A REVISTA DA AGROPECUÁRIA
Ano 4 - Nº 12 - 5,00€
janeiro | fevereiro | março 2014 (trimestral)
Diretor: Nuno Marques
www.revista-ruminantes.com
Entrevista
Produzir leite, fabricar e vender
queijo, uma oportunidade?
Febre Q
doença que pode afetar a
produtividade da exploração
MASSA DE CERVEJA
um alimento proteico
interessante
LINHAProvi
A Cargill Company
A Cargill Company
A Cargill Company
A Cargill Company
EDITORIAL
edição nº12
janeiro | fevereiro | março 2014
O momento,
as previsões e a decisão
Quer gostemos ou não, o mundo em que vivemos
está em constante mudança, obrigando as
empresas a um estado de permanente alerta para
se manterem lucrativas.
A tão falada globalização da economia, que facilitou o comércio,
o investimento, as movimentações de pessoas e a disseminação
do conhecimento, trouxe também elevados padrões de exigência
competitiva, e hoje já não é possível estarmos no mercado sem nos
irmos adaptando, de preferência antecipadamente, às expetativas dos
clientes.
Para que esta evolução aconteça, as empresas têm que investir para
melhorar a sua capacidade produtiva, seja em instalações, tecnologia,
recursos humanos e marketing, para se tornarem diferenciadas e, logo,
mais competitivas.
Porém, sendo o investimento o motor de arranque do negócio, pode
também ser a causa de insucesso do mesmo quando o momento
escolhido para investir não é o momento certo.
No negócio da produção de leite e carne, como em quase todos, a
decisão de investir comporta riscos. Àqueles que conseguimos medir
acresce, especificamente nestes setores, a volatilidade dos preços das
matérias primas e do leite que tem caraterizado o mercado nos últimos
anos, deitando por terra algumas previsões de entidades idóneas. O
que mostra que não basta confiarmos em conjeturas mais ou menos
otimistas nas decisões de investimento que possam ter um impacto
importante no negócio e nos seus parceiros.
Não esquecendo que a melhoria da eficiência e da produtividade são
razões fundamentais de qualquer investimento, há que ponderar bem
quais os fatores de produção a melhorar por forma a torná-lo rentável.
A questão do bem estar animal, tantas vezes esquecida, ilustra bem
esta situação, já que, sem aumentar o efetivo e a estrutura, se consegue
incrementar de forma mais ou menos significativa, a produtividade da
exploração.
Nuno Marques
Diretor
Nuno Marques
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Colaboraram nesta edição
Ana Maria Gaspar; Ana Pedro; Ana Rita Diniz; Ana Rita Simões;
Ana Vieira; Andrew J. Bradley; António Cannas; António
Moitinho; Carlos Flecha; Carlos Vouzela; Dário Guerreiro;
David Catita; Elisabete Carneiro; Felipe de Almeida; Francisco
Marques; George Stilwell; Helder Duarte; IACA; Inês Ajuda;
Jerónimo Pinto; José Caiado; José Leitão; José María Bello;
José Miguel Lopes Jorge; Juhani Vuorenmaa; Maria Luísa
Ferrão; Mariana Toscano; Marta Murta; Marta Santos; Nuno
Prates; Paulo Costa e Sousa; Pedro Campos; Pedro Castelo;
Severiano Silva; Sofia de Menezes; Suomen Rehu Oy; Tereza
Moreira; Upseerrinkatu, Uziel de Carvalho.
Publicidade
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Índice
Alimentação
12 Alternativa na engorda de borregos
20 Controlo de micotoxinas em
explorações de bovinos de leite
22 VivActiv´, a eficácia comprovada
32 Leveduras hidrolisadas de cerveja
para vacas leiteiras
35 Sistema exclusivo Cargill de Nutrição
Integrada para vacarias de leite
36 Maximizar a eficiência proteica na
produção leiteira
Atualidades
08 Tendências 2014 do mercado
mundial da carne
50 Melhoria da qualidade da silagem
de erva e da fertilidade das vacas
10
Conheça a Lei
Produzir leite, fabricar e vender
queijo, uma oportunidade?
ECONOMIA
Entrevista a Marta Santos, sócia gerente da SenrasDairy
72 Alterações às obrigações fiscais
impostas pelo atual OE
38 Observatório de matérias primas
40 Observatório do leite
42 Índice VL
Entrevista
28 A boa gestão na base do negócio
64 VI Jornadas HVME
66 Italmix na Produção de Leite
Equipamento
68 Novidades
GENÉTICA
44 Concursos da raça Frísia
48 Consumo de carne de bovino
Pastagem
16 “Overseeding”
24
56
MASSA DE CERVEJA
Febre Q
Um alimento proteico interessante
Doença que pode afetar a
produtividade da exploração
Saúde Animal
58 Controlo da mastite por coliformes
62 Tremor, Epizoótico (TE) ou Scrapie
Saúde e Bem-estar Animal
52 Avaliação da condição corporal nos
caprinos
61 A descorna
boletim de assinatura
1 ano, 4 exemplares
dados pessoais
Portugal: 20,00 €
Nome.............................................................................................................................................................................................
Europa: 60,00 €
Morada..........................................................................................................................................................................................
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ruminantes janeiro . fevereiro . março 2014 5
atualidades
“FLOCK-REPROD” futuro
selo de qualidade no
mercado do leite de cabra
“Campanha pela lã”
valoriza setor ovino
Escolher a lã em vez de
materiais sintéticos na
confeção de uma peça de
vestuário ou de um artigo de
decoração. Este é o principal
objetivo da “Campanha pela
lã”, iniciativa internacional,
que nasceu em 2010 no
Reino Unido. Apadrinhada
pelo príncipe de Gales, a
campanha reúne produtores
de ovinos, designers de moda,
decoradores e artesãos de
todo o mundo, que visam
mostrar as vantagens da
utilização desta matéria-prima
produzida pela ovelha, sem o
contributo da mão do homem.
A lã é apresentada como
um material 100% natural,
renovável e biodegradável.
Isolante natural, uma vez que
tem a capacidade de gerar e
manter o calor, a campanha
destaca ainda a estrutura
natural da lã que permite
deixar respirar a nossa pele
de acordo com a necessidade
que temos, tendo em conta
o ambiente onde nos
encontramos, assim como a
resistência da matéria-prima
que pode ser dobrada muitas
vezes sem partir, mantendo
uma boa aparência e uma
longa vida útil. Destaca-se
ainda a particularidade de
ser capaz de bloquear as
moléculas de odor, uma vez
que absorve a humidade do
corpo, reduzindo a quantidade
de suor deixada à flor da pele
e, em consequência, o odor
produzido.
A semana internacional
dedicada à lã aconteceu em
vários países como Itália,
Alemanha, E.U.A, Japão e
Espanha.
A mais recente teve lugar em
Madrid numa das principais
galerias comerciais da cidade.
Pastores e ovelhas de raça
merina rumaram à calle
Serrano e, numa ação conjunta
com os lojistas, procuraram
sensibilizar o consumidor
para conceitos como
sustentabilidade e
valor natural desta
matéria-prima
com o objetivo de
valorizar a produção
de lã e contribuir
para a rentabilidade
do setor ovino
demonstrando como
este é um pilar crucial
no desenvolvimento
rural.
Para mais informações
www.campaignforwool.org
6 janeiro . fevereiro . março 2014 Ruminantes
O projeto de investigação
europeu “FLOCK-REPROD”,
no qual estiveram envolvidos
quinze parceiros de sete
estados-membros, entre
eles, o Instituto Nacional
de Investigação Agrária e
Veterinária e a Associação
Nacional de Caprinos de Raça
Serrana, propôs-se estudar,
ao longo de quatro anos,
métodos de reprodução
naturais numa amostra de
cerca de 13,2 milhões de
cabras de várias raças, entre
elas a raça serrana.
O estudo teve como objetivo
fornecer aos produtores
de lacticínios de origem
caprina tecnologia inovadora,
necessária à reprodução via
inseminação artificial, na qual
não existisse a utilização
de hormonas artificiais.
Desta forma, a indústria
europeia de lacticínios pode
agir em conformidade com
a regulamentação da UE,
cada vez mais rigorosa na
utilização de hormonas
exógenas, recorrentemente
utilizadas pelos produtores de
cabras leiteiras na prática da
inseminação artificial.
A utilização destes métodos
de reprodução naturais que
Para mais informações
www.flock-reprod.eu
consiste, entre outros, no
chamado “efeito macho”
e em tratamentos foto
periódicos nos períodos
de anestro, sempre com
o objetivo de provocar o
cio nas fêmeas, rompe
assim com a sazonalidade
de reprodução da cabra
que tende a concentrar o
seu período fértil entre a
primavera e o verão, evitando
a utilização de hormonas que
necessariamente interferem
na qualidade do leite e
derivados.
Os produtores que apliquem
estes novos métodos de
reprodução, seguindo os
procedimentos estabelecidos
na presente investigação,
podem utilizar a marca
“FLOCK-REPROD” para
efeitos de comercialização.
O projeto visa assegurar a
sustentabilidade da indústria
numa perspetiva económica
e ecológica garantindo ao
consumidor de lacticínios
de cabra produtos sem
hormonas durante todo o
ano.
atualidades
Teste permite deteção
precoce de gestação em
ovelhas
Saber se uma ovelha está
gestante ao final de dezoito
dias era, até agora, algo
improvável. Com o novo meio
de diagnóstico, cujo trabalho
de investigação foi publicado
na revista Theriogenology, é
possível saber, através de uma
simples análise ao sangue, se
a ovelha está prenha após 18
dias de gestação. Portador de
um nível de fiabilidade perto de
100%, o novo teste, de rápida
aplicação, pode vir a ser uma
ferramenta útil na melhoria
da eficiência reprodutiva e
no maneio dos rebanhos.
É apresentado como uma
alternativa ao ecógrafo, o meio
de diagnóstico mais popular
entre os produtores de ovinos,
sobretudo em explorações
vocacionadas para a produção
de reprodutores, que deteta a
gestação após 45 dias.
O projeto de investigação foi
levado a cabo pelo Centro
de Investigação e Tecnologia
Agroalimentar de Aragão
(CITA), pelo Instituto Nacional
de Investigação e Tecnologia
Agrária e Alimentar (INIA), pelo
Grupo Cooperativo Oviaragón
e pelo Instituto Nacional de
Investigação Agronómica
Francês (INRA) tendo sido
registada a respetiva patente
na Oficina Espanhola de
Patentes e Marcas (OEPM).
Para mais informações
www.cita-aragon.es
Plantas marinhas
podem ser utilizadas na
alimentação animal
A atual situação económica
leva os produtores de gado a
procurarem alternativas, no que
respeita à alimentação animal,
com o objetivo de reduzirem os
custos de produção. Sabemos
que uma vaca deve ingerir
quantidades aceitáveis de
minerais, energia, proteínas
e fibra, e estes componentes
podem encontrar-se em
restos forrageiros marinhos,
também denominados
plantas marinhas. A posidonia
oceânica, conhecida como
olival do mar, existe em
grande quantidade no mar
mediterrâneo, e constitui uma
fonte de alimento para todos
os herbívoros marinhos.
As folhas da planta que são
arrastadas pelas marés até à
costa contêm um alto teor de
minerais e não necessitam
de sofrer transformação,
conservação ou maturação,
funcionando como um bom
complemento utilizado
na alimentação animal.
Analisando a composição
nutricional da posidonia
oceânica, verificou-se que
esta pode funcionar como
uma boa alternativa à palha
de cevada, dado a quantidade
de fibra bruta verificada na
planta marinha. Esta fibra
traduz-se em altos níveis de
digestibilidade. A planta do
mar tem efeitos antioxidantes
e anti-inflamatórios, devido à
quantidade elevada de taninos
e flavonoides que a constituem,
propriedades muito valorizadas
na dieta animal.
Para mais informações
www.mundoganadero.es
ruminantes janeiro . fevereiro . março 2014 7
atualidades
Tendências 2014
do mercado mundial dA carne
Segundo o relatório “Livestock and Poultry: world markets and trade” do USDA (United
States Department of Agriculture), prevê-se um crescimento mundial no mercado da
carne na ordem de 1,6 milhões de toneladas face a 2013.
de toneladas, o consumo
5% e as exportações
reduzam também 6%, valor
que se traduz em 1 milhão
de toneladas. Já na União
Europeia a produção sofrerá
um aumento, (7,8 milhões
de toneladas), dado que os
custos de produção, como
o preço da alimentação,
tendem a reduzir. O consumo
manter-se-á, prevendo-se que
a produção interna adicional
seja exportada, calculandose um aumento de 4% nas
exportações, correspondendo
a 270,000 toneladas.
produção de carne bovina dos eua declina bruscamente
milhões de toneladas
13
Equivalente peso carcaça
Nos últimos nove anos, entre
2005 e 2014, a exportação
mundial de carne (bovina, suína
e aves) aumentou 40%. Em
2014 as previsões apontam para
um novo recorde na exportação,
sobretudo da carne de vaca
e de aves. O crescimento da
exportação de carne bovina
deve-se ao aumento da procura,
verificada na Ásia Oriental,
enquanto a carne de aves, que
continua a ser a mais procurada
no mercado mundial, é cada
vez mais consumida no Médio
Oriente e na África subsariana.
12
12
11
11
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
Fonte: USDA | Tradução: BeefPoint (www.beefpoint.com.br)
Brasil
Carne bovina
Também no Brasil, as
previsões apontam para um
crescimento da produção na
ordem dos 3%, (9,9 milhões
de toneladas), devido ao
aumento dos rebanhos,
E.U.A.
Os E.U.A., o maior produtor
mundial de carne bovina,
prevê que a produção
diminua 6%, para 11 milhões
Exportações
milhões de toneladas
30
25
CWE/RTC
20
China
carne de aves
15
carne suína
10
5
carne bovina
0
2005 2006
2007
2008
2009
2010
consequência de uma política
subsidiada pelo governo, que
visa promover a melhoria das
pastagens e da genética do
gado bovino. O consumo terá
um crescimento modesto
e as exportações deverão
aumentar 8%, para 1,9 milhões
de toneladas, devido ao
ganho de competitividade
numa economia global,
em consequência da
desvalorização do real.
2011
Fonte: USDA | Tradução: BeefPoint (www.beefpoint.com.br)
8 janeiro . fevereiro . março 2014 Ruminantes
2012
2013
2014
Na China as previsões dizem
que a produção de carne de
vaca aumentará 2%, o que
se traduz em 5,8 milhões
de toneladas. As elevadas
margens de lucro continuarão
a atrair multinacionais
ligadas à indústria da carne,
enquanto os produtores
locais tendem a fechar os
seus negócios, devido à baixa
eficiência dos mesmos e à
capacidade limitada que têm
de investimento. É esperado
que o consumo de carne
bovina continue a ultrapassar
a produção e que as
importações aumentem 19%.
India
Na India, estima-se que
a crescente procura de
lacticínios estimule o
crescimento de rebanhos
de bovinos. Espera-se que
o governo, à semelhança
de políticas anteriores,
continue a encorajar a
produção de carne bovina,
através de várias ações de
sensibilização dirigidas a
produtores e a consumidores.
As exportações terão
um aumento de 6%,
representando 1,8 milhões de
atualidades
toneladas, cerca de 20% da
comercialização de carne de
vaca no mercado mundial.
Argentina
Na Argentina, a previsão inclinase para um ligeiro aumento
na produção, (2,8 milhões
de toneladas), enquanto as
exportações crescem 22%,
devido à desvalorização do
peso e à forte procura externa,
sobretudo da China e de Hong
Kong.
Austrália e Nova
Zelândia
Na Austrália a produção
manter-se-á estável, na ordem
dos 2,3 milhões de toneladas.
As exportações sofrerão
um ligeiro aumento, devido
ao crescimento da procura
de carne a nível mundial.
No Canadá prevê-se uma
diminuição na produção, num
total de 1 milhão de toneladas,
e um ligeiro aumento nas
exportações, para 325,000
toneladas, após quatro anos
de declínio. As importações
sofrerão uma quebra de 2%
o que se traduz em 315,000
toneladas.
Também na Nova Zelândia é
esperada uma quebra ligeira
na produção, para 640,000
toneladas, e uma diminuição
das exportações na ordem
de 2%, o que corresponde a
536,000 toneladas.
Carne de peru
No que respeita à produção
de carne de perú, as previsões
apontam para um aumento
de 3% nos EUA, (2,7 milhões
de toneladas), resultado
da redução do custo da
alimentação. As exportações
deverão aumentar 5%, o
que se traduz em 354,000
toneladas, devido à procura
crescente deste tipo de carne
em países como a China e o
Japão.
Na União Europeia estima-se
que a produção se mantenha
e que as exportações desçam
7%, dado os preços pouco
competitivos que a carne de
perú apresenta no mercado
global.
Carne de suíno
Relativamente à carne de
suíno, as previsões apontam
para um crescimento da
produção, estimando-se um
recorde de 108,9 milhões
de toneladas em 2014,
sobretudo devido aos baixos
custos de alimentação e à
franca expansão da procura
na Ásia Oriental e nos E.U.A.
Calcula-se que os norteamericanos vejam a
produção de suínos
aumentar para 10,8 milhões
de toneladas, sobretudo
devido à crescente procura
interna e aos custos
reduzidos na alimentação
animal. As exportações
atingirão 2,4 milhões de
toneladas, em consequência
do aumento da procura
em países como o México
e a Coreia do Sul e as
importações mantêm-se
inalteradas em 390,000
toneladas.
Já na União Europeia prevêse uma estabilidade quer
na produção de carne suína,
estimada em 22,5 milhões
de toneladas, quer no
consumo. As exportações
também não sofrerão
alterações, mantendo-se em
2,2 milhões de toneladas.
A quebra de procura na
Rússia estima-se que seja
compensada com o aumento
das importações por parte da
China e da Coreia do Sul.
ruminantes janeiro . fevereiro . março 2014 9
entrevista
Produzir leite, fabricar e vender queijo,
uma oportunidade?
Entrevista a Marta Santos, sócia gerente da SenrasDairy.
Por ruminantes
Marta, Elisabete e Célia Santos são irmãs
e gerem em conjunto uma exploração
leiteira e uma fábrica artesanal de queijo
na localidade de Ribeirão, concelho de
Vila Nova de Famalicão.
O negócio começou há mais de 30 anos
com os seus pais, e hoje emprega já
cinco pessoas a tempo inteiro e três a
tempo parcial.
A exploração situa-se numa propriedade
com 15 hectares e conta com um efetivo
de cerca de 100 animais da raça Holstein
Frísia, dos quais 45 estão em ordenha.
A produção média anual por vaca
ronda os 10.500 litros de leite. Como
alimentação base para as vacas
estabuladas é utilizada a silagem de
milho feita na exploração, para além de
concentrados proteicos e energéticos,
complementados em determinadas
épocas do ano com luzerna desidratada
e palha ou feno.
Ruminantes - Sempre fez queijo? Porque
se iniciou neste negócio?
Marta Santos – Há cerca de 36 anos
que os meus pais iniciaram o negócio de
produção de leite. Na altura a qualidade
do leite não era valorizada, apenas a
quantidade, por isso em 1982 decidiram
10 janeiro . fevereiro . março 2014 Ruminantes
começar a transformar o leite que
produziam, em queijo. Já na altura os
meus pais tinham muito cuidado com
a alimentação dos animais e com a
qualidade do leite, e viram na produção
de queijo uma forma de acrescentar valor
ao leite que produziam, podendo assim
rentabilizar melhor o negócio.
A que estrutura obriga o fabrico de
queijo?
Temos mais duas pessoas a tempo inteiro
e duas a tempo parcial só na queijaria.
O investimento inicial em maquinaria,
tanques e outros produtos é bastante
entrevista
elevado e diariamente a
estrutura de custos também
é grande, nomeadamente a
fatura energética e a mão-deobra têm um peso importante.
Como fazem o escoamento
dos queijos? Têm contratos
de venda?
Uma das quatro pessoas
ligadas à queijaria faz a
distribuição e isso obriganos a ter um carro específico
para isso. A parte comercial
propriamente dita não existe,
o crescimento de vendas
foi muito lento e gradual ao
longo dos anos. Foi o próprio
produto que foi fazendo a
venda. Atualmente, 35%
vendas de queijo são para
a grande distribuição; 15%
para grossistas; 5% para
exportação; e o resto é para
o retalho. Os contratos que
temos, por exemplo com o
Continente e Jumbo, é com o
preço fixo ao longo do ano.
Alguma vez pensou em
vender leite do dia?
Sabemos que esse negócio
existe noutros países e
achamos que pode ser uma
boa ideia para acrescentar
valor ao leite produzido, mas
pensamos que teriamos que
“gastar” imensa energia, tempo
e trabalho na divulgação
desse conceito, porque hoje
em dia não temos o hábito de
consumo de leite do dia em
Portugal.
O plano alimentar
estabelecido é igual todo o
ano?
Sim, fazemos por manter o
mesmo plano todo o ano.
O ideal para a qualidade
do queijo seria utilizar
pasto, mas como não o
conseguiríamos manter todo
o ano, optámos por utilizar
como base a silagem de milho
e o concentrado. O grande
cuidado que temos está
essencialmente focado na
qualidade dos alimentos que
utilizamos, nomeadamente na
silagem, que é toda produzida
por nós.
O plano alimentar foi definido
em função do tipo de queijo e
sabor que lhe queria conferir?
Sim, orientámos o
plano essencialmente
para a capacidade de
o conseguirmos manter
homogéneo ao longo do
ano, e com a proibição de
utilização de determinados
alimentos que poderão dar um
sabor indesejado ao queijo,
como por exemplo a polpa de
citrinos.
O queijo está certificado?
O queijo não está certificado;
estamos a pensar fazer uma
certificação HALAL para a
PROCESSO DE FABRICO
A Coalhada é cortada em pequenos grãos
possibilitanto o dessoramento.
comunidade Muçulmana, mas
apenas quando tivermos as
novas instalações.
Quando vê o preço do leite
subir aos produtores em
geral, consegue passar esse
acréscimo de preço aos seus
clientes de queijo? Nestas
alturas não pensa voltar
a vender leite em vez de
queijo?
Não passamos esse
diferencial de preço do leite
aos nossos clientes de queijo,
da mesma forma que quando
baixamos o preço do leite
também não baixamos o
preço do queijo. Achamos
que é muito mais constante
a margem do negócio de
vender queijo, do que a de
vender leite. O preço do leite
sobe hoje, mas amanhã
desce, e provavelmente estará
mais tempo a preços mais
baixos e portanto “menos
interessantes” para nós. Para
quem quer investir no negócio
do leite, pensamos que é muito
mais seguro transformar o
leite em queijo e vendê-lo,
as previsões de margem do
negócio são mais fiáveis.
Nos próximos 5 anos que
investimentos pensa realizar?
Vamos fazer novas
instalações, tanto para
a queijaria como para a
vacaria, de forma a duplicar
a capacidade atual, ou seja
passar para um milhão de
litros ano, com a capacidade
de poder aumentar, caso seja
necessário. As perspetivas
de crescimento de vendas
do negócio do queijo estão
essencialmente na zona de
Lisboa, onde não vendemos
atualmente, e no mercado
externo.
QUEIJO SENRAS
CURADO, AMANTEIGADO,
DE LEITE DE VACA
PROCESSO DE FABRICO
Durante 30 dias de cura, o queijo
desenvolve a sua textura amanteigada
e sabor único.
De formato arredondado, pasta mole,
crosta maleável, cor amarelada, aroma
suave e sabor único.
Embalagens de 0,5; 1,0 e 1,3kg
www.queijosenras.com
ruminantes janeiro . fevereiro . março 2014 11
Alimentação
josé maría bello
Chefe de Produto Ovino e Caprino Nanta
[email protected]
KOMPLET KONCEPT
KOMPLECOR, ALTERNATIVA NA
ENGORDA DE BORREGOS
Tal como nos outros setores da pecuária, o mercado da engorda de
borregos também está a mudar substancialmente.
De um modo geral, na
Península Ibérica está a
aumentar o peso médio
dos animais engordados,
paralelamente ao incremento
da exportação. O consumo
interno está praticamente
estagnado e são cada vez
mais frequentes os esforços
dos fornecedores para
diferenciar a qualidade das
carcaças que oferecem aos
seus clientes. Existe um
grande interesse em investir
na cor da carne e no teor de
gordura das carcaças.
Do lado da produção, a
preocupação de há alguns
anos a esta parte com os
preços da palha e com o
trabalho que envolve o
fornecimento da mesma aos
animais, fez com que tivesse
sido lançado no mercado
um sistema de alimentação
baseado em misturas
completas de cereais e em
concentrados proteicos como
único alimento, prescindindo
da palha. Estes sistemas
tiveram diferentes graus de
sucesso nas explorações
onde foram utilizados
mas, embora cumprindo
os objetivos para os quais
foram criados, apresentavam
alguns inconvenientes,
nomeadamente: acidoses
12 janeiro . fevereiro . março 2014 Ruminantes
ruminais com paraqueratose
(muito evidente em alguns
matadouros) e excesso de
gordura, bem como o facto
de ficarem restos de alimento
deixados pelos borregos.
A NANTA, desde o ano de
2009, tem sido sensível a esta
preocupação do mercado,
tendo lançado o sistema
KOMPLECOR (KOMPLET
CONCEPT) que consiste num
programa de alimentação de
rações granuladas e
completas para engorda
de borregos concebido
para eliminar, na medida do
possível, os inconvenientes
descritos para as misturas.
O que é
KOMPLECOR?
É um sistema de alimentação
para engorda de borregos
em que não é necessária a
utilização de palha.
Desde 2009 que se tem
uma ampla experiência em
resultados experimentais e
de campo. A apresentação
do alimento é em granulado,
administrado como um
alimento convencional, ad
libitum, com água limpa e
potável. As normas básicas
de utilização são as seguintes:
• Alimento à livre disposição.
• É utilizada cama de palha
alimentação
•
•
•
•
na maioria das nossas
experiências.
Quando os animais
provêm de outras
explorações onde
estavam a comer palha,
é conveniente fornecer
palha durante 2 a 3 dias
para adaptação.
Produz carcaças menos
gordas que as rações
convencionais de alta
energia.
Consegue poupança
em mão de obra e em
consumo de palha.
As velocidades de
crescimento são similares,
mas conseguem-se piores
índices de conversão.
Em que se baseia
tecnicamente o
KOMPLECOR?
A NUTRECO dispõe de
um modelo nutricional
próprio para ruminantes
de leite, baseado em
estudos realizados durante
vários anos, relacionados
com a degradabilidade
dos componentes da
dieta, assim como a
criação de nutrientes
que visam uma melhor
orientação da alimentação
para determinados fins
produtivos. A definição de
parâmetros indicadores
de saúde ruminal tem sido
um dos principais objetivos
destes trabalhos que
foram realizados em vacas
fistuladas.
Este modelo, chamado
NOVALAC, permitiu adaptar
o conhecimento da cinética
ruminal aos Pequenos
Ruminantes, criando o
KOMPLET CONCEPT, cuja
expressão na produção de
carne é o KOMPLECOR.
Os primeiros protótipos de
produtos foram submetidos
a experiências realizadas em
várias explorações desde
2009. Isto permitiu conhecer
melhor o comportamento
alimentar dos borregos,
assim como o desempenho
dos produtos testados (ver
tabela 1).
TEMPO ENSAIO
TALAVERA
14 Meses
KOMPLECOR CEBIAL
MÚRCIA
3 Meses
KOMPLECOR CEBIAL
CATALUNHA
3 Meses
KOMPLECOR CEBIAL
LA MANCHA
1.5 Meses
KOMPLECOR SP
SI
EXTREMADURA
CONTROLO MATADOURO
CONTROLO
PESOS
RAÇÃO
pHs PANÇA
pHs CARCAÇA
SI
SI
TABELA 1
SI
1 Mes
KOMPLECOR CEBIAL
SI
ANDALÚZIA
3 Meses
KOMPLECOR CEBIAL
SI
SI
PORTUGAL 1
1.5 Meses
KOMPLECOR SP
SI
SI
PORTUGAL 2
1.5 Meses
KOMPLECOR SP/LIGERO
SI
CASTELA E LEÃO
1.5 Meses
KOMPLECOR SP/LIGERO
SI
Alguns resultados
experimentais e de campo
Os ensaios relacionados anteriormente estão
perfeitamente documentados e foram um
elemento fundamental na conceção dos atuais
produtos KOMPLECOR. Dois deles foram
realizados em Portugal e vamos apresentar os
resultados:
GRÁFICO 1
Ensaio KOMPLECOR Portugal 2011
(Aumento diário).
0,400
0,350
0,300
0,358
0,346
0,303
0,282
0,250
Ensaio KOMPLECOR SP
0,200
(Paulo Brito - Fundão 2011)
0,100
0,150
58 borregos de diferentes sexos e genótipos
foram criados com KOMPLECOR SP desde os 12
kg até ao abate (ainda que a pesagem inicial de
referência tivesse 15 kg de peso vivo). Registaramse os dados de crescimento e do matadouro por
borrego. Mediu-se a velocidade de crescimento
(GMD), o rendimento carcaça, o pH ruminal, o pH
e conformação da carcaça e estado de gordura.
Os consumos de ração e o índice de conversão
ração/carne (IC) foram retirados de todo grupo de
animais sem diferenciação de raças. Os resultados
estão detalhados na tabela 2.
Globalmente, a velocidade de crescimento foi
de 345 gramas de carne por dia, o índice de
conversão (kg de ração por kg de carne reposto) foi
de 3.04 e o rendimento de carcaça no matadouro
foi de 47.2% (de 15.1 kg a 28.8 kg). Nos gráficos 1
e 2 estão detalhados os aumentos diários e os
rendimentos de carcaça por raças e sexos.
0,050
0,000
Cruzados
Femêa
Cruzados
Macho
Merino
Femêa
Merino
Macho
GRÁFICO 2
Ensaio KOMPLECOR Portugal 2011
(Rendimento Carcaça).
50,0%
49,3%
49,0%
48,0%
47 , 0 %
47,3%
46,7%
45,8%
46,0%
45,0%
44,0%
43,0%
Cruzados
Femêa
Cruzados
Macho
Merino
Femêa
Merino
Macho
TABELA 2
RAÇA
SEXO
Nº
BORREGOS
PESO
ENTRADA
PESO
SAÍDA
GMD
Desv
St GMD
DÍAS EM
ENGORDA
REND.
CARCAÇA
CRUZADOS
FEMÊA
10
15.08
28.54
0.303
0.08
45
47.3%
CRUZADOS
MACHO
20
15.07
29.44
0.358
0.07
41
45.8%
MERINO
FEMÊA
7
14.10
25.92
0.282
0.08
44
49.3%
MERINO
MACHO
21
14.54
28.76
0.346
0.08
42
46.7%
ruminantes janeiro . fevereiro . março 2014 13
Alimentação
TABELA 3
Ensaio KOMPLECOR SP
(PASTO ALENTEJANO SOUSEL 2012)
200 animais, machos
e fêmeas de raça merina,
em 4 lotes. Dois com ração
convencional e palha e dois com
KOMPLECOR SP e sem palha.
A ração convencional estava
medicada com clorotetraciclina
e sulfadiazina-trimetoprim e
o KOMPLECOR apenas com
decoquinato. Os resultados do
ensaio estão detalhados na
tabela 3.
Como pode ser observado,
os resultados obtidos na
engorda foram semelhantes no
crescimento (GMD), mas piores
nos consumos de ração para
reposição de carne (IC).
Os resultados no matadouro a
nível do estado de gordura (ver
tabela 4) revelaram uma menor
cobertura de gordura em geral,
especialmente nas fêmeas,
quase dentro dos resultados
esperados e longe dos máximos
(GESTICOR MODEL *, 4200
registos), facto muito
apreciado pelo produtor.
TRATAMENTO
ADIÇÃO
SEXO
Nº ANIMAIS
1
NCL Esp M5 (300ppm
CLT + 300ppm SxT)
FEMÊAS
50
1
16,4
27,1
0,283
MACHOS
50
2
16,2
30,0
0,363
2
COMPLECOR (40ppm
Decoquinato)
FEMÊAS
50
3
16,9
27,8
0,286
MACHOS
50
4
17,1
30,3
0,348
Os piores resultados
económicos, segundo
o produtor, foram
compensados pelo
menor consumo de palha
(contabilizando o consumo
do animal e palha da cama)
e mão de obra, de modo que
os custos praticamente se
igualaram. A análise é feita
com o GESTICOR MODEL *
na tabela 5.
Existem muitos outros
ensaios que mostram
o bom desempenho do
KOMPLECOR e suportam
as conclusões retiradas dos
resultados apresentados.
PARQUE
PESO INICIAL PESO FINAL
GMD
GMD
IC
0,323
3,20
0,317
3,44
PRODUTOS KOMPLECOR
Dependendo do tipo de borrego, dos objetivos zootécnicos da
engorda (diferentes graus de gordura, maior eficácia de engorda
ou maior segurança ruminal) e da época do ano, a NANTA oferece
uma gama de produtos KOMPLECOR para serem utilizados com
critérios nutricionais semelhantes às rações convencionais. Os
produtos estão descritos na tabela 6.
KOMPLECOR
LIGERO
KOMPLECO
SP
KOMPLECOR
CEBIAL
16.5%
16.0%
16.0%
FB
6.0%
6.0%
6.0%
GB
4.5%
4.4%
3.0%
ALM+AZ
38.0%
36.0%
35.0%
MM
6.2%
6.3%
6.4%
TABELA 6
TABELA 4
KOMPLECOR SP
NCLE
NÍVEL GORDURA (1-5)
MACHOS
FÊMEAS
MACHOS
FÊMEAS
3.5
4.0
3.5
4.0
OBTIDO
3.4
3.0
3.6
3.5
PREVISTO
2.9
3.2
2.9
3.2
MAXIMO
TABELA 5
NCL ESP
KOMPLECOR SP
1/16/12
1/16/12
Peso entrada (KG)
16.30
17.00
G.M.D. (Kg/día)
0.323
0.317
I.C.
3.20
3.44
Data entrada
DADOS GLOBAIS
CUSTOS RAÇÃO
PALHA
CUSTO TOTAL
Custo borrego
12.40 €
12.61 €
Custo borrego/Dia
0.33 €
0.33 €
Custo Quilo Reposto
1.01 €
1.04 €
Mão de Obra
0.05 €
0.03 €
Palha
0.33 €
0.10 €
Total
0.38 €
0.13 €
Alimentação + Mão Obra
12.78 €
12.74 €
14 janeiro . fevereiro . março 2014 Ruminantes
RESUMO E CONCLUSÕES
• Existe uma alternativa na alimentação de borregos em engorda
que tem em consideração os custos associados com palha
(muito cara em alguns anos de má colheita ou seca) e a mão de
obra associada ao fornecimento da palha.
• Os resultados e a larga experiência de campo com os clientes
que passaram muitos meses a consumir estes produtos,
revela o seu bom desempenho, eliminando grande parte das
desvantagens das misturas integrais de cereais/concentrado.
• Este sistema está apoiado pelo modelo nutricional criado pela
NUTRECO, (NOVALAC) e nos resultados de campo obtidos.
• O sistema é, do ponto de vista zootécnico, menos eficiente que
os convencionais, mas essas diferenças são compensadas pela
economia no consumo de palha e mão de obra associada ao
fornecimento.
• Os produtos da gama KOMPLECOR podem cumprir as
expectativas na engorda de borregos em qualquer tipo de
situação ou tipo de animal.
Nota:
* GESTICOR MODEL - é um sistema de gestão e melhoria em parques de engorda
de borregos, desenvolvido pela NANTA, que tem como objetivo comparar os
resultados da engorda, matadouro e outros aspetos zootécnicos, com valores de
referência obtidos a partir de uma extensa base de dados recolhidos no campo.
pastagem
“overseeding”
“Overseeding” é a designação para uma sobre-sementeira, técnica de renovação
da flora de um prado já instalado sem destruir a vegetação instalada, através da
introdução de variedades já existentes ou de novas variedades.
por Ana Rita Diniz
“Quando é que
um prado é
considerado
degradado?
Quando em cada
metro quadrado
aparecem zonas com
o diâmetro de um
prato sem qualquer
tipo de vegetação.”
Objetivo desta técnica
O objetivo é sempre
melhorar qualitativamente e
quantitativamente a produção
forrageira futura. Esta técnica
permite a introdução de
sementes de gramíneas puras
e/ou mesmo de consociações,
renovando áreas de pastagem
degradadas ou mesmo
infestadas.
Uma das grandes vantagens
desta técnica comparativamente
à instalação de um novo prado
é que permite recuperar zonas
degradadas causando menos
problemas de erosão do solo,
arrastamento de pedras para
outras parcelas que não foram
mobilizadas, bem como uma
menor perturbação da vida
animal existente no solo. O
tempo que o agricultor não pode
utilizar o prado é também muito
menor quando comparamos
com o de uma nova instalação.
Quando é que um prado é
considerado degradado?
Quando em cada metro
quadrado aparecem zonas com
o diâmetro de um prato sem
qualquer tipo de vegetação. Ao
aplicarmos a técnica da “sobresementeira” estas zonas livres
serão aquelas onde as jovens
plantas encontrarão lugar para
se instalar.
definição muito sumária mas
as condições para o sucesso
da germinação têm que ser
criadas.
5.Se possível intervir quando
as condições forem ótimas,
TABELA
ESPÉCIE
Cuidados a ter na
aplicação desta técnica:
1. Não adubar com azoto antes
da sementeira para não
favorecer a flora existente.
2.A intervenção deve ser
efetuada com a vegetação o
mais rasa possível para que
a luz chegue ao solo no seu
máximo.
3.Utilizar espécies agressivas.
4.A intervenção deve ser
efetuada sobre um solo leve.
A preparação do solo será por
16 janeiro . fevereiro . março 2014 Ruminantes
ou seja, um solo reanimado
pelo calor, friável e ligeiramente
húmido.
6.Não enterrar demasiadamente
as sementes. Estas devem
ficar a 1 cm de profundidade.
DOSE
DACTYLIS GLOMERATA
GRAMÍNEAS
LEGUMINOSAS
CONSOCIAÇÕES*
15 a 20 Kg/ha
FESTUCA
15 a 20 Kg/ha
AZEVÉM ITALIANO DIPLÓIDE
15 a 20 Kg/ha
AZEVÉM ITALIANO TETRAPLÓIDE
20 a 25 Kg/ha
AZEVÉM INGLÊS
20 a 25 Kg/ha
TREVO VIOLETA DIPLÓIDE
15 A 20 Kg/ha
TREVO VIOLETA TETRAPLÓIDE
20 a 25 Kg/ha
TREVO BRANCO + GRANÍNEA
2 a 3 Kg/ha
TREVO VIOLETA + AZEVEM HIBRIDO
12 + 10 Kg/ha
*Colocar no máximo 20-30Kg de mistura no semeador de forma a evitar a
separação das sementes por diferença de densidades.
pastagem
7.Aconchegar bem a terra após
efetuar a “sobre-sementeira”
de forma a favorecer o
contacto terra/semente.
8.Esta técnica deve ser efetuada
após um primeiro corte ou
no final do verão para que a
vegetação já instalada seja
menos exuberante que no
início da primavera.
Quando deve ser feito?
Existem 3 períodos possíveis.
O que corresponde ao
renascer da vegetação, fim de
fevereiro até início de abril, é
uma época com algum risco
nomeadamente em terras frias
que penalizam fortemente a
rápida germinação, e também
noutro tipo de solos pode existir
uma forte concorrência devido
ao desenvolvimento da flora já
existente. Outro período será
na primavera após um corte do
prado para silagem ou mesmo
feno. O solo já estará menos
frio mas atenção que se o
enfardamento levar muito tempo
as sementes que ficam no solo
vão concorrer com aquelas que
queremos instalar. Por último,
fim de agosto é outra opção,
tem o inconveniente do nível de
humidade no solo ser um fator
limitante.
O que semear
É importante dar preferência
a espécies agressivas e de
rápida instalação gramíneas tipo
azevém italiano, azevém inglês,
brome, quanto a leguminosas o
trevo branco quando queremos
um prado mais orientado para
ser pastoreado ou trevo violeta
quando falamos de enfardar.
Que máquinas utilizar
Existem três tipos de opções
mas o importante é ter
sempre em mente que não
se pode enterrar a semente a
mais de 1 cm de profundidade.
1. Semeadores de sementeira
direta.
O único risco é em solos
argilosos ocorrer o alisamento
das paredes da linha de
sementeira.
2.Semeadores clássicos de
cereais.
Obriga, antes de semear,
a uma gradagem seguida
da passagem do rolo,
transformando esta
operação num processo
demorado e com
maiores necessidades de
maquinaria.
3.Grade de dentes rígidos.
Alfaia combinada,
equipada com um
distribuidor centrífugo
ou localizador e rolo:
esta técnica tem a
desvantagem de
distribuir os grãos
de forma aleatória
principalmente
as gramíneas,
especialmente se o dia
for ventoso.
Quantidade a utilizar
A dose recomendada varia
entre 15 e 30 kg/ha de
sementes de gramíneas
puras ou em
consociação. A dose
varia com a técnica
utilizada e com o
estado do prado.
Favorecer
o contato
semente/terra
Uma das chaves para o
sucesso é que a terra esteja
bem aconchegada de forma
a favorecer o contacto
semente/terra aproveitando
assim a humidade residual
do solo que é muitas vezes
o fator limitante.
Assim, esta técnica
muito utilizada permite a
recuperação de prados sem
um grande investimento,
mas para ter sucesso todos
os fatores intervenientes
têm que ser devidamente
valorizados e bem aplicados
de forma a evitar perdas
económicas.
ruminantes janeiro . fevereiro . março 2014 17
atualidades
Provimi lança projeto
Rural Refresh
Coro de Natal
Zoetis
Decorreu em Aveiro, no
passado dia 12 de dezembro, o
lançamento oficial do Projeto
Rural Refresh. O evento juntou
a equipa comercial da Provimi e
mais de 200 clientes e contou
com a presença de Alberto
Martinez (Diretor Ibérico) e Jorge
Almeida (Diretor Geral Provimi).
“Presentes há mais de 50
anos no mercado português,
queremos promover a renovação
e criar as condições capazes
de nos assegurar mais 50 anos
de presença com sucesso no
mercado Nacional”, referiu
o actual Diretor Comercial
e responsável pelo projeto,
Eng. Carlos Martinho, que
apresentou o contexto atual,
as motivações e razões que
estão na base deste projeto e
por trás da transformação agora
apresentadas: “ter um negócio
sustentável a longo prazo,
reforçar a nossa liderança de
mercado, servir com excelência
e proporcionar oportunidades de
crescimento”.
Carlos Flecha (Gerente Nacional
de Vendas) apresentou as duas
novas linhas de produtos que
nascem com este projeto.
Carlos Flecha
Gerente Nacional de Vendas
Linha Provi
Uma linha premium, sob o
slogan “50 anos de Tecnologia e
Inovação” apresenta programas
alimentares inovadores
assentes em produtos que
incorporam as soluções
tecnologicas mais recentes do
universo Provimi /Cargill.
Linha Qualy
Esta linha, sustentada no valor
“Qualidade é a nossa tradição”
reforça a já reconhecida
qualidade dos produtos atuais.
Carlos Martinho
Diretor Comercial e responsável pelo projeto
18 janeiro . fevereiro . março 2014 Ruminantes
A Zoetis, líder mundial de medicamentos e
vacinas dedicada exclusivamente à saúde
animal, desenvolveu no dia 12 de dezembro uma
ação de recolha de fundos para o Zoe, um Axis
(veado) do Jardim Zoológico de Lisboa que será
apadrinhado por esta empresa durante 2014.
Nesta ação atuou o coro de Natal da equipa da
Zoetis, que cantou na Baixa-Chiado com o objetivo
de entregar ao Jardim Zoológico o valor das
contribuições no local, em duplicado, para além de
um valor base.
Ferramenta
informática prevê a
evolução do preço
do leite
A Junta da Galiza desenvolveu uma ferramenta
informática que vai permitir aos produtores de leite
prever a evolução futura do preço do leite. Esta
ferramenta foi apresentada ao setor no passado mês
de dezembro.
O objetivo é que este software esteja disponível já
na próxima campanha. Trata-se de um instrumento
criado para funcionar como um índice de valorização
de preços que permita aos produtores prever como
vai evoluir o preço do leite no futuro. Não apenas
analisar comparativamente com valores do mês
anterior, mas também obter uma previsão do preço
em campanhas futuras.
Este software permitirá avaliar todos os elementos
que se devem ter em conta para abrir uma
exploração, desde o preço do combustível e da
ração, à amortização de capital. Haverá também a
possibilidade, usando determinados indicadores, de
ir avaliando o preço que o leite vai ter na Galiza e no
mundo nos meses seguintes.
Os produtores poderão começar a usar este índice
para estabelecer os contratos com a indústria.
O preço do leite em Espanha atravessa um bom
momento, pois subiu mais de 26,6% em relação
ao ano anterior, ou seja, os preços são altos e a
rentabilidade da explorações é boa.
Alimentação
CONTROLO DE
MICOTOXINAS
ana pedro
REQUIMTE, ICBAS,
Universidade do Porto
Pedro1, A.R.V.,
Caramona2, P.,
Cabrita1, A.R.J.,
Santos3, I.,
Correia3, J.,
Fonseca1, A.J.M.
1
REQUIMTE, ICBAS,
Universidade do Porto
Alltech
2
Laboratório de Qualidade do
Leite, Cooperativa Agrícola de
Vila do Conde, CRL
3
EM EXPLORAÇÕES DE
BOVINOS DE LEITE
PARTE 2
CONTEXTUALIZAÇÃO
Enquadramento
Na edição anterior (Controlo de Micotoxinas em
Bovinos de Leite – Parte 1) fez-se uma breve
referência à importância das práticas de maneio na
exploração e de que forma as mesmas poderão
influenciar o risco de micotoxicose em bovinos de
leite. No presente artigo pretende-se, sobretudo,
referir algumas das micotoxinas com maior
relevância em bovinos e clarificar os sinais clínicos
associados. Far-se-á uma breve abordagem a
possibilidades futuras de diagnóstico no animal e,
finalmente, o relato de um ensaio realizado numa
exploração comercial de bovinos de leite com
o objetivo de avaliar o efeito da inclusão de um
adsorvente na produção e na imunidade de vacas
leiteiras.
Principais micotoxinas e efeitos em
bovinos
TABELA 1
Efeito da inclusão
de 15 g/vaca/dia de
Mycosorb®, na dieta, no
proteinograma de vacas
leiteiras.
Parâmetro
Conhecem-se atualmente centenas de fungos
produtores de micotoxinas. Uma vez que uma só
estirpe fúngica poderá produzir várias e distintas
micotoxinas, a probabilidade de contaminações
múltiplas e de interações numa mesma matriz
alimentar (aditivas e sinergísticas) tornam-se
bastante elevadas.
A severidade do quadro clínico depende do tipo
de micotoxinas ao qual o animal está exposto, de
eventuais interações entre elas, da dose e do tempo
de exposição e da suscetibilidade individual. No
Mycosorb ®
Proteinograma
Sem
Com
EPM
P
Proteínas Plasmáticas Totais (g/dl)
7,19
7,95
0,241
0,039
Albumina:Globulina (g/dl)
0,49
0,46
0,017
NS
Albumina (g/dl)
2,35
2,42
0,063
NS
α-Globulinas (g/dl)
1,29
1,40
0,050
NS
β-Globulinas (g/dl)
1,40
1,05
0,106
0,031
γ-Globulinas (g/dl)
2,16
2,90
0,148
0,002
EPM – Erro padrão da média • P – Probabilidade • NS – Não significativo
20 janeiro . fevereiro . março 2014 Ruminantes
entanto, o mais frequente em vacas leiteiras são os
quadros crónicos, nos quais surgem aumentos de
patologias infeciosas devido à imunodepressão,
quebras de produção, diminuição da ingestão e
agravamento dos índices reprodutivos. Salientese, também, que o stress produtivo, mais elevado
em vacas de alta produção, ao influenciar o estado
imunitário do animal, pode contribuir para o efeito
imunodepressor das micotoxinas.
As aflatoxinas, consideradas os carcinogéneos
mais potentes que se conhecem, dentro do grupo
de compostos de origem não antropogénica,
possuem ainda efeitos hepatotóxicos, imunotóxicos
e teratogénicos. A aflatoxina B1 (AFB1) é, atualmente,
a de maior relevância em bovinos de produção
leiteira, uma vez que é excretada no leite sob
a forma de aflatoxina M1 (AFM1). Em quadros
agudos há manifestação de lesão hepática
severa, prostração, anorexia, hemorragias, edemas,
congestão e esteatose hepáticas. Na aflatoxicose
crónica surgem quebras de ingestão e de produção,
agravamento de índices reprodutivos, degeneração
e neoplasia hepáticas e diminuição da resposta
vacinal e da resistência a agentes infeciosos.
A zearalenona é uma micotoxina agonista dos
recetores de estrogénio com efeitos negativos
importantes na reprodução e na produção de
vacas leiteiras. A toxicidade resulta em quebras de
produção, diarreias, depressão do sistema imunitário
e agravamento geral dos índices reprodutivos:
anestros, diminuição das taxas de conceção,
aumento de mortalidade embrionária e de abortos,
vaginites, metrites, hipertrofia genital e mamária em
fêmeas pré-púberes e feminização de machos.
O desoxinivalenol (DON) apresenta essencialmente
propriedades inibidoras da síntese proteica. Está
frequentemente associado a quebras de ingestão,
de produção, diminuições dos teores de gordura do
leite, aumentos de contagem de células somáticas,
alterações metabólicas e imunodepressão.
As fumonisinas são importantes agentes inibidores
da biossíntese de esfingolípidos e promotores
da peroxidação lipídica. Apresentam efeitos
neurotóxicos, carcinogénicos e imunotóxicos.
Apesar da metabolização ruminal e da absorção
Alimentação
PROJETO
Enquadramento
O estudo incidiu numa exploração
comercial de bovinos de leite na qual
foram descritas quebras de ingestão
e de produção de leite associadas a
diarreias em alguns dos animais. Este
quadro terá coincidido com a abertura
de um silo trincheira no qual estava
conservada silagem de milho. Antes e
após a incorporação de um adsorvente de
micotoxinas, foi realizada uma avaliação
hematológica com o objetivo de estudar o
seu efeito em parâmetros do hemograma e
do proteinograma.
Métodos
Procedeu-se à recolha de uma amostra
de dieta completa (TMR) para análise
de micotoxinas através do programa
37+, da Alltech®, que recorre a técnicas
de LCMS/MS (Liquid Chromatography
Tandem Mass Spectrometry). A recolha foi
realizada em vários pontos da manjedoura,
imediatamente após a sua distribuição,
tendo sido congelada para não sofrer
deterioração até à análise.
Foram recolhidas amostras de sangue a
14% do efetivo, na veia caudal mediana,
utilizando tubos com EDTA para realização
do hemograma e tubos sem anticoagulante
para o proteinograma, de acordo com
instruções do laboratório. No mesmo dia,
após a recolha de amostras de sangue, foi
incluído Mycosorb® na dieta a uma dose
de cerca de 15 g/vaca/dia, que se manteve
durante 33 dias. Efetuou-se, por fim, nova
recolha de amostras de sangue aos
mesmos animais que coincidiu, de forma
não propositada, com a vacinação habitual
(semestral) do efetivo.
Resultados e Discussão
As micotoxinas detectadas por LCMS/
MS (fumonisinas, DON e ácido fusárico)
sugerem a infeção por Fusarium sp., que
poderá ter ocorrido previamente à colheita
ou durante a conservação inadequada
no silo por manutenção incompleta de
condições de anaerobiose.
Registou-se a produção de leite da
exploração através dos dados de recolha
de leite da Agros, URL. Após a inclusão
do adsorvente na dieta observou-se um
aumento de produção gradual, com alguma
flutuação, até atingir um máximo de 29 kg/
vaca/dia, correspondendo a um aumento
de cerca de 10% (Gráfico 1).
No que respeita aos resultados do
hemograma e do proteinograma
obtiveram-se diferenças significativas nos
valores de proteínas plasmáticas totais
(PPT), gamaglobulinas e betaglobulinas
do período 1 (sem adsorvente incluído na
dieta) para o período 2 (após a inclusão
de adsorvente), sendo que os valores das
duas primeiras aumentaram e o da última
diminuiu (Tabela 1).
O aumento das PPT poderá ser
explicado por uma diminuição de perda
gastrointestinal, por uma recuperação
da capacidade hepática de produção
proteica ou por uma menor perda proteica
a nível renal. Visto que vários animais
apresentavam diarreia antes da inclusão do
adsorvente, os resultados sugerem algum
grau de perda proteica a nível gastrointestinal que diminui após a supressão
do quadro clínico observado inicialmente.
Esta mesma patologia inflamatória do tubo
digestivo poderá, ainda, ser a causa da
elevação das betaglobulinas no período 1,
uma vez que esta fração do proteinograma
é constituída por proteínas de fase aguda
(entre outras).
O aumento das gamaglobulinas é
explicado pela vacinação efetuada uma
semana antes da segunda recolha de
amostras de sangue. A vacinação é um
dos métodos in vivo utilizados para a
avaliação da imunidade humoral, pelo que
o aumento desta fração proteica sugere
uma resposta imunitária adequada. A
avaliação deste parâmetro permite verificar
GRÁFICO 1
Produção de leite diária, na exploração em
kg/vaca/dia.
Produção de leite (kg/vaca/dia)
sistémica serem francamente baixas
estão descritas quebras de ingestão e de
produção em bovinos expostos a esta
toxina.
A toxina T-2 apresenta propriedades
inibidoras de síntese proteica e promotoras
de peroxidação lipídica, sendo também
um potente irritante quando em contacto
com epitélios. Os sinais clínicos poderão
incluir anorexia, perda de condição corporal,
quebra de produção, diarreia, gastroenterite
hemorrágica, necrose e ulceração do tubo
digestivo, imunodepressão e morte.
O ácido fusárico possui um efeito
essencialmente sinergístico quando
combinado com outras micotoxinas.
Possui, ainda, capacidade de inibição
de Ruminococcus albus e de
Methanobrevibacter ruminanticum, mesmo
a baixas concentrações, com subsequentes
desbioses ruminais.
Conforme o exposto, constata-se que a
maioria das micotoxinas presentes na
dieta dos animais possui efeitos ao nível
do sistema imunitário, pelo que se torna
importante estudar qual o real impacto
destes compostos na saúde animal.
29,0
28,5
28,0
27,5
27,0
26,5
26,0
1/3/13
15/3/13
29/3/13
12/4/13
26/4/13
Tempo (dias) - 2013
A inclusão do adsorvente na dieta iniciou-se a 15 de
março de 2013 (marcada pela linha a tracejado).
quais os efeitos exercidos no sistema
imunitário, uma vez que as micotoxinas
encontradas na análise supracitada
(principalmente DON e fumonisinas) levam,
essencialmente, à diminuição de síntese
proteica e à fragilidade celular decorrente de
instabilidade membranar.
CONCLUSÕES
Na exploração alvo de estudo o uso de
adsorvente numa dieta contaminada por
fusariotoxinas afetou as concentrações de
proteínas séricas circulantes. Uma vez que
a contaminação da dieta poderá resultar
numa maior predisposição a patologias
devido à imunodepressão provocada por
estes compostos, os objetivos do uso de
adsorventes baseiam-se na redução da
suscetibilidade a infeções e a patologias
metabólicas como também na diminuição
das quebras de ingestão, de produção e
na prevenção do agravamento dos índices
reprodutivos. Nessa perspetiva, a análise
hematológica poderá possibilitar, no futuro,
o estudo indireto do efeito imunodepressor
resultante de micotoxicoses e do efeito
obtido com o uso de adsorventes. Neste
estudo, especificamente, as diferenças
obtidas poderão resultar da resposta
vacinal efetiva (indicativa de capacidade
de resposta imune) e de uma menor perda
proteica pelo tubo digestivo.
Agradecimentos:
Os autores agradecem a colaboração do Dr. Miguel
Costa, da Cooperativa Agrícola de Vila do Conde,CRL, e
ao produtor de leite que, gentilmente, acedeu participar
no estudo.
Referências Bibliográficas
Este trabalho é parte integrante do relatório de estágio:
Pedro, A.R.V., 2013. Análise e controlo de micotoxinas em
explorações de bovinos de leite. Relatório Final de Estágio
do Mestrado Integrado em Medicina Veterinária, Instituto
de Ciências Biomédicas de Abel Salazar, Universidade
do Porto, Porto, 36 pp.
ruminantes janeiro . fevereiro . março 2014 21
Nu
alimentação
VIVACTIV’
a eficácia comprovada
Há mais de 15 anos que o grupo CCPA disponibiliza uma solução
natural, à base de extractos vegetais, - a técnica VIVACTIV´- com o
objetivo de valorizar a proteína e a energia do alimento.
POR DEPARTAMENTO RUMINANTES Ibersan / CCPA
Uma nova geração de
extratos vegetais: os
estimulantes enzimáticos
(SE).
TurboViv’ SE
O TurboViv’ SE estimula
a digestão da fibra no
rúmen e melhora a
absorção da matéria gorda
no intestino. Utiliza-se em
regimes pobres em amido
de degradação rápida e
ricos em matéria gorda.
Este produto é mais
utilizado em bovinos de
carne e em pequenos
ruminantes em que a base
forrageira é palha e feno.
Neste caso, e em bovinos
de carne, conseguem-se
obter GMD superiores
(+ 110g) mantendo os
mesmos níveis de
proteína.
Para aumentar a
rentabilidade das
explorações a Ibersan,SA
(filial do Grupo CCPA em
Portugal) propõe duas
soluções da técnica
VivActiv´ SE: o AmiViv´
SE e o TurboViv’ SE.
GRÁFICO 1
Um melhor controlo do pH graças à degradação lenta, no rúmen,
do amido da ração total.
Testemunha
VivActiv’ SE
7,0
6,8
Ambos os produtos
permitem aumentar
a proteína by-pass,
bem como, a proteína
microbiana.
pH
6,6
6,4
6,2
33
32
31
+ 2,9 Kg de leite*
Melhoria dos
resultados
técnico-económicos
GRÁFICO 2
Aumento da produção leiteira
produção leiteira (kg leite/dia)
AmiViv´ SE
O AmiViv´ SE utiliza-se
em regimes alimentares
ricos em amidos rápidos,
diminuindo a sua
velocidade de degradação.
Este produto destina-se
essencialmente a bovinos
leiteiros que têm como
base forrageira a silagem
de milho.
Esta solução permite
aumentos, em média, de
cerca de 2,5 kg de leite
por dia.
30
29
28
27
26
Testemunha
5,8
0
1
2
Horas após a refeição
Fonte CCPA, Inra Theix
22 janeiro . fevereiro . março 2014 Ruminantes
Alimento
com técnica
VivActiv’ SE
* Para a mesma quantidade de corrector/vaca (3,2kg).
Ensaio em vacas leiteiras 2000-2010.
GRÁFICO 3
Aumento do crescimento em bovinos de
carne
1650
1600
1550
1500
1450
1400
1350
1300
Testemunha
6,0
Alimento
com técnica
VivActiv’
+ 60g de GMD ou seja 4,5%*
VivActiv´ SE
Os estimulantes
enzimáticos favorecem
as secreções das
enzimas e enriquecem
o suco gástrico, sendo
indispensáveis para digerir
o amido, a proteína e a
matéria gorda no intestino.
Esta ação é muito
importante nos animais
jovens (fase em que o
funcionamento do rúmen é
limitado) mas também nos
adultos para completar a
acção do rúmen.
GMD (g/dia)
Esta técnica está disponível
em vários produtos para
ruminantes, desenvolvidos
em parceria com o INRA
(Institut National de la
Recherche Agronomique,
França), todos eles testados
e validados no terreno.
Os produtos VivActiv´
asseguram uma melhor
eficácia alimentar, um
aumento da produção
de leite e de carne, uma
melhoria da qualidade
do leite e uma redução
dos riscos metabólicos.
Além disso, contribuem
ainda para a redução
da produção de metano
(entre 10 a 20%) e para a
diminuição da taxa de ureia
(entre 10 a 15%).
Alimento
com técnica
VivActiv’
Alimento
com técnica
VivActiv’ SE
4
* Com uma diminuição do teor proteico de 0,5% na ração.
Ensaio CCPA 2003-2010.
Nutrição Natural Ruminantes
A solução natural
para valorizar as vo
vossas
o
rações!
Mais rentabilidade,
mais performance e mais
conforto digestivo, graças aos
extractos vegetais.
Maior eficiência alimentar, diminuição da
produção de metano e dos resíduos azotados
e uma solução utilizável em agricultura
biológica
VivActiv’®, uma técnica
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Alimentação
pedro castelo
Engº agrónomo, reagro sa.
[email protected]
MASSA DE CERVEJA
um alimento proteico interessante
A massa de cerveja é um subproduto vegetal resultante da fabricação de cerveja.
Este alimento proteico de origem vegetal pode ser integrado na dieta dos
animais. A massa de cerveja permite diversificar as fontes proteicas da ração
além de permitir reduzir os custos alimentares.
composição
química
Em relação à composição
química (valores médios
indicativos) apresenta os
seguintes valores:
Matéria Seca: 22-26%
Proteína Bruta: 27% MS
Amido: 7,5% MS
Fibra Bruta: 15% MS
Matéria Gorda Bruta: 7,3% MS
Cálcio: 3 g/kg MS
Fósforo: 5 g/kg MS
Como podemos verificar, este produto
contém uma percentagem elevada de
água, logo a densidade dos elementos
nutritivos é baixa. A tabela 1 compara a
massa de cerveja com outras matériasprimas ricas em proteína utilizadas na
alimentação de ruminantes. A massa
de cerveja é utilizada principalmente
na alimentação de vacas leiteiras e,
em menor proporção, em bovinos de
engorda. Também se pode utilizar em
pequenas quantidades em cabras e
ovelhas.
Energia na matéria seca
Em relação à energia na matéria
seca, podemos comparar a massa
de cerveja à silagem de milho. Além
disto, o seu elevado teor em proteína
torna-o um alimento proteico apreciado
para complementar rações ricas em
energia, como é o caso de rações ricas
em silagem de milho. Devido à sua
baixa degradabilidade de proteínas da
massa no pré-estômago (sobretudo na
pança) dos ruminantes, o seu teor de
proteínas absorvido no intestino (PDI)
é comparável ao Bagaço de Colza. Em
vacas leiteiras, o potencial de produção
leiteira de 1 kg de Matéria-Seca de
massa de cerveja fresca é de 2,8 kg em
relação à PDI e 2 kg sobre a base de
energia (UFL). Assim, estamos perante
um produto com grande aptidão para
equilibrar rações ricas em energia.
Além disto, na alimentação de vacas
leiteiras e bovinos de engorda, a baixa
24 janeiro . fevereiro . março 2014 Ruminantes
degradabilidade da proteína da massa
de cerveja na pança permite uma
combinação ideal com o milho, onde
a degradabilidade do amido também
é relativamente lenta. Devido à baixa
degradação da sua matéria azotada, a
massa de cerveja contribui de maneira
muito positiva ao aprovisionamento
de proteína utilizável do intestino
delgado dos animais. A massa de
cerveja apresenta, ainda, muitas vezes
um efeito estabilizador e inibe a
diarreia. Podemos explicar esta ação
principalmente pelo seu forte potencial
de retenção de água no intestino
grosso.
Rúmen
Intestino Delgado
x
x
PDIM
PDIA
Proteinas
degradáveis
PB
DT
NH3
Proteossíntese
FIGURA 1
Digestão da proteína.
Aminoácidos
Alimentação
Potencial de Produção de
leite / Kg MS
Alimento Proteico
MS %
Proteina Bruta
g/kg MS
Fibra Bruta
g/kg MS
Gordura Bruta
g/kg MS
PDIN
g/kg MS
PDIE
g/kg MS
PDIA
g/kg MS
UFL / kg MS
UFV / kg MS
PDI
UFL
Massa Cerveja
22-27
27
15
7.3
200
176
141
0.92
0.84
2,8 kg
2 kg
B. Colza
91
363
117
75
232
134
109
0.94
0.9
2,7 kg
2,3 kg
B. Soja 44
88
499
65
20
368
261
196
1.2
1.19
5,2 kg
2,7 kg
tabela 1
Comparação dos valores nutritivos entre diferentes alimentos ricos em proteina.
Utilização
Quantidade diária em matéria
fresca (kg)
Espécie
Em termos práticos de utilização
(tabela 2) para vacas leiteiras é
recomendado o fornecimento de 5
a 8 kg/vaca/dia, no entanto num
arraçoamento com elevado milho
pode-se aumentar até aos 12 kg.
No caso de bovinos de engorda, as
recomendações são de 1 a 1,5 kg
por cada 100 kg de peso vivo do
animal. Resumindo, em associação
com o milho, a utilização da massa
de cerveja apresenta um elevado
interesse na mistura da ração total
(TMR – Total Mix Ration).
Máxima
5a8
12
Teor em proteina e matéria gorda, estrutura insuficiente
Vacas leiteiras
Bovinos engorda
Principais restrições
Recomendada
0,5 a 1,5 kg/100 PV
3 kg/100 kg PV
Teor em proteina
Cabras
1
2
Teor em proteina
Ovelhas
0,5 a 1
1,5 a 2
Teor em cobre
tabela 2
Quantidades de massa de cerveja recomendadas na alimentação.
dois arraçoamentos
possíveis
A – com massa de cerveja
B – sem massa de cerveja
Preços
Em relação aos preços das matériasprimas, consideramos preços atuais
de mercado (tabela 3). De acordo com
o nosso caderno de encargos para o
objetivo de produção definido fizemos
dois arraçoamentos (tabela 3). Numa
primeira fase podemos afirmar que é
possível obter o mesmo nível nutricional
a um menor custo com massa de cerveja
De seguida iremos apresentar dois
arraçoamentos possíveis adequados
para vacas em início e meio de lactação
com uma produção média de 39
litros. No que diz respeito às forragens
consideramos valores que facilmente
encontramos em Portugal.
(5,20 €/vaca/dia) do que sem esta (5,47
€/vaca/dia).
Proteína
Relativamente à proteína verificamos que
no arraçoamento com massa de cerveja
a quantidade de proteínas alimentares
não degradáveis no rúmen e disponíveis
ao nível intestinal (PDIA) são superiores
em relação ao outro arraçoamento. A
tabela 3
Dois arraçoamentos com as mesmas características nutricionais.
A
Custo por Animal/Dia= 5,20 €
(105 €/ton MB)
(221 €/ton MS)
Quantidade Distribuida
Preço
(€/ton)
Matéria-Prima
Kg
MB
MS
Caracteristicas Nutricionais (/Kg MS)
MS
UFL
PDIN
PDIE
PDIA
Ca
g
g
g
g
P
g
Silagem de Milho PB8 AMD30
50
29.00
8.93
30.80
0.91
49.78
69.15
17.63
2.00
1.80
Feno Azevém PB8
90
3.90
3.53
90.00
0.76
71.06
83.07
32.30
3.50
2.40
Massa Cerveja
38
6.00
1.68
28.00
0.92
208.43
188.20
135.39
3.15
5.84
Milho
180
4.65
4.05
87.00
1.26
76.16
115.70
56.98
0.29
2.91
B. Soja 44
440
2.24
1.97
88.00
1.20
371.59
256.82
196.59
3.41
6.82
B. Colza
255
2.92
2.59
88.50
0.94
248.59
162.71
109.60
10.06
11.30
Nucleo VL 40 Litros
800
Total
0.76
0.75
99.34
0.82
84.79
195.48
212.14
144.79
13.65
49.47
23.50
47.48
0.97
118.86
117.86
66.40
7.60
4.22
ruminantes janeiro . fevereiro . março 2014 25
Alimentação
tabela 3
Dois arraçoamentos com as mesmas características nutricionais (continuação).
b
Custo por Animal/Dia= 5,47 €
(113 €/ton MB)
(227 €/ton MS)
Quantidade Distribuida
Preço
(€/ton)
Matéria-Prima
Kg
MB
MS
Caracteristicas Nutricionais (/Kg MS)
MS
UFL
PDIN
PDIE
PDIA
Ca
g
g
g
g
P
g
Silagem de Milho PB8 AMD30
50
32.05
9.87
30.80
0.91
49.78
69.15
17.63
2.00
1.80
Feno Azevém PB8
90
4.10
3.69
90.00
0.76
71.06
83.07
32.30
3.50
2.40
Milho
180
4.22
3.67
87.00
1.26
76.16
115.70
56.98
0.29
2.91
B. Soja 44
440
2.95
2.60
88.00
1.20
371.59
256.82
196.59
3.41
6.82
B. Colza
255
3.30
2.92
88.50
0.94
248.59
162.71
109.60
10.06
11.30
Nucleo VL 40 Litros
800
0.75
0.75
99.34
0.82
84.79
195.48
212.14
144.79
13.65
47.37
23.50
49.60
0.97
118.66
115.00
63.47
7.65
4.18
Total
proteína bruta (PB) representa a matéria
azotada total enquanto a DT representa
a proporção de matéria azotada total
degradada no rúmen que contribuirá para
a proteossíntese microbiana depois da
degradação em amoníaco. A produção
de proteínas microbianas no rúmen
(PDIM) poderá ser limitada pela energia
fermentescível (PDIME) ou pela proteína
degradável (PDIMN). Assim, em termos
teóricos, o arraçoamento com massa
de cerveja (tabela 4) permite produzir,
considerando o nível proteico, mais 1 litro
de leite/dia quando comparado com o
outro.
tabela 4
Balanço Azotado dos arraçoamentos.
Balanço Azotado
A
B
PL por PDIN
Litros
50.97
50.87
PL por PDIE
Litros
50.46
49.02
PDIN
g/Kg MS
117.86
118.66
PDIE
g/Kg MS
117.86
115
PDIA
g/Kg MS
66.4
63.47
% MS
16.82
16.89
DT
Balanço Energético
PL por UFL
UFL
tabela 6
Análise Económica.
Arraçoamento
%
58.75
61.04
LYSDI/PDIE
% PDIE
6.79
7.01
METDI/PDIE
% PDIE
2.13
2.15
Proteina Digestível por Dia
Kg/dia
2.32
2.42
Energia
Análise económica
Arraçoamento
Unidade
A
B
Unidade
A
B
Litros
39.41
39.45
Custo Total
€/animal
5.2
5.47
UFL/Kg MS
0.97
0.97
Custo Total/1000 L
€/1000 L
133
140
Amido + Açucar
% MS
28.65
28.6
Custo Concentrado
€/animal
3.4
3.5
Glucidos Rápidos
% MS
15.08
15.77
Custo Concentrado/1000 L €/1000 L
87.18
89.74
GTD
% MS
49.44
47.71
Margem bruta/dia
€/animal
9.62
9.35
Matéria Gorda Bruta
% MS
4.99
4.71
Margem Bruta/1000 L
€/1000 L
247
240
Análise económica
Arraçoamento
Unidade
Proteina Bruta
tabela 5
Balanço energético dos arraçoamentos.
Finalmente, uma análise económica
torna-se imprescindível para
comparar a importância da utilização
deste subproduto na alimentação
de vacas leiteiras. Através da
observação da tabela 6, podemos
concluir que o arraçoamento com
massa de cerveja permite obter um
resultado económico vantajoso de,
pelo menos, 7 €/1000 litros. No
entanto, neste benefício está a ser
considerado apenas a diferença de
preço de cada arraçoamento para a
mesma produção, mas como vimos
anteriormente em termos proteicos
o lote com massa de cerveja permite
produzir mais 1 litro (representa um
acréscimo de 0,38 €/vaca/dia).
No que concerne à energia, ambos os
arraçoamentos têm o mesmo nível
energético e permitem produzir a mesma
quantidade de leite por vaca e por dia
(tabela 5).
26 janeiro . fevereiro . março 2014 Ruminantes
Conclusão
As principais propriedades da massa
de cerveja são: 1) rica em proteína,
apresentando esta proteína uma
elevada estabilidade na Pança; 2)
rica em fibra bruta, embora a eficácia
desta fibra bruta seja relativamente
baixa ao nível de estrutura; 3) pobre
em açúcar; 4) rica em matéria gorda
quando comparada com outras
forragens proteicas. Além das
vantagens descritas anteriormente,
existem outras que beneficiam a sua
utilização: 1) redução de utilização
de outros concentrados proteicos
mais caros (preço por ponto de
proteína); 2) substituição parcial de
forragens grosseiras; 3) muito bom
complemento de rações base pobres
em proteína; 4) bom efeito para
compensar as forragens ricas em
energia; 5) boa utilização possível de
rações misturadas no unifeed (TMR).
entrevista
A boa gestão
na base do negócio
Entrevista a Uziel de Carvalho
por ruminantes
Uziel de Carvalho iniciou a sua vida como
produtor de leite, já lá vão 35 anos.
A exploração que gere, Uziel de Carvalho,
Lda., fica situada junto ao Vale do Liz, na
localidade de Aroeira, Monte Redondo,
concelho de Leiria.
O milho e o azevém para forragem
têm sido as culturas de eleição para a
alimentação do gado e mais recentemente
foi introduzida a luzerna.
de lactações por animal muito baixa,
cerca de duas e pontualmente menos; um
intervalo entre partos demasiado grande
para o meu gosto (mais de 490 dias) e
um nível elevado de consanguinidade. Por
outro lado, se noutras espécies produtivas
(galinhas, porcos, novilhos de carne...)
sempre se utilizaram os cruzamentos para
obter o vigor híbrido, porque não utilizá-los
nas vacas de leite?
Ruminantes - Qual é a base genética do
seu efetivo?
Uziel de Carvalho – A base é Holstein, mas
há cerca de seis anos começámos com o
programa Procross (cruzamento rotativo
a 3 raças). Hoje temos cerca de 50% neste
programa.
O que procura quando pensa na genética
da sua exploração?
Produzir o máximo de leite possível da
forma mais económica. Ou seja, evitando
problemas de reprodução e sanidade
para permitir uma maior vida produtiva
dos animais. Quando decidi introduzir o
vigor híbrido na exploração foi a pensar
no aumento do nível de resistência dos
animais, ainda que com uma possível
Porque decidiu sair da linha pura Holstein?
Porque tinha muitos refugos, uma média
28 janeiro . fevereiro . março 2014 Ruminantes
quebra de produção. O que aconteceu foi
exatamente isso, a sanidade melhorou e a
produção desceu alguma coisa, mas penso
que o balanço foi positivo.
Que indicador prefere: a quantidade de
leite produzido por uma vaca durante a sua
vida produtiva ou a produção média por
lactação?
As vacas com grandes produções por
lactação têm por norma muitos problemas
associados. Sendo a produção média por
lactação um fator importante, não se pode
desligá-lo da produção total de leite ao
longo da vida produtiva da vaca.
O intervalo entre partos passou de 444
dias em janeiro de 2013, para 402 em
dezembro de 2013. Porquê?
Estão vários fatores por trás deste
resultado. Primeiro, o facto de o maneio
entrevista
ter sido completamente alterado com o
apoio de um novo médico veterinário; para
além disto, as produções médias por vaca
baixaram pela redução das ordenhas de
três para duas, o que por norma facilita que
as vacas engravidem; e por último, muito
provavelmente o Vigor Híbrido.
“Um animal só começa
a ser rentável depois
da 3ª lactação.”
Com base nos dados que forneceu
no tabela 1, percebe-se que os valores
médios do rebanho melhoraram
significativamente.
Todo o melhoramento reprodutivo que
se confirma na média do grupo do
ano de 2013 advém grandemente da
utilização do Vigor Híbrido das várias
raças leiteiras envolvidas, mas também
da condição genética destes animais
que não entram em balanço energético
negativo. Assim, todo o processo hormonal
entra naturalmente em funcionamento
poucos dias após o parto com evidentes
demonstrações de cio naturais.
Tendo em consideração que cada dia em
aberto (data entre o parto e a vaca grávida)
acima dos 90 dias custa ao produtor
cerca de € 5,00 vaca/dia/ano, nota-se já
claramente os benefícios económicos do
programa rotativo Procross de valorização
do Vigor Híbrido.
Porque decidiu passar de três ordenhas
diárias para duas, e agora pensa voltar às
três?
Por questões económicas. O preço do leite
pago à produção melhorou e os preços das
matérias primas baixaram, por isso penso
voltar às 3 ordenhas diárias. Esta alteração
implica mais mão de obra e um maior
consumo de energia, mas a produção
média de leite/vaca/dia pode subir cerca de
5 litros.
Quais são os problemas que tem tido com
maior incidência na sua exploração?
O maior problema é provavelmente o da
sanidade podal.
O Vigor Híbrido melhorou significativamente
este problema das patas, apesar de ainda
estar longe do desejável. A dedicação do
médico veterinário também teve a sua
quota de responsabilidade na melhoria
destes resultados.
O negócio da produção de leite tem vindo
a tornar-se cada vez mais exigente na
análise dos dados para conseguir baixar
os custos de produção do litro de leite.
Na sua exploração, e nos últimos cinco
anos, quais foram os fatores que mais
contribuíram para diminuir os custos?
Fundamentalmente, a qualidade da
produção dos alimentos em que posso
interferir, nomeadamente a silagem de
milho e o azevém, quer no campo quer no
processo de ensilagem. Muitas vezes existe
uma boa qualidade de forragem no campo
mas o processo de ensilagem não é feito
de forma correta. O resultado traduz-se na
qualidade deficiente do alimento que se
fornece às vacas.
Aqui, incidimos os nossos esforços
na nutrição vegetal (adubações) mas
sobretudo na rapidez de corte, tentando
não falhar a altura ideal, no período em que
TABELA 1
Tanela demonstrativa do impacto reprodutivo das vacas Procross nos efetivos de vacas leiteiras Holstein
assim que atingem cerca de 50% do efetivo.
Média Taxa de IA Ciclo de Cio
Média geral
do Rebanho
Média geral
do Rebanho
Media geral do grupo das
Vacas Adultas Procross
Ano 2009
Ano 2013
(95 animais – 43% efetivo)
39.00%
56.00%
-
Média 1ª IA (dias)
103
77
-
Média Dias em Aberto (dias)
226
149 (*)
106
Média Intervalo Partos (dias)
500
423 (**)
375
Média Anual Taxa Prenhez
9.70%
18.50%
-
3
2,6 (***)
1.8
Média nº doses / vaca Grávida (doses)
Média dias em Lactação (dias)
Média de Produção Diária da Exploração
246
194
168
-
28.5
26.1
(*) Atualmente 122 dias; (**) Atualmente 402 dias; (***) Atualmente 2,2 doses
as plantas possuem maior concentração
de nutrientes. Temos também em atenção
o equipamento utilizado, sobretudo no que
se refere ao afinamento das máquinas.
Por exemplo, no esmagamento do grão do
milho, muitas vezes os rolos dos cortaforragens não estão equilibrados e isso leva
a que não haja esmagamento de alguns
grãos, assim como as facas mal afiadas e
afinadas provocam forragens “ripadas” em
vez de cortadas e um tamanho de corte
pouco interessante para o animal.
O nosso objetivo é fazer da forma mais
rápida possível o corte, a ensilagem e o
calcamento, juntando um inoculante no
corte. Também temos a preocupação
de forrar os silos trincheira com plástico
nas partes laterais, e superior, para que o
isolamento seja quase total.
Outros aspetos importantes na redução
de custos foram: a redução das sobras de
alimento dos lotes de vacas em produção,
que cada vez são mais controladas e hoje
não ultrapassam os 2% do que é fornecido
diariamente; e ainda a melhoria na
reprodução e a diminuição do refugo.
Que indicador utiliza diariamente para
saber se tudo está a correr bem na
exploração?
A produção de leite por hora e por vaca,
das vacas que apresentam quebras de
produção em relação ao seu normal. Tenho
em ponderação o controlo da produção
por hora porque me parece muito mais
fiável. Através da recolha eletrónica de
dados consigo observar de uma forma
simples esse indicador. Repare, uma vaca
pode adoecer de manhã e à tarde baixa a
produção. Quando deteto quebras neste
indicador vou imediatamente saber o que
se passou com o historial desta vaca, a
ruminantes janeiro . fevereiro . março 2014 29
entrevista
exploração UZIEL DE CARVALHO, LDA.
Situada junto ao Vale do Liz, Monte Redondo, Leiria.
produção na ordenha, o tempo de
ordenha, etc. Utilizo 4 gráficos que me
permitem fazer uma boa avaliação
do problema – produção por hora;
fluxo médio; condutividade elétrica;
atividade do animal. O número de
litros de leite no tanque por dia é um
dado que não tenho como indicador
prioritário para avaliar a saúde o
negócio.
dados gerais
da exploração
Número de vacas em lactação: 212
Litros de leite produzidos/ano: 2.000.000 litros
Quota anual: 2.800.000 litros
Produção média de leite/vaca/dia: 27,5 litros
com 2 ordenhas e 35 litros com 3 ordenhas
Base da alimentação forrageira: silagem de
milho, silagem de azevém, feno de azevém, e
palha de trigo ou cevada nos grupos de baixa
produção, nas novilhas e vacas secas.
Forragens compradas: palha
Tipo de sala de ordenha: 2 salas em espinha,
com um total de 25 pontos de ordenha
Número de ordenhas por dia: 2 desde janeiro
de 2013, mas deve voltar às três.
Número de trabalhadores: 13
444
444
GRÁFICO 1
Com o aumento gradual do número de
animais Procross no rebanho é notório o
impacto na média global do IP.
Utiliza algum indicador para medir a
rentabilidade do seu negócio?
O principal indicador que uso está
baseado na relação entre o custo
médio do arraçoamento por animal
e o preço do leite. Outro é que um
animal só começa a ser rentável
depois dos 37 mil litros, ou seja,
tem que fazer mais de 3 lactações
na exploração. Outro ainda baseiase no número de litros de leite
produzidos por dia de vida do
animal.
Segue sempre o mesmo plano
alimentar?
A silagem de milho e de azevém e
a palha estão sempre presentes no
arraçoamento, mas podem não estar
442
sempre nas mesmas proporções
dependendo da disponibilidade de
stock. A quantidade de concentrado
é dada em função dos lotes de
produção.
Qual o custo do litro de leite? Que
percentagem é alimentação?
O custo atual é de 0.31 €/litro,
onde se incluem medicamentos
e energia. A percentagem do
custo alimentar anda próximo dos
60%, mas nos últimos anos tem
ultrapassado este valor. Considero
um bom valor quando está abaixo
dos 50%.
Quais os fatores que gostava de
ver melhorados nos próximos
cinco anos?
Gostava de melhorar ainda mais
o intervalo entre partos. Não no
sentido de o encurtar mais, porque
entendo que em termos produtivos
devem situar-se entre 400 e 410
dias, mas por forma a que todos os
animais estejam neste intervalo.
Não quero ter uns com 370 dias e
outros com 450, porque isso traz
custos muito elevados.
Lactação 1+’. Média intervalo entre partos
439
438
437
432
424
423
412
406
404
Set.
Out.
402
402
Nov.
Dez.
400
Jan.
30 janeiro . fevereiro . março 2014 Ruminantes
Fev.
Mar.
Abr.
Mai.
Jun.
Jul.
Ago.
Testemulhos de produtores E TÉcnicos nacionais com experiência de vacas Procross
Alexandre A. Cunha
“O vigor da vaca Procross começa-se a
notar logo à nascença pois revela uma
forte vontade de viver, passando pelas
dificuldades dos primeiros dias de vida
com uma agilidade que a vaca Holstein
já há muito perdeu.
lactação, devido em grande parte à
prioridade que dá à conservação da sua
condição corporal, perde relativamente
pouco peso e, por isso, não só reduz as
sequelas de um prolongado balanço
energético negativo, como se aguenta
firme sempre que uma vaca melhor
colocada na hierarquia da manada, e
mais pesada, compete com ela por um
lugar à manjedoura.
Esta vaca é, em média, um animal
trabalhador, discreto, fiável, produtivo,
funcional, duradouro, que raramente
precisa de cuidados especiais e
que, por fazer uma entrada suave na
Sendo a vaca Holstein um monumento
à generosidade, a vaca Procross está
melhor preparada para o desafio de
produzir bom leite, manter intervalos
entre partos curtos e conservar a
Proprietário da exploração Casal de
Quintanelas (Sabugo)
saúde, tudo num ambiente altamente
competitivo, em chão de cimento,
com três ordenhas diárias e dentro de
estábulos carregados de animais.
Se pudesse mudar alguma coisa
nesta vaca de alto Vigor Híbrido,
reduziria a sua forte tendência para
mamar nas colegas, torná-la-ia menos
gregária, procuraria reduzir a sua
hipersensibilidade a uma expressão
mais tolerável e melhoraria o ligamento
suspensório do seu úbere.
Na minha exploração, este interessante
animal segreda-me diariamente: vim
para ficar!
José A. C. S. Guerreiro
José Paulo
Eng. Técnico da Exploração Leiteira de
Diamantino Jesus Lagoa
Louagri, Soc. Agro Pecuária de grupo
Loureiros, Lda. (Fradelos-Famalicão)
“A vaca Procross para mim significa
Maior Rentabilidade. O Procross, veio
trazer “ar fresco” a esses mesmos
animais, através do Vigor Híbrido Não
um qualquer Procross, mas o Procross
com Montbelier e Sueca Vermelha.
Acredito e começo a confirmar que
com melhores índices reprodutivos e
maior rentabilidade no refugo voluntário
(vacas e vitelos), os lucros vão aumentar
e provavelmente o tempo para gozar os
lucros.”
Desde o primeiro parto PROCROSS
que notamos que estes animais têm
uma maior vitalidade, uma vantagem
do Vigor Híbrido que se tem vindo
agora a demonstrar na performance
reprodutiva, com vantagem de 22
dias para a conceção com menos
0,3 serviços e com mais cios naturais
atingindo o desejável IPP= 374 dias.
Em breve, um maior grupo de animais
estará em produção (30%) e os dados
serão mais consistentes”.
LuÍs Ponte
Joaquim Carneiro
Sociedade Agro-pecuária Irmãos
Italianos, Lda. (S. Miguel – Açores)
Produtor de Leite, (Landim –
Famalicão)
“Entrei no programa PROCROSS na
tentativa de melhorar a fertilidade do
meu rebanho. Passados 3 a 4 anos,
verifico que a vaca PROCROSS é
algo mais: saúde invejável, maior
fertilidade, boa produção e baixa
contagem de células somáticas.”
“É com boa perspetiva que vemos
o PROCROSS como solução para
a sustentabilidade do efetivo sem
condenar a produção. Esperamos que
a longevidade e a saúde da manada
resulte no excedente de recria para
crescer o número de animais do
efetivo, e acima de tudo, aumentar a
rentabilidade da produção. Temos já
nascidas cerca de 50 vitelas da nossa
opção de Crossbreed a 100% “
HÉlder Duarte
Sócio Gerente da Exploração
Agropecuária Agroleite de Canha, Lda.,
(Canha – Montijo)
“Há onze anos chegou à minha
exploração o Dr. Rebelo de Andrade,
acompanhado por um técnico da
Raça Norueguesa para me falar do
Crossbreeding entre as vacas Holstein
e as Vermelhas Norueguesas. Meti
a orelha à escuta e ouvi: fertilidade/
melhoramento de patas/ausência de
mastites/ausência de doenças/boas
produções. Só não ouvi vacas com 8
tetos. Com tanta oferta interessante
fiquei com 50 doses e passado algum
tempo comprovei o sucesso das
doses utilizadas.
Algum tempo depois surgiu o
Carlos Serra também a falar em
Crossbreeding mas com uma outra
filosofia onde entrava uma terceira
raça. Para verificar esta teoria na
prática tenho feito uma série de
visitas a explorações e feiras nos EUA
(Califórnia, Madison e Texas), entre
2007 e 2013, onde o Crossbreeding
está numa fase mais avançada e fiquei
adepto incondicional deste conceito.
Uma vez que toda a nossa produção é
para o fabrico de queijo, tenho ainda a
vantagem da kca BB .
Atualmente estamos a utilizar este
programa em 100% do efetivo, cerca
de 500 animais em produção, 100 dos
quais já são Procross e alguns já na
quarta lactação.
Estes animais não são vacas de
concursos, mas são certamente ótimas
ferramentas de trabalho.
ruminantes janeiro . fevereiro . março 2014 31
Alimentação
Leveduras hidrolisadas de cerveja
para vacas leiteiras
Os suplementos alimentares de leveduras têm sido relatados para melhorar
a produção de leite e a eficiência alimentar em vacas leiteiras.
por Juhani Vuorenmaa, Suomen Rehu Oy, Upseerinkatu I, PO Box 401, FI-02601, Espoo, Finland.
adaptado para português por Ana Maria Gaspar, Vetalmex Lda
As melhorias no desempenho
são atribuídas principalmente
ao aumento do número
de bactérias ruminais e
mudanças nos AGV do
rúmen. No entanto, as
respostas dos animais não
têm sido consistentes. A fase
da lactação ou diferenças na
alimentação base, podem
afetar a resposta bem
como a dosagem, o tipo e a
qualidade da levedura. Apesar
das respostas de produção
indicadas, o modo de ação
específico da levedura no
rúmen ainda é incerto.
Os produtos de levedura
mais comuns usados em
ruminantes são células
vivas . No entanto, por
exemplo, Oezturk et al
2005 demonstraram que a
adição de Saccharomyces
boulardii, leveduras vivas e as
inativadas, ambas estimulam
o metabolismo microbiano,
sem grandes diferenças entre
as formas vivas e mortas.
Nos ensaios realizados
com levedura hidrolisada de
cerveja inativada (Progut)
ficou provado que melhora
significativamente a
fermentação ruminal, devido
ao aumento da biomassa
microbiana e produção de
AGV .
Nos ensaios de desempenho
em vacas leiteiras, verificou-se
o aumento de produção de
leite e eficiência alimentar.
Aumento da energia
A fermentação ruminal
converte o alimento tal qual
em proteína microbiana
e ácidos gordos voláteis,
que são a principal fonte
de energia da vaca. Por
conseguinte, um aumento no
número de microrganismos
e de fermentação após a
alimentação significa mais
proteína e energia para a
vaca. Rapidez de fermentação
também significa melhor
degradação do alimento no
rúmen, permitindo um maior
consumo de ração necessário
aos altos volumes de
produção de leite .
Em estudos de simulação
no rúmen realizados por
Alimetrics Ltd, na Finlândia,
Progut aumentou tanto
a produção de proteína
como de energia, devido
ao aumento do número
de microrganismos do
rúmen aumentando assim a
produção de ácidos gordos
de cadeia curta durante este
processo de simulação (ver
gráfico 1).
A quantidade de alimentos
que não foram degradados
diminuiu com a adição de
Progut . Os estudos foram
feitos com um lote simulado
em que a relação silagem
- concentrado foi de 50:50.
A levedura hidrolisada
de cerveja reforçou a
fermentação ruminal tanto
com a silagem de erva
escandinava como com
a típica silagem de milho
europeia.
O efeito do Progut foi
também comparado com um
produto de leveduras vivas e
com uma mistura de cultura
32 janeiro . fevereiro . março 2014 Ruminantes
GRÁFICO 1
Efeito do Progut nos parâmetros da fermentação ruminal.
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Basic 3h
Progut 3h
Alimento não degradado
Basic 6h
Progut 6h
Micróbios
SCFAs
Basic 9h
Progut 9h
Gás
TABELA 1
Efeito dos diferentes produtos de leveduras nos parâmetros da fermentação
ruminal in vitro
Progut™
Produto de
leveduras vivas
Produto de cultura de
leveduras inativadas
+++ ****
+++ ***
NS
Total AGCC
+++ **
++ *
NS
Ácido acético
++ **
NS
NS
Propionato
+++ **
NS
NS
Butirato
+++ **
+++ ****
++ ****
Microorganismos
+++ ***
NS
NS
-*
- **
NS
Taxa de fermentação
0-6 horas
pH
+(-) Aumento significativo (diminuição) de 0-5 %
++ Aumento significativo de 5-10 %
+++ Aumento significativo de > 10 %
* 0.05 < valor de p < 0.01
** 0.01 < valor de p < 0.001
*** 0.001 < valor de p < 0.0001
**** valor de p < 0.0001
de leveduras nas mesmas
taxas de inclusão.
Enquanto o Progut teve
efeitos positivos sobre todos
os parâmetros de fermentação
ruminal estudados a levedura
viva só tinha eficácia na taxa
de fermentação, AGCC totais
e produção de butirato (ver
tabela 1).
alimentação
GRÁFICO 2
Efeito do Progut e da pouca hidrolise das leveduras no metabolismo
do rúmen, in vitro.
Progut, dose baixa
Progut, dose alta
Pouca Hidrolise, dose baixa
Pouca Hidrolise, dose alta
25
20
80
mM
15
100
60
40
10
20
5
0
0
Total AGCC
Ácido
Acético
Propionato
Butirato
Co
nt
ro
lo
% Controlo
GRÁFICO 3
Efeito do Progut na concentração de Ácidos Gordos Voláteis em vacas
fistuladas (Alimetrics Ltd 2006).
1
2
3
4
5
6
Dias com Progut Rúmen
7
1
2
3
4
5
6
7
Dias depois de Progut Rúmen
Neste ensaio, a mistura de culturas
de leveduras não melhorou a
fermentação ruminal .
Na Universidade de Veterinária
de Hannover foi testado o efeito
do Progut sobre a fermentação
ruminal, em comparação com
a levedura de cerveja menos
hidrolisada utilizando uma técnica
(Rusitec) de simulação ruminal
contínua.
A adição de Progut em ambas as
doses testadas, tendeu a aumentar
a produção de AGCC totais, acetato
e propionato (ver gráfico 2).
O efeito da levedura menos
hidrolisada, a partir da mesma
matéria-prima foi insignificante.
Isto indica que o grau de hidrólise
é importante para a eficácia deste
tipo de levedura no rúmen.
A fermentação ruminal
Para confirmar os resultados dos
estudos de simulação ruminal foi
realizado um ensaio com uma
vaca fistulada. A vaca recebeu um
alimento composto básico no dia 0
e o Progut a um nível de 15 g por
dia misturado com a alimentação
durante o período de uma semana
de teste, sendo seguido por um
período de lavagem (uma semana),
sem Progut adicionado.
De acordo com o modelo equipado
com os dados medidos (p =
0,003 **) a concentração de AGV
aumentou durante os primeiros
quatro dias da alimentação com
Progut, depois estabilizou e
começou a diminuir após a retirada
de Progut (ver gráfico 3).
Todos os outros parâmetros de
fermentação ruminal medidos,
seguiram um padrão semelhante.
Distribuido em Portugal por:
Campo Grande, 30 4º A/B
1700 - 093 Lisboa
Tel: +351 217 815 620
Fax: +351 217 815 629
Email: [email protected]
ruminantes janeiro . fevereiro . março 2014 33
Alimentação
Resultados
sobre o
desempenho
Os resultados do Progut sobre
o desempenho em vacas
leiteiras têm sido estudados na
Universidade de Helsínquia e em
ensaios agrícolas em diferentes
países.
Os testes incluíram vacas em
início, meio e fim de lactação e as
doses diárias testadas de Progut
variaram entre 8 e 20g. Nestes
ensaios o Progut aumentou a
produção média diária de leite de
1,5 para 3,4 kg dependendo da taxa
de inclusão, fase de lactação e do
tempo durante o qual foi utilizado
Progut. No ensaio da Universidade
de Helsínquia um suplemento
energético especial, com e sem
Progut adicionado (20g) foi dado
a vacas durante duas semanas
antes e oito semanas pós-parto.
A adição de Progut na dieta
aumentou a produção de leite
em energia corrigida (ECM) 5,3%,
durante as primeiras oito semanas
de lactação (ver tabela 2). Foi
também melhorada a eficiência
alimentar calculada ECM por
ingestão MS.
Modo de ação
proposto
As leveduras têm capacidade limitada
para crescer no ambiente ruminal e são
considerados organismos passageiros.
As teorias populares sugerem que as
leveduras proporcionam um fornecimento de
nutrientes especiais para os microrganismos
do rúmen.
No entanto, as baixas taxas de inclusão dos
produtos de leveduras tornam esta teoria
questionável.
Na natureza, leveduras e microrganismos estão
numa situação de competição e é possível
que os microrganismos do rúmen sintam as
leveduras ou os componentes de levedura
como “inimigos estranhos”, começando a
crescer e ativar para sobreviver.
Um tipo semelhante de sinalização, conhecido
como quórum sensing, é bem demonstrada
entre os microrganismos.
O processo de produção patenteado do
Progut rompe a parede celular da levedura
em pequenas partículas, aumentando
consideravelmente a quantidade de
oligossacáridos solúveis. Isto aumenta a
quantidade de partículas solúveis da levedura
no rúmen, podendo assumir-se que há muito
mais “inimigos estranhos” para os micróbios
ruminais do que numa levedura de cerveja
normal. Esta teoria pode ser suportada pelo
estudo realizado na Universidade Veterinária
de Hannover, em que o efeito do Progut
na fermentação ruminal foi superior em
comparação com levedura de cerveja menos
hidrolisada, a partir da mesma matéria-prima.
TABELA 2
Efeito da dieta na produção de leite em vacas leiteiras
Semanas 1-8
Progut -
Progut +
%
Leite (Kg/d)
46.5
47.3
-
Gordura (g/d)
1899
2087
-
Proteína (g/d)
1537
1541
-
ECM (Kg/d)
46.8
49.3
5.3
ECM/IMS
2.15
2.29
6.5
ECM = Produção de leite corrigida, IMS = Ingestão de matéria seca
Jornadas de Pequenos Ruminantes
em Castelo Branco
Em novembro realizaram-se,
na Escola Superior Agrária do
Instituto Politécnico de Castelo
Branco (ESACB), as jornadas
“Pequenos Ruminantes - Que
aspetos melhorar”.
Neste evento, que contou
com a participação ativa da
associação de estudantes,
estiveram presentes cerca de
250 pessoas, entre produtores,
transformadores de leite,
técnicos de campo, dirigentes
associativos e estudantes do
ensino superior.
Do programa fez parte a
intervenção de Ruben Mendes,
da Deosan Farm, sobre a
higiene nas explorações
leiteiras e os fatores que a
afetam — temperatura, tempo,
química e mecânica —, bem
como as etapas que devem ser
percorridas para se conseguir a
higiene máxima numa sala de
ordenha.
João Pedro Várzea Rodrigues,
da ESACB, abordou o tema
dos testes andrológicos como
forma de melhorar a reprodução
em explorações ovinas. O
autor referiu que, ainda que
a percentagem de carneiros
estéreis seja baixa, cerca de 10
a 15% dos carneiros falha ou
apresenta baixa fertilidade, o que
representa custos elevados nas
explorações. Como conclusão
considerou que o “exame
andrológico é um investimento”.
34 janeiro . fevereiro . março 2014 Ruminantes
Jose Maria Bello, Chefe de
Produto, NANTA apresentou
o Gestimilk, um programa de
gestão prática em ovinos e
caprinos de leite. Referiu as
capacidades do programa
e a necessidade de haver
uma gestão deste tipo nas
explorações que permita entre
outros, comparar os resultados
atuais com os históricos, com
resultados de animais da mesma
raça e época e interpretar
resultados pontuais. Explicou
também porque é prático
trabalhar com indicadores.
João Mateus, da NANTA
apresentou o sistema KOMPLET
como sistema alimentar
alternativo em ovinos e
caprinos. A inovação presente
neste sistema resulta da sua
simplicidade, pois basta fornecer
um concentrado especifico e
com palha ad libitum.
A nova PAC e as implicações
na produção de pequenos
ruminantes foi o tema
apresentado por Deolinda
Fonseca Alberto e José Pedro
Fragoso de Almeida, ambos
da ESACB. Depois de uma
explicação sobre as ideias gerais
da PAC, foram apresentadas
simulações e impactos dos
cenários alternativos.
Apresentações disponíveis em
http://pessoas.ipcb.pt/amrodrig/
poster_jornada.htm
alimentação
carlos flecha
Provimi Iberia - departamento de ruminantes
[email protected]
Dairy MAX
TM
o sistema exclusivo Cargill
de Nutrição Integrada para
as vacarias de leite
PARTE 1
O sucesso dos
programas de nutrição
e alimentação está
dependente de muitos
fatores:
• a qualidade da forragem e
melhor utilização desta;
• o teor de nutrientes dos
ingredientes utilizados;
• a variabilidade de nutrientes
dos ingredientes de carga/
lote para carga/lote;
• a capacidade para
compreender como os
nutrientes que não são
medidos pelo laboratório
•
•
•
•
podem ser afetados pelos
nutrientes medidos;
a digestibilidade de
“nutrientes chave”, tais como
FDN, amido e aminoácidos;
o efeito de potenciais
ingredientes alternativos no
desempenho da dieta e no
seu preço;
a gestão correta do inventário
de ingredientes
a compreensão das
“necessidades chave” que
mais influem para o melhor
desempenho dos animais,
aminoácidos digestíveis, as
frações da fibra, as formas
de amido, o “mix” de ácidos
gordos e a composição da
gordura;
• quanto melhor for a
interpretação da fermentação
ruminal maior será a eficiência
da utilização dos nutrientes;
• o potencial genético e a
respetiva aptidão para a
produção e o seu impacto
sobre os custos totais da
dieta;
• a capacidade dos programas
de nutrição para, de uma
forma eficiente e detalhada,
avaliarem as oportunidades
do mercado e os cenários de
mudança.
Nutrição Integrada
Nutrição Integrada significa
abordar cada uma dessas áreas
através de processos ligados
entre si. É esta aptidão que vai
determinar o grau de sucesso
do programa nutricional.
Principais
Funções do
Sistema
Dairy MAXtm
Definição da composição
em nutrientes dos
ingredientes.
Definição das
necessidades em
nutrientes por animal.
Análise e formulação de
dietas alimentares.
Criação de produtos
personalizados.
Gestão da composição
do leite em função da
forma de pagamento.
Decisão de aquisição de
ingredientes.
Gestão do inventário
de ingredientes da
exploração.
Análise económica da
empresa.
Dairy MAXTM
O Dairy MAXTM assenta num
sistema integrado que funciona
para gerir a variação de
nutrientes – “sistema nutriente
base”.
A abordagem do sistema
MAXTM ,baseada em nutrientes,
é fundamentalmente diferente
da abordagem do “sistema
ingrediente base”, típica dos
outros programas disponíveis
para a indústria, assentes no
ingrediente.
Dairy Maxtm
Cálculo de dieta
(ecrã de trabalho)
ruminantes janeiro . fevereiro . março 2014 35
alimentação
Maximizar a eficiência proteica
Na produção leiteira!
No atual contexto económico a proteína é o nutriente mais caro da alimentação da vaca
leiteira, tendo um grande impacto na rentabilidade da exploração!
Elisabete Carneiro
Nutricionista Ruminantes
INVIVONSA Portugal
[email protected]
Em média, os concentrados utilizados
para completar a forragem contêm entre
20 a 27% proteína bruta na matéria
seca. Além de dispendiosos, níveis tão
elevados de proteína levam a grandes
excreções de azoto nas fezes e urina,
prejudicando o ambiente e aumentando
as discussões à volta da poluição
causada pelo setor leiteiro.
Porém o conhecimento das necessidades
das vacas de leite e as mais recentes
tecnologias disponíveis permitem-nos ir
mais além, trabalhando para a eficiência
proteica!
Sabemos que aminoácidos são os “blocos
de construção” das proteínas e que a
vaca leiteira assimila o azoto da “ração”
na forma de aminoácidos das proteínas
alimentares e das proteínas microbianas.
Para satisfazer as necessidades
nutricionais das vacas leiteiras de alta
produção e evitar desperdício, é essencial
equilibrar as dietas com precisão.
O primeiro passo, é fornecer à vaca
a quantidade correta de proteína,
para otimizar a função da microflora
ruminal (PDIMN = PDIME) permitindo
assim disponibilizar proteína digestível
no intestino (PDI) satisfazendo as
necessidades de manutenção e produção
de leite.
Mas alguns dos aminoácidos essenciais
não conseguem ser sintetizados
pelas bactérias ruminais (ou são-no
em quantidade insuficiente) e têm de
ser adicionados aos “concentrados”.
Tais aminoácidos são definidos como
“aminoácidos limitantes”. Os mais
importantes são: Metionina e Lisina.
De acordo com Henri Rulquin 2001
(investigador do INRA), a suplementação
das vacas de alta produção com um ou
dois dos aminoácidos mais limitantes,
aumenta 5% na eficiência metabólica. As
vacas são pouco eficientes na utilização
da proteína (cerca de 30%) mas é
possível aumentar esta eficiência em 15%,
formulando a dieta com a “proteína ideal”.
As necessidades em aminoácidos estão
tabeladas em diferentes trabalhos do
INRA.
A necessidade mínima em Lisina
Digestivel (LisDi) é 6,8% do PDIE e as
necessidades em Metionina Digestível
(MetDi) é 2% do PDIE.
A eficácia proteica aumenta com a relação
MetDi / LisDI.
Um aporte de Met Di/LisDi de 1 para 3 é o
ideal, para a máxima utilização do azoto.
A eficiência proteica (%) é igual à =
quantidade de proteínas transformadas/
quantidade de proteínas ingeridas.
Ou seja: (Quantidade de leite produzido x
Taxa do TP do leite) / (MS ingerida x Taxa
proteína Bruta do concentrado). O objetivo
deve ser superior a 30%.
FIGURA 1
Barril de Liebig – Lei do mínimo
digestível ao nível intestinal).
• Aporte do azoto ruminal necessário
à máxima produção de proteínas de
origem microbiana.
• Aporte equilibrado de aminoácidos
digestíveis.
Conclusão
A formulação PROTeAM
demonstrada cientificamente
e avaliada no programa Aliplan
(formulação INVIVO NSA) permite:
• Economizar 10 a 30 €/ tonelada
no alimento concentrado.
• Maior eficiência, (mesmo nível de
produção com o menor custo).
• Aumentar em + 7% a eficácia
proteica;
• Melhorar as performances
Zootécnicas.
E a pergunta impõem-se:
Como podemos então
satisfazer as necessidades em
LisDi E MetDi nas dietas das
vacas leiteiras?
A INVIVOnsa, desenvolveu e propõe
a inovação PROTeAM. Esta técnica de
formulação para vacas leiteiras com
base na alimentação azotada, melhora a
eficiência da proteína usando três pilares:
• Suplementação otimizada das
necessidades em PDI (proteína
36 janeiro . fevereiro . março 2014 Ruminantes
PROTeAM:
Proteínas e Aminoácidos que formam uma
equipa (Team) para maximizar a eficiência proteica
das dietas e otimizar os custos alimentares das
explorações leiteiras.
Existem outras formas
de fixar micotoxinas
T5X
Muito mais que
um adsorvente de micotoxinas
T5X possui quatro ações principais:
- Os componentes adsorventes do T5X foram selecionados num
sofisticado modelo “invivo”. As micotoxinas não passam pela parede
intestinal.
- T5X estimula a produção de enzimas naturais especificas de neutralização/desintoxicação que catalisam a eliminação das micotoxinas.
- Os poderosos antioxidantes presentes no T5X inibem os radicais
livres e previnem a degradação da membrana celular.
- T5X estimula o sistema imunitário não especifico, fortalecendo os
animais.
Distribuído por INVIVONSA Portugal, SA.
Zona Industrial de Murtede
3060-372 Murtede Cantanhede
Tel: 231 209 900 – Fax: 231 209 909
[email protected]
www.invivo-nsa.pt
economia
Mercado de cereais, “Land of Confusion”?
observatório
Quando pensamos na situação atual do mercado de cereais (sobretudo do milho)
vem-nos à memoria o tema dos Génesis, “Land of Confusion”.
Para onde se inclinará este mercado num curto/médio prazo?
por paulo costa e sousa
Depois de uma baixa drástica devido
a uma boa produção por toda a parte,
os últimos meses foram de alguma
subida, fundamentalmente devida ao
caos logístico dos portos do Mar Negro
que fizeram com que os preços para um
embarque imediato subissem em flecha
e influenciando também os meses mais a
diferido.
Que irá acontecer, se e quando a situação
normalizar? Normalmente, seria de esperar
que normalizasse a curto prazo, mas agora
está aí o inverno que tendencialmente
fará atrasar, quer os embarques, quer os
transportes de cereais até aos portos, por
isso essa normalização poderá dar-se no
início ano e mais para a frente.
Será que quando tudo isto ficar alinhado
ainda restará milho na Ucrânia para enlaçar
com a próxima colheita?.
Nos últimos 2 meses foram exportadas
quantidades recorde da Ucrânia o que, a
manter-se este ritmo de cerca de 3 milhões
de toneladas/mês, faria desaparecer
as exportações de 18 a 20 milhões de
toneladas em maio/junho. Estaríamos
assim numa situação de dependência
da colheita sul-americana, fazendo com
que até lá o mercado não apresentasse
uma tendência fortemente baixista, mas
provavelmente um potencial de alguma
subida possivelmente não muito drástica.
Além de tudo isto, mais 2 atores estão
esperando para poderem entrar em cena: o
milho americano e o direito nivelador.
Todos os países do sul da Europa estão
à espera de uma decisão de Bruxelas
para autorizarem a importação de milho
americano através da aprovação de
um último evento OGM. Se este milho
americano chegar a aparecer em cena,
deverá pressionar o milho do Mar Negro,
embora não se saiba se tal virá a acontecer.
Acerca do direito nivelador: com a baixa
do preço do milho na Bolsa de Chicago,
bem como com o incremento do euro/usd
estão criadas condições para voltarmos
a ter o direito nivelador sobre o milho
de países terceiros; ora esse custo será
repercutido sobre o preço do milho, o que
fará com que o seu valor absoluto em
euros venha afetado de mais um custo,
pondo assim algum travão a uma baixa de
preços.
Face a toda esta amálgama de
problemas logísticos e políticos com
consequências sobre o mercado, parece
prudente fazer uma “navegação à vista”
sem ter a tendência de tomar grandes
compromissos a longo prazo uma vez que
estes atores podem fazer mudar os preços
em sentidos contrários muito marcados.
Colheita de 2014/2015
Começa a ser oferecida a colheita do ano
seguinte, ou seja, a que irá ser semeada
a partir de abril de 2014 e que sairá em
setembro. Levando em linha de conta o
número de fatores que ainda poderão
38 janeiro . fevereiro . março 2014 Ruminantes
afetar uma colheita que está a 3 meses
de ser semeada, uma tomada de posição
pode ter algumas comparações com uma
ida a um Casino (sendo que esta última
é normalmente mais agradável do que
comprar ou vender milho).
No caso dos cereais, um véu algo denso
paira no ar, mas pensamos que dentro
de pouco tempo se poderão vir a revelar
algumas facetas desta questão.
Quanto ao trigo, parece ter um
comportamento mais definido. Embora o
seu consumo em Portugal seja marginal
em relação ao milho, o trigo tem estado
bastante sustentado e não parece com
grande tendência de ter uma baixa forte até
à próxima colheita.
Quanto às proteínas e até algum novo
fator aparecer no horizonte, seguimos
na convicção de que quando começar a
colheita sul-americana, salvaguardando
alguma questão logística que normalmente
tem um impacto forte nos preços, a
tendência deverá ser para alguma baixa
de preços, uma vez que até agora não se
conhece nada de particularmente nocivo
para a colheita que está para chegar.
A Logística nos portos sul-americanos
poderá no entanto fazer com que isso
possa acontecer ou não, pondo maiores
ou menores dificuldades no embarque.
Parece de alguma forma mais importante
e prudente assegurar mercadoria a diferido
do que esperar pelo último preço e ficar
sem ela.
economia
Evolução do preço de matérias primas (em Euros/tonelada)
Preços semanais de 14 de março 2011 a 13 de dezembro 2013
milho
cevada
€/ton
€/ton
310
300
290
280
270
260
250
240
230
220
210
200
190
180
170
160
9 a 13 dezembro
9 a 13 dezembro
trigo
bagaço de soja
€/ton
€/ton
600
310
550
290
500
270
250
450
230
400
210
350
190
300
170
250
9 a 13 dezembro
9 a 13 dezembro
bagaço de colza
bagaço de girassol
€/ton
€/ton
360
440
400
330
360
270
320
240
280
210
240
180
200
150
160
120
9 a 13 dezembro
9 a 13 dezembro
Fonte: www.revista-ruminantes.com
Evolução do preço médio de alimentos compostos
para animais (em Euros/tonelada)
vacas leiteiras em produção
novilhos de engorda
2010
2011
2012
€/ton
€/ton
2013
500
550
450
500
400
450
350
400
300
250
350
200
300
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
meses
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
meses
Fonte: IACA
ruminantes janeiro . fevereiro . março 2014 39
economia
USDA, LTO, INE,
observatório
por felipe de almeida
Fontes: CEGEA, USDA, Lusa, Agrodigital, INE, LTO
O ano de 2013
Nos primeiros meses de 2013 os
preços do leite no mercado mundial
permaneciam estáveis, não sendo
muito altos, principalmente devido à
carência de suprimentos mas também
em consequência de um ligeiro
incremento da produção leiteira.
No final do primeiro trimestre deste
ano a situação mudou quando a seca
intensa e o final da produção leiteira
na Nova Zelândia fizeram com que
os preços subissem bruscamente.
O que, associado às más condições
meteorológicas na Europa no início
da época de produção, levou a um
aumento repentino do preço e dos
custos de produção.
O aumento dos custos de produção,
juntamente com a subida dos preços,
as flutuações do consumo de leite e a
competitividade do mercado fizeram
do ano de 2013 um grande desafio à
produção leiteira mundial.
Obviamente que as diferentes épocas
produtivas em ambos os hemisférios
fazem com que o mercado mundial no
que diz respeito à produção de leite
verifique variações interessantes.
EUA e Austrália
É curioso notar que, embora os
EUA tenham passado por uma crise
económica marcada, principalmente
devido ao grande atraso na aprovação
do orçamento de estado do país,
durante o último trimestre de 2013,
seguindo a tendência dos primeiros
trimestres verificou-se um aumento
na produção mensal de leite, assim
como na produção mensal de leite por
vaca. Com um mercado competitivo
e mediante o aparecimento de novos
mercados importadores, os EUA
fecham o ano confiantes de que o
próximo ano seja igualmente favorável.
A Austrália também encerra o ano
de modo positivo, prevendo um
aumento na produção na ordem dos
2% para 2014. Essa previsão devese principalmente a um aumento no
40 janeiro . fevereiro . março 2014 Ruminantes
número de vacas produtoras. Com a
desvalorização do dólar australiano e
com o aumento do preço do mercado
mundial, os preços nacionais na
Austrália tendem a ser favoráveis a um
aumento da produção.
Índia e Japão
Os novos mercados mundiais sofrem
às mãos dos grandes titãs de produção
mundial de leite. O Japão, com a
desvalorização do yen face ao dólar
e com a competitividade do mercado
internacional, surge neste panorama
como grande importador de leite e
de produtos lácteos. Para além disso
verifica-se que um grande número de
pequenos e médios produtores têm-se
visto forçados a cessar a produção
devido à grande competitividade
internacional e pelos elevados custos
de produção.
A Índia, curiosamente, aparece neste
fim de ano com uma situação contrária
do que é verificado no mercado
economia
oriental, apresentando previsões de crescimento e aumento
da produção de leite, principalmente devido aos preços
favoráveis e ao forte poder exportador deste país.
Preço médio do leite de janeiro a outubro 2013
40
39,86
Europa
38
países
companhia
preço do leite
(€/100kg)
outubro 2013
média dos
ultimos 12
meses (4)
36,62
Milcobel
40,03
Alois Müller
39,88
36,18
Nordmilch
41,03
35,48
Arla Foods
39,03
37,58
Hameenlinnan
Osuusmeijeri
45,17
45,11
Bongrain CLE
(Basse Normandie)
39,44
34,83
Danone
38,43
35,09
Lactalis (Pays de la
Loire)
36,18
34,48
bélgica
alemanha
Dinamarca
Finlândia
França
Inglaterra
Irlanda
38,00
34,69
39,95
35,95
First Milk
35,41
33,72
Glanbia
39,01
37,09
Kerry
38,84
36,42
34
33,58
32
2013
2012
30
2011
Dez
Nov
Out
Set
Ago
Jul
Jun
Mai
Abr
Mar
Fev
Jan
28
Portugal tem sofrido com a crise e as dificuldades
económicas do país, prejudicando o consumo. Os últimos
dados a que tivemos acesso à data de fecho desta
edição apontam para quebras da produção nos meses
de agosto e setembro (de respetivamente 4,6% e 2,6%).
Relativamente ao próximo ano, sabe-se apenas que
os desafios produtivos não serão menores do que os
verificados em 2013.
leite à produção
Preços médios mensais em 2013
meses
eur/kg
teor médio
de matéria
gorda (%)
Contin.
Açores
Contin.
outubro
0,292
0,320
novembro
0,312
0,324
dezembro
0,312
0,323
3,91
janeiro
0,320
0,319
3,86
teor proteico
(%)
Açores
Contin.
Açores
3,78
3,94
3,30
3,17
3,91
3,98
3,37
3,23
3,97
3,33
3,20
3,88
3,32
3,13
3,14
Granarolo (North)
44,11
41,27
fevereiro
0,321
0,318
3,86
3,78
3,31
DOC Kaas
39,83
37,01
março
0,322
0,316
3,79
3,84
3,32
3,17
Friesland Campina
43,43
39,29
abril
0,337
0,312
3,75
3,73
3,27
3,21
37,82
35,24
Maio
0,319
0,309
3,72
3,64
3,26
3,20
Emmi A.G.
54,38
48,85
Junho
0,330
0,313
3,69
3,70
3,22
3,15
Nova
Zelândia
Fonterra
40,09
33,75
Julho
0,325
0,326
3,60
3,76
3,16
3,11
EUA
EUA (3)
Agosto
0,327
0,327
3,64
3,79
3,19
3,10
Setembro
0,358
0,342
3,71
3,87
3,25
3,14
outubro
0,360
0,343
3,78
3,92
3,28
3,24
Holanda
Preço médio leite (2)
Suiça
32,82
Fonte: LTO
(1) Preços sem IVA, pagos ao produtor; Preço do leite de diferentes empresas
leiteiras para 4,2% de MG e 3,4 de teor proteico • (2) Média aritmética
(3) Ajustado para 4,2% gordura, 3,4% proteina e contagem de células
somáticas 249,999/ml • (4) Inclui o pagamento suplementar mais recente
33,83
2013
Itália
Sodiaal
Dairy Crest
(Davidstow)
35,50
2012
preço do leite
standardizado (1)
36
euro/100 kg
O mercado europeu tem sofrido imenso com a contração
da economia da União Europeia e com o constante
aumento nos custos de produção acompanhados pela
diminuição do poder de compra. Porém, verifica-se que a
Europa do Norte tem tido forças para combater no mercado
internacional, tendo aumentado a produção de leite ao
longo do ano de 2013.
O mesmo não se verifica com os países do sul,
principalmente na medida em que os países mediterrânicos
são os que mais têm sido afetados pela crise económica
europeia. Contudo, a Espanha surge como uma exceção,
onde o consumo de produtos lácteos tem aumentado,
garantindo condições para que a produção de leite se
mantenha forte, sendo assim o único país da Europa do Sul
que aumentou a sua produção este ano.
Fonte: SIMA
Gabinete de Planeamento e Políticas
ruminantes janeiro . fevereiro . março 2014 41
economia
ÍNDICE VL
Bom momento para a produção de leite
POR:
António Moitinho Rodrigues, docente/investigador, Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Castelo Branco
Carlos Vouzela, docente/investigador, Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores
Nuno Marques, revista Ruminantes
No n.º 11 da revista Ruminantes, editado
em outubro de 2013 (Ruminantes, Ano
3 – N.º 11), foi publicado, pela primeira
vez em Portugal, o Índice VL que é
um indicador que pretende medir a
rentabilidade da produção de leite e
que está muito dependente do custo da
alimentação. O Índice VL refletiu para o
período de julho de 2012 a julho de 2013
a evolução do cociente entre a receita
obtida com a venda do leite produzido
por vaca da exploração e os custos
associados à alimentação da mesma
vaca (Rodrigues et al., 2012).
Analisando neste número o período de
agosto a outubro de 2013, verifica-se
que a evolução dos preços do leite e
dos alimentos foi favorável ao produtor
uma vez que o preço do leite subiu
(SIMA, 2013) e os custos alimentares
desceram. Isso refletiu-se no Índice VL
que em outubro de 2013 atingiu 1,833
quando há um ano estava em 1,428. Se
considerarmos que o valor 1,5 é um valor
moderado representando um negócio
saudável e 2 é um valor elevado muito
favorável para o sucesso económico da
exploração (Schröer-Merker et al., 2012),
vemos que os produtores vivem um
bom momento. Ainda que o Índice VL
não possa ser calculado para novembro
e dezembro de 2013, as previsões
apontam para a manutenção daquela
tendência, prevendo-se que os preços
do leite e da alimentação se continuem
a manter “interessantes”.
O bom momento que atravessa o
negócio da produção de leite deve ser
encarado pelos produtores de forma
positiva, como uma oportunidade,
mas sem esquecer que, no verão de
2012, o Índice VL esteve muito abaixo
do considerado “negócio saudável”.
Como cada vez mais os negócios são
instáveis, quer pelo preço de venda
do leite quer pelo preço de compra
dos alimentos, esse mau momento
pode (infelizmente) voltar a acontecer.
Os investimentos feitos nos “bons
momentos” não devem comprometer os
momentos menos bons do negócio.
notas:
O preço do leite pago ao produtor do continente aumentou
acentuadamente de julho a outubro de 2013. Em outubro
atingiu 0,360€/kg;
O preço das 3 principais matérias-primas que entram na
formulação do alimento composto diminuíram de julho
a outubro. Esta variação traduziu-se numa tendência
decrescente do preço do alimento composto;
Desde setembro que o preço da silagem de milho e da palha
de cevada está mais baixo do que na mesma altura do ano
passado;
Os 3 aspetos anteriores refletem-se no Índice VL que,
em outubro de 2013, foi de 1,833. De acordo com SchröerMerker et al. (2012), o Índice VL próximo de 2 é elevado
sendo indicador de condições favoráveis para o sucesso
económico da exploração de leite.
Bibliografia:
Rodrigues, AM; Vouzela, C; Marques, N (2013). Índice Vl, uma
ferramenta útil para a bovinicultura leiteira. Ruminantes, Ano
3, N.º 11: 42-43.
Schröer-Merker, E; Wesseling, K; Nasrollahzadeh, M (2012).
Monitoring milk:feed price ratio 1996-2011. In: Chapter 2 –
Global monitoring dairy economic indicators 1996-2011, IFCN
Dairy Report 2012, Torsten Hemme editor, p 52-53. Published
by IFCN Dairy Research Center, Schauenburgerstrate,
Germany.
SIMA (2013). Leite à produção - Preços Médios Mensais
em 2013. Sistema de Informação de Mercados Agrícolas,
Gabinete de Planeamento e Políticas. http://www.gpp.pt/cot/
acesso em 14-12-2013.
Evolução do Índice VL
2013
2012
Outubro
Índice VL
1,428
Novembro
1,524
Dezembro
1,522
janeiro
1,605
fevereiro
1,613
março
1,615
abril
1,700
Maio
1,585
Junho
1,643
Julho
1,651
Agosto
1,603
Setembro
1,853
outubro
1,833
Valor do Índice VL
DE JULHO DE 2012 a outubro de 2013
O valor é influenciado pela variação mensal do preço do leite pago ao
produtor português e pelas variações mensais dos preços dos alimentos que
constituem o regime alimentar da vaca tipo (concentrado 9,5 kg/dia; silagem
de milho 33 kg/dia; palha de cevada 2 kg/dia).
2,0
Valores do Índice VL
últimos 13 Meses
1,5
1,0
julho 2012
Limiar de rentabilidade
42 janeiro . fevereiro . março 2014 Ruminantes
outubro 2013
Negócio saudável
Forte ameaça para a rentabilidade da exploração
genética
Pedro Campos
Concursos
da raça Frísia
Eng.º Zootécnico
[email protected]
Se uma vaca tem um bom tipo funcional, tem maior possibilidade de produzir
grandes volumes de leite, de forma mais fácil e económica, ao longo de mais
lactações, trazendo, portanto, mais rentabilidade para o criador.
FIGURA 1
World Dairy expo 2013.
É exclusivamente em torno da
morfologia das fêmeas da raça Frísia
que se desenrolam os concursos. Estas
competições garantem a promoção
e desenvolvimento da Holstein,
baseada na conformação funcional,
que se relaciona intimamente com
a longevidade e todos os aspetos
associados ao bem-estar animal.
Os concursos têm por objetivo a
avaliação morfológica dos bovinos da
raça Holstein Frísia e os progressos
que se têm verificado no seu
desenvolvimento genético, bem
como proporcionar aos criadores a
oportunidade de mostrarem o esforço
que vêm desenvolvendo na sua seleção.
Constituem ainda oportunidade de
aprender sobre gado leiteiro para
aquelas pessoas que não estão
diretamente ligadas a esta atividade.
A qualidade e a quantidade das
explorações participantes, o ambiente
de competição saudável, a comparação
com os demais, conviver e socializar
com os colegas do país e do estrangeiro,
são alguns dos ingredientes que
fazem desses eventos os “palcos” de
excelência das Holstein.
Nos países em que se dá a importância
devida ao melhoramento, um animal
que se destaque num concurso adquire
enormes vantagens comerciais e
de mercado. De forma automática, o
exemplar campeão e sua descendência,
convertem-se em animais de mais
valor. Ganhar um concurso também
significa muito para a empresa de sémen
proprietária do pai e dos filhos do animal
premiado.
Como exemplo paradigmático, em 2009
foi vendida num leilão no Canadá uma
vaca de 3 anos (Eastside Lewisdale Gold
Missy) por 1,2 M$, até então o valor mais
alto num evento publico. Acabava de se
destacar num concurso e posteriormente
foi campeã suprema nos dois maiores
concursos do mundo, com perspetivas
de fornecimento de descendência
para empresas de genética num valor
superior a 3 M$.
Em Portugal, infelizmente, ainda há
um longo caminho a percorrer na
valorização da genética bovina. Os
animais que se destacam nos concursos
não têm o reconhecimento devido,
como atenuante, os prémios pecuniários
com que se distinguem os animais
vencedores, são por si só. um bom
incentivo à participação.
Um concurso comporta várias secções,
de acordo com a idade e estado da
lactação dos animais. Em relação à
abrangência dos criadores podem ser de
âmbito local, regional, nacional, aberto ou
internacional.
Em Portugal cabe à Associação
Portuguesa dos Criadores da Raça
Frísia (APCRF) acreditar os concursos
44 janeiro . fevereiro . março 2014 Ruminantes
pecuários da raça. A organização de
determinado concurso elabora um
regulamento que serve de guião,
onde constam todas as informações e
procedimentos obrigatórios (secções,
condições sanitárias, prazos a cumprir,
normas, âmbito, prêmios, etc.) que todos
os participantes terão cumprir.
Os juízes
O julgamento dos animais em pista é
delegado num juiz, quase sempre um
criador de referência, com experiência
prática na apresentação de animais em
concurso.
O trabalho do juiz é analisar
individualmente cada animal, classificar
do melhor para o pior os participantes
de cada secção, com base na sua
conformação (tendo em mente o
modelo da vaca Frísia ideal), a sua
preparação e apresentação em pista.
Por fim explicar, de forma simples, clara
e concisa aos exibidores e espetadores,
porque os ordenou daquela forma. Os
juízes adquirem a sua formação nas
denominadas escolas de juízes. Estes
eventos contribuem para a formação
geral dos criadores, atraem novos
participantes e entusiastas para esta
temática. Por outro lado, avalizam alguns
deles para exercer funções de juízes
nacionais. A APCRF realiza com alguma
regularidade estas ações.
A opinião do juiz é soberana, todos os
exibidores têm a obrigação de acatar
ordeiramente as suas ordens e decisões.
Portugal através da Apcrf faz parte
da European Holstein & Red Holstein
Confederation (EHRC) que tem um grupo
de trabalho para harmonização de juízes
na Europa (tendo sido já realizada uma
reunião no nosso país, em 2002).
Os esforços que se estão a fazer com
a harmonização do julgamento das
genética
Holstein em concurso, visam uma maior clareza
e transparência, baseada num critério mais
justo e de menor erro por parte do juiz, bem
como, uniformização de critérios e protocolos
de julgamento e partilha de conhecimentos.
Os concursos em Portugal
Na última década o panorama dos concursos
a nível nacional alterou-se consideravelmente.
Se até então apenas se realizavam o concurso
nacional, o regional de Aveiro e o da Moita (que
acabou por desaparecer), no início da década
surgiram novos concursos, maioritariamente
a norte do país e nas ilhas. Atualmente
são concursos de referência, colmatando a
inexistência de concursos em regiões que
se destacam pela quantidade e qualidade de
animais e explorações. Em 2013 realizaram-se,
no continente, os seguintes concursos: Trofa (11ª
edição), Agro – Braga (3ª edição), Alto Minho –
Ponte de Lima (6ªedição), Águeda (6ª edição),
Leicar (10ª edição), Faceco – Odemira (10ª
edição), Ferreira-a-Nova (11ª edição), Arazede
(12ª edição) e a 1ª edição do concurso de Santa
Catarina em Celorico de Basto. Nas ilhas, o 12º
concurso de S.Miguel, o 15º da Ilha Terceira e
a Feira Açores no Faial. Realizam-se também
com regularidade concursos no Pico, S.Jorge e
Graciosa. Ficaram por realizar o concurso mais
antigo do país, o regional de Aveiro (que já
conta com 56 edições), e o 33º Nacional, que se
realizava também em Aveiro no final do ano, a
encerrar a temporada dos concursos. A maioria
destes concursos é de âmbito regional ou local.
Nos últimos anos as exceções são o Nacional,
que é aberto a criadores de todo o país, tendo
inclusive já concorrido criadores açorianos, e a
Feira Açores onde competem animais das ilhas
com maior expressão na produção de leite.
Em Portugal, a tendência que se verifica nos
últimos anos, aponta para um número reduzido
de criadores por Concurso, participando cada
um com muitos animais, o que de alguma
forma empobrece a competição. No Continente,
um dos concursos de maior dimensão, pela
sua abrangência territorial, o Nacional, é o
que reúne maior número de produtores, mas
mesmo assim, aquém do que acontece noutros
países. Neste aspeto o melhor exemplo que
temos é o concurso de S.Miguel, que nos
últimos anos é o concurso português com
maior número de animais e de criadores em
competição, graças à grande qualidade dos
animais e à grande importância que os seus
criadores dão ao melhoramento animal e aos
concursos. Para este facto, muito contribui
o empenho, o profissionalismo e brio que a
Associação Agricola de S. Miguel coloca na
promoção da genética Holstein Micaelense.
De forma geral, parece notar-se um certo
rejuvenescimento nos participantes dos
concursos, com entrada de novos jovens
criadores. Esperemos que esta tendência
continue e que estes eventos alcancem
a notoriedade devida, de forma a serem
um contributo válido na economia das
nossas explorações. Para tal é necessário
o empenho de todos os protagonistas do
setor promovendo a necessária mudança de
mentalidades de muitos dos nossos criadores.
Por exemplo, os concelhos que lideram a
produção de leite em Portugal têm uma baixa
expressividade em termos de participação nos
concursos.
Os concursos lá fora
É na América do Norte que os concursos têm
mais peso e notoriedade. Todo o aficionado
sonha um dia poder viajar para os EUA no
início de outubro para assistir à World Dairy
Expo em Madison, ou um mês mais tarde, ao
Royal Winter Fair em Toronto, no Canadá, as
duas melhores pistas de concurso do mundo,
onde poderá ver desfilar as melhores Holstein
do planeta.
A nível europeu, a generalidade dos países com
mais tradição na produção de leite, já realizam
concursos de muito bom nível. Sem ter de
efetuar grandes viagens temos oportunidade
de assistir em Espanha a vários concursos de
boa qualidade, onde se destacam os regionais/
autonómicos da Galiza, Astúrias e Cantábria,
a par do Nacional de outono em Gijon. Aqui, é
possível comparar o que se faz no país vizinho
com o que temos dentro de portas.
Merece igualmente destaque a Confrontação
Europeia, onde concorrem na mesma pista
vacas de vários países europeus. As últimas
edições realizaram-se em Itália (2010) e em
março último na Suíça, sendo que em ambas
painel de juízes
nacional
O painel de juízes nacional é
composto por 6 elementos. Os
que exercem funções há mais
tempo, Eng. Simões Dias e Luis
Mota, fazem parte do painel de
juízes Europeu. O ano 2012 ficará
para história no reconhecimento
aos juízes portugueses já que
tivemos pela primeira vez um juiz
nacional, Luís Mota, a julgar um
concurso nacional estrangeiro, o
da Suécia. E em 2013 voltou a ser
chamado para ajuizar um dos mais
importantes concursos espanhóis,
o regional da Cantábria, factos
que por si só constituem a prova
da qualidade dos nossos juízes,
do esforço e da credibilidade da
APCRF.
Apesar da existência de
juízes nacionais com méritos
reconhecidos para os principais
concursos que se realizam
entre nós são chamados juízes
estrangeiros, tendo já julgado em
Portugal muito dos juízes mais
conceituados a nível mundial,
que já julgaram os grandes
concursos da América do Norte,
a confrontação europeia e os
principais concursos nacionais
da Europa. A titulo de exemplo,
Callum Mckinven, John Crowley,
Donald Dubois, David Crack
Jr., Tom Kelly , David Boyd, John
Gribbon, Eric Hansen, Neils Erik
Haahr, Markus Mock e quase
todos os juizes espanhois.
FIGURA 2
Concurso S. Miguel 2013.
ruminantes janeiro . fevereiro . março 2014 45
genética
saíram triunfadoras as vacas apresentadas pelos suíços. Por seu lado, Espanha
arrecadou o título de melhor grupo por país no último evento. A próxima edição
está prevista para 2016 em França. E que bom seria para a promoção e visibilidade
do nosso país, do setor leiteiro em geral e da nossa genética em particular, se
apresentássemos em França as nossas melhores vacas!? Até porque já vão longe
as participações de Portugal em Confrontações Europeias (Barcelona e Bruxelas na
década de 90).
Apesar deste facto, é em Portugal que se passa, provavelmente, um caso único a
nível mundial, em que a mesma vaca alcançou o título de Vaca Grande Campeã
Nacional durante quatro anos consecutivos. Trata-se da “Senras Crew Marina”,
da exploração Senras Dairy de V. N. de Famalicão. Honras sejam feitas a esse
belíssimo animal, a melhor vaca Holstein que nasceu em Portugal, e ao seu criador.
FIGURA 3
Senras Crew Marina.
Resumindo
A participação em concursos e
exposições requere investimento
em tempo e dinheiro, sem garantias
de retorno económico, mas, em
contrapartida o reconhecimento
do nosso trabalho e a satisfação
pela obtenção de um prémio,
acompanhadas de um bocadinho de
paixão, fazem com que valha a pena.
Os concursos vão beneficiar, a longo
prazo, não só os criadores que intervêm
diretamente, mas o setor leiteiro no
seu conjunto. Através dos mesmos
vão-se fixando standards que ajudam
a melhorar a seleção de exemplares
para reprodução e produção, no
fundo, a aumentar a rentabilidade
de um setor tão importante para a
economia nacional, que tem como
pilar a vaca Holstein Frísia, a rainha das
raças bovinas leiteiras. E as pistas de
concurso são provavelmente o único
lugar para ver reunidos “Os melhores
da raça Frísia...”
Produção “greening”
no contexto da PAC 2014-2020
POR Jerónimo Pinto, Engº Agrónomo, Eurocereal, SA
No contexto das novas regras da
PAC 2014-2020, as produções
animais, nomeadamente as de
ruminantes, terão que ser mais
amigas do ambiente, sobretudo
no que se refere à gestão do ciclo
do azoto entre o solo, as culturas
forrageiras e arvenses e a produção
de leite/carne.
A gestão do ciclo do azoto obriga
a atuações bem concertadas,
simultaneamente sobre os diversos
inputs (fertilização azotada, fixação
de azoto por rhizobium com
leguminosas, gestão da proteína
na alimentação animal) e sobre
os outputs, tanto nas produções
(leite/carne), como nos efluentes
(estrumes/chorumes) e nos impactos
ambientais das suas emissões
(amoníaco e nitratos/nitritos).
Mais que nunca, é necessária
uma visão global do conjunto
agropecuário-ambiental de cada
Leite e carne
Alimentação
Animal
Forragens
Rhizobium
Amoníaco
Efluentes
Solo
Fertilização
N2O, NOx
Nitrato
Gestão Global Greening
exploração, com decisões muito bem
encadeadas/coerentes a todos os níveis
da produção (solos, culturas, leite/carne).
46 janeiro . fevereiro . março 2014 Ruminantes
É imprescindível uma gestão global
que resulta da perfeita coordenação
entre todas as áreas operacionais e os
diversos profissionais intervenientes
(produção/conservação das forragens,
formulação nutricional da alimentação
animal, gestão e valorização
agronómica dos efluentes, etc).
A gestão global dos inputs-outputs para
cada exploração é a base do sistema
Holandês MINAS (1998), do Dairy Cattle
Nitrogen Excretion Calculator (2005)
de Cornell University Dept. of Animal
Science e do simulador CowNex (2013)
desenvolvido pelo INRA – Institut
National de Recherche Agronomique, no
âmbito do projeto “RedNex” – Reduce
Nitrogen Excretion by Ruminants
(www.rednex-fp7.eu) que reuniu 10
universidades europeias num projeto
conjunto para o desenvolvimento de
soluções inovadoras e práticas no
sentido de reduzir a excreção de azoto
para o ambiente.
atualidades
VI Seminário de
Ruminantes
Previsão aponta para aumento
de produção de carne em 2014
No passado mês de outubro
realizou-se o VI Seminário de
Ruminantes organizado pela
empresa Invivonsa, sob o lema
“Eficiência na Produção Leiteira”.
Deste seminário fizeram parte
comunicações sobre diversos
temas como “Micotoxinas – controlo
analítico como fator de eficiência
alimentar” por Erwan Leroux da
Neovia; “Eficiência Leiteira –
rentabilidade da exploração” por
Elisabete Martins da Invivonsa;
“Maximizar a eficiência proteica
na produção leiteira” por Elisabete
Martins da Invivonsa; “Prémisturas à
Lupa” por Carla Aguiar da Invivonsa.
Jean-François Verdenal, Presidente
da EDF, fechou as apresentações
com a intervenção “Produção
leiteira na Europa e enquadramento
português”.
Segundo o relatório publicado no site do
USDA[1], a produção mundial de carne irá
aumentar em 2014, prevendo-se cerca
de 58,6 milhões de toneladas face às
57 milhões de toneladas produzidas em
2013. Este aumento deve-se ao facto
da maioria dos grandes produtores
acreditarem que vão ter disponível
alimentação para os animais a preços
mais económicos, devido à abundância
de cereais no mercado, e ao aumento
da procura por parte de países grandes
importadores de carne como a China e
o Japão. A exportação mundial de carne
cresceu 24% nos últimos cinco anos
sendo o Brasil e a Índia os principais
responsáveis por este aumento.
Não obstante ser ainda o principal
produtor de gado bovino, segundo o
relatório “Livestock and Poultry: world
markets and trade”, os EUA verão a
produção de carne de vaca descer
6%, o que se traduzirá em 11 milhões
de toneladas, e o consumo diminuir
5%. O declínio do número de cabeças
por produtor, devido a baixas taxas
de reprodução, e à diminuição da
importação de gado vivo, contribuirão
para manter o cenário já verificado em
2013.
Na União Europeia o mercado da carne
comportar-se-á de outra forma. Prevê-se
um ligeiro aumento da produção de carne
bovina, na ordem das 7,8 milhões de
toneladas, associada a uma ligeira redução
de preços. Segundo o relatório, o consumo
não sofrerá alterações. A União Europeia
continuará a importar 350 mil toneladas
de carne e a exportar apenas 270 mil
toneladas, apesar deste valor corresponder
a um aumento de 4% nas exportações.
[1]
United States Department of Agriculture.
ruminantes janeiro . fevereiro . março 2014 47
Genética
david catita
criador limousine, serpa - portugal
[email protected]
CONSUMO DE
CARNE DE BOVINO
NO CONTEXTO DA CRISE EM PORTUGAL
O consumo de carne em Portugal oscila inevitavelmente com a variação do poder de
compra e o consumo de carne de bovino tem manifestado uma tendência decrescente no
contexto da crise que Portugal atravessa.
Por mês, são abatidas em
Portugal cerca de 7000
toneladas de gado bovino, um
valor que representa apenas
45% das necessidades do
mercado, havendo ainda uma
necessidade de importação de
cerca de 55%.
O consumo anual nacional
de carne per capita, ronda
os 100 kg, dos quais cerca
de 18,5 kg correspondem a
carne de bovino. Este valor
implica que são consumidos
em Portugal cerca de 185
000 toneladas de carne de
bovino, dos quais Portugal
produz cerca de 84 000
toneladas.
Vale a pena pensar neste
número. De acordo com
informação do INE de
2009, em Portugal existem
aproximadamente 420 000
vacas de carne, e cerca de 300
000 vacas leiteiras. Assim, se
considerarmos uma contribuição
das vacas leiteiras em termos
de produtos de carne (bezerros),
com apenas 100 kg de carne por
vaca, e fazendo a aproximação
que 1/6 da produção é para
reposição do efetivo leiteiro,
resulta que do efetivo leiteiro
resultam anualmente 25 000
toneladas de carne. Assim, as
restantes 60 000 toneladas
são produzidas pelas 420 000
48 janeiro . fevereiro . março 2014 Ruminantes
vacas de carne, o que, fazendo
a mesma subtração de 1/6 para
reposição do efetivo nacional,
corresponderá a uma média de
170 kg de produção de carne
por cada vaca, de uma forma
muito grosseira, uma vez que
muitos animais de refugo vão
também para abate. Esta média,
como todas as médias, mascara
a verdadeira realidade, na qual
muitas vacas não produzem
nada, ficando a produção efetiva
para os núcleos com maior
qualidade.
Nas raças mais produtivas, como
a raça limousine, cada vaca tem
um potencial de produzir, pelo
menos, 340 kg de carcaça por
ano, ou seja, o dobro da média
atual.
É possível concluir que o
melhoramento genético das
vacadas e o reforço do maneio
alimentar poderia fazer virar a
balança comercial a favor de
Portugal, e a partir das atuais
vacas de carne produzirem-se
cerca de 142 000 toneladas
de carne, o que, somando à
contribuição das vacas leiteiras,
poderia tornar Portugal num
país auto-suficiente em carne
de bovino, e assim não estar tão
sujeito a produtos de produção
duvidosa, nomeadamente a
proveniente de países em que é
legal a utilização de transgénicos
e hormonas estimulantes de
crescimento.
De acordo com uma recente
apresentação em Portugal
do Prof. Vicente Jimeno, uma
autoridade espanhola do
Departamento de Produção
Animal da Universidade
Politécnica de Madrid, é possível
identificar três grupos distintos
de bovinos de engorda, cada um
com um desempenho diferente
em termos de rendimento para
o criador.
Foi também referido que cada
engordador deve fazer uma
gestão criteriosa dos grupos
de engorda, separando os
animais em grupos pequenos,
com 20 animais no máximo,
aos quais seja possível dar a
Genética
alimentação certa, no momento
adequado, e permitindo observar
a quantidade de alimentos
que cada grupo consome, para
chegar ao índice de conversão
de cada animal, ou seja, os quilos
de alimentos necessários para
repor um quilo de peso vivo. Não
vale a pena regatear cêntimos
em ração quando alguns animais
desperdiçam comida sem
crescimento ou com reposição
excessiva de gordura que é
retirada no abate.
Produzir mais e melhor é
possível, e o reforço expetável
da produção de alimentos para
o gado, com as novas áreas
de regadio no sul de Portugal,
implica que existem condições
reais para aumentar a produção
nacional, garantindo a qualidade
e a sustentabilidade da nossa
agricultura. De pouco serve
fomentar as exportações se
tivermos de importar na mesma
proporção.
Desempenho
Baixo
Médio
Alto
Leiteiros e Angus
Autóctones cruzadas
Limousine e Blonde
Custo de aquisição
Baixo
Médio
Alto
Ganho médio diário
Baixo
Médio
Alto
Maior velocidade
Velocidade média
Baixa velocidade
Raças
Crescimento adiposo
Consumo alimento
Alto
Médio
Baixo
Índices conversão
Alto (8 a 9)
Médio (6 a 7)
Baixo (4 a 5)
Baixo
Médio
Alto
Peso vivo no sacrifício
% de carne na carcaça
Baixa
Média
Alta
Rendimento carcaça
50% a 55%
55% a 60%
60% a 65%
Baixo
Médio
Alto
Lucro (Venda – custos)
TABELA
Desempenho dos três grupos de bovinos de engorda referidos pelo Prof. Vicente Jimeno, 2013
A pressão dos países do
continente americano, para
onde Portugal e Espanha
querem enviar azeite e
vinho e outros países
europeus querem enviar
tecnologia, torna a Europa
cada vez mais permeável à
importação de carne bovina
americana, o que apenas
pode ser contrariado se
existir produção própria
e o consumidor estiver
sensibilizado para escolher o
que é nacional e o que tem
qualidade. Cabe, no entanto,
aos produtores nacionais
fazerem a primeira parte
deste trabalho e melhorar a
genética das vacadas para
aumentar a produção. Importa
melhorar em qualidade
genética mais do que
aumentar em número.
ruminantes janeiro . fevereiro . março 2014 49
Atualidades
Tecadi propõe aos produtores de leite
”a melhoria da qualidade da silagem de
erva e da fertilidade das vacas”
Figura 1
Simpósio em Évora.
Em dezembro, a Tecadi Lda.
organizou 2 simpósios em
colaboração com a Lallemand
e a BASF, sobre ”Como
preparar a silagem de erva e
Combi CLA na alimentação
da vaca leiteira”. Nestes
encontros, que decorreram no
Évora Hotel e na Cooperativa
Agrícola de Vila do Conde,
estiveram presentes
essencialmente produtores
de leite, mas também
nutricionistas, médicos
veterinários e professores
universitários. Por parte da
Tecadi estiveram presentes
os Engos. Luís Ferraz, Paula
Ventura e Manuel Ortigão.
O primeiro tema, “Influência
da nutrição na fertilidade da
vaca leiteira”, esteve a cargo
do Dr. José Caiado (Dairy
Consulting) que elencou de
forma prática os diversos
aspetos nutricionais e de
maneio que interferem na
fertilidade, propondo soluções
para contrariar a normal
tendência dos índices de
fertilidade piorarem na razão
inversa do aumento da
produção leiteira.
O Eng.º Luís Queirós (Feed
Additives Technical Support
Manager - LALLEMAND),
responsável pelo apoio
de campo aos inoculantes
Lalsil a nível internacional,
falou sobre “Os desafios
na execução da SILAGEM
de ERVA com qualidade:
como preservar a proteína”.
Com imagens elucidativas
sobre os efeitos de uma
má preparação da silagem,
lembrou a importância, no
atual contexto de custos de
matérias-primas, de preservar
o valor da silagem.
No caso concreto da silagem
de erva, dois pontos deverão
ser tidos em consideração: a
preservação da qualidade da
proteína, evitando ao máximo
a proteólise, responsável
pela produção de azoto
amoniacal e das indesejáveis
aminas biogénicas e a
recuperação de matéria seca,
50 janeiro . fevereiro . março 2014 Ruminantes
principalmente em silagens
de erva e/ou leguminosas
com teores de humidade mais
baixos. Neste último caso,
também dois pormenores
deverão merecer a máxima
atenção por parte do produtor
de leite: o processo de
pré-fenação que, sendo
importante na concentração
de açúcares solúveis, por
forma a termos combustível
para a fermentação desejável,
deverá ser o mais curto
possível, até atingirmos a
matéria seca ideal, no sentido
de melhorarmos a qualidade
da fibra e impedirmos o
consumo de nutrientes
pelo processo respiratório;
o segundo ponto passa
pela estabilidade aeróbica
da silagem de erva, durante
a utilização da mesma. A
produção de ácidos de
fermentação, nomeadamente
acético e propiónico, garante
as características antifúngicas
necessárias para impedir o
aquecimento da silagem,
aumentando assim a sua
estabilidade aeróbica. A
produção destes ácidos
apenas é conseguida através
da utilização de bactérias
heterofermentativas, como o
Lactobacillus buchneri, NCIMB
40788, presente na maior
parte dos inoculantes da
gama LALSIL.
Seguidamente o Dr. Christoph
Güenther (BASF) falou sobre
“Lutrell, a chave para melhorar
os resultados de toda a vida
produtiva da vaca leiteira”.
Apresentou o princípio ativo
do produto, o ácido linoleico
conjugado (CLA) protegido da
degradação no rúmen e seu
modo de atuação. Mostrou a
importância de um produto
destinado ao periparto
das vacas que contrarie o
balanço energético negativo
deste período da vida dos
animais. Mostrou que dessa
forma se consegue ajudar
o metabolismo, reduzindo
a gordura hepática e
Figura 2
Reunião na Cooperativa Agrícola de
Vila do Conde.
atualidades
melhorando a disponibilidade de glucose
no pós-parto.
As vacas alimentadas com Lutrell
apresentam melhor condição corporal,
menor incidência de cetoses e outros
problemas metabólicos e melhor
fertilidade, consubstanciada numa melhor
taxa de não retorno, num encurtamento
do intervalo entre partos, num menor
refugo de vacas por problemas de
fertilidade e numa redução dos custos
com medicação. A produção de leite é
significativamente aumentada, havendo
a registar também uma redução do teor
butiroso do leite, compensado pelo total
de gordura produzido no total da lactação.
Apresentou resultados de Centros de
Investigação e de ensaios de campo.
tabela 1
Utilização de Combi CLA em Portugal (2011-13). Média dos resultados de 23 explorações
(total de 3170 vacas em lactação)
%
Kg
para vaca ano
Produção (L leite/dia)
+ 2,3 L
+ 7,5%
Gordura do leite
- 0,16
- 4%
+ 6%
- 33 €
Proteína do leite
- 0,03
-0%
+ 8%
-9€
Intervalo entre partos (4,50€/dia open)
Benefício Líquido
Retorno do Investimento (ROI)
- 16 dias open
+ 240 €
+ 72 €
+ 223 €
5:1
O Eng.º Manuel Ortigão, técnicocomercial da Tecadi na zona Norte e
Açores, apresentou uma atualização
dos resultados de dois anos e meio de
utilização do Combi CLA (pré-mistura de
Lutrell) em 23 explorações leiteiras em
Portugal.
Alguns dos produtores utilizaram o
Combi CLA no unifeed, outros nos
alimentadores automáticos, outros em
robots de ordenha, o que permitiu mostrar
que se podem obter resultados muito
positivos, qualquer que seja o sistema de
alimentação da exploração.
A Tabela 1 espelha o resultado obtido no
conjunto das 23 explorações, tendo havido
o cuidado de atribuir um valor económico
aos resultados obtidos em termos de
fertilidade e produção de leite.
Quanto à fertilidade, verificou-se uma
redução de 16 dias open em média,
uma melhor observação dos cios no
pós-parto, menor incidência de quistos
foliculares e de cetoses. Foi avaliado em
4,50€ o ganho por cada dia open que se
conseguiu reduzir em cada vaca.
No que se refere à produção de leite, a
média de incremento foi de 2,3 L/vaca
e dia. A percentagem de gordura do
leite reduziu 1,6 décimas mas no total
da lactação produziram-se mais 6% de
kg de gordura. De referir que em 3 das
explorações, a empresa que recolhe o leite
não penaliza a gordura, mas neste estudo
fizemos o cálculo como se penalizasse,
para que os resultados pudessem ser
comparáveis. A variação da percentagem
de proteína foi insignificante, tendo-se
produzido no total da lactação mais 8% de
kgs de proteína.
O retorno médio do investimento (ROI)
obtido nessas explorações foi de 5:1.
ruminantes janeiro . fevereiro . março 2014 51
SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL
CAPRINOS
Avaliação da
condição corporal
A condição corporal reflete o estado nutricional dos animais e apresenta
importantes implicações para a sua saúde e desempenho produtivo.
POR Ana Vieira1, Severiano Silva2, Inês Ajuda1, George Stilwell1
1
Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade de Lisboa, 2CECAV-UTAD, Quinta dos Prados, 5000-801 Vila Real
[email protected]
Neste artigo vamos explorar
de forma sumária a condição
corporal enquanto indicador
de bem-estar nas explorações,
apresentar o método
convencional de avaliação da
condição corporal e discutir
algumas das suas aplicações e
limites.
Condição corporal como
indicador de bem-estar
animal
A condição corporal (CC) tem
vindo a ser validada como
indicador de bem-estar não
apenas para o critério de
ausência de fome prolongada,
mas também para a ausência
de doença. A CC é ainda um
indicador importante para
a avaliação da eficácia de
programas alimentares.
Tradicionalmente em sistemas
extensivos, ou semi-intensivos,
associamos uma baixa CC a
alturas de escassez alimentar
quando os animais estão em
regime de pastoreio. Por outro
lado, em sistemas intensivos
devemos ter sempre presente
a possibilidade de estarmos
perante regimes nutricionais não
adequados à fase produtiva em
que se encontram os animais,
podendo por vezes haver um
deficit ou um excesso nutricional.
Ao longo dos anos têm sido
publicados estudos que
relacionam a CC com a presença
de doenças. Se este facto nos
parece evidente para doenças
que debilitam os animais,
como doença respiratória ou
mamites, podemos considerar
a CC como um bom sinal de
alerta para doenças que não são
clinicamente tão expressivas
como a presença de abcessos por
linfadenite caseosa (Ferrante et al.,
2012) ou paratuberculose (Smith e
Sherman, 2009).
Embora os casos de CC baixa
sejam associados com maior
frequência a problemas de
bem-estar, uma CC acima do
desejado também constitui um
grave problema. De facto, animais
obesos têm frequentemente
problemas de fertilidade e
metabólicos, como a toxémia de
gestação, ou doença dos gémeos,
que quando instalada no animal
é de difícil cura e quando curada
raramente permite ao animal
expressar todo o seu potencial
produtivo. Num estudo realizado
no Reino Unido por Anzuino et
al. (2010) verificou-se a presença
de cerca de 3,4% dos animais
com CC inferior a 1,5 e 2,7% dos
animais com CC acima 4 (escala
de 1 a 5). Num estudo-piloto de
levantamento de indicadores
de bem-estar realizado em
explorações intensivas de leite
em Portugal pela equipa AWIN,
verificou-se uma prevalência
média de 19% de animais com CC
inferior a 1,5 e 11% dos animais com
CC acima de 4. Estes estudos, a
par da dificuldade expressa por
alguns produtores em avaliar a
CC em caprinos, fundamentam
a necessidade de debater esta
ferramenta de avaliação.
52 janeiro . fevereiro . março 2014 Ruminantes
Como avaliar a
condição corporal?
Existe uma grande variedade de sistemas de
avaliação de CC, sendo que a grande distinção
entre os mesmos é serem apenas visuais ou
necessitarem de recorrer à palpação dos animais;
de avaliarem o animal como um todo ou atribuírem
diferentes classificações a diferentes zonas
anatómicas, classificações que são posteriormente
sumarizadas e ajustadas para fornecerem uma
classificação final do animal.
Neste artigo vamos basear-nos no método
apresentado e desenvolvido por Santucci et al.
(1991), por acreditarmos que este é o método
que melhor se aplicará na realidade das nossas
explorações.
O primeiro aspecto a considerar quando se avalia
a CC, é o de que estamos a fazer uma apreciação
das reservas corporais dos animais em termos
de tecido adiposo (TA) e a avaliar a capacidade
de mobilização (em períodos de carência de
alimento) ou deposição (em períodos de excesso
de alimento) do mesmo.
Para conseguir avaliar a CC temos de ter
conhecimento da localização das reservas
corporais, sob a forma de TA. O TA está distribuído
por diversos depósitos, que se encontram
espalhados por todo o corpo. Os mais relevantes
para os ruminantes são os depósitos associados
à carcaça (subcutâneo e intermuscular) e os
depósitos internos (omental, mesentérico, pélvico e
perirenal).
Os depósitos de TA no corpo do animal mantêm
a sua localização sendo, no entanto, a sua
importância variável segundo a espécie e a raça,
o sexo e o estado fisiológico. Nos caprinos os
depósitos internos de TA são relativamente mais
importantes que os da carcaça. Por outro lado,
os diferentes depósitos de TA apresentam uma
determinada ordem de deposição e mobilização.
De uma forma geral o TA subcutâneo é o último a
ser depositado e o primeiro a ser mobilizado.
SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL
3
4
1
2
FIGURA 1
Imagem que ilustra a localização da
região lombar na cabra e pormenor
da secção da região lombar com
destaque para as apófises espinhosa
e transversa e para o músculo
Longissimus thoracis et lumborum.
1. A proeminência das apófises espinhosas
e grau de cobertura das extremidades das
apófises espinhosas;
2. A proeminência das apófises transversas;
3. Desenvolvimento do músculo
Longissimus thoracis et lumborum;
4. Grau de cobertura das extremidades das
apófises transversas.
Definição do método
de notação da
condição corporal
Nos caprinos o método de
notação da condição corporal
é suportado por notas de CC
que são definidas sobre bases
anatómicas precisas e de
características identificáveis
por palpação nas regiões
lombar e esternal.
Região lombar
A região lombar é muito
conveniente para a avaliação
da CC uma vez que é de
fácil acesso, de estrutura
anatómica simples, que
apresenta desenvolvimento
tardio e na qual se deposita
em último lugar o TA
subcutâneo. Para além
destas características, o TA
da região lombar apresenta
uma correlação elevada
com as notas de CC. Por
outro lado, verifica-se uma
relação estreita entre o TA
subcutâneo lombar e outros
depósitos de TA (Delfa et al.,
1989), o que nos permite, a
partir do desenvolvimento da
região lombar, inferir sobre o
desenvolvimento dos outros
depósitos.
A palpação da região lombar
compreende quatro fases
distintas em que se apreciam
sucessivamente ( ver Figura 1).
Zona esternal
Como nos caprinos
se verifica um menor
desenvolvimento do TA
subcutâneo e uma maior
proporção de depósitos
internos, animais com
reduzido desenvolvimento
de TA lombar podem
apresentar um bom
desenvolvimento dos
depósitos internos de TA.
Esta é uma forte razão
para se escolher a região
esternal para uma avaliação
complementar das reservas
corporais nos caprinos.
Nesta região observa-se a
deposição de TA subcutâneo
que pode ser identificado
por palpação. Todavia esta
região apresenta algumas
particularidades que fazem
diminuir a sua utilidade
para a avaliação da CC:
nos animais adultos, há a
formação de uma calosidade,
especialmente importante
nos animais de idade superior
a 8 anos, que prejudica a
palpação (Santucci et al., 1991)
e nos animais jovens o TA é
de espessura reduzida, quer
na região lombar quer na
região esternal.
Com base na palpação
destas duas regiões
definiu-se uma escala
de notas entre 1 e 5. A
cada nota corresponde
um determinado
desenvolvimento do TA
subcutâneo e da massa
muscular. Em função
destas apreciações, a CC é
classificada de pobre (nota 1),
mediana (nota 2), avançada
(nota 3), gorda (nota 4) e
muito gorda (nota 5).
Nas Figuras 2 a 6 mostramse as imagens que ilustram
as várias notas de condição
corporal, assim como a sua
descrição.
nota 1
Condição
Corporal Pobre
Aspeto do animal: Animal
numa condição corporal
muito pobre. A espinha é
visível como uma crista
contínua, o flanco apresentase côncavo, as costelas são
visíveis e os ossos da garupa
são perceptíveis.
Região lombar: As apófises
espinhosas são perceptíveis
por palpação, como uma
massa proeminente e de
contornos bem marcados.
Os dedos passam facilmente
sob as apófises transversas,
sendo possível sentir os
espaços entre as vértebras.
O músculo Longissimus
thoracis ei lumborum
apresenta-se pouco
desenvolvido e virtualmente
sem TA subcutâneo na sua
cobertura.
Região esternal: O TA
subcutâneo esternal é
facilmente localizável e
avaliado pela ação dos dedos;
apresenta-se com uma forma
plana e ligeiramente duro;
move-se com a mão, da
direita para a esquerda. As
articulações condro-esternais
e o início das costelas podem
ser sentidas através de leve
toque com os dedos.
nota 2
Condição
Corporal Mediana
Aspeto do animal: Animal
ligeiramente ossudo; a
espinha ainda é bem visível, a
garupa é proeminente.
Região lombar: As apófises
espinhosas mostram-se
proeminentes mas de forma
arredondada. O espaço entre
as vértebras identificamse por palpação sem ser
necessário exercer pressão;
é possível passar, com pouca
pressão, os dedos sob as
extremidades das apófises
transversas. O músculo
Longissimus thoracis
et lumborum apresenta
moderada profundidade,
com uma fina camada de TA
subcutâneo de cobertura.
Região esternal: O TA
subcutâneo esternal pode
ainda ser localizado com os
dedos, mas apresenta-se
mais espesso (1 a 2 cm). Pode
facilmente ser destacado
ao longo de todo o seu
comprimento através da
ação da ponta dos dedos,
uma pequena camada pode
ser distinguida entre a pele
e as articulações condroesternais.
FIGURA 2
Imagens ilustrativas da
região lombar e da região
esternal para um animal
em CC pobre (adaptado de
Russel et al., 1969; Santucci
et al., 1991; Detweiler et al.,
2008).
ruminantes janeiro . fevereiro . março 2014 53
SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL
FIGURA 3
Imagens ilustrativas
da região lombar e da
região esternal para um
animal em CC mediana
(adaptado de Russel et al.,
1969; Santucci et al., 1991;
Detweiler et al., 2008).
FIGURA 4
Imagens ilustrativas
da região lombar e da
região esternal para um
animal em CC avançada
(adaptado de Russel et al.,
1969; Santucci et al., 1991;
Detweiler et al., 2008).
nota 3
nota 4
nota 5
Condição
Corporal Avançada
Condição
Corporal Gorda
Condição Corporal
MUITO Gorda
Aspeto do animal: A espinha
deixa de ser proeminente;
a garupa encontra-se bem
coberta.
Aspeto do animal: Sem
sinais particulares.
Aspeto do animal: Sem sinais
particulares.
Região lombar: As apófises
espinhosas são detetadas,
com pressão, como uma
linha dura. As apófises
transversas não podem
ser sentidas encontrandose envolvidas por uma
espessa camada de tecido.
O músculo Longissimus
thoracis et lumborum está
rodeado com uma espessa
camada de TA subcutâneo.
Região lombar: As apófises
espinhosas não são detetadas
mesmo com firme pressão,
encontrando-se uma
depressão no TA subcutâneo
onde se sente habitualmente
as apófises espinhosas. As
apófises transversas não
são perceptíveis. O músculo
Longissimus thoracis
ei lumborum está bem
desenvolvido e apresenta uma
camada de TA subcutâneo
muito espessa.
Região lombar: As apófises
espinhosas mostram uma
ligeira elevação, são macias
e arredondadas, só são
sentidas com pressão.
O perfil das apófises
transversas é arredondado
encontrando-se bem coberto,
sendo necessária uma firme
pressão para sentir os seus
bordos. O espaço entre
as apófises transversas
e espinhosas está cheio.
O músculo Longissimus
thoracis et lumborum
apresenta-se cheio com
moderada cobertura de TA
subcutâneo.
Região esternal: É difícil
localizar o TA subcutâneo
esternal devido à sua
espessura. Este encontra-se
misturado com as massas
de TA e músculo que cobrem
as articulações condroesternais e as costelas.
Região esternal: O TA
subcutâneo esternal pode ser
distinguido muito facilmente;
é espesso e pouco móvel.
É difícil de destacar devido
às massas de tecido (TA
e músculo) pelas quais é
rodeado. É necessário uma
palpação forte para notar
as articulações condroesternais.
54 janeiro . fevereiro . março 2014 Ruminantes
Região esternal: O TA
subcutâneo esternal não pode
ser identificado nem localizado.
Uma espessa massa de
tecido, que cobre igualmente o
esterno e as costelas, é sentida
entre os dedos.
FIGURA 6
Imagens ilustrativas da região
lombar e da região esternal
para um animal em CC muito
gorda (adaptado de Russel et
al., 1969; Santucci et al., 1991;
Detweiler et al., 2008).
FIGURA 5
Imagens ilustrativas da
região lombar e da região
esternal para um animal
em CC gorda (adaptado de
Russel et al., 1969; Santucci
et al., 1991; Detweiler et al.,
2008).
SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL
avaliação da condição corporal
Bibliografia:
A avaliação da condição corporal deve ser aplicada num controlo mensal do rebanho, no entanto, durante
a cobrição, o intervalo deve ser encurtado para 21 dias (Santucci et al., 1991), assim como próximo do parto,
pois a variação da condição corporal nestes períodos é mais rápida (Morand-Fehr et al., 1989). A frequência
de avaliação deve estar de acordo com os objetivos do criador, podendo ser limitada aos períodos chave do
ciclo produtivo: após 15 dias de lactação; após 45 dias de lactação; após a secagem; durante a colocação
em pastoreio; antes do período de cobrição.
Anzuino, K., Bell, N.J., Bazeley, K.J.
& Nicol, C.J. 2010. Assessment
of welfare on 24 commercial
UK dairy goat farms based on
direct observations. Vet. Record.,
167:774-780.
Delfa, R., Teixeira, A. & ColomerRocher, F. 1989. A note on
the use of a lumbar joint as
a predictor of bodydepots in
Aragonesa ewes with different
body condition scores. Anim.
Prod., 49:327-329.
Número de animais a avaliar
O número de animais a avaliar depende do conhecimento que se tem do rebanho. Quando o criador
conhece a condição corporal média do rebanho, a sua avaliação deve efetuar-se por amostragem de 10
a 20% dos animais. Esta amostra do rebanho deverá ser representativa quanto à idade, quanto ao nível
produtivo e quanto ao formato dos animais (Morand-Fehr et al., 1989).
Detweiler, G., Gipson, T., Merkel,
R.C., Goetsch, A. & Sahlu, T. 2008.
Body Condition Scores in Goats.
in Proc. 23rd Ann. Goat Field Day,
Langston University, Langston,
OK, 127-133.
Aplicação e limites do método
de avaliação da condição
corporal
Por ser subjetivo, a avaliação das
reservas corporais de TA pelo
método da notação da condição
corporal depende em grande medida
da experiência e nível de treino do
operador. Inclusive da sua experiência
de avaliação das reservas corporais de
outras espécies e raças.
Uma forma de contornar a
subjetividade do método da notação
da condição corporal consiste na
utilização de métodos objetivos como
a ecografia (Silva, 2013). A ecografia,
embora muito promissora para a
avaliação das reservas corporais de
caprinos, não se enquadra na realidade
das explorações pecuárias e dos
sistemas de produção de caprinos, uma
vez que apresenta custos elevados e
tem necessidades de equipamento e
conhecimento muito específico, o que
limita a sua utilização às condições de
campo.
Assim, o método de avaliação das
reservas corporais por palpação é um
método de aplicação simples e de
custo reduzido o que o torna atrativo
para aplicação prática em produção.
Com um bom processo de treino
inicial e com experiência, a notação da
condição corporal é um método capaz
de ser posto em prática por qualquer
operador em trabalho de rotina nas
explorações.
No entanto, para a avaliação da condição
corporal como indicador geral de bemestar animal nas explorações, o método
de palpação não é exequível, uma
vez que implicaria a contenção de um
elevado número de animais. O mesmo
se pode dizer para uma apreciação global
da adequação do plano nutricional,
detetando precocemente oscilações
perigosas da CC. Desta forma, o projeto
AWIN (Faculdade de Medicina Veterinária
- Universidade de Lisboa, em colaboração
com o Instituto Superior Técnico –
Universidade de Lisboa e Escola Superior
Agrária – Instituto Politécnico de Viseu)
encontra-se a desenvolver uma escala
de avaliação visual da condição corporal
para identificar os animais em condição
corporal extrema nas explorações. Esta
escala não pretende ser um sistema
substituto do método de palpação, uma
vez que é de reduzida sensibilidade, mas
apenas um primeiro filtro de análise da
problemática nas explorações, sendo
importante para determinar estratégias de
amostragem.
O método desenvolvido pela equipa
AWIN baseia-se assim na observação
à distância de uma determinada zona
da cabra que mostrou uma elevada
correlação com a avaliação da condição
corporal por palpação; e foi determinada
recorrendo a métodos de computer
vision.
Ferrante, V., Battini, M., Caslini,
C., Grosso, L., Mantova, E., Noè,
L., Barbieri, S. & Mattiello S. 2012.
Presence of abscesses as a
welfare indicator in dairy goats.
Proceedings of 46th Congress of
International Society of Applied
Ethology, Wien (Austria), July
31st-August 4th.
Morand-Fehr, P., Hervieu, J. &
Santucci, P. 1989. Notation de
l’état corporel: A vos stylos! La
Chèvre, 175: 39-42.
Russel, A.J.F., Doney, J.M. & Gunn,
R. G. 1969. Subjective assessment
of body fat in live sheep. J. Agric.
Sci., Camb., 72: 451-454.
Santucci, P., Branca, A.,
Napoleone, M., Bouche,
R., Aumont, G., Poisot, F. &
Alexandre, G. 1991. Body
condition scoring of goats in
extensive conditions. In Goat
nutrition. Ed Morand Fehr. Pudoc
Weningem, pp.240-255.
Silva, S.R. 2013. Avaliação da
condição corporal em ovinos:
Utilização dos métodos de
notação e da ultrassonografia
em tempo real. I Workshop de
Reprodução em Ruminantes
organizado pela AEMV-UTAD, 5
e 6 de outubro, Vila Real. 14pp.
Smith, M. & Sherman, D. 2009.
Goat Medicine. 2ª ed. WileyBlackwell. Iowa, USA.
ruminantes janeiro . fevereiro . março 2014 55
saúde animal
Dário Guerreiro
Médico Veterinário
[email protected]
José Leitão
estagiário finalista de
medicina veterinária
FIGURA 1
Aborto em vaca cruzada de carne.
Febre Q
doença que pode afetar a
produtividade da exploração
Os problemas de infertilidade são uma preocupação constante dos
produtores e médicos veterinários, de forma a minimizar os prejuízos e
quebras de rendimento que eles acarretam.
De entre as causas infeciosas destes
problemas, a febre Q é aquela que, embora
não constitua novidade, tem motivado mais
alertas nas publicações científicas na área
dos ruminantes. Interessa pois desmistificar
a doença e abordá-la diretamente no sentido
da prevenção/controlo, caso a tenhamos na
nossa exploração.
A febre Q é uma doença infeciosa e altamente
contagiosa, causada pelo patogénio
intracelular Coxiella burnetii, tendo uma
distribuição mundial, à exceção da Nova
Zelândia, e que afeta um elevado número de
animais domésticos e selvagens, bem como
56 janeiro . fevereiro . março 2014 Ruminantes
seres humanos. A bactéria pode ser eliminada
por estes animais nas fezes, urina, leite, e nos
materiais que restam do parto. Os animais que
possuem este microrganismo e o eliminam,
normalmente não evidenciam quaisquer sinais
de doença.
Esta patologia poderá ser assintomática.
Contudo, os sinais clínicos que ocorrem nos
animais infetados são principalmente ao nível
do sistema reprodutivo, como por exemplo
infertilidade, metrite, mastite, placentite em
caso de aborto, abortos esporádicos ou
surtos de aborto, morte ou nascimento de
vitelos prematuros, que recuperam sem outras
saúde animal
complicações. Já foram igualmente
registados casos de retenção
placentária durante um ou dois
dias.
Os microrganismos alojam-se
principalmente nas glândulas
mamárias, no útero, no feto, na
placenta e nos gânglios linfáticos,
pelo que a infeção pode-se
transmitir através do contacto com
fluidos corporais ou secreções,
nomeadamente leite, urina, fezes
ou produtos de parto (líquido
amniótico, placenta) de animais
infetados. Isso pode ocorrer
por contacto direto, por via oral,
ou através do contacto indireto
com materiais contaminados, os
fómites. Estas bactérias são muito
resistentes ao meio ambiente
e podem sobreviver por longos
períodos de tempo, o que pode
levar a uma infeção por inalação
(aerossol) das bactérias que
estão nos estábulos. As carraças,
F IGURA 2
Vaginoscopia em vaca com
endometrite.
principal vetor de propagação,
também podem ser responsáveis
por espalhar a infeção entre os
animais. A transmissão para seres
humanos ocorre pela inalação de
aerossóis ou por ingestão de leite
não pasteurizado.
A Coxiella burnetti pode ser
detetada através de testes
serológicos, como por exemplo
por ELISA, imunofluorescência
indireta ou fixação do
complemento. Os materiais
analisados poderão ser descargas
vaginais, placenta, leite, urina,
fezes, fluidos placentários ou
até mesmo fetos abortados
(fígado, pulmão ou conteúdo do
estômago).
A profilaxia desta doença
pode ser efetuada através de
implementação de medidas de
biossegurança, por profilaxia
médica com antibióticos
ou pela vacina que já está
FIGURA 3
Metrite em vaca leiteira (pormenor de
muco purulento no espéculo vaginal).
FIGURA 5
Abortos em exploração leiteira.
disponível em Portugal. Como medidas
de biossegurança, devem-se manter os
animais prenhos separados do resto do
rebanho, e queimar ou enterrar os abortos
restantes ou todo o tipo de materiais
de parto, designadamente a placenta.
Dever-se-á efetuar a quarentena de animais
que possam estar infetados. A utilização
de antibióticos pode reduzir, ou mesmo
suprimir, os sintomas, porém não eliminam
a infeção. A vacina fase I é eficiente na
redução de casos de metrite, repeat
breeding e aborto, quando administrada em
bovinos. Esta deve ser usada com o intuito
de controlar e reduzir a contaminação
ambiental, por forma a diminuir o risco de
transmissão ao homem.
Assim, é importante o produtor e o seu
médico veterinário estarem atentos a esta
doença que pode afetar a produtividade
da sua exploração e, se for esse o
caso, possam tomar medidas médicosanitárias necessárias para minimizar este
problema.
FIGURA 4
Vaginoscopia - Exame indicado para
despistes de metrites e endometrites
ruminantes janeiro . fevereiro . março 2014 57
saúde animal
Controlo da mastite
por coliformes
A mastite por coliformes é causada por uma vasta gama de diferentes bactérias
gram-negativas, sendo a mais comum a Escherichia coli, mas também, entre outras, a
Klebsiella spp e a Serratia spp.
por departamento técnico Hipra
Normalmente, a infeção
origina apenas um ligeiro caso
de mastite clínica, embora,
por vezes, especialmente no
início da lactação e quando as
vacas estão com problemas
metabólicos, pode ocorrer
uma vertente mais grave da
doença. Nos casos graves,
as vacas podem sofrer de
choque “tóxico”, ficarem
caídas e podem morrer. Esta
apresentação tornou-se
normalmente associada à
mastite por coliformes; no
entanto, é importante não
esquecer que embora uma
vaca doente com mastite
esteja provavelmente afetada
por um organismo coliforme,
a maioria dos casos de
coliformes não originam
mastite tóxica.
Embora, historicamente, a
mastite clínica por coliformes
tenha sido assumida como
ocorrendo pouco tempo após
a infeção, as investigações
mais recentes demonstraram
que as infeções
intramamárias por coliformes
são adquiridas durante o ciclo
de lactação. Na realidade, o
início e o fim do período seco
são os momentos de mais
alto risco de nova infeção
em muitas manadas e estas
infeções podem chegar a
causar doença clínica na
lactação posterior.
controlo
da mastite
O controlo da mastite por
coliformes é uma questão
essencial em muitas
explorações leiteiras. Embora
o alojamento no inverno possa
FIGURA 1
Uma apresentação clássica da
mastite clínica por coliformes.
ser complicado em zonas
temperadas, as temperaturas
mais elevadas e a humidade
nos meses de verão também
podem apresentar os seus
próprios desafios. Embora as
condições ambientais afetem
o nível de possibilidade de
infeção diária, nos meses
de verão, o stress do calor
também pode ter um efeito
significativo no consumo
de alimentos, no equilíbrio
energético e na “saúde” geral
da vaca em, conduzindo a um
aumento da gravidade, bem
como da incidência da doença.
Duas vertentes
Qualquer abordagem ao
controlo da mastite por
coliformes tem de tomar a
forma de uma abordagem com
duas vertentes. Primeiro, o
produtor tem de centrar-se em
minimizar o risco de infeção
intramamária, mas apesar dos
melhores esforços, algumas
vacas irão inevitavelmente ser
infetadas e, nestes animais, é
importante mitigar o impacto e
a gravidade da doença.
A minimização do risco de
infeção intramamária tem
de centrar-se na redução da
possibilidade decorrente do
ambiente e na melhoria das
próprias defesas da vaca.
A redução da possibilidade
de infeção é certamente a
forma mais eficaz de reduzir o
risco de infeção intramamária
e é conseguida garantindo
um ambiente seco, limpo
e bem ventilado, durante o
58 janeiro . fevereiro . março 2014 Ruminantes
ciclo de lactação ao longo
do ano. A manutenção das
camas, varrer frequentemente
as estabulações e os
corredores, bem como uma
área de exercício adequada
são essenciais para o
sucesso. A manutenção da
sala de ordenha e uma boa
rotina antes da ordenha
desempenham um papel
importante, minimizando o
risco de oportunidade de
infeção durante o processo de
ordenha.
Nos últimos anos, a nossa
abordagem para melhorar
as próprias defesas da vaca
centrou-se na minimização
do risco de infeção durante o
período seco. Os tratamentos
das vacas secas com
antibióticos de amplo espetro
e de ação prolongada e
os selantes internos de
tetos foram comprovados
como sendo eficazes para a
redução do risco de infeção
intramamária no parto e de
mastite clínica na lactação
posterior.
Por outro lado, a mitigação
do impacto da infeção tem
de centrar-se em garantir
uma vaca “em boa forma”
e saudável para responder
aos desafios intramamários.
Isto pode ser conseguido,
em parte, minimizando o
equilíbrio energético negativo
e garantindo níveis adequados
de micronutrientes chave,
tais como a vitamina E e o
selénio. O potencial papel da
vacinação é debatido em mais
detalhe a seguir.
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saúde animal
Desenho do estudo
Foi recrutado um total
de 3.130 vacas em sete
manadas, no sudoeste do
Reino Unido. O tamanho
das manadas variava entre
as 190 e as 581 vacas e as
produções de leite aos 305
dias situavam-se entre os
8.500 e os 10.500 litros.
Antes do estudo, as CCS
do tanque de leite foram
calculadas como situando-se
entre 190 e 350 x103 células/
ml e as incidências de mastite
clínica eram entre 36 e 149
casos de mastite clínica/100
vacas/ano.
Dentro de cada manada, as
vacas eram distribuídas para
não receberem vacinação
(grupo de controlo),
receberem vacinação
segundo o protocolo de
registo (grupo de registo)
ou receberem vacinação
de 90 em 90 dias no
seguimento de um protoloco
de vacinação inicial (grupo
varrimento).
Para fins de análise da
eficácia da vacina, foram
avaliadas a incidência de
mastite clínica, a gravidade da
mastite clínica e a produção
das vacas nos primeiros 120
dias de lactação.
O impacto da
vacinação
Embora, globalmente, a
taxa de mastite clínica
tenha sido inferior no grupo
de vacinação de registo,
não houve uma diferença
significativa nas taxas de
mastite entre os grupos
de tratamento. Nenhuma
das vacas dos grupos
vacinados abandonou a
manada devido a mastite
tóxica e, embora tenham
sido refugadas menos vacas
devido a mastite no grupo
Sem vacinação
Atribuição de
grupo
0,56
Varrimento
Registo
Sem vacinação
inicialmente
Início da vacinação 45
dias antes do parto,
depois 10 dias antes do
parto e 52 dias depois
do parto
FIGURA 2
Ilustração da aleatorização dentro da manada.
60 janeiro . fevereiro . março 2014 Ruminantes
Proporção de casos
0,48
a
0,46
b
0,44
0,42
Sem
vacinação
Rótulo
Rolante
Apenas sinais no leite
Sinais no úbere e sistémicos
GRÁFICO 2
Houve uma tendência de menor refugo nas vacas vacinadas.
1
0,995
0,990
0,985
0,980
0,975
0,970
0,965
0,960
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
110
120
Dias em leite
Registo
Sem vacinação
A análise da produção nos 120
dias de lactação revelou que
as vacas no grupo de registo
produziram mais 231 (IC de
95% 104 - 357) litros de leite do
que as vacas não vacinadas.
De forma idêntica, a produção
de matéria seca do leite nas
vacas do grupo de registo foi
mais elevada.
CONCLUSÕES
Vacinação imediata
D0, D28, D90 e de 90
em 90 dias a partir daí
0,52
0,50
0,40
Controlo
Atribuição de
grupo
a.b
0,54
A abordagem à mastite por
coliformes é necessariamente
complexa. A vacinação tem
um papel a desempenhar
na mitigação do impacto da
mastite por coliformes e, com
base na investigação do Reino
Unido, é provável que tenha
efeitos benéficos significativos
na produtividade das vacas no
início da lactação.
Varrimento
GRÁFICO 3
A vacinação originou um
aumento da produção.
6000
Rendimento de leite (l)
As vacinas contra a mastite por coliformes estão disponíveis
há mais de 20 anos, mas só recentemente ficaram
disponíveis na União Europeia. Está registada uma vacina
polivalente contra a mastite, que oferece proteção contra
coliformes e Staphylococcal spp. Estudos de registo
relativamente pequenos demonstraram a eficácia do produto,
mas um recente estudo de campo de grandes dimensões no
Reino Unido investigou o uso no campo com os protocolos
de vacinação de registo e a “varrer”.
Função de sobrevivência
O papel da vacinação no
controlo da mastite por
coliformes
GRÁFICO 1
A vacinação originou uma
redução da gravidade da mastite.
de vacinação de registo, a
diferença não foi significativa.
No entanto, a análise da
gravidade da mastite clínica
demonstrou claramente
que a mastite clínica era
significativamente menos
grave nas vacas do grupo
de registo (OR 0,58 (IC
de 95% 0,35-0,98)) em
comparação com as vacas
não vacinadas, tendo cada
vacinação adicional sido
também associada a uma
probabilidade menor de
sinais clínicos graves (OR
0,87 (IC de 95% 0,77-0,98)).
5500
5000
a
b
a.b
4500
4000
3500
3000
Não
Protocolo
vacinadas de Registo
Protocolo
Varrimento
Andrew J Bradley
MA VetMB DCHP DipECBHM PhD
MRCVS RCVS
Reconhecido especialista em Saúde
Bovina e Produção, e Especialista
Europeu em Gestão de Saúde Bovina
SAÚDE E bem estar animal
A SANOFI COMPANY
A Descorna
POR José Miguel Lopes Jorge, Merial Portuguesa - Saúde Animal, Lda
[email protected]
Avaliação do
desconforto com base
no doseamento do
cortisol plasmático
O cortisol constitui um
marcador precoce e muito
sensível do desconforto.
Aquando da secção com a
descornadora a frio, ocorre um
primeiro pico de cortisol quase
imediato, ligado à operação
em si (desconforto agudo). A
este segue-se um segundo
pico cerca de três horas mais
tarde (desconforto ligado à
inflamação).
Um ensaio realizado na Nova
Zelândia mostrou que uma
anestesia local, relativamente
eficaz sobre o desconforto
imediato, não atua para
além das três horas e que a
30
Cortisol plasmático (ng ml-l)
Avaliação do
desconforto do animal
através de sinais
comportamentais
Posteriormente ao momento
da descorna com ferro quente,
o desconforto persistente
pode ser avaliado por critérios
comportamentais, como a
frequência do batimento das
orelhas, esfregar ou abanar a
cabeça.
Com base nestes critérios,
um ensaio conduzido no
Canadá demonstrou que
a administração de um
AINE adicionalmente à
anestesia local tem um efeito
significativamente benéfico
durante as 24 horas que se
seguem à descorna (gráficos
2 e 3).
Impacto na
produtividade
gráfico 1
20
10
0
-10
1
Descoma
3
Descoma + anestesia local
6
Horas
Descoma + anestesia local + AINE
Atualmente, é de
conhecimento generalizado
que o desconforto animal
pode originar diminuição de
produtividade.
Esta premissa verificou-se
no ensaio canadiano, no
qual o grupo tratado com
um AINE adicionalmente à
anestesia local obteve um
ganho de peso superior ao do
lote testemunha, no qual só
foi realizada anestesia local
(gráfico 4).
GRÁFICO 2
Abanões da cabeça (n.º)
administração de um AINE,
associado à anestesia local
no momento da descorna,
permite uma diminuição
do primeiro pico de cortisol,
sensivelmente maior do que
apenas a anestesia local, e
adicionalmente controla o
desconforto do animal na
segunda fase, quando a
anestesia local perdeu o efeito
(gráfico 1).
20
10
0
1
2
3
4
6
8
12
24
Hora de observação após a descorna
GRÁFICO 3
Batimentos das orelhas (n.º)
O conhecimento médicoveterinário atual evidência
que a utilização, adicional
à anestesia local, de antiinflamatórios não esteróides
(AINEs) é benéfica na redução
do desconforto e da dor,
permitindo uma recuperação
mais rápida dos animais e
diminui o impacto negativo na
sua produtividade.
30
20
10
0
1
2
3
4
6
8
12
24
Hora de observação após a descorna
Anestesia local
Anestesia local + AINE
GRÁFICO 4
Kg
1,5
p = 0,07
1,2
Ganho de peso
A descorna constitui, na
maior parte dos efetivos,
um ganho em matéria de
segurança não só para o
produtor mas também para a
maioria dos animais, limitando
grandemente os fenómenos
de dominância e diminuindo
os riscos de ferimentos. Esta
operação é efetuada nos
vitelos cauterizando os botões
corneanos ou, nos animais
mais velhos, através da secção
dos cornos.
Em todos os casos, a
descorna que no final pode
ser uma fonte de conforto para
o produtor e para o efetivo,
é uma fonte inegável de
desconforto para o animal no
momento da sua execução.
Para diminuir o stresse,
é conveniente efectuar a
anestesia local, a qual é
obrigatória na Grã-Bretanha
e é recomendada em vários
países.
Contudo a anestesia local
tem um efeito analgésico
relativamente curto, não
conseguindo modelar a
reação inflamatória e a dor que
pode persistir, por exemplo, até
6 horas após a intervenção de
descorna com ferro quente.
1
0,5
0,2
0
Anestesia
local
Anestesia local
+ AINE
Bibliografia
“Effects of regional analgesia and/
or a non-steroidal anti-inflammatory
analgesic on the acute cortisol response
to dehorning in calves” C.M. McMeekan,
K.J. Stafford, D.J. Mellor, R.ª Bruce, N.G.
Gregory. Res. Vet Science 1998. 64
“Reducing pain after dehorning in
dairy calves” P.M. Faulkner, D.M. Weary.
Journal of Animal Science. 2002. 80:4
ruminantes janeiro . fevereiro . março 2014 61
saúde animal
Ana Rita Simões
Médica veterinária, coordenadora e executora do OPP
Campo Branco e clínica de espécies pecuárias
[email protected]
Tremor
Epizoótico (TE) ou Scrapie
O Tremor Epizoótico (TE) ou Scrapie é uma doença degenerativa do sistema nervoso
central conhecida há mais de 250 anos em muitos países da Europa, que afeta ovinos
e caprinos. Faz parte do grupo das Encefalopatias Espongiformes Transmissíveis (EET),
onde está incluída a conhecida “doença das vacas loucas”.
Por ruminantes
provavelmente através de
placentas infetadas.
Na forma atípica os sinais que
podem surgir são: marcha
anormal, incoordenação
motora, alteração do
comportamento, perda de
condição corporal, raramente
se observa prurido. Por
vezes, os sinais passam
despercebidos, sendo os
animais detetados no decurso
da vigilância ativa.
Até ao momento não estão
descritos quaisquer casos de
transmissão da doença ao
Homem.
Qual a origem desta doença?
A causa desta doença está
associada a uma proteína
infetante denominada
prião (PrP - Proteína
Priónica). Permanece ainda
desconhecida a natureza
molecular e bioquímica que
está na origem da mutação
da proteína normal em
partícula “anormal”. Esta é
muito resistente aos agentes
químicos, físicos, assim como,
às radiações ionizantes e
ultravioletas..
Em que formas existe? Como
se manifesta e transmite?
Existem duas formas da
doença: o TE clássico e o TE
Atípico. A grande diferença
entre as duas é que a forma
clássica afeta principalmente
animais entre os 2 e os 5 anos
e vários animais do rebanho,
enquanto a forma atípica surge
em um ou dois animais do
rebanho com mais de 5 anos.
Os principais sinais clínicos
do TE Clássico são os
seguintes: perda de condição
corporal, prurido, resposta ao
toque e à fricção ao longo da
coluna vertebral, alteração
de postura, da locomoção, do
comportamento e hiperestesia.
Pode ser transmitida das
ovelhas para os borregos
através do leite ou do colostro,
e por transmissão horizontal,
62 janeiro . fevereiro . março 2014 Ruminantes
Quais as medidas profiláticas?
Em 2003, de acordo com os
regulamentos comunitários,
estabeleceu-se um programa
de vigilância epidemiológica
que se divide em vigilância
passiva, na qual são avaliadas
laboratorialmente os animais
que manifestam sintomas e
a vigilância ativa, onde são
testados os animais com mais
de 18 meses que são abatidos
para consumo humano e os
que morrem na exploração
com mais de 18 meses que são
recolhidos pelo Sirca [1].
Os 16 pequenos ruminantes
com sinais clínicos suspeitos
(Vigilância Passiva) entre 2003
e 2010 revelaram resultados
laboratoriais negativos (fonte
DGAV). O mesmo já não
aconteceu com a vigilância
ativa. O número de casos
positivos foi crescendo ao
longo dos anos, sendo a forma
atípica a predominante. Os
primeiros casos de TE clássico
só foram diagnosticados em
2008 (fonte DGAV).
Em caso de aparecimento,
qual o protocolo a cumprir?
Quando é confirmada uma
situação de TE, a exploração
fica sob vigilância intensiva
durante um período de
dois anos que consiste em
identificar eletronicamente
todo o efetivo existente e na
obrigatoriedade de testar todos
os animais com mais e 18
meses abatidos para consumo
e mortos na exploração,
recolhidos pelo Sirca.
Até há pouco tempo estas
explorações estavam sujeitas
a um conjunto de restrições
de movimentação, no entanto,
com a entrada em vigor do
regulamento (CE) n.º 630/2013
da Comissão de 28 de Junho,
os animais já podem circular
para engorda, matadouro e
reprodução. O produtor tem de
manter um registo atualizado
de toda a movimentação
animal que será sujeita a um
controlo semestral por parte
dos serviços oficiais. É ainda
obrigatória a inscrição na
declaração IRCA da menção
saúde animal
FIGURA 1
Forma TE Clássico: Hiperestesia
FIGURA 2
Forma TE Clássico: Prurido e alteração
do comportamento e locomoção.
FIGURA 3
Forma TE Atípica : incoordenação
motora.
“Exploração sob vigilância ao
tremor epizoótico”, que deve
ser enviada ao matadouro de
destino dos animais com 24
horas de antecedência.
da movimentação
animal, às dificuldades
no preenchimento dos
registos dos animais e à
identificação usada nos
pequenos ruminantes, a
marca auricular, a qual por
vezes não permite uma
rastreabilidade dos animais.
Porém, com a entrada
deste novo regulamento,
assim como a identificação
eletrónica nos pequenos
ruminantes, o controlo da
movimentação animal
(idigital) e a obrigatoriedade
na qualidade dos registo
de existências dos
ovinos e caprinos, estes
programas de vigilância
do TE passaram, na minha
opinião, a ser encarados
pelos nossos produtores de
uma forma mais positiva.
Qual o ponto de situação da
TE na região onde exerce a
sua atividade profissional?
A maioria dos casos de
positividade concentra-se
no Alentejo, uma vez que
é a região do país com um
número mais elevado de
pequenos ruminantes.
A região do Alentejo onde
exerço a minha atividade
profissional, abrangendo
os concelhos de Castro
Verde, Ourique, Almodôvar
e Aljustrel, tem apresentado
um elevado número de
focos. Ao longo destes anos,
tenho acompanhado bem de
perto o descontentamento
dos produtores resultantes
dos condicionalismos
daí decorrentes. Os
principais motivos desta
insatisfação devem-se
principalmente à morosidade
nos levantamentos dos
sequestros, às restrições
Nota:
[1]
Sistema de Recolha de
Cadáveres de Animais Mortos
na Exploração.
ruminantes janeiro . fevereiro . março 2014 63
entrevista
VI Jornadas HVME
A Ruminantes entrevistou Nuno Vicentes Prates e Marta Murta, veterinários
no Hospital da Muralha, acerca das Jornadas.
por ruminantes
Nuno Vicente Prates
Medico Veterinário, Clínica de Animais
de Produção e Espécies Silvestres,
Proprietário do Hospital da Muralha
Marta Murta
Medico Veterinário, Clínica de Animais
de Produção, Veterinária responsável
pelo Núcleo de formação do Hospital da
Muralha
na forma como se faz a produção
pecuária, especialmente de bovinos em
extensivo, nesta região, nomeadamente no
desenvolvimento de protocolos profiláticos
mais corretos e adaptados, e também na
prática de técnicas de reprodução assistida.
A reprodução assistida, com os diagnósticos
de gestação, sincronização de cios e
inseminação artificial em bovinos e ovinos
em extensivo são temas abordados
nas Jornadas, que têm trazido a Évora
especialistas nestas áreas. Com isso, temos
verificado uma crescente procura nestes
serviços, quer da parte dos produtores, quer
de médicos veterinários. Podemos orgulharnos de ter contribuído para dinamizar ainda
mais esta área da reprodução.
Qual o slogan para as VI Jornadas?
Continuamos a apostar em temas fortes
e de interesse para todos os que vêm às
Jornadas. Para 2014, os temas escolhidos
são “A sustentabilidade da produção
pecuária no séc. XXI” e “Novas tendências
na gestão desportiva e produção de
equinos”.
O Hospital Veterinário Muralha de Évora
(HVME) e a Equimuralha são duas
entidades de referência na região de
Évora, Alentejo. Para além dos serviços
médico-veterinários, desenvolvem também
ações de formação através do Núcleo de
Formação e Desenvolvimento, criado em
2008 para esse fim, onde se realizam
workshops, encontros e reuniões, e as
Jornadas HVME.
Ruminantes - Como tem sido a evolução
das Jornadas desde o seu início, há cinco
anos?
HVME – Tem sido positiva, passámos de
cerca de 200 participantes na 1ª edição, em
2009, para 400 na 5ª edição, em 2013. Os
participantes incluem não só clientes do
HVME e da Equimuralha, mas produtores,
criadores, proprietários de animais de
produção e cavalos, de toda a região e
país, mas também médicos veterinários,
enfermeiros veterinários, estudantes e
curiosos nestas áreas.
Temos verificado também uma evolução
Que cuidados têm na elaboração do
programa tendo em conta que se trata de
uma plateia com veterinários e produtores?
O programa tem sempre em conta a
grande variedade de formações de fundo
dos nossos participantes, com temas
técnicos do interesse de todos. Procuramos
sempre temas que sejam fundamentais
para a sustentabilidade das explorações
agropecuárias, coudelarias e centros hípicos,
a maximização do potencial genético dos
animais nas suas várias aptidões e, em
geral, o bem-estar animal.
A principal preocupação é a especificidade
científica das palestras, que será diferente
no primeiro dia, em que as Jornadas são
para o público em geral, e no segundo dia,
em que existem workshops para Médicos
Veterinários.
Porquê um segundo dia destinado apenas
a médicos veterinários?
Como foi já referido, este segundo dia
vem satisfazer a exigência dos Médicos
Veterinários e estudantes de Medicina
64 janeiro . fevereiro . março 2014 Ruminantes
Veterinária que nos acompanham,
permitindo a realização de workshops
com temas mais específicos e contribuindo
assim para a sua formação.
Estão a pensar introduzir no programa mais
espécies produtivas, para além das vacas
de carne e ovinos?
Este ano, os temas estão definidos e não
iremos introduzir temas de outras espécies
pecuárias. No entanto, nas diversas reuniões
que fazemos com os nossos produtores,
abordamos sempre os temas que mais
lhes interessam e que podem muitas vezes
incluir outras espécies. Para uma próxima
edição, estamos ainda a equacionar essa
situação.
Existe uma enorme lacuna de informação,
em Portugal, relativa ao extensivo,
nomeadamente no que se refere a maneio,
nutrição, reprodução, tanto para criadores
como para veterinários. As Jornadas têm
sido uma forma de compilar e divulgar
alguma da informação dispersa. Têm
planeada alguma outra forma de difundir
essa informação de forma mais regular?
Incluídos no nosso Núcleo de Formação e
Desenvolvimento, desenvolvemos também
os Encontros da Muralha, onde os nossos
clientes de animais de produção têm acesso
a ações de formação. Essas reuniões
ocorrem com frequência semestral, são de
pequena duração (1 a 2 horas), normalmente
no final do dia, com os temas de maior
interesse. A última edição teve como tema
“O Controlo Reprodutivo e Respiratório de
bovinos em regime extensivo” e contou com
cerca de 20 produtores.
Qual a importância das parcerias
desenvolvidas com os patrocinadores?
Para a realização deste evento, contamos
com o apoio de algumas empresas e
de diversas instituições, portuguesas e
espanholas, e o sucesso alcançado nestes
5 anos consecutivos de Jornadas só foi
possível com o apoio de todas elas.
Temos de referir os nossos Patrocinadores
principais, a MSD e a Zoetis sem os quais
não seria possível chegarmos à 6ª edição
das Jornadas.
entrevista
FIGURA 1
João Martinho (Diretor Comercial Harker XXI) e Hélder Duarte
(Sócio Gerente da Agroleite de Canha)
Italmix
na Produção de Leite
Entrevista a Hélder Duarte, Sócio Gerente da Agroleite de Canha
Por ruminantes
Situada em Canha no Porto Alto, a
Agroleite de Canha conta com 430
vacas leiteiras em produção, cerca 300
hectares de área cultivada para produção
de forragem (azevém e milho - 70
hectares), e ainda compram 100 hectares
de silagem de milho. Tem uma produção
diária por vaca de cerca de 34 litros. Tem
um circuito fechado no negócio do leite,
todo o leite que produzem é entregue e
transformado na Montiqueijo, empresa
do grupo e que fez agora 50 anos,
vendendo 90% do leite como queijo
fresco e requeijão e o resto com queijo
curado.
Ruminantes - Que custos tem a
alimentação nesta exploração?
Hélder Duarte – Os custos alimentares
oscilaram este ano entre 59 a 68% dos
custos totais. Talvez existam períodos
em que possam representar algo mais.
Neste momento o custo médio dos vários
grupos em produção é de 6.2 euros/
vaca/dia.
Porque utiliza o Sistema de Mistura Total
TMR – Unifeed?
Porque posso controlar a qualidade,
rastreabilidade e homogeneidade do
alimento que os animais ingerem,
não permitindo que possam escolher
ingredientes do arraçoamento que vão
desequilibrar a sua alimentação; por
exemplo, se não comerem a quantidade
de palha recomendada, isso vai afetar
o transito intestinal e a absorção da
quantidade de nutrientes necessários.
No fundo, este sistema permite otimizar
a ingestão de alimento; o pH do rúmen
66 janeiro . fevereiro . março 2014 Ruminantes
permanece mais estável reduzindo os
possíveis problemas metabólicos e
melhorando tanto o índice de condição
corporal como o rendimento reprodutivo.
Porque comprou uma unidade
automotriz?
Pela simplicidade e rapidez do maneio
do “fabrico” e distribuição do alimento
para as vacas. Com o sistema de unifeed
rebocado temos que ter várias máquinas
envolvidas e o operador tem que sair e
entrar no trator diversas vezes, perdendose muito tempo e obrigando a ter várias
máquinas envolvidas nesta operação. O
operador da máquina tem maior conforto e
está menos exposto a acidentes. Poupa-se
no gasóleo, em máquinas e otimiza-se o
tempo do operador que fica mais livre para
desempenhar outras tarefas.
entrevista
Que características destaca
nesta máquina?
Passámos de um unifeed
rebocado de 16m3 sem fresa,
para uma automotriz de 24m3
com fresa que permite um
corte da forragem de tal forma
preciso que elimina muito
desperdício por entradas de
ar e apodrecimento (cerca de
18.000 euros/ano, ou seja,
cerca de 15%). Para realizar o
trabalho desta máquina, eu
precisaria de um trator de
170 cv. Outra característica
importante desta máquina é
a versatilidade: é compacta
e tem uma distância entre
eixos relativamente curta para
a cubicagem, o que permite
manobrar melhor.
Quanto pensa poupar com este
investimento?
Penso que em 3 a 4 anos o
investimento estará pago.
Vou poupar no gasóleo, no
tempo dedicado à elaboração
da alimentação para os
animais, na qualidade do
alimento obtido, na diminuição
do desperdício na silagem
e do número de máquinas
envolvidas. Uma vantagem
considerável é a fiabilidade nas
pesagens de cada ingrediente
que entra no unifeed: esta
máquina permite a gestão
informática do arraçoamento,
de forma que o operador
recebe, no ecrã da máquina,
a informação acerca das
quantidades e a ordem pela
qual deve carregar. A máquina
regista todas as informações
relativas às pesagens reais
realizadas, aos parques em
que foram descarregadas, bem
como ao operador. Isto permite
detetar e corrigir os erros de
alimentação.
Que investimentos está a
pensar realizar no futuro
próximo?
Essencialmente aumentar
o efetivo, o conforto animal
e ampliação do estábulo da
exploração. Estamos a ampliar
as coberturas do estábulo e a
aumentar o número de logetes
individuais para as vacas,
que estavam em regime de
estabulação “livre” com cama
de palha. A ideia é crescer até
às 700 vacas em produção.
equipamento
Reboque Unifeed Automotriz MATRIX
ROVER JUMBO 24 M3 c/2 senfins
verticais, fresa frontal e motor Iveco
NEF diesel 175 cv, 6 cilindros Stage 3.
FIGURA 2
Silo com corte feito por fresa (esq.) e carregador frontal (dir.).
ruminantes janeiro . fevereiro . março 2014 67
equipamento
FENDT APRESENTA
NOvidades para o próximo ano
No renovado Fendt Forum de Marktoberdorf, na Alemanha, os
responsáveis da marca apresentaram as novas picadoras que se vêm
juntar à já existente Katana 65 e, as alterações realizadas nas séries
800 e 900 Vario.
por ruminantes
SÉRIES 800 e 900 VARIO
renovadas
Em tratores, foram apresentadas as
novas séries Fendt 800 e 900 Vario,
que apresentam já novas motorizações
compatíveis com a Fase 4 (Tier 4) que
entrará em vigor no início de 2014.
Para além disto oferecem também
transmissões mais resistentes,
hidráulicos que consomem menos
energia e um sistema novo de regulação
da pressão dos pneus. Os nove modelos
que compõem estas duas séries vão de
220 a 280 cv para a 800 Vario e de 270
a 390 para a 900 Vario.
Novos motores
FIGURA 1
KATANA 50/65/85 as novas picadoras
KATANA 50/65/85
as novas picadoras
Depois do lançamento em 2012 da
Katana 65, a Fendt lança agora a Katana
85 (com 850 CV) e a Katana 50 (com
500 CV). A Katana 85 está equipada
com um motor V12-MTU com uma
cilindrada de 21 litros, com um radiador
maior que a Katana 65, o que permite
uma maior potência de refrigeração. A
Fendt continua com a sua estratégia
do triturador com discos em V. Com
a utilização de discos individuais em
forma de V que engrenam entre si
em dois cilindros sincronizados, o
comprimento da ranhura do triturador
aumentou para mais do dobro que a
dos cilindros trituradores convencionais.
Esta gama oferece um amplo número
de acessórios para utilização em pastos,
em campos de milho ou em plantas
forrageiras para silagem.
A produção da Katana 85 começará em
março 2014, pelo que este ano apenas
haverá apenas algumas unidades
disponíveis.
68 janeiro . fevereiro . março 2014 Ruminantes
Para ir de encontro à normativa
sobre emissões Fase 4 (Tier 4), a
Fendt adicionou melhoramentos à
tecnologia SRC, adicionando-lhe um
filtro “passivo” de partículas diesel (DPF).
Este melhoramento, comparativamente
com os outros sistemas disponíveis
no mercado permite, segundo a Fendt,
baixar os consumos porque dispensa a
injeção de combustível adicional para a
queima das partículas.
A maior potência de refrigeração do
motor, assim como a menor velocidade
nominal de 2100 rpm (900 Vario)
também contribuem, de acordo com o
fabricante, para um menor consumo de
combustível e de Ad Blue.
Até agora, a bomba auxiliar da direção
garantia a pressão constante no sistema
hidráulico. Neste novo sistema, esta
pressão é garantida por uma nova
bomba de caudal variável que debita
apenas a pressão necessária.
equipamento
Transmissão mais robusta
A transmissão Vario também
foi otimizada em robustez e
manutenção.
Um permutador de calor de maior
capacidade em combinação com
um sistema de refrigeração mais
eficiente do óleo da transmissão
permite baixar a temperatura em
operação.
VarioGrip
Para conseguir uma maior tração,
a Fendt introduziu nestas séries,
como opcional, um sistema
integrado de regulação da
pressão dos pneus a que chamou
VarioGrip. Entre as vantagens
referidas pela Fendt, destacase o facto de o operador poder
alterar a pressão dos pneus em
movimento, por exemplo ao mudar
de uma operação em campo para
condução em estrada. Esta função
é comandada a partir do terminal
Variotronic do trator, podendo-se
selecionar diferentes pressões para
os pneus da frente e de trás.
Outros melhoramentos
Incorporaram-se: um novo
conceito de iluminação com
faróis Bi-LED com farol de
nivelamento; terminal Variotronic
com novo visual mais atrativo,
tipo smartphone, controlo de
secção automático de até 24
secções de implementos como
semeadores ou pulverizadores;
novo ar condicionado com maior
capacidade de refrigeração;
limpa-pára-brisas com ângulo de
limpeza de 300°.
TABELA 1
Série 800 e 900 Vario.
Modelo
Potência (hp)
822 Vario
220
824 Vario
240
826 Vario
260
828 Vario
280
927 Vario
270
930 Vario
300
933 Vario
330
936 Vario
360
939 Vario
390
Enfardamento
inteligente
A LSB 1290 iD (que significa “densidade inteligente” foi desenhada para produzir
fardos até 25 % mais densos comparativamente com os das enfardadeiras de
fardos gigantes convencionais.
Uma evolução presente na LSB 1290 iD é o sistema de pistões Twinpact. Este
sistema, que permite aumentar a densidade dos fardos, está dividido em duas
partes (superior e inferior) para comprimir o fardo em duas fases distintas. Desta
forma evitam-se picos de carga e não se exige potencia adicional ao trator
comparativamente com uma enfardadeira LSB convencional.
Outras caraterísticas incluem um mecanismo de alimentação de pré-câmara ativa,
e um sistema de atadura melhorado. Esta enfardadeira estará disponível em 2014
num número limitado de unidades.
Dois conceitos
num só
A última inovação da Mitas chama-se
PneuTrac. E consiste num conceito que
consegue unificar num mesmo produto o
melhor dos pneus tradicionais e dos rastos
de borracha.
De acordo com a Mitas, este conceito
traz como vantagens relativamente aos
pneus convencionais maior tração e maior
deslizamento, com resultados numa
diminuição dos custos de operação e num
maior rendimento da cultura. A Mitas diz
também que este novo produto, ainda
em fase de testes, garante uma condução
estável a baixa pressão, confortável e segura,
sem necessidade de ajustar as pressões.
ruminantes janeiro . fevereiro . março 2014 69
equipamento
Cornrower
Produção de
energia na
colheita de
milho grão
A recuperação dos resíduos de colheita
do milho para grão está a ganhar
importância. A biomassa adicional daí
resultante pode ser utilizada como
matéria prima renovável em centrais
de cogeração ou em instações de
biogás, mas também nas camas ou na
alimentação do gado.
O Cornrower consiste num triturador
que reduz os restos da colheita ao
nível da frente de corte, através de
facas especiais, depositando-os em
paveias por meio de painéis defletores.
Estas paveias formam a cama para
as maçarocas de milho e resíduos de
limpeza da ceifeira debulhadora. Pela
primeira vez, é possível colher a partir
da paveia terminada uma grande parte
dos resíduos de colheita, com pouca
percentagem de resíduos e sem esforço
suplementar de trabalho.
Regulação automática do padrão
de distribuição de um distribuidor
de dois discos
A empresa Rauch apresenta, com a
AXMAT, a primeira solução no mundo
para medir online a distribuição de
fertilizante e a regulação automática
de um distribuidor de adubo de
discos consoante o tipo de fertilizante
no depósito e a largura de trabalho
pretendida.
Pela primeira vez, é obtida uma grande
precisão de distribuição de adubo
de forma completamente autónoma,
graças a sensores micro-ondas e a um
sistema de regulação completamente
automático no distribuidor de adubo.
Um braço com micro-ondas que gira
em torno do disco de distribuição do
distribuidor dum espalhador de adubo
de discos, regista a posição do defletor
sob o defletor de adubo, e ajusta o
setor de espalhamento de forma
totalmente autónoma para a largura de
trabalho desejada através de um fundo
de depósito rotativo e da abertura de
dosagem.
Durante a operação de espalhamento,
o padrão de distribuição é monitorizado
em contínuo e, se necessário, o ponto
de descarga do adubo no disco do
distribuidor é reajustado de forma
totalmente autónoma.
O novo ajuste completamente
autónomo do distribuidor de adubo para
a largura de trabalho desejada permite
obter uma maior precisão relativamente
à prática de regulação convencional
sem necessidade de efetuar um teste
de espalhamento em campo. Aumenta
a eficácia do adubo, reduz as emissões
e os custos de fertilização e aumenta a
segurança da colheita. Os testes iniciais
realizados pelo instituto francês IRSTEA
confirmaram as vantagens do sistema.
Gadanheiras condicionadoras rebocadas
John Deere 630/635 e 830/835
As novas gadanheiras condicionadoras John Deere 630/635 e 830/835, que vêm substituir as séries 500 e 800, estão disponíveis
com larguras de trabalho de 3 a 3,5 metros, podendo-se escolher rotores de martelos ou rolos para o acondicionamento. A John Deere
afirma que foram feitos significativos melhoramentos para aumentar o rendimento destes equipamentos, nomeadamente através de
uma maior altura ao solo e do sistema de suspensão flutuante de novo desenho, para além de martelos pré-carregados que aumentam
a capacidade e o fluxo de material..
70 janeiro . fevereiro . março 2014 Ruminantes
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ruminantes janeiro . fevereiro . março 2014 71
conheça a lei
ALTERAÇÕES ÀS OBRIGAÇÕES FISCAIS
IMPOSTAS PELO ATUAL
ORÇAMENTO DE ESTADO
Drª Sofia Peixoto de Menezes, Advogada estagiária, www.fladvoga.com
Nesta edição, por considerarmos que já
se encontram consolidadas as alterações
ao regime do IVA para as atividades
agrícolas, silvícolas ou pecuárias1
impostas pelo Orçamento de Estado
para 2013, faremos um breve “apanhado”
das aplicações práticas das principais
novas regras.
Com a alteração introduzida pelo artigo
198.º da Lei n.º 66-B/2012, de 31 de
dezembro, que aprovou o Orçamento
do Estado para 2013 (OE), foram
estabelecidas novas regras para os
contribuintes que, até aqui, estavam
dispensados da obrigação da liquidação
do IVA nas transmissões de bens
e prestações de serviços no âmbito
das atividades agrícolas, silvícolas ou
pecuárias.
Como tal, aos contribuintes que em
31 de dezembro de 2012 não estavam
registados para efeitos fiscais no
âmbito destas atividades, passou a ser
obrigatória a apresentação de declaração
de início de atividade ou a declaração de
alterações.
Importa, então, definir que contribuintes
estão abrangidos, que tipo de
operações/situações se enquadram e
quais as suas obrigações e respetivos
prazos.
Vejamos.
Estão obrigados à apresentação da
declaração de início de atividade, se
ainda não estão registados para efeitos
de IVA, os contribuintes que realizam
ou pretendem realizar transmissões
de bens ou prestações de serviços no
âmbito das atividades agrícolas, silvícolas
ou pecuárias, independentemente da
sua dimensão económica, ainda que
se tratem de operações com carácter
acessório, com recurso à sua mão-de-obra
e equipamentos.
Ou, caso realizem qualquer uma
daquelas atividades e as mesmas
não constem dos elementos da sua
declaração de início de atividade, estão
obrigados a apresentar a declaração de
alterações.
Transmissões de bens ou
prestações de serviços
abrangidos pelo novo regime
Neste novo regime, encontram-se
abrangidas as transmissões de bens
ou prestações de serviços no âmbito
das atividades agrícolas, silvícolas
ou pecuárias exercidas de um
modo independente, com caráter de
habitualidade e que configurem uma
atividade económica, designadamente,
as seguintes:
a.As comerciais ou industriais,
meramente acessórias ou
complementares daquelas que
utilizem, de forma exclusiva, os
produtos das próprias explorações
agrícolas, silvícolas ou pecuárias;
b.Caça e exploração de pastos naturais,
água e outros produtos espontâneos,
explorados diretamente ou por
terceiros;
72 janeiro . fevereiro . março 2014 Ruminantes
c.Explorações de marinhas de sal;
d.Explorações apícolas;
e.Investigação e obtenção de novas
variedades animais e vegetais,
dependentes daquelas atividades.
Assim, o exercício daquelas atividades
de um modo independente e com
regularidade constitui uma atividade
económica sujeita a IVA.
Importa ainda relevar que constituem
rendimentos da categoria B do IRS os
rendimentos gerados pela prática dessas
atividades, os subsídios, as subvenções,
bem como as ajudas da P.A.C. (Política
Agrícola Comum) da União Europeia
e ainda os rendimentos obtidos nos
atos isolados que não resultem de uma
prática previsível ou reiterada.
Prazos de apresentação das
declarações
Desde 1 de abril de 2013 que os
contribuintes estão submetidos ao
regime geral de tributação do IVA,
conforme estipula o n.º 4 do já referido
artigo 198.º da Lei que aprova o OE para
2013. O que significa que deveriam ter
apresentado as suas declarações até dia
1 de abril do corrente ano.
Para quem não cumpriu com o supra
estabelecido, ou seja, não apresentou
a declaração de início de atividade
ou de alterações de atividade pode
cumprir essa obrigação, sem qualquer
penalidade, até ao dia 31 de janeiro
de 2014 (prorrogação determinada
conheça a lei
por Despacho n.º 486/2013-XIX),
produzindo tais declarações os seus
efeitos à data da entrada em vigor do
novo regime - 1 de abril de 2013.
A declaração de início/alteração de
atividade pode ser entregue, para
quem já dispõe de senha de acesso,
através do Portal das Finanças (www.
portaldasfinancas.gov.pt), ou pode ainda
ser entregue, presencialmente, em
qualquer serviço de finanças.
Com a entrega da declaração de início
de atividade, a Autoridade Tributária
e Aduaneira (AT) comunica o início de
atividade à Segurança Social.
Quanto ao enquadramento para efeitos
de IRS, com a declaração de início de
atividade o contribuinte passa a auferir
rendimentos da Categoria B. Neste
seguimento, em função dos elementos
constantes da declaração de início de
atividade, o contribuinte pode determinar
o rendimento da categoria B sobre a
fórmula do Regime Simplificado ou do
Regime de Contabilidade Organizada,
em função da soma do valor ilíquido
das vendas e prestações de serviço ou
outros, distinguindo-se os regimes da
seguinte forma:
1. Regime Simplificado - Ficam
abrangidos pelo regime simplificado
os contribuintes que, no exercício da
atividade, não tenham ultrapassado,
no período imediatamente anterior,
um montante ilíquido/bruto de
rendimentos obtidos no decorrer da
atividade igual ou inferior a € 150.000.
2.Regime de Contabilidade Organizada
- Se por outro lado a soma dos valores
for superior a € 150.000, a base/lucro
tributável será apurada segundo a
fórmula de determinação prevista no
CIRC.
Há ainda a possibilidade de os
contribuintes abrangidos pelo regime
simplificado poderem optar pela
determinação dos rendimentos com
base na contabilidade organizada,
escolhendo a fórmula que resultar na
base de incidência/valor tributável
inferior.
do artigo 53.º do CIVA, ou reunindo
essas condições, exerça a opção pela
aplicação do regime normal.
Desta nossa breve exposição, dúvidas
haverão, com certeza, nomeadamente
no que diz respeito à prática de um ato
isolado, se implica ou não a entrega de
declaração de início de atividade.
Vejamos então.
A prática de um ato isolado não implica
a entrega de declaração de início de
atividade se o valor da operação for igual
ou inferior a € 25.000.
Logo, a contrário, se o valor da operação
for superior a € 25.000, deve ser
entregue a declaração de início de
atividade nos termos já referidos.
E não esquecer que terá que liquidar o
IVA sobre o valor do ato isolado e que
este deve ser englobado na declaração
de IRS.
Por falar em IVA a liquidar, passamos
a destacar o regime de IVA aplicável,
dando especial atenção ao que pode
beneficiar o contribuinte, ou seja, ao
regime de isenção previsto no artigo 53.º
do CIVA.
Segundo este disposto legal, o
contribuinte fica isento de liquidar IVA
se reunir, cumulativamente, os seguintes
requisitos:
• Não possua, nem seja obrigado a
possuir contabilidade organizada, para
efeitos de IRS;
• Não pratique operações de importação,
exportação ou atividades conexas;
• Não efetue transmissões de bens
ou prestações de serviços previstas
no anexo E do CIVA (Lista dos bens
e serviços do setor de desperdícios,
resíduos e sucatas recicláveis);
• Não indique um volume de negócios,
para o ano civil, superior a € 10.000.
Na prática significa que, se ficar
enquadrado no regime especial de
isenção, ao abrigo do artigo 53.º do
CIVA, não liquidará IVA nas prestações
de serviços e/ou transmissões de
bens mas, em contrapartida, não terá
direito à dedução do IVA suportado nas
aquisições de bens e/ou serviços.
Por exclusão, ficam enquadrados no
regime normal, quando reúnam os
seguintes requisitos:
• Não preencha qualquer dos requisitos
Assim, se ficar enquadrado no regime
normal, liquidará o IVA nas transmissões
de bens e nas prestações de serviços,
podendo exercer o direito à dedução do
IVA suportado nas aquisições de bens
ou serviços inerentes ao exercício da
atividade, com exclusão das previstas no
artigo 21.º do CIVA.
Por último elencamos as
obrigações decorrentes do
enquadramento de regime de
IVA aplicável:
No Regime Especial de Isenção, deve
comunicar à AT, até dia 25 de cada mês,
as faturas emitidas no mês anterior,
ficando dispensado das demais
obrigações decorrentes do Código do
IVA.
No Regime Normal de Tributação, para
além do dever de comunicar à AT as
faturas emitidas no mês anterior, é
obrigatório liquidar o IVA nas operações
que realiza, pagar o IVA apurado na
declaração periódica (o pagamento
é efetuado no prazo da entrega da
declaração periódica), emitir fatura,
fatura-recibo ou fatura simplificada, e
ser titular de caixa postal eletrónica da
qual deve dar conhecimento à AT no
prazo de 30 dias a contar da data do
início de atividade ou da data do início
do enquadramento no regime normal
do IVA, quando o mesmo ocorra por
alteração.
Não podemos deixar de aconselhar a
consulta a um Técnico de Contabilidade
para melhor aplicação prática desta
nossa breve exposição e também
poder vir a beneficiar de uma gestão
contabilística economicamente mais
favorável.
1
Para feito do novo regime, consideram-se atividades
agrícolas, silvícolas ou pecuárias as atividades
elencadas no n.º 4 do artigo 4.º do Código do
Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares
(CIRS), nas condições dos n.ºs 2 e 3 do mesmo artigo
e do artigo 2.º do Código do Imposto sobre o Valor
Acrescentado (CIVA).
ruminantes janeiro . fevereiro . março 2014 73
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FIMA
11 a 15 de fevereiro 2014
Saragoça – Espanha
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6as Jornadas Hospital Veterinário Muralha de Évora
21 e 22 fevereiro de 2014 - Évora
A iniciativa, que na sua última edição teve uma participação que superou os 400
participantes, destina-se à comunidade em geral, a produtores, criadores, proprietários de
animais de produção e cavalos, mas também a médicos veterinários e estudantes.
As Jornadas do Hospital Veterinário Muralha de Évora são atualmente uma referência a nível
nacional para todos aqueles que estão ligados às áreas de produção pecuária e de equinos.
Reflexo deste sucesso foram as empresas que apoiaram as jornadas na sua 5ª edição, cujo
número, e apesar da crise que vivemos, superou aquele das edições anteriores.
Os temas escolhidos para a 6ª edição das Jornadas do HVME são:
• A sustentabilidade da produção pecuária no século XXI.
• Novas tendências na gestão desportiva e produção de equinos.
Mais informações: www.hvetmuralha.pt
AgriShow
28 de abril a 2 maio de 2014
Ribeirão Preto – S. Paulo - Brasil
www.agrishow.com.br/pt-br
Livestock Event
2 e 3 julho de 2014
Birmingham – Ingaterra
www.livestockevent.co.uk
World Dairy Expo
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30 de setembro a 4 outubro de 2014
Madison - USA
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Eurotier
11 a 14 novembro de 2014
Hanover – Alemanha
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74 janeiro . fevereiro . março 2014 Ruminantes
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