da nova realidade imposta pela
recente reforma bancária.
Diante desse quadro, a conjunção de ações, tais como treinamento sistematizado, aprimoramento dos mecanismos de seleção externa para manutenção do
nível de preparo dos novos funcionários e o incremento das metodologias para
realização dos processos seletivos internos, em vista de ocupação dos cargos
mais complexos, é a alternativa para a modernização das técnicas administrativas e de gestão da empresa.
O volume Manuel Bandeira, com estudo
e seleção de textos, é publicado na
França, na coleção Poètes d’Aujourd’hui.
1965
1965
O II Curso de Crédito Industrial, encerrado em dezembro de 1965, sob a coordenação de Ailto Gonçalves Leal, marca o primeiro evento realizado efetivaElizeth Cardoso grava o disco
Sobe o Morro, marco da
discografia brasileira.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 51
mente sob a coordenação do departamento. A turma é formada, ainda com a
ajuda do Departamento de Crédito Industrial – DIRIN. Inaugurado em maio
de 1965, o DESED promove atividades pedagógicas somente a partir de outubro do mesmo ano.
Os funcionários que atuam como professores dos cursos que inauguram
o DESED são: Admon Ganem, Alberto Lírio do Valle, Aldir dos Santos
Guimarães, Amauri Costa, Antônio Victor Pires Lima Rebelo, Celso Albano
Costa, Egberto Mattos Galvão, Esmeraldo Alexandre Martins, Floriano Peixoto
de Albuquerque, Hélio Penna, Hetônico Pereira, José Dálvio Rangel, Luiz
Antônio Sande de Oliveira, Miguel Newton de Arraes Alencar, Nicolau Saad,
Paulo Fernandes de Sá e Renato Toledo de Campos.
A nascente política de formação não foge muito do modelo tecno-burocrático
do País. Um documento apresentado à alta direção do Banco, firma a filosofia
de treinamento e suas características administrativas e funcionais. A distribuição
das oportunidades educacionais prioriza os escalões dirigentes para a criação e
difusão dos valores da empresa e para possibilitar que os gestores atuem como
instrutores dos subordinados.
O controle, a administração e as próprias ações educativas são coordenados e
realizados no DESED. O departamento adota modelo centralizado. A programação e distribuição das oportunidades de treinamento ocorrem do topo para a
base da pirâmide, ou seja, parte da direção geral para as agências. São priorizadas as de maior porte, em função do volume e da qualidade dos negócios.
Os argumentos utilizados para a adoção do modelo centralizado são os de que
a regionalização dos cursos dificultaria o trabalho de acompanhamento e avaliação dos professores. Os deslocamentos desses profissionais e dos que atuariam
nas atividades de apoio didático e nos serviços administrativos onerariam as
ações de qualificação. Assim, a elevação dos custos é apresentada como empecilho para a descentralização dos treinamentos.
A peça Orfeu da Conceição
é musicada por Tom Jobim e
Vinicius de Moraes.
1965
1965
A filosofia de qualificação preconiza que o treinamento dos gerentes deve abranger desenvolvimento de habilidades técnicas, humanas e institucionais. É previsto que, na medida em que sobe na escala administrativa, o funcionário necessita de mais habilidades institucionais e menos habilidades técnicas.
Chico Buarque cria melodia para
Morte e Vida Severina, de João
Cabral de Melo Neto.
52 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
Um exame, mesmo rápido, deixa evidente, no entanto, que a atuação do DESED, nos primeiros anos, ampara-se numa concepção tecnicista de educação.
Suas premissas contribuem para a manutenção dos princípios de sustentação da
empresa e dos projetos desenvolvimentistas do governo.
No momento de instalação do DESED, o Banco está em franco processo de
modernização das técnicas administrativas e a tradicional prática do treinamento em serviço e as ações esparsas e assistemáticas de capacitação não dão conta
dos desafios da realidade institucional.
O cenário é de busca do alinhamento das práticas e técnicas administrativas
do Banco às melhores técnicas bancárias. Entre as ações, nessa direção, os funcionários Oswaldo Roberto Colin e Décio de Oliveira Araújo realizam estágio
de seis semanas no Chase Manhatan Bank e no Banker’s Trust de Nova York,
empresas de ponta na aquisição de equipamentos modernos. A experiência dos
funcionários é importante para auxiliar na implantação do plano de mecanização das atividades e na renovação dos processos administrativos para a mudança
da imagem institucional do Banco.
As novidades trarão impacto para as demandas educacionais.
Assim, em 1966 o Banco implanta o Sistema de Atendimento Direto e Integrado – SADI. Um novo conceito de atendimento com profundas modificações
nas rotinas de processamento e fluxo de documentos. Até então, o modelo de
funcionamento burocrático e endógeno adota a visão do atendimento como
sendo mais uma peça da engrenagem administrativa, que roda sobre carimbos e documentos contábeis. A partir do sistema recém-adotado, é efetivada a
reformulação do layout das agências, cuja sistemática de atendimento prevê a
existência de “gaiolas” de isolamento, entre os caixas e o usuário do Banco. As
“gaiolas” são paulatinamente abolidas e o processo de atendimento desloca a ênfase da tarefa burocrática do manejo de papéis para o contato com o usuário.
O maestro Diogo Pacheco rege
Vinícius, Poesia e Canção, no
Teatro Municipal de São Paulo.
1966
1965
O caixa executivo, como é chamado o funcionário que trabalha no caixa, precisa atuar baseado num modo de atendimento que impõe a necessidade de revisão
de suas atitudes na relação com o usuário. A meta é humanizar o atendimento.
A mudança implica a formação de mais de trinta mil caixas executivos e coorde-
Victor Assis Brasil, considerado até hoje,
o melhor saxofonista brasileiro, grava o
primeiro disco, Desenhos.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 53
nadores de bateria e a inserção de Relações Humanas no conjunto de disciplinas
dos treinamentos.
Para ajustar-se à nova realidade, os treinamentos devem diminuir o tempo dedicado a exposições teóricas sobre temas técnicos afins à rotina bancária e incluir
atividades que desenvolvam o hábito do raciocínio rápido e a habilidade para as
vivências das situações de relacionamento.
Na avaliação dos organizadores da ação educativa, incluir conhecimentos de
Psicologia e Comunicação na capacitação permitiria a compreensão das razões
que levam as pessoas a agir e reagir nas situações do dia-a-dia. Ajudaria o funcionário a começar a tratar o, até então, usuário do Banco, como cliente. Tudo
integra o conjunto de medidas para compor a imagem de um banco moderno,
rápido e eficiente.
A disciplina Relações Humanas é conduzida por funcionários lotados em agências, nos vários locais do Brasil. Eles são convidados pelo DESED e deslocam-se
de suas bases para ministrar as disciplinas. Os mais atuantes são: Jorge Roux e
Túlio Sequeira Rolim, no Rio de Janeiro; José Leopoldi, em Campina Grande;
Tarcísio Soares Ferreira Moreira, em Belo Horizonte; Helênio Machado Carvalhedo, em Brasília; Valter Rosa e Vicente Ferreira, em São Paulo e Carlos
Alberto Peres, em Porto Alegre.
As aulas de Relações Humanas, no início, têm forte caráter instrumental. A
ênfase é no ajuste do funcionário à nova sistemática de atendimento. A conduta
individual baseada no disciplinamento e na adaptação é a tônica das atividades
previstas no programa. O estilo dos professores, como são chamados os funcionários que ministram a disciplina, é que confere, ou não, maior flexibilidade às
atividades vivenciadas.
Nara Leão grava
Liberdade, Liberdade.
1966
1966
Além da disciplina que trabalha as relações humanas, o curso para formação dos
caixas tem Grafoscopia e Rotinas de Serviços como matérias centrais. Alguns
dos professores pioneiros nas aulas de Grafoscopia e Rotinas de Serviços são:
Altair de Castro Pereira, Álvaro Caetano, Antônio Victor Pires Rebelo, Carlos
Augusto Perandréa, Carlos Gondin Moura, Coaracy Ribeiro Granja, Esmeraldo
Alexandre Martins, Floriano Peixoto de Abuquerque, Gilberto Bastos Dias, José
de Souza Ismério, Leocyr Pereira Lemos, Leoncídio de Almeida Carvalho, Luiz
Jair Rodrigues canta Disparada, de
Geraldo Vandré e Theo de Barros, no
Festival MPB.
54 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
Carlos Peres, Manoel Couto Mendes dos Reis Netto, Manuel Antônio dos Santos, Milton Siles Comiotto, Mozart Souza Uchoa, Nildson Bezerra da Costa,
Olavo Lopes de Faria, Renato Toledo de Campos, Walter Piedade Denser.
O material didático usado nas aulas exige tratamento diferenciado. Recursos e
ilustrações são utilizados para sensibilizar os treinandos a participarem das situações vivenciadas. O funcionário Reinaldo de Araújo Lima é o responsável pela
produção do material didático.
Cipadiando...
Em julho de 1967, é criado o Curso Intensivo para Administradores – CIPAD,
com forte ênfase no desenvolvimento de atitudes gerenciais compatíveis com os
requisitos da realidade institucional.
Projetado pelo Prof. Admon Ganem e coordenado por José Luiz de Carvalho,
o CIPAD tem o objetivo de formar a classe dirigente da empresa – gerentes,
inspetores, chefes da direção geral. Visa promover eficiência nas funções executivas, a utilização racional dos recursos e a compreensão do papel do Banco do
Brasil no processo econômico brasileiro.
O curso tem carga horária correspondente a 35 dias úteis, sendo 140 horas
de aula e 140 horas de estágio. As disciplinas ministradas vão desde conhecimentos de Fundamentos da Ciência Administrativa até Relações Humanas.
Inclui Análise Contábil e Financeira. Contempla, também, Relações Jurídicas
e Interpretação Estatística.
A missão do CIPAD extrapola seus objetivos instrucionais. Visa “moldar” o
aparelho administrativo da empresa e, para tanto, trabalha para formar chefes
capazes de tomar decisões sob o influxo do sistema de valores do Banco e da
lógica do modelo econômico do País.
João Cabral de Melo Neto lança
A Educação pela Pedra.
1966
1966
O CIPAD representa a oportunidade de qualificação interna para os funcionários que pretendem ocupar postos de comando na alta administração da empresa. O curso tem um programa de treinamento que exige muito dos alunos.
Publicação de A
Revolução Brasileira, obra
de Caio Prado Júnior.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 55
O departamento pretende firmar uma política de recursos humanos coerente
com o investimento realizado, adequado a uma filosofia de promoção baseada
no mérito. O esforço institucional para criar o DESED precisa dar retorno
à organização, formando funcionários com nível de qualificação à altura dos
desafios da empresa.
Na visão do pessoal que trabalha no DESED, o curso cria oportunidades para
os que não contam com o prestígio da amizade dos altos escalões da empresa,
pois o treinamento inclui o mérito como critério de evolução no rol de requisitos para que o funcionário ascenda aos níveis gerenciais complexos. A despeito disso, a participação nos cursos, especialmente no CIPAD, não alcança a
quantidade de funcionários compatível com a idéia de democratizar o acesso ao
treinamento institucional, numa empresa com as dimensões do Banco.
Apesar de o curso ser percebido como canal importante para a ascensão funcional, não basta o servidor candidatar-se, pois, além da triagem das inscrições
por parte do DESED, muitas vezes o funcionário não consegue a liberação por
parte do seu superior.
A avaliação dos alunos prevê reprovações. Ao final, são submetidos a um teste
que os classifica em três níveis. O nível A abrange os que obtêm nota acima de
setenta e cinco por cento (75%) de acertos. O grau B é formado pelos conceitos
entre setenta e cinco e cinqüenta por cento (75% a 50%) e o C é para quem
obtém escores abaixo de cinqüenta por cento (50%). Aos que não alcançam
nota mínima, é concedido um atestado de freqüência.
Após oito horas diárias em treinamento, os alunos recebem extenso material para
estudos e atividades extra-classe. Matérias complexas preocupam os alunos, principalmente os que não cursaram o nível superior ou aqueles que estão distanciados dos bancos escolares. Disciplinas como Organização e Métodos, Análises
Econômicas e Métodos Quantitativos são consideradas as mais difíceis.
Terra em Transe, de
Glauber Rocha, funda o
Cinema Novo.
1967
1967
Não obter aprovação, para a maioria, é percebido como algo pouco honroso e
um estigma para a carreira. Há, no entanto, uma segunda oportunidade para os
alunos que não obtêm o nível A. Eles podem realizar novo teste. De qualquer
forma, realizar o curso é um distintivo para os gerentes. Na própria sede do
DESED, na Avenida Rio Branco, n° 120, os alunos do curso recebem denominação especial. São chamados pelo apelido de “cipadianos”.
Ponteio, de Edu Lobo e Capinam,
vence o Festival da MPB.
56 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
O curso tem tom ritualístico, carimba o passaporte do gerente para nova realidade.
No Banco, não há ainda um quadro interno estruturado de educadores, mas
pelo nível de qualificação do corpo funcional, notadamente dos que chegam a
cargos elevados, há esforço do DESED no sentido de incluir esses funcionários
no rol de professores que ministram matérias nos cursos.
No CIPAD, das oito disciplinas, apenas três são ministradas por professores
vindos de instituições de ensino. A contratação externa, no entanto, é vista
como forma de trazer para o departamento contribuições das universidades que
se destacam nos estudos de Administração no País.
Na abertura ou no encerramento dos cursos, há sempre um ministro de Estado.
A presença de representante do governo, além de prestigiar o evento, acompanha o processo de formação. O governo quer manter as políticas do Banco afinadas às diretrizes do País. Nas aulas inaugurais, os ministros reforçam o papel
do Banco como alavanca na mobilização da sociedade brasileira para o desenvolvimento econômico. Conclamam os presentes a desenvolverem habilidades
institucionais, imprescindíveis à obtenção de uma percepção global da realidade
da instituição e de sua conexão com o progresso do País.
O CIPAD é um emblema na história do DESED. Pelo menos a primeira década da existência do departamento está ligada, profundamente, à realização
desse curso.
Trabalho pedagógico – passos iniciais
No incipiente departamento, os funcionários nomeados para atuar na área de
educação, além de exercerem suas funções na carreira administrativa, são chamados de professores. Não existe ainda, na empresa, terminologia pedagógica
própria instalada. É comum chamar esses funcionários ou professores convidados, de “lentes”. É honroso para o funcionário ser nomeado pelo termo, pois
sente-se destacado pelo seu alto nível de erudição. O exercício da prática educativa confere prestígio a esses funcionários.
Encenada, no Teatro
Oficina, a peça O
Rei da Vela.
1967
1967
O DESED ainda não estabelecera pressupostos ou linha metodológica que demarcasse um método de ensino. É facultada, a cada professor, a escolha dos
Aldemir Martins pinta a
tela Mariana.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 57
procedimentos didáticos, desde que guardem consonância com os preceitos da
organização. As disciplinas são abordadas “tendo em vista a natureza de cada
uma”. Geralmente, são associadas aulas teóricas com aplicações práticas na própria sala de aula.
A metodologia é empírica, baseada na experiência didática dos professores. São
utilizados estudos e discussão de casos práticos para solução de problemas propostos. O objetivo é exercitar os alunos em aptidões inerentes aos desafios das
funções diretivas, com ênfase no processo de tomada de decisão. É plausível
falar num método teórico-prático voltado para motivar e ajudar o treinando
a exercitar o raciocínio sistemático para aplicação nas questões concretas da
realidade. Alguns debates são introduzidos para trabalhar a desenvoltura na expressão oral dos gerentes.
Mas não se pode dizer que a prática pedagógica é baseada num método de ensino socializado. O ambiente convencional vigente no Banco, marcado pelos
signos de hierarquia, a despeito do estilo mais liberal de alguns professores, é
reproduzido em sala de aula.
A visão de homem, implícita na nascente prática educativa institucional, é amparada nas abordagens didáticas tecnicistas mescladas com práticas da escola
tradicional. A teoria behaviorista de Skinner, psicólogo comportamentalista, à
época professor da Universidade de Harvard, inspira as tentativas de inovação
da escola brasileira. Segundo os defensores da teoria, os métodos baseados no
controle e na moldagem do comportamento são compatíveis com o tipo de
ensino voltado para compensar o atraso tecnológico do País. Apesar das contribuições da teoria skineriana à educação, que assimila muitas técnicas de ensino
baseadas no método comportamentalista, a ênfase do ensino, na referida teoria,
presta-se, com propriedade, sobretudo à educação conservadora.
Depois do começo
Paulo Mendes Campos
escreve A Hora do Recreio.
1967
1967
A ação do departamento avança. Em 1967, 1.542 caixas executivos tinham sido
treinados e mais de novecentos funcionários haviam participado do seminário
sobre o Sistema de Atendimento Integrado.
Inaugurado o Teatro Castro Alves,
em Salvador.
58 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
Nesse mesmo ano, o presidente Costa e Silva autoriza o ingresso, via concurso
público, de mulheres no quadro de funcionários do Banco do Brasil. Esse fato
é um divisor histórico para a instituição. Seus ritos, processos administrativos e
humanos, acostumados ao jeito masculino de administrar e trabalhar, precisarão integrar o trabalho feminino.
Depois de Manoel Salek, é Admon Ganem, que em 1967, assume a chefia
do DESED. Passado o momento da instalação do departamento, o desafio é
disseminar a cultura do treinamento institucionalizado, dos cursos regulares,
numa época em que muitos chefes ainda consideravam que o simples estudo
dos manuais internos de instrução seriam capazes de preparar os funcionários
para exercer suas diversas funções.
O DESED ainda é sediado no Rio de Janeiro, quando em janeiro de 1971, o
CIPAD passa a ser realizado em Brasília. Só em janeiro de 1973, o departamento
passa a funcionar no Distrito Federal, no sétimo andar do Edifício Sede I.
Dali, em 1974, vai para o recém-inaugurado Edifício Sede II.
O País vive o “milagre econômico” e o Banco acompanha a dinâmica nacional.
O slogan Tradição que se Moderniza encerra a renovação que a empresa constrói no seu jeito de atuar e mostrar-se à sociedade. Predomina, na formação
profissional, o discurso da coesão interna, da produtividade, da modernização
tecnológica e da administração científica ancorada nas teorias administrativas
de Frederick Taylor e de Henri Fayol. Planejar, comandar, organizar, controlar
e comandar são palavras de ordem.
Na primeira metade dos anos 1970, o Banco, transformado pelos efeitos da Lei da
Reforma Bancária de 1964, continua uma empresa sólida e o grande executor da
política creditícia, graças, em parte, ao mecanismo da Conta de Movimento.
O DESED, por sua vez, avança no trabalho de capacitação. O Curso para Caixa
Executivo – CAIEX e o Curso para Coordenadores do Sistema de Atendimento
Direto e Integrado – COORD são fundamentais na implantação da nova sistemática de atendimento.
A música de Hermeto Paschoal,
O Ovo, é gravada no disco do
grupo Quarteto Novo.
1967
1967
Até 1974, o DESED realiza 673 eventos, dos quais já haviam participado
20.709 funcionários de um total de aproximadamente 50.000. Nessa primeira
fase, a formação profissional caracteriza-se pela realização de cursos isolados.
Rubem Braga lança A Traição
das Elegantes.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 59
Inexiste um programa de formação integrado. Apenas a separação dos cursos
por segmentos.
No período, as matérias da Revista DESED, da qual trataremos logo adiante,
exaltam a educação como saída para os problemas dos países subdesenvolvidos.
A noção da educação como redentora, como alternativa para sanar as desigualdades, é trabalhada em análises que se limitam às dimensões instrumental e
econômica dos fatos sociais. A perspectiva política fica fora dessas reflexões.
Não é para menos; durante o governo de Arthur da Costa e Silva é assinado o
Ato Institucional n.º 5, que vigora até 1978. Esse é o mais abrangente e autoritário de todos os atos institucionais. Na prática, revoga os dispositivos constitucionais de 1967 e reforça os poderes do governo.
O exílio político e as prisões deixam o País, que já sofria os efeitos do histórico
nível de analfabetismo e da baixa escolaridade, ainda mais pobre de intelectuais
e cientistas. Como ocorre com a população do País, muitos funcionários do
Banco são vítimas da opressão.
Matéria veiculada na Revista DESED, em 1969, tem como reportagem de capa,
a manchete: “Onde estão nossos cientistas”. Os articulistas, possivelmente, respondem, de forma moderada, à pergunta que reverbera do seio da sociedade.
A Revista DESED
A recém-criada área de educação no Banco precisa ter repercussão institucional.
Para tal, é indispensável um veículo que dissemine as políticas e práticas do departamento. A chefia do DESED, indo ao encontro dessa necessidade, lança a
Revista DESED, que passa a ser um instrumento para legitimar e consolidar a
atuação de um setor tão distinto dos demais que compõem a organização.
Geraldo Vandré defende Pra Não
Dizer que Não Falei das Flores no
III Festival Internacional da Canção.
1968
1968
O veículo de comunicação fica sob a responsabilidade da Divisão de Relações
Internas do departamento – RELIN. O periódico divulga os valores organizacionais e o papel do treinamento como fator de modernização e transformação
cultural na empresa. Algumas matérias veiculadas na revista difundem, no âmbito interno, a atuação do Banco na sociedade brasileira.
Clementina de Jesus lança
o LP: Marinheiro Só.
60 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
O número inaugural do informativo circula no primeiro trimestre de 1966 e o
último, em junho de 1979. O funcionário Márcio Cotrim é um dos idealizadores da revista.
Com linguagem simples e informal, o veículo de comunicação serve na mediação entre a direção geral e o funcionalismo. Publica matérias que exploram múltiplos assuntos. Divulga as iniciativas da empresa e temas de interesse dos funcionários. Matérias especializadas sobre Economia, Administração, Literatura e
atualidades fazem o cardápio do periódico distribuído a todos os funcionários.
O alcance da Revista DESED é amplo. Chega às diversas regiões do País. Sua
distribuição para instituições da sociedade, inclusive universidades e escolas, é
vital para a consolidação da marca do departamento. A divulgação extrapola as
informações da área de educação.
A chegada da revista é ansiosamente aguardada pelos funcionários, principalmente nas agências localizadas em lugares menos providos de fontes de informação, cultura e entretenimento. A sessão que destaca o desempenho de funcionários da casa nas artes, ou que divulga suas aptidões e realizações, é um dos
motivos do sucesso do periódico.
O departamento se apropria, de forma competente, da potencialidade do veículo como mecanismo de preservação e, também, de transformação cultural. A
revista ajuda a sedimentar a idéia de que há um compromisso do Banco com o
desenvolvimento do País e que o trabalho do funcionalismo é importante contribuição para que a empresa possa atingir esse fim.
É plausível afirmar que a revista tem alcance além do que se propôs, na origem. É semente das práticas de educação a distância que, adiante, será sobejamente utilizada na instituição. Funciona como um complemento à educação
em sala de aula.
Estréia do filme Macunaíma,
baseado na obra de Mário
de Andrade e estrelado por
Grande Otelo e Paulo José.
1970
1969
Como o treinamento, na maioria das vezes, só alcança o segmento gerencial, a
revista tem papel importante para disseminar os valores e intenções organizacionais. O informativo destaca-se na difusão rápida e homogênea das informações.
Elis Regina grava
Madalena, de
Ivan Lins.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 61
Até hoje, funcionários guardam a coleção completa da revista. Alguns defendem a volta do periódico, alegando que seus sucedâneos não lograram a
mesma repercussão.
Um ano antes da extinção da Revista DESED, em 1978, há o lançamento do
Boletim de Informações ao Pessoal – BIP. Um pequeno informativo quinzenal.
Bem menos pretensioso que a Revista DESED, o periódico publica relatos literários de funcionários do Banco, na coluna “História não escrita”. A sessão tem
ótima repercussão, recebe muitas contribuições dos funcionários para publicação. Traz, ainda, artigos e informações sobre as entidades do funcionalismo e
notícias sobre atividades de seleção e treinamento desenvolvidas pelo DESED.
O BIP n.º 463 circula em dezembro de 1993. É o último jornal da série sob a
responsabilidade do departamento. A partir daí, passa a ser desenvolvido pela
Secretaria Executiva de Comunicação.
Rumo a uma filosofia de educação
É preciso que entendam que a formação é permanente. Não existe formação momentânea. Formação do começo. Formação do fim. Formação é uma experiência que não pára nunca.
Paulo Freire
Na década de 1970, o departamento cresce em importância. É preciso atrair mais
pessoas para enfrentarem os desafios e tarefas da área. O DESED vai se consolidando como agência educacional. Mas as dimensões do Banco tornam mais
complexas as tarefas de capacitar e selecionar pessoas. Faz-se necessário ampliar
o escopo da capacitação profissional. Alguns funcionários trabalham o tema relações humanas nos cursos do Banco. Entre eles: Antônio Carlos da Rosa, Horley
Teixeira Luzardo, Jorge Roux, José Ruiz Talhari, Oscar Capello, Túlio Sequeira
Rolim e Walter Ribeiro. Esses educadores são pioneiros, antecedidos apenas pelos
fundadores do DESED que ministram disciplinas ligadas à operação bancária.
Gilberto Gil grava
Expresso 2222.
1973
1972
Na medida em que as pessoas conhecem as soluções educacionais criadas pelo
departamento, a demanda cresce exponencialmente. É preciso agregar mais pessoas ao trabalho de projetar e realizar a educação institucional e assim tornar
mais efetivo e amplo o alcance de suas ações.
A clássica Apareceu a Margarida,
do dramaturgo Roberto Athayde,
encanta os palcos brasileiros.
62 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
É nesse momento, em 1975, que é realizada seleção interna em nível nacional
para ampliar o quadro de instrutores de Relações Humanas e Grafoscopia. São
selecionados e chamados a participar dos cursos de formação: Alir Poletto, Anacleto Vasconcelos, Ana Liési Thurler, Antônio Gonçalves de Oliveira, Daltro
Gomes da Silva, Élcio da Motta Silveira Bueno, Francisco José de Oliveira, José
da Silva Leal, Luiz Carlos Peres, Luiz Carlos Teixeira, Luiz Jorge Mir, Nancy
Maria Della Santa Coneglian, Olívio Raimundo da Silva, Octávio Ferreira de
Assis, Renato Cabral, Romero Azevedo.
O DESED realiza a seleção em junho. As regras estabelecem que os funcionários escolhidos devem permanecer lotados nas suas bases de trabalho e, quando
necessário, sejam chamados a entrar em sala de aula.
Depois de formados, os novos instrutores participam do curso “Dinâmica de
Grupo no Lar, na Empresa e na Escola”, ministrado pelo professor Lauro de
Oliveira Lima, pioneiro do método pedagógico baseado na teoria da psicogênese de Piaget. O autor alcança profunda repercussão no grupo. A importância
da interação dos grupos no processo de ensino-aprendizagem e o uso do método do ensino socializado são alguns dos aprendizados. Seu livro “Dinâmica de
Grupos” passa a compor o referencial teórico que baliza as práticas educativas
do DESED.
O grupo tem visão educacional alinhada à posição pedagógica libertadora e
humanista. Alguns instrutores são fundamentais para estabelecer rumo filosófico ao trabalho educativo. Entre eles, Ana Liési Thurler, Jorge Roux. Eles se
destacam entre os que trabalham para firmar princípios e diretrizes que proporcionem uma educação de base humanista no DESED, enfim, para estabelecer
uma filosofia de educação para o Banco.
Dorival Caymmi grava o
disco O Mar.
1975
1974
Do esforço do grupo resultam os três pressupostos filosófico-educativos, que
demarcariam as visões de homem e de mundo a concretizar-se na prática pedagógica dos educadores da instituição. Primeiro, o homem é visto como ser
situado. Datado. Localizado. Portanto, a prática pedagógica deve levar em conta
a marca existencial dos educandos. Respeitar culturas, considerar saberes oriundos das experiências do aprendiz. O segundo credo prega que o homem é ser
de consciência. Capaz de analisar e refletir sobre sua condição existencial. O
Miltom Nascimento
grava o disco Minas.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 63
terceiro pressuposto inscreve uma visão do homem como ser de liberdade, capaz
de fazer escolhas e agir no contexto histórico-social.
A assunção desses pressupostos é fundamental para humanizar a trajetória da
educação no Banco. Ousadia num momento político marcado pela opressão.
Um ultraje pronunciar as palavras liberdade e consciência, no tempo em que o
País está marcado pela semântica da vigilância, do controle, da obliteração da
autonomia.
Mas a semente germina. Depois disso, mesmo em momentos de retrocesso de
aspectos das relações institucionais, a trindade preceitual, que encerra um discurso afirmativo rumo à autonomia e à humanização, favorece a adoção de
prática pedagógica alinhada a princípios democráticos.
Educação permanente
O domínio de uma profissão não exclui o seu aperfeiçoamento. Ao
contrário: será mestre quem continuar aprendendo.
Pierre Furter
Em dezembro de 1975, é promulgada a lei 6.297, regulamentada pelo decreto
77.463, de 20.4.1976. A lei oferece possibilidade de dedução do lucro tributável do dobro das despesas de custeio e investimentos, comprovadamente realizadas, na data-base, em projetos de formação profissional.
A nova legislação impacta, de imediato, a política de capacitação. Há um incremento das ações para ampliar e diversificar as atividades para atendimento da
massiva necessidade de formação do pessoal do Banco.
Leci Brandão grava o seu
primeiro LP, Antes Que
Eu Volte a Ser Nada.
1976
1975
Na esteira da novidade, em 1976, o funcionário Vicente da Costa Alves é convidado pelo então presidente do Banco, Ângelo Calmon de Sá, para chefiar o
departamento. O novo chefe já era funcionário da área, onde ingressara em outubro de 1966. Antes de assumir o posto, exerceu funções de assistente técnico
e de auxiliar nos trabalhos administrativos. Era também instrutor na área de Relações Humanas, fez estágio na Sorbone e havia concluído o curso de Psicologia
Industrial, na Saint Cloud. Entusiasmado com o desafio, ele traz inovações para
Ferreira Gullar
lança o livro Poema
Sujo.
64 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
a área. O diretor de recursos humanos, Olyntho Tavares de Campos, solicitalhe a elaboração de nova política de treinamento para o Banco. O objetivo é
aproveitar as vantagens da legislação para incrementar a capacidade produtiva
do departamento.
Assim, é implantado o Programa de Formação Permanente, inspirado no pensamento utópico do francês Pierre Furter. O pensador acena, à época, com o
papel da educação no processo de inovação e, até hoje, é referencial teórico dos
que estudam o assunto. O programa apóia-se, também, na teoria do filósofo
e pedagogo francês Gaston Berger. Primeiro pensador a usar a palavra “prospectiva” em sua obra “A Atitude Prospectiva”, de 1957, o filósofo é igualmente
preocupado com a inovação e a necessidade da educação contínua.
Com a nova política de formação, a predominância de conteúdos acadêmicos
dos primeiros cursos realizados no DESED é substituída por orientação mais
pragmática. Na crítica dos avaliadores, as ações de formação contemplam prioritariamente os comissionados de execução e o segmento de gerência. Poucos
cursos destinam-se aos funcionários de execução, não-comissionados. A distribuição das oportunidades de capacitação, pelos diferentes níveis, objetiva ajudar
a formação gradativa do funcionário e prepará-lo na construção da carreira.
Há uma reorganização estratégica dos cursos. O planejamento global, tendo
como eixo operacional a modularização dos treinamentos, é a grande inovação.
O objetivo é dar agilidade e ajustar o trabalho do DESED às reais necessidades
de capacitação, com forte vinculação aos serviços.
O treinamento em módulos e o alinhamento dos cursos em segmentos, segundo a Diretoria de Recursos Humanos – DIREC, permitem que a formação
profissional se ramifique por todos os níveis funcionais, do básico até a alta
administração.
Vinicius de Moraes grava o
disco Deus lhe Pague.
1976
1976
Para construção dos módulos, é realizada análise das situações de trabalho. A
Encarregadoria de Desenvolvimento de Programas do DESED – ENDEP, elabora
os programas de treinamento. Mas só é possível iniciar o trabalho, depois de
estabelecidas as prioridades pelo colegiado do Sistema de Formação de Pessoal.
Sai a 6ª edição do livro Um Quarto
de Légua em Quadro, do escritor
gaúcho Assis Brasil.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 65
A agilidade dos processos é dificultada pelo fluxo burocrático da estrutura
organizativa do departamento. À época, a ENDEP é formada pelo Setor de
Planejamento – SEPLA, pelo Setor de Formação e Atualização de Instrutores
– SEFOR e pelo Setor de Audiovisual – AUDIO. Mas, apesar dessa estrutura,
quem faz o levantamento das necessidades de treinamento é a Encarregadoria de
Informação e Análise – ENFOR. É um longo caminho administrativo a percorrer
até a concretização do módulo. O modelo de sistematização é alicerçado nos
seguintes instrumentos: o Catálogo Geral de Formação Profissional e o Mapa
Semestral de Levantamento de Necessidades de Treinamento. O “Catálogo”
é um documento auxiliar dos serviços. Orienta as unidades do Banco e
funcionários no cumprimento das disposições contidas na Política de Formação
de Pessoal. É chamado, costumeiramente, de “CIC Branca”, em virtude de a
sua encadernação fugir ao padrão normal de coloração azul, característica dos
manuais de instruções da empresa.
Realizado o levantamento das necessidades de treinamento, o resultado é remetido às unidades de seis em seis meses. As dependências fazem a análise de suas
necessidades e indicam a quantidade de módulos. O DESED analisa os pedidos
e os defere, quando é o caso. O deferimento já indica em qual centro de formação o funcionário será treinado.
Em 1977, a formação dos caixas começa a ser discutida. O Curso para Caixa Executivo – CAIEX é uma ação massificada, dirigida a segmento amplo.
Em conseqüência, a partir de 1980, o CAIEX começa a ser realizado de forma
mista. Parte no Centro de Treinamento e parte na agência, que passa a dar contribuição importante no processo de preparação dos novos caixas. O primeiro
momento é realizado nos Centros de Treinamento do DESED e tem duração
de oito dias. A segunda etapa é realizada in loco.
Alaíde Costa lança o disco
Coração.
1977
1976
O Relatório Parcial das Atividades do DESED, no 1º semestre de 1977, explica
que as transformações feitas a partir de 1976 são frutos da avaliação realizada pela
equipe do novo gestor do departamento. O diagnóstico mostra que o DESED
apresentava dificuldades para acompanhar o progresso verificado na empresa.
A estrutura administrativa do órgão, criado em 1965, precisava de reformas.
Publicação de Seminário
dos Ratos, de Lygia
Fagundes Telles.
66 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
Em 1978 são criados os cursos de Contabilidade – CONTA 1 e o curso de
Comunicação e Expressão – COMEX. São concebidos, também, o curso
Princípios de Administração e outros voltados para a carreira técnico-científica.
Esse ano marca, também, o estabelecimento de uma base filosófica para a educação institucional. Pressupostos que demarcam a visão de homem e de mundo, a
desenhar a prática pedagógica e que, ainda hoje, ajudam a compor os princípios
filosóficos da educação corporativa. Outra significativa contribuição oriunda
do Programa de Educação Permanente é o esforço para pensar e sistematizar a
formação dos instrutores.
A preocupação é cristalizar um referencial teórico que dê suporte à pedagogia
da empresa. À época, os instrutores já são reconhecidos como formadores de
opinião e como agentes com importante papel institucional.
O Programa de Educação Permanente rende importantes frutos. Há avanços
na democratização do treinamento e as ações educativas mostram sintonia com
a busca da eficiência pelo Banco. Há esforços no sentido de dar prevalência ao
fator humano. Em agosto de 1980, um balanço demonstra que o DESED, em
15 anos, já havia capacitado mais de 113.000 funcionários.
Relações Humanas – a contradição
... E não me peça que eu mate o moleque que mora comigo ele é feito de
barro é meu lado bandido é meu lado palhaço é meu lado doído.
Alceu Valença e Carlos Fernando
Elba Ramalho participa da
montagem da peça A Ópera do
Malandro, de Chico Buarque.
1978
1978
O DESED precisa aumentar o contingente de instrutores para dar conta da
crescente demanda. Assim, em 1981, uma seleção elaborada pela RESEL, classifica cem candidatos. Dentre os selecionados, 64 são aprovados no processo de
formação pedagógica, que também é seletivo. Fazem parte da primeira turma:
Antônio Sérgio Riede, Braulina Nunes de Andrade, Deolinda da Conceição
Gouvea, Fidelcino Souza Bomfim, Geszer Pires de Camargo, Guilherme Souza Magalhães, José Antônio dos Santos, Josenilto Carlos de Mendonça, Luiz
Oswaldo Sant’Iago Moreira de Souza, Maria Albeti Vieira Vitoriano, Maria da
Glória Silvestrin Zanon, Nilda Cáceres, Romildo Gouveia Pinto, Roque Tadeu
Gui, Valdir Flávio Ferraz de Campos, Valter Ivo Rostei Gonçalves.
Wagner Tiso lança o
primeiro disco solo.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 67
A acomodação dos novos é realizada com alguns tensionamentos. No grupo já
instalado na área, há oposições entre as visões teóricas. Um embate entre sociólogos e psicólogos anima as reflexões sobre a centralidade no indivíduo versus a
preponderância nos aspectos sociais na educação.
A querela presente na formação acadêmica resiste e os psicólogos querem dar
ênfase ao indivíduo. Mas, “e o social?”, perguntam os sociólogos. No entanto, as
discussões são imprescindíveis, em função das contradições entre a prática que
o grupo luta por instalar e a tradição pedagógica vigente no País. A concepção
didática ainda não tem nítida definição teórica. A filosofia pedagógica implícita
na prática que vigora, até então, integra visões teóricas que nem sempre conversam entre si. O ecletismo continua.
A pedagogia desediana apropria-se, por exemplo, de idéias do pensador Álvaro
Vieira Pinto, filósofo que defende uma abordagem histórico-antropológica da
educação, com ênfase na importância pedagógica das relações de poder e conflito na sociedade. Ao mesmo tempo, adota a idéia da pessoa como centro, do psicólogo Carl Rogers, que preconiza a centralidade do processo de individuação.
No grupo que chega, alguns funcionários têm formação pedagógica. O fato é importante por dois motivos: primeiro, amplia o aporte de conhecimentos didáticos
no departamento; segundo, tem papel fundamental na moderação do debate que
anima psicólogos e sociólogos. Os pedagogos contribuem para mostrar a importância de psicólogos e sociólogos no processo pedagógico, sempre plural. Mas o
embate se dá apenas em torno das idéias. As pessoas do grupo têm visão libertária
e constroem forte identidade como vanguarda numa empresa ligada ao governo.
Há certo arrojo na atuação do pessoal de Relações Humanas que traz na bagagem
textos de Rubem Alves e insere a pedagogia de Paulo Freire no material didático
que eles mesmos elaboram. As propostas didático-pedagógicas disseminam práticas democráticas. Explicita-se a contradição. Autores libertadores numa prática
pedagógica institucional que deve funcionar de acordo com as regras do País.
Café da Manhã faz
sucesso na voz de
Roberto Carlos.
1979
1978
Mesmo assim, enfrentando resistências, o grupo, ao planejar e ministrar os cursos, explora textos do filósofo Álvaro Vieira Pinto e do educador Paulo Freire.
Esses pensadores levam à prática pedagógica do departamento as sementes da
educação de adultos baseada na visão histórico-social. O conceito de práxis,
pilar das teorias de Gramsci e Paulo Freire, também é trabalhado na formação
dos instrutores.
Fagner vence o Festival MPB
com Quem Me Levará Sou Eu,
de Dominguinhos e Manduka.
68 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
O grupo de RH vai conquistando espaço e estimulando a reflexão sobre a prática educativa, cria horizontes para a educação crítica e constitui o embrião do
que mais tarde comporia o núcleo responsável pela formação pedagógica dos
instrutores.
Além da turma de RH, outros grupos, mesmo atuando em temas diferentes
do âmbito das Ciências Humanas, contribuem para a construção de práticas
pedagógicas que reafirmam o ambiente de sala de aula como espaço democrático e de construção do conhecimento. Podemos citar, como exemplo, o grupo
que ministra as disciplinas ligadas à área econômica. Esses instrutores atuam
intensamente no Curso de Formação Básica para Gerentes, trabalham de forma
integrada aos instrutores que ministram Relações Humanas.
O grupo de Economia ampara suas análises econômicas, em especial, na visão
estruturalista. Os debates são fomentados nas aulas e consolidam a formação
de um pensamento econômico que extrapola as lições de economia. Realiza
reuniões de estudo. O resultado das discussões serve, inclusive, de subsídio ao
Projeto da Reforma do Sistema Financeiro Nacional, para a Constituição de
1988. Entre os instrutores pioneiros, podemos mencionar Fernando Medeiros,
conhecido por Fernando Jaburu, Fernando Moisés Mualem, João Alfredo
Leite Miranda, José Branisso, Nemésio Altoé, Orlando de Menezes Tunholi,
Paulo Elias Chediak, Vanderley Campos, Vanderlei Alves Moitinho, Waldemar
Alvarenga Denser, Wilson Correia.
Novas diretrizes
Lançamento do LP No
Pagode, de Beth Carvalho.
1979
1979
O início da década de 1980 é marcado pela exacerbação da chamada “crise do
milagre”. Assim é que é chamado o momento que sucede à fase do “milagre
brasileiro”. Momento que registra taxas inéditas de crescimento econômico, em
declinio a partir de 1973 e marca o início da escassez do petróleo. A diminuição
da oferta do combustível tem repercussão nas economias da América Latina. O
reflexo da crise mundial atinge o Banco de modo significativo. Medidas econômicas imprimem necessidade de conter a expansão da base monetária. Como
conseqüência, o Banco reduz as aplicações no setor produtivo, o que contribui
para aprofundar o quadro recessivo no País.
Tom Jobim grava
o long play Urubu.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 69
Reconhecido como a máquina eficaz, entre as instituições do governo, o Banco
é historicamente chamado para implementar soluções de interesse nacional.
Os compromissos do Banco com o esforço do governo para atravessar o
momento impõem tarefas cruciais. O Banco é instado a enfrentar desafios
como: expansão da fronteira agrícola, fixação do homem no campo, aporte
financeiro à produção industrial, incentivo ao desenvolvimento de tecnologias,
apoio às pequenas e médias empresas, redução das desigualdades regionais e
captação de recursos externos.
O quadro traz implicações. No esforço amplo da instituição, a área de educação
ganha importância estratégica na mobilização de atitudes e no trabalho de capacitação dos funcionários para os desafios que a roda do tempo traz.
Começam os programas de desenvolvimento em massa. A ação é embasada na
busca de eficiência nos serviços, eficácia operacional, produtividade, concorrência e atendimento. A preparação do pessoal incorpora a nova linguagem.
O sucessor de Vicente da Costa Alves é Paulo Rubens Mandarino. Na sua gestão, a ação educativa passa por processo de estudo para racionalização das ações.
O referido exame do sistema de capacitação tem como referência, três dimensões: a análise do indivíduo, da organização e do posto de trabalho. O objetivo é
estruturar programa básico de formação para um desempenho funcional eficaz.
O estudo produz o documento: “Sistema de Educação e Capacitação de Pessoal” que traz uma proposta cuja meta prioritária é a ampliação da capacitação,
via descentralização do treinamento e a implantação de programa de reciclagem
para atendimento das carências comuns a cada região.
Menino Maluquinho, de Ziraldo,
ganha o prêmio Jabuti.
1980
1980
A educação na empresa utiliza terminologia didática atrelada à semântica da
prática industrial. Os cursos que “estão na prateleira” são chamados “cursos de
linha”. O paralelismo da gramática pedagógica utilizada, com o vocabulário
empregado no chão de fábrica, não é à toa. O departamento precisa intensificar
a “produção” de cursos. Tudo colado à realidade socioeconômica do País. Embalado pela busca de competitividade industrial e alinhamento ao movimento
econômico mundial.
Milton Nascimento lança o disco
Sentinelas. A música Coração de
Estudante faz grande sucesso.
70 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
A preocupação com os custos da capacitação continua. Em 1985, o departamento é chefiado por Maurício Teixeira da Costa. Nesse ano, há um estudo profundo para alinhar as ações de treinamento a um sistema racional de projeção,
controle e uso de custos para minimizar despesas destinadas à capacitação.
Tal dinâmica leva à composição de equipe matricial, em 1985, para um diagnóstico das práticas e políticas do DESED. A avaliação detecta certo distanciamento entre a política de formação em andamento e a realidade organizacional.
Sinaliza urgência para rever as estratégias do departamento e estabelecer diretrizes para a capacitação. O trabalho de elaboração desses princípios parte de
análises do País, dos recursos humanos e do próprio Banco.
Chega a “Nova República”. Tempos da redemocratização do País, acenada na
eleição de Tancredo Neves para presidir a nação, ainda que eleito por voto indireto. A morte de Tancredo, antes da posse, leva ao poder José Sarney. O novo
presidente o assume num quadro agudo de inflação e de dificuldades com a
dívida externa. A meta do governo é implantar política econômica de combate
à inflação. Há um quadro de recessão e crise.
Nessa conjuntura, os responsáveis pelo diagnóstico do DESED traçam, no segundo semestre de 1985, linhas gerais orientadoras de nova política para preparação do pessoal. É preciso responder aos sinais que o cenário econômicofinanceiro envia.
Já estão longe os primeiros passos rumo à automação bancária. Em 1940, é
realizado o primeiro estudo para mecanizar os serviços no Banco. Contudo,
até 1945 ainda não existe na empresa um plano ou programa geral com essa
finalidade. Em 1958, é criado o Serviço de Mecanização Geral. Em 1967, a
estrutura organizacional já é planejada prevendo a implantação de serviços de
alta mecanização. Nesse ano, Celso Albano Costa, então chefe do DESED,
apresenta, na Organização Internacional do Trabalho – OIT, um trabalho sobre
automação no Banco.
Eles não Usam Black Tie, de
Gianfrancesco Guarnieri, é
sucesso de crítica.
1981
1981
Essa digressão permite visualizar, num flash, alguns marcos do Banco no trabalho em direção à automação. A tecnologia de base microeletrônica, introduzida
no início dos anos 1960, modifica os requisitos de qualificação do bancário.
Os centros de processamento mudam a rotina administrativa e os modelos de
gestão dos bancos. Esta tendência avança nos anos 1980, com a implantação de
Luiz Gonzaga e
Gonzaguinha gravam
juntos Vida de Viajante.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 71
sistemas on line proporcionados pela automação. As agências podem se interligar em tempo real. Na metade da década de 1980, a automação de retaguarda
permite interconectividade em rede, modelo segundo o qual todas as unidades
são ligadas a um computador central, que realiza o processamento.
Nesse quadro, o Banco precisa compor um parque tecnológico para acompanhar a
evolução do mercado, compensar as perdas de participação no sistema financeiro
e incrementar a capacidade do pessoal para lidar com as novas tecnologias.
As diretrizes elaboradas pela equipe matricial para a nova política de formação
visam o desenvolvimento do quadro funcional em direção à percepção clara da
realidade brasileira, ao comprometimento e vinculação de suas ações aos objetivos nacionais, buscam também estimular o gosto pela inovação e pelos desafios
e elevar a motivação para o trabalho.
Nesse sentido, os recursos humanos da empresa são colocados como o principal
patrimônio. As diretrizes valorizam a organização participativa como fator para
o exercício da autonomia. O foco é o desenvolvimento do autocontrole e o autodesenvolvimento das pessoas e equipes. Do ponto de vista político-pedagógico, a proposta de formação traçada a partir de 1985 não se diferencia muito da
de 1977. O que distingue as duas proposições é a perspectiva estratégica, com
a ênfase, dada pela nova política, à necessidade de capacitação voltada para a
ambiência externa. A empresa precisa “oxigenar-se”.
Educação para o trabalho, essa é a visão de qualificação implícita nas novas diretrizes. O objetivo é o aprimoramento profissional aliado ao social. Na perspectiva filosófica, o trabalho é tomado, pelo menos teoricamente, como princípio
educativo, pela sua centralidade como fator de produção de saberes. É visto
como fonte de integração do funcionário à coletividade.
O grupo Fundo de Quintal
grava o disco Samba é no
Fundo de Quintal.
1982
1981
As novas diretrizes reeditam os pressupostos educacionais e filosóficos firmados
em 1977. O referencial teórico anterior continua, ampliado, porém, pela inclusão de temas como criatividade e habilidades de gestão. As diretrizes pretendem
que as ações de desenvolvimento do pessoal devem focar além do aprimoramento de conhecimentos e habilidades. A formação deve promover a capacidade de
enfrentamento de situações novas e de entendimento da operacionalização das
orientações decorrentes das mudanças. A nova política é adotada em janeiro de
1986, após vinte anos de criação do DESED.
Maria Bethânia grava o LP Ciclo.
72 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
Plano de desenvolvimento gerencial
A política de formação do pessoal pretende avançar na instituição de um processo de capacitação global e contínuo. Nessa direção, em agosto de 1980 é lançado o Plano de Desenvolvimento para Gerentes – PDG. O objetivo é trabalhar
o conceito de eficácia gerencial.
Entre as ações do plano, está o Programa de Leitura Dirigida que consiste na
publicação de pequenas cartilhas com assuntos importantes para a formação
gerencial. Estilos de gerência no Banco e as implicações da burocracia para as
empresas são exemplos de temas explorados. Como ferramenta para auxiliar na
exploração do texto, é utilizada uma ficha de orientação para leitura, com provocações para que o leitor consiga extrair o máximo que o texto pode suscitar.
Outra ação que se insere no PDG é o Curso de Formação Básica para Gerentes
que se desdobra em cinco disciplinas. Análise Econômico-financeira, Direito
Aplicado, Gerente do Banco do Brasil, Noções de Economia e Relações Humanas compõem os conteúdos priorizados na formação.
A disciplina Relações Humanas tem importante papel para trabalhar conceitos
referentes à liderança, maturação grupal, desempenho de papéis. Enfatiza-se na
disciplina, nesse momento, o treinamento dos gerentes para a condução de reuniões de trabalho, dentro de uma visão mais participativa. A ocasião coincide
com a implantação de sistemática de avaliação de desempenho calcada numa
visão formativa, o que pressupõe a necessidade de acompanhamento do desempenho funcional e inserção do diálogo no processo avaliativo.
João Ubaldo Ribeiro
publica Viva o Povo
Brasileiro
1983
1983
Os temas desenvolvidos objetivam estimular, nos treinandos, habilidades que
ajudem na realização de funções administrativas básicas, de acordo com a administração científica: planejar, dirigir, controlar, coordenar. Os conhecimentos são direcionados para áreas de interesse imediato do Banco. É necessário
conhecer as características da economia regional; conhecer o Banco, seu papel
na economia, ter noções de Direito. O curso visa trabalhar atitudes para que
a gerência média atue de forma mais efetiva. Dinamismo, poder de decisão,
liderança e iniciativa são fomentados como fatores críticos no comportamento
gerencial. O momento é bem representativo das mudanças de características
costumeiramente valorizadas para a ascensão funcional, como disciplina e coInício do projeto Música pelo
Brasil, que leva a Orquestra
Sinfônica Brasileira a toda a
Região Sul do País.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 73
nhecimento técnico. Elas cedem espaço para perfis mais dinâmicos e agressivos
do ponto de vista negocial.
Os gerentes que passam pelas salas de aula do PDG aprendem que é preciso
“oferecer os mais eficientes serviços e dispensar o melhor atendimento, destacar
os serviços prestados pela qualidade, correção e presteza”.
Como disse Machado de Assis, o futuro tem sempre razão. Em se tratando da
formação para gerentes de nível médio, os idealizadores do PDG perceberam
bem a tendência que o futuro prometia.
Gerência média e formação do pessoal
Mestre não é quem sempre ensina, mas quem, de repente, aprende.
João Guimarães Rosa
Passados, praticamente, os primeiros vinte anos desde a fundação do DESED,
é preciso ampliar as estratégias para capacitação do pessoal. A experiência e a
maturidade da área já permitem enxergar que as estratégias para qualificação
do pessoal não podem depender, unicamente, do sistema educacional da empresa, via treinamento formal. O segmento de funcionários que exercem cargos
de gerência média, por realizarem um intercâmbio mais próximo com os funcionários, passa a ser visto como instância hierárquica com importante papel
formativo.
Para concretizar uma política que viabilize o desempenho dessa função orientadora, pela gerência média, é incluída, no Curso Básico de Supervisão direcionado a esses comissionados do nível médio, a disciplina Orientação sobre
Treinamento em Serviço.
O Curso Básico de Supervisão – CBS – é parte de um programa destinado a
preparar a gerência média das agências, dos Centros de Processamento – CESEC
e da direção geral e constitui pré-requisito para a posse em cargos de supervisão.
Tom Jobim cria trilha sonora
para O Tempo e o Vento.
1985
1985
O curso é desenvolvido em duas fases. A primeira etapa consta de disciplinas
que visam desenvolver habilidades e atitudes fundamentais ao exercício das funções inerentes à gerência de nível médio. O conteúdo do curso é composto pelas
Plínio Marcos escreve a peça
Madame Blavatsky.
74 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
seguintes disciplinas: Relações Humanas e Públicas, Noções de Administração,
Organização e Métodos, Noções de Direito, além de Orientação sobre Treinamento em Serviço, já citada.
A segunda etapa segue o modelo de modularização dos conteúdos que são ministrados de forma isolada. Entre os temas explorados, estão: Comunicação,
Grafoscopia, Estatística, Marketing, Processamento de Dados, Noções de Economia, Finanças, Geografia Econômica, Câmbio, Comércio Exterior, Análise
de Balanços. Alguns desses módulos são abordados com o auxílio dos recursos
da educação à distância.
A importância da disciplina Orientação e Treinamento em Serviço é fundamental nesse programa. Ela dá ênfase aos aspectos didáticos nas tarefas do supervisor. A função pedagógica é valorizada pelo papel dos gerentes de nível médio
como agentes que contribuem significativamente para formar os funcionários
nas rotinas e serviços bancários. No roteiro do instrutor da disciplina, datado de
junho de 1984, um texto afirma que:
Aos administradores, e em especial, aos supervisores, cabe a indelegável tarefa de formar seus funcionários nas rotinas e serviços bancários, cujos aspectos operacionais estão minuciosamente detalhados nos normativos. Os elementos subjetivos devem ser repassados
na prática, reforçados pela experiência sedimentada dos superiores
hierárquicos.
A disciplina OTS constituirá, futuramente, curso de linha com carga horária
maior que as dezessete horas previstas para a sua realização no Curso Básico de Supervisão. Segundo relatos, a OTS foi decisivo para que muitos dos seus treinandos
viessem a tornar-se instrutores. O curso cumpre seu objetivo: sensibilizar o segmento da gerência para a importância de o gerente manter atitude orientadora
para cumprir seu papel de agente desenvolvedor do seu grupo de trabalho.
Programa de Pós-graduação no País – PPG
Radamés Gnattali
lança o disco Radamés
Gnattali.
1986
1985
A tendência da educação empresarial deve evoluir para o desenvolvimento do empregado como profissional e ser social, pretendendo miniEstréia a peça O Mistério
de Irma Vap, dirigida por
Marília Pêra.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 75
mizar os efeitos de uma passagem deficitária pelo sistema educacional,
quando esta ocorre, ou instala-se a obsolescência dos conhecimentos e
de habilidades necessárias ao campo de atividade produtiva ou das
mudanças da área tecnológica.
Análise das áreas de capacitação profissional das empresas, realizada pela profª
Wally Chan Pereira, Doutora em Educação pela UFRJ, no artigo: Contextualização da educação na empresa. O trecho analisa o período de 1979 a 1984 e
é parte de texto produzido para a Secretaria de Formação e Desenvolvimento
Profissional em1999.
Na década de 1980, a formação do trabalhador começa a dar ênfase ao conceito
de polivalência, ou seja, treinamentos com grande nível de especialização não
conseguem formar profissionais com qualificação ampliada na perspectiva de
uma educação geral requerida pela nova realidade. A elevação do nível de conhecimento vai se consolidando como exigência. Em meados da década, o País
atravessa acentuado período de transição. A reconstrução da democracia reveste
a cena nacional com novas dinâmicas institucionais. A busca da produtividade
empresarial, a internacionalização do mercado de produtos e a tendência de concentração dos pólos econômicos internacionalizados sinalizam que as formas
tradicionalmente usadas para a capacitação profissional precisam ser revistas.
No Banco, é preciso aprimorar os critérios de estímulo aos funcionários para
ampliação do nível de escolaridade. Assim, em 10.12.1985, a carta-circular
10.662, assinada por Arideu Galdino da Silva Raymundo, institui o Programa
de Pós-graduação no País – PPG.
O programa estabelece critérios para concessão de incentivos à participação dos
funcionários em cursos de pós-graduação no País, nos níveis de mestrado e doutorado, em instituições brasileiras de ensino reconhecidas pelo Ministério da
Educação. As áreas eleitas como de interesse para o Banco, são: Administração,
Arquitetura, Contabilidade, Ciências Sociais Rurais, Comunicação, Direito,
Economia, Engenharia, Estatística, Informática, Medicina, Serviços Sociais e
Zootecnia.
Jorge Aragão lança o
disco Coisa de Pele.
1986
1986
A escolha dos bolsistas do programa deverá basear-se em critérios de merecimento, compreendido a partir de dois aspectos: desempenho funcional e excelência
da instituição de ensino. Cabe ao Banco escolher os temas de pesquisa, dentre
Martinho da Vila grava o disco
Batuqueiro.
76 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
os abrangidos na área de concentração pretendida pelo funcionário-estudante,
que se compromete a dedicar-se integralmente aos estudos.
O terceiro item do termo de compromisso que o aluno assina ao ingressar no
programa chama atenção por ser bem representativo da importância do papel
do funcionário do Banco como modelo de retidão e dedicação para a sociedade,
por isso, o transcrevemos abaixo:
Conduzir-me de maneira compatível com as responsabilidades de
treinando e funcionário do Banco do Brasil, empenhando-me para
o melhor rendimento escolar e mantendo atitudes que me recomendem socialmente.
O relacionamento do bolsista com o Banco se dá pelo permanente contato com
o DESED, via relatórios informativos dos resultados obtidos e compromissos
com a entidade escolar.
O PPG marca o momento do acirramento da vinculação do nível de escolaridade ao desempenho profissional qualificado e de excelência, como bem ilustra o
texto a seguir de Neise Deluiz:
Embora a exigência de escolaridade no sistema bancário seja o 2°
Grau, é sempre vantajoso para a empresa o nível universitário, na
medida em que o conjunto de informações adquiridas e a atitude de
“aprender a aprender” possibilitam uma visão sistêmica sobre o conjunto de relações com o ambiente intra e extrabanco, além de ampliar a capacidade de abstração e adaptabilidade a novas situações.
Fim da Conta de Movimento – impacto
Centenário de Villa-Lobos. Todos os
programas da Orquestra Sinfônica
Brasileira contam com obras do autor.
1987
1987
Em 1986, o Banco é submetido a novo modelo de relacionamento com o Banco
Central e com o Tesouro Nacional. A empresa perde a prerrogativa de movimentar valores da Conta de Movimento que o Banco Central mantinha para
contabilizar as operações do governo federal. Com ela, vão-se os recursos a custo
zero e a garantia de suprimentos para as operações de crédito e para o financiaHerivelto Martins se apresenta no
Teatro Municipal do Rio de Janeiro,
ao lado de Elizeth Cardoso.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 77
mento da produção. O fato exige muitas negociações e esforço da direção do
Banco para minimizar os impactos da medida. Na época, o presidente Camillo
Calazans está à frente da instituição. Com a mudança, o Banco pode praticar as
operações, até então realizadas somente pelos bancos comerciais. As instituições
financeiras do exterior são autorizadas a operar e concorrer livremente no mercado financeiro do País.
Acirra-se a competição no setor. Os bancos são autorizados a operar com a
venda de produtos tradicionalmente não-bancários: seguros, títulos de capitalização, previdência privada.
Os cursos criados no período trazem a marca da busca de competitividade, priorizam a capacidade dos funcionários de realizarem negócios rentáveis. É fruto
dessa época de muitos desafios o aparecimento de cursos como Rentabilidade
Financeira – RENTA, Produtos do Banco – PRODU, entre outros que pretendem preparar os funcionários para a competitividade do mercado financeiro.
O processo de validação dos cursos antes de serem inseridos na programação,
para possíveis ajustes, é cada vez mais aperfeiçoado. A turma experimental é
bem explorada no sentido de possibilitar a avaliação da pertinência do novo
treinamento, tanto de conteúdo, quanto de adequação metodológica e de recursos didáticos.
A prospecção das necessidades de capacitação está sistematizada. O Levantamento das Necessidades de Treinamento é executado trimestralmente pelo setor
de Execução e Controle de Programas, junto aos diversos departamentos da empresa. O Mapa de Necessidades de Treinamento é preenchido com informações
enviadas pelas unidades do Banco. Essas indicam a quantidade de funcionários
a serem treinados em cada curso. A partir das informações é elaborado o cronograma de treinamento.
Zeca Pagodinho lança o
vinil Jeito Moleque.
1988
1988
Um balanço permite afirmar que houve progresso real no processo organizativo
da educação na empresa e que a integração das ações de capacitação seria importante na estruturação da área de educação como setor estratégico. Os técnicos
da área e os educadores, ao longo do tempo, desenvolvem uma história que vai
consolidando o departamento como núcleo de competência didática. Os elementos da pedagogia sócio-construtivista estão, de certa forma, arraigados.
Nos cem anos da Lei Áurea, a
Mangueira desfila com o enredo Cem
Anos de Liberdade: Verdade ou Ilusão.
78 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
Mas são grandes os desafios trazidos pela perda da Conta de Movimento. Os
novos tempos apontam, sobretudo, para a necessidade de revisão do modelo de
formação do segmento gerencial. A ênfase passa a ser o negócio. A intermediação financeira é o conteúdo por excelência. É necessário avançar na instalação
de cultura negocial na instituição. Por isso, impõe-se a expansão da capacitação
dos gerentes.
Começa a década de 1990
A década nasce com a herança dos acontecimentos mundiais dos anos mil novecentos e oitenta, que mudaram a face do planeta: o fim da confrontação ideológica que alimentou a Guerra Fria; reestruturação e abertura da antiga URSS;
a reunificação da Alemanha; a distensão econômica da Europa do Leste e da
China e por fim, a formação de blocos econômicos.
Os países emergentes empreendem esforços para reformar suas economias, em
aderência às regras que orientam a globalização. Nosso País também sente os
efeitos da corrida. Nesse cenário de incertezas, o Banco quer avançar no padrão
de competitividade no âmbito do sistema financeiro para cumprir sua missão
institucional, que passa por reajustes para maior adesão à dinâmica da economia
globalizada.
O mercado financeiro do País exige contínuas modificações estruturais para
acompanhar a realidade. A palavra de ordem é flexibilidade.
Joãozinho Trinta faz seu desfile
histórico na Beija Flor: Ratos e
Urubus, Larguem Minha Fantasia.
1989
1989
Na educação nacional, a mundialização da economia repercute nos currículos
escolares e na criação de novos cursos universitários. Os cursos com disciplinas
voltadas para a intensa aplicação da Informática e os ligados à Engenharia da
Automação ganham destaque no nível do ensino de 3º grau. Nos cursos de pósgraduação, as formações com temas ligados à gestão de pessoas e compreensão dos
processos humanos conquistam amplo espaço. Se antes, a disciplina e o ajustamento são vistos como atitudes a serem fomentadas, a década de 1990 traz desafios que pedem roteiros escolares mais afinados com uma realidade em constante
mutação. Para acompanhar o ritmo é necessário trabalhar conteúdos e atitudes
que estimulem, nos educandos, o gosto pela inovação e pelo empreendedorismo.
Cazuza grava
seu último álbum:
Burguesia.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 79
A Informática já faz parte do dia-a-dia das empresas e muda a forma de organização do trabalho, sobretudo na área de serviços. No Banco, há um intensivo
esforço visando capacitar os funcionários para utilizar processadores de texto e
lidar com programas informáticos voltados para o suporte de procedimentos
administrativos e contábeis. A tarefa só é possível, graças ao trabalho dos multiplicadores – funcionários com notório nível de conhecimento em alguma área
– capacitados pelo DESED para atuar, de forma sistemática, na multiplicação
desses saberes. Assim, no transcorrer do período que vai do início até mais da
metade da década, os funcionários que detêm conhecimentos em Informática,
a maioria vinda das áreas de logística e tecnologia do Banco, participam de
verdadeira maratona para capacitar todos os funcionários. A área de educação
coordena e centraliza as tarefas para essa finalidade, em parceria com as demais
áreas. O trabalho pedagógico dos multiplicadores é orientado por metodologia
própria criada no DESED, denominada Fazendo e Aprendendo, o FAZAP. O
método é baseado na concepção construtivista de ensino e aprendizagem e nas
propostas pedagógicas para educação, implícitas nas teorias de Álvaro Vieira
Pinto e Paulo Freire e nas lições sobre educação de adultos de Rubem Alves.
As mudanças continuam...
A sistematização da educação no Banco do Brasil – proposta de 1990
Não obstante as realizações do período e a competência dos técnicos e educadores do departamento, a concepção e o desenvolvimento de programas de formação profissional no final da década de 1980 apresentam dificuldades para corresponder à velocidade das mudanças que a empresa vive. As chefias esforçam-se
para maximizar a capacidade operativa do DESED. Roberto Pinto Meireles e
Sérgio de Abreu Mautoni chefiam o departamento no final da década.
Há considerável aumento da demanda de capacitação. O departamento começa
a rever seus processos organizativos. Aspectos que levam à ampliação dos prazos
para viabilização e entrega, às áreas demandantes, de soluções para as necessidades
de capacitação. Isso deflagra questionamentos das pessoas da própria diretoria.
Criação da World
Wide Web - www.
1990
1989
Assim, alguns departamentos procuram resolver, por iniciativa própria, as necessidades de formação dos seus quadros e dos funcionários das agências, especialmente quando algum produto é lançado.
Chitãozinho e Xororó
gravam o disco Cowboy
do Asfalto.
80 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
Na esteira dos acontecimentos, em 1990, o DESED age no sentido de redirecionar suas ações formativas. Ao encontro disso, é construído um modelo de
sistematização da formação apoiado na vinculação da formação funcional aos
cargos e níveis hierárquicos.
A educação no trabalho é o pilar dessa sistematização, pois o conteúdo ocupacional ganha centralidade para planejar a capacitação que, segundo o novo
modelo, será segmentada e baseada no desenho do posto de trabalho.
De acordo com o modelo de sistematização, duas vertentes passam a direcionar o
planejamento dos cursos: uma formação geral e uma específica. A primeira, vinculada aos níveis hierárquicos, aborda conteúdos relativos às relações interpessoais, grupais e hierárquicas, subdividindo-se nos seguintes níveis de formação:
formação básica, explorando conteúdos relativos a Negociação, Comunicação
e Expressão e Microinformática; formação para a gerência média, com ênfase
nos cursos de Administração do Fator Humano, Orientação sobre Treinamento
em Serviço e Organização, Organização Sistemas e Métodos; e a capacitação da
alta gerência em que figuram, como exemplos, os cursos Desenvolvimento do
Sistema Gerencial, Gerência para o Desenvolvimento Organizacional e, ainda,
Política e Relações de Poder.
Na segunda vertente, a formação contempla conteúdos direcionados a funções
específicas, como a do operador bancário, a dos auditores, a dos analistas e os
dirigidos às funções da carreira técnico-científica, dentre outras. Especial atenção
é dada à formação do profissional de operações bancárias, maior parcela do
funcionalismo, voltada à atividade-fim da empresa, categorizando-se os cursos
por áreas de conhecimentos.
Essa proposta foi exaustivamente discutida entre as diretorias, suscitando considerável nível de envolvimento das áreas na elaboração dos levantamentos das
suas necessidades de treinamento. Participaram as áreas de Crédito, Finanças,
Comércio Internacional, Tecnologia, Auditoria.
Paulo Autran dirige e atua ao
lado de Tônia Carreiro, na peça
Mundo, Vasto Mundo.
1990
1990
Uma das teorias que embasa a formação gerencial é a Teoria da Liderança Situacional, criada pelos teóricos norte-americamos Kenneth Blanchard e Paul
Hersey. Em linhas gerais, a teoria discute o papel do líder, propondo que ele
Mistérios de Curitiba, de Dalton Trevisan,
é encenada por Ademar Guerra no Teatro
de Comédia do Paraná.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 81
avalie cada pessoa, individualmente, analisando sua atuação. Nessa teoria, a circunstância ou a contingência é central, por isso propõe estratégias de liderança voltadas para o alcance dos objetivos e metas individuais e organizacionais,
adaptáveis ao momento e às características do grupo: a teoria prevê a existência
de quatro estilos de liderança – direção, orientação, apoio e delegação – de acordo com as necessidades dos membros da equipe.
Mais tarde, essa abordagem começa a sofrer fortes críticas no meio acadêmico. Um dos motores dos questionamentos é a visão de que os conceitos dessa
teoria sobre o processo de liderança poderiam justificar práticas autoritárias
de gestão. Por isso, os instrutores discutem e repensam o alcance da teoria nos
processos formativos.
Do ponto de vista das estratégias negociais, a sistematização é coerente, ou
seja, é desenhada para proporcionar o desenvolvimento de habilidades instrumentais para o exercício das funções. O projeto diz que a prática educativa
será efetivada a partir dos conceitos de homem-cidadão e homem-integral.
Mas, de fato, a prática possível, a partir do que promete o documento, não
corporifica a visão de homem integral. A ênfase está na dimensão econômica.
Mas, a inclusão do tema da cidadania e da formação integral, no documento,
pode ser considerada um progresso.
O Programa de Sistematização do Treinamento privilegia conteúdos programáticos relativos às áreas de Gestão, Comércio Internacional, Crédito e Finanças.
No período, existem alguns cursos com ênfase nas Relações Humanas. No decorrer da década de 1990, paulatinamente, os cursos passam a priorizar conteúdos que visam a qualificação para o trabalho de intermediação financeira.
Mesmo os cursos da “área comportamental” ganham roupagem nova que demonstra a ênfase no resultado econômico.
Raul Cortez, dirigido por
Walter Salles, atua no
filme A Grande Arte.
1991
1991
O termo autodesenvolvimento é mencionado no documento e sinaliza a importância do esforço individual na busca de alternativa para a capacitação
profissional. É talvez, o primeiro programa interno que antecipa o autodesenvolvimento como modalidade educacional a ser formalmente explorada na
preparação para o trabalho.
Renato Teixeira
lança o disco Ao
Vivo em Tatuí.
82 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
Administração do Fator Humano
O curso Administração do Fator Humano – AFH é o sucedâneo das ações
educativas que exploram o tema Relações Humanas, até então. O objetivo final do treinamento é ajudar o participante a “Desenvolver-se para promover a
atuação participativa dos funcionários, visando a otimização do desempenho
das unidades de trabalho”. Destina-se, prioritariamente, à gerência média e a
seus substitutos. O processo seletivo para escolha dos instrutores é iniciado em
1992. O AFH constitui um marco no sentido de delimitar o período em que os
cursos que trabalham as relações interpessoais passam a estabelecer vinculação
mais direta entre relações humanas, produtividade e resultados.
Os relacionamentos passam a ser vistos como fatores para o desempenho empresarial. Entre os temas costumeiramente explorados como integração, comunicação, dinâmica grupal, são acrescidos conteúdos que exploram as funções
administrativas e o papel do gerente como catalizador das relações humanas
para incremento dos resultados. Assim, o aumento da produtividade é pensado,
também, como resultado da cadeia de relacionamentos da equipe e do modelo
de gerenciamento.
O curso discute as abordagens: científica, administrativa, humanística e sistêmica, mas dá destaque à última. Oriunda da Teoria Geral dos Sistemas defendida
pelo biólogo alemão Ludwig Von Bertalanffi, essa visão administrativa é baseada
na perspectiva de funcionamento organizacional numa dinâmica sistêmica. A
empresa é vista como um todo integrado e com propósito. Para essa abordagem,
as organizações são sistemas abertos em contínuo intercâmbio. Muitos termos
da abordagem sistêmica passaram a fazer parte do vocabulário administrativo.
Palavras como feedback, fluxo, inter-relação, sinergia, sub-sistemas mostram a
força dessa teoria como influência nas práticas administrativas.
Beto Guedes
grava Andaluz.
1991
1991
O AFH parte do esquema conceitual dessa teoria para analisar os processos interativos internos à organização, sem perder de vista a importância do ambiente
externo. Valoriza a fixação de objetivos organizacionais integrados e dá ênfase à
visão prospectiva em oposição à postura gerencial apegada ao passado. O curso
se insere entre as medidas que, no rol das mudanças do início dos anos mil novecentos e noventa, busca minimizar a atitude de excessiva valorização do ambiente interno – endogenia – detectada no diagnóstico realizado recentemente.
Chico Science forma a
banda Chico Science &
Nação Zumbi.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 83
Avaliação de desempenho – você escreve a sua história
Em 1990, é constatada a necessidade de se aprimorar o processo avaliativo
do Banco para torná-lo mais participativo. A divisão de avaliação do DESED
verifica que há “indefinição ou estabelecimento unilateral de metas pelo
avaliador e a não-implementação do esquema de acompanhamento previsto
nos normativos”. A partir daí, alguns funcionários oriundos de várias áreas do
Banco formam um grupo consultivo para refletir e avaliar o processo avaliativo
adotado até então.
Para entender a caminhada do processo avaliativo, desde suas origens até este
momento, é necessário “entrar no túnel do tempo” e voltar até a década de 1960.
O acompanhamento do desempenho dos funcionários do Banco começara na
década de 1960. Até meados de 1970, ainda era apenas um sistema informativo
sobre o desempenho funcional.
Em 1980, as concepções administrativas avançam no sentido de conjugar a
necessidade da informação sobre a atuação dos funcionários com uma filosofia
de desenvolvimento de recursos humanos.
Caetano Veloso lança o
disco Circuladô, síntese
de sua carreira.
1992
1992
A partir daí, a avaliação de desempenho funcional pretende ser um processo
aberto e participativo e dar ênfase ao diálogo como ferramenta para o desenvolvimento profissional e eficácia do desempenho do Banco. Em sintonia, com
essa pretensão, em 12.5.1980, Paulo Rubens Mandarino, chefe do DESED,
assina a carta-circular n° 8.444, em que trata da nova estratégia do departamento para preparação do ambiente institucional. O trabalho visa disseminar
uma cultura participativa para que o processo avaliativo consubstanciado no
Sistema de Avaliação de Desempenho Funcional possa transcorrer sob a ótica
de orientação e desenvolvimento do pessoal. No contexto dessa estratégia, as
reuniões de administradores, comissionados e funcionários passam a ter papel
educativo essencial. A instrução divulga a nova sistemática de reuniões que será
implementada e acompanhada pela divisão de avaliação. A sistemática inclui,
desde divulgação de textos sobre a boa condução de reuniões, até orientações
sobre como as agências devem registrar as deliberações e discussões nesses encontros que passam a ser realizados regularmente e terão o cumprimento dessa
periodicidade acompanhado.
Silviano Santiago
escreve o livro Uma
História de Família.
84 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
Voltando para 1992, a avaliação de desempenho, então, é reformulada e adota-se a visão das tarefas individuais no contexto do trabalho coletivo. A partir
dessa adoção, surge um instrumento importante. O processo é iniciado com a
elaboração de acordo de trabalho. O grupo se apropria, pelo menos em tese, dos
parâmetros e critérios a partir dos quais será avaliado.
Você, caro leitor, deve estar se perguntando por que falar de avaliação funcional
neste livro. O que ocorre é que, para disseminar uma cultura de avaliação de
desempenho como instrumento para a qualificação, é necessário pautar-se em
um projeto pedagógico que dê suporte às ações que visam uma aproximação
sucessiva das pessoas com a filosofia que se deseja implantar.
No Banco não tem sido diferente. As ações educativas têm papel fundamental. A
implantação da nova sistemática é orientada pelo Seminário ADF, um encontro
para sensibilização dos funcionários para a dinâmica avaliativa. Uma ação ampla
e experiência intensiva para refletir e discutir um processo tão complexo quanto
a avaliação no ambiente de trabalho. A atuação dos instrutores precisa revestirse de assertividade e muito tato. Os seminários, muitas vezes, são momentos de
crítica, desabafo. Ambiente de interrogações, conflitos e aprendizagem.
A ação educativa para disseminação da nova sistemática de avaliação é idealizada e concretizada de forma bastante efetiva. Os encontros são realizados
nas próprias unidades, nos grupos naturais. O lema do processo avaliativo é
“Você escreve sua história”. A chamada sinaliza a importância da participação
do funcionário como elemento fundamental para a efetividade da avaliação.
A forma como os encontros acontecem demonstra o papel do convívio em
grupo e da comunicação para o enfrentamento dos desafios que os processos
avaliativos suscitam.
Gerência para o Desenvolvimento Organizacional
O Grupo Boca Livre lança
o disco Dançando pelas
Sombras.
1992
1992
A edição do Boletim de Informação ao Pessoal, o BIP, de agosto de 1991, divulga a realização do primeiro curso de Gerência para o Desenvolvimento Organizacional, o GDO. Com início em 22 de julho, o curso é aberto com a presença
do diretor de recursos humanos, Celso Cavalcante.
O grupo 14 Bis grava
o disco Quatro por
Quatro.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 85
O GDO é concebido para compor a formação dos novos gerentes. Está inserido
no Programa Bolsa de Gerentes, um processo de identificação e formação de
gerentes, implantado pela carta circular 91/369, de 21 de maio de 1991.
Os instrutores do antigo curso Desenvolvimento de Sistemas Gerenciais, DSG
são convidados para compor o quadro de instrutores do novo curso. Contudo,
em novembro de 1992 há seleção para ampliação do quadro. Em 27 de novembro, os funcionários da divisão de recrutamento e seleção, Losangeles Divino
Pires e Paulo Sérgio Batista de Sousa assinam o resultado do processo seletivo,
com 28 classificados.
O objetivo final do curso é “preparar-se para participar do segmento da administração do Banco como agente de desenvolvimento da organização”. A metodologia conta com laboratórios, reflexões mediadas por recursos audiovisuais,
processos de diagnose, debates, entre outras atividades teórico-práticas.
Segundo a matéria do BIP, “o GDO e a Bolsa de Gerentes representam a sedimentação da responsabilidade do departamento na formação dos recursos
humanos do Banco”.
A chefia do DESED considera que a formação proporcionada no GDO irá dinamizar os processos de gerência e incrementar o crescimento da empresa.
Plano de sucessão empresarial – desenvolvimento de executivos
A acirrada concorrência do mercado financeiro impõe constante revisão dos
processos de gestão e também implica o provimento de aporte tecnológico,
que coloque o Banco num patamar compatível com o avanço da automação na
área financeira. Além dissso, é preciso mobilizar o corpo funcional e capacitálo permanentemente. Tudo isto compõe um leque de fatores imprescindíveis à
sustentação empresarial.
1993
O Banco precisa incrementar a preparação dos seus executivos para capacitá-los
para o exercício das funções de direção em sintonia com a nova realidade. Diante
disso, em 1993, é proposto o Programa de Desenvolvimento de Altos Executivos do Banco do Brasil. O argumento que justifica a necessidade da implantação
do programa é a inexistência de ação global para formar reservas que garantam a
Surge uma nova geração de bandas de rock dos anos
1990 como Pato Fu, Skank, Raimundos, O Rappa.
86 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
sucessão na empresa. O programa defende a institucionalização da formação dos
altos executivos e a adoção de plano de sucessão para os cargos mais elevados.
Os cursos internos são considerados insuficientes para garantir um espaço de
aprimoramento dos executivos da instituição. Além disso, o horizonte estratégico de cinco anos exige que o macroplanejamento organizacional conte com
pessoas com visão estratégica, capazes de dirigir as ações na busca das metas e
objetivos propostos.
Para esboçar o programa e as ações dele originadas, é formado um grupo de
trabalho composto pelos funcionários: Braulina Nunes de Andrade, Carlos
Alberto Dobbin, Cláudio Loureiro Pereira Guimarães, Eliana Santos Faccini,
Jair Antônio Bilachi e Waldemar Denser. O funcionário Pedro Paulo Carbone,
egresso de curso de pós-graduação, realizado com o patrocínio do Banco e que
havia estudado o perfil gerencial dos executivos do Banco, traz contribuições ao
grupo, a partir dos estudos realizados.
Pode-se afirmar que o programa visa um modelo de formação calcado no conceito de cultura organizacional e na disseminação da importância da dimensão
estratégica da função gestora, principalmente nos níveis tático e estratégico. O
perfil para a alta gerência é ampliado para incluir características adequadas às
exigências apontadas no programa, entre elas: empreendedorismo, senso democrático e atitudes inspiradoras de valores.
A sistematização do programa BB MBA organiza-se em dois níveis: formação
geral e formação específica. A formação geral objetiva fomentar visão compartilhada das questões básicas da empresa. A formação específica propõe aprofundamento de conhecimentos e habilidades nas áreas de atuação dos executivos.
A dupla Pena Branca e
Xavantinho grava o disco
Violas e Canções.
1993
1993
No período, ocorre intenso intercâmbio com instituições-modelo na área,
tais como universidades e outras entidades com experiência em capacitação
profissional, com intensificação dos cursos no estilo MBA-Master Business
Administration realizados nos eixos Rio – São Paulo – Brasília. Os cursos
são oportunidades de atualização ou complemento da formação e representam aporte de conhecimentos fundamentais para capacitar os executivos a
responderem às condições de competição exacerbada do mercado, notadamente o financeiro.
Ney Matogrosso lança o disco As
Aparências Enganam.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 87
Repensando o DESED
Como foi visto, a década de 1990 traz o acirramento do processo de globalização. As megatendências previstas para o decênio por futurólogos e analistas socioeconômicos, tornam-se realidade: cresce a interdependência entre os países.
Há o fortalecimento dos grandes blocos econômicos e a diminuição do papel
do Estado na economia.
No País, o impeachment do presidente Fernando Collor de Mello deflagra mudanças no cenário político brasileiro. É, talvez, o primeiro momento depois da
ditadura, em que a opinião pública e a mídia interferem ostensivamente no
rumo político do País. A realidade é dinâmica.
Os desafios, na instituição, para capacitar os funcionários são cada vez mais complexos. No DESED, os pedidos de consultoria têm tempo de resposta dilatado,
em face da grande demanda. Essa realidade ocasiona “gargalos” na concepção
e entrega de soluções educacionais e leva, às vezes, as próprias dependências a
criarem mecanismos para suprir suas necessidades.
Esse mecanismo atende a demanda no curto prazo, mas traz implicações para a
educação como trabalho institucional integrado. A recorrência da prática pulveriza as ações educativas, aumenta o número de pessoas empenhadas no esforço
de preparação e dificulta o acompanhamento da qualidade do processo pedagógico, do ponto de vista institucional.
A concorrência no mercado financeiro torna-se cada vez mais acirrada. Exige
novas habilidades e conhecimentos para operar efetivamente no ramo da intermediação financeira. O Banco precisa ser tempestivo na concepção e apresentação de produtos e serviços. Isso aumenta a urgência de revisar as estratégias e o
modelo de funcionamento do DESED.
A cantora Joyce grava o disco
Delírios de Orfeu.
1994
1994
Em 1993, no governo do presidente Itamar Franco, é nomeado para a chefia
do departamento o funcionário Luiz Oswaldo Sant’Iago Moreira de Souza. Exrepresentante eleito dos funcionários no Conselho de Administração do Banco.
O novo chefe desencadeia um processo de mobilização dos funcionários para a
construção de soluções que propiciem o alinhamento do DESED às exigências
de capacitação da empresa.
Carlos Lyra grava
Carioca de Algema.
88 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
Em maio de 1993, é instituído um grupo de trabalho para pensar e apontar
mudanças. O movimento fica conhecido como o “Repensando o DESED”.
Inicialmente, o grupo é constituído pelos funcionários: Álvaro Antônio Batista
da Silva, Antônio Sérgio Riede, Edgar Otero Silveira, Luiz Jorge Mir, Marcos
Fadanelli Ramos, Patrícia Teixeira de Almeida, dentre outros. Esses funcionários
figuram nos documentos institucionais que registram os processos realizados
para revisão da estrutura e funcionamento da área. A despeito disso, todo o
departamento é mobilizado e há, inclusive, participação de consultores internos
e externos.
O objetivo é incrementar a capacidade do DESED de dar respostas tempestivas
e eficazes. A saída é criar estrutura administrativa racional e horizontalizada.
O departamento precisa posicionar-se como agente catalisador das transformações culturais da empresa. Voltar à vanguarda dos acontecimentos. Ser um
órgão estratégico.
A missão inicial é realizar, de forma participativa, autodiagnóstico e pesquisa
externa ao DESED sobre a imagem do departamento. O “repensar” tem como
objetivo construir balizas que orientem a reestruturação da área. Um mês após
as primeiras reuniões, já há cerca de vinte funcionários dos diversos segmentos
funcionais do DESED envolvidos no trabalho. Depois, mais funcionários são
engajados no processo, via constituição de equipes matriciais, mecanismo que
aciona mais de uma dezena de colaboradores de outras dependências. Talvez
tenha sido esse processo de reestruturação interna o que envolveu o maior número de agentes institucionais na sua configuração.
Flávio Venturini lança o disco
Noites com Sol.
1994
1994
Segundo o relatório produzido pelo estudo, agregaram-se ainda, ao grupo original: Alzira Pereira Pelaquim, Diógenes Caldas de Oliveira, Francisco Antônio Romano, Gerson Menna Barreto Martins, João Batista Diniz Leite, Joatan
Vilela Berbel, José Carlos Fischer, Lázaro Luiz Neves, Luiz Alberto Andreola,
Maria Elisa Siqueira Borges, Maria Inês Campos de Torrecillas, Mário de Abreu
Motta Filho, Marízia Ferreira de Araújo, Neire Pareja, Newton Ribeiro Machado Neto, Paulo César F. de Melo, Paulo Fernando Casteli, Ricardo Rodrigues,
Rui Simon Paz, Sérgio Henrique Pasqua, Silvio Roberto Dias da Silva e Zilda
Vieira de Souza Pfeilsticker.
Dalton Trevisan publica Ah,
é?, obra-prima do estilo
minimalista.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 89
Somando-se a esse movimento, os cursos voltados para o trabalho com habilidades comportamentais, passam por avaliação. É constituída uma equipe para
estudar os treinamentos da área. O Centro de Formação de Belo Horizonte
abriga o grupo de reflexão sobre a efetividade desses treinamentos. O trabalho
é coordenado pelo supervisor do centro, Ivan Kardec Franco, e é realizado sob
orientação teórica do professor Miguel Arroyo, da Universidade Federal de
Minas Gerais.
O autodiagnóstico evidencia que, apesar da consolidação do departamento,
as dificuldades detectadas pelo grupo que repensou as diretrizes do DESED,
em 1985, permanecem. Persistem as necessidades de maior articulação entre
as áreas e de avançar numa prática de planejamento global e ainda, fomentar
o intercâmbio do departamento com outras agências educacionais.
A pesquisa junto ao público externo mostra uma imagem positiva das demais
áreas do Banco em relação ao DESED. Há respeito pela seriedade e competência dos técnicos e educadores, mas reafirma a percepção do grupo interno
quanto ao distanciamento entre as ações de formação e as necessidades institucionais. Alguns cursos são considerados desatualizados, a oferta é tida como
insuficiente e a distribuição de oportunidades para participar dos cursos é considerada restrita.
Para fazer frente à realidade detectada, o GT apresenta proposta de reestruturação administrativa e revisão dos processos de trabalho. Aconselha adoção de
estrutura mais ágil e flexível baseada na utilização de equipes matriciais conjunto de especialistas trabalhando em estrutura provisória em torno de um projeto
comum.
Surge o movimento
Mangue Beat.
1994
1994
A proposta prevê, também, a eliminação de cargos de gerência média e que
a implantação da nova configuração não acontecerá imediatamente. Será necessária estratégia de transição até que se consiga instalar uma estrutura que
funcione em rede, para descentralizar decisões e tornar as relações funcionais
menos verticalizadas.
Cláudio Mubarac expõe gravuras no
evento Poética da Resistência: aspectos
da gravura brasileira, no MAM Rio.
90 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
Alfabetização de adultos
Realizada na Tailândia, em 1990, a Conferência Mundial sobre Educação para Todos foi denominada Conferência de Jomtien. O encontro
teve como objetivo estabelecer compromissos mundiais para garantir a
todas as pessoas os conhecimentos básicos necessários a uma vida digna,
condição insubstituível para o advento de uma sociedade mais humana
e mais justa... Em decorrência de compromisso assumido na Conferência de Jomtien, foi elaborado, no Brasil, o Plano Decenal de Educação
para Todos, cuja meta principal era assegurar, em dez anos (1993 a
2003), às crianças, jovens e adultos, os conteúdos mínimos em matéria
de aprendizagem que respondam às necessidades elementares da vida
contemporânea (universalização da educação fundamental e erradicação do analfabetismo).
Adaptado de MENEZES, Ebenezer Takuno de; SANTOS, Thais Helena dos.
“Conferência de Jomtien” (verbete). Dicionário Interativo da Educação Brasileira
– EducaBrasil. São Paulo: Midiamix Editora, 2002. Site educabrasil.com.br
Marco destacado desse período é a disseminação, para todo o País, do Programa de Alfabetização de Jovens e Adultos do Banco do Brasil – BB Educar.
O programa forma muitos alfabetizadores e mobiliza voluntários do Banco e
das comunidades onde atua. A efetividade de sua ação junto às comunidades é
decisiva para a legitimação do programa, inclusive fora do âmbito da empresa,
que contribui, dessa forma, com o Plano Decenal de Educação para Todos, já
referido na citação acima.
Tendo sido concebido no DESED em 1991, o BB Educar nasce de experiência
pioneira de alfabetização de funcionários da Carreira de Serviços Gerais. A iniciativa permite que muitos trabalhadores agregados ao Banco, depois de alfabetizados, possam ingressar no Quadro de Apoio, exercendo a função de contínuo.
É lançado o primeiro disco da
Banda Chico Science & Nação
Zumbi: Da Lama ao Caos.
1994
1994
O programa tem como bases teórica e metodológica as contribuições de Emília Ferrero e Paulo Freire, cujos pressupostos sócio-construtivistas permitem
a abordagem dos alfabetizandos, aproveitando a riqueza de suas experiências,
condições culturais e existenciais.
Alcione lança o disco Brasil de
Oliveira da Silva do Samba.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 91
O programa de alfabetização é exemplo da transferência da experiência pedagógica do Banco para o benefício da comunidade visando o desenvolvimento
da educação no País.
O programa consegue forte adesão do funcionalismo e repercute imagem altamente positiva para a instituição. Na experiência pioneira, o BB – Educar
conta com a coordenação da funcionária Nilda Vieira de Bragança. O grupo
de alfabetizadores voluntários corporifica, na atuação engajada, uma imagem
do Banco ligada à solidariedade, ao dinamismo e à sintonia com as questões
nacionais. O BB Educar é a mistura feliz da garra dos funcionários com a consistência teórico-prática do programa. Tudo isso somado à histórica capacidade
de mobilização nacional da instituição.
A caminho, novos desafios...
Como pudemos observar, desde sua criação o DESED sofre modificações estruturais e é regido por diferentes formas de gestão. Suas atribuições, metas e
cargos passam por revisões para ajustes às transformações da realidade.
Em março de 1994, é concebida nova sistematização da educação corporativa que entraria em vigor a partir do segundo semestre daquele ano. O novo
modelo coloca o processo de gestão como fator estratégico para o desenvolvimento da organização; por isso, a ação do departamento deve proporcionar
o desenvolvimento de conhecimentos sobre a estrutura, funcionamento e desenvolvimento organizacional. Os cursos são integrados a partir do princípio
da educação no trabalho e os métodos de ensino e aprendizagem reafirmam a
consonância com a visão de educação permanente e com os pressupostos educacionais estabelecidos desde 1978.
É realizada exposição de Mestre
Vitalino no Museu Nacional de
Belas Artes, RJ.
1995
1995
A novidade, em relação às sistematizações anteriores – 1978, 1985 e 1990, é a
valorização do conceito de visão global e integrada da empresa como atitudes a
serem trabalhadas nos cursos, sobretudo nos de natureza comportamental. Na
distribuição dos conteúdos nos treinamentos são consideradas áreas de formação: Gestão Empresarial, Crédito, Finanças, Mercado, Produtos & Serviços,
Negócios Internacionais, Marketing & Comunicação Institucional, Auditoria
e Assessoramento Interno, Instrutoria e Saúde no Trabalho. Os conteúdos são
Lançamento do songbook de
Sinhô, com 68 músicas gravadas
entre 1927 e 1931.
92 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
escolhidos a partir do levantamento das necessidades das áreas, e os programas
de treinamento construídos com envolvimento dos órgãos responsáveis. A reorganização realça aspectos como: a democratização do saber, a educação compreendida como um direito.
Mas, o mercado, agressivamente concorrencial, acena com a contínua flexibilização das relações econômicas com profunda repercussão nas organizações,
sobretudo nas instituições financeiras. As empresas buscam a melhoria dos
seus processos produtivos, via integração dos fluxos de trabalho, inovação
tecnológica e racionalização de suas estruturas. A rotina financeira é cada vez
mais complexa.
Em julho de 1994, José Carlos Alves da Conceição assume a chefia do departamento. A estrutura de transição aprovada na gestão anterior já está em funcionamento. Alguns projetos são realizados por equipes matriciais.
Em 1° de janeiro de 1995, Fernando Henrique Cardoso recebe a faixa presidencial de Itamar Franco. O discurso de posse promete atacar a fome e a miséria.
Varrer as injustiças sociais. São implementados alguns programas para combater
a fome e o analfabetismo. O esforço, no entanto, é insuficiente para minimizar
os problemas do quadro social do País. Os indicadores sociais evidenciam um
cenário de concentração de renda.
As privatizações são vistas como meio para garantir equilíbrio à economia do
País, o que leva à intensificação dessa política, que avança para as áreas de telecomunicações, eletricidade e exploração de minérios. Em decorrência, alastram-se
os programas de demissões voluntárias nas instituições governamentais.
O Banco também adere às ações de enxugamento e em julho daquele ano é
lançado o Plano de Demissões Voluntárias – PDV, que concede incentivos para
demissão aos funcionários considerados “elegíveis” a partir de critérios estabelecidos pela instituição.
1995
A direção geral está em processo de remodelagem estrutural. O objetivo dos
ajustes é construir um modelo organizacional flexível, que consolide a imagem
e a funcionalidade de uma organização dinâmica e ágil.
Show Tributo a Tom Jobim, no Avery Fisher Hall, reúne Gilberto Gil, Milton
Nascimento, Gal Costa, Caetano Veloso, Sting e Caymmi.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 93
Mas, no contexto desse processo de ajustes, a ação de maior impacto junto ao
funcionalismo é a implementação do programa de desligamento voluntário:
um plano de demissão incentivada pelo oferecimento, aos funcionários, de vantagens pecuniárias e ações assistenciais. Há grande dificuldade, por parte dos
funcionários, para assimilar o rol de medidas que traduzem mudanças radicais
nos signos e práticas funcionais.
O discurso institucional é reformulado. A interlocução do Banco com os funcionários e com a sociedade em geral mostra a disposição para atuar em sintonia
com os movimentos da globalização.
Na dinâmica relacional Banco/corpo funcional, esse é, talvez, o momento mais
complexo. Por isso, não é fortuito o iniciar, mesmo tímido, da revisão dessa
estratégia de relacionamento, pouco tempo após a implementação do PDV.
Esses fenômenos não acontecem por acaso. A identidade do funcionário do
Banco, intimamente relacionada à sua percepção de um vínculo estável com a
instituição tradicional em que trabalha, é modificada. Historicamente, o papel
dos funcionários nas comunidades onde atuam coloca-os como agentes sociais
distintos no seio da sociedade, fator este que muitas vezes é impulsionador de
negócios. Pode-se afirmar que a identidade profissional do funcionário do Banco é, até aquele momento, uma identidade socioprofissional. Ou seja, a sua
ligação com o trabalho é extremamente imbricada com a sua inserção no meio
social. Por isso, é difícil intervir em sua autopercepção como empregado sem
atingir sua identificação como indivíduo ligado à instituição.
A complexidade do mundo em plena fase de aquecimento da mundialização
econômica, baseada num modelo competitivo, pouco regulado e tangido pelas
inovações da revolução digital, avisa que estão a caminho novos desafios.
Mauro Rasi escreve a peça: A
Dama do Cerrado.
1996
1996
Por tudo isso, a transição é complexa.
O Quatrilho, de Fábio Barreto, é
indicado para o Oscar de Melhor
Filme Estrangeiro.
A educação faz diferença
Primeira carta
Carta escrita por alfabetizando do Programa BB Educar. Turma Mossoró. 1993.
A educação faz diferença
O valor da convivência
Compartilho o momento em que fizemos a mudança de sede
do DESED.
O departamento funcionava na Quadra 515 Norte e foi para o
Edifício Tancredo Neves, no Setor de Lagos Sul.
A construção de um edifício destinado à área de educação foi um
diferencial. Foi ótimo. Empolgante.
Lembro-me da preocupação com cada detalhe da obra. Foram
várias as visitas que realizamos. Na verdade, era um juntar de
ambiente de educação com ambiente de trabalho, onde ambos
pudessem conviver e completar-se.
Sempre foi preocupação da área, criar um espaço acolhedor, que
favorecesse o aprendizado, o compartilhamento.
Queríamos assegurar um ambiente físico o mais agradável
possível. Assim, foi criada a Sala de Convivência, local onde os
participantes – no intervalo do almoço – tinham acesso à TV, jogos
de dama e xadrez, revistas e jornais, proporcionando o convívio e
a troca de experiências. Nesse espaço eram realizados eventos
e apresentações culturais e artísticas, nos quais os próprios
participantes se dividiam como atração e platéia. Enfim, era um local
de encontros e reencontros. De compartilhar. Descontrair.
A biblioteca, também, foi incorporada nesse ambiente de
educação, favorecendo e apoiando as ações de capacitação.
Foi instalada próxima ao auditório do Centro de Formação.
Uma ambiência propícia ao acolhimento dos participantes que
chegavam das várias regiões do País.
ANYSIE Rosa de Moura Pires. Funcionária do DESED no período de 1982 a 2006. Depoimento em
11.7.2006.
96 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
Terceiro capítulo
Para onde vamos?
A GEDEP – Gerência de Desenvolvimento Profissional
(1996 a 2002)
No alvorecer do século XXI, a atividade educativa e formativa, em todos
os seus componentes, tornou-se um dos motores principais do desenvolvimento. Por outro lado, ela contribui para o progresso científico e tecnológico, assim como para o avanço geral dos conhecimentos, que constituem
o fator decisivo do crescimento econômico.
Jacques Dèlors
A nova estrutura
O ano de 1996 começa. A política econômica do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso tem repercussão profunda na política de pessoal do
Banco. Na bagagem do novo ano estão também os rescaldos da reestruturação
iniciada em 1995.
Uma das conseqüências da reforma é a implantação de nova estrutura organizativa na Direção Geral. O modelo é baseado na subdivisão do fluxo operacional
em unidades. São criadas as Unidades Estratégicas de Negócios, as Unidades de
Função, as Unidades de Assessoramento ou Staff.
A opção por esse tipo de flexibilização na dinâmica da empresa e por novo
organograma prevê ritmo de trabalho que dê conta da complexa realidade
organizacional e ajude os dirigentes a enfrentar o desafio de atender os interesses
do conglomerado.
Chico César lança o disco
Cuzcuz-clã.
1996
1996
A estrutura adotada é típica de modelos organizacionais pouco definidos e cujos
empregados têm ligação transitória com a empresa. Traz modelo administrativo
de organizações que buscam ajustar-se à intensa dinâmica do mundo
globalizado; visa, segundo argumentos usados para sua aprovação, dar maior
celeridade à informatização, simplificar procedimentos, agilizar as decisões e,
Oscar Niemeyer inaugura
o Museu de Arte
Contemporânea de Niterói.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 97
em conseqüência, liberar mão-de-obra para realizar negócios. Na estrutura,
o Departamento de Formação do Pessoal – DESED, o Departamento de
Controle de Pessoal – FUNCI e o Departamento de Assistência e Disciplina
– DEASP são assimilados pela Unidade de Função Recursos Humanos
– UFRH. Gerência de Desenvolvimento Profissional – GEDEP é a nova
denominação da gerência que cuidará da área de educação no Banco. A sigla
DESED chega ao fim no momento em que José Antônio dos Santos é o
chefe do FUNCI e José Francisco de Carvalho Rezende é o último chefe do
DESED. Sucessor de Rubenvaldo Furtado da Costa. A GEDEP é composta
por três gerências de divisão, unidades gestoras que respondem pelos seguintes
processos: desenvolvimento e manutenção de programas de treinamento
interno; serviços da biblioteca; Programa Pensa – criado para estímulo
à criatividade e à participação dos funcionários no processo de geração de
idéias; treinamento externo; treinamento de altos executivos; BB Educar;
pós-graduação; levantamento de necessidades de treinamento e instrutoria;
Gestão de Carreira e Orientação Profissional.
Esta divisão é responsável pelos serviços de orientação profissional, coordena a
rede de Centros de Formação – CEFOR e vai conceber e acompanhar o Programa Profissionalização.
A contribuição do DESED para a educação institucional, ao longo do tempo,
é inegável. A existência do departamento foi plenamente justificada. Firmou
uma imagem institucional emblemática junto ao funcionalismo. Ajudou a dar
unidade à empresa no momento de sua expansão. Contribuiu para a inserção
positiva do Banco na sociedade, principalmente levando em conta seu papel
como agente de desenvolvimento. Personificou uma política integrada de desenvolvimento.
Nélida Piñon publica o romance
infanto-juvenil A Roda do Vento.
1996
1996
Até os dias de hoje, a marca DESED tem repercussão institucional. No momento da reestruturação, a mudança da denominação para GEDEP foi fortemente motivada pela incongruência entre o modelo organizacional recém-adotado
e a mantença de nomenclatura impregnada pela estrutura de departamentos
até então utilizada. A departamentalização havia sido tendência administrativa
muito ligada à imagem da burocracia, exacerbada pelas técnicas ortodoxas de
administração, muito em voga nas décadas de 1940 e 1950.
Machado de Assis é
declarado patrono da
Imprensa Nacional.
98 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
Muitos funcionários ligados à educação opinaram que a empresa poderia ter
mudado o nome do departamento, mas deveria ter mantido a sigla, que segundo essas visões, remete à idéia de desenvolvimento.
Gestão do conhecimento
Em 1994, Richard Crawford escreve o livro: “Na era do capital humano”. Nele,
a partir da análise das mudanças ocorridas no mundo, o autor defende a necessidade da compreensão de que estamos passando de uma sociedade industrial para
uma sociedade do conhecimento. Para Crawford, o conhecimento é gerador de
transformações que repercutem em todos os níveis da sociedade e alteram o quadro
social e econômico que, por sua vez, geram mudanças políticas. A terminologia
usada na política de pessoal das empresas está impregnada por essa visão e os
modelos de gestão de pessoas passam a buscar a “tangibilização” do conhecimento.
Assim, os termos empregabilidade, requalificação profissional, reconversão
profissional, ativos humanos, entre outros, passam a ser largamente utilizados.
E é sob o signo da Sociedade do Conhecimento que surge a GEDEP. A nova
visão vai cristalizando-se nas suas ações e discursos. A educação institucional deve
estar alinhada ao conceito de Gestão do Conhecimento. É preciso incrementar a
capacitação voltada para o enfoque negocial. A gerência, então, esboça uma estratégia
educacional baseada na noção de que o conhecimento é um ativo organizacional.
A idéia é compatível com a compreensão de que estamos no meio de uma “nova
economia” regida pelo conhecimento. São defensores dessa posição os teóricos:
Alvin Toffler, Peter Drucker, entre outros. Para esses pensadores, o conhecimento
representa o fator de produção que supera os fatores clássicos – trabalho, terra e
capital – e do qual emerge um novo segmento social, o cognitariado.
Estréia a telenovela de Dias Gomes O
Fim do Mundo.
1996
1996
Esse jeito de lidar com a apropriação do conhecimento não encontra eco, por
exemplo, na visão do pensador Álvaro Vieira Pinto. Educador lúcido, com os
olhos no futuro, pois já enxerga, quando escreve as suas lições sobre educação
de adultos, que não se educa “para quê”, mas, sim, “porquê”! A educação deve
estar a serviço de uma vida integral. Para ele, “medir” os efeitos da educação
para o trabalho exige que visualizemos o trabalho não como entidade isolada,
independente de quem o realiza. O trabalho é um ato humano. Por isso, as
ações educativas, no limite, são sempre intangíveis.
Carlos Heitor Cony publica o romance
O Piano e a Orquestra.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 99
Mas o Banco é uma empresa. Precisa de parâmetros para as suas ações, dirão
alguns; mas somos também uma instituição que acumula a sabedoria de
gerações. Precisamos avançar no mister pedagógico. E questionarão outros:
Como enfrentar esse dilema? A saída, talvez, seja lembrar sempre: o saber
transformador dita que, para medir a produtividade de ações educativas é
necessário alargar o horizonte para incluir aspectos como identidade, sentido
do trabalho, valor do futuro.
Digressões à parte, o período marca um amplo movimento para a apropriação
do conhecimento organizacional com vistas à excelência e à competitividade.
No mercado, a formação no nível de pós-graduação é exigência e passa a ser piso
nos processos de recrutamento e seleção. No Banco, em 8.2.1995 as instruções
que regem o programa de pós-graduação são alteradas. O novo normativo
estabelece regras para ajustar os critérios do programa criado em 1985, no
esforço de assegurar a aplicabilidade dos trabalhos acadêmicos produzidos
pelos treinandos e favorecer a alocação dos egressos dos cursos de mestrado e
doutorado em funções e locais compatíveis com o nível de qualificação obtido
sob os auspícios da empresa. As inquietações quanto à efetividade das iniciativas
para o aperfeiçoamento dos funcionários no nível superior, no entanto,
continuam. Prova disso é que, em dezembro de 1995, a consultoria técnica do
Banco, COTEC, conclui, a partir de estudos realizados, que há necessidade de
“rever os parâmetros” que orientam o programa e que o aproveitamento dos pósgraduados deve ocorrer conjugado a decisões estratégicas sobre as necessidades
de recursos humanos.
No início de 1996, os cursos dedicados à Qualidade Total, intensamente
ministrados entre 1993 e 1995, ainda constam no rol de treinamentos do
Banco. As teorias dos gurus da Qualidade Total, tais como Edward Deming,
Joseph Juran, Karou Ishikawa e Philip B. Crosby orientam o posicionamento
da empresa na disseminação dessa cultura.
O poeta Manoel de Barros lança O
Livro Sobre Nada.
1997
1996
Os cursos orientados para o tema da Qualidade Total ocuparam muito do
esforço educativo da empresa na primeira metade da década, intensidade de
ação que vai até o início da implantação das medidas para ajuste institucional,
a partir de 1995. A nova gerência quer imprimir à sua atuação a marca da
agilidade. Os resultados dos cursos precisam ser percebidos na qualidade dos
Almir Sater lança
Caminhos me Levem.
100 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
negócios realizados. Nesse sentido, o Programa de Melhoria de Atendimento,
denominado “Campeões de Atendimento”, é bem visto pela direção. A
gerência enxerga que as ações desse programa apresentam resultados tangíveis.
A avaliação é baseada no salto qualitativo dos níveis de satisfação do cliente
e na alavancagem de negócios nos Estados, onde os Centros de Formação
intensificam a realização dos “Campeões”, como eram chamados os cursos do
programa. Talvez, por isso, esse treinamento pode ser considerado o programa
que melhor personifica a visão da GEDEP de que o treinamento deve produzir
resultados parametrizáveis.
No período após o programa de desligamento voluntário é preciso criar âncoras
para o resgate do nível motivacional dos funcionários e construir um sentido mínimo de corporeidade das ações institucionais. Em busca desse objetivo,
qualquer que seja a ação a ser implementada deve ter no roteiro as seguintes
bases: a gestão do desempenho – para sinalizar aos empregados o que a empresa
espera; a gestão da profissionalização – como meio de mostrar que é preciso
abraçar o conceito de empregabilidade e o alinhamento das ações à estratégia
organizacional com estabelecimento de objetivos tangíveis.
Para o novo momento, a ação gerencial educativa da GEDEP parte do princípio
de que é necessário conhecer o que as pessoas sabem fazer. Inicia-se o movimento
para prospectar conhecimentos, aptidões e habilidades. O sensoriamento das
competências funcionais já é uma preocupação. A criação e a disseminação do
conhecimento organizacional é o mote da nova estratégia de qualificação.
Renato Teixeira grava, no Rio de
Janeiro, o CD Trinta Anos de Romaria.
1997
1997
O Sistema Talentos e Oportunidades – TAO está em formulação. O objetivo, na
origem do projeto, é identificar empregados que dominem determinados conteúdos, mesmo que não tenham treinamento formal. Prospectar conhecimentos,
aptidões, habilidades, atitudes e sistematizá-los numa estrutura de informações
que dê visibilidade aos talentos da organização, esse é o principal papel do TAO,
que pode funcionar, também, como precisa fonte de recrutamento nas seleções
internas. Para uma empresa com as dimensões do Banco do Brasil, onde os processos de gestão de pessoas envolvem sempre grandes contingentes de funcionários, o TAO poderá ser decisivo para racionalizar ações, dar transparência aos
processos de recrutamento interno fortalecendo a credibilidade dos processos
seletivos. A divisão da Diretoria Gestão de Pessoas responsável pela criação do
Sucesso do disco O Último
Solo, de Renato Russo.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 101
TAO é a Divisão de Recrutamento e Seleção, a RESEL. O TAO será importante
fonte de informações para fomentar e redirecionar as ações educativas institucionais, uma vez que identificará as áreas de conhecimento nas quais há déficit e
em quais setores do saber há maior aporte de conhecimento organizacional.
O esforço para a identificação e apropriação das competências ganha vitalidade
e é associado à ênfase na contenção de custos. A orientação da área é maximizar
a idéia do autodesenvolvimento e estimular o senso de responsabilidade do
empregado na autogestão de sua capacitação. Os gerentes da empresa, em
todos os níveis, são conclamados a atuar no papel de agentes formadores dos
empregados sob sua responsabilidade.
O objetivo prioritário é ampliar a visão de que a preparação do empregado para
o trabalho não deve ser responsabilidade apenas da empresa: os investimentos
e esforços devem ser compartilhados. O estímulo ao autodesenvolvimento dos
empregados é a tônica do momento e generaliza-se no mundo. A orientação
concretiza a visão da Teoria do Capital Humano, que vê o trabalho qualificado
como um ativo. As sociedades que optam pelo mercado como o pêndulo que
determina os movimentos da realidade sociopolítica, se apropriam desses
conceitos para dar eficácia ao trabalho e competitividade às organizações.
O guarda-chuva que abriga a relação Banco/empregado é o conceito de
empregabilidade. Paradigma das ações profissionais no mercado, segundo o qual
o indivíduo é responsável único pela tomada de consciência de sua condição e
pelo estabelecimento de metas e ações no sentido do autodesenvolvimento. O
esforço para vincular a ação da gerência ao novo paradigma fica ao encargo de
consultorias externas, fato que exige dos interlocutores do Banco competência
suficiente para transmitir a essas entidades as “peculiaridades” da cultura
organizacional.
1997
Em1997, a UFRH fornece certificados a mais de quatrocentos funcionários
que cumpriram as etapas do Programa Novos Gestores. O programa apresenta
inovações, pois identifica funcionários aptos ao exercício de funções gerenciais,
que poderão suprir as necessidades de sucessão na empresa. No cerne do
programa está a valorização e reconhecimento da dedicação dos empregados
que investem no próprio desenvolvimento. É plausível afirmar que a idéia de
“diplomar” esses gestores constitui um dos primeiros passos para a implantação
Estréia o filme O Que é Isso, Companheiro? do
cineasta Bruno Barreto.
102 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
do modelo de certificação de empregados identificados como potencialmente
preparados para assumirem funções de complexidade. Tal como acontecerá em
breve no Programa Ascensão Profissional.
O Boletim Eletrônico do Pessoal – BIPEL destaca matéria, em agosto de
1997, em que reconhece o esforço dos empregados certificados e reafirma o
empenho da empresa no estímulo e apoio ao autodesenvolvimento. Ratifica a
preocupação da gerência com a criação e com a disseminação do conhecimento,
manifesta na implantação do Ciclo de Palestras Internacionais. Promovido em
parceria com a área de Estratégia e Marketing, a iniciativa é concebida com o
objetivo de amplificar idéias sobre assuntos ligados ao mundo organizacional.
No limite, busca-se o incremento da capacidade gestora para realizar leitura
de cenários, prospectar negócios e conceber estratégias de gestão em sintonia
com o mundo globalizado.
O “Ciclo” convida gurus e experts para proferirem palestras que versam sobre
temas, que vão de educação a agronegócios. Entre os palestrantes podemos
destacar: Hirotaka Takeuchi, C.K.Prahalad, Gert Hofstede, Brian Bacon,
Domenico De Masi, Candy Albertsson, Gunter Pauli, Paolo Lugari, William
Handorf, Michael Hamley, Jay Liebowitz, Richard Barret, Robert Kaplan, Don
Tapscott, Joe Santos, Nicholas Negroponte, Jerry Porras, John Nesbitt.
O Ciclo de Palestras Internacionais é ação educativa arrojada, em sintonia
com a dinâmica organizacional calcada na gestão do conhecimento da virada
do milênio.
Programa Profissionalização
Devemos ser a mudança que desejamos ver no mundo.
Mahatma Gandhi
Rubem Fonseca publica o livro de contos
Histórias de Amor.
1998
1997
Um ano após a deflagração do Programa de Desligamento Voluntário, a GEDEP
participa do esforço para o resgate da motivação funcional. Há diminuição do
senso de valor profissional dos empregados. É preciso ressignificar a semântica
utilizada no momento do PDV, que adota conceitos que vão ao encontro da
nova realidade.
O espetáculo Cordel do Fogo
Encantado é sucesso e o grupo
de teatro vira uma banda.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 103
A saída do modelo de estabilidade e a assunção do paradigma da empregabilidade produz inquietação e ansiedade. Muitos funcionários buscam meios
para melhorar o currículo profissional. Alguns têm dificuldades, permanecem
na empresa por não enxergarem alternativa, enquanto outros buscam alinhar-se
ou sobreviver, a despeito ou por causa da nova realidade.
Até os anos 1980, o diploma de nível superior é considerado um diferencial.
Nos anos 1990 é corrente a frase: “A faculdade é necessária, mas não é suficiente”. A mensagem dissemina-se. No Banco, após o PDV, há uma corrida
de volta à escola.
A empresa busca a adaptação dos empregados ao cenário econômico. A empregabilidade é a moeda que transfigura em valor o processo de formação profissional. Essa visão é concretizada pelo Programa Profissionalização – PROFI.
Lançado em meados de 1996, o programa é embasado no pressuposto de que
há necessidade de implementar ações de educação contínua que potencializem,
nos empregados, o desempenho competitivo.
O PROFI, na origem, tem um público potencial extenso. A empresa opta pela
educação a distância como solução mais viável, principalmente dos pontos de
vista prático e financeiro. O meio escolhido para realizar a interação com os
inscritos é a mídia impressa. São fascículos educativos, publicados e enviados
mensalmente aos inscritos, onde são veiculados conceitos que estimulam a reflexão sobre aspectos ligados à escolha ou ao redirecionamento profissional.
Os fascículos são elaborados pelo pessoal da área de educação do Banco,
que é apoiada eventualmente por conteudistas de universidades brasileiras. Os temas são multifacetados, exploram várias áreas do conhecimento e
abordam assuntos relacionados às dimensões do comportamento humano
voltadas para o trabalho.
Fafá de Belém lança o disco
Coração Brasileiro.
1998
1998
O PROFI mobiliza os funcionários da área. José Francisco Carvalho de Rezende é o gerente da GEDEP. As funcionárias Alessandra Nunes Cunha Simões, Isa
Aparecida de Freitas, Jussara Silveira de Andrade Guedes, Maria Elizabeth Mori
e Marízia Ferreira de Araújo trabalham para idealizar e concretizar o programa,
cujas ações dão ênfase ao conceito de autodesenvolvimento.
O ator Paulo José protagoniza o filme
Policarpo Quaresma, Herói do Brasil.
104 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
A empresa pretende implantar processo de reestruturação cultural e educacional
voltado para a valorização da profissionalização e da empregabilidade. A meta
é o maior alinhamento da organização à dinâmica do mercado. São muitos os
desafios para o empregado. O planejamento do autodesenvolvimento contempla
múltiplos aspectos que podem impactar a qualidade do desempenho, em
decorrência das profundas mudanças implantadas.
Para o programa, o mercado é o mundo e as oportunidades negociais precisam
ser disputadas com ferrenha disposição. A sobrevivência da empresa depende da
rapidez das decisões diante dos sinais do cenário econômico-financeiro. Essa é a
mensagem motriz implícita nos conteúdos trabalhados nos fascículos.
O fascículo número um circula em julho de 1996 com o título: “Um caminho”.
Na capa, são apresentados os ícones: um raio e um boneco. O raio constará
em todas as apostilas. O folheto explica o funcionamento e expressa as visões
de homem e de mundo que vão inspirar as ações do programa. Afirma que as
instituições precisam transformar-se em ritmo exponencial para acompanhar o
avanço da tecnologia e do mercado.
1998
Os fascículos utilizam linguagem que reforça os paradigmas adotados pela instituição após o PDV. A denominação “funcionário”, utilizada historicamente
para designar as pessoas com vínculo empregatício com a empresa, é substituída
pela expressão “empregado”. A mudança não encontra eco no corpo funcional. A
terminologia é rejeitada e no dia-a-dia de trabalho prevalece a denominação “funcionário”. Esvazia-se, pelo menos quanto a esta novidade, o esforço institucional. O
esforço para a implantação da nova cultura recebe o respaldo da área de educação, mas não sem conflitos. Muitos funcionários trabalham com sentimentos
divididos entre lançar-se às suas obrigações funcionais ou recusar envolvimento
com a nova configuração institucional, tão conflituosa e delicada. O conflito
justifica-se. Somos seres simbólicos. Em sua Epistemologia Genética, Piaget expressa a convicção de que humanizamo-nos conforme conseguimos manipular
conceitos, idéias, símbolos. É devido a essa mesma convicção, que o rompimento com a linguagem utilizada para relacionamento com os funcionários,
que concretizava o vínculo da organização com o empregado, até o ajuste de
1995, e sua substituição por nova semântica representativa da ruptura desse
tecido simbólico, é um processo traumático. O programa compõe o conjunto
O Filme Central do Brasil, de Walter Salles, ganha o Urso de Ouro de
melhor filme no 480 Festival de Berlim.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 105
de medidas para trabalhar a dimensão cultural implícita no novo molde de
relacionamento da empresa com os empregados. Ele instiga a reflexão sobre a
identidade do bancário no limiar do século XX e, portanto, fermenta, também,
questões relativas ao significado do que é ser funcionário do Banco do Brasil.
Os fascículos apresentam formato gráfico atrativo e utilizam linguagem visual
diversificada. Os textos são enxutos, de leitura agradável e os conteúdos têm
tratamento didático apropriado à boa metodologia do ensino a distância. O
posicionamento teórico do PROFI é apoiado também no conceito de Sociedade
do Conhecimento. Entre os autores que embasam as formulações do programa,
Edgar Schein fornece os conceitos que auxiliam na orientação profissional.
Destaca-se a noção de “âncora de carreira”.
O posicionamento comum que permeia o PROFI é a sinalização de que é preciso construir empregabilidade a partir do desenvolvimento de competências para
atuar num mundo em constante e rápida transformação. A empregabilidade é o
“diferencial competitivo” que garante a inserção e permanência do empregado
no mercado.
É possível afirmar que o PROFI é a ação educativa mais representativa do período.
É uma ação massificada, a distância. Os conteúdos e os temas são profundamente determinados pela realidade socioeconômica. A mensagem implícita dá ênfase
ao poder individual. A cooperação é trabalhada, mas numa visão que minimiza
o sentido do coletivo, pois as mensagens veiculadas enfatizam as mudanças como
fruto da ação individual ou, no limite, da soma dos esforços individuais.
Adélia Prado lança o livro
Manuscritos de Felipa.
1999
1999
A publicação dos periódicos é sistemática e mantém significativa regularidade na
circulação, no período de julho de 1996 a julho de 1999, quando começa a ficar
esparsa. Depois desse período, os fascículos circulam somente quando algum tema
institucional requer divulgação massificada. Num esforço avaliativo, é possível
verificar que o desenrolar do programa legitimou-o como ferramenta essencial
para disseminação dos novos signos da cultura que se pretendia instalar. Mas foi
também importante como uma ação concreta, cujo desenvolvimento aglutinou
esforços, mesmo de forma individualizada. Atiçou reflexões individuais. Numa
transição com dissolução de tantos elementos simbólicos e desestabilização
de ícones identitários, o PROFI fez convergir a busca dos empregados por
qualificação profissional para uma direção em comum.
Martinho da Vila faz o show
O Pai da Alegria.
106 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
Um comunicado na contra-capa do fascículo 26, ano VII, de agosto de 2002,
atesta a eficácia dos fascículos para divulgação de temas de interesse institucional. No livreto informa-se que 94 % dos funcionários estão inscritos e que devido a essa alta adesão, a partir daquele número todos os funcionários, inscritos
ou não, receberão o periódico em casa. O final do aviso explicita as funções dos
fascículos: “Agora, mais pessoas terão a oportunidade de investir em sua carreira
profissional com informações atualizadas que podem ajudar você a melhor desenvolver e implementar planos de crescimento e auto-realização”
Programa de Formação e Aperfeiçoamento em Nível Superior
– PFANS
O trabalhador terá papel central na sociedade moderna. Diante das
inovações técnicas e da necessidade de adaptação rápida a uma conjuntura cada vez menos estável, trabalhadores altamente capacitados
tornam-se fundamentais para o sucesso das organizações. Funcionários
treinados e bem gerenciados serão uma das mais significativas vantagens competitivas que uma empresa poderá ter.
Trecho das justificativas apresentadas pelo grupo de trabalho que elaborou o Programa de Formação e Aperfeiçoamento em Nível Superior – PFANS, constantes
do relatório entregue à direção do Banco.
Segundo a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior –
CAPES, a pós-graduação no Brasil tem notável crescimento nos anos 1990.
Esse fenômeno pode ser atribuído à disseminação de cursos de pós-graduação
no País, com a publicação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação em 1996,
trazendo, no seu art. 45, a possibilidade de criação e organização das instituições de ensino para essa finalidade, com “variados graus de abrangência ou
especialização”. Na esteira desse fato, surgem, então, modalidades de cursos e
disseminação de alguns já tradicionalmente oferecidos.
1999
No Banco, como já foi comentado, a Consultoria Técnica aconselha a revisão dos parâmetros que orientam o Programa de Pós-graduação que vigora até
26.1.1996, quando a nota DESED 96/021, determina a suspensão do PPG
A bailarina Ana Botafogo recebe o Troféu Mambembe, do Ministério da
Cultura, em reconhecimento pelo conjunto da sua obra.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 107
e a constituição de grupo de estudo para reavaliá-lo. O grupo é formado pelos seguintes empregados: Gabriel Antônio Atalla, das áreas Rural e Industrial;
Walter Facó Bezerra, participando em nome do segmento de Desenvolvimento
Empresarial e ainda, os representantes da área de Recursos Humanos: Anysie
Rosa de Moura Pires, Álvaro Antônio Batista da Silva e Hugo Pena Brandão.
A coordenação do GT fica a cargo de Anysie Rosa de Moura Pires. A equipe
realiza, efetivamente, o trabalho de 4.9.1996 até 20.9.1996. O período é de
transição, de mudança da estrutura departamental para a estrutura em unidades
– DESED para GEDEP, como já foi mencionado.
A defesa do programa registrada no relatório deixa antever que o grupo de trabalho produziu estudo fudamentado e em sintonia com a dinâmica do mercado
de trabalho tangido por novas formas de organização e produção. Pela pertinência da análise, que retrata muito bem aquele momento, reproduzimos, parte da
argumentação, a seguir:
Agora, a escola passa a ser também a instituição do adulto. E a educação passa a ser permanente e estará, não só nas escolas, mas em toda
a sociedade. Empresa, governos e associações passam a ser co-responsáveis pela capacitação e profissionalização de seus quadros funcionais.
As empresas, em especial, precisam ter consciência de que seu sucesso
será determinado, cada vez mais, pelas aptidões, talentos e experiências
de seus empregados. Nos últimos anos, o Banco do Brasil esteve acompanhando esse processo de transformações e, a fim de adaptar-se a essa
nova realidade, necessitou capacitar seus empregados. O DESED, como
órgão de formação, conduziu, entre outros, o Programa de Atendimento ao Público (1991), o Projeto CAIEX (1993) e o MBA – Treinamento
para Altos Executivos e, mais recentemente lançou o Programa Profissionalização, que alerta o funcionalismo para a necessidade de profissionalizar-se constantemente, estimulando, assim, o empregado, a assumir
a condição de protagonista de seu próprio desenvolvimento.
O percursionista Naná
Vasconcelos grava o disco
Contaminação.
1999
1999
Ao fim do trabalho, os avaliadores apresentam, além do diagnóstico do modelo
anterior, uma proposta de novo programa de aperfeiçoamento em nível superior.
O diagnóstico é validado por meio de pesquisa entre os funcionários egressos
Festival de Dança de Joinville
homenageia o bailarino brasileiro.
108 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
do PPG e detecta dificuldades relacionadas aos seguintes aspectos: qualidade
do acompanhamento dos pós-graduandos, prazos de afastamento, sistema de
retribuição ao funcionário-participante, sistema de alocação dos egressos nas
unidades do Banco. A despeito disso, a comissão verificou que do ponto de
vista da colocação dos egressos, o PPG é bem sucedido, uma vez que consegue
direcionar 31% dos pós-graduados para a função de adminitrador e 51% para
funções comissionadas intermediárias, numa “preparação da cadeia sucessória
da empresa”. Examinando alguns depoimentos de funcionários pesquisados, fica
evidente que a maior aspiração dos participantes do PPG está ligada à qualidade
do acompanhamento por parte do Banco, das atividades do pós-graduando.
A nova proposta prevê, além da extinção do PPG, a criação do Programa de
Formação e Aperfeiçoamento em Nível Superior – PFANS, contemplando cinco modalidades de cursos: graduação, pós-graduação lato sensu, mestrado, doutorado e treinamento internacional.
O treinamento internacional visa, conforme é estabelecido no programa:
qualificar empregados em parceria com instituições bancárias e de
ensino no exterior, com vistas a posicionar a empresa no contexto das
economias globalizadas e contribui para a adeqüação das competências necessárias à consolidação da nova estrutura do conglomerado.
O requisito para participar dessa modalidade é que o candidato apresente nível
de proficiência no idioma em que será realizado o treinamento, compatível com
os parâmetros estabelecidos pelo programa.
Ignácio de Loyola Brandão
publica O Homem que Odiava
Segunda-feira.
1999
1999
O PFANS é implementado a par das ações do Programa Profissionalização e
pretende ampliar e consolidar os mecanismos de acompanhamento e avaliação
das ações de aperfeiçoamento em nível superior. Prevê o apoio financeiro,
acompanhamento e retribuição funcional – via estímulo ao encarreiramento
sob condições diferenciadas – aos empregados participantes. Na sua formulação
estão explicitadas todas as condições que orientarão a participação dos treinandos,
bem como as suas diretrizes operacionais e de gestão. Explicita também,
que a formação in company, formato cuja iniciativa é totalmente da empresa
e é largamente utilizada nos MBA promovidos pelo Banco em parceria com
Lançado no Brasil o
CD Com Defeito de
Fabricação, de Tom Zé.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 109
entidades externas, não faz parte do rol de modalidades previstas no PFANS,
que funciona em regime de co-responsabilidade: Banco/treinando.
O programa reforça a sistematização do processo de formação, visando proporcionar maior embasamento teórico aos treinandos. A meta é ampliar o nível de
compreensão referente aos novos conceitos e paradigmas que chegam com a
realidade sempre mutante.
Leia mais...
Que nunca o livro fique longe de tua mão e de teus olhos.
São Jerônimo
Em 1997, a GEDEP lança o Programa Leia Mais. A iniciativa revigora o Ipsis
Litteris, programa de incentivo à leitura que já existia em 1994.
O objetivo dos dois programas é divulgar textos das diversas áreas de conhecimento
para a disseminação de conteúdos interdisciplinares. O Programa Leia Mais,
contudo, amplia o objetivo da iniciativa que o antecedeu, pois visa “promover
e consolidar o hábito de leitura”. Numa sociedade em que o conhecimento é
considerado um ativo que se soma aos tradicionais meios de produção – terra,
capital e trabalho – os livros são ferramentas imprescindíveis. O programa visa
contribuir para o acesso ao livro e para a valorização da leitura como “prática
prazerosa e produtiva”.
Ferreira Gullar publica
Muitas Vozes.
2000
1999
A motivação para a leitura, proporcionada no Leia Mais, está prevista em
várias ações. Há a Livraria Avançada para facilitar o acesso dos funcionários
às publicações relativas a temas de interesse da empresa. O Banco de Dissertações, Teses e Monografias. O Bookmark, uma seleção por temas, de sites na
internet. Há, também, o Sumário de Periódicos, que divulga artigos e diferentes textos sobre assuntos relativos às diversas áreas. O Ipsis Litteris, nome do
programa desenvolvido anteriormente, passa a compor as ações do Leia Mais
com a função de consolidar e remeter às unidades do Banco, periódicos de
interesse específico, entre outras ações.
Tomie Ohtake expõe no
Centro Cultural Banco do
Brasil no Rio de Janeiro.
110 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
Para a divulgação do programa e maior estímulo ao ato de ler, são confeccionados marcadores de livros com exortações. Os marcadores são ilustrados com reproduções de obras de arte que retratam leitores em diferentes circunstâncias.
Observando-se o curso da história, pode-se afirmar que há uma evolução do
processo de leitura no País. Ainda lutamos contra o analfabetismo, mas temos
um bom sinalizador. O desafio agora é, também, formar leitores. No Banco
não tem sido diferente. Os funcionários se engajam cada vez mais no esforço de
autodesenvolvimento via incremento da prática de leitura.
A concepção dessas iniciativas é louvável e oportuna. O funcionário Augusto
César Luitigards Moura Filho concebe os dois projetos. O Banco conta com
duas bibliotecas constituídas. Uma no Distrito Federal e outra no Rio de Janeiro. São construções sólidas, dignas dos seus acervos. A de Brasília resguarda seus
tesouros literários, técnicos e científicos em parte do Edifício Tancredo Neves,
sede da Diretoria Gestão de Pessoas. Edificação idealizada no traço inconfundível e arrojado de Oscar Niemayer. A biblioteca do Rio de Janeiro funciona na
imponente e sólida construção da Rua 1° de Março.
As ações de incentivo à leitura incrementam a utilização desses equipamentos
culturais, que além de atender à demanda interna, via empréstimos de livros aos
funcionários, também prestam serviços sociais pela disponibilização ao público
de consulta e leitura de suas obras.
O incentivo à leitura, meta maior desses programas, inscreve-se dentro da visão de
uma formação global e permanente que a área de educação quer concretizar.
Em 1995, somente a Biblioteca do Rio de Janeiro empresta 29.062 livros aos
funcionários. Proporciona 11.517 consultas locais. Fato estimulante, pois é o
leitor que justifica a existência do livro, como afirmam as poéticas palavras de
Cecília Meireles:
O livro À Sombra do Cipreste,
de Menalton Braff, ganha o
Prêmio Jabuti.
2000
2000
A obra nasce do diálogo interno do escritor com ele mesmo, mas só
se efetiva pela existência do leitor...
Marília Pêra
interpreta Amélia.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 111
O Germinal
Agora em pleno céu, o sol de abril raiava em toda a sua glória e majestade, aquecendo a terra que estava em pleno trabalho para conceber...
Sob os raios inflamados do astro-rei por aquela manhã de juventude,
era daquele rumor que a campina estava grávida. Surgiam homens: um
exército negro, vingador, que germinava lentamente nos alqueives, nascendo para as colheitas do século, e cuja germinação não tardaria a fazer
rebentar a terra.
Trecho de Germinal, de Emile Zola. Publicado no primeiro Germinal, para explicar a escolha de seu título.
Em 1995, é proposta a criação de veículo de comunicação que proporcione o
encontro e o intercâmbio entre os instrutores. O educador Roque Tadeu Gui é
o idealizador da revista que pretende fazer “germinar” e manter nos instrutores
a vontade de refletir sobre a educação integral. Trocar experiências. Estabelecer
canal de comunicação dos instrutores entre si e com a GEDEP. O jornal circula
pouco tempo ainda sob os auspícios do DESED. A edição de maio de 1996 já
informa os ajustes na estrutura da direção geral.
A iniciativa caminha na contramão do movimento que se instaura na instituição, de dissolução de vínculos sólidos e de práticas coletivas que possam reafirmar tradicionais símbolos institucionais. A despeito do momento, em fevereiro
de 1996, circula a primeira edição da revista “O Germinal”. Ainda em caráter
experimental, o número pioneiro do informativo é distribuído apenas entre os
instrutores da área metodológica. Mas a meta é que a distribuição, a partir do
segundo número, chegue a todos os instrutores.
2000
Os editores de O Germinal que inaugura a série são: Clarisse Droval, Edson
Mendes de Araújo Lima e Maria da Glória Silvestrin Zanon. A chamada na capa
dá destaque à reportagem sobre Educação e Cidadania e a ilustração “Words of
Wisdom” mostra que os instrutores-jornalistas estão antenados com os desafios
do momento. A disseminação de sistemas administrativos informatizados solicita esforços adicionais na preparação do pessoal. A ordem é abandonar papéis
e mergulhar na jornada de trabalho intermediada pela máquina. O editorial
Lançado o livro Tropicalismo – Decadência Bonita do
Samba, de Pedro Alexandre Sanches.
112 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
apresenta o informativo e a primeira reportagem promete periodicidade mensal. Para a elaboração, serão convidados instrutores da área metodológica, em
regime de colaboração.
A edição de março de 1996 traz, na capa, a chamada “Estou bancário – existirá
essa profissão no Futuro?”. Anuncia que o Projeto Profissionalização foi aprovado e que os sistemas de desenvolvimento e gerenciamento do Banco serão
revistos. O exemplar é assinado pelos instrutores: Amaro Castro Baptista, Elda
Lúcia Paiva Madruga e Onivaldo Moisés Mariani. Os jornalistas são arautos de
mensagens que traduzem a situação dos bancários e dos profissionais no Banco
do Brasil. O contraponto para a dura realidade é trabalhado pelos jornalistas
com o texto: “Paixão de aprender”, de Madalena Freire. A pedagogia inscrita na
lição ensina:
Haverá um dia em que os alunos serão avaliados também pela ousadia de seus vôos.
Apesar da simplicidade na encadernação e diagramação singela, o periódico proporciona encontros mensais dos jornalistas “Quixotes”. Exercícios de reflexão.
Um abrir veredas para pensar a educação como processo amplo e humano.
A segunda metade da década de 1990 é especialmente difícil para os instrutores. Eles enfrentam desafios: realizar o trabalho de rotina, seja como gestores,
técnicos ou operadores bancários, manter-se preparados para entrar em sala de
aula e disseminar a nova realidade advinda com a reestruturação organizacional, quando, muitas vezes, precisam socializar conceitos e posicionamentos dos
quais, eles próprios, não têm muita convicção.
Com forte papel institucional, formador de opinião, o instrutor dissemina
as políticas da empresa, portanto, deve estar em perfeito alinhamento com as
idéias e filosofia institucionais. Por tudo isso, o momento da reestruturação
institucional é, também, de revisão de conceitos. Momento de reflexão profunda.
Tempo de escolhas.
Ana Maria Machado ganha
o prêmio internacional Hans
Christian Andersen.
2000
2000
O Germinal demonstra a capacidade da instrutoria de criar mecanismos para
atuar como núcleo disseminador de reflexões com vista a uma ação organizacional mais humana. Por isso, sua passagem por este itinerário.
A ONU declara o Ano Internacional
por uma Cultura de Paz, sob a
coordenação da Unesco.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 113
Instrutores residentes
Em março de 1997, é criado o quadro de instrutores e orientadores residentes. Até então, os instrutores permaneciam nas bases de trabalho e eram
chamados de acordo com o cronograma de realização dos cursos nos Centros de Formação.
A seleção realizada para escolher o grupo de instrutores residentes pioneiros
preenche 38 vagas distribuídas nos seguintes Centros: Belo Horizonte, Brasília,
Curitiba, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. As áreas de
conhecimento que orientam a escolha dos instrutores são definidas a partir das
demandas estratégicas, são: Crédito, Finanças, Economia e Mercado de Capitais, Gestão, Recursos Humanos, Cultura e Organização, Câmbio, Marketing e
Produtos e Serviços.
Em 4.8.1997, tomam posse os seguintes instrutores residentes: Artur Roman,
Corina Castro e Silva Braga de Oliveira, Edinelson Vrech Rigo, Ênio Amaral
Bones, Érika Maria Foresti Pinto, João Ademir dos Santos, Josedir Tadeu
Gonçalves, José Maria da Silva Rodrigues, Nara Neide Teixeira Soares de Lira,
Ricardo Uhry, Rogério Rodrigues, Sylvio Carvalho Maestrelli, Sônia Lopes de
Oliveira.
A projeção da demanda de qualificação na empresa conduz à avaliação de que,
cinqüenta por cento (50%) das necessidades da GEDEP para a capacitação
interna serão atendidas pelos instrutores fixos. O trabalho dos instrutores que
não fazem parte da estrutura fixa, responderá pelas demais necessidades de
mão-de-obra.
As razões apontadas para a defesa do modelo dão ênfase à necessidade de redução de custos com o deslocamento dos instrutores e de eliminação dos problemas decorrentes da dificuldade para conseguir a disponibilidade e ou liberação
desses profissionais, fatos que persistem desde a criação do DESED.
Inauguração do Centro
Cultural do Banco do Brasil
em Brasília.
2000
2000
Os instrutores do quadro fixo são especialistas. Têm regime de trabalho que
contempla a atuação em sala de aula, o desenvolvimento de pesquisa e trabalho
de assessoria aos demais instrutores. Uma avaliação geral permite perceber que
a fixação de instrutores é restrita em relação ao tamanho da instrutoria. Em
Lya Luft publica Histórias
do Tempo.
114 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
1995, entre instrutores, multiplicadores e monitores, a tarefa educativa no Banco mobiliza 4.016 funcionários da ativa e 171 aposentados. Em 1996, a tiragem
de “O Germinal” é de 1.800 exemplares, por isso, estima-se que esse número
indica a quantidade aproximada de instrutores em atividade, no período.
A criação da residência trouxe algumas facilidades operacionais para os Centros
de Formação, mas do ponto de vista da instrutoria, como instância mobilizadora de reflexões, a “fixação” dos educadores na “residência” pulverizou o quadro
nacional e reduziu os deslocamentos para atuação, diminuindo a possibilidade
de intercâmbio e articulação. Aspecto que pesou para minimizar o papel histórico do grupo no debate das questões educacionais mais amplas.
Programa de Identificação e Desenvolvimento de Novos Gestores
Uma das grandes tarefas da GEDEP é o esforço na capacitação de empregados
para assumirem cargos de gerência. Esse trabalho tem sua maior expressão no
Programa Novos Gestores. A carta circular 96/1010, de julho de 1996, fixa os
critérios de participação que mobilizam centenas de empregados na busca da
ascensão profissional.
A diferença fundamental entre o novo processo de escolha de gestores e o Programa Bolsa de Gerentes, que vigorara desde 1991, é que o novo processo traz
embutida a valorização da formação acadêmica.
O processo seletivo, logo na primeira etapa, avalia os candidatos do ponto de
vista cognitivo, com grande ênfase na verificação de aprendizagem relativa a
conteúdos complexos referentes, especialmente, à Economia, Administração,
Ciências Contábeis e Finanças. A maioria dos candidatos aprovados no certame
tem nível superior. Muitos, pós-graduação.
2000
Até então, a empresa destacava a experiência em cargos de gestão, no estabelecimento de critérios de escolha. Há, nesse momento, uma quebra de paradigma
cultural. Muitos empregados que não haviam cursado a faculdade correm de
volta aos bancos escolares. Os graduados vão para os cursos de pós-graduação
que se expandem vertiginosamente no País.
Sebastião Salgado produz o documentário fotográfico Êxodos e Crianças,
retratando a vida de retirantes, refugiados e migrantes de 41 países.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 115
Uma outra parcela de empregados que, atendendo ao antigo modelo de preenchimento dos cargos de gerência, havia abandonado os estudos formais e se embrenhado no interior do País, muitas vezes em locais que não ofereciam oportunidades educacionais e culturais, expressa sua frustração diante desse quadro.
Mas, essa dinâmica interna reflete uma realidade global, ou seja, as novas formas de organização do trabalho vão solicitando incremento da qualificação.
O modelo produtivo sofre profundas injunções da realidade socioeconômica
mundial. O trabalho incorpora, cada vez mais, o conhecimento como critério
de valor. O avanço tecnológico intensificado a partir da segunda metade do
século XX impõe novas institucionalidades às relações trabalhistas. O trabalho
como ato mecânico é cada vez mais substituído pelo trabalho abstrato, que incorpora, de forma voraz, à sua realização, crescente nível de conhecimento. Esse
é o quadro que leva à implantação do programa para mapeamento e nomeação
de novos gerentes.
Por tudo isso, não é fortuito que a tarefa de identificação dos novos gestores
impulsione a valorização da educação formal, sobretudo a de nível superior. A
empresa passa a estimular, nos seus gestores, o desenvolvimento de perfil profissional também calcado na valorização da formação acadêmica, sinalizando que
a qualificação continuada dos empregados é ferramenta essencial para obtenção
de diferencial de competitividade.
A partir dessa realidade, a GEDEP lança o Programa de Aprimoramento em Nível
Superior, que consiste no patrocínio parcial de estudos nos níveis de graduação
e especialização nas áreas de interesse da empresa. Iniciativa que se expande,
em 1998. O Banco estabelece parcerias com instituições externas de ensino
presencial e a distância, para suprimento de necessidades de complementação
educacional para os funcionários, em pontos estratégicos do País.
A GEDEP tem participação ativa nas ações de desenvolvimento básico dos futuros gerentes. O processo de formação dos gestores contempla uma etapa de orientação profissional para a compatibilização das competências e aspirações dos interessados com as oportunidades surgidas na empresa. O processo de qualificação
dos participantes dos certames do Programa Novos Gestores reafirma o cuidado
com o preparo dos funcionários para o exercício das funções gestoras.
Luis Fernando Veríssimo lança As
Mentiras Que os Homens Contam.
2000
2000
.
Ed Motta lança o CD As
Segundas Intenções do
Manual Prático.
116 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
Trilhas – caminhos para o desenvolvimento
Quando não sabemos em qual porto queremos chegar, qualquer vento
nos serve de orientação.
Sêneca
A partir de 1996, a política de formação do Banco dá forte ênfase ao valor do
esforço do funcionário para assumir a gestão de sua própria carreira. Isso vai ao
encontro do que sinaliza o Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional
sobre Educação para o Século XXI, do mesmo ano. Esse documento defende
que, numa sociedade complexa, com intensos progressos científico e tecnológico
e transformação dos processos de produção, a educação para toda a vida e a autonomia para conduzir-nos nessa realidade são exigências fundamentais.
Na proximidade do final do século XX, os processos de trabalho são cada vez
mais movidos pelo conhecimento. As organizações precisam de quadros qualificados. Promover essa capacitação é tarefa complexa. Exige estratégias bem
demarcadas. Objetivos claros.
É essa realidade que leva a Unidade de Gestão de Pessoas, em 2000, a decidir
pela adoção do conceito de trilhas para ajudar o funcionário a assumir o leme
da gestão de seu desenvolvimento profissional.
As trilhas representam caminhos ou opções de percursos para que o funcionário
possa, diante das escolhas possíveis, mapear seu desenvolvimento profissional
rumo aos lugares que pretende ocupar na empresa.
Adotado o conceito, é necessário operacionalizar uma sistemática que proporcione metodologia para viabilizar a adoção das trilhas como ferramenta para a
construção do percurso profissional.
Assim, na política de profissionalização, as trilhas são estratégias educativas,
rumo à realização da excelência humana e alta perfórmance organizacional.
Caetano Veloso apresenta
o show Noites do Norte.
2001
2000
Na época, o Banco concebe modelo estratégico baseado em pilares e isso precisa
ser considerado quando da operacionalização do conceito no âmbito da política
de profissionalização. É preciso deixar claro para o funcionário qual é o direcionaMemórias Póstumas, de André Klotze,
ganha o Kikito de melhor filme, em
Gramado.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 117
mento estratégico do Banco. Assim, além de dar suporte à realização dos negócios,
ele pode definir para qual direção deve “ajustar as velas” de seu desenvolvimento.
A concepção do sistema de trilhas requer que a empresa reorganize a capacitação
a partir de enfoques de aprendizagem. Toda a área de educação é mobilizada.
Analistas, executivos, colaboradores. Alessandra Nunes Cunha Simões, Hugo
Pena Brandão, Isa Aparecida de Freitas, Roque Tadeu Gui orientam a implantação do projeto.
Escolhidos os enfoques de aprendizagem, são estabelecidos os temas que mapearão a estratégia educativa e passam a orientar a construção das trilhas individuais. A sistemática define as áreas de conhecimento de interesse do Banco – os
domínios temáticos – que vão direcionar as ações de ensino e aprendizagem.
Individualmente, as trilhas ajudam o funcionário a conciliar as necessidades
de aprimoramento em relação ao seu trabalho atual e seus interesses futuros de
encarreiramento.
A implementação do modelo de trilhas concretiza a visão de formação global
e permanente cujas sementes foram plantadas desde 1976, avança na inclusão
do conceito de autogestão da carreira e contempla aspectos primordiais para o
desenvolvimento profissional. Abre espaço para os anseios de ascensão do funcionário. Aponta caminhos para a diversificação de suas experiências e permite
aprofundar seus níveis de conhecimento vinculados à sua área de interesse.
As trilhas são compassos para traçar caminhos possíveis. Mas, entregue a ferramenta ao funcionário, coloca-se o desafio. Como conseguir tempo na jornada
dividida entre família, trabalho e tarefas correlatas do funcionário? Como cuidar do plano de navegação? O enfrentamento dessa questão exige disposição
pessoal, foco e sobretudo, parceria entre o “navegador”, o gestor e a própria família. Nessa realidade é fundamental o papel do gestor como orientador e apoio
para consolidação das ações selecionadas. É essencial cuidar da qualidade de
vida para equilibrar todas as múltiplas dimensões da pessoa como ser integral.
O diálogo, a compreensão e o compromentimento são atitudes básicas para o
sucesso da empreita no processo.
Edu Lobo e Chico Buarque voltam
a compor juntos, para o musical
Cambaio, sob a direção de Lenine.
2001
2001
O desafio está lançado.
Gilberto Gil lança o disco
São João Vivo.
118 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
Educação a distância
Pela primeira vez na história da humanidade, a maioria das competências adquiridas no começo de uma carreira estarão obsoletas no fim
de um percurso profissional... As desordens da economia, assim como o
ritmo precipitado das evoluções científicas e técnicas, determinam uma
aceleração generalizada da temporalidade social. Por causa disso é que
os indivíduos e os grupos não se deparam mais com saberes estáveis, com
classificações de conhecimentos herdados e confortados pela tradição,
mas sim com um saber-fluxo caótico, cujo curso é difícil de prever e no
qual a questão agora é aprender a navegar.
Extraído do catálogo de cursos a distância. 2000.Trecho do ensaio
A nova relação com o saber. Pierre Lèvy
Em julho de 2000, é concebido um catálogo de cursos a distância. Na capa do
mostruário o título “Educação a distância perto de você” indica o investimento
da área de educação na modalidade a distância pelo seu poder de democratizar
as oportunidades de capacitação. Às práticas de educação a distância já existentes são acrescentadas novas tecnologias a serviço da educação.
A apresentação do catálogo traz contextualização sobre a importância do
ensino a distância, a centralidade do conhecimento como diferencial para a
competitividade do profissional bancário e a força das transformações globais
impondo a necessidade de ampliação das tecnologias de educação para
democratizar o acesso ao conhecimento. O texto do início do catálogo relaciona,
também, algumas vantagens da educação a distância. Essas informações são
fundamentais, pois o momento é marcante. No imaginário social, o ano 2000,
pela proximidade da virada do milênio, tem forte simbolismo como portal para
o futuro. Além disso, nos anos anteriores, próximos de 2000, há o fantasma do
Bug do Milênio, receio generalizado da ocorrência de pane nos computadores,
em decorrência da mudança dos dígitos que compõem a data nos equipamentos
eletrônicos. O momento é de incremento das tecnologias e de corrida para a
aprendizagem de Informática.
Realização do I Encontro
de Culturas Tradicionais da
Chapada dos Veadeiros.
2002
2001
Os cursos relacionados no catálogo estão agrupados em áreas: Atendimento,
Economia, Finanças e Crédito, Gestão, Idiomas, área internacional, produtos e
Gal Costa grava o disco
Gal Bossa Tropical.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 119
serviços. À época, a intranet do Banco está sendo preparada para ser a principal
mídia de educação na empresa. O treinamento baseado em computador assimila
a web.
Algumas dicas de estudo compõem o catálogo. O objetivo da inclusão desse
item é familiarizar os funcionários, acostumados à modalidade presencial de
ensino, com o jeito de estudar fora da sala de aula.
O aumento da oferta de cursos via treinamento baseado na web, representa “uma
revolução na forma de treinar maciçamente os funcionários”. Entretanto, essa
“revolução” não acontece espontaneamente e nem de uma hora para outra. É o
resultado de pesquisa e trabalho urdidos pelos caminhos da educação a distância
no Banco. Uma breve incursão pela história permite acompanhar alguns passos
importantes dados nessa direção.
A década de 1980 marca o início do debate: educação presencial versus educação
a distância, no meio educacional do País. No Banco, o papel de cada uma dessas
modalidades na educação institucional também é foco de discussões. O avanço
da tecnologia sinaliza com a possibilidade de ampliação do ensino a distância.
O desafio de qualificar os funcionários distribuídos nas inúmeras unidades do
País mostra que é necessário lançar mão de meios ao alcance e conciliar os
mecanismos e formas possíveis para chegar-se a uma empresa qualificada.
Em 1981, o departamento disponibiliza o primeiro curso a distância, o Curso
de Contabilidade – Conta I, que utiliza mídia impressa.
A partir da perda da Conta de Movimento, a urgência para desenvolver cursos
que preparem o funcionário para dar maior competitividade à empresa leva ao
aumento da inclusão de treinamento a distância que progressivamente incorpora novas mídias. É preciso sintonizar as ações educativas com o acelerado ritmo
da automação dos serviços e racionalizar custos.
Lançada em Salvador, a revista em
quadrinhos Dodô & Osmar – A Incrível
História do Pau Elétrico.
2002
2002
Na década de 1990, o Banco firma convênio com rede privada de televisão para
aquisição de programas educativos. O VHS é incorporado à modelagem didática da educação a distância. As unidades do Banco – agências e órgãos regionais
– são equipadas com televisão e vídeo.
Jorge Ben Jor lança o
disco Acústico MTV.
120 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
A ênfase no autodesenvolvimento e na educação contínua começa a impor novos ritmos e configuração à educação institucional. Assim, a educação a distância fica cada vez mais perto do esforço para capacitação no Banco.
A Universidade Corporativa Banco do Brasil – UniBB
A educação ao longo de toda a vida é uma construção contínua da
pessoa humana, do seu saber e das suas aptidões, mas também da sua
capacidade de discernir e agir. Deve levá-la a tomar consciência de si
própria e do meio que a envolve e a desempenhar o papel social que lhe
cabe no mundo do trabalho e na comunidade.
Jacques Dèlors
No final da década de 1990, há grande disseminação de universidades corporativas – UC, entidades educacionais que promovem a educação continuada, por meio de processo centralizado de soluções de aprendizagem. As UC
funcionam em estreita ligação com o direcionamento estratégico. Assim, a
construção do conhecimento se dá numa relação íntima com o planejamento
estratégico das organizações.
No Brasil, em especial, o ano de 1999 é emblemático da crescente instalação
dessas comunidades de aprendizagem em várias empresas. O final do milênio acelera a emergência de modelos organizacionais flexíveis, enxutos e da
busca incessante da criação e disseminação do conhecimento como fatores
de competitividade.
A implantação das universidades corporativas nas empresas está intimamente
ligada ao conceito de gestão do conhecimento, ou seja, aos processos voltados
para conceber, concretizar e socializar o conhecimento na organização, tendo
como pressuposto que o conhecimento é capital insubstituível para o estabelecimento da competência organizacional.
2002
É impossível pensar nas universidades corporativas sem relacioná-las ao conceito de E-Learning. No contexto de uma realidade globalizada, com tecnologias avançadas de comunicação virtual e interatividade em tempo real,
altera-se o conceito de “presencialidade”. O desafio de proporcionar educação
de qualidade passa a contar, de forma progressiva, com a educação a distância,
O Museu Casa do Pontal lança o livro O Mundo da Arte
Popular Brasileira.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 121
via internet. As universidades proporcionam a sistematização do conhecimento e o disponibilizam via interface virtual, para sua rede social. As UC são
comunidades virtuais de aprendizagem e interação e têm um impacto significativo para a imagem das organizações. Não é por acaso, que a conectividade
é o princípio por excelência na constituição de um sistema de educação corporativa, por meio das UC.
Para a instituição mantenedora, a universidade corporativa significa a convergência de suas ações educativas para uma direção estratégica mais palpável, pois
proporciona o alcance de sua rede social, via socialização de informações, conhecimentos e oportunidades. Em contrapartida, é necessário esforço constante
para a atualização de informações e iniciativas que mantenham a face da universidade, o seu sítio virtual, em sintonia com a atualidade interna e externa. A
comunicação precisa manter-se integral, interativa e dinâmica.
O Banco, contando com robusto sistema educacional, reúne condições para
inserir-se na tendência. As empresas que contam com uma estrutura de universidade corporativa são reconhecidas como antenadas à realidade. Caminhando
na direção de um alinhamento da educação corporativa do Banco com a atualidade, a área de educação mobiliza um grupo de funcionários para conceber
e concretizar projeto para a criação da sua universidade corporativa. O funcionário Hayton Jurema Rocha está à frente da Diretoria Gestão de Pessoas que
encampa a iniciativa.
A equipe designada para conceber a estrutura, diretrizes e modelo operacional
é ampla. A tarefa mobiliza técnicos, consultores e executivos da área. Aqui,
alguns dos nomes que constam dos documentos que viabilizam a apresentação
do projeto: Edgard Rufatto Júnior, Hugo Pena Brandão, Luiz Alberto Andreola,
Marcos Fadanelli Ramos, Mário Lúcio Peconick. Mas, além destes, muitos funcionários trabalham para conceber, estruturar e concretizar uma universidade
corporativa para o Banco.
Jairzinho Oliveira grava o
disco Outro.
2002
2002
Operacionalmente, os ensaios para a implantação da comunidade virtual de
aprendizagem começam com a criação do Portal do Desenvolvimento Profissional do Banco, em julho de 2001. Depois, no desenvolver dos trabalhos, o
conselho diretor aprova, em novembro de 2001, a criação da Universidade Corporativa Banco do Brasil – UniBB, cuja inauguração ocorre em julho de 2002.
Fernando Meirelles lança o
filme Cidade de Deus.
122 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
A linha filosófica de trabalho da UniBB assimila os conceitos das aprendizagens
essenciais para o século XXI, estabelecidos pela UNESCO – Aprender a Conhecer, Aprender a Fazer, Aprender a Conviver e Aprender a Ser – como atitudes
pedagógicas do processo de ensino-aprendizagem e reafirma os eixos metodológicos já consagrados pelos educadores do Banco nas formulações de 1978, 1985
e 1990, como já foi aqui afirmado.
Para a gênese da UniBB o sistema educacional é reorganizado. A estrutura e a
estratégia organizacional devem orientar a ação educativa. As áreas de atuação
do Banco, seus pilares negociais, são o núcleo para o estabelecimento dos enfoques de aprendizagens. As áreas de interesse da empresa passam a constituir
domínios temáticos. O modelo acrescenta a visão global, integrada e dinâmica
do Banco como princípio de funcionamento.
A cerimônia de lançamento é realizada no auditório do Centro Cultural
Banco do Brasil, em Brasília. Participam autoridades, a direção do Banco,
entidades educacionais, educadores e funcionários em geral. Os professores
pioneiros dão testemunhos da caminhada educacional do Banco até chegar à
implantação da UniBB.
A UniBB passa a abrigar internamente a oferta e disponibilização de soluções
educacionais na busca de desenvolver competências, estimulando o aprendizado em consonância com as estratégias da empresa. Externamente, “entrega”
produtos educativos variados à sua rede social. Clientes, fornecedores, enfim,
o público, em geral, pode acessar o site e realizar cursos on line, ler artigos de
interesse, conhecer mais sobre a educação no Banco.
A UniBB firma-se como marca e proporciona projeção da comunidade educacional do Banco como agência que disponibiliza soluções educacionais e socializa conhecimento. Esse é, talvez, o aspecto de maior impacto social, especialmente pela centralidade da educação a distância como modalidade que permite
a universalização do ensino.
2002
A UniBB, pela sua dimensão e capacidade operacional, é representativa do modelo de educação corporificado nas UC. No seu sítio virtual e para além dele,
ela traduz seu slogan: Criando valor pela educação.
A animação O Lobisomem e o Coronel, dirigida por Ítalo Cajueiro e Elvis Kleber,
computação gráfica e animação de Krishnamurti Costa, cenários de Zeluca, vence o
Festival Anima Mundi. Os premiados são funcionários do Banco do Brasil.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 123
A transição
Em outubro de 2000, a UFRH passa a denominar-se Unidade de Função Gestão de Pessoas – UFGP. Oito meses depois, em agosto de 2001, a unidade adquire status de diretoria, passando a denominar-se Diretoria Gestão de Pessoas
– DIPES. Ainda no contexto do ajuste na estrutura, os Centros de Formação
Profissional – CEFOR recebem nova nomenclatura – Gerências Regionais Gestão de Pessoas – GEPES e têm suas funções ampliadas. As unidades são encarregadas das atividades de ensino, gestão de desempenho e orientação profissional
e outras tarefas antes atribuídas aos extintos DEASP e FUNCI. As mudanças
concretizam soluções apontadas desde a elaboração do projeto “Repensando
o DESED”, quando foi detectada a necessidade de descentralizar e dar maior
autonomia aos Centros de Formação.
A ampliação do papel das Gerências Regionais Gestão de Pessoas aumenta a difusão dos saberes da organização, pois a partir daí, as unidades do Banco podem
reportar-se diretamente às GEPES e obter consultoria ou orientação. Assim,
instala-se maior capacidade de socialização e conversão desse conhecimento em
competência organizacional.
Em 2002, a GEDEP recebe a denominação de Gerência de Identificação de
Talentos e Educação Corporativa – GEDUC. O gerente executivo é Marcos
Fadanelli Ramos.
O termo “talentos” inspira a denominação da nova gerência – GEDUC e está
presente na concepção do TAO – Talentos e Oportunidades, ferramenta a ser
utilizada para a identificação e recrutamento de candidatos nos processos seletivos internos. Essa fase assinala um momento de esforço da área para integração
das políticas de desenvolvimento de pessoal.
O Programa Profissionalização tem grande impacto no esforço da empresa para a
capacitação. O período é pródigo na concepção de tecnologias educacionais e de
gestão de pessoas. É intenso o intercâmbio da área de educação com instituições
externas de ensino e tradicionais consultorias dedicadas à qualificação.
O curta Chateaubriand – Cabeça
de Paraíba é exibido no Festival
de Curtas de Sergipe.
2002
2002
A Gerência de Educação Corporativa assimila inovações do mercado, em
compasso com o cenário de mudanças nas práticas e terminologias em educação corporativa.
O filme Bicho de Sete Cabeças, de
Lais Bodanzky, é o grande premiado no
Grande Prêmio de Cinema Brasileiro.
124 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
2002
É possível afirmar que o tempo que marca a existência da GEDEP é momento
de desafios e questionamentos, mas também de criatividade e resistência. Por
isso, a GEDUC terá também muito trabalho pela frente, uma vez que a tarefa
da educação é olhar para o futuro, é saber da necessidade de fazer interrogações
quando tudo parece estar pacificado. Definido para sempre.
Estréia, no Armazém do Rio, a Missa dos Quilombos, com músicas de
Milton Nascimento e textos de Pedro Tierra e Pedro Casaldaglia.
A educação faz diferença
Cultura Organizacional
Em dezembro de 2003, participei do curso Cultura Organizacional.
O que vivi superou qualquer expectativa.
Esperava encontrar um educador técnico, a mostrar em gráficos, de
forma fria e impessoal, o processo de formação do Banco do Brasil.
Deparei com um curso que mostra como a cultura da empresa se
formou.
As diversas situações de um banco plural. Com pessoas de etnias,
costumes e crenças distintas.
Todos com jeito próprio, mas formando a identidade cultural da
organização.
A força de todos, a comunhão de valores construindo a cultura da
empresa.
A contribuição de cada um para a construção do Banco do Brasil.
A experiência foi enriquecedora. Tanto pessoal, quanto
profissionalmente.
Relato de Carmen Célia Santos de Oliveira. Escriturária. Agência Vermelha – Piauí. Em 24.7.2006.
126 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
Quarto capítulo
O futuro é um lugar que mora perto
GEDUC – Gerência de Educação e Desenvolvimento de
Competências Profissionais (de 2003 a 2006)
A educação é por natureza contraditória, pois implica simultaneamente
conservação e criação, ou seja, crítica, negação e substituição do saber
existente. Somente desta maneira é profícua, pois do contrário seria a
repetição eterna do saber considerado definitivo e a anulação de toda
possibilidade de criação do novo.
Álvaro Vieira Pinto
Educação corporativa
Um volver de olhos para os últimos quarenta anos do século XX permite-nos
visualizar um caleidoscópio com imagens intensas. Rápidas. No pós-guerra,
o mundo quer afastar-se de tudo o que lembra escassez, penúria, sofrimento.
Nas décadas de 1970 e 1980, os países subjugados pelos regimes ditatoriais
lutam pelo resgate das liberdades de ação e expressão. Empilham os tijolos da
determinação e da dignidade para construir a democracia.
O tempo passa. A sociedade lança-se com avidez à produção e ao consumo. O
modelo produtivo não leva em conta o esgotamento contínuo da biosfera. No
início dos anos mil novecentos e noventa, os indícios dos prejuízos ao planeta já
são grandes. Em 1992, muitos países reúnem-se no Rio de Janeiro para refletir
sobre o tamanho do estrago. A Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente
e Desenvolvimento, a Eco-92, alerta para a urgência de se começar a racionalizar
o modelo produtivo para o melhor aproveitamento dos recursos naturais.
2003
Começa o novo milênio. O apelo do modelo produtivo baseado no consumo
exagerado, embalado pelo credo do mercado como regulador das relações humanas
e entre nações, leva os países à corrida para produzir e acumular. Nessa aquarela,
a revolução virtual, via informática, a expansão das transnacionais e o incremento
A cineasta Izabel Jaguaribe leva às telas Paulinho da Viola – Meu Tempo é
Hoje, um painel afetivo do cantor, compositor e instrumentista.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 127
exponencial das tecnologias da comunicação vão aprofundando a mundialização
do mercado. Todos buscam alinhar-se e há pressa. Mudam as paisagens política,
natural e econômica do planeta. Tudo aparece associado à noção de sociedade
global. Todos trabalham para a transformação de suas economias.
Acredita-se que a sintonia com as estratégias voltadas para o lucro e para a
acumulação ajustará as economias e que o modelo alcançará os países de forma
homogênea. É proclamado, também, que a tarefa de credenciamento à condição
de competidor no mercado é igual para todos. As economias periféricas deparam
com uma agenda que exige esforços adicionais para acompanhar o ritmo da
competição intercapitalista.
No Brasil, ganham significância eleitoral os partidos com bandeiras populares.
Em outubro de 2002, Luiz Inácio Lula da Silva, fundador do Partido dos
Trabalhadores, é eleito o 39º presidente do Brasil, com margem significativa
de votos.
A tarefa de governar será desafiadora. É preciso trabalhar para minimizar
um histórico déficit social e construir governabilidade. Para isso, é necessário
continuar a atrair investimentos privados, internos e externos, e cuidar do
quadro econômico para impedir a fuga de capitais. É urgente adotar políticas que
induzam taxas de crescimento econômico para geração de postos de trabalho.
No início do milênio, o mundo já enxerga os efeitos da última década de produção
e consumo indiscriminados e do excesso de confiança em que as transformações
econômicas alcançariam as esferas sociais e políticas com melhoria automática
do nível de desenvolvimento social para todas as populações. Realmente, os
principais processos acontecem em escala global, mas os efeitos “bons” da
acumulação ficam com os que já detêm os melhores quinhões. As conseqüências
danosas atingem de forma terrível os menos afortunados; o lixo que sobra do
processo produtivo esgota a biosfera e envenena a Terra.
2003
A noção simplista e redutora de que a mundialização é um “processo homogêneo”
exclui da pauta das instituições a discussão e a construção de protocolos para
a proteção do ambiente e dos explorados. A busca de otimização da atividade
produtiva para ampliação da capacidade de produzir lucro não visualiza o
crescimento econômico como estando “a serviço do bem da humanidade”; ao
Artur Moreira Lima toca em doze municípios às margens, ou próximos ao Rio
São Francisco, com o objetivo de levar concertos para populações carentes.
128 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
contrário, constrói inversão desses elementos. O modelo de acumulação adotado
não produz apenas lucro, gera situações sociais e ambientais graves. A solução
econômica muitas vezes produz problemas humanitários irreversíveis.
Esses fenômenos aumentam ainda mais o desafio do governo para promover
um desenvolvimento regional mais harmônico e criar políticas de inclusão
social efetivas. Nessa direção, já no início do governo, configuram-se diretrizes
voltadas para o conceito de sustentabilidade com ênfase na proteção social e na
diminuição dos níveis de miséria e pobreza no País.
No Banco, em fevereiro de 2003, é dividida a Vice-presidência de Crédito e
Gestão de Pessoas – VICRE. A Vice-presidência Gestão de Pessoas – VIPES tem
como novo vice-presidente Luiz Oswaldo Sant’Iago Moreira de Souza. A VIPES é
composta pela Diretoria Gestão de Pessoas – DIPES e pela Unidade Relações com
Funcionários e Responsabilidade Socioambiental – RSA. A criação dessa unidade
na VIPES, voltada para o cuidado da responsabilidade socioambiental, sinaliza a
busca de maior sintonia da empresa com a visão de sustentabilidade. As políticas
de pessoal e as diretrizes de responsabilidade socioambiental necessitam avançar
na democratização das oportunidades, no incremento da valorização funcional
e pela efetividade do Banco como agente de desenvolvimento do País.
Um dos destaques na composição das diretorias é a nomeação, em 17.2.2003, da
funcionária Rosa Maria Said, primeira mulher a assumir cargo de diretora. Rosa
passa a figurar no rol das pioneiras mulheres que respondem por cargos comissionados no Banco. De anos passados, lembramos, como exemplo, Dona Vênus
Caldeira de Andrada, que em 29.1.1942 é comissionada na função de parecerista
do departamento de funcionalismo do Banco e galga outros cargos, até se aposentar em 3.11.1980 como chefe de seção no setor responsável pela elaboração
do almanaque de pessoal.
2003
A Diretoria Gestão de Pessoas é composta por três gerências executivas. Entre elas
está a Gerência de Educação e Desenvolvimento de Competências Profissionais
– GEDUC, sob a coordenação de Pedro Paulo Carbone. As atividades da
GEDUC correspondem às funções do que foram o DESED e a GEDEP. Em
virtude das mudanças nas tendências em gestão de pessoas e do conhecimento,
essas instâncias não têm funções e papéis idênticos, mas têm em comum, a
incumbência de conceber e executar as políticas de formação.
Criado o Centro de Memória Digital da UnB com o apoio do Ministério da
Cultura, para preservação, pesquisa e divulgação em meio digital do patrimônio
histórico e cultural brasileiro.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 129
A educação, em tempos de cibercultura, impacta e é muito influenciada pelas
tecnologias digitais. Pede pensamento e ação renovados. Exige revisão de paradigmas para atender às demandas de qualificação das empresas. A educação
corporativa cristaliza a visão do ensino e da aprendizagem como processos indissociáveis da estratégia organizacional: a construção e a disseminação do conhecimento a serviço da inteligência corporativa, que confere competitividade
às organizações. No Banco, a UniBB é o elemento que espelha tal movimento.
A GEDUC é a instância que administra esse recurso estratégico para o posicionamento da educação corporativa diante da rede de relacionamento do Banco.
A gerência de educação e desenvolvimento de competências profissionais projeta, assim, o trabalho educativo, que se realiza sobretudo nas gerências regionais
gestão de pessoas, ou sob seu acompanhamento, e orienta as ações educativas
realizadas a partir de parcerias, convênios, entre outras iniciativas.
O Banco está inserido no mais complexo e maior sistema financeiro da América
Latina. Sistema no qual a formação de clientela baseia-se num modelo de relacionamento estreito com o cliente. Isso exige altos padrões de qualidade do atendimento e estratégias de capacitação do pessoal. Esses aspectos delineiam uma
crescente preocupação com investimento, em formação no setor financeiro, para
mobilização de competências técnicas, tecnológicas. Mas o panorama do mundo
globalizado, como já foi dito, inclui novas dimensões para o sistema educacional em geral e para a formação profissional. No Banco do Brasil não é diferente.
Projetando a educação
O desafio de capacitar o corpo funcional para o trabalho assimila nova missão. É preciso preparar os funcionários para manterem a competitividade da
empresa, mas é necessário, sobretudo, incluir como pauta presente em todo o
esforço educativo a reflexão sobre os impactos socioeconômicos e ambientais da
atividade produtiva da organização e do próprio posicionamento pessoal dos
servidores do Banco, em relação ao tema.
O filme Narradores de Javé recebe o
prêmio da crítica no Festival Internacional
de Friburgo, realizado na Suíça.
2003
2003
A pauta primeira da gerência é ampliar as oportunidades educacionais na
empresa, incluir segmentos funcionais historicamente preteridos nas estratégias
educativas. Inclusão é palavra de ordem. A GEDUC tem urgência de trabalhar
Obra de Arthur Bispo do
Rosário é exposta no museu
Jeu de Paume, em Paris.
130 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
para que o modo de pensar e fazer da organização e das pessoas que nela
trabalham repercuta como modelos fundamentais para a disseminação de
conceitos, práticas e atitudes que promovam o desenvolvimento organizacional
cidadão e sustentável.
A capacitação volta-se para oferecer soluções educacionais relacionadas aos seguintes temas: responsabilidade socioambiental, educação e pedagogia empresarial, gestão e estratégia, negócios e apoio aos negócios.
O trabalho educativo
No início, os treinamentos do Banco são realizados no prédio da Direção
Geral, nas instalações do próprio DESED, no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Posteriormente, passam a funcionar em Brasília e Rio, com quadros próprios.
Paralelamente, Belo Horizonte, Londrina, Passo Fundo, Recife, Ribeirão Preto,
Salvador, Santos e São Paulo realizam cursos em salas avançadas, com auxílio
dos funcionários das próprias dependências e com coordenadores itinerantes,
também instrutores, indicados pelo DESED.
No período de 1978 a 1979, são criados os CEREF – Centros Regionais de
Formação, em Belém, Belo Horizonte, Bento Gonçalves, Campo Grande,
Curitiba, Fortaleza, Londrina, Recife, Ribeirão Preto, Salvador e São Paulo.
Estes centros, que contam com quadro próprio, são ligados administrativamente
ao DESED.
A seguir, os CEREF evoluem para uma estrutura com maior autonomia e
passam a denominar-se CEFOR – Centro de Formação Profissional, a exemplo
do Rio de Janeiro e Brasília. Os centros têm coordenação local mas continuam
ligados administrativamente ao DESED.
2003
Em 1992, na administração de José Franco de Moraes, o DESED realiza estudo
para verificar a possibilidade da criação de onze centros para a expansão da rede
CEFOR. A conclusão do estudo constata a necessidade da criação de centros
em Aracaju, Cuiabá, Florianópolis, João Pessoa, Maceió, Manaus, Natal, Porto
Alegre, São Luiz, Teresina e Vitória. O estudo justifica que os novos centros
seriam oportunos para expandir a capacidade de atendimento da demanda e
Francisco Brennand inaugura, em sua oficina, o espaço Accademia
para expor desenhos, pinturas e peças cerâmicas de pequeno porte.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 131
pela minimização de custos com os deslocamentos dos treinandos e instrutores.
Como resultado, sopesadas as implicações benéficas e dificuldades, foram
instalados os centros de Aracaju, Florianópolis, João Pessoa, Maceió, Porto
Alegre, São Luís e Vitória.
Em 1996, a rede CEFOR tem unidades em Aracaju, Belém, Belo Horizonte,
Brasília, Campo Grande, Curitiba, Florianópolis, Fortaleza, João Pessoa, Maceió,
Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Luís, São Paulo e Vitória. Os
centros de São Paulo e Porto Alegre contam com salas de aula avançadas, em
Bauru e Bento Gonçalves respectivamente.
Os CEFOR funcionam como verdadeiras escolas: salas de aula, serviço de
secretaria e coordenação administrativa com autonomia para construir seus
calendários de treinamentos. Nesses mais de quarenta anos da criação de uma
estrutura sistemática para responder e realizar a capacitação na empresa, muito
conhecimento foi compartilhado e muitas experiências socializadas nos CEFOR.
Em 1997, há uma reestruturação da rede, que passa a contar com doze centros, sendo desativadas as seguintes unidades: Aracaju, João Pessoa, Maceió,
São Luís, Vitória e as salas avançadas em Bauru e Bento Gonçalves. Essa reestruturação tem como objetivo o enriquecimento das funções dos Centros de
Formação que, a partir dali, passam a atuar também na orientação de carreira,
além de acompanhar o processo de gestão de desempenho. Assim, apesar da
diminuição, os centros ganham em importância quanto ao seu papel, que até
então restringe-se à operacionalização de treinamentos.
A existência dos Centros de Formação, nos Estados, aproxima das ações da direção geral, as agências do Banco espalhadas pelo território nacional. Viabilizar
essa descentralização, no entanto, leva ao encontro de alguns obstáculos. As
dimensões continentais do País, por exemplo, constituem fator que, ao mesmo
tempo que pedem essa capilaridade, trazem elementos que dificultam a manutenção das estruturas regionais.
2003
A partir de dezembro de 2000, os Centros de Formação – CEFOR são substituídos
pelas GEPES – Gerências Regionais Gestão de Pessoas, unidades criadas para
concretizar as políticas de pessoal e de responsabilidade socioambiental do Banco.
O Fórum Social Mundial realizado em Porto Alegre discute Mídia,
Cultura e Alternativas à Mercantilização e Homogeneização.
132 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
Por sua maior abrangência, suas funções extrapolam o serviço educacional
prestado, anteriormente, pelo CEFOR.
Em 2004, o fluxo operacional das unidades regionais é organizado em núcleos de
trabalho, obedecendo aos seguintes temas que abrigam suas tarefas: cidadania,
educação, gestão e trabalho. Assim, nas GEPES, o setor que presta atendimento e
realiza os serviços relativos à educação empresarial é o Eixo de Desenvolvimento
Pessoal e Profissional – DPP.
As GEPES têm liberdade para organizar seus serviços da forma mais adequada
à sua realidade regional, mas o Eixo DPP responde pelo trabalho educativo em
geral. Atualmente, os Eixos de Desenvolvimento Pessoal e Profissional realizam
o trabalho que antes cabia aos CEFOR, quando os centros regionais respondiam
somente pela tarefa educacional.
Em 2005, é autorizada a ampliação da Rede GEPES e em fevereiro de 2006,
entram em funcionamento mais oito unidades. As atuais GEPES estão localizadas
nas seguintes cidades: Belém, Belo Horizonte, Brasília, Campo Grande, Cuiabá,
Curitiba, Florianópolis, Fortaleza, Goiânia, João Pessoa, Manaus, Natal, Porto
Alegre, Recife, Ribeirão Preto, Rio de Janeiro, São Luís, São Paulo e Vitória.
A efetivação das políticas de gestão de pessoas e responsabilidade socioambiental
depende da atuação das GEPES, que realizam a interface das diretorias com
os funcionários em todo o País. O trabalho é complexo, apresenta múltiplas
dimensões em virtude da variedade de processos e serviços que as gerências
regionais realizam.
O Brasil comemora o centenário de Cândido
Portinari, nascido numa fazenda de café em
Brodoswki, interior de São Paulo.
2003
2003
A metáfora sugerida por Leonardo Boff para falar das dimensões humanas – a
prosaica e a poética – talvez possa ser emprestada para uma comparação ao
trabalho que as GEPES devem realizar: prestar atendimento personalizado,
cuidadoso aos funcionários, sem perder de vista os valores, crenças e estratégias
da empresa. A precisão da galinha aliada à perspicácia da águia, como ensina
o pensador missionário da Teologia da Libertação, para enfrentar o desafio de
cuidar das pessoas da organização e contribuir para o cumprimento da missão
da empresa.
Jacob do Bandolin é
homenageado no disco Ao
Jacob, seus Bandolins.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 133
A Educadoria, uma história à parte
A preparação do educador é permanente e não se confunde com a aquisição de um tesouro de conhecimentos que lhe cabe transmitir a seus
discípulos. É um fato humano que se produz pelo encontro de consciências livres, a dos educadores entre si e a destes com os educandos.
Álvaro Vieira Pinto
Historicamente, as competências pedagógicas de funcionários do Banco têm
sido convertidas em prática educativa para a produção de saberes institucionais.
As demandas para qualificação de pessoal são, desde os primeiros tempos, em
grande parte, atendidas com o aporte de conhecimentos de funcionários que
agregam ao exercício de suas funções cotidianas como profissional bancário, a
missão de entrar em sala de aula.
Examinando a história da educadoria, verifica-se que, excluindo a experiência
dos instrutores residentes, mencionada no segundo capítulo do livro, sempre foi
estratégia da área de educação a não-constituição de um quadro de educadores
dedicados exclusivamente às salas de aula. A vivência dos educadores nas diferentes funções mantém esses profissionais em sintonia com a realidade, a par
dos fluxos operacionais e da cultura organizacional.
O educador tem importante papel institucional. É o arauto das mensagens
organizacionais que revestem o conteúdo programático dos cursos. A prática
pedagógica do educador tem efeito multiplicador. Por isso, o processo de formação pedagógica apresenta peculiaridades e passa por modificações de acordo
com a dinâmica organizacional.
Até 1997, o processo de formação é efetivado no Curso de Formação de Instrutores – CFI. Uma formação extensa, cento e vinte horas-aula, e considerável
nível de aprofundamento das matérias de natureza pedagógica e de disciplinas
correlatas. Além da instrumentalização didática, o curso proporciona reflexões
sobre o papel do futuro instrutor.
O Homem que Copiava ganha o
prêmio de melhor filme no Festival de
Cinema Brasileiro de Paris.
2004
2003
Os formandos são orientados para o exercício de outras atividades, além das
previstas atuações em sala de aula. Eles podem ser chamados para planejar ou
revisar cursos, planejar e coordenar encontros de atualização, elaborar questões
Lançado o filme O Vestido,
inspirado no poema de Carlos
Drummond de Andrade.
134 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
para processos seletivos. Em documentos institucionais de 1993, está registrado
que a função do instrutor é “Desenvolver ações de formação, especialmente,
aquelas ligadas às atividades docentes, que visem o desenvolvimento pessoal e
profissional dos funcionários”.
O Curso de Formação de Instrutores proporciona reflexões para além da simples
transmissão de conhecimentos. São comuns relatos de funcionários em formação,
quanto à intensidade das vivências, quanto à necessidade de esforço intensivo para
atender às exigências do processo avaliativo. O conhecimento é construído num
ambiente de rico intercâmbio de experiências. As turmas congregam funcionários
de muitos lugares do Brasil. A diversidade é propícia à percepção da realidade
institucional a partir das distintas culturas locais e regionais.
Os funcionários que ministram a formação pedagógica dos futuros instrutores
são chamados de instrutores da área metodológica ou instrutores-formadores.
Eles não provêm do curso que aborda o tema específico da formação. São
selecionados por meio de rigoroso processo seletivo. Na formação pedagógica
são estudados conteúdos voltados essencialmente para a metodologia de ensino.
Esses instrutores repercutem na história dos formandos. Alguns são “gurus” para
toda a vida. Exemplos internalizados no momento da formação e que, muitas
vezes, reverberam na existência dos que abraçam a educação institucional. São
comuns os depoimentos de funcionários que passam pela formação, sobre a
importância do exemplo do intrutor-formador para suas futuras atuações, bem
como para o seu dia-a-dia como profissional bancário.
O documentário Estamira recebe
diversos prêmios.
2004
2004
Com o paulatino aumento do quadro, aos formadores pioneiros – alguns saídos
dos setores de planejamento do então DESED – foram se somando outros
que chegam à instrutoria, via processo seletivo realizado nacionalmente, em
1994. Muitos nomes dos tempos do CFI estão inscritos na história da área
metodológica. Alguns de pessoas com grande número de atuações, outros com
presença mais espaçada em sala de aula, mas todos importantes para demarcar
a área pedagógica como lugar diferenciado no âmbito da área educacional da
empresa. São muitos os nomes, ouvidos de relatos nas entrevistas que realizamos,
outros firmados nos documentos que pesquisamos. Aproveitamos para registrálos aqui: Alair Negri, Antonio Massarioli André, Antônia de Maria V. B. do
Rego, a Beiga, Afonso Celso Agrello, Eliana Santos Faccini, João Hamilton
O Museu de Arte Brasileira realiza a
exposição O Olhar Modernista de JK.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 135
dos Anjos Vianna – o Senador, José Marcelo Assunção, Jovani Carlo Pereira
Cieglinski, Luiz Antônio Barbieri, Maria José Trindade, Mário Batista Catelli,
Mário de Muzio, Nelma Jair Santos da Silva, Oscar Capello, Ronnie Cláudio
dos Santos, Rui Severino de Lira, entre outros.
Em 1998, o modelo de formação dos instrutores passa por significativa mudança. A carga horária é diminuída em oitenta horas. A redução tem impacto
nos conteúdos e direcionamento do curso. A estratégia educacional da empresa,
desde 1996, passara a ter como pilares a gestão do conhecimento e a busca
de estabelecimento de competências profissionais e organizacionais para maior
competitividade. Por isso, no curso, os temas relativos à fundamentação pedagógica agregam as visões de inovação e gestão do conhecimento. Elaborações
amparadas na teoria de Ikujiro Nonaka e Hirotaka Tackeuchi, teóricos da administração, que pensam o conhecimento a partir de suas experiências administrativas e da formação que receberam em Harvard. Os dois teóricos exploram
aspectos referentes à criação e socialização do conhecimento na empresa. Trazem embasamentos para a compreensão de como se dá a conversão do conhecimento para que as organizações humanas não sejam meras processadoras de
informações, mas criadoras de conhecimento, inovadoras.
O curso passa a ter a denominação de Fundamentos Pedagógicos para
Instrutores – FPI. Sua formulação didática prioriza os novos conteúdos
relativos à criação do conhecimento na empresa. O objetivo é sintonizar
a formação metodológica com o direcionamento estratégico da empresa.
Os temas ligados à Metodologia, Didática e Filosofia da Educação que, na
formação anterior tinham tratamento mais aprofundado, são minimizados,
pelo menos nas atividades de sala. Para amenizar o problema, são apontadas
referências bibliográficas para aprofundamento do tema por meio do esforço
autodidata dos futuros instrutores.
2004
Outra inovação do formato de preparação pedagógica é que os instrutores
passam a ser chamados, a partir daí, de educadores corporativos. Todas essas
modificações se inscrevem no rol de medidas para o ajuste da área de educação
visando à maior compatibilidade com a estratégia organizacional.
Inaugurada no Museu do Palácio Imperial, em Beijing (China), a exposição
Amazônia: Tradições Nativas em comemoração ao 30º aniversário do
estabelecimento das relações diplomáticas entre a China e o Brasil.
136 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
Em 2004, a formação dos educadores passa por nova revisão e o curso recebe a denominação de Preparação de Educadores – CPE. A carga horária é
ampliada para oitenta horas. O aumento das horas em sala de aula resgata a
possibilidade de aprofundamento dos conteúdos pedagógicos obliterados no
modelo anterior.
Na modelagem teórica, os referenciais que ao longo do tempo alicerçam a ação
educativa, como a epistemologia histórico-social de Paulo Freire e o construtivismo, são ampliados com adoção da teoria da complexidade de Edgar Morin e
a visão da multirreferencialidade de Jacques Ardoino. A Filosofia da Educação e
a Metodologia de Ensino voltam a ter tratamento mais coerente com os objetivos de um curso que pretenda oferecer uma formação pedagógica.
A introdução da complexidade e da multirreferencialidade no currículo dos formandos vai ao encontro da instrumentalização dos futuros educadores para que
possam refletir, nas suas práticas pedagógicas, um posicionamento não-ingênuo
quanto aos desafios que a realidade impõe. Morin coloca o pensamento complexo, não como antinomia do pensamento simples, mas do pensar simplificador
que leva à compreensão redutora da realidade. A teoria da complexidade se opõe
a reducionismos de toda ordem, nega a capacidade das “disciplinas quebradas”
– que separam os saberes para ocultar que a realidade é multidimensional –,
de fornecer princípios de inteligibilidade ao esforço para compreensão de nossa
condição humana e de todos os fenômenos aí imbricados. A epistemologia da
complexidade traz uma proposta de reformulação dos paradigmas para construção do conhecimento. Critica o cartesianismo, que vincula a produção dos
saberes à simplificação lógica.
A abordagem multirreferencial de Ardoino defende que a construção do conhecimento só é possível pela adoção de múltiplas perspectivas de exame. O
autor propõe uma leitura plural da realidade, partindo de distintos sistemas
de referência. Ardoino assume a hipótese da complexidade e daí firma o posicionamento da exigência de diversificadas referências para estabelecimento de
critérios válidos de inteligibilidade do real.
Benjamim é o segundo livro
de Chico Buarque adaptado
para o cinema.
2004
2004
A formação dos educadores tem o currículo e a programação reelaborados para
inclusão de referenciais mais sintônicos com os acenos da realidade. Tem como
pano de fundo “a ótica da formação permanente e da missão do Banco do Brasil
Relançamento do documentário
Doces Bárbaros, do diretor Jom
Tob Azulay.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 137
no contexto brasileiro.” Roque Tadeu Gui e João Bosco da Silva coordenam as
ações para sua implantação.
Dentre as ações promovidas com a finalidade de sintonizar os educadores da área
metodológica com as correntes teóricas de Morin e Ardoino, em 2004 é realizado
um encontro em Brasília para atualização dos educadores corporativos dessa área.
O seminário tem o objetivo de socializar informações para uma uniformidade
quanto à orientação teórico-prático da área. Fórum profícuo, o encontro traz professores e intelectuais do Brasil e do exterior para palestras e debates em torno
dos desafios pedagógicos dos educadores corporativos, discussões sobre ética e
apresentações sobre as novidades teóricas. Os professores Rogério Córdova, da
Universidade de Brasília – UnB, e os professores Guy Berger e Luc Ridel da Universidade Paris III proferem palestras sobre o novo aporte teórico do curso.
Desde as origens, existe a preocupação de acompanhar o trabalho dos educadores para que suas ações repercutam o discurso institucional e favoreçam o cumprimento da missão do Banco. A partir da década de setenta, os funcionários
que realizam o direcionamento da ação da antiga Instrutoria, hoje Educadoria,
têm relacionamento mais próximo com esses funcionários. Criam normas e
regulamentos para uma ação uníssona com a identidade institucional. Alguns
nomes compõem o quadro dos pioneiros: Mário Batista Catelli, Norma Parrot,
Nancy Maria della Santa Coneglian, Antônio Massarioli André e Antônia de
Maria V. B. do Rego, a Beiga.
Na década de mil novecentos e noventa é criado o NUFOR – Núcleo de
Formação de Instrutores – que passa a cuidar dos serviços de instrutoria. O
núcleo coordena o quadro de instrutores com o objetivo de garantir a realização
dos cursos. Sérgio Riede gerencia o núcleo recém criado e conta com a assessoria
das funcionárias: Izabela Campos Alcântara Lemos, Liliam Tabet Álvaro, Maria
Inês Campos de Torrecillas e Nelma Jair Santos da Silva. O segundo a responder
pelo NUFOR é Roque Tadeu Gui. Com o fim do núcleo e na sucessão, à frente
da tarefa de acompanhamento da qualidade dos serviços da educadoria estão
Daniel Garcia, Luciana Rossi e Névio Carlos de Alarcão.
2004
Atualmente, o acompanhamento do trabalho dos educadores é realizado pelas
Gerências Regionais Gestão de Pessoas que, em parceria com a Gerência de
Educação e Desenvolvimento de Competências Profissionais, realiza esse mister.
Sinfônica do Paraná interpreta Villa-Lobos no Guairão. A orquestra
traz o renomado maestro Roberto Tibiriçá, um dos maiores intérpretes
contemporâneos de Villa-Lobos.
138 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
A partir do trabalho pedagógico, os educadores corporativos compõem uma
rede dos mais diversos saberes, das mais distintas áreas, que são socializados no
dia-a-dia “escolar” das GEPES ou nas salas de aula que a criatividade inventa e
que a vontade de aprender improvisa nos mais diferentes lugares do Banco.
A história da Educadoria é indissociável do caminhar pedagógico da organização.
Para fazer eco às contribuições da Educadoria seria necessário que sua memória
tivesse registro especial. Este breve histórico serve apenas para fixar, em linhas
gerais, sua importância.
Educar, por quê?
A ciência que está naquele imenso livro (a saber, o universo) que temos
constantemente diante dos olhos, não podemos compreendê-la se antes
não tivermos aprendido sua linguagem e os símbolos nos quais está
escrito. Ele foi escrito em linguagem matemática...
Galileu Galilei
Ao longo de sua história, o Banco tem realizado esforço para qualificar seu pessoal tendo como horizonte o desempenho organizacional de excelência. A existência das instituições financeiras depende da capacidade dessas organizações
de trabalhar com números. Multiplicar resultados. Compartilhar dividendos.
Somar clientes. Diminuir riscos.
O desenrolar histórico mostra que o trabalho está cada vez mais vinculado ao
conhecimento. Se no alvorecer da Revolução Industrial, a produção dependia
pouco da técnica, que exige conhecimento, os tempos atuais descerram uma
cortina que mostra o ato do trabalho absorvendo cada vez mais conhecimentos.
Agrega tecnologia. E a educação para o trabalho acompanha essa realidade.
No Banco do Brasil, nos últimos quarenta e um anos de educação corporativa
e sistemática, as exigências de desempenho em cada época ditam os temas, os
conteúdos relativos e correlatos à área financeira que vão desenhar seus programas educacionais.
2004
O que foi ensinado nas quatro décadas de ensino institucionalizado no Banco?
Para responder a essa pergunta podemos visualizar os conteúdos que estruturaViva Cassiano ganha o prêmio do júri popular no 37º Festival de Brasília do
Cinema Brasileiro. O filme é uma homenagem em verso e prosa aos 83 anos
do poeta “santista-brasiliense” Cassiano Nunes.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 139
ram os programas educativos, nos diferentes períodos que compõem o tempo
educativo da empresa.
Assim, examinando as décadas de 1960 e 1970 percebemos a predominância
de estudos ligados à boa técnica contábil, características de uma fase em que a
eficiência é signo da ação institucional. Temas como liquidez e rentabilidade
são motes para a estruturação dos programas, mas numa visão ainda calcada na
concepção mais burocrática da administração.
No entanto, a institucionalização do crédito rural com vistas ao desenvolvimento econômico e social, como fulcro da identidade da empresa, no
período, mostra como protagonistas da cena, além dos assuntos ligados à
contabilidade, os conteúdos necessários à orientação dos clientes na formulação dos pedidos de financiamento junto ao Banco e os conhecimentos
exigidos para o acompanhamento dos empreendimentos financiados. Podese perceber que a assessoria técnica, no momento da concessão do crédito, é
também tônica na definição das áreas de estudos. Nesse sentido, compõem
o currículo dos principais cursos: Financiamento à Pecuária, Modalidades
do Crédito Rural, estudo de propostas de empréstimos e condições do crédito, os instrumentos de crédito rural, entre outros. As demandas da área
internacional levam às salas de aula os conteúdos que exploram a Teoria
Econômica do Câmbio: conhecimentos de comércio internacional, a estrutura do mercado de câmbio no Brasil, exportações e importações e assuntos
centrais para os procedimentos de operacionalização das operações da área.
Na década de 1970, inicia-se também o esforço de capacitação para qualificar o atendimento com predicativos de presteza e bom acolhimento do
cliente com a conseqüente inclusão de conteúdos voltados para o desenvolvimento de habilidades relacionais.
A escritora Ruth Rocha
completa 35 anos de
carreira.
2005
2004
Na década de 1980, as ações formativas introduzem conteúdos com mais ênfase
na administração econômico-financeira. É esse o tempo em que o marketing
começa a fazer parte das lições a estudar. O mercado financeiro é objeto privilegiado de estudo a partir de diferentes abordagens, com ênfase na abordagem
prática do mercado de produtos financeiros. A educação institucional é ainda
mais valorizada como instrumento para a busca de excelência e as políticas são
fortemente amparadas por ações pedagógicas que lhes dão suporte. A rentabiVladimir Carvalho inicia as gravações
de O Engenho de Zé Lins, baseado na
obra de José Lins do Rego.
140 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
lidade dos negócios também ganha espaço como área de aprimoramento, portanto, matérias relacionadas a custos e controle passam a ocupar com mais força
os programas de estudo.
A década de 1990 é a era da qualidade e dos serviços, da satisfação do cliente
via excelência do atendimento. Os segmentos gerenciais, técnicos e operacionais envolvidos com o atendimento constituem a prioridade na constituição
dos públicos das soluções educacionais da empresa. Há uma sistematização dos
cursos que têm como objeto os ensinamentos sobre produtos e serviços e sobre marketing. Alinhando-se a isso, temos conteúdos relativos à disseminação
de conceitos de marketing, diferenças entre produto e serviço. Há um franco
investimento no sentido de incrementar o desempenho dos funcionários como
consultores de produtos financeiros.
O início do milênio traz para o Banco o desafio da mudança do sistema brasileiro de pagamentos – “Conjunto de procedimentos, regras, instrumentos e
operações integradas que permitem a movimentação financeira na economia de
mercado”, no caso, a brasileira – que trouxe impactos imediatos para as instituições financeiras, principalmente para o Banco, como agente das políticas financeiras do governo. Por isso, simultaneamente aos preparos para enfrentamento
das possíveis ameaças advindas com a virada do calendário para os anos 2000
– o chamado Bug do Milênio – esforço para o qual a área de educação é muito
demandada, inicia-se o planejamento para implantação do controle on line das
contas de reservas bancárias no Sistema de Pagamentos Brasileiros. A mudança
está prevista para 2002. A implantação do novo sistema inicia-se, em 1999, com
estudos para sua viabilização. São criadas equipes para uma transição eficaz. O
controle, em tempo real, das movimentações do sistema financeiro afetará a
rotina bancária. A mudança implica preparação dos sistemas do Banco para a
adaptação à sistemática e pede a capacitação tempestiva de amplos segmentos
funcionais. Um eficiente plano de comunicação associado a ações de educação a
distância são os principais meios usados para a disseminação da sistemática.
O filme Olga vence seis
categorias no Prêmio Adoro
Cinema Brasileiro.
2005
2005
Nos anos 2000, outro destaque é o esforço para a certificação dos funcionários que atuam como consultores em investimento no atendimento. Em
17.12.2003, o Conselho Monetário Nacional baixa a resolução 3.158 que
torna obrigatória a certificação em investimentos para os profissionais que
Lançado o filme Cinemas,
Urubus e Aspirinas, do cineasta
pernambucano Marcelo Gomes.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 141
prestam serviços relativos à “distribuição e mediação de títulos, valores mobiliários e derivativos”. As provas para certificação devem ser organizadas por
entidades de reconhecida capacidade técnica no assunto. A partir daí, a Diretoria Gestão de Pessoas vê-se diante de novos desafios e a área de educação,
mais uma vez, tem papel fundamental na composição do esforço para o atingimento das metas institucionais. Faz-se necessário elevar o nível de conhecimento dos profissionais para realizar certificações em massa. São elaborados
dois cursos preparatórios: um destinado aos funcionários que precisam obter
certificação no nível básico e outro, voltado para a qualificação do público que
se submeterá às avaliações para certificação no nível avançado. Nesses cursos,
os conteúdos são os previstos para composição das provas de avaliação. Assim,
os treinandos estudam desde noções de Economia e Finanças, passando por
conhecimentos de Investimento, Fundos, Produtos Bancários até Mercados
de Derivativos. Ética e Relacionamento também fazem parte do programa. O
esforço não resulta inútil. O Banco do Brasil figura, em 2006, como a instituição com melhor índice de aprovação.
Podemos perceber que cada período apresenta ênfase sobre determinado conteúdo que o movimento dinâmico da realidade pede, mas além dos conteúdos
que são fulcros dessas ações extraordinárias, é intenso, também, o trabalho pedagógico para a disseminação dos conhecimentos que compõem o currículo
preparatório para a rotina bancária.
Assim, a despeito das contingências e emergências, existe um esquema de capacitação voltado para a eficácia dos fluxos operacional e administrativo, bem
como dos processos de gestão que possibilitam o trabalho cotidiano nas unidades do Banco.
O Museu de Arte Brasileira expõe A
II Guerra Mundial. Por quê? Como?
Para quê? Memórias do exército
Brasileiro e do Jornal do Brasil.
2005
2005
Num rápido exame, podemos concluir que nos anos 2000 há uma maior abrangência de áreas necessárias à formação do profissional do Banco. Os temas que
foram surgindo ao longo dos anos, não desaparecem, são assimilados às lições.
Passam a figurar nos programas a partir de uma abordagem transdisciplinar.
O conteúdo de natureza bancária, propriamente dita, é o centro dos processos
formativos, mas aparece permeado por temas trazidos pelas exigências da complexidade contemporânea. De qualquer forma, analisando os temas programáticos dos cursos disponíveis no momento, podemos enxergar a importância de
Antônio Poteiro expõe seus
trabalhos no museu Internacional
D’Art Naïf Anatole Jakovsky,
França.
142 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
conteúdos que desenvolvem temas referentes a: conhecimento dos produtos e
serviços financeiros, análise econômico-financeira e de crédito, gestão do crédito, agronegócios, engenharia financeira e análise de investimentos, o processo
de crédito rural, comportamento do consumidor, análise de fluxo de caixa e
análise de investimento, segmentação de mercado, relacionamento empresacliente, conhecimento do mercado financeiro, marketing de serviços, controle
para a melhoria dos processos. Outros destaques são: mercado de seguros, exportações, importações, modalidades de financiamento e resoluções, garantias,
mercado internacional, segurança bancária, ética nas negociações, direitos do
consumidor, entre outros. Essa amostra diz muito bem da diversidade e abrangência do desafio pedagógico da atualidade para a educação institucional.
Apesar de os conteúdos estarem muito ligados, pelo menos em tese, à instrumentalidade da educação, o método pedagógico que anima nossos encontros
em sala de aula é o construtivismo, apoiado na metodologia dialética de ensino. Por isso, apesar de sermos uma instituição financeira e a ênfase e o escopo
de nossa formação estarem voltados para qualificar o profissional bancário em
consonância com as exigências de suas tarefas cotidianas, essa instrumentalidade dos conteúdos está sempre subsumida à visão de uma educação integral,
razão pela qual esses temas de natureza financeira, econômica e contábil são, na
medida do possível, mediados ou revestidos por temas transversais referentes à
ética, às relações humanas e a outros. Nos anos 2.000, por exemplo, a sustentabilidade e tudo o que está em volta desse tema, estão presentes nos currículos do
Banco. Por este motivo preferimos dizer que não educamos com uma visão estreitamente instrumental, ou seja, não educamos para quê. Educamos, porquê.
Porque o trabalho com sentido deve ser o horizonte da formação profissional.
Educação e sustentabilidade
Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os
membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis
constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz mundial...
Oscar Niemeyer lança o
livro Minha Arquitetura,
1937 – 2005.
2005
2005
Termo introdutório da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 10 de
dezembro de 1948.
Graúna, Capitão Zeferino e Bode Orelana,
personagens de Henfil, fazem parte de
exposições no CCBB.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 143
Atualmente, o desafio de crescer, manter-se competitivo economicamente sem
perder de vista os desafios da busca de ecoeficiência, inclusão social e respeito humanitário só podem ser enfrentados com o apoio de estratégias efetivas,
políticas operacionalizáveis e valores que ditem práticas compatíveis com esses
desafios. Para cultivar atitudes próprias ao enfrentamento desses desafios, é necessário que as organizações pensem no seu papel para a construção de um futuro sustentável. A noção de mercado, hoje, é muito ampla, extrapola as cadeias
tradicionais de produção e consumo. Conseqüentemente, o conceito de sustentabilidade, que originalmente ligava-se apenas ao meio ambiente, permeia todas
as atividades, principalmente, as econômicas.
O Museu Oscar Neimeyer de Curitiba
realiza a exposição Para Nunca Esquecer
– Negras Memórias, Memórias de Negros.
2005
2005
Nesse cenário, em julho de 2003, o conselho diretor do Banco expressa documento para firmar compromisso com o avanço de uma cultura de sustentabilidade. Esta noção será a baliza do relacionamento do Banco com sua rede social.
São quatorze princípios que abrangem possibilidades de assunção e incremento
de postura compatível com a responsabilidade socioambiental e com a cidadania. Na próxima página apresentamos a Carta de Princípios e Responsabilidade
Socioambiental.
Bibi Ferreira grava CD de
tangos, acompanhada pelo
pianista Miguel Proença.
144 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
Carta de Princípios de Responsabilidade Socioambiental – RSA
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Atuar em consonância com valores universais, tais como: Direitos
Humanos, Princípios e Direitos Fundamentais do Trabalho, Princípios
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.
Reconhecer que todos os seres são interligados e que toda forma de
vida é importante.
Repelir preconceitos e discriminações de gênero, orientação sexual,
etnia, raça, credo ou de qualquer espécie.
Fortalecer a visão da responsabilidade socioambiental como investimento permanente e necessário para o futuro da humanidade.
Perceber e valer-se da posição estratégica da corporação BB, nas
relações com o governo, o mercado e a sociedade civil, para adotar
modelo próprio de gestão da responsabilidade socioambiental à altura
da corporação e dos desafios do Brasil contemporâneo.
Ter a transparência, a ética e o respeito ao meio ambiente como balizadores das práticas administrativas e negociais da empresa.
Pautar relacionamentos com terceiros a partir de critérios que observem os princípios de responsabilidade socioambiental e promovam o
desenvolvimento econômico e social.
Estimular, difundir e implementar práticas de desenvolvimento
sustentável.
Enxergar clientes e potenciais clientes, antes de tudo, como
cidadãos.
Estabelecer e difundir boas práticas de governança corporativa,
preservando os compromissos com acionistas e investidores.
Contribuir para que o potencial intelectual, profissional, artístico, ético
e espiritual dos funcionários e colaboradores possa ser aproveitado,
em sua plenitude, pela sociedade.
Fundamentar o relacionamento com os funcionários e colaboradores
na ética e no respeito.
Contribuir para a universalização dos direitos sociais e da cidadania.
Contribuir para a inclusão de pessoas com deficiência.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 145
A divulgação da Carta de Princípios traz repercussões significativas para a área
de educação. A partir daí a capacitação precisa incluir a inserção de conteúdos
voltados para a instalação ou aprofundamento de valores e a formação, principalmente a dos gestores, deve guardar consonância com os princípios que
passam a direcionar o comportamento organizacional.
Em 2004, a vice-presidência tem a missão ampliada e recebe a denominação
de Vice-presidência Gestão de Pessoas e Responsabilidade Socioambiental.
A ex-unidade de RSA ganha status de diretoria. A sigla permanece. Assim, a
VIPES passa a ser formada por duas diretorias: a DIPES, já sob a gestão de
Juraci Masiero e a recém-criada Diretoria de Relação com Funcionários e
Responsabilidade Socioambiental – DIRES.
A DIRES nasce para expressar a centralidade da responsabilidade socioambiental como valor e atitude a permearem as ações e políticas institucionais do Banco. A diretoria é encabeçada por Izabela Campos Alcântara Lemos, e tem a missão de engajar o esforço institucional para incremento da cultura organizacional
voltada para a cidadania e a sustentabilidade.
Para tanto, precisa implementar ações no sentido de promover a interdisciplinaridade nos currículos de formação, principalmente nos dos gestores, visando
incluir nas soluções educacionais criadas na empresa, as questões para instalação
de valores e práticas para promoção da sustentabilidade.
A DIRES e a Fundação Banco do Brasil cumprem papéis distintos, mas igualmente importantes na direção da sustentabilidade e da cidadania. A fundação
atua no apoio e criação de projetos de trabalho e renda, alfabetização de adultos,
entre outras ações voltadas para a promoção da cidadania.
Diante dos desafios que a realidade traz, nesse início de milênio, a responsabilidade
socioambiental é horizonte a nunca se perder de vista nas ações corporativas.
Desenvolvendo competências
Explorar e fazer escolhas são fontes de aprendizagem e desenvolvimento
de competências.
O diretor Antunes Filho encena
a tragédia grega Antígona, de
Sófocles.
2005
2005
Philippe Zarifian
Paulo Autran mostra seu
talento em Adivinhe quem
vem para rezar.
146 - ITINERÁRIOS
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BANCO
DO
BRASIL
Já vimos, que a partir da década de 1990 aumentam, no Banco, o interesse e
novas ações para que a avaliação funcional extrapole, da simples aferição do desempenho do indivíduo, para um sistema que possibilite o aprimoramento da
perfórmance organizacional. Lá “naquele tempo”, o desempenho é verificado e
as balizas usadas para essa mensuração são os fatores de desempenho. Contudo,
a ênfase ainda é voltada para a forma como o trabalho é realizado e não para o
seu impacto para a organização.
Atualmente, a gestão do desempenho profissional parte do conceito de competência como atributo do trabalho realizado a partir das situações concretas
da realidade. As competências, nesse sentido, traduzem áreas de excelência do
trabalho e são observadas a partir das dimensões que compõem a experiência. A
combinação sinérgica de atitudes, conhecimentos, habilidades e valores articulados no trabalho do funcionário expressa essas competências.
A partir de 2005, o modelo de gestão de competências do Banco adota uma
ferramenta para desenvolvimento profissional associado à gestão de carreira. É o
Plano de Desenvolvimento de Competências – PDC. Esse instrumento permite
planejar ações de capacitação definidas pelo próprio funcionário com vistas à
superação de deficiências de desempenho, aprimoramento ou mesmo ampliação dessas competências, de acordo com a escolha do funcionário a partir do
que espelha sua avaliação. O PDC, no âmbito dos sistemas de gestão de desempenho e de carreira sinaliza, para a área de educação, caminhos, possibilidades e
limites para a educação institucional. Ele é um termômetro que pode fornecer
direcionamentos e tendências de necessidades de capacitação.
O PDC constitui importante ferramenta de autogestão do desenvolvimento
profissional, sinaliza para a necessidade da educação permanente e leva em conta as informações vindas de diferentes fontes, uma vez que o Banco adota o
modelo de avaliação 360º, forma ampla e democrática, na qual, os funcionários
se avaliam entre si, e cada um se avalia. O gestor é fundamental no processo
avaliativo, pois atua como agente catalisador para o desenvolvimento de competências de seus funcionários.
A Fundação Nacional de Arte – Funarte
reabre a Casa Paschoal Carlos Magno,
no Rio de Janeiro.
2005
2005
A adoção do sistema de avaliação por competências configura a necessidade da
estreita vinculação dos sistemas de gestão com a área de educação, pois o papel
Ivete Sangalo grava o disco
Super Novas.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 147
da capacitação é fundamental para o desenvolvimento de competências conciliadas às necessidades das estratégias organizacionais. Todos os sub-sistemas de
gestão contribuem para a concretização de práticas gestoras, capazes de responder à complexidade da gestão no Banco. A área de educação, entretanto, é setor
de convergência e disseminação de saberes para a construção das competências
como manifestações concretas da capacidade de trabalho e do nível de excelência do desempenho organizacional. Em acolhimento a esse desafio, é criada a
oficina denominada Gerenciando o Desenvolvimento de Competências para
“disseminar a filosofia do novo sistema de Gestão do Desempenho e estimular
a atuação do gerente como agente fundamental no desenvolvimento profissional dos funcionários da sua equipe.” É realizado um esforço recorde para essa
disseminação.
Todos os níveis gerenciais vão à sala de aula e participam da oficina.
Gestão e educação
Os líderes empresariais do passado eram especialistas em construir
paredes, delimitar campos de atuação; os de hoje são exigidos para
derrubar paredes e construir pontes internas e externas que liberem os
talentos humanos.
Stephen P. Robbins
O que é ser líder nesse início de milênio? O que é liderar num contexto de
tantas mudanças e incertezas? A despeito da resposta que se encontre para essas
interrogações, uma certeza é evidente. É o surgimento de requisitos que até
então não se incluíam no rol de atitudes a serem trabalhadas na capacitação dos
gestores. No Banco, no momento, um dos desafios da educação corporativa é
estabelecer uma orientação programática efetiva quanto aos conceitos de sustentabilidade e cidadania, para influenciar nas práticas de gestão e nos fluxos
operacionais no dia-a-dia.
Nana Caymmi grava o DVD
Até Pensei.
2005
2005
Para tal, a inserção de temas ligados ou correlacionados à responsabilidade socioambiental e à ética, no desenho dos conteúdos, de forma inter e transdisciplinar,
permeando todas as soluções educacionais, é um caminho para a capacitação
funcional, principalmente dos gestores, em aderência à Carta de RSA.
Gabriel o Pensador grava o CD
Cavaleiro Andante.
148 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
Do ponto de vista didático-pedagógico, a área de educação integra temas e
conteúdos que favoreçam a reflexão sobre o assunto. É preciso criar técnicas e
materiais pedagógicos adequados à sensibilização dos educandos para a valorização e disseminação da cultura da sustentabilidade.
O Programa de Identificação e Desenvolvimento de Executivos corporifica a
intenção de dotar a capacitação dos gestores com atividades, assuntos e temas
para essa sensibilização. Lançada em 2005, essa edição do programa dá ênfase ao desenvolvimento de habilidades gestoras voltadas para práticas negociais
pautadas na Carta de Princípios do Banco do Brasil.
O desenho programático da formação prevê jornada de atividades que se inicia
com a imersão dos formandos em projetos voltados para comunidades carentes
e inclui a participação no Seminário Gestão no BB: Ética e Sustentabilidade.
Os processos de capacitação de gestores não podem perder de vista que a realidade pede gerentes que saibam lidar com tecnologia da informação, que os
processos decisórios ocorrem cada vez mais em situações de complexidade, notadamente nas decisões financeiras, que muitas vezes, implicam alto risco e que
o conhecimento nunca foi tão perecível. Mas, a centralidade desses aspectos que
devem compor o programa de qualificação dos gestores, não minimiza a urgência
da inserção de temas transversais para a formação plural com objetivos amplos.
Por tudo isto os gestores, como agentes institucionais, com forte peso na formação de opiniões e na determinação das práticas cotidianas, têm papel fundamental
para a irradiação de credos que promovam negócios pautados na cidadania e no
desenvolvimento sustentável. Portanto, em consonância com a Carta de RSA.
Desenvolvimento regional sustentável
Show de Yamandu Costa e Paulo
Moura celebra os cem anos de
Érico Veríssimo.
2005
2005
A incorporação da visão de RSA à concepção do negócio é meta prioritária no
esforço educativo que a GEDUC realiza. A capacidade que tem o Banco de
aglutinar sua rede de agências em prol da transformação das comunidades é
o diferencial para juntar e articular pessoas, associações, entidades de classe e,
juntos, em concertação, enxergar novos caminhos e preparar-se para trilhá-los.
Tudo na perspectiva de sustentabilidade.
Lançamento de Carmem – uma
biografia, obra de Ruy Castro que
conta a trajetória de Carmem Miranda
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
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BRASIL - 149
Para realizar esse trabalho, é necessário habilitar as agências e os órgãos regionais
para operarem o desenvolvimento sustentável. Por esse motivo, é criado o curso
Desenvolvimento Regional Sustentável – DRS.
A ação educativa para o DRS nasce dentro da concepção de aproximação entre
as agências e as capacidades locais no sentido de potencializar negócios apoiados
no princípio tripolar do desenvolvimento sustentável. No Banco, foi acrescentado a essa trindade orientadora da ação sustentável, o conceito de “culturalmente
diverso”. O objetivo é instrumentalizar os funcionários para realizarem negócios: ambientalmente corretos, socialmente justos, economicamente viáveis e
contemplados pela visão da diversidade cultural.
No espectro de ações ligadas á área de RSA, o curso DRS é destaque como iniciativa
voltada para disseminar saberes indispensáveis à concretização da estratégia de
DRS nas agências. O curso tem como objetivo implementar a formação dos
funcionários para atuarem como agentes do desenvolvimento sustentável junto
às comunidades.
Educação para a inclusão social
O Brasil é um dos 191 países que assinam, em 2000, o pacto proposto pela
ONU, de compromisso para a sustentabilidade do planeta. O engajamento humanitário produziu uma agenda com oito metas. São os Objetivos do Milênio.
Um desses objetivos é erradicar a pobreza e a fome do planeta, até 2015. Contexto que coloca o enfrentamento da fome como pauta do atual governo. O
Banco soma esforços para a sensibilização de funcionários e de sua rede social
para o problema.
2005
A via educativa tem força na instalação de mudanças. Por isso, a criação da Oficina Pão e Beleza para formar educadores e mobilizadores sociais. O objetivo
é promover a educação cidadã na perspectiva da inclusão social com foco nas
políticas de segurança alimentar do Programa Fome Zero, do governo federal.
A oficina busca fomentar e fortalecer o interesse e o compromisso pela inclusão
social e levar os participantes a atuar junto com as lideranças naturais da comunidade para identificarem necessidades e saídas locais para o enfrentamento da
fome nas diferentes regiões onde o Banco atua.
Caetano Veloso saúda a Bahia com música de Ary Barroso para a trilha de O
Milagre do Candeal. É um musical social que conta, não somente a viagem
de um homem, mas também a história de uma comunidade.
150 - ITINERÁRIOS
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BRASIL
Os conteúdos e a metodologia favorecem o aporte de conhecimentos e reflexões para a formação de mobilizadores sociais. Agentes que atuam para que as
comunidades visualizem soluções macro-estruturais no seu processo de desenvolvimento. Formados, os funcionários podem orientar famílias e populações
carentes das diversas localidades onde o Banco está presente. Os participantes
assumem o compromisso social e político com a educação cidadã na perspectiva
do desenvolvimento comunitário. As turmas são compostas por funcionários
do Banco, líderes comunitários e servidores públicos. A metodologia adotada é
baseada na pedagogia de base dialética e ao final, os participantes exercitam o
planejamento de um projeto social.
O livro Vidas Secas, de Graciliano Ramos, fala do poder devastador da fome. A
família de Fabiano, o retirante que protagoniza o livro, é exposta a um nível tão
elevado de privações, que se “animaliza” para sobreviver ao flagelo. A cachorra
“Baleia”, entretanto, na mesma obra, “humaniza-se”, para suportar a paisagem
agreste que nega água e comida ao vivente. O animalzinho morre delirando.
Vê imaginários preás gordos correndo na caatinga do sertão. É uma pungente
história a nos lembrar o sofrimento dos que não têm o que comer. Essa imagem
fala fundamente das implicações da fome, que é o tema da reflexão realizada nessa
ação educativa. A Oficina Pão e Beleza, no momento, passa por reformulação,
mas é importante registrar que a sua inserção no rol das ações educativas do
Banco é um passo importante na direção de uma educação profissional que
não perde de vista que toda organização, notadamente o Banco, tem papel
social e portanto, precisa estar em sintonia com os movimentos e dinâmica da
sociedade. A oficina adota uma visão ampla do direito do homem de saciar suas
fomes, pois trata, não apenas, da saciedade da fome de pão, mas também da
necessidade de saciar a fome de transcendência, de cultura. A fome de beleza.
Margareth Menezes lança o
disco Pra Você.
2005
2005
Em resumo, a oficina intenciona formar mobilizadores sociais que possam amplificar a mensagem e o trabalho de erradicação da fome no País. Explora as
questões referentes aos problemas humanitários decorrentes das fomes de beleza
e transcendência, visualizando o direito que têm as pessoas de sonhar com imagens de beleza e humanidade; para que ninguém precise ocupar a faculdade de
sonhar com a ânsia de um pedaço de pão, ou de “preás gordos” a sumirem na
saliva desejosa da boca faminta.
Hermeto Pascoal grava o disco
Chimarrão com Rapadura, em
parceria com Aline Moreira.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
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BRASIL - 151
Prática educativa e inclusão humana
Pode-se descobrir os outros em si mesmo, e perceber que não se é uma
substância homogênea, e radicalmente diferente de tudo o que não é si
mesmo; eu é um outro. Mas cada um dos outros é um eu também, sujeito como eu. Somente meu ponto de vista, segundo o qual todos estão
lá e eu estou só aqui, pode realmente separá-los e distingui-los de mim.
Posso conceber os outros como uma abstração, como uma instância da
configuração psíquica de outro indivíduo, como o Outro, outro ou outrem em relação a mim. Ou então, como um grupo social concreto ao
qual nós não pertencemos. Este grupo, por sua vez, pode estar contido
numa sociedade: as mulheres para os homens, os ricos para os pobres, os
loucos para os “normais”. Ou pode ser exterior a ela, uma outra sociedade que, dependendo do caso, será próxima ou, longínqua: seres que
em tudo se aproximam de nós, no plano cultural, moral e histórico ou
desconhecidos, estrangeiros cuja língua e costumes não compreendo, tão
estrangeiros que chego a hesitar em reconhecer que pertencemos a uma
mesma espécie.
Tzevan Todorov
O final do século passado deu grande visibilidade à emergência de uma realidade na qual o destino dos indivíduos e dos povos é vivido intensamente em escala
global. Nesse quadro, as diferenças de todos os níveis e nuanças entre pessoas
e povos são colocadas cada vez mais em confronto pela proximidade física ou
virtual. Em tempos em que a instrumentalização tecnológica dissolve barreiras
de distâncias e tempo e cria grande interdependência planetária, tornando-nos
vizinhos, países e indivíduos, é essencial perguntar qual é o papel da educação
para a qualidade e plenitude da convivência humana.
2005
O Relatório para a UNESCO sobre Educação para o século XXI orienta que é
preciso compreender o mundo, compreender o outro. Os sistemas educativos,
nesse sentido, seja o escolar ou os que transcendem os muros da escola, devem
formar capacidades de julgar e conviver do ponto de vista da inclusão. Para tal,
é mister formar as pessoas para compreenderem as relações humanas, os diferentes jeitos de ser e viver juntos. Pois essa compreensão é a base sem a qual não
Silvério Pessoa grava seu terceiro CD Cabeça Elétrica, Coração
Acústico. Disco autoral com participação de Dominguinhos, Lula
Queiroga e Alceu Valença.
152 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
conseguiremos reorganizar os ensinamentos compatíveis com o conhecimento
amplo dos elos que nos identificam e unem como membros da comunidade
humana vivendo no planeta-mãe – a Terra. A missão da prática educativa é,
segundo o relatório, transformar a interdependência real em solidariedade desejada. E abraçar essa tarefa, implica reconhecer a questão da diversidade.
Edgar Morin alerta que um dos sete saberes necessários à educação do futuro
é ensinar a condição humana. Para ele, vivemos uma “aventura comum” e por
isso, onde quer que estejamos e independentemente de como estivermos, devemos nos reconhecer em nossa humanidade. Para Morin:
Todo desenvolvimento verdadeiramente humano significa o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais, das participações
comunitárias e do sentimento de pertencer à espécie humana.
Desenvolver o conhecimento da condição humana passa, necessariamente, por
investir num modelo de socialização voltada para a consolidação de uma cultura de inclusão – insumos para uma nova civilidade – que rejeite as práticas
separatistas, classificatórias, enfim, excludentes. No mundo organizacional isso
é imperativo. As novas formas de organização do trabalho pedem a invenção de
práticas e políticas educativas sintonizadas com as culturas da diversidade e da
acessibilidade, por exemplo, como indissociáveis de uma vida organizacional
promotora do trabalho como ato social acessível a todos.
Questões que, antes, eram pontuais nas agendas do mundo dos negócios, hoje
são quesitos essenciais para, além de proporcionar vantagem competitiva e agregar valor à imagem e aos resultados, dar à empresa condições de manter-se viva.
Por isso, em escala crescente, as empresas têm definido seus direcionamentos
estratégicos em consonância com os princípios de responsabilidade socioambiental e em especial, tem sido dada relevância às questões da diversidade e da
acessibilidade como direitos humanos inalienáveis e fatores que se agregam ao
rol de condições essenciais ao funcionamento ótimo da vida organizacional.
2005
Assim, a urgência de integrar pessoas, sejam clientes, empregados, enfim, aqueles com quem as empresas mantêm contato, implica pesquisar e implementar
formas de integrar as pessoas, independentemente de suas características, sejam
A Coleção Brasiliana é apresentada no museu de la Vie Romantique em
Paris, nas comemorações do ano do Brasil na França.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
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BRASIL - 153
essas determinadas por origem étnica, credo, orientação sexual ou deficiência,
só para citar alguns aspectos que têm contribuído para comportamentos hostis
ou de desrespeito aos direitos das pessoas.
No mundo organizacional, a complexidade e a diversidade da força de trabalho
acirram, ainda mais, a necessidade de ser criativo para assunção de modelos de relacionamento com as pessoas que trabalham. No campo da educação empresarial,
essas questões se apresentam em contexto especial. Assuntos atinentes à gestão de
pessoas tornam-se ainda mais complexos e a capacitação tem relevo nesse rol de
desafios para implantar culturas para a diversidade e acessibilidade.
No Banco, a universalização dos direitos dos funcionários às possibilidades de
desenvolvimento humano e profissional para o enfrentamento das situações de
trabalho também estão na agenda de ações de responsabilidade socioambiental.
E a eliminação das barreiras que possam impedir o pleno acesso dos funcionários a ações de capacitação, a processos ligados à ascensão profissional e ao
direito de inserção na rotina de trabalho, independentemente de suas deficiências, tem intensificado o esforço do Banco do Brasil para atuar, crescentemente,
como uma empresa inclusiva. Assim, há um trabalho para que os processos
humanos do Banco – ligados à gestão de pessoas – sejam, de forma progressiva,
planejados para irem ao encontro de métodos e estratégias assistivas – formas
que contribuam para o pleno desenvolvimento e participação de funcionários
com deficiências ou restrições decorrentes de incapacidades de qualquer natureza. Nessa direção, os processos educativos e relativos à ascensão profissional são
orientados para essa visão.
Os programas de formação e qualificação dos profissionais que trabalham
com educação e seleção de pessoal e dos gestores investem na capacitação
desses profissionais para lidarem com a multiplicidade de pessoas da organização. As rotinas de trabalho contemplam meios e formas, notadamente com o
concurso de tecnologias especiais, que permitam a integração de pessoas com
deficiência no ambiente de trabalho e potencializem suas capacidades para
participarem das oportunidades e desafios que as ações de profissionalização
da empresa ofereçam.
Relançamento do disco
Trampolim, da cantora Mônica
Salmaso.
2006
2006
A tendência é que as organizações sejam, progressivamente, menos homogêneas
quanto à formação de sua rede social, por isso, é bom estarmos preparados, pois
Com direção de Sérgio
Rezende é lançado o filme
Zuzu Angel.
154 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
os desafios para a integração dos outros, para usar o termo de Todorov, estão
apenas começando. E é importante saber que essa visão de inclusão não é modismo ou necessidade de uma época. Se nós, os humanos, tivéssemos aprendido
essa lição, desde cedo, muitas das dificuldades que povoam nosso presente e podem, infelizmente, perdurar no futuro, certamente não existiriam, ou estariam
bem minimizadas.
Educação e democracia
Em uma política que pretende ampliar os meios para uma gestão participativa,
a organização há de criar instâncias para a apreensão da visão do pessoal sobre as
políticas e direcionamentos que a empresa adota. É nessa direção que o Banco
inicia, em 1999, a realização dos Fóruns de Recursos Humanos.
Em novembro de 1999, o Banco instala o 1° Fórum de Recursos Humanos
do Banco do Brasil. O tema dá título ao encontro: Compartilhando a Gestão.
Os objetivos do fórum são: estimular o compartilhamento da responsabilidade
na gestão de RH, ampliar o relacionamento da unidade de recursos humanos
e obter subsídios para o aperfeiçoamento das políticas de RH. Participam do
primeiro fórum setenta funcionários, escolhidos por amostragem estatística.
Em julho de 2000, é a vez do 2º Fórum. Esse encontro tem seu escopo ampliado.
Além dos objetivos previstos no 1º Fórum, agora a unidade de recursos humanos
pretende “Construir soluções integradas a partir da intensificação do relacionamento da unidade de gestão de recursos humanos com seus clientes”. Participam
dessa união de esforços, setenta e quatro funcionários, também escolhidos aleatoriamente, mas o universo contempla pessoas de todas as regiões do Brasil.
Em novembro de 2001, há o 3º Fórum, que numa visão de continuidade para a
integração dos debates e deliberações dos fóruns anteriores, fixa como objetivo
“Compartilhar a construção de soluções inovadoras, ouvindo compromissadamente as pessoas”. O número de participantes cresce. Desta vez são cento e dez
funcionários escolhidos com base no princípio de proporcionalidade.
2006
Em 2003, o mecanismo de escuta da realidade, a partir da percepção dos funcionários é retomado e é realizado o 4º Fórum, em quatro etapas.
A Banda de Pífanos de Caruaru encerra o Projeto
Identidades, em Campinas.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 155
Desses encontros resultaram significativas reivindicações relacionadas à capacitação funcional, sendo dezoito por cento (18%) das sugestões e críticas ali
citadas referentes, direta ou indiretamente, a questões que solicitam ações de
educação institucional. A ampliação das oportunidades de qualificação interna
e externa para que os funcionários possam viabilizar seus planos de carreira foi
uma das reivindicações recorrentes.
O núcleo que emerge nessas reivindicações é o da democratização das oportunidades educacionais, trazendo implícita a necessidade de pensar uma educação
ampla, que alcance todos os níveis funcionais.
Nessa direção, em 2005, a UniBB firma acordo de cooperação técnica com o
Ministério da Educação com o objetivo de implementar ações no âmbito do
Projeto Universidade Aberta do Brasil.
O sistema é uma parceria entre consórcios públicos, nos níveis federal, estadual
e municipal, com participação das universidades públicas. É criado pelo MEC
como resposta a deliberações do Fórum das Estatais pela Educação, realizado
no ano de 2005. Visa à democratização e interiorização do ensino superior de
qualidade a distância no País.
O interesse inicial da Universidade Corporativa é a viabilização, por meio de
soluções de ensino a distância, do curso de graduação em Administração.
Das dez mil vagas inicialmente oferecidas, sete mil foram destinadas ao Banco
do Brasil. A iniciativa permite minimizar os efeitos negativos na educação
formal dos funcionários advindos da necessidade de interiorização do Banco,
assim como a sua ida a regiões onde não havia instituições de nível superior.
Para ilustrar o alcance dessa ação, no primeiro vestibular, realizado em maio de
2006, participaram cerca de nove mil funcionários, dos quais, por volta de seis
mil foram aprovados.
Rosa Passos esgota lotação
do Carnegie Hall e interpreta
Aquarela do Brasil.
2006
2006
Diante do desafio de capacitar mais de oitenta mil funcionários, o ensino a distância é alternativa para democratizar o acesso à capacitação, que não pode prescindir
das modalidades presencial e em serviço. Existe hoje, entretanto, um aporte de
tecnologia de ensino a distância que imprime qualidade a essa modalidade e que
pode minimizar problemas crônicos quanto à tempestividade de entrega de soluções educacionais que correspondam às demandas estratégicas da organização.
O Clube do Choro de Brasília
comemora o centenário de
nascimento de Radamés Gnatalli.
156 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
Outro exemplo do alcance da EAD para ampliação das oportunidades de capacitação no Banco é a promoção dos cursos MBA a Distância. Para entender
o papel da EAD para o avanço da educação no nível de pós-graduação, é preciso voltar um pouco no tempo e olhar, em termos comparativos, os números
de funcionários contemplados também na modalidade presencial. Em 1993, o
Banco implanta o Programa BB MBA presencial, em parceria com entidades
de renome no cenário universitário brasileiro. Assim, no modelo presencial, até
2003, passam pelas salas de aula do MBA cerca de oito mil funcionários e em
dois anos de MBA na modalidade a distância são matriculados perto de seis mil
funcionários.
Em 2003, há a reavaliação técnica dos cursos do Programa BB MBA. A partir
daí, as oportunidades de participação nesses eventos são ampliadas e passam a
alcançar todos os segmentos de funcionários, em todas as regiões do país.
Em 2004, um grupo de trabalho constituído para identificar novas opções para
a educação profissional no Banco, recomenda a educação a distância como modelo preferencial para a formação profissional e traça critérios para credenciamento de entidades parceiras. O MBA a distância é fruto desses movimentos
de avaliação.
A EAD oferece alternativas para superar limitações de tempo e distância e permite aprendizagem baseada na auto-disciplina, no esforço, na pesquisa. A UniBB, inclusive, com um aparato tecnológico que lhe permite funcionar como
comunidade virtual de aprendizagem, busca viabilizar a educação a distância
como a alternativa que desponta nesse início de milênio.
No cerne das medidas para democratizar o acesso à capacitação funcional, um
programa de co-gestão da verba destinada à capacitação profissional reserva 1/3
do orçamento para formação do pessoal da carreira básica e comissionados do
nível técnico-operacional. É o Programa Extraordinário para Aprimoramento
dos Funcionários. Uma iniciativa que abre mais janelas para oportunidades de
autodesenvolvimento.
2006
A operacionalização do programa prevê a concessão de verba fixa aos funcionários para aquisição de material didático de cunho técnico-científico ou acadêmico e publicações que abordem temas relativos à promoção da qualidade de vida.
Futebol é tema de exposição brasileira em Berlim. Um time de 11 artistas brasileiros
é convidado a usar tintas e imaginação para interpretar o que se passa entre as
quatro linhas do campo. Do drible perfeito ao momento máximo do futebol, o gol.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 157
O programa é um mecanismo que favorece à parcela de funcionários que operam o fluxo operacional da empresa, que se prepare para a assunção de outros
papéis ocupacionais no Banco, além de estimular o incremento na qualidade de
vida e promoção de sua saúde.
O Programa de Ascensão Profissional é outra ação alinhada às solicitações do 4º
Fórum. Em operacionalização a partir de 2006, essa iniciativa visa favorecer a
profissionalização e o encarreiramento do funcionário por meio da sinalização
das trajetórias que ele pode percorrer e dos meios para fazê-lo.
A elaboração e implantação do “Ascensão” é resultado do trabalho de um grupo
de funcionários coordenado por Ana Cristina Rosa Garcia. Os demais componentes do grupo são: Ana Maria Marinho França, Helder Viana Costa, Irani
de Paula, José de Jesus Maia e Silva, José Marcelo de Souza, José Renato Vieira
Lima, Laila Façanha Zaidan, Noely Duailibe Sousa, Sheyla Watrin Hesketh
Montella e Sylvia Rejane Vieira Costa. A equipe conta com funcionários de
diversas áreas e com distintas formações e experiências. A tarefa é encampada
pela gerência responsável pelo monitoramento e avaliações em gestão de pessoas
do Banco.
O Ascensão Profissional mobiliza as áreas de educação e seleção de pessoal, uma
vez que se baseia na identificação, via prova de conhecimentos, de funcionários
com afinidades com determinadas áreas e que necessitam ser preparados para
que possam qualificar-se para as funções que almejam ocupar. Isso aumenta
significativamente o trabalho de capacitação interna.
Sai o sexto disco solo de
Nando Reis: Sim e Não.
2006
2006
O Programa de Ascensão é inovador pelo fato de ser um estímulo ao esforço
autodidata do funcionário na sua caminhada rumo a cargos e funções mais
complexos; isso, aliado ao direcionamento das estratégias educativas da empresa
para caminhar ao par desses projetos de encarreiramento. Assim, o funcionário
escolhe áreas de estudo cujos conhecimentos serão críticos para o exercício de
funções ou cargos que ele almeje exercer. O Banco, por sua vez, indica e facilita
o acesso a material e formas de estudo. O nível de conhecimento dos candidatos
à ascensão é avaliado por entidade educativa credenciada pelo Banco. A instituição realiza a avaliação e certifica os participantes que atingem conceito préestabelecido como indicativo de proficiência no domínio dos temas escolhidos.
A Orquestra Sinfônica do Estado
de São Paulo lança o disco Cláudio
Santoro.
158 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
Os aprovados são certificados e podem qualificar-se para participar de processos
seletivos internos.
Como vimos, são muitas as tarefas da educação no Banco, por isso, a capacitação firma-se progressivamente como processo estratégico. Dada a complexidade desse trabalho, está em gestação um projeto pedagógico que será o guia
de trabalho da ação educativa, numa visão ampla, integral e antenada com as
estratégias e filosofia organizacionais. O projeto político-pedagógico dá as bases
que ajudam a atravessar os momentos dilemáticos, os desafios que se interpõem
na realização da missão institucional e ajudam a construir respostas e novas interrogações. A construir sínteses.
Desde os pioneiros, foram pensados pressupostos, guias filosóficos, enfim, conceitos niveladores da ação pedagógica institucional. Foi assim que, em 1977,
1985, 1990 e 1993 a área constituiu grupos de trabalho e refletiu sobre suas
práticas, sobre suas metodologias. A educação é a prática humana mais intensamente exercida e talvez seja a menos pensada, sob essa análise. Independentemente do que esses momentos representam, em termos de concretização do
que foi apontado como alternativa, eles encerram a lição fundamental a ser preservada: a educação é, sobretudo, reflexão. Educar é olhar bem longe, É tentar
enxergar pra lá de onde se quer chegar.
2006
Esse breve apanhado das iniciativas do Banco para democratizar as oportunidades de qualificação que oferece aos funcionários demonstra, além dessa procura
para alargar os horizontes da inclusão, a amplitude da sua ação educativa. Mesmo em confronto com a dimensão do esforço despendido incessantemente nos
diferentes locais onde as atividades de ensino e aprendizagem são realizadas, é
fácil perceber que a intensidade do trabalho não descuida da qualidade didático-pedagógica. A centralidade do participante, a valorização da aprendizagem
relevante, com sentido para o aprendiz e compatível com o direcionamento da
empresa e o rigor no trato com as variáveis pedagógicas, tais como conteúdos,
metodologia, processo avaliativo, entre outros, dizem muito bem das características das ações desenvolvidas. Assim, o cuidado com a excelência pedagógica
tem sido preocupação constante ao longo dos mais de quarenta anos da existência da ação sistemática e integrada da educação no Banco do Brasil.
O SESC – SP lança a coletânea Missão de Pesquisas Folclóricas.
Resultado de caravana coordenada por Mário de Andrade em 1938.
A educação faz diferença
Caminhada
Nasci numa vila chamada Queixada. Vale do Jequitinhonha.
Quando tinha seis anos, minha família mudou-se para Itambacuri,
também em Minas.
Viagem na Maria Fumaça. Estrada de Ferro Bahia e Minas.
Fascinante.
Cresci jogando bola de meia. Adorava bolinha de gude e correr
descalço pelas enxurradas.
Aos doze anos, já dividia o tempo da brincadeira com pequenos
serviços para ajudar a família.
Em 10.3.1975, tomei posse no Banco. Agência Carlos Chagas
– MG.
Em 1978, sou transferido para Belo Horizonte.
Meu namoro com a educação no Banco começou quando fiz o
curso CAIEX. O primeiro.
Sou posto efetivo no CEFOR Belo Horizonte. Freqüentemente,
substituo um dos assistentes.
Adoro conhecer gente. Gosto de ler. Principalmente romances e
poesia.
Aprecio cinema.
Nas horas vagas, escrevo. Em seguida, engaveto.
Sou colaborador da RESEL. Trabalho com seleção de pessoal: um
olho no presente e outro no futuro.
Sou psicólogo. Formado pela PUC – MG.
Uma convicção: sou movido a paixão.
Trecho de carta do funcionário José Geraldo Esteves Lago. Enviada para publicação no Boletim de
Notícias do DESED. O BONDE. ANO 1. N° 1 , dezembro de 1991.
Hoje, Zé Geraldo, como gosta de ser chamado, é gerente de núcleo na GEPES – Belo Horizonte.
A educação faz diferença
Tom Zé
Eu trabalhava como mecanógrafo na Confederal. Uma empresa que
prestava serviços para o Banco. Aí, fui indicado para fazer a seleção
para a carreira de apoio.
Aprovado. Tomei posse em 1979. O momento foi marcante. Fui
muito bem recebido.
Fui trabalhar na RESEL – Divisão de Recrutamento e Seleção.
Lá, trabalhei no arquivo. Organizava material de expediente e
documentos.
Passei a ser conhecido por Tom Zé. Apelido dado pelo chefe da
divisão, Sr. Hamilton Gilberto Malon.
Em 1980, fui designado para prestar serviços na TREDE – Divisão
de Treinamento e Desenvolvimento. E tive oportunidade de fazer
um curso de desenho artístico e publicitário patrocinado pelo Banco.
Desempenhei, por três anos, a função de desenhista e diagramador.
Diagramando material dos cursos a distância, aprendi muito.
Trabalhei no Curso de Comunicação e Expressão – COMEX, e no
CONTA – Curso de Contabilidade.
Não existiam microcomputadores. Tive que aprender a operar a IBM
Composer. Última tecnologia.
Trabalhei também no laboratório fotográfico da divisão. Preparava
fotolitos para impressão de material em off-set. Naquele tempo o
Banco ainda não terceirizava esses serviços.
Sempre fui prestigiado. Sempre valorizei o trabalho.
Em 1983, fui convidado para ser secretário do chefe do DESED,
Mandarino.
Senti-me muito valorizado nessa função. Adquiri conhecimentos. Fiz
amizades duradouras.
Em 1993, o Mir e a Cristina Coppio me convidaram para trabalhar
no apoio logístico do 1º Treinamento para Altos Executivos, em
Pirenópolis (GO).
Sei que o trabalho em educação me trouxe conhecimentos e
contatos com gente de todo o Brasil: instrutores e participantes dos
cursos.
Este ano completo o tempo de serviço. Trinta e cinco anos de
previdência. Vinte e oito de Banco. Sinto-me realizado.
Antônio José Vasques Pereira, o Tom Zé. Trecho de entrevista em 20.7.2006
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 161
Considerações finais
O novo século é, em essência, sinônimo de horizonte de nova esperança.
Uma esperança que, por ser eminentemente humana e humanizadora,
elege a prioridade educativa como sua aliada incontornável na edificação de uma nova ordem social onde todos contam e cada um possa ser
capacitado para participar ativamente num processo de desenvolvimento
que, para o ser, recupera a centralidade da pessoa na sua mais plena e
inviolável dignidade.
CARNEIRO, Roberto. Trecho do artigo: Educação e Comunidades Humanas
Revivificadas, uma Visão da Escola Socializadora no Novo Século.
Chegamos ao final destes “Itinerários”. No percurso, “visualizamos” os acontecimentos que foram construindo o caminhar da educação no Banco do Brasil.
Resgatar informações sobre as conquistas e desafios dessa história e dar-lhes um
sentido de corpo exigiu esforço para enxergar os eventos, fatos e escolhas organizacionais de um ponto de vista amplo, para além de contingências e tendências,
para ajudar o leitor a fixar o edifício histórico da educação no Banco, nesses mais
de quarenta anos.
Uma rápida retrospectiva das memórias que são objeto do texto pode ser iniciada
com a missão primeira do DESED. O departamento é concebido para favorecer e
intensificar a capacitação profissional na empresa, com vistas ao engrandecimento
do Banco. O DESED atravessa mais de trinta anos que demarcam a área de educação do Banco como setor estratégico. Sua ação pioneira tem continuidade no
trabalho das gerências que o sucedem. Nessa travessia vai sendo tecida uma rede
de saberes que se converte no trabalho diário da empresa.
No Banco, o intercâmbio de saberes e competências entre as gerações é fundamental para sua permanência sempre renovada. A ação educativa permite
que o antigo e o novo se articulem e fundem novas competências, tragam
inovações, questionem as marcas da tradição para ressignificá-la e preservá-la
no que é essencial.
Hoje, o grande desafio da educação corporativa é acompanhar a velocidade com
que as informações transitam; é agir proativamente diante do nível de conheci-
162 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
mentos acumulados e transformados, numa intensa dinâmica, no último século.
Um requisito para lidar com esse aspecto é a contínua avaliação dos processos
educacionais em confronto com as características da realidade. É preciso questionar práticas, redirecionar ações. Esse é o requisito para acompanhar o pêndulo do
tempo e permanecer.
Desde o surgimento do DESED, passando pela GEDEP e chegando à época
da GEDUC é possível perceber que essa busca de aprimoramento tem estado
presente. Esse contínuo exercício de auto-avaliação pode ser percebido em vários
momentos. Para ilustrar esse esforço, basta relembrar as “paradas para reabastecimento”, ou seja, os momentos de revisão de políticas e práticas, a exemplo do
que aconteceu nas inovações de meados da década de mil novecentos e setenta,
com a chegada do conceito de formação permanente; a revisão das políticas em
1985; a sistematização dos processos educacionais nos anos noventa; os estudos e
projeções do Repensando o DESED; o estabelecimento dos enfoques de aprendizagem no início desta década, e as reformulações dos modelos de formação de
educadores, por exemplo.
A área de educação, nesse sentido, tem sido boa mestra. Sua história atesta disposição para ser “eterna aprendiz” para bem conduzir a capacitação do corpo
funcional de uma empresa da estatura do Banco do Brasil.
Nessa caminhada, algumas idéias e práticas estão presentes constantemente, nem
sempre com a mesma intensidade, mas permanecem nos textos e metodologias
adotadas, desde a constituição do DESED. São elas: a formação integral do funcionário para além do preparo técnico, visando o desenvolvimento de suas qualidades como pessoa e cidadão; a busca permanente de atualização dos métodos
pedagógicos para a implantação de metodologia ativa de ensino-aprendizagem; a
democratização das relações para o incremento da cultura do trabalho em equipe
e o desenvolvimento da consciência ética.
Alguns princípios têm sido balizas para o trabalho educativo no Banco. Assim, os
pressupostos filosóficos adotados desde a época do DESED, permanecem, ainda,
o norte duradouro a guiar essa missão. Pode-se dizer que esses princípios estabelecem as visões de homem e de mundo que determinam as opções teóricas e
metodológicas institucionais.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 163
Nesse sentido, a Universidade Corporativa Banco do Brasil, que hoje, é o guarda-chuva que abriga a educação na empresa, ampliou e incorporou alguns desses princípios, estabelecendo as seguintes premissas: o homem, profissional do
Banco do Brasil, é sujeito do seu processo educativo; é um ser situado, por isso
a educação corporativa deve ser realizada a partir do conhecimento e do respeito
às condições reais do funcionário do Banco; é um ser de consciência, portanto a
educação corporativa deve acreditar e investir na capacidade do funcionário de
transcender a realidade em que vive e atua e desenvolver o trabalho educativo
por meio da reflexão crítica sobre o ser humano, o Banco e a sociedade; é um ser
de liberdade, capaz de superar os condicionamentos de sua situação, por isso as
ações de educação corporativa deverão se desenvolver no sentido da compreensão e discussão, pelos funcionários, de seus próprios objetivos, assim como dos
objetivos do Banco do Brasil e os da sociedade; e é um ser inacabado, que busca
complementar-se na cooperação com outros seres humanos, lidando com desafios
profissionais, atuando no desenvolvimento das pessoas com as quais se relaciona
e tornando-se agente de resultados, capaz de posicionar o Banco na liderança dos
mercados em que atua.
Numa síntese, podemos pinçar os elementos acima como constituintes da espinha
dorsal das memórias registradas neste livro.
É importante registrar que a imanência das visões de homem e de mundo que têm
permeado a educação no banco é resultado, sobretudo, da institucionalização do
trabalho educacional, da luta para definir pressupostos filosóficos na direção de
um trabalho educativo crítico, vivo e da abertura permanente para a auto-crítica
e para o debate.
Reafirmamos o valor dos agentes históricos – idealizadores, operadores, gestores,
educadores, incentivadores – que contribuíram para consolidar a educação no
Banco como processo que “faz diferença”, pois humaniza. Transforma. Como já foi
dito, gostaríamos de nomear todos os que, direta ou indiretamente, participaram
e participam da desafiadora empreitada que é promover a educação institucional.
Mas, acreditamos que a expressão dessas memórias destaca a marca indelével das
pessoas e da educação nesta organização.
O objetivo principal destes “Itinerários” é traçar uma linha do tempo demarcando
momentos significativos da educação no Banco do Brasil, com algumas
164 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
“paradas” no meio do caminho para refletirmos sobre que sínteses conseguimos
realizar, por causa e apesar das inter-relações dos condicionantes econômicos
e históricos e seus reflexos nas políticas de formação e na sistematização das
práticas educativas da empresa.
De qualquer forma, caro leitor, esperamos que os escritos e imagens que compõem
este “Itinerários” tenham contribuído para a compreensão da nossa história de
educação e, no limite, tenham revelado o próprio Banco do Brasil. Haverá tempo
para se refletir e reexaminar as questões que foram surgindo ou renascendo dessas
práticas educativas, pois essa história não termina aqui.
Relação dos chefes e gestores
da área de educação do
Banco do Brasil nos diferentes períodos
Nomes em ordem cronológica crescente de 1964 à atualidade
Chefes do DESED
Manoel Salek .......................................................... (1965 – 1967)
Admon Ganem ....................................................... (1967 – 1969)
Roberto Hatab ........................................................ (1969 – 1970)
Celso Albano Costa ................................................ (1970 – 1971)
Joaquim Ferreira Amaro.......................................... (1971 – 1975)
Renato Toledo de Campos ...................................... (1975)
Vicente da Costa Alves............................................ (1976 – 1979)
Paulo Rubens Mandarino ....................................... (1980 – 1984)
Antônio Menezes .................................................... (1984)
Maurício Teixeira da Costa ..................................... (1985 – 1986)
Arideu Galdino da Silva Raymundo ....................... (1986)
Maurício Teixeira da Costa ..................................... (1986 – 1988)
Jose Alves de Oliveira .............................................. (1988)
Roberto Pinto Meireles ........................................... (1988)
Sérgio de Abreu Mautoni ........................................ (1988 – 1990)
Walter Piedade Denser............................................ (1991 – 1992)
José Franco de Moraes ............................................ (1992 – 1993)
Luiz Oswaldo Sant’Iago Moreira de Souza.............. (1993 – 1994)
José Carlos Alves da Conceição ............................... (1994 – 1995)
Rubenvaldo Furtado da Costa ................................ (1995 – 1996)
José Francisco de Carvalho Rezende ....................... (1996 – 1999)
Gerentes executivos da GEDEP
José Francisco de Carvalho Rezende ....................... (1996 – 1999)
Marcos Fadanelli Ramos ......................................... (1999 – 2002)
Gerentes executivos da GEDUC
Marcos Fadanelli Ramos ......................................... (2002 – 2003)
Pedro Paulo Carbone .............................................. (2003 até os dias atuais)
DESED – Departamento de Seleção e Desenvolvimento de Pessoal
GEDEP – Gerência de Desenvolvimento Profissional
GEDUC – Gerência de Educação e Desenvolvimento de Competências Profissionais
Parte II
Marcos ilustrativos
da educação
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 169
Apresentação
A memória é o tesouro e o lugar de conservação das imagens.
Santo Tomás de Aquino
A
próxima etapa desse itinerário será ocupada pela mágica do desenho de
funcionários a traçar, com a sua arte, um painel de alguns assuntos que
elegemos entre tantos que compõem a educação no Banco do Brasil.
Alguém já disse que “uma imagem fala mais do que mil palavras”.
Inspirados nessa crença, optamos por traduzir a importância desses temas com
o auxílio “luxuoso” dos traços que brotam da sensibilidade, do engenho e da
arte de funcionários ilustradores.
Assim, nas páginas a seguir, teremos encartes com os seguintes títulos: Ser
Integral, Aprendizagem, BB Educar, Desenvolvimento Regional Sustentável,
Vida de Educando.
Ser Integral é um resumo de algumas das dimensões humanas que devem ser
cuidadas para que tenhamos uma vida saudável, cidadã e equilibrada. Esse primeiro encarte foi composto a partir de ilustrações criadas por Krishnamurti Martins
Costa e Marcus Eurício Álvaro para os fascículos do Programa de Profissionalização. A sensibilidade do desenho leve, quase etéreo de Krishnamurti a traduzir
as dimensões do sonho e do cuidado do nosso Ser Integral.
Já o desenho de Marcus Eurício lembra-nos outros aspectos essenciais à vida
plena. Marcus nasceu no Rio de Janeiro. Filho de Seu Nelson Eurício e de Dona
Clothilde, era casado com a Líliam. Realizou o grande sonho de sua vida quando seu filho, o João Pedro Tabet Álvaro, chegou ao mundo. Era pós-graduado
em Artes Plásticas. Trabalhou no DESED, na DIPES, na Estratégia de Marketing. Estava na DIMAC, quando nos deixou em 1.4.2004. Foi enfeitar o céu.
Sua arte, entretanto, permanece como marca indelével na instituição e na
lembrança dos colegas. Emprestamos o seu nome para título dessa sessão como
forma de gravá-lo na história que ele ajudou a construir.
170 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
O segundo encarte tem o título Aprendizagem. É um resumo das ilustrações
da apostila do Curso de Contabilidade, conhecido por CONTA I, lançado
na década de 1980. Consideramos oportuno fazer alusão às primeiras
experiências de educação a distância. A arte visual de Eduardo Carvalho dos
Santos. Todos lembram do desenho assíduo de Edu Carvalho. Durante muito
tempo trabalhou na divisão de multimeios. O encarte resgata o “aprendiz
interessado” que ajudou muitos funcionários a darem os primeiros passos no
aprendizado de contabilidade. É impressionante, como a magia do desenho,
produzido pela perícia do artista, permite-nos traduzir a tonalidade dos
costumes de cada época.
O terceiro encarte é BB Educar. A arte foi concebida pelo José Lucas Ferraz, o
Zeluca, como é conhecido. Está aposentado, mas, para nosso deleite, seu talento continua ‘batendo ponto’ na comunicação visual do Banco.
Baseado no cotidiano da alfabetização de adultos do Programa BB Educar, Zeluca inspirou-se numa turma do programa realizado em Assaré, sertão do Ceará.
Mostra, nas tirinhas, Dona Maria Preta, aluna que virou símbolo do programa
e ilustrou o material didático do BB Educar, por muito tempo.
Zeluca, “famoso por suas inspirações geométricas, de inspiração cubista”, que
durante anos também ilustrou o Boletim de Informação de Pessoal, cria um
cenário onde, nas suas próprias palavras:
... mostro a ausência da água e do alfabeto. A angústia de pessoas
entre sinais gráficos incompreensíveis. Eles estão distantes entre si,
mas o BB Educar une as pessoas em um só ambiente e, a partir
daí, elas manipulam o meio. Os traços que estão à sua volta e...
constroem frases: água, solidariedade, sonhos. E podem enfim, ler
um poema do Patativa do Assaré. Acho que, embora focando o
Nordeste, dá uma visão da coragem de todos para enfrentar o diaa-dia difícil.
A quarta ilustração é Desenvolvimento Regional Sustentável. Nossa luta, hoje,
como cidadãos do mundo, por inclusão social, preservação ambiental, justiça,
cidadania, crescimento econômico, entre outros valores, reafirma a missão de
cada um no esforço de realizar esses ideais. O trabalho do Banco nesse sentido é
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 171
amplo e o Curso DRS – Desenvolvimento Regional Sustentável representa sua
mais significativa expressão.
A arte de Ítalo Cajueiro de Oliveira, o talentoso Ítalo Cajueiro, proporciona
uma visão de mundo sustentável. Imagem que fala de diversidade, solidariedade, cuidado planetário. Pura beleza! Ítalo inspirou-se no seguinte depoimento
de Ricardo de Faria Barros, o Ricardim, que traz uma visão de futuro das ações
de desenvolvimento sustentável no Banco:
Imagino que em cada localidade haverá empreendimentos apoiados
pelo Desenvolvimento Regional Sustentável. E que cada agência do
BB, integrante da Estratégia DRS, atuará como uma incubadora
de projetos sustentáveis locais, viabilizando e disponibilizando os
seus capitais – humano, social, tecnológico, financeiro e simbólico
– para construção compartilhada e coletiva de alternativas a um
outro mundo possível: um mundo sustentável.
O quinto encarte é Vida de Educando. Criação do Cosmo ou Cosmo Lopes
de Sousa, como foi batizado. O humor e o requinte dos detalhes no seu traço,
dão vida a uma personagem que representa os colegas que trabalham na área de
atendimento das GEPES recém-criadas e que agora têm mais oportunidades de
chegar a uma sala de aula para realizar cursos presenciais. A GEPES Manaus foi
escolhida por localizar-se na Região Norte que, devido às condições geográficas,
muitas vezes, encontrara-se com acesso difícil.
Como vemos, vários colegas ilustram o material didático do Banco. Na arte de
Cosmo, Edu Carvalho, Krishnamurti, Ítalo Cajueiro, Marcus Eurício e Zeluca
está o reconhecimento da importância do trabalho dos colegas ilustradores.
A arte de todos para homenagear os nossos Marcus(os) da educação.
172 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
Ser integral
Sonhar - transcender
Krishnamurti
Cuidar
Ilustrações utilizadas nos fascículos do Programa Profissionalização
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 173
Ser integral
Saúde
Trabalhar - compartilhar
Buscar
Marcus Eurício
Evoluir
Ilustrações utilizadas nos fascículos do Programa Profissionalização
174 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
Ser integral
Equilíbrio
Lazer
Ilustrações utilizadas nos fascículos do Programa Profissionalização
Marcus Eurício
Acreditamos que o homem é:
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 175
Edu Carvalho
Aprendizagem
176 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
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Zeluca
BB Educar
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 177
Zeluca
BB Educar
178 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
Ítalo Cajueiro
Desenvolvimento sustentável
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 179
Vida de educando
ESTE É GUIOBERTO, FUNCIONÁRIO DO BANCO DO BRASIL, AFASTADO TEMPORARIAMENTE DO SERVIÇO POR UMA VIROSE.
FICOU EM RECUPERAÇÃO NA SUA CASA, ÀS MARGENS DO RIO SOLIMÕES, NA CIDADE DE MANACAPURU (AM).
Cosmo
FAZER
NEGÓCIOS, OPERAÇÕES
DE CRÉDITO.
ETC,!
180 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
Cosmo
Vida de educando
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 181
Vida de educando
GUIOBA,
VOCÊ TEM CERTEZA
QUE JÁ RECEBEU
ALTA???
Cosmo
COLEGA, SEJA
BEM-VINDO!
Parte III
Narrativas temáticas
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 185
Apresentação
O que eu vi, sempre, é que toda ação principia mesmo é por uma palavra
pensada. Palavra pegante, dada ou guardada, que vai rompendo rumo.
João Guimarães Rosa
Q
uem não gosta de conversar? Ouvir rememorações do que foi marcante
na experiência dos amigos? Sabendo que a fala é testemunho vivo, sem
intermediários, de quem a pronuncia e de sua experiência, incluímos
nas próximas páginas, trechos das “conversas” que realizamos para composição
dessas memórias.
Ouvimos mais de cem pessoas. Gostaríamos de expressar literalmente todas
essas conversas que ajudaram a compor essas memórias. O tempo e o espaço
ditam os limites humanos. Neste trabalho não foi diferente. Então, pinçamos
trechos que compõem essas narrativas e que falam sobre temas diversos.
O critério da escolha? A relevância do tema, sua aderência ao “tom” que
quisemos imprimir ao texto, o brilho no olhar de quem falou, a proximidade da
experiência do entrevistado ao tema sobre o qual discorria, entre outros tantos
motivos que tornam o discurso humano sempre imprescindível.
Todas as entrevistas foram vitais para dar imanência aos fragmentos colhidos
no decorrer da pesquisa e transformá-los numa história “vertebrada”, viva. Por
isso, todas as entrevistas e depoimentos foram transcritos e vão compor um
memorial impresso sob arquivo na Diretoria Gestão de Pessoas.
Fizemos questão de preservar esses discursos. Eles esclarecem, relembram,
preenchem lacunas. Enfim, prestam tributo ao esforço das pessoas e da própria
instituição para se estabelecer como agência educacional de sua rede social.
Acreditamos que a sessão Narrativas temáticas será leitura prazerosa de tantos
quantos folhearem este livro.
186 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
O DESED
Cheguei no DESED em 1977, um ano depois do Vicente... que já chefiava o DESED. Na época, ele fez uma revolução.... nós tínhamos apenas três cursos (CAIEX, COORD e CIPAD) e ele, com a concepção de
formação permanente, ampliou essa formação, criando novos cursos. Ele
implantou uma política de treinamento onde estava embutida a idéia
de que o funcionário, na medida em que começasse a galgar os degraus
mais altos da carreira, ele precisaria menos da visão técnica e mais de
uma visão cultural. Além disso, essa política criava a primeira sistematização de treinamento dentro do Banco com três níveis distintos: execução, supervisão e administração... Via-se paixão naquilo que se fazia.
Solidariedade.
LUIZA Helena Branco GRECA da Cunha. Analista do DESED de 1977 a 2004.
Aposentada. Entrevista em 27.3.2006
YZ
O DESED foi um fenômeno corporativo. Quase uma entidade! Refletia
uma atitude. Uma filosofia de atuação. Uma maneira de enxergar a
educação que perpassava toda a organização. Tinha o lado bom do
corporativismo. O DESED era também uma ideologia. A gente percebia
o DESED trabalhando com a formação do cidadão. A preocupação com
o ser político.
José MARCELO ASSUNÇÃO. Educador. Aposentado. Entrevista em 25.4.2006
YZ
O DESED representou uma revolução na educação da empresa. A contribuição do grupo que implantou as relações humanas como módulo
nos cursos foi fundamental para a valorização do diálogo no Banco. A
mudança de paradigmas através da riqueza do processo de ensino-aprendizagem, a relação dialógica na construção do conhecimento foi uma
experiência transformadora.
Mário Batista CATELLI. Educador. Aposentado. Entrevista em 27.3.2006
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 187
A queda da sigla DESED foi um choque. Acho que era muito ligada à idéia de departamentalização que o Banco precisava tirar de
nossa cultura. Mas acho que era uma marca tão forte que até hoje
representa muito para os funcionários. Podiam ter mantido a sigla e
mudado o conceito.
Francisco AIRTON Mendes. Gerente de administração. Entrevista em 24.2.2006
YZ
A meu ver, o embrião do DESED foi o curso voltado para a Carteira
Agrícola e Industrial, a pedido do Dr. Nestor Jost. O programa girava
em torno de Economia. Havia um professor contratado pelo DESED,
prof. Diógenes Machado, que ministrava a disciplina Diagnóstico Integrado da Pequena Empresa, inclusive no México. O Dr. Admon Ganem
dava aulas de Marketing.
AMILCAR de Souza Martins. Ex-diretor de Recursos Humanos.
Entrevista em 29.5.2006
YZ
O Banco teve um papel civilizatório, interiorizando o desenvolvimento,
mesmo em regiões inóspitas, e o DESED teve muita influência nesse
sentido.
NESTOR Jost. Presidente do Banco de 1967 a 1974. Entrevista em 5.5.2006
YZ
Enquanto preparávamos o plano completo de treinamento e à guisa de
apresentação do novo departamento, o DESED, decidimos oferecer um
Seminário de Relações Humanas no Trabalho para os executivos da direção geral. Dr. Nestor Jost, presidente do Banco e grande incentivador
do treinamento, foi solicitado a comparecer à aula inaugural, para dar
prestígio às futuras ações do DESED. Dr. Jost se inscreveu e participou
de todas as aulas e estimulou os diretores a participarem. O evento foi
188 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
um sucesso, não só pela competência do Prof. Adelmar Linhares que conduziu o seminário, como pela participação em peso da diretoria.
ADMON Ganem. Chefe do DESED de 1967 a 1968.
Depoimento em 9.5.2006
YZ
A ação do DESED nas seleções que patrocinou para o programa de Estágios nas Agências do Exterior, para cursos de pós-graduação em universidades de primeira linha, particularmente, o MBA na Michigan State
University... e na elaboração do programa de Menores Estagiários, todas
com visíveis resultados positivos, e contando com o apoio daqueles chefes
que haviam passado pelo CIPAD, produziu uma aceitação generalizada
dessa política. São incontáveis os exemplos de funcionários que retomaram estudos interrompidos porque acreditavam que seus esforços seriam
um dia recompensados.
Joaquim Ferreira AMARO. Chefe do DESED de 1971 a 1975. Aposentado.
Entrevista em 26.4.2006
Educação
O papel da área de educação é pensar, discutir, projetar, orientar e acompanhar a educação do Banco. Não podemos nos limitar a criar cursos,
que é um trabalho complexo, árduo. Mas nosso papel não se limita a
criar metodologias. É importante orientar os que nos demandam, mas
precisamos PENSAR a educação no Banco. Nosso papel é irradiar, concretizar uma visão de educação na empresa.
VÂNIA Maria Lopes VENÂNCIO. Gerente de divisão da DECOM.
Entrevista em 24.4.2006
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 189
O Banco do Brasil, nos seus quase duzentos anos de existência, demonstra
ser uma empresa adaptável, versátil e se mantém, por muitos anos, em
posição de vanguarda na área de gestão de pessoas... No entanto, nessas
últimas décadas, foi perdendo esse perfil vanguardista. E hoje o Banco
tem a oportunidade de retomar seu posto, proporcionando acessibilidade
em seu ambiente de trabalho a pessoas com deficiência, e promovendo
ações de capacitação aos gestores, gerentes, analistas e funcionários para
lidarem com a diversidade.
MARCELO LUCCHESI Rocha Carvalho. Analista da DECOM.
Depoimento em 16.8.2006
YZ
A feição das relações humanas nos cursos, a partir da gestão de Vicente
da Costa Alves no DESED, ganhou perfil de um choque cultural, pois o
novo paradigma passava a integrar o conceito de educação permanente
e a formação modular, ficando sob responsabilidade do funcionário a
escolha do módulo que, naquele momento, mais interessava ao andamento de sua carreira.
OSCAR Capello. Educador. Aposentado. Entrevista em 3.3.2006
YZ
A contribuição da área de educação no Banco é inegável. Principalmente para referenciar a expansão da empresa, com um sistema de
educação corporativo levando aos funcionários uma política integrada
de desenvolvimento.
José Francisco de Carvalho REZENDE. Gerente executivo da UFRH/GEDEP
de 1996 a 1999. Entrevista em 4.5.2006
190 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
Educação plena é utopia. Mas, ai do povo que perder a utopia!
José MARCELO ASSUNÇÃO. Educador. Aposentado.
Entrevista em 25.4.2006
YZ
Não se conhece prova do poder de cooperação como a que oferecem
formigas, abelhas e cupins. A Amazônia e também os desertos são
dominados por eles. Formigas e cupins são senhores do planeta. Como
nós. Não! Como nós, não. Também temos, os humanos, o que mostrar
como resultado de nossa cooperação. Nossa solidariedade, porém, não
se dá graças a uma harmonia domesticada. Nossas ações coletivas
não respondem a forças instintivas. Nossas parcerias são construídas
a partir da possibilidade de debater idéias e revê-las diante da
argumentação do outro.
ARTUR ROMAN. Educador. Aposentado. Trecho extraído do texto de apresentação da Revista 4º Fórum. Brasília. 2003
YZ
Lembro-me, claramente. Embora nos anos mil novecentos e setentas não
se falasse de democratização da esfera privada tanto quanto da esfera
pública, nos cursos exemplificávamos, com o relacionamento daqueles
participantes, a maioria homens, com suas filhas e filhos... Ainda não
se falava em (des)-igualdade de relações sociais de gênero ou de relações
raciais, mas havia uma germinação, em nossas discursividades sobre democratização. Articulávamos empresa e sociedade.
ANA LIÉSI Thurler. Ex-funcionária do DESED. Entrevista em 10.5.2006
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 191
O Banco do Brasil poderia, como muitas outras instituições, deixar o
treinamento de seu pessoal a critério das entidades governamentais ou
de outras instituições particulares especializadas. Mas, como empresa
moderna, que visa o melhor aproveitamento do potencial humano
ao seu dispor, e dada a especialização de suas atividades, resolveu
aprimorar os recursos de que dispõe no campo do ensino, agregando
experiências alheias, ao procurar, paralelamente, aproveitar tudo o
que de útil a sociedade lhe possa oferecer, porque tem certeza de que
o aperfeiçoamento do nível técnico há de conduzi-lo a prestar serviços
cada vez melhores ao povo. Na escalada para o desenvolvimento,
pensamos poder formar um maior grupo de homens treinados para
a administração do Banco e, além disso, capazes de contribuir com
eficácia para o desenvolvimento das diversas atividades econômicas
do País... Se quisermos, verdadeiramente, marchar para o pleno
aproveitamento do potencial físico e humano de que dispomos,
precisaremos incrementar as atividades escolares, não só sob a forma
tradicional, mas, sobretudo, pela informação especializada, que é a
própria razão de ser deste importante departamento do Banco – O
DESED.
NESTOR Jost. Aula inaugural do primeiro curso intensivo para administradores
do Banco do Brasil, em 29.6.1967, in Considerações Sobre a Atualidade.
Discursos e palestras de Nestor Jost
Educação a distância
Observo mudanças com a educação a distância. A EAD é imprescindível
para o Banco. São muitos funcionários a capacitar em todo o território
nacional. Os custos com a formação presencial são astronômicos. A empresa não pode prescindir da formação presencial, principalmente para
os cursos com foco na dimensão comportamental. As tecnologias de EAD
estão propiciando uma radical democratização da formação profissional
no Banco.
JURACI Masiero. Atual diretor da DIPES. Entrevista em 1.6.2006
192 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
Com uma demanda de mais de oitenta mil funcionários, temos que lançar mão de todas as mídias e recursos tecnológicos disponíveis.
José NOGUEIRA. Analista da DECOM. Entrevista em 31.3.2006
YZ
A educação a distância possibilita o compartilhamento de saberes para a
construção coletiva do conhecimento.
DANIEL José de SOUZA. Analista da DECOM – Educação a distância e cultura
organizacional no Banco do Brasil: um estudo de caso. Dissertação de mestrado.
Florianópolis, 2002
A ampliação dos cursos auto-instrucionais considera as vantagens da democratização do acesso à educação. Precisamos avançar na criação de
um modelo de tutoria.
DANIEL Garcia, Analista da DECOM. Entrevista em 5.4.2006
YZ
Um marco que acho importantíssimo no Banco é que coube, inicialmente,
à área de educação corporativa, colocar em funcionamento a TV
corporativa. Hoje, a TV corporativa não é mais administrada pela área
de Recursos Humanos, embora grande parte de sua programação seja
dedicada a treinamento, mas é um marco da área ter colocado a TV no
ar. Implantar um sistema complexo de uma TV corporativa tomou horas
e horas de trabalho e foi um momento que demandou muita criatividade,
porque criar, a partir do nada toda uma grade de programação de TV
exige muita reunião. A TV é um mecanismo para alavancar ações de
clima e cultura organizacional.
José Francisco de Carvalho REZENDE. Gerente executivo da UFRH/GEDEP
de 1996 a 1999. Entrevista em 4.5.2006
YZ
Fui chefe do DESED por cerca de um ano, em período entre abril de
1985 a abril de 1986, mais ou menos. Nesse lapso, foi levado avante o
projeto de reestruturação organizacional, basicamente com a redefinição
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 193
da política de recursos humanos, voltada à formação e desenvolvimento
profissional, e à melhor dotação de cargos, com APs mais adequados à
missão do DESED. Estiveram à sua frente, os nossos colegas Luiz Oswaldo
(o nosso atual vice-presidente), Ana Liési Thurler e Maria Dalva Martins
Palhano. Na sua fase final, nós o submetemos à crítica do Departamento
Especializado de Recursos Humanos da USP, que o chancelou, diante
de sua magnífica qualidade... Uma outra contribuição se refere ao
treinamento a distância. Quando o Dr. Gigante assumiu, em 1979, a vicepresidência de administração – e eu era seu chefe-de-gabinete – disse-me
que tinha, como uma de suas metas, implantar no Banco o treinamento
a distância. Sugeri-lhe que eu faria um curso de treinamento a distância
para absorver basicamente aspectos metodológicos a serem observados
nos programas de treinamento. E isso realmente ocorreu: realizei curso
do IOB, em Direito Processual do Trabalho. Foram vários meses de
recebimento de apostilas, estudo sistemático e de avaliação. Concluído,
produzi um relatório para o Dr. Gigante, fornecendo elementos úteis ao
desenvolvimento e implantação de projetos de treinamento a distância.
O Dr. Gigante remeteu-o ao DESED com despacho de que era para ser
introduzido no Banco o treinamento a distância. Depois, quando passei
a chefiar o departamento, já era intensa a atividade com tal mister.
ARIDEU Galdino da Silva Raymundo. Chefe do DESED em 1986.
Depoimento em 5.5.2006
Educação popular – O BB Educar
Fiquei devendo ao Paulo Freire, uma história do BB Educar. A Fundação agora vai publicar as experiências do programa. Fiz até um prefácio.
Um texto pequeno, mas aproveitei para citar alguns nomes que foram
importantes naquele primeiro momento. Citei o Alair, a Anaíres, a Lia,
a Nilda, a Patrícia, a Sandrinha, a Vitória.
LUIZ OSWALDO Sant’Iago Moreira de Souza. Atual vice-presidente de Gestão
de Pessoas e Responsabilidade Socioambiental. Chefe do DESED de 1993 a 1994.
Entrevista em 13.4.2006
194 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
O trabalho da Fundação Banco do Brasil se realiza em dois eixos, bem
definidos: Educação e Trabalho e Renda. A Diretoria de Educação abriga programas estruturados e alguns projetos pilotos. Como programas
estruturados, temos o BB Educar, o AABB Comunidade, o Inclusão Digital e o Projeto Memória. Temos vários projetos pilotos: a Escola Sagarana, o Banco na Escola, o Alimentação Sustentável e o Projeto Quilombola. Estive por quatro anos vinculado ao BB Educar. Foi um período
de aprendizagem... No período, foi realizada a avaliação do programa.
Fizemos revisão do material pedagógico. Foi implantada a Coordenação
Regional e o Projeto de Saúde Ocular, que possibilita a aquisição de óculos para os alfabetizandos. Foi desenvolvido o almanaque do BB Educar, direcionado aos alfabetizados pelo programa e entregue no momento
da formatura. O quadro de educadores do programa foi ampliado. Os
educadores cursaram uma especialização na área de alfabetização de jovens e adultos. O BB Educar é um programa que tomou uma dimensão
muito grande.
FERNANDO da Nóbrega Júnior. Funcionário da Fundação Banco do Brasil.
Entrevista em 11.7.2006
YZ
Especialmente no BB Educar, constatei as possibilidades de uma educação voltada para a práxis, ou seja, de uma formação que faz sentido na
prática e de uma prática que não prescinde da teorização. O BB Educar
formou alfabetizadores e educadores em todo o País, contribuindo para
a redução dos índices de analfabetismo e influenciou práticas de ensinoaprendizagem em outras áreas de formação do DESED. Revelou aos
funcionários os diversos “brasis” que estavam bem próximos às agências
do Banco. Motivou educadores a tomar a alfabetização de jovens e adultos como objeto de estudo, em universidades brasileiras ou no exterior,
como Vladimir, em Cuba e Ana Lúcia, nos Estados Unidos, além de disponibilizar cursos de pós-graduação a todos os educadores, que, a partir
de suas práticas de formação e de alfabetização, produziram conhecimentos significativos para a educação de jovens e adultos.
PATRÍCIA Teixeira de Almeida. Educadora. Aposentada. Coordenadora regional
do Programa BB Educar. Depoimento em 16.7.2006
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 195
Ministrei aulas na tribo dos Ticunas, no Amazonas, às margens do Rio
Solimões. Foi uma experiência inconfundível. As aulas começavam às
sete da noite e iam até três da manhã. Os índios passavam o dia na roça
e só restava essa opção de horário. Havia um índio que traduzia alguns
aspectos das aulas, das oficinas, (tradutor) para facilitar o trabalho. No
início, os índios ficavam presos à realidade mais imediata deles. Então,
trabalhei os temas geradores, utilizando palavras, não apenas da realidade, mas da língua deles. Por exemplo: se eu explorasse a palavra geradora
“balaio”, trabalhava o termo também em ticuna; isso facilitou a tarefa.
Foi um processo de alfabetização em duas línguas. A experiência marcou
minha vida. Na relação com eles, fui testando – pois, como diz Einstein,
“a teoria sempre acaba, mais cedo ou mais tarde, assassinada pela experiência” – (descobrindo) que algumas coisas que os livros ensinam não
correspondem exatamente à realidade. Por exemplo: um jovem ticuna
me disse: ‘Dizem que o rio é uma bênção. O rio é uma bênção para o
meu avô, mas para nós que conhecemos a televisão, a Xuxa, o Rock, o rio
vira um obstáculo que nos impede de sair daqui. Daqui pra Tabatinga é
uma viagem muito longa, sofrida. ‘A gente se sente isolado’.
ALAIR Negri. Educador. Aposentado. Entrevista em 3.3.2006
YZ
No ano que se inicia, é importante refletirmos sobre nossa prática educativa
a partir do que representam, para a alfabetização, as comemorações
ocorridas em 1995 em torno dos 300 anos da morte de Zumbi.
Zumbi é símbolo da luta de homens e mulheres trazidos da África como
escravos e escravas. Sua prática, na organização do Quilombo de
Palmares, reflete a busca de uma educação libertadora.
A história da educação é originalmente excludente, elitista e etnocêntrica.
Índios, negros e mulheres foram, por muito tempo, excluídos do processo
de escolarização. Para a historiadora Ana Maria Araújo Freire, é o que
se pode chamar de “ideologia da interdição do corpo”.
Corpos de homens e mulheres marcados pelas discriminações sociais,
regionais, setoriais e sexuais do elitismo brasileiro que permaneceu no
analfabetismo.
196 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
A questão do analfabetismo, uma das peças da grande engrenagem que é a
construção social, caracteriza-se em dois níveis: a) os excluídos da escola;
e b) os marginalizados na escola. Dos 22 milhões de não-alfabetizados,
grande parte é marginalizada do processo de escolarização, vítima de
preconceitos.
Maria Preta*, por ser pobre, negra e mulher, representa tanto os excluídos
como os marginalizados. Agora, no processo de alfabetização, ela nos dá
uma demonstração de luta e coragem, disposta a não baixar a cabeça
frente aos preconceitos, discriminações e injustiças sociais.
* Maria Laura de Jesus, 42 anos, nascida em Exu-PE. Mãe solteira e doméstica,
sem emprego fixo. Aluna do BB-Educar em Assaré-CE, sua turma concluiu a
alfabetização em junho/95 e recebeu o nome de Maria Preta, seu apelido.
(Informativo do Programa BB-Educar – número 2 – maio/1996
Educadoria
O grupo de educadores da área de Relações Humanas marcou... Jorge
Roux era uma espécie de ideólogo da turma. Um grupo com pensamentos diferenciados... Éramos um grupo que às vezes tinha uma aspiração
meio quixotesca de almejar derrubar moinhos de vento, mas era um
grupo que tinha força. Teve um papel importante para compor a marca
forte que foi o DESED.
LUIZ OSWALDO Sant’Iago Moreira de Souza. Atual vice-presidente de Gestão
de Pessoas e Responsabilidade Socioambiental. Chefe do DESED de 1993 a
1994. Entrevista em 13.4.2006
YZ
Cheguei ao DESED em 1987 para compor a equipe de vídeo que estava
sendo criada no Setor de Multimeios – SEMEI. Trabalhei na produção
e direção de programas informativos e de treinamento até 1998, quando
criamos a TVBB. Com a ida do trabalho para a área de comunicação,
optei por permanecer ligado à área de treinamento, passando a trabalhar com o planejamento de cursos internos. Em 2003, assumi a antiga
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 197
Instrutoria. Já havia um movimento forte para a mudança da nomenclatura de instrutor para educador, pois entendia-se que o papel do educador é mais amplo e faz mais justiça aos colegas que desempenham
essa função, indo além do simples repasse de instruções. Criamos então
a Educadoria e promovemos a reformulação do antigo Fundamentos
Pedagógicos para Instrutores – FPI, atendendo antiga reivindicação do
corpo de educadores do Banco. Em 2004 coordenamos a realização de
um seminário internacional, com palestrantes ligados ao Professor Edgar
Morin, que trouxeram para o Banco a Abordagem Multirreferencial e
a Teoria da Complexidade. A partir desse evento, um grupo de colegas
aposentados ajudou a planejar o Curso de Preparação de Educadores
– CPE, que recuperou a carga horária da antiga formação de educadores do BB e incorporou novas tendências em educação.
Névio Carlos de Alarcão, NEVINHO. Analista da DIPES/GEDUC/DIPAR.
Depoimento em 29.8.2006
YZ
Ter as potencialidades adormecidas. A consciência de tantos poderes,
sem, no entanto, saber como fazê-los aflorar. Desejar ajudar no processo de descobertas e reencontros aguardados por tantos. Foi assim durante o meu processo de formação para educadores. Num redemoinho
de questões e aquisições, as coisas irem se clareando, se acordando e
se integrando num projeto de educadoria. Tomando forma e dizendo-se presentes. As idéias vão-se desanuviando. É assim que acontece.
A formação pedagógica assenhora-se de coisas antes existentes, porém
apenas em potência. Agora, conscientes e prontas para o uso. Para serem doadas. Foi assim, para mim, participar do curso de Preparação
de Educadores, o CPE.
TARCIZO Leite de Vasconcelos. Educador. Gerente de negócios da SUPER Varejo Pernambuco. Depoimento em 28.7.2006
198 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
As pessoas cultivavam certo orgulho pelo trabalho no DESED e é relevante
observar que esse fato mudava a vida das pessoas. Cito Jorge Roux, Ana Liési, Nelma, Catelli, Antônia, Giovani,Theo, Barbieri, como referências.
MARÍZIA Ferreira de Araújo. Educadora. Aposentada. Entrevista em 2.4.2006
Fui trabalhar com seleção, formação e acompanhamento dos instrutores.
Trabalhei com a Norma Parrot e com a Nelma. Participei da equipe de
formadores de diversos CFI, inclusive de Matemática Financeira. Além
dos conteúdos de Matemática Financeira e Didática, estimulamos a
busca da compreensão mais ampla do contexto em que a Matemática se
acha envolvida. O porquê da existência de ‘taxas de valor nominal’, ‘taxas
sobre o valor líquido’. A Matemática não é a expressão das leis naturais.
Há toda uma organização social, um sistema de criação e transferência
de riquezas. É sempre possível a interrogação. A busca do sentido.
Mário Batista CATELLI. Educador. Aposentado. Entrevista em 27.3.2006
YZ
É inegável a importância da educação a distância. Todavia, há que se
avançar em estratégias que não permitam a fragmentação do pensamento, da cultura da organização. Para isso, o papel da Educadoria é
fundamental.
ELIANA Santos Faccini. Educadora. Aposentada. Entrevista em 3.4.2006
YZ
A dificuldade para liberação dos educadores, pelas suas unidades de trabalho, foi uma constante na história da educação do Banco. Muitas
vezes, cursos foram cancelados. É uma luta constante, o trabalho junto
aos administradores para liberar funcionários que trabalham no Banco,
também com educação.
Carlos Almeida CARREIRO. Educador. Aposentado. Entrevista em 5.6.2006
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 199
O primeiro projeto mais importante com que trabalhei foi a elaboração do Plano de Desenvolvimento Gerencial – PDG. Fiz parte de
equipe matricial formada por um conjunto de especialistas coordenados pelo economista Dércio Garcia Munhoz. A demanda era preparar
os gerentes, dar uma capacitação ampla para uma mudança de atitude. O segundo, foi participar do próprio grupo de Relações Humanas. Começamos preparando seminários e a experiência de montar
o PDG evoluiu. O grupo de RH era formado por: Jorge Roux, Ana
Liési, Barbosa, Branisso, Eliana Faccini (não sei se estou esquecendo
alguém). Não sou bom de memória...Quando as resistências à área de
RH aumentaram muito... vimos que... existia um trabalho pedagógico novo baseado em Paulo Freire, Lauro de Oliveira Lima, mas não
estava escrito. Nós tínhamos inventado uma forma de trabalhar com
educação. Criamos uma cultura sem saber. Percebemos que depois que
os funcionários participavam de cursos na metodologia que desenhávamos e iam participar de cursos e seminários de contratados externos
do Banco, o pessoal reclamava e na avaliação aparecia a insatisfação.
Criamos a cultura do ensino socializado na montagem dos cursos da
área internacional, na formação do pessoal do antigo IMPLA. Foi aí
que fizemos a formação do primeiro grupo da área metodológica. Se
não me engano, em 1975.
RUI Severino de LIRA. Aposentado. Educador. Entrevista em 15.3.2006
YZ
Em 1975, ingressei no DESED, por concurso interno, como instrutora de Relações Humanas. Na oportunidade, éramos vinte pessoas que
passaríamos a trabalhar como instrutores(as), permanecendo nas nossas
unidades e sendo convocadas para ministrar os cursos oferecidos pelo departamento. Jorge Roux (do quinteto que estava lá, quando ingressamos,
acho que éramos vinte aprovados no concurso) e eu propusemos um curso
de Dinâmica de Grupo com Lauro de Oliveira Lima. Seu livro foi adotado. Virou livro de cabeceira do grupo.
ANA LIÉSI Thurler. Ex-funcionária do DESED. Entrevista em 10.5.2006
200 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
É preciso preservar o conhecimento, as contribuições dos educadores. Eles
têm conhecimento, experiência. Enfim, uma história, e as pessoas vêm
para a área de educação porque têm vocação. Porque gostam. Essa é uma
questão da maior importância. É preciso ter mecanismos para buscar as
pessoas.
João Hamilton dos Anjos Vianna – o SENADOR. Educador. Aposentado.
Entrevista em 2.6.2006
Ensino-aprendizagem
Montamos um Seminário de Preparação dos Instrutores de Recursos Humanos para o Curso Básico de Supervisão, o CBS. Eu, o Rui Lira, a
Eliana Faccini, a Dalva, o Ronnie Santos, de Campinas. Escolhemos
textos de Paulo Freire, Gadotti, Rubem Alves, Further. O Rui Lira,
no início, resistiu ao texto de Rubem Alves, mas a Eliana defendeu de
forma aguerrida a sua inclusão no material do curso. No final, o Rui se
acalmou e disse que aquele era o melhor texto que havia sido escolhido
(risos). Era muito bom fazer parte da turma de RH.
LUIZ OSWALDO Sant’Iago Moreira de Souza. Atual vice-presidente de Gestão de Pessoas e Responsabilidade Socioambiental. Chefe do DESED de 1993 a
1994. Entrevista em 13.4.2006
YZ
Aprendo muito no meu trabalho. Embora simples, tem muita importância. Preparo as salas com equipamentos: retro-projetor, data show,
aparelhos de TV, pincéis para os quadros. Confiro os equipamentos,
troco as lâmpadas nas salas, disponibilizo o material aos educadores e
participantes. Atendo educadores e participantes em tudo que precisam.
Conheço as manhas dos treinamentos. Os materiais específicos de cada
curso. Hoje, perto de me aposentar, vejo a importância do meu trabalho.
Quando penso o que seria um curso sem esse apoio prévio. Sem uma pessoa com experiência pra fazer tudo isso. O melhor de tudo é o reconhecimento que recebo dos colegas. Da chefia. Dos educadores de todo Brasil
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 201
que vêm aqui ministrar cursos. Isso me enche de alegria e satisfação. Dá
a motivação pra retribuir. Faço o melhor que posso. Sinto que tenho o
carinho, a amizade dos colegas de trabalho.
José Ribeiro dos Santos – ZÉ RIBEIRO. Funcionário da GEPES Brasília.
Entrevista em 14.7.2006
YZ
Educação não é só conteúdo. Implica, sobretudo uma relação de troca. Nesse
sentido, a experiência grupal em sala de aula é insubstituível.
Maria José Trindade - MAIZÉ. Educadora. Aposentada. Entrevista em 24.3.2006
YZ
Criamos um espaço para realizar eventos. Assim, no CEFOR Brasília,
às quartas-feiras aconteciam os encontros da “Prata da Casa” (depois
denominado “Ouro da Casa”). Constavam de apresentações artísticas
dos participantes dos cursos. Oportunidade para divulgar talentos,
compartilhar dons. Alguns tocavam violão, outros recitavam. Havia
encenações, piadas.
Luiz Jorge MIR. Chefe e coordenador de equipe do CEFOR Brasília no período
de 1991 a 1996. Educador. Aposentado. Entrevista em 25.4.2006
YZ
Estou aposentado há vinte anos. Significa que muita coisa vai se perdendo da memória. Chefiei o DESED, substituindo o Mandarino e o
Maurício Teixeira da Costa. O vice-presidente, Dr. Gigante, queria que
o BB tivesse os melhores gerentes. O DESED programou curso especial.
Foi quando nasceu o Curso Básico de Supervisão (se não me engano,
esse foi o nome). O trabalho esteve aos cuidados do Antônio Massarioli
André. Lembram-se dele? De quando em vez vejo-o na missa dominical
da São Camilo. Esse curso teve enorme sucesso. Significava treinamento
para o meio-de-campo. Quem tem meio-de-campo bom tem garantia
maior para ganhar o jogo, não? E sabemos, eram os supervisores os mais
202 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
próximos gerentes na carreira. O CBS durava trinta, quarenta dias. O
pessoal era submetido a prova também. Cuidamos de preparar para eles
ambiente bem descontraído.
Antônio MENEZES. Chefe do DESED em 1984. Depoimento em 14.7.2006
Os Fóruns – de Recursos Humanos e de Gestão
de Pessoas e Responsabilidade Socioambiental
do Banco do Brasil
Os três primeiros fóruns se constituíram em passos no sentido de se buscar conhecer a necessidade e o anseio dos funcionários com relação aos
produtos, serviços e processos da área de RH do Banco do Brasil. Com
um grande quadro espalhado por todo o território nacional – com toda
a complexidade que isto significa – houve a necessidade de, pouco a
pouco, criar-se a condição para que esse ouvir fosse o mais abrangente e
democrático possível. A cada etapa, novas descobertas, novas demandas,
novas atitudes.
DEOLINDA da Conceição Gouvêa. Educadora. Aposentada. Participou dos
comitês organizadores dos 1º, 2º e 4º Fóruns. Trecho do artigo: Um ligeiro olhar
sobre os três primeiros Fóruns
YZ
O 4° Fórum de Gestão de Pessoas e Responsabilidade Socioambiental, desenvolvido com o objetivo de promover uma escuta institucional, visando
o aprimoramento das políticas de gestão de pessoas e de responsabilidade
socioambiental no Banco do Brasil, teve uma produção de 8.269 críticas
e 9.731 propostas de solução para as críticas apresentadas. O projeto foi
estruturado para incluir nas discussões o maior número possível de funcionários, nos diversos níveis hierárquicos, envolvendo toda a rede de agências, superintendências, órgãos regionais e direção geral. Foram eventos
presenciais com a produção de documentos parciais, que se foram consolidando em cada uma das etapas: local, regional, estadual e nacional.
Os resultados do fórum não podem ser mensurados (no sentido técnico
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 203
do termo ‘mensurar’ que significa ‘atribuir valor’), apenas avaliados
segundo determinados parâmetros, os quais certamente serviram de
base para a decisão. Parte dos resultados corresponde à qualidade das
dezoito mil críticas e sugestões e outra parte a uma série de resultados
potenciais que podem se materializar ao longo do tempo por meio da
implementação das soluções que gerem valor, para a organização e para
o funcionalismo.
SOLANGE Garcia dos Reis. Trecho do artigo: 4º Fórum: Um foco sobre a gestão
de suas despesas. Brasília: 2003
YZ
Pode-se dizer que o 4º fórum promoveu o início de um processo de construção compartilhada do conhecimento em que as necessidades e opiniões foram socializadas. Ainda há muito a ser feito. As próximas ações
passam pela compreensão das propostas, exercício do diálogo, busca de
soluções e suas implementações. Continuam com a avaliação do real
valor do que está sendo construído, da sua concretização, procurando
produzir resultados como a satisfação das necessidades das pessoas, uma
relação mais intensa entre a empresa e seus funcionários, uma empresa
mais eficiente e competitiva, que possa contribuir com a sociedade e o
ambiente em que está inserida.
LUIZ HENRIQUE Boff. Analista da GEPES Porto Alegre. Trecho do artigo:
Compartilhar é produzir conhecimento. Brasília: 2003
YZ
Finalmente, cheios de orgulho por estarem representando oitenta mil colegas, chegaram a Brasília nossos 54 ‘mensageiros’ para o grande fórum,
trazendo na bagagem um imenso tesouro: a riqueza do super-diagnóstico com dezoito mil pedidos sobre 31 temas diferentes, construídos de
forma organizada e democrática, por pessoas competentes, conscientes e
altamente comprometidas com os destinos dessa empresa.
REGINA COELI Silva de Sousa. Agência Setor Público. Belém. Trecho do artigo:
Uma viagem pelos sentimentos no 4º Fórum. Brasília: 2003
204 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
Gerenciar pessoas é uma função antiga, considerando que o termo
representa uma evolução da expressão “Recursos Humanos”. Ela ocorre
todos os dias, em todos os lugares. O que se ressalta na proposta formulada
pelo 4º Fórum é uma gestão de pessoas diferentes, compartilhada, que
valoriza a participação e reconhece cada profissional como uma pessoa
capaz de contribuir para a integralidade da vida organizacional. Se
cada pessoa é vista desta forma pela organização, já não é gerenciada.
Cada pessoa se apresenta como um ser responsável pelo curso de sua
história e pela dos outros: um ser que cuida dos seus propósitos e ajuda a
construir os sonhos dos demais.
...Foram 54 participantes que, durante três dias, envolveram-se, com
entusiasmo e dedicação à tarefa de contribuir para que a gestão de
pessoas esteja cada dia mais presente na vida dos profissionais do Banco
do Brasil. Vale destacar que não foi um envolvimento de apenas três
dias; foi uma teia que se iniciou em cada unidade da empresa, depois
percorreu o caminho das regionais, consolidou-se nas propostas estaduais,
e finalmente, fechou o seu ciclo de discussões em Brasília.
Reconhecimento tem sido uma prática adotada pelas organizações
para demonstrar a importância que os profissionais têm para a geração
de resultados. Do ponto de vista psicológico, significa um processo
permanente de valorização, que permite ao profissional ser reidentificado
em termos de sua contribuição no trabalho. Para o 4º Fórum, reconhecer
se traduz em “não fechar o ciclo de discussão em Brasília”. Significa
dar continuidade ao processo, analisar propostas, definir políticas e
implementar ações.
ISA Aparecida de Freitas. Analista da DIPES. Trecho do artigo: Um olhar sobre as
expectativas do 4º Fórum. Brasília: 2003
YZ
Utopia? Tem cara e jeito de ser. E então? Ora, que sociedade pode viver
sem utopias, apesar de ouvirmos sempre que elas já morreram?
Num mundo perfeito, provavelmente não existiria o 4º Fórum Gestão de
Pessoas e Responsabilidade Socioambiental. Se fosse necessário destacar do
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DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
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mundo da vida um momento especial em que se discutissem questões como
as do 4º Fórum, talvez bastasse um único fórum: o primeiro. Num mundo
perfeito, em que fosse realidade a utopia de uma comunicação livre, essas
questões seriam equacionadas dia-após-dia, através do diálogo permanente.
Mas, então, há uma contradição aqui: se aceitamos a afirmação de que
nenhuma sociedade pode viver sem utopias, um mundo perfeito seria
a utopia transformada em realidade, logo não haveria necessidade de
novas utopias, porque não haveria nada a se sonhar além dela. Se o
raciocínio estiver correto, então, nunca uma utopia assim totalizante
será realizada. Todos sabemos que os pés humanos jamais chegarão ao
lugar que os olhos desejam, pois, ao chegarem lá, os olhos já conseguem
enxergar mais à frente.
Isso quer dizer que são próprias da caminhada humana as duras conquistas e, ao lado delas, a incompletude, a irrealização de projetos. Se
queremos um mundo de comunicação perfeita, não há como nos prepararmos de maneira melhor, senão por meio do exercício do debate. Como
ainda está muito distante de nós esse mundo perfeito, há muitos fóruns
a serem realizados. Ainda há muita negociação em diferentes esferas da
vida esperando nosso envolvimento, até mesmo para que nos realizemos
como seres humanos. Ao que tudo indica, não há como fugir; o ser humano está condenado ao diálogo.
José MARCELO ASSUNÇÃO). Educador. Aposentado. Trecho do artigo:
Nenhuma empresa é melhor que seus funcionários. Brasília: 2003
YZ
No 4° Fórum, realizou-se a lição da semeadura coletiva que apontou
para o campo das possibilidades de uma colheita democrática. Os
facilitadores dos eventos atuaram como mediadores da interlocução
para uma compatibilidade entre necessidades da empresa e as dos
funcionários. Tudo isso, dentro de um projeto de socialização dos saberes
para construção de princípios estratégicos, cartilha fundamental, que
viabilize soluções para todos e por todos.
Da lição, vem o aprendizado que brota da interação, da participação e
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DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
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BRASIL
que traz sementes de uma nova realidade, só fecundada pela ação e na
comunhão de discursos – que confirmam, que negam, que explicitam
contradições – mas que, sobretudo, constituem interlocutores, sujeitos
sociais capazes de, no embate de idéias e posições, realizar o movimento
pedagógico de criação e apropriação do saber.
Quando se aborda a natureza pedagógica dos encontros, que se
caracterizam por ensinar a interação, a participação e a inclusão, não se
vislumbra apenas o caráter imediato da realização dessas reuniões. O que
se quer ressaltar é que no fórum – como locus de igualdade, liberdade e
respeito mútuo – ensina-se a atitude fundamental de integrar o modelo,
o comportamento e o aprendizado organizacionais para o bem comum.
E é preciso cuidar para que nossas ações cotidianas reflitam o rascunho
projetado em cooperação.
A tarefa de casa para todos não pode ser diferente do necessário exercício
de reorganizar a ação institucional, a partir de princípios pensados e
construídos no campo do diálogo para o atingimento de nossos objetivos.
Seja como seres humanos – sermos felizes e plenos. Seja como cidadãos
– zelarmos por esse Banco que tem a honra e a responsabilidade de ser
o Banco do Brasil. Seja como funcionários – cumprirmos nosso dever
de servidores da sociedade e trabalharmos por uma empresa que possa e
queira escutar nossos anseios e traduzi-los em ações justas.
LIDUÍNA Benigno Xavier. Analista da GEPES Natal. Trecho do artigo: Uma
pedagogia da participação. Brasília: 2003
YZ
A idéia mestra de todos esses fóruns está colocada em intenções democráticas
manifestadas numa possível “gestão participativa”, ou seja, quem pode
dar as ordens, elaborar políticas e ações estratégicas para a empresa,
“abre mão” , de certa forma e sob certas circunstâncias, desse dever, para
compartilhá-lo com todos os demais integrantes da organização.
Decisões compartilhadas geram solidariedade, cumplicidade e compromisso, ao mesmo tempo em que diluem o ônus da decisão solitária de um
comitê ou de uma corajosa e isolada liderança organizacional.
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
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Por outro lado, convidar oitenta mil funcionários a criticarem as políticas
de gestão de pessoas e a sugerirem mudanças nessas políticas significa
assumir com eles, não apenas o óbvio compromisso de governança
solidária; significa, também, torná-los partícipes de sucessos e fracassos
em que, porventura, tal política venha a resultar.
Não há dúvidas da eficácia desse tipo de apelo num discurso político.
Ninguém duvida que essa forma de aliança mantém a consistência de
uma liderança construída a partir da base. E é justamente por esse motivo
que o 4º Fórum Gestão de Pessoas e Responsabilidade Socioambiental se
diferencia substancialmente de todos os demais que o antecederam.
Luiz Carlos Assis IASBECK. Educador. Aposentado. Trecho do artigo: Amor/
humor no fórum da esperança/desesperança. Brasília: 2003
GEPES Regionais
A área de educação corporativa está enraizada na empresa inteira, ela
se expandiu, se espalhou e conta hoje com um expressivo número de educadores, orientadores profissionais e também de selecionadores, que estão
alocados nas diversas dependências do Banco e vinculam-se, enquanto
colaboradores, às unidades regionais de gestão de pessoas – GEPES, que
a partir de 2003 foram enriquecidas em suas funções e passaram a conduzir os diversos programas e processos da Vice-presidência Gestão de
Pessoas e Responsabilidade Socioambiental, representando as diretorias
DIPES e DIRES na “ponta”, como se diz.
Importante registrar que as GEPES de hoje substituíram os antigos Centros de Formação Profissional – CEFOR e que em 2005 passaram de
12 para 20 unidades, divididas em áreas de atendimento que, somadas,
cobrem todo o território nacional e continuam com a nobre função de
cuidarem dos funcionários, em especial no que se refere aos processos
relacionados ao desenvolvimento pessoal e profissional, responsabilidade
socioambiental e relações trabalhistas.
Para viabilizar a coordenação, as unidades foram vinculadas hierarquicamente à DIPES/GEMAC/COGEP – Gerência de Monitoramento e
Avaliação em Gestão de Pessoas e Coordenação da Rede GEPES – e o
modelo de gestão adotado funciona como uma rede, consolidando alguns
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DA EDUCAÇÃO NO
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DO
BRASIL
dos pressupostos idealizados lá atrás no “repensando o DESED”.
SILVESTRE Silva Serrano. Atual gerente executivo da DIPES – Gerência de Monitoramento e Avaliações em Gestão de Pessoas e Coordenação da Rede GEPES.
Entrevista em 24.5.2006
YZ
As organizações, uma vez impulsionadas por sonhos, perenizam-se, pois
assumem seu papel no bojo de transformações necessárias. Sim, a criação das Unidades Regionais de Gestão de Pessoas em mais oito Estados,
evidenciou a decisão do Banco do Brasil de priorizar o diálogo como estratégia de relacionamento com o funcionalismo. Ao investir nos valores
humano e social, nossa empresa consolida sua pujança no mercado com
a construção de excelentes resultados tangíveis e intangíveis que a tornam ímpar perante a sociedade. Somos, além de tudo, um conglomerado
fantástico de emoções, idéias, anseios, sentimentos... de NOVAS GEPES
e de pessoas!
Antônio ARTEQUILINO da Silva Neto. Atual gerente da GEPES Goiânia.
Depoimento em 14.11.2006
Identidade socioprofissional
Um marco dos tempos atuais é o discurso do autodesenvolvimento, pois
incentiva os funcionários a estudar. Estudar não apenas como meio para
a ascensão profissional, mas como forma de preparar-se para a vida.
Ainda existem funcionários sem curso superior. Considero que a Universidade Aberta é uma grande conquista do Banco para ajudar os colegas
que estão nessa situação... A virada foi estratégica no sentido de ampliar
as oportunidades de qualificação, também porque aliou-se vontade de
democratizar ao uso intensivo da tecnologia.
JURACI Masiero. Atual diretor da DIPES. Entrevista em 1.6.2006
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
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Entendemos que trabalho e vida são indissociáveis e que a relação homem-trabalho não pode ser reduzida aos pressupostos do chamado comportamento organizacional. Existem, no trabalho, processos de produção
de subjetividade que se traduzem na construção dos ambientes em que
as pessoas trabalham e vivem. Pensamos a subjetividade como criação,
sujeito e objeto se produzindo no ato de conhecimento, se construindo e se
modificando mutuamente em um constante vir-a-ser que produz trabalho e vida. Essa criação envolve uma diversidade de instâncias (políticas,
econômicas, sociais) complexas, heterogêneas e de múltiplas faces.
O trabalho, neste sentido, é também um processo multifacetado, de caráter sempre enigmático e que não pode ser reduzido a explicações simplistas, fórmulas mágicas ou receitas pré-produzidas, como muitas vezes
supõe a Psicologia Organizacional. A Ergonomia da Atividade Situada e a Ergologia têm contribuído muito para o entendimento dessa
complexidade.
[Cada funcionário, a partir de suas histórias de vida e dos seus encontros
e desencontros com o trabalho, concebe a empresa e age dentro dela de
maneira diferenciada. Também neste sentido, o 4º Fórum foi de fundamental importância ao promover, em toda a empresa, debates em torno
dos mais variados temas de interesse de todos. A valorização da vivência singular de cada funcionário e o estímulo a este debate de valores
fortalece os funcionários para que possam se sentir co-construtores das
estratégias da empresa e se reconheçam como responsáveis pelos sucessos
organizacionais.
MARCUS VINICIUS Santa Cruz Pereira e MARIA ELISA Siqueira Borges. Funcionários da GEPES Rio de Janeiro. Trecho do artigo: Conhecimento e experiência:
valorizando saberes produzidos nos coletivos de trabalho. Trabalho produzido em
co-autoria para o 4º Fórum. Brasília: 2003
YZ
Realizamos o curta-metragem em animação ‘O Lobisomem e o Coronel’.
O filme conquistou mais de vinte prêmios, dentre os quais o de melhor
filme do Anima Mundi, conferido por júri popular, em 2002, nas cidades
do Rio de Janeiro e de São Paulo. Em comum é que, Eu, o Zeluca, o Krish-
210 - ITINERÁRIOS
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BRASIL
namurti e o Elvis Kleber – responsáveis pela criação do curta-metragem
– nos conhecemos no DESED, onde trabalhamos juntos no antigo Setor de
Multimeios – SEMEI, posteriormente transformado em Endomarketing.
O Zeluca, famoso por suas ilustrações geométricas de inspiração cubista,
utilizadas durante anos pelo BIP, foi o responsável pelo cenário; o Khrisnamurti Costa e o Elvis Kleber se encarregaram da computação gráfica e da
animação; e eu fiz o roteiro e dividi a direção geral do filme com o Elvis.
ÍTALO Cajueiro, a respeito do curta-metragem em animação intitulado O
Lobisomem e o Coronel, que conquistou mais de vinte prêmios. Funcionário da
DIPES/DIAGE. Depoimento em 17.8.2006
YZ
A mobilização que teve início nos tempos do Betinho, volta, com maior
ânimo no Banco, com o voluntariado. A força social está muito presente
nas ações do Programa Fome Zero. Também relacionada com essa concepção, está se construindo uma nova prática, com a aprovação, pelo
Conselho Diretor do Banco, do conceito de responsabilidade socioambiental e a Carta de Princípios, contendo diretrizes e objetivos de postura. Juntos, vamos fazer a ética ser um compromisso efetivo e o respeito à
nossa atitude primordial com todos os públicos.
RICARDO Uhry. Diretor de Comunicação e Marketing da Fundação Banco do
Brasil. Trecho do artigo: De pipocas, piruás e fazer alguma coisa. Brasília: 2003
YZ
A informatização levantou questionamentos relativos, não somente à capacitação para o trabalho, mas sobretudo à redução das possibilidades de
trabalho (emprego). A leitura de que o profissional bancário continuaria
a existir, porém, em quantidade menor, assustou as pessoas. A busca para
se manter capacitado/qualificado ganhou corpo.
ANYSIE Rosa de Moura Pires. Funcionária da VIPES. Entrevista em 12.4.2006
Quando fiz concurso em 1954, todas as capitais do País participaram.
Só elas. Em Belo Horizonte, de 1.200 candidatos, passaram 150. Provas
chamadas subjetivas, ou seja, tínhamos que escrever as respostas. Havia
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
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prova de redação. Caminho mais fácil para ex-seminaristas (como eu) e
para ex-alunos de colégios internos. Depois, já funcionário, conduzi os
concursos do BB a partir de 1979. O Banco crescia e crescia, precisava
sempre de mais pessoal. Hoje, isso a partir de 1990, o BB pode crescer
muito sem precisar de tanto pessoal como antigamente. Precisa mais de
máquinas e de novas tecnologias.
Antônio MENEZES. Chefe do DESED em 1984. Depoimento em 14.7.2006
YZ
Desde 1974, venho participando de forma acentuada como educador do
Banco em diversas disciplinas e, eventualmente, na elaboração de apostilas... A atuação em sala de aula, em número de trezentas, aproximadamente, teve período mais intenso em 2000, quando participei de 28
eventos... O que me conduz a participar tanto tempo como colaborador
da área de educação no Banco é a grande paixão que aflora em mim,
sempre que participo de alguma ação educativa. Sinto-me recompensado, ao final de cada evento, ao ver no rosto do participante e em suas
declarações, que as suas expectativas foram alcançadas.
Carlos Almeida CARREIRO. Educador. Aposentado. Entrevista em 5.6.2006
MBA
Tão logo percebemos a necessidade de abrir a empresa a parcerias para
introdução de novos parâmetros dentro da educação corporativa, buscamos o diálogo com as universidades e comunidades em torno de um
projeto de educação, visando à aquisição de conhecimento de forma descentralizada (MBA), num contexto de construção coletiva com a nata
da academia, com as diferentes comunidades e formadores de opinião,
provocando uma guinada na educação corporativa do Banco e causando
grande impacto e integração entre as várias cadeias produtivas que recebiam os novos treinamentos. Os efeitos colaterais positivos foram muito
significativos. Uma ação que oxigenou a empresa.
Pedro Paulo CARBONE. Atual gerente executivo da DIPES/GEDUC.
Entrevista em 8.4.2006
212 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
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BRASIL
No período de 1993 a 2004, o Programa MBA disponibilizou vagas
nos cursos de formação geral e específica. Participaram dessas formações
8.287 funcionários do BB e 2.203 treinandos externos. No período de
1997 a 2004, o Programa de Bolsas de Pós-graduação disponibilizou
2.988 bolsas.
MÁRIO de Muzio. Educador. Aposentado. Entrevista em 21.3.2006
Memória
Sinto grande satisfação em ter trabalhado no DESED. Foi uma boa
preparação para exercer outros cargos. Parabenizo o Banco pelo trabalho
de resgate da memória da educação.
Paulo Rubens MANDARINO. Chefe do DESED de 1980 a 1984.
Entrevista em 12.5.2006
YZ
Para o concurso nacional inscreveram-se quase um milhão e quinhentos mil candidatos. Era tanta gente que tivemos que, em várias praças,
especialmente nas capitais, dividir os candidatos em duas turmas, submetendo-os a provas diferentes e em datas diferentes, claro. A turma da
RESEL, liderada pelo José Siqueira, bolou um programa de apuração
quase divinamente perfeito. Ou seja: depois se podia juntar os dois resultados para uma classificação só. Diferença que houvesse seria de fração
de milésimo. Moçada genial, a da RESEL. Tenho muita saudade deles.
Às vezes nos vemos. Não vemos mais, sim, o Antunes e o José Carlos.
Deus os tenha na glória. Pois bem: resultado final divulgado, nenhum
candidato reclamou nada.
Antônio MENEZES. Aposentado. Chefe do DESED em 1984.
Depoimento em 14.7.2006
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
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BRASIL - 213
Cito Dr. Camillo Calazans, ex-presidente do Banco, que lutou pela
construção do CEFOR Brasília, hoje CCBB, Centro Cultural em Brasília, cuja negociação foi muito difícil. É dele também a iniciativa do
CCBB – Rio, em razão de sua visão, intuição e sensibilidade.
MAURÍCIO Teixeira da Costa. Aposentado. Ex-diretor de Recursos Humanos.
YZ
Meu pai, Manoel Salek, era um idealista. Tinha temperamento fechado, meio arredio. Foi contador da Agência Centro Rio, ali na 1º
de Março. Em conversas comigo, dizia que sonhava com um centro de
treinamento no Banco para especializar os funcionários do Comércio
Exterior e da CREAI. Quando foi aprovada a criação do DESED, ele
foi convidado para ser o primeiro chefe.
Marilúcia Salek. Filha de Manoel Salek. Primeiro chefe do DESED.
Entrevista em 4.5.2006
YZ
Tive um contato muito grande com a área de educação do Banco,
principalmente, em Bento Gonçalves. Lá havia um Centro de Formação. O prédio do Banco é grande, construído pelo ex-presidente Geisel
que era de lá. Por uma questão de racionalidade, acabamos colocando
o CEFOR lá em Bento Gonçalves e era o foco de atração dos funcionários do Rio Grande do Sul. Então, a maior parte dos cursos que eu fiz,
foi em Bento Gonçalves... toda minha formação profissional foi feita
dentro do DESED. A minha formação escolar foi esforço próprio. Na
época, o Banco não tinha esse sentido que tem hoje de bolsa ou até de
parceria estratégica com a universidade. Fui para o Direito. Eu sempre trabalhei com crédito. Fui educador na área de Análise Econômica
e Financeira, fui instrutor do ANFIC.
JURACI Masiero. Atual diretor da DIPES. Entrevista em 1.6.2006
214 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
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BRASIL
Eu trabalhava no gabinete do diretor da CREAI/DIRIN, Dr. Nestor
Jost, quando a OEA exigiu treinamento de funcionários para a liberação de empréstimo. O DESED já havia sido criado mas não possuía
estrutura para montar esse curso. Aí então, no próprio gabinete, montamos o Curso de Crédito Industrial. Participei do primeiro como aluno e
coordenei o segundo, realizado em Recife.
JOSÉ LUIZ de Carvalho. Aposentado. Ex-funcionário do DESED.
Entrevista em 28.4.2006
YZ
Quero compartilhar minha visão de educanda e também falar um pouco sobre o Programa Memória da Educação no Banco. Lembro-me de
que aguardava com ansiedade a carta circular, com a oferta dos cursos,
e já preparava firme argumentação para obter do gerente a aprovação
para concessão de oportunidades a mim e às pessoas da equipe. Nunca
foi fácil, no Banco, ceder funcionários. Mas a necessidade e o desejo de
aprender coisas novas, compartilhar experiências com os colegas, era inquestionável. Acredito que a educação desenvolve habilidades, liberta,
abre horizontes, concretiza sonhos. Dá sentido e dignidade. E o melhor,
é direito de todos. Como gestora, sempre estimulei e criei oportunidades de treinamento para desenvolvimento das equipes. Como treinanda,
cedo compreendi que a empresa me capacitava porque acreditava no
retorno desse investimento. Fazia visitas freqüentes ao CEFOR Fortaleza, especialmente na época de Marcelino, Evandro, Toinha, Verinha,
para prospecção de cursos, encontros, etc. Além de me sentir renovada e
motivada com as notícias da área da educação, havia sempre uma troca
proveitosa de idéias para os ambientes da agência e para o próprio centro
de formação.
Hoje, aposentada há mais de dez anos, percebo que a área continua
com o mesmo espírito que inspirou nossos pioneiros, antenada com as
inovações tecnológicas, alinhada à estratégia empresarial e ancorada na
responsabilidade socioambiental. Por tudo isso, sinto-me gratificada em
contribuir na realização desse projeto da História da Educação no Banco, que resgata a extraordinária contribuição das pessoas para o fortale-
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
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BRASIL - 215
cimento da empresa, enfim, perfuma lembranças, exalta saberes, revela
emoções e deixa uma cálida sensação de gratidão aos que, nominados ou
não, construíram essa história.
Maria de FÁTIMA BARRETO Carvalho. Aposentada. Ex-funcionária da
Agência Centro Fortaleza. Depoimento em 10.8.2006
Pressupostos filosóficos da educação
no Banco do Brasil
Tudo o que cerca a vida da organização, de uma forma ou de outra,
interfere no processo de formação. A visão de que a educação “não pode
tudo” e “nem está sozinha”, mas, que é capaz de transformar as pessoas, o
mundo, sempre esteve presente nos pressupostos educacionais do Banco.
ANYSIE Rosa de Moura Pires. Funcionária da VIPES.
Entrevista em 12.4.2006
YZ
Lideranças como Jorge Roux e Ana Liési colocaram em discussão os pressupostos filosóficos e políticos para a educação no Banco.
ROQUE Tadeu Gui – Educador. Aposentado. Entrevista em 28.3.2006
Na década de 1980 houve uma intensificação de ações voltadas para a
formação pedagógica e atualização de instrutores, por meio da contratação
de palestras e estruturação de seminários com educadores e filósofos como
Rubem Alves, Paulo Freire, Moacir Gadotti, Mário Sérgio Cortella e outros pensadores que contribuíram para a formação de todo um referencial
teórico... Para mim, o Barbieri, o Marcelo Assunção, o André e o Teobaldo
são alguns nomes que conhecem parte considerável da memória da área de
treinamento da época. Em 1988, a estruturação do treinamento nas áreas
psico-social, administrativa, político-negocial e técnica representa grande
avanço no modelo de sistematização do treinamento.
Antônia de Maria V. B. do Rego – BEIGA. Educadora. Ex-funcionária do
DESED. Aposentada. Depoimento escrito em 8.9.2006
216 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
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Cito como exemplo o colega Olavo Lopes de Faria, que foi um dos precursores nos cursos implantados por ocasião da criação do DESED, sendo que, na época, foi mais privilegiado o tecnicismo das operações bancárias de então. Posteriormente foram introduzidos novos pressupostos de
educação pedagógica, com ampliação da visão e filosofia de treinamento
dos recursos humanos do Banco.
Walter Piedade DENSER. Aposentado. Chefe do DESED de 1991 a 1992.
Entrevista em 30.3.2006
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Todos os que pensaram no passado, e ainda hoje pensam, uma filosofia
para nortear o ensino no DESED/DIPES, sempre tiveram os melhores
propósitos. Educadores chegam, educadores saem. O mesmo acontece com
seus pensadores preferidos: Álvaro Vieira Pinto, Theilhard de Chardin,
Paulo Freire, Rubem Alves, Edgar Morin... excetuando Jorge Roux, nosso
primeiro e último(?) pensador... Eric Hobsbawn diz que a história como
inspiração e ideologia tende a se tornar ‘mito de autojustificação’. Seria
como um tipo de venda para os olhos e caberia ao historiador removê-la.
AFONSO Celso Agrello. Educador. Aposentado. Depoimento em 19.7.2006
Programa Desenvolvimento de Altos
Executivos
Minha experiência no Programa de Desenvolvimento de Altos Executivos, ora em andamento, me sensibiliza enquanto possibilidade de participar de mais uma ação inovadora na área de Recursos Humanos do
Banco do Brasil. Sem medo de ser diferente, o Banco investiu numa
idéia que amplia as possibilidades de identificação de talentos, valoriza
os preceitos weberianos de constituição de um corpo gerencial capacitado
e aderente às estratégias da instituição, além de injetar mais esperança
de ascensão profissional para os funcionários que, por algum motivo circunstancial, estejam afastados dos centros de decisão da empresa. Torço
para que o programa, aperfeiçoado e amadurecido, torne-se uma rotina
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
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BRASIL - 217
no Banco, fazendo eco à fala de um colega que me calou fundo quando
da minha promoção: ‘Paulo, te parabenizo, especialmente porque o processo pelo qual ocorreu tua ascensão faz com que todos nós também nos
sintamos promovidos’.
PAULO César MACHADO. Diretor-presidente da Ativos S.A. Securitizadora de
Créditos Financeiros. Depoimento em 17.8.2006
Programa Memória da Educação
A história da instituição é feita por pessoas e o programa de resgate da
memória da educação é um reconhecimento a todos os que fizeram e
fazem essa história.
VÂNIA Maria Lopes VENÂNCIO. Gerente de divisão da DECOM.
Entrevista em 24.4.2006
YZ
Nós iniciamos um trabalho de pesquisa pensando em elaborar um
documento para resgatar a memória dos principais cursos elaborados
no Banco, ou em parceria com entidades externas, desde os tempos do
DESED. O projeto foi denominado de Genealogia dos Cursos. Na
medida em que foi sendo desenvolvido, percebemos que a tarefa ganhou
uma amplitude maior. Agora, estamos entregando a consolidação do
levantamento realizado. Essa compilação vai servir como referencial
e apoio na elaboração de programas e cursos futuros. O objetivo do
trabalho foi atingido, pois os saberes construídos nos diferentes e muitos
cursos do Banco serão preservados. Isso racionaliza as ações, minimiza
custos e valoriza a memória da construção dos saberes.
Luiz Jorge MIR. Chefe e coordenador de equipe do CEFOR Brasília de 1991 a
1996. Aposentado. Colaborador responsável pelo Projeto Genealogia dos cursos.
Depoimento em 12.4.2007
218 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
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É como se passasse um filme... Eu me lembro quando o DESED ainda
ficava no Morro Vermelho. E a gente vinha pra Brasília, ora se hospedava na pensão da Conceça, ora em hotéis bem estrelados! Dava orgulho ser
instrutor. Muitas atuações, muitas histórias, muitos amigos... Memórias
históricas... Não se trata simplesmente de resgate de documentos, é nossa
vida, a trajetória da educação na empresa, isso sim.
Por exemplo: quando preparávamos o primeiro Curso de Cultura Organizacional, no início da década de 1990, descobrimos que já nos anos
1920, 1930, o BB se preocupava com o treinamento, com a formação
de seus funcionários no Rio de Janeiro (...) Isso é História, da qual ativamente participamos, sempre questionando. Afinal, o que ajudamos a
construir nos tempos de DESED? E hoje, com que enfoque atuam nossos
educadores?
SYLVIO Carvalho Maestrelli. Gerente de divisão da DIPES/GEDUC/DAVAL.
Entrevista em 19.5.2006
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Não consigo imaginar que pessoa seria eu sem essa história. Sem minha
participação no DESED. Cada pessoa que viveu o DESED carrega uma
história que não se confunde com nenhuma outra. Resgatar um pouco
das múltiplas histórias, elucidar as grandes linhas de convergência, expor
filigranas sem medo dos desencontros que elas carregam. Eis uma tarefa
respeitável. Parabéns ao Banco por esta garimpagem!
Mário Batista CATELLI. Educador. Aposentado. Entrevista em 27.3.2006
YZ
Avalio de fundamental importância preservar a memória da educação na
empresa para discutir e projetar o seu futuro... O DESED hoje é citado
como referência. Construiu grande identificação com o funcionalismo.
ROQUE Tadeu Gui. Educador. Aposentado. Entrevista em 28.3.2006
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
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BRASIL - 219
É preciso aproveitar tudo de bom que já existe e pensar coisa nova... é
preciso haver um grupo de pessoas com a mesma sabedoria dos pioneiros
que criaram o modelo de educação que temos... Acho fundamental essa
ação da memória. Ela vai ser muito importante pra gente entender até
onde chegou e como a gente chegou.
José Francisco de Carvalho REZENDE. Gerente executivo da UFRH/GEDEP de
1996 a 1999. Entrevista em 4.5.2006
Projeto Político-pedagógico
Na GEDUC o Projeto Político-pedagógico da empresa está em construção. Realizamos eventos para ampliação do nível de participação nesse
trabalho de elaboração de um documento que expresse os objetivos, os
marcos teóricos, as premissas, enfim, que seja um norte a orientar nossas ações educativas. Estamos trabalhando num modelo de participação
inclusiva, considerando as pessoas na ótica da carreira, mas tendo como
base: a diversidade, a cidadania, o propósito institucional, o negócio, o
modelo de gestão e desenvolvimento das competências.
VÂNIA Maria Lopes VENÂNCIO – Gerente de divisão da DIPES/GEDUC/
DECOM. Entrevista em 24.4.2006
YZ
Vejo esforços na Diretoria de Pessoas no sentido de alimentar a discussão das questões da educação corporativa, resgatar as bases filosóficas do
treinamento e produzir uma área de educação que promova a responsabilidade socioambiental da empresa.
Antônio SÉRGIO Riede. Atual gerente executivo da DIRES.
Entrevista em 10.4.2006
220 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
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O Projeto Político-Pedagógico é o momento de retirar tudo dessa história. Repassar. Construir um projeto novo. O conflito, reprodutivismo
versus educação transformadora contínua.
RUI Severino de LIRA. Educador. Aposentado. Entrevista em 15.3.2006
Responsabilidade socioambiental
A disseminação de uma cultura de responsabilidade socioambiental tem
sido trabalhada, internamente, com a ajuda de parcerias com divisões
que cuidam das nossas seleções e da educação. A RESEL, quando promove as seleções internas, pede leitura de assuntos de RSA, para que as
pessoas se aprofundem nessa discussão que pode ser tema de entrevista
ou prova. A DECOM, ao desenvolver cursos, presenciais ou a distância,
também trabalha os conceitos de responsabilidade socioambiental... Não
é algo que você consiga mudar da noite para o dia. Mas, vamos acostumando as pessoas a lidarem com o tema de forma mais profunda, para
ampliar a visão específica, do senso comum. Estamos preocupados com
essa questão. Ela precisa se fazer presente. Ser pré-requisito. Entrar na
concepção de desenvolvimento humano da própria formação... O processo de formação no Programa dos Altos Executivos tem ênfase forte na
questão de responsabilidade socioambiental... Eles discutem o tema com
facilidade, mostram aderência às questões na atuação no Banco... Então
há uma atuação diferenciada. E são os novos gestores, eventuais gerentes
executivos. Ou podem vir a ser. Será muito diferente se eles já tiverem
tido essa oportunidade de reflexão.
IZABELA Campos Alcântara Lemos. Atual diretora da DIRES.
Entrevista em 5.6.2006
YZ
As organizações contemporâneas vivem um conjunto complexo de desafios. O mercado local exige foco de atuação, rapidez de resposta, qualidade no atendimento, contextualização dos produtos e serviços às necessidades da clientela. A globalização exige capacidade de atualização
constante, modernização dos produtos e plataformas de trabalho, fôlego
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 221
financeiro para suportar a concorrência internacional cada vez mais
ágil e competente. A sociedade, por sua vez, exige comportamento ético e
socialmente responsável. Os funcionários, de outro lado, querem respeito,
bons salários, qualidade de vida, acesso a informações e conhecimentos.
As organizações precisam aprender a se superar. Responder bem a estas
exigências e desafios é uma questão de sobrevivência.
...Podemos afirmar, com certeza, que as organizações não podem mais
se preocupar exclusivamente com seus balanços financeiros. Estar bem
financeiramente é pré-requisito. A empresa que se destacará a partir de
agora é aquela que consegue conciliar sucesso nos negócios, ações sociais
de impacto no seu âmbito de atuação e satisfação de seus funcionários.
Pode-se dizer que a organização deve bem responder aos seus clientes,
entregando um produto ou serviço de qualidade a preço justo; aos seus
acionistas, remunerando o capital investido em níveis ótimos da indústria de atuação; aos seus funcionários, oferecendo ambiente propício ao
trabalho, traduzido em bons sistemas de recompensa, ascensão e desenvolvimento humano e profissional; e à sociedade de uma forma geral,
contribuindo, particularmente no Brasil, para o desenvolvimento local
e a inclusão social.
...Desde a época das grandes expedições marítimas do Século XIV, os investidores vêm utilizando a contabilidade tradicional como instrumento
de controle das suas operações e do desempenho do negócio. Naquela época, as companhias já buscavam um mecanismo fiel para tangibilizar os
resultados do negócio. De lá para cá, pouco mudou na visão contábil das
organizações modernas para a expressão do desempenho financeiro. O
lucro tem sido visto como sinônimo de resultado econômico-financeiro.
Mas, as novas demandas pelas quais as organizações passam a responder
não falam apenas de resultados econômicos. Muitas empresas vêm publicando balanços sociais, tentando demonstrar sua aptidão por meio de
ações de responsabilidade socioambiental e divulgando, também, suas
ações internas de recompensa e de desenvolvimento de seu quadro de
funcionários.
Pedro Paulo CARBONE. Atual gerente executivo na DIPES/GEDUC. Trecho
extraído do artigo O 4º Fórum e o acordo de trabalho de desenvolvimento humano.
Revista 4° Fórum. Brasília 2003
222 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
A literatura da área aponta ser o processo educativo imprescindível para a
disseminação dos novos valores que o desenvolvimento sustentável suscita.
O papel da educação reveste-se de caráter de mobilização, sensibilização,
instrumentalização. Permite compartilhar uma nova cultura organizacional que agrega novos requisitos funcionais como exercício efetivo da cidadania, participação política, visando contribuir para o País. Através da
ação educativa, os funcionários são capacitados para irem às comunidades,
associações, atores da sociedade civil organizada, governos, institutos de
pesquisa. Assim, é tecida uma rede capaz de alavancar atividade produtiva que seja economicamente viável, socialmente justa e ambientalmente correta, respeitando-se a diversidade cultural. A educação possibilita
o salto diáletico da própria maneira de se conduzir negócios do Banco
impactando todo o desenvolvimento de competências e retroalimentando a
própria maneira de o Banco conduzir negócios de forma sustentável.
Ricardo de Faria Barros – o RICARDIM. Gerente de núcleo. DIPES/GEDUC/
CAPAC-DRS. Depoimento em 11.7.2006
YZ
Identifico, nos dias de hoje, uma reação no sentido de resgatar o papel
de fomento ao desenvolvimento do País, via estratégia de negócios. Por
isso, é fundamental, resgatar a história da educação no BB para discutir
e projetar o futuro da nossa organização.
ROQUE Tadeu Gui – Educador. Aposentado. Entrevista em 28.3.2006
YZ
O compromisso é formar o cidadão. Toda ação de qualificação deve
apresentar conteúdos de responsabilidade socioambiental.
Luiz Jorge MIR. Educador. Chefe e coordenador de equipe do CEFOR Brasília de
1991 a 1996. Aposentado. Entrevista em 25.4.2006
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 223
Responsabilidade social e ambiental exige preocupação equilibrada entre todos os públicos que se relacionam com a organização. No caso do
Banco do Brasil, a atenção com os acionistas é vital para a sobrevivência da empresa. Como nosso maior acionista é a União, isso equivale a
dizer que o BB precisa ser efetivamente um banco do Brasil, portanto,
do povo brasileiro.
No último dia da etapa nacional do 4º Fórum, na presença de todos
os representantes estaduais, foi assinada, solenemente, pelo Conselho
Diretor, a Carta de Princípios e Responsabilidade Socioambiental do
Banco do Brasil. Do documento constam o conceito e quatorze princípios de RSA adotados oficialmente na empresa.
Antônio SÉRGIO Riede. Atual gerente executivo da DIRES. Trecho do artigo:
Responsabilidade socioambiental e terceirização da culpa. Brasília: 2003
YZ
A discussão sobre o desenvolvimento humano nas organizações está próxima de cumprir oitenta anos e teve como marco a obra de Mary Parker
Follet (1868 – 1933), estranhamente esquecida em seu tempo, talvez
por preconceito e certamente por incompreensão: seus argumentos estavam muito à frente de sua época. E, é no mínimo curiosa a aderência
das idéias desta intelectual com a agenda atual da VIPES, relacionada
ao enfrentamento de um duplo desafio: a gestão de pessoas (o compromisso com o funcionalismo) e a responsabilidade socioambiental (o compromisso com o desenvolvimento social do país). As pregações de Follet se
baseavam no trabalho social e no estudo das pessoas como componentes
centrais das organizações. Defendeu o fortalecimento da consciência social, a democratização da administração e o conceito de integração na
busca da solução de conflitos. Foi, segundo Peter Drucker, a profetiza
da gestão e ajudou a construir as bases da escola das relações humanas,
conhecida pelas experiências de Elton Mayo, na Wester Eletric Company.
Inaugurava-se assim, uma nova era na teoria administrativa voltada
para a consideração dos motivos e comportamentos humanos, em contrapartida à abordagem mecanicista da administração. Conquistar a
lealdade e promover a motivação das pessoas eram os objetivos centrais
224 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
do movimento, que tinha como premissa a existência de conflito entre os
interesses individuais e os objetivos organizacionais.
De lá para cá, conquistas e novos requerimentos foram incorporados,
além das distintas denominações deste campo de estudo e de práticas administrativas: administração de pessoal, relações industriais, gerência de
recursos humanos e, mais recentemente, gestão de pessoas. Não se trata,
porém, de usar um novo nome para um velho problema. Significa uma
nova atitude, um enfoque diferente. O desafio de promover as mudanças
nas relações com as pessoas impõe às organizações a necessidade de repensar os seus modelos de gestão e, ao mesmo tempo, de adotar mecanismos
inovadores de relacionamento com a sociedade.
Outro aspecto do debate contemporâneo diz respeito à adoção de mecanismos de gestão compartilhada baseados na cooperação e no comprometimento, em substituição aos sistemas tradicionais centrados no comando
e controle. Isto significa a evolução de práticas de gestão tipicamente hierárquicas para o desenvolvimento de uma nova capacidade institucional
voltada para a atuação em rede.
Caio Marini. Professor da FGV, ENAP, ESAF. Consultor em Estratégia e Gestão.
Trecho do artigo: 4º Fórum: Cuidando de gente com responsabilidade socioambiental
– Uma experiência inovadora no Banco do Brasil. Brasília. 2003
Revista DESED
Tinha eu um ano de Banco e trabalhava na Carteira de Câmbio, nos idos
de 1965, quando passa pela minha mão uma circular informando a criação do Departamento de Seleção e Desenvolvimento de Pessoal (DESED).
Aquilo mexeu com meus neurônios. Na verdade, minha formação sempre fora na área de humanas, e não de exatas, e a alvissareira novidade
abria novos caminhos para minha recém-iniciada carreira no BB.
Mais que depressa, procurei informar-me sobre a possibilidade de ser
transferido para o novo departamento e consegui marcar uma entrevista
com o Dr. Manoel Salek, chefe nomeado para o órgão.
Ele estava instalado provisoriamente numa grande sala no 6º andar do
então edifício-sede da Rua 1º de Março, nº 66 e tinha a companhia do
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 225
colega Cílio Rosa Ziviani e do contínuo Humberto da Silva.
Recebeu-me com grande cordialidade, examinou meu currículo e aceitou a minha admissão, ocasião em que enumerou os objetivos da direção
da casa com a criação do departamento, o que só fez aumentar minha
euforia, fazendo-me sentir a iminência de tornar-me um peixe dentro
dágua – ali seria minha praia, onde eu poderia colocar em prática idéias
e contribuir para a concretização de projetos fecundos.
Sabedor de minha boa expectativa, Dr. Salek logo me atribuiu a primeira incumbência:
– Você bem que poderia sugerir alguma coisa para a revista do departamento, que pretendo criar como instrumento de divulgação, aos funcionários, do trabalho que estamos iniciando no campo educacional,
iniciativa inédita até hoje no banco.
Aquilo foi música para meus ouvidos. Como era sexta-feira, aproveitei o
fim-de-semana para fazer algumas bonecas da futura publicação.
Para seu espanto, foram 28 as que apresentei a ele na segunda-feira
de manhã. Aprovou algumas e disse que submeteria o assunto ao diretor-superintendente do Banco, Luiz de Paula Figueira, que certamente
encaminharia a matéria à consideração do Presidente Luís de Moraes
Barros e de toda a diretoria.
Dias depois, fiquei sabendo, por um exultante Manoel Salek, que a idéia
da revista estava aprovada e que o primeiro número seria editado possivelmente no início de 1966, o que de fato aconteceu.
O passo seguinte foi lutar para que a revista chegasse a todos os funcionários, indistintamente – na época, cerca de 110 mil servidores. Depois
de muita argumentação, a sugestão foi acolhida.
Assim nasceu a Revista DESED, que por muitos anos foi o principal
veículo de divulgação da casa, o seu chamado house organ.
Num olhar retrospectivo e cheio de saudade, fica a lembrança de um
primeiro esforço bem sucedido no campo da comunicação interna do
Banco do Brasil. Ele frutificou e tem dado resultados que falam por si a
toda a sociedade brasileira.
MÁRCIO DA SILVA COTRIM. Aposentado. Jornalista.
Depoimento em 1.3.2007
226 - ITINERÁRIOS
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BANCO
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BRASIL
Uma olhada retrospectiva às manchetes nos anos 1960 nos dá, do homem
do nosso tempo, a idéia de um ser angustiado, desajustado, deprimido,
agressivo, um solitário neurótico. Aos males psíquicos juntaram-se males
físicos da vida moderna: a poluição do ar e a acústica, que tornaram o
ar irrespirável e o dia-a-dia insuportável; o tumulto de um trânsito em
que se conduz com morosidade e mata com velocidade... Devemos entender como advertência e não como vaticínio, as palavras amargas que
um homem como Lewis Mumford, por alguns considerado o crítico mais
feroz de nossa época, distribui por quase toda a sua obra: ‘atingimos um
ponto da História em que o homem se tornou seu mais perigoso inimigo.
Ao mesmo tempo em que se orgulha da conquista da natureza, abre
mão das suas capacidades mais elevadas e, fora do horizonte limitado da
Ciência, vai perdendo o poder de pensar.
Trecho do artigo Tempo de Viver, elaborado por colegas.
Articulistas da Revista DESED. Brasília, 1975
Universidade aberta
A importância da universidade aberta para o Banco do Brasil e para o
funcionário é garantir o direito democrático ao curso de graduação. É
assegurar que o funcionário, onde quer que esteja, possa continuar seus
estudos. Tanto ele quanto seus familiares, pois uma grande virtude da
universidade aberta é que não se trata de um programa fechado, apenas para o funcionalismo; mas aberto à sociedade brasileira como parte
também da política do Banco de responsabilidade socioambiental. Essa
iniciativa insere ainda mais o Banco na sociedade, uma vez que ele
assume o papel de instrumento promotor que leva o desenvolvimento no
âmbito da educação superior a todos os cantos do País. Representa um
ganho para o Banco, que terá quadro de pessoas mais bem preparadas, e
para os funcionários, que terão mais oportunidades na carreira.
LUIZ OSWALDO Sant’Iago Moreira de Souza. Atual vice-presidente de Gestão
de Pessoas e Responsabilidade Socioambiental. Entrevista ao Boletim Pessoal, n.7.
Boletim eletrônico dirigido ao pessoal. Brasília: maio de 2006
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
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DO
BRASIL - 227
Os métodos de educação a distância existiam há muitos anos. Havia o
Curso Madureza, que o pessoal fazia por correspondência. Não é uma
coisa nova, mas a tecnologia empregada hoje é nova. A interatividade
dos veículos tem uma dinâmica altamente superior àquela dos cursos por
correspondência. Apesar de boa parte do fundamento vir lá dos velhos
cursos por correspondência: o conteúdo, a auto-disciplina, o autodesenvolvimento. Só que a tecnologia hoje permite a interatividade com a
tutoria, com os colegas. Permite o debate. Isso revoluciona a educação a
distância... Os cursos presenciais são fundamentais pela interação, pela
troca de experiências. Mas a democratização da educação no Banco passa também pelo aproveitamento da tecnologia do ensino a distância.
JURACI Masiero. Atual diretor da DIPES. Entrevista em 1.6.2006
YZ
Está em curso uma transformação radical na formação profissional no
BB. Cursos de pós-graduação e especialização, ministrados por universidades de renome, estão sendo oferecidos a funcionários de todos os níveis hierárquicos e em todos os Estados da federação. Esta oportunidade,
única na história da educação no Banco, tornou-se possível graças a
convênios firmados pela UniBB com instituições de ensino tidas como
referência em educação a distância no País.
MÁRIO de Muzio. Educador. Aposentado. Entrevista em 21.3.2006
YZ
O Projeto de Educação a Distância é uma revolução na democratização
de oportunidades de educação na empresa.
RUI Severino de LIRA. Educador. Aposentado. Entrevista em 15.3.2006
228 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
Universidade Corporativa Banco do Brasil - UniBB
A opção do Banco do Brasil, na implantação da universidade, foi de dar
continuidade a uma história de mais de quarenta anos na educação da
empresa, considerando as novas perspectivas estratégicas e as condições
tecnológicas do contexto. Nesse sentido, a implantação calcou-se em três
principais pilares: primeiro, a possibilidade de tornar o complexo interno da educação do Banco mais compreensível e acessável pelos funcionários; segundo, a possibilidade de oferecer estratégias e ferramentas de
compartilhamento de conhecimento; terceiro, a possibilidade de oferta
da expertise do Banco, em educação, para outros públicos. A ampliação
do entendimento e o acesso à informação sobre o sistema de educação do
Banco se estabeleceu a partir da implementação do Portal da UniBB.
Nesse ponto, também se aproveitou da experiência histórica. A partir do
Portal de Desenvolvimento Profissional, um produto da Gestão de Pessoas disponibilizado na intranet, estabelece-se um novo projeto que indica
a sistematização do processo em uma estrutura ‘hiperlincada’ e de navegação não linear, que propicia ao funcionário a condição de pesquisar as
possibilidades de desenvolvimento a partir de suas necessidades. Esta estrutura foi construída e disponibilizada via intranet. Esse modelo torna
mais visíveis os treinamentos internos, o modelo de ascensão profissional,
os programas de bolsas de graduação, pós-graduação e de idiomas, além
de se constituir espaço para a oferta de espaço web quanto à colocação de
novos cursos e materiais complementares, além de ferramentas correlacionadas com os temas da educação. A oferta da expertise da educação
do Banco se dá pela criação do espaço aberto do portal, onde qualquer
usuário que tenha interesse no tema de educação no âmbito das organizações pode usufruir de conteúdo relacionado ao tema.
EDGARD Rufatto Júnior. Gerente de Divisão da DIPES/GEDUC/DIPAR.
Depoimento em 25.8.2006
As perspectivas que se abrem à UniBB para o trabalho de desenvolvi-
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
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DO
BRASIL - 229
mento e formação profissional, com o uso de tecnologias de informação e
comunicação, apontam para um futuro de renovação de práticas pedagógicas, aprimoramento da qualidade do ensino e, sobretudo, ampliação de
oportunidades para todos. Sem distâncias para a educação.
MÁRIO de Muzio. Educador. Aposentado. Entrevista em 21.3.2006
YZ
...recentemente, ainda no auge desses ventos neoliberais, quando se começou a falar na universidade corporativa, a gente tinha uma pressão muito
grande na área para ter uma universidade corporativa. Só que a gente
na prática já funcionava como tal. Por quê? Porque desde 1965, o Banco
tinha uma área estruturada de educação empresarial, de formação de pessoas, de desenvolvimento humano, e estava muito mais estruturado do que
outras empresas. Aqui já se discutia há mais de vinte anos, em uma época
anterior a esse momento da globalização, a importância de que o treinamento não se restringisse à mera instrumentalização para o trabalho, que é
importante, sem dúvida, mas que trabalhasse no sentido de desenvolver as
pessoas de um modo mais integral.
Marcos FADANELLI Ramos. Gerente executivo da DIPES/GEDEP de 1999 a
2003. Atual diretor da Área de Educação da Fundação Banco do Brasil. Entrevista
em 24.6.2006
A educação faz diferença
Tornando-se educador
Ingressei no DESED como instrutor, em 1987.
Fiz a preparação para atuar como instrutor do Curso Estratégias de
Negociação.
Na realidade, minha formação foi um período de muita importância
pra mim como funcionário do Banco. Uma mudança de vida.
Esse momento atinge uma série de coisas na minha vida: visão de
mundo, estrutura de pensamento.
Foi meu primeiro contato com a inovação. A educação era uma área
avançada no Banco.
Comecei a enxergar que a área tinha uma história.
Percebi que havia pessoas envolvidas com essa história desde o
início. A exemplo de Mário de Muzio, a Eliana, a Antônia, o Oscar
Capello, o Alair. Enfim, os instrutores formadores.
A partir do ingresso na área de educação é que as coisas foram
acontecendo.
Trecho de entrevista do funcionário aposentado. Educador: João Hamilton dos Anjos Vianna –
SENADOR. Em 2.6.2006, na GEPES Salvador.
Parte IV
Memória imagética
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 233
Apresentação
Meu pensamento é um devorador de imagens. Quando uma boa imagem me aparece, rio de felicidade e meu pensador se põe a brincar com
ela como um menino brinca com uma bola. Se me disserem que esse
hábito intelectual não é próprio de um filósofo, que filósofos devem se
manter dentro dos limites de uma dieta austera de conceitos puros e
sem temperos, invoco em minha defesa Albert Camus, que dizia: ‘só se
pensa por imagens’.
Rubem Alves
Ú
ltimo dia de curso.
No final, a foto da turma.
Todos capricham no visual. Nos homens, as camisas mais vistosas.
Nas mulheres, chamativos acessórios. Indispensáveis!
O momento da pose oficial é vivido com descontração.
Piadas e brincadeiras manjadas. Sempre engraçadas:
– Espera aí, vou me perfumar!
O fotógrafo? Oficial, como manda o figurino. Ou, catado às pressas no corredor. Dá as últimas orientações:
– Fiquem mais juntos; ninguém pode ficar de fora! Olhem prá câmera! Digam
giz!
Flash!
Pronto. Todos guardados no instantâneo mágico que transforma o momento
em sempre.
Um registro do convívio que, na maioria das vezes, é engolido pelo nunca-mais da
distância ou da falta de tempo.
Quem não tem uma fotografia bem guardada? Testemunha das idas à sala de
aula? Lugar do aprendizado.
Do diálogo, como fazia questão o mestre Paulo Freire.
Ou da reflexão, como queria Jorge Roux.
Por isso, a próxima etapa dessa jornada pela memória da educação no Banco do
Brasil é um passeio numa galeria de fotos que retrata esses momentos.
No percurso, vamos rever companheiros. Relembrar fatos.
Uma memória de imagens. Exercício visual do reencontro.
234 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
Lista de fotos
1. Primeiro chefe do DESED, Manuel Salek, 1965, Rio de Janeiro
2. Abertura do Curso Intensivo para Administradores – CIPAD, pelo Dr. Delfim Neto, 1967,
Rio de Janeiro
3. Abertura do CIPAD, pelo Dr. Nestor Jost, 1967, Rio de Janeiro
4. Encerramento do CIPAD, Dr. Karlos Rischbieter, 1967, Rio de Janeiro
5. CIPAD, palestra Dr. Mário Andreazza, 1967, Rio de Janeiro
6. Curso para Caixa Executivo – CAIEX, 1970, Salvador
7. Curso para Caixa Executivo – CAIEX, 1971, Juiz de Fora
8. Curso para Caixa Executivo – CAIEX, 1971, Vitória
9. Curso para Coordenadores do Sistema de Atendimento Direto e Integrado – COORD,
1972, Rio de Janeiro
10. Curso para Coordenadores do Sistema de Atendimento Direto e Integrado – COORD,
1972, Rio de Janeiro
11. IV Simpósio Interamericano – Treinamento e Desenvolvimento – T&D, 1976, São Paulo
12. Curso para Caixa Executivo – CAIEX, 1978, Passo Fundo
13. Curso de Contabilidade I – CONTA I, 1979, Recife
14. Curso de Comunicação e Expressão I – COMEX I, 1981, Recife
15. Curso Básico de Supervisão – CBS, 1981, Brasília
16. Programa de Desenvolvimento Gerencial – PDG, 1982, Brasília
17. Seminário para Instrutores de Relações Humanas,1982, Brasília
18. Curso Comunicação e Expressão – COMEX, evento nº 240, 1982, Brasília
19. Seminário de Atualização dos Instrutores de Relações Humanas – RH, 1983, Brasília
20. Curso para Coordenadores do Sistema de Atendimento Direto e Integrado – COORD,
1984, Recife
21. Curso para Caixa Executivo – CAIEX, 1984, Belo Horizonte
22. Curso Micro, Pequena e Média Empresa – MIPEM, 1985, Brasília
23. Curso Básico de Supervisão – CBS, 1986, Brasília
24. Seminário para Formação de Monitores do Curso Comunicação e Expressão – COMEX a
distância, 1986, Brasília
25. Curso para Formação de Instrutores de Estratégias de Negociação, 1987, Brasília
26. Curso Básico de Supervisão – CBS, 1987, Campo Grande
27. Curso Básico de Supervisão, 1987, Belo Horizonte
28. Seminário Instrutores de Estratégias de Negociação, 1988, Brasília
29. Curso para Formação de Instrutores de Negociação, 1988, Brasília
30. Curso Orientação sobre Técnicas em Serviços – OTS, 1988, Recife
31. Curso para Formação de Instrutores de Desenvolvimento de Equipes – DE, 1990, Brasília
32. Curso GRAFO, 1990, Belo Horizonte
33. Curso para Formação de Instrutores de Desenvolvimento do Sistema Gerencial – DSG,
1991, Brasília
34. Curso de Relações Interpessoais no Trabalho – RELIT, 1991, Brasília
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 235
35. Curso Básico para Analista de Organização, Sistemas e Métodos – OSM, 1991, Belo
Horizonte
36. Curso de Desenvolvimento de Estratégias de Vendas – VENDAS, 1991,São Paulo
37. Formação de Instrutores do Curso Dinâmica do Modelo Organizacional – DMO, 1992,
Brasília
38. Curso Administração do Fator Humano – AFH, 1992, Brasília
39. Curso para Formação de Instrutores da Área Metodológica, 1992, Brasília
40. Curso de Noções Didáticas para Palestrantes, 1993, João Pessoa
41. Dinâmica do Modelo Organizacional – DMO, 1993, Porto Alegre
42. Curso para Alfabetizadores do BB Educar, 1993, Tamoios
43. MBA – Assinatura de convênio com a UnB, 1994, Brasília
44. BB Educar – Prof. Paulo Freire e participantes do Encontro de Educadores, 1994, Fortaleza
45. Encontro para Educadores do BB Educar, palestra do Prof. Paulo Freire, 1994, Brasília
46. Curso Qualidade Total, 1994, Belo Horizonte
47. Grupo Repensando o DESED, 1994, Brasília
48. Curso de Dinâmica do Modelo Organizacional – DMO, 1995, Aracaju
49. Curso de Dinâmica do Modelo Organizacional – DMO, 1995, Maceió
50. Curso para Formação de Altos Executivos – FAE, 1995, Brasilia
51. Curso Palestrantes e Apresentadores, 1995, Belo Horizonte
52. Curso para Formação de Instrutores do BB Educar, 1997, Brasília
53. Capacitação dos Profissionais do CEFOR, 1997, Brasília
54. Curso de Formação de Instrutores do BB Educar, 1997, Brasília
55. Curso para Negociação, 1998, Fortaleza
56. Curso de Gestão de Equipes para Resultados, 1999, Recife
57. Atualização pra educadores da área de gestão, 2000, Brasília
58. Flagrante de uma sala de aula do MBA Finanças Públicas, 2001, Brasília
59. Lançamento da UniBB, 2002, BSB, Brasília
60. Atualização para educadores de área metodológica, 2004, Brasília
61. Curso Excelência Profissional, 2005, Curitiba
62. Curso Desenvolvimento Regional Sustentável – DRS, 2005, Curitiba
63. Curso de Economia Aplicada, 2005, Manaus
64. Curso Preparação de Educadores – CPE, 2005, Porto Alegre
65. Seminário Gestão no BB: Ética e Sustentabilidade, 2005, Brasília
66. Curso Preparação de Educadores – CPE, 2006, Brasília
67. Grupo de Desenvolvimento do Programa Bem-vindo ao BB, 2006, Brasília
68. Oficina Gestão do Desenvolvimento Profissional, 2006, Recife
69. Encontro dos Pioneiros da Educação no Banco do Brasil, 2006, Rio de Janeiro
70. Gravação do documentário Pioneiros da Educação no Banco do Brasil no CCBB, 2006,
Rio de Janeiro
71. Encontro dos funcionários das GEPES regionais que trabalham no eixo de desenvolvimento pessoal e profissional, 2006, Brasília.
72. Encontro de gerentes da rede GEPES, 2006, Brasília
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
1. À direita primeiro chefe do
DESED, Manuel Salek, 1965,
Rio de Janeiro
2. Abertura do Curso Intensivo para
Administradores – CIPAD, pelo Dr. Delfim
Neto, 1967, Rio de Janeiro
3. Abertura do CIPAD,
pelo Dr. Nestor Jost,
1967, Rio de Janeiro
4. Encerramento do CIPAD, Dr. Karlos Rischbieter,
1967, Rio de Janeiro
5. CIPAD, palestra Dr. Mário Andreazza,
1967, Rio de Janeiro
DO
BRASIL - 237
238 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
6. Curso para Caixa Executivo – CAIEX, 1970, Salvador
7. Curso para Caixa Executivo – CAIEX, 1971, Juiz de Fora
8. Curso para Caixa Executivo – CAIEX, 1971, Vitória
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
9. Curso para Coordenadores do Sistema de Atendimento Direto e Integrado – COORD, 1972, Rio de Janeiro
10. Curso para Coordenadores do Sistema de Atendimento Direto e Integrado – COORD, 1972, Rio de Janeiro
11. IV Simpósio Interamericano – Treinamento e Desenvolvimento
– T&D, 1976, São Paulo
DO
BRASIL - 239
240 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
12. Curso para Caixa Executivo – CAIEX, 1978, Passo Fundo
13. Curso de Contabilidade I – CONTA I, 1979, Recife
14. Curso de Comunicação e Expressão I – COMEX I, 1981, Recife
ITINERÁRIOS
15. Curso Básico de Supervisão – CBS, 1981, Brasília
16. Programa de Desenvolvimento Gerencial – PDG, 1982, Brasília
17. Seminário para Instrutores de Relações Humanas,1982, Brasília
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 241
242 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
18. Curso Comunicação e Expressão – COMEX, evento nº 240, 1982, Brasília
19. Seminário de Atualização dos Instrutores de Relações Humanas – RH, 1983, Brasília
20. Curso para Coordenadores do Sistema de Atendimento Direto e Integrado – COORD, 1984, Recife
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
21. Curso para Caixa Executivo – CAIEX, 1984, Belo Horizonte
22. Curso Micro, Pequena e Média Empresa – MIPEM, 1985, Brasília
23. Curso Básico de Supervisão – CBS, 1986, Brasília
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BRASIL - 243
244 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
24. Seminário para Formação de Monitores do Curso Comunicação e
Expressão – COMEX a distância, 1986, Brasília
25. Curso para Formação de Instrutores de Estratégias de Negociação, 1987, Brasília
26. Curso Básico de Supervisão – CBS, 1987, Campo Grande
ITINERÁRIOS
27. Curso Básico de Supervisão — CBS, 1987, Belo Horizonte
28. Seminário Instrutores de Estratégias de Negociação, 1988, Brasília
29. Curso para Formação de Instrutores de Negociação, 1988, Brasília
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 245
246 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
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BRASIL
30. Curso Orientação sobre Técnicas em Serviços – OTS, 1988, Recife
31. Curso para Formação de Instrutores de Desenvolvimento de Equipes (DE), 1990, Brasília
32. Curso GRAFO, 1990,
Belo Horizonte
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 247
33. Curso para Formação de Instrutores de Desenvolvimento do
Sistema Gerencial – DSG, 1991, Brasília
34. Curso de Relações
Interpessoais no Trabalho
– RELIT, 1991, Brasília
35. Curso Básico para Analista de Organização, Sistemas e Métodos – OSM, 1991, Belo Horizonte
248 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
36. Curso de Desenvolvimento
de Estratégias de Vendas
– VENDAS, 1991,São Paulo
37. Formação de Instrutores do Curso Dinâmica do Modelo Organizacional
– DMO, 1992, Brasília
38. Curso Administração do Fator Humano – AFH, 1992, Brasília
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
39. Curso para Formação de Instrutores da Área Metodológica, 1992, Brasília
40. Curso de Noções Didáticas para Palestrantes, 1993, João Pessoa
41. Dinâmica do Modelo Organizacional – DMO, 1993, Porto Alegre
BANCO
DO
BRASIL - 249
250 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
42. Curso para
Alfabetizadores do BB
Educar, 1993, Tamoios
43. MBA – Assinatura
de convênio com a UnB,
1994, Brasília
44. BB Educar – Prof. Paulo Freire
e participantes do Encontro de
Educadores, 1994, Fortaleza
45. Encontro para Educadores
do BB Educar, palestra do Prof.
Paulo Freire, 1994, Brasília
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
46. Curso Qualidade Total,
1994, Belo Horizonte
47. Grupo Repensando o DESED, 1994, Brasília
48. Curso de Dinâmica do
Modelo Organizacional
– DMO, 1995, Aracaju
49. Curso de Dinâmica do Modelo
Organizacional – DMO, 1995, Maceió
BANCO
DO
BRASIL - 251
252 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
50. Curso para Formação de Altos Executivos – FAE, 1995, Brasilia
51. Curso Palestrantes e Apresentadores, 1995, Belo Horizonte
52. Curso para Formação de Instrutores do BB Educar, 1997, Brasília
ITINERÁRIOS
53. Capacitação dos Profissionais do CEFOR, 1997, Brasília
54. Curso de Formação de Instrutores do BB Educar, 1997, Brasília
55. Curso para Negociação, 1998, Fortaleza
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
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BRASIL - 253
254 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
56. Curso de Gestão de
Equipes para Resultados,
1999, Recife
57. Atualização para
educadores da área de
gestão, 2000, Brasília
58. Flagrante de uma sala
de aula do MBA Finanças
Públicas, 2001, Brasília
59. Lançamento
da UniBB, 2002,
Brasília
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
60. Atualização para
educadores de área
metodológica, 2004, Brasília
61. Curso Excelência
Profissional, 2005,
Curitiba
62. Curso Desenvolvimento
Regional Sustentável – DRS,
2005, Curitiba
63. Curso de
Economia Aplicada,
2005, Manaus
DO
BRASIL - 255
256 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
64. Curso Preparação de Educadores – CPE, 2005, Porto Alegre
65. Seminário Gestão no
BB: Ética e Sustentabilidade,
2005, Brasília
66. Curso Preparação de
Educadores – CPE, 2006,
Brasília
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
67. Grupo de Desenvolvimento
do Programa Bem-vindo ao BB,
2006, Brasília
68. Oficina Gestão do Desenvolvimento Profissional, 2006, Recife
69. Encontro com dos Pioneiros da Educação no Banco do Brasil, 2006, Rio de Janeiro
DO
BRASIL - 257
258 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
70. Gravação do documentário “Pioneiros da Educação no Banco do Brasil” no CCBB, 2006, Rio de Janeiro
71. Encontro dos funcionários das GEPES regionais que trabalham no eixo de
desenvolvimento pessoal e profissional, 2006, Brasília.
72. Encontro de gerentes da rede GEPES, 2006, Brasília
Final
Última reflexão
ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL - 261
Heráclito ou Parmênides?
Na imensurável extensão do tempo, vê-se que a vida se move para a
frente e para cima, dos protozoários ao homem, e não se pode negar que
infinitas possibilidades de maior perfeição ainda aguardam a humanidade.
Thomas Mann
Chegamos ao fim deste “Itinerários”.
A título de conclusão, deixamos algumas palavras para uma breve reflexão.
Uma instituição secular como o Banco do Brasil, imerso na realidade sempre
rápida e efervescente, sobretudo em tempos de globalização, enfrenta, muitas
vezes, o conflito: permanência versus mudança.
Para refletir sobre esse dilema, podemos pedir algumas idéias emprestadas aos
antigos gregos.
Heráclito, 540-476 a.C., defendia que o princípio organizativo de todas as coisas
é o constante devir. O instável. “O sol é novo todos os dias”. “Para os que entram
nos mesmos rios, correm outras novas águas”. Tudo é mudança, pregava o sábio.
Parmênides, grego de Eléia, aprox. 470 a.C., considerado o criador da doutrina
mais profunda do período pré-socrático, contradizia o filósofo da eterna mudança. Em Parmênides, não há movimento: “o ser tem de ser sempre”, “o ser é
uno e imutável”. Unidade rígida do ser.
Um outro filósofo grego, Zenão de Eléia, discípulo de Parmênides, discursava
dizendo que a verdade é unidade. Zenão era contra a idéia de movimento, mas na
defesa de suas posições, achou a contradição. Talvez por isso, para Hegel, Zenão
é o iniciador da Dialética, enquanto modo de pensar que inclui a contradição.
Na década de 1990, as idéias de Heráclito foram amplamente utilizadas. O chamamento para a dinâmica mundial globalizada utiliza sobejamente as idéias do
pensador grego. O fenômeno não ocorre por acaso. O avanço da mundialização
da economia impôs violentos movimentos de transformação global.
262 - ITINERÁRIOS
DA EDUCAÇÃO NO
BANCO
DO
BRASIL
As pessoas, principalmente no mundo organizacional, perplexas, não sabiam o
que fazer. Para onde ir. Mas tinham que sair do lugar. Nesse contexto, o convite à
mudança é incessante. Nas escolas, nas empresas e até em casa dizíamos: temos de
mudar! ou, precisamos estar preparados para as mudanças!; ou ainda, a única coisa
certa é a mudança. Talvez, essas tenham sido as frases mais ditas nos anos noventa.
O século XXI chega e, com ele, ganham maior nitidez os efeitos da corrida
mais que apressada pela acumulação acirrada a partir dos anos sessenta. Os problemas ambientais, humanitários e sociais mostram que a visão de Heráclito,
isoladamente, não permite uma apreensão total da realidade.
Educar é, sobretudo, olhar o horizonte, refletir e promover reflexões para:
MUDAR e PERMANECER.
Mudar para construirmos tudo o que podemos ser, como ensina Carl Rogers.
Para sermos mais, como pensa Paulo Freire.
Permanecer firmes no que nos torna mais humanos. Inarredáveis, no que toca
aos valores humanitários, para nunca banalizarmos a dignidade humana. Nos
valores ecológicos, para cuidarmos da Mãe-Terra, da biosfera; nos sociais para
que saibamos viver em coletividade e respeitar a diversidade.
Por tudo isso, Parmênides tem razão: todo ser é uno, singular. Heráclito está certo
quando mostra que o ser muda. E Zenão pondera as duas posições e encontra a
contradição no ser uno, que muitas vezes precisa mudar, sem deixar de ser o que é.
Tecendo o fio dessas memórias, olhando nossas práticas educativa e organizacional, a gente percebe que, em alguns momentos, Parmênides é o senhor absoluto
e nos paralisa. Noutros, escolhemos Heráclito que nos deixa em rodopios. E às
vezes, enxergamos só contradição e ficamos amargos. Mas, em muitos momentos, convivemos com os três. E esses são os tempos mais profícuos.
Num exercício de avaliação, pode-se perceber que muitos desses tempos de totalidade foram proporcionados pela vivência dos processos educativos na empresa: neles ou por causa deles. Podemos, por exemplo, considerar a chegada de
Paulo Freire às nossas cartilhas pedagógicas como uma dessas horas de síntese.
De verdadeiro conhecimento. E o pedagogo dos oprimidos só chegou à nossa
“escola” e se firmou graças às contradições.
Então, escolhemos Heráclito ou Parmênides?
Incluamos Zenão e fiquemos com os três!
Brasília, 14.2.2007
ITINERÁRIOS
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www2.uol.com.br/chicocesar/
BANCO
DO
BRASIL - 273
Ao longo dos anos, consolidei a convicção de que o Banco, além de
ser uma casa de números, era e é também fonte da melhor brasilidade
sob todas as suas formas. Reduto gerador de projetos que há duzentos
anos impulsionam o progresso do País em seus mais distantes rincões, é
também uma instituição que valoriza, como poucas outras, a formação
profissional de seus servidores.
O presente livro, em linguagem clara e objetiva, emoldurada por farta
documentação fotográfica, conta uma rica história, desde seu advento
em 31 de maio de 1965, com a criação do DESED e seu fecundo
desdobramento, até os dias de hoje, numa perspectiva de futuros promissores desdobramentos, que consolidarão o insubstituível papel do
Banco do Brasil como um dos principais agentes do desenvolvimento
nacional.
Márcio Cotrim
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