CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL EMANUELLE DE ALBUQUERQUE MORENO UMA ANÁLISE DAS POLÍTICAS DE SAÚDE MENTAL PELA OPTICA DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA. FORTALEZA 2013 EMANUELLE DE ALBUQUERQUE MORENO UMA ANÁLISE DAS POLÍTICAS DE SAÚDE MENTAL PELA OPTICA DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA. Monografia apresentada ao curso de graduação em Serviço Social da Faculdade Cearense – FAC, como requisito para obtenção do titulo de bacharelado. Orientadora: Profª Maria Elaene Rodrigues Alves. FORTALEZA 2013 EMANUELE DE ALBUQUERQUE MORENO UMA ANÁLISE DAS POLÍTICAS DE SAÚDE MENTAL PELA OPTICA DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA. Monografia como requisito para obtenção do titulo de bacharelado em Serviço Social, outorgado pela Faculdade Cearense – FAC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos professores. Data de Aprovação:___/___/___ BANCA EXAMINADORA ______________________________________________________ Profª. Msc. Maria Elaene Rodrigues Alves. (Orientadora) Faculdade Cearense ______________________________________________________ Profª. Esp. Richelly Barbosa de Medeiros Faculdade Cearense ____________________________________________________ Profª. Msc. Mayra Rachel da Silva Faculdade Cearense AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, que para mim é a força que ilumina e comanda o meu caminho. Com todo o amor e palavras que não são capazes de traduzir o grande agradecimento que tenho pelos meus pais, Tercina e Ajalmar, que fizeram de meus sonhos as suas lutas, sempre junto para que esse momento se realizasse. Obrigada pela dedicação, afeto e suporte, sem vocês não conseguiria essa vitória, por isso, ela não é minha, mas nossa. Ao meu irmão, Ajalmar Junior que sempre cuidou muito bem de mim, mesmo com todas as dificuldades da vida sempre esteve ao meu lado. A minha irmã Katarina que, apesar de não estar muito presente, torceu por mim nessa conquista. A minha amada cachorra Aika, sempre ao meu lado me dando carinho ate nos momentos que não mereci. Ao meu namorado Rafael Ramon que respeitou meus momentos de estudo, entendendo a minha ausência e me dando força e incentivo para terminar e realizar esse meu sonho. E a toda sua família por me acolher e cuidar de mim, como uma filha. Quero agradecer em especial a minha avó Nilza (in memória), que nos deixo no momento da elaboração do meu TCC, mas que lutou contra uma doença durante 15 anos da sua vida, mostrando sua garra e força de vontade de viver. E Vó Guiomar que aos seus 90 anos esbanja saúde e dignidade e nos motiva em ser uma pessoa trabalhadora e verdadeira. Quero agradecer também em especial a Vó Cleide (in memória) avó do meu namorado, que nos deixou também durante a elaboração do meu TCC,mas que era umas das pessoas que mais me incentivava e cobrava pela minha formatura,a dor e a saudade só me deu mais força para que esse sonho se tornasse real . A todos meus professores do curso de Serviço Social em especial a Kelma Nunes, por me proporcionar a aproximação do meu tema desde inicio do meu estagio como coordenadora da unidade CAPS GERALVI, me colocando sempre em campo em busca de conhecimento. A minha adorável supervisora de estagio Vanusa Tome que é um exemplo de assistente social, que tem a dedicação e amor pela profissão e em passar seu conhecimento com tanta delicadeza e suavidade. Meu eterno agradecimento a ela e a todos da equipe CAPS GERAL de Messejana que me acolheram com tanto respeito durante meu período de estagio. A TOD@S minhas amig@s/coleg@s de todo o curso de Serviço Social Fac, em especial a Sumara Frota , Nathalia Onofre pelo incentivo e dedicação aos estudos À Profª Ms Maria Elaene Rodrigues Alves, Uma mulher sábia, adorável e guerreira. Uma orientadora de dar orgulho Às Profª. Richelly Barbosa de Freitas e Profª. Ms. Mayra Rachel pela participação na Banca Examinadora. Em especial a Profª. Richelly Barbosa que ama transmitir o que sabe para colaborar com o nosso crescimento como pessoa e profissional. E a todos que me incentivaram a começar o curso de Serviço Social e que torcem sempre pela minha vitória. “De homem a homem verdadeiro, o caminho passa pelo homem louco.” Michel Foucault RESUMO O trabalho ora apresentado tem como tema população de rua e saúde mental e como objeto de estudo a população em situação de rua com transtorno mental. O estudo foi realizado nas ruas de Messejana na Cidade de Fortaleza e no terminal de ônibus de Messejana. Objetivou-se com esse estudo pesquisar a percepção da população de rua que sofre com transtorno sobre o seu conhecimento das políticas de saúde mental e as instituições que tratam dos mesmos; analisarmos motivos que levaram essas pessoas a não utilizarem as políticas de saúde mental e a instituição CAPS e o consultório de rua; conhecer de perto a realidade dessa população. A fim de responder os objetivos traçados o trabalho inicial com a contextualização da saúde mental no mundo no Brasil e em Fortaleza, por fim são abordados traços da população de rua e o seu conhecimento através da pesquisa sobre a saúde mental e as políticas de saúde e todo caminho percorrido da pesquisadora. A investigação realizada é de natureza qualitativa, com dados coletados na pesquisa de campo e pesquisa bibliográfica. Dados também foram coletados através de entrevistas estruturadas com três pessoas que vivem nas ruas entorno do bairro Messejana com transtornos mentais. Os resultados da pesquisa proporcionaram a conhecer como são vistas as políticas pelos entrevistados, bem como a importância de um tratamento adequado para os mesmos e como as instituições estão na ativa de busca em ajudar essas pessoas. Palavras – chave: Saúde Mental, População de Rua e Políticas Públicas. ABSTRACT The work presented is themed homeless and mental health and as an object of study population on the streets with mental disorder. The study was performed in the streets of the city of Fortaleza Messejana and bus terminal Messejana. The objective of this research study the perception of the homeless population that suffers from disorder on their knowledge of mental health policies and institutions that deal with the same , to analyze the reasons why these people do not use the mental health policies and CAPS institution and office street ; know more about the reality of this population. To meet the objectives outlined the initial work with the context of mental health in the world in Brazil and Fortaleza, finally traces of the homeless and their knowledge are addressed through research on mental health and health policies and all path taken by the researcher. The research is qualitative in nature, with data collected in the field research and literature. Data were also collected through structured interviews with three people who live in the streets around the neighborhood Messejana interviews with mental disorders. The survey results provided the know how policies are seen by respondents as well as the importance of an adequate and for the same treatment as the institutions are active in search help these people. Keywords-Keywords: Health Mental, Street Population Health and Health Policy. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ...............................................................................................10 1. PERCURSO METODOLÓGICO ................................................................12 1.1 Trajetórias e reflexões percorridas ...........................................................12 1.2 A constituição do objeto de estudo ..................................................... 14 2. A HISTÓRIA DA SAÚDE MENTAL ........................................................ 21 2.1 O Contexto da saúde mental no Mundo............................................... 21 2.2 O Contexto da Saúde Mental no Brasil ............................................... 24 2.3 Reforma Psiquiátrica Brasileira ........................................................... 26 2.4 A Saúde Mental em Fortaleza: Avanços e desafios ........................... 32 3. POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA ................................................. 33 3.1 Contextualizando as políticas públicas e população em situação de rua ................................................................................................................. 33 3.2 População em situação de Rua: sujeitos em questão no atendimento às políticas públicas .................................................................................... 44 3.3 Análise da visão dos moradores de rua sobre as políticas públicas de saúde mental (CAPS e Consultório de Rua) ........................................... 48 CONCLUSÃO ............................................................................................... 52 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 54 ANEXO ......................................................................................................... 61 DECLARAÇÃO DE CORREÇÃO ................................................................ 62 10 INTRODUÇÃO A saúde mental no Brasil e no mundo foi baseada, por muito tempo, no isolamento dos pacientes em hospitais psiquiátricos gerando assim um grande número de pacientes afastados por longo tempo do convívio social e que precisavam de um apoio maior e especial para que a sua reinserção na sociedade fosse feita. Com muitas lutas em favor da melhoria na saúde mental mudanças têm ocorrido e a esperança e a expectativa de que novos modelos assistenciais trariam uma base para a melhoria nesse setor ocorre com a Reforma Psiquiátrica e movimento de Reforma Psiquiátrica representa um grande avanço nas práticas em saúde mental, tentando estabelecer uma cidadania efetiva para os usuários da rede. A Reforma Psiquiátrica e a própria Legislação Psiquiátrica, que tem por visão reduzir os leitos psiquiátricos e contrariamente, visa incrementar, qualificar e expandir e fortalecer as redes extra-hospitalar como o Centro de Atenção Psicossocial – CAPS e as unidades, como os Consultórios de rua esses programas condizem com o tratamento dos usuários de saúde mental e com a efetiva inserção dos mesmos na sociedade os tirando da política de exclusão. No entanto, na busca de compreender as situações do cotidiano que envolvem a população de rua com transtorno mentais e as políticas e redes extra hospitalares no tratamento dos mesmos, percebi a complexidade de se viver e sobreviver, notadamente quando se investiga pessoas e suas relações nessa sociedade desigual e marcada por contradições. Este segmento da população brasileira e, principalmente da cearense na qual foi realizada a pesquisa está totalmente desprovido de meios de amparo social e de benefícios para o seu bem estar físico, mental e social, não havendo um meio eficaz 11 de suporte para evitar tal agravamento do seu quadro clinico e o abandono social em que vivem. O ato de pesquisar é um dialogo permanente com os sujeitos da pesquisa, quando o processo de construção do objeto acontece por vários motivos. Como afirma Setúbal (1999) tal objetivo leva o pesquisador a se voltar para a captação das diferenças significativas que compõem a forma de ser do objeto de comunicação e de acordo com o olhar e o compromisso do pesquisador com a realidade. O cenário de total abandono em que as pessoas em situação de rua em Fortaleza com transtornos mentais se encontram, ao longo de muitas décadas, no que diz respeito ao atendimento a essa população, potencializou a situação de indigência de alguns setores sociais que ficaram cada vez mais excluídos. Dentre tantos motivos que nos levaram a estudar a população em situação de Rua com transtorno mental de Fortaleza, destaca-se a experiência no estágio dentro do CAPS; e a experiência de não conseguir ver as políticas públicas voltadas para essa população com tanta ênfase. E para tratarmos mais a fundo essa questão foram levantados no I capitulo, faremos um percurso metodológico do caminho traçado para realizar a pesquisa as dificuldades e reflexão que nos deixaram. No II tem como Título a História da Saúde Mental fazendo uma análise da saúde mental no mundo, no Brasil e em Fortaleza. No III trazemos uma contextualização sobre a população de rua, as políticas que abrangem essa população e suas falhas. 12 1. PERCURSO METODOLÓGICO 1.1. Trajetórias e Reflexões Percorridas O interesse inicial de estudar a temática da saúde mental ocorreu no inicio da minha graduação em Serviço Social e cresceu ainda mais no meu estágio curricular obrigatório durante um ano e meio no CAPS Geral em Messejana. O CAPS Geral da Ser VI foi a minha porta de entrada para conhecer de perto a saúde mental e as políticas que envolviam a instituição. No entanto, o objetivo inicial de pesquisar a saúde mental era voltado para a pesquisa da atuação das Assistentes Sociais inseridas no CAPS Geral de Messejana, o desejo em pesquisar o Serviço Social dentro do CAPS ocorreu por motivo de estar todos os dias e ver o exemplo de duas grandes profissionais dentro da saúde mental minha supervisora de campo Vanusa Tomé e da coordenadora na época do estágio e também assistente social Kelma Nunes foram as minhas inspirações para me dedicar à pesquisa em saúde mental. O CAPS me proporcionou diversas inquietações, explicações e ao mesmo tempo dúvidas em relação à saúde mental. Durante um ano e meio conheci diversos tipos de usuários, dos que sofriam de pequenos transtornos até os mais graves, durante o estágio minha supervisora me dava carta branca para participar dos grupos que existiam e de todas as visitas domiciliares em busca de dar aparato e encaminhamento aqueles que sofriam de problemas psíquicos. Tive a oportunidade de ver várias intervenções feitas pelo Serviço Social, pela equipe de enfermagem e até pela equipe médica, todos que conheci dentro do CAPS faziam de tudo para que a política fosse realmente implantada dentro da instituição, não se esquecendo de falar das dificuldades que existiam como a falta de medicamentos, de médicos de um espaço mais adequado e de atendimento, mas isso ocorria por um problema de gestão superior e não pelos profissionais que estavam ali envolvidos, que faziam de tudo para garantir os direitos dos portadores de transtorno mentais, mesmo com essas dificuldades os profissionais que ali trabalhavam faziam de tudo para que o atendimento não fosse parado e fosse de boa qualidade mesmo com poucos recursos disponíveis. 13 Toda essa experiência institucional que pude passar me possibilitou refletir, no próprio cotidiano profissional do assistente social e das demandas a cerca da saúde mental pelos usuários, também das múltiplas dimensões e contradições inerentes ao objeto de pesquisa que eu desejara realizar voltados para a dimensão da prática do assistente social dentro da instituição de saúde mental. Em outros termos, esse contato permitiu importantes condições para melhor compreender e analisar historicamente o perfil dessas profissionais inseridas no âmbito CAPS. Tudo isso me levou a elaboração de um projeto de TCC voltado para a saúde mental e o papel do Serviço Social na instituição do CAPS. Durante o período da elaboração do projeto da disciplina de Fundamentos de TCC, fui desenvolvendo estudos, analisando o perfil das profissionais no meu campo de estágio e Investigando com mais rigor de detalhes sobre a história da saúde mental. Porém, com a mudança de semestre em busca de orientadora, pela dificuldade com a aprovação na Plataforma Brasil e pelo curto tempo para concluir a monografia, estava apta a realizar minha pesquisa no 8º semestre que iria se iniciar logo após, no entanto tive o prazer de conhecer a professora Elaene que conheceu meu projeto e decidiu ser minha orientadora, porém seu eixo temático era voltado para a população de rua, desde então conheci sua tese de mestrado e me encantei, e foi aí que fui convidada pela mesma a mudar o foco do meu tema não saindo da saúde mental, mas de pesquisar a saúde mental com foco na população de rua com transtorno mental. Aceitei a proposta e a partir daí resolvi descobrir esse universo da população de rua, que me era estranho, concordando com Minayo (2010) que diz “todo pesquisador precisa ser curioso, um perguntador. E essa qualidade deve ser exercida o tempo todo” (p.62). Porém, o novo aguçou mais ainda o meu lado pesquisadora me levando pra esse foco na população de rua e me envolvendo a cada dia com essa temática que parecem esquecida e distante da sociedade e de muitos pesquisadores. Conforme Goldenberg A simples escolha de um objeto já significa um julgamento de valor na medida em que ele é privilegiado como mais significativo entre tantos outros 14 sujeitos à pesquisa. O contexto da pesquisa, a orientação teórica, o momento sócio histórico, a personalidade do pesquisador, o ethos do pesquisado, influenciam o resultado da pesquisa. Quanto mais o pesquisador tem consciência de suas preferências pessoais mais é capaz de evitar o bias (tradução: viés, parcialidade e preconceito – grifo nosso) muito mais do que aquele que trabalha com a ilusão de ser orientado apenas por considerações científicas. (GOLDENBERG, 2004; p.45). Podemos aqui ressaltar que a melhor forma para podemos compreender as situações da vida cotidiana é aprendendo a sua complexidade e suas manifestações, na qual afinamos os instrumentos de observação da mesma e fazemos crítica dos fatos observados, isso que ocorreu durante minha pesquisa. Nesse sentido, construir perguntas sobre a realidade da população de rua com transtorno mental e elaborar esquemas de pensamentos em busca de possíveis respostas para tal situação e sobre as políticas de direito dessa população, mesmo que essas sejam parciais, exigem do pesquisador processo de abertura frente a um percurso tortuoso, porém instigante, que deve considerar as experiências realizadas e outras que serão vividas. Diante disso, irei ressaltar o percurso da constituição do meu objeto escolhido. 1. 2 A constituição do objeto de estudo. Algumas indagações acerca da política para população de rua com transtornos mentais foram - me feitas durante os meses de pesquisa. A intenção deste estudo é uma análise da realidade pesquisada, não interessa aqui os grandes fatos ocorridos em grande dimensão, mas aqueles mais próximos dos sujeitos em situação de rua com transtorno mental que provocam uma inquietude e a repercussão que a falta de tratamento trazem diretamente em suas vidas, porque “a realidade social é, em si, o próprio dinamismo da vida individual e coletiva com toda a abundância de significados dela transbordantes” (OSTERNE, 2001; p. 23). Durante a construção da minha pesquisa passei por vários sentidos da teoria metodológica que pode aqui ser destacada mostrando que: Metodologia significa, etimologicamente, o estudo dos caminhos a serem seguidos, dos instrumentos usados para se fazer ciência. A Metodologia faz um questionamento crítico da construção do objeto científico, problematizando a relação sujeito-objeto construído. Diante de uma 15 objetividade impossível, a Metodologia busca uma subjetividade controlada por si mesma (autocrítica) e pelos outros (crítica). (GOLDENBERG, 2004; p. 105). A referente pesquisa teve como abordagem a pesquisa qualitativa, Goldenberg (2004) afirma que “Na pesquisa qualitativa a preocupação do pesquisador não é com a representatividade numérica do grupo pesquisado, mas com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização, de uma instituição, de uma trajetória etc.” (p.14). Esta modalidade se constitui na que melhor se adequava aos propósitos do estudo devido à complexidade e às contradições dos fenômenos estudados em termos de suas origens e de sua razão de ser. Levamos a efeito também, a revisão de literatura tomando por base as categorias de análise. Dentre as categorias inerentes ao objeto delimitado destacam-se os seguintes conceitos: Saúde mental, Políticas e População em situação de rua. Nas leituras realizadas dialogamos com as seguintes autores: Amarante (2003), Bisneto (2011), Brasil (2004), Delgado (2007), Foucault (2007), Paniago (2007), Oliveira (2012), Rosa (2005), entre outros. Quanto ao tipo esta pesquisa se caracteriza como documental bibliográfica e de campo. Pesquisa documental com enfoque nos registros de jornais e em documentos oficiais, a exemplo dos Planos de Política Nacional para pessoas com Doenças Mentais e População em Situação de Rua, Pesquisa Nacional de População em Situação de Rua. Pesquisa documental é onde são investigados documentos com o propósito de descrever e comparar usos e costumes, tendências, diferenças e outras características. As bases documentais permitem estudar tanto a realidade presente como o passado, com a pesquisa histórica. (CERVO, 2007; p.62). Com esse objetivo, avançamos no estudo da temática ao nos debruçarmos em pesquisas bibliográficas, fazendo um levantamento bibliográfico dos assuntos pesquisados sobre saúde mental e população de rua “A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a descoberta de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar 16 diretamente [...] a pesquisa bibliográfica também é indispensável nos estudos históricos.” (GIL, 2002; p. 45). Enfocando sempre a problemática da população em situação de Rua com transtorno mental da cidade de Fortaleza, estabelecemos conversas essas pessoas em diversas situações de transtorno e em vários lugares, objetivando compreender o cotidiano de cada uma. A Pesquisa Bibliográfica aconteceu também quando fizemos um apanhado em linhas gerais sobre os principais trabalhos científicos já realizados sobre o tema escolhido. A pesquisa de campo pôde iniciar-se com a observação direta. A observação direta, como afirma Goldenberg, Apresenta a vantagem metodológica de permitir um acompanhamento mais prolongado e minucioso das situações. Essa técnica, complementada pelas técnicas de entrevista em profundidade, revela o significado daquelas situações para os indivíduos, que sempre é mais amplo do que aquilo que aparece em um questionário padronizado. (2004; p.34). Essa observação direta implica em vários percursos feitos pelas ruas e terminais, Minayo ressalta da importância da pesquisa de campo quando nos traz a afirmação. O trabalho de campo permite a aproximação do pesquisador da realidade sobre o qual formulou uma pergunta, mas também estabelecer uma interação com os “atores” que conformam a realidade e, assim, constrói um conhecimento empírico importantíssimo para quem faz pesquisa social. (MINAYO, 2010; p.62). Ir a campo foi à melhor forma que encontrei para me aproximar dessas pessoas, mesmo com todas as dificuldades de aproximação com o meu objeto, Gil ressalta essa importância “No estudo de campo, o pesquisador realiza a maior parte do trabalho pessoalmente, pois é enfatizada a importância de o pesquisador ter tido ele mesmo uma experiência direta com a situação de estudo.” (2002, p. 53). Essa observação no campo implica em vários percursos que foi feito pelas ruas, praças e terminais de Fortaleza, momentos em que buscávamos nos familiarizar com a dinâmica das ruas. 17 Embora, que quantitativamente pelo nosso percurso observando que as pessoas com transtornos mentais representam uma minoria nas ruas, não podemos negligenciar oportunidades de conhecer sua realidade particular. Nesse contexto nosso objetivo foi de analisar se essas pessoas com transtornos mentais que vivem nas ruas conhecem as políticas de saúde mental e as instituições que atendem pessoas com transtornos mentais, tendo como foco sua condição de vida e vivências com o fenômeno portador de transtorno mental vivendo nas ruas de Fortaleza. As experiências vividas durante a pesquisa ajudam a desvendar o real e nos coloca em movimento, diante disso [...] o objetivo do pesquisador é compreender a vida do indivíduo dentro da própria sociedade em que vive. (GOLDENBERG, 2004; p.21). Não esquecendo que as dificuldades de uma aproximação com essas pessoas ocorreram, as mesmas entram em um estado de real e imaginário e muitas não conseguem exemplificar qual seu tipo de transtorno e o conhecimento que tem sobre as políticas de saúde mental. As políticas não chegam até a população de rua com transtornos de uma maneira eficaz, sabemos das dificuldades que essa população tem para ter um simples atendimento em uma unidade como o CAPS, devido a alguns não possuírem documentos e existe uma exigência na instituição que para ser atendido deverá munir-se de uma documentação, dessa forma deixa de atender uma população que necessite de amparo. Pude então observar, que se as políticas se unissem e fizessem um programa que englobassem as instituições de atendimento desses do tipo CAPS e Consultório de Rua seriam mais eficazes. Dada à natureza da pesquisa utilizamos outra técnica como complemento da coleta de informações, durante o trabalho de campo, a saber, entrevistas estruturadas; A entrevista estruturada é conhecida como entrevista diretiva ou fechada. As entrevistas estruturadas são elaboradas mediante questionário totalmente estruturado, ou seja, é aquela onde as perguntas são previamente formuladas e tem-se o cuidado de não fugir a elas. O principal motivo deste zelo é a possibilidade de comparação com o mesmo conjunto de perguntas e que as diferenças devem refletir. (QUARESMA, 2005; p. 74). 18 A decisão pelas entrevistas estruturadas se deu pelo motivo da realidade das pessoas pesquisadas, seguindo um roteiro de perguntas fechadas e objetivas para tentarmos não fugir da realidade. A intenção era aproveitar o máximo das respostas em cima das perguntas objetivas deixando à vontade as pessoas para podermos captar o que seria real e imaginário nos questionamentos para que tivessem possibilidade de discorrer sobre o tema proposto. Fizemos uma conversa informal, mas também seguimos um conjunto de questões previamente definidas, ou seja, antes de iniciarmos as entrevistas explicamos as questões que iríamos abordar. Nas entrevistas encontramos pessoas que eram bastante objetivas em suas respostas. Percebemos muitas dificuldades quando se falava sobre as políticas e o CAPS e quando falávamos sobre o seu transtorno. Durante a entrevista estivemos sempre atentas ao espaço, às pessoas que passavam e observava o comportamento dos entrevistados e até os próprios entrevistados tentando compreender o perfil onde eles estavam inseridos, Goldenberg afirma que [...] o objetivo do pesquisador é compreender a vida do indivíduo dentro da própria sociedade em que vive. (2004, p.21). Compreendemos que a entrevista como coleta de dados sobre um determinado tema científico é a técnica mais utilizada no processo de trabalho de campo. Foram feitas três entrevistas, porém definimos trabalhar com as três entrevistas pelo pequeno numero que conseguimos uma feita no Terminal da Messejana e as outras duas nas ruas mesmo de Fortaleza no bairro da Messejana. Os critérios utilizados foram os mesmos do objetivo da pesquisa pessoas com transtornos mentais que residem nas ruas de fortaleza. As pessoas entrevistadas tiveram sigilos mantidos sobre seus nomes verdadeiros, mesmo não sabendo se realmente o nome que deram eram verdadeiros devido aos transtornos que elas têm e colocamos sua identidade como entrevistados, Weber, Marx e Maria da Penha. Nesse processo, estabelecemos alguns objetivos específicos ressaltando o que Goldenberg (2004) afirma que “o objeto de estudo deve responder aos 19 interesses do pesquisador e ter as fontes de consulta acessíveis e de fácil manuseio. Quanto mais se recorta o tema, com mais segurança e criatividade se trabalha”. (p.72). Tais objetivos específicos estão diretamente interligados com as perguntas inerentes ao objeto em questão, quais sejam: Analisar a falta de incentivo dos centros de apoio psicossocial aos moradores de rua com transtornos mentais, onde eles estão que não dão apoio a esses moradores; entender o motivo que levaram essas pessoas a desconhecer as políticas psicossociais pelo Estado e se afastarem da família e conhecer a realidade de perto desses moradores na tentativa de esclarecer os motivos de seu transtorno mental. Na trilha da construção do conhecimento e no sentido de melhor esclarecer o estudo realizado, foram construídas algumas hipóteses como forma de sinalizar rumos para concretizar o processo investigativo do nosso estudo em questão. Devemos ressaltar que compreendemos hipóteses como afirmações provisórias a respeito de determinado fenômeno em estudo. São afirmações para serem testadas empiricamente e depois confirmadas ou rejeitadas. A fim de desvendar as possíveis respostas para os questionamentos já expostos para as seguintes hipóteses partem como balizas para a construção deste processo investigativo: Para esses moradores de rua com transtorno mental o desconhecimento em relação os centros de apoio psicossocial é nítido devido às falhas na interação entre instituição e população de rua. Por sua vez, as populações de rua com transtornos mentais foram excluído do seio familiar pela própria família, e jamais sequer conheceram o apoio do Estado e de outras pessoas que não sejam eles mesmos. Os motivadores dos transtornos mentais da população de rua analisados é uma questão de saúde adquirida pelo fator biológico e uma pequena parcela por questões de transtornos familiares. Existem pessoas em situação de rua com transtorno mental por toda a cidade de Fortaleza, dos bairros de classe média ao de classe alta em viadutos, vias, especialmente próximos ao Centro, nas vias que se localizam nas mediações das 20 praças e também naquelas que possuem maior dinamicidade comercial e acentuado fluxo de transeuntes. Comumente surgiram perguntas durante o processo de construção sobre os desafios que uma pesquisa desta natureza poderia trazer. Adentrar como pesquisadora no emaranhado de acontecimentos vividos cotidianamente no campo da vivência de população de rua com transtorno mental, não seria uma tarefa fácil. E, portanto, assim se faz entendermos que esse trabalho tem nos dado a oportunidade de um relato da longa viagem realizada para alcançar o cotidiano das pessoas que vivem nas ruas com transtorno mental, mas como um modo diferente de olhar e pensar suas realidades particulares. Goldenberg afirma que; Fazer uma pesquisa significa aprender a pôr ordem nas próprias ideias. Não importa tanto o tema escolhido, mas a experiência de trabalho de pesquisa. Trabalhando- se bem não existe tema que seja tolo ou pouco importante. A pesquisa deve ser entendida como uma ocasião única para fazer alguns exercícios que servirão por toda a vida. O trabalho de pesquisa deve ser instigante, mesmo que o objeto não pareça ser tão interessante. O que o verdadeiro pesquisador busca é o jogo criativo de aprender como pensar e olhar cientificamente. (GOLDENBERG, 2004; p.68). Afirmando com o que a autora descreve fazer pesquisa é prazeroso e pesquisar a população de rua com transtorno mental me fez ter uma aproximação maior e um olhar mais crítico em relação às políticas voltadas para esse público, ressaltando que não existe tema tolo ou importante e sim temas que abordem a defesa dos direitos dos cidadãos. 21 2. A HISTÓRIA DA SAÚDE MENTAL. 2.1 O contexto da saúde mental no Mundo. Foucault (2007) acerca dos seus estudos sobre a loucura fala que no século XVII ela fazia parte de um espaço moral de exclusão, ligada obstinadamente as maiores experiências no período da renascença uma das figuras simbólicas que ele nos traz é sobre a Nau dos loucos “estranho barco que desliza ao longo dos calmos rios da Renânia e dos canais flamengos.” (p.13). Tal acontecimento como ele caracteriza eram navios que levavam pessoas consideradas loucos de uma cidade para outra tirando os mesmos fora do convívio em sociedade livrando dessas pessoas para que não prejudicasse os cidadãos na época e jogando em prisões em cidades bem afastadas “Os loucos tinham então uma existência facilmente errante. As cidades escorraçavam-nos de seus muros; deixava-se que corressem pelos campos distantes, quando não eram confiados a grupos de mercadores e peregrinos.” (FOUCAULT, 2007; p. 13). Era na verdade um exato costume colocar os considerados “loucos” para a sociedade naquela época nesses barcos tratando-se de uma medida geral de expurgo tratando-os como vagabundos. Os loucos que assombravam as Naus iam de uma cidade para outra e ao chegar lá eram jogados em prisão, eram alojados nessas prisões e mantidos pela cidade, mas não eram tratados. Os marinheiros levavam esses loucos de sua cidade e jogavam em outra purificando a sua cidade original como assim relatava a sociedade da época, tirando-os da presença da mesma. Acontecia de alguns loucos serem chicoteados publicamente, e que no decorrer de uma espécie de jogo eles fossem a seguir perseguidos numa corrida simulada e escorraçados da cidade a bastonadas. Outro dos signos de que a partida dos loucos se inscrevia entre os exílios rituais. (FOUCAULT, 2007; p. 16). A navegação dos loucos é uma situação da rigorosa passagem absoluta da preocupação do homem medieval. 22 Fechado no navio, de onde não se escapa, o louco é entregue ao rio de mil braços, ao mar de mil caminhos, a essa grande incerteza exterior a tudo. É um prisioneiro no meio da mais livre, da mais aberta das estradas: solidamente acorrentado à infinita encruzilhada. (FOUCAULT, 2007; p.17). Já por fim da idade média o louco se tornou um dos maiores personagem em sua ambiguidade como uma ameaça, e medíocre ridículo dos homens. “E eis que nos últimos anos do século esta grande inquietude gira sobre si mesma: o desatino da loucura substitui a morte e a seriedade que a acompanha.” (FOUCAULT, 2007; p.20). O saber dos loucos era considerado como o saber proibido, o prediz do reino do satã, a idade média tinha atribuído um lugar a loucura na hierarquia dos vícios. A partir do século XIII, é comum vê-la figurar entre os maus soldados da Psicomaquia66. Em Paris como em Amiens, ela participa das más tropas e dessas doze dualidades que dividem entre si a soberania da alma humana: Fé e Idolatria, Esperança e Desespero, Caridade e Avareza, Castidade e Luxúria, Prudência e Loucura, Paciência e Cólera, Suavidade e Dureza, Concórdia e Discórdia, Obediência e Rebelião, Perseverança e Inconstância. (FOUCAULT, 2007; p. 28). Na literatura sob o domínio da expressão na filosofia no século XV a experiência da loucura, assume um aspecto de sátira moral. É por isso que a experiência clássica, e através dela a experiência moderna da loucura, não pode ser considerada como uma figura total, que finalmente chegaria, por esse caminho, à sua verdade positiva; é uma figura fragmentária que, de modo abusivo, se apresenta como exaustiva; é um conjunto desequilibrado por tudo aquilo de que carece, isto é, por tudo aquilo que o oculta. (FOUCAULT, 2007, p. 34). A experiência da loucura se estende do século XVI como descobertas extremas que nos permitem considerar que essa experiência teve uma figura particular que conduz a um pensamento racional à análise da loucura como doença mental. A loucura tornou-se uma forma relativa à razão, que faz entender que toda loucura tenha uma razão de ser que a julga a controla e que a fundamenta até a sua cura e que faz de cada “louco” estabelecer uma alegria em seu intimo no seu estado. Como assim afirma a declaração de Erasmo de Rotterdam em seu livro elogio da loucura 23 Embora os homens costumem ferir a minha reputação e eu saiba muito bem quanto o meu nome soa mal aos ouvidos dos mais tolos, orgulho-me de vos dizer que esta loucura, sim, esta loucura que estais vendo é a única capaz de alegrar os deuses e os mortais. (ROTTERDAM, 2002; p. 12). Pode-se pensar ousadamente que, na poesia existente das palavras de Erasmo sobre a presença da loucura, não é um mero expediente literário de sua época. Porém, como afirma Pessotti (1999) à loucura comparece como um estado que, mesmo incidental, é uma contingência natural da vida humana. No período após o Renascimento, aspectos marcantes como a criação do Hospital Geral, em 1656, episódio conhecido como a Grande Internação, revelam a negatividade histórica da loucura frente ao referencial da razão, em que os incapacitados e ociosos são retirados de cena diante de uma nova ética do trabalho. (SOARES, 2006). Não obstante, antes do século XVIII, a medicina da loucura não cessou de evoluir, seja como saber doutrinário, seja como atividade diagnostica parecendo infundado pensar que a escassez de categorias para classificar as formas de loucuras corresponde ao nível de evolução do saber médico. (PESSOTTI, 1999). No entanto, em meados do século XVIII, a loucura começa a adquirir um status bastante singular. A alienação mental foi o primeiro termo conceituado por um médico sobre a loucura, a loucura em manicômios foi denominada por Pinel como alienados “o alienado era aquele que não mantinha o equilíbrio de suas paixões, sendo estranho àqueles que estavam a sua volta e as novas regras produzidas como sendo moral e ética.” (CALDAS, NOBRE, 2012; p. 73). Com a modernidade articulada ao avanço da ciência, o homem racional estava presente em uma sociedade racional organizada, e os chamados alienados considerados não racionais eram isolados em instituições psiquiátricas sob a ordem do homem racional que detinha a razão. 24 Após a segunda guerra mundial, quando os hospitais psiquiátricos foram comparados a campos de concentração nazistas surgiram muitos questionamentos referentes ao tratamento dado no interior dos manicômios, movimentos de diversos buscaram iniciar uma humanização para haver uma reforma tais como: movimento das comunidades terapêuticas, na Inglaterra e EUA, bem como a Psicoterapia Institucional na França, na década de 60 essas propostas que questionam a psiquiatria despontam tendo como proposta uma ruptura do modelo manicomial. (CALDAS, NOBRE, 2012). Como fala Amarante sobre as aventuras no manicômio de Baságlia em relação a sua visão no sentido de uma ruptura desse tratamento nos manicômios. As dimensões de negação/superação e, posteriormente, de invenção de outro referimento psiquiátrico podem ser consideradas como constituinte de uma ruptura que da origem ao novo dispositivo. Ruptura que seria operada tanto em relação à psiquiatria tradicional (o dispositivo da alienação), quanto em relação à nova psiquiatria (o dispositivo da saúde mental), e demarcaria uma ruptura/descontinuidade aos níveis práticos e teóricos, tendo como ponto de referimento a negação da psiquiatria enquanto ideologia. (AMARANTE, 1994; p. 61). Para Pessotti (1996), o século XIX poderia ser chamado de século dos manicômios, por sua proliferação como hospitais direcionados para o tratamento dos chamados alienados que viviam em sociedade. O surgimento de muitos manicômios ai era muito nítido. No entanto, as experiências de reformas psiquiátricas no cenário internacional foram de suma importância para o cenário brasileiro vindo a influenciar o processo de reforma psiquiátrica no Brasil com o cenário que aconteceu da reforma psiquiátrica democrática que na Itália. (CALDAS, NOBRE, 2012). 2.2 O contexto da saúde mental no Brasil. No Brasil, a loucura permaneceu silenciosa por muito tempo. No século XVIII, o país era extremamente rural, suas capitais eram pouco habitadas, a economia era auto-suficiente (com produções basicamente domésticas). 25 A loucura surge nas ruas, depois de ser ignorada por quase trezentos anos. Aqui também ela aparece, como alguns séculos antes na Europa, junto com os marginais e é considerado um obstáculo ao crescimento econômico, perturbadora da paz, ociosa e desordeira. (SARTORI, 2006). Porém até o inicio do século XIX, esses os ditos loucos eram tratados de duas maneiras se fossem calmos vagavam pelas ruas como os desordeiros, se fossem agressivos eram levados para a cadeia publica onde permaneciam acorrentados. Os desordeiros, alienados ficavam nas ruas ou em santas casas ou eram mantidos em prisão junto com arruaceiros e outros tipos de criminosos que os maltratavam. O fato é que, a saúde mental passa a ter a atenção do poder público a partir do Império, período que foi marcado pela vinda da família real para a cidade do Rio de Janeiro. (SARTORI, 2006). Segundo Amarante (2003), em 1808 com a chegada da família real, ocorreram várias mudanças no cenário político, cultural e econômico no Brasil, houve várias transformações para o país com ênfase na saúde e na habitação, surgindo à urbanização da cidade nesse período. A forma com que o Estado lidava com os loucos era assegurada nas leis, decretos e resoluções, e no momento em que a família real veio para o Rio de Janeiro, como os loucos ameaçavam a sociedade ao olhar da mesma a ordem era colocá-los em asilos para proteger os cidadãos. Muitos médicos e intelectuais se manifestaram na época contra a forma que a sociedade excluía esses doentes mentais e contra a maneira que eles eram tratados. Devidos as várias pressões pela classe médica ao poder público, em 05 de Dezembro de 1852 foi inaugurado o primeiro Hospital Psiquiátrico, chamado na época de Hospício Psiquiátrico, nomeado de Hospital Pedro II, na cidade do Rio de Janeiro, consagrado marco da assistência psiquiátrica pelas literaturas brasileiras em saúde menta. (SOUZA, 2009). A psiquiatria nasce, no Brasil com o desígnio de resguardar a população contra os exageros da loucura, ou seja, não havia finalidade em buscar uma cura para aqueles que sofriam de transtornos mentais, mas sim excluí-los da sociedade para que esta se sentisse segura protegida. (MESQUITA, 2008). 26 O modelo asilar ou hospitalocêntrico continua predominante até o final do meado do século XX. Conforme Mesquita (2008) em 1961, o médico italiano Franco Baságlia assume a direção do hospital Psiquiátrico na Itália. Ele assumia uma crítica para com a psiquiatria clássica e hospitalar, por esta se centrar no principio do isolamento do alienado. Mesquita ainda nos completa que Baságlia defendia que o doente mental voltasse a viver em sociedade e a viver com a sua família, sua atitude inicial foi de aperfeiçoar a qualidade de hospedaria e cuidado técnico aos internos do hospital em que ele dirigia. No entanto, essas normas e pensamento de Baságlia influenciaram diversos personagens do movimento que lutava pela mesma causa no Brasil, fazendo ressurgir diversas discussões que tratava da desinstitucionalização do portador de doença mental e da questão de uma humanização no tratamento a essas pessoas, com o objetivo principal de reinseri-las na sociedade. Então no Brasil, na década de 70 várias denuncias foram registradas quanto à política brasileira de saúde mental devido à privatização da assistência psiquiátrica por parte da previdência social, denuncias também quanto às condições subumanas de atendimento psiquiátrico a população. É dentro desse contexto que nasce a reforma psiquiátrica no Brasil onde a experiência italiana sobre a desinstitucionalização dos manicômios é inspirada e isso revelou uma possibilidade de uma ruptura com o antigo modelo asilar dos “alienados” passando a surgir novas propostas e ações que dessem orientação a um novo sistema de assistência psiquiátrica aos portadores de transtornos mentais e com os movimentos contra esse modelo. (MESQUISTA, 2008). 2.3 Reforma Psiquiátrica Brasileira. A saúde no Brasil, entre os anos de 1930 a 1960, era assistida por políticas sociais organizada em dois subsetores: a saúde publica voltada para campanhas de endemias e seu combate e a medicina previdenciária, que atendia aos contribuintes da previdência social. (SOUZA, 2009). 27 Souza (2009) cita vários momentos importantes para a saúde mental no Brasil e que contribuíram para se chegar a Reforma Psiquiátrica. A liga brasileira de Higiene Mental, criada em 1923 foi muito importante para a ampliação do atendimento aos pacientes com doenças mentais defendendo a melhoria do atendimento aos loucos no interior das instituições psiquiátricas. 1930 no governo de Getúlio Vargas com a criação do Ministério da Educação e saúde pública passando a controlar a assistência Psicopata do Distrito Federal. 1936 a criação do Instituto de Psiquiatria, onde o eixo de entendimento para um tratamento do doente mental foi mudado. 1941 Foi criado o órgão que passou a gerir toda a Política de Doença mental, nomeado de Serviço Nacional de Doenças Mentais, que em 1953 passou a ser de responsabilidade do Ministério da Saúde. 1950 enfatizam-se com a importância da racionalização do atendimento psiquiátrico pela criação de uma rede ambulatorial e pela implantação de várias medidas como o Hospital – dia, unidades psiquiátricas em hospitais gerais e centros de recuperação. É a partir de 1955 que se inicia a utilização das drogas anti psicoativas as quais também são disponibilizadas no mercado. O ano de 1960 é então considerado como o Ano Internacional da Saúde Mental no qual fazia uma grande divulgação da psiquiatria preventiva estendendo o tratamento a todos da sociedade que precisassem também nesse mesmo ano, a saúde mental esteve ligada ao Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). Já na década de 1970 iniciou-se o lema “Todos Juntos para frente Brasil” com entrada de indústria estrangeiras endividamento externo e o aumento da pobreza com isso o aumento dos manicômios devido a tantos problemas que afetavam a sociedade muitos foi parar nesses centros psiquiátricos. (SOUZA, 2009). A Reforma psiquiátrica brasileira historicamente tem seus limites demarcados como um movimento histórico de caráter político ideológico e socioeconômico. 28 O processo da Reforma Psiquiátrica brasileira tem uma história própria, inscrita em um contexto internacional de mudanças pela superação da violência asilar. Fundado, ao final dos anos 1970, na crise do modelo de assistência centrado no hospital psiquiátrico, por um lado, e na eclosão, por outro, dos esforços dos movimentos sociais pelos direitos dos pacientes psiquiátricos, o processo da Reforma Psiquiátrica brasileira é maior do que a sanção de novas leis e normas e maior do que o conjunto de mudanças nas políticas governamentais e nos serviços de saúde. (DELGADO et al, 2007). Em 1987, se inicia a periodização à emergência dos principais movimentos sociais no país, após um longo período de repressão aberta pelo regime militar, que até então impossibilitava a expressão política da sociedade civil no país. Dentro desse conjunto de movimentos sociais destaca-se o Movimento de Trabalhadores de Saúde Mental, que inicia um forte processo de questionamentos das políticas de assistência psiquiátricas vigentes na época. (VASCONCELOS, 2010). O Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM) foi o movimento que passou a protagonizar e a construir a partir desse período citado denuncias contra a violência nos manicômios, da mercantização da loucura e ainda construiu coletivamente críticas a assistência às pessoas com transtornos mentais baseado no asilamento em hospitais psiquiátricos. (VITAL, 2007). A primeira conferência Nacional de Saúde Mental em 1987 foi realizada no Rio de Janeiro que reafirma as resoluções da VIII Conferência Nacional de saúde mental que reafirma as resoluções da VIII Conferência Nacional de Saúde que, em 86 tinha reformulado a proposta da Reforma Sanitária. A VIII CNS também defendeu a reestruturação do modelo assistencial em Saúde Mental, criticando fortemente o hospitalocentrismo e o institucionalismo dominantes dando destaque a necessidade de uma revisão da legislação psiquiátrica, pondo em foco a preservação dos direitos dos chamados doentes mentais. (UNESP, 2007). Uma característica marcante desse movimento de saúde mental estava no fato de serem completamente externos ao aparelho do Estado, os principais objetivos como cita Vasconcelos (2010) são: Denuncia e mobilização pela humanização dos hospitais psiquiátricos identificados como verdadeiros campos de concentração, denuncia da indústria da loucura nos hospitais privados, denuncia e 29 reinvidicações por melhores condições de trabalho nos hospitais psiquiátricos e as primeiras reivindicações pela expansão de serviços ambulatoriais em saúde mental apesar do movimento não ter ainda bem claro como deveriam organizar tais serviços. Outro evento que merece destaque é a Conferência sobre a Reestruturação da Assistência Psiquiátrica na América Latina realizada em Caracas Novembro de 1990, nisso constitui um momento muito importante que contribuiu para o debate das propostas da Reforma Psiquiátrica no Brasil. Caldas e Nobre nos leva para década de 90 onde foi um momento intenso na questão da reforma psiquiátrica. Tanto na arena política como normativa para saúde mental, consolidando assim a Reforma psiquiátrica no país. A concepção de uma sociedade sem manicômios que, aparentemente, poderia parecer utópica, tornou-se possível após a lei do deputado Paulo Delgado que prevê a extinção progressiva dos manicômios além de direitos de portadores de transtornos mentais. (CALDAS, NOBRE, 2012; p. 76). A Lei 10.216/01 reorganizava os serviços de atendimento as pessoas com transtornos mentais e sua família privilegiava o oferecimento de tratamento em serviços de base comunitária mais não institui claramente mecanismos para a progressiva extinção dos manicômios. No entanto é nesse contexto de promulgação da Lei que linhas específicas de financiamento são criadas pelo Ministério da Saúde “para os serviços abertos e substitutivos ao hospital psiquiátrico e novos mecanismos são criados para a fiscalização, gestão e redução programada de leitos psiquiátricos no país. A partir deste ponto, a rede de atenção diária à saúde mental experimenta uma importante expansão, passando a alcançar regiões de grande tradição hospitalar, onde a assistência comunitária em saúde mental era praticamente inexistente.” (BRASIL, 2005). O tempo de institucionalização em um manicômio é significativo para os usuários, uma vez que a longa permanência na instituição ensejou diversos agravantes a essas pessoas: perda do contato com a realidade; perda do contato com as mudanças sociais, culturais, políticas e até demográficas das localidades de 30 origem; perda da condição de autocuidado; perda de sua individualidade e liberdade. (LIMA, 2008). Passam a entrar em vigor no país nesse período da criação da Lei as primeiras normas federais regulamentando a implantação de serviços de atenção diária fundadas na experiência dos primeiros CAPS e NAPS nesse período o processo de expansão do CAPS foi descontínuo. No entanto, nesse mesmo período houve o processo de desinstitucionalização com o Programa “De volta pra Casa” 1 e com a Lei Paulo Delgado uma política de recursos humanos é construída para a Reforma Psiquiátrica é traçado uma política para a questão do álcool e outras drogas, incorporando a estratégia da redução de danos. (BRASIL, 1995). Esse processo da Reforma Psiquiátrica como foi citado dividiu-se em duas partes reforçando a menção acima: a primeira de 1978a 1991 compreende uma crítica ao modelo hospitalocêntrico, enquanto a segunda, de 1992 aos dias atuais destaca-se pela implantação de uma rede de serviços extra-hospitalares. Segundo Mesquita, Novellino e Cavalcante. Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental, lançando o lema "Por uma sociedade sem manicômios" no sentido de proceder à desinstitucionalização. O movimento de Luta Antimanicomial teve grande importância no surgimento de relevantes serviços de atendimentos ExtraHospitalares oriundos da Reforma Sanitária: Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS I, CAPS II, CAPS III, CAPS i); Núcleo de Atenção Psicossocial (NAPS). É notória a expansão dos CAPS ao longo dos últimos anos. Em 2002, foram implantados cerca de 420 CAPS. A criação dos CAPS - Centro de Atenção Psicossocial – veio substituir o modelo hospitalocêntrico. (MESQUITA, NOVELLINO, CAVALCANTE, 2010; p.). Há uma variação na concepção de saúde mental nos estabelecimentos dependendo do viés teórico que a paute e dos atores sociais concretos que 1 Criado pela Lei Federal 10.708 encaminhada pelo Presidente Luís Inácio Lula da Silva ao congresso, votada e sancionada em 2003 constitui-se de um programa de uma reivindicação histórica do movimento da Reforma Psiquiátrica Brasileira com objetivo de contribuir para a reinserção de pessoas com longas datas internadas em hospitais psiquiátricos na sociedade recebendo um pagamento mensal de auxílio reabilitação no valor de 240,00 reais aos seus beneficiários o programa possibilita a ampliação da relação dos usuários, assegura o bem estar global da pessoa estimulando o exercício pleno dos direitos civis, políticos e de cidadania. 31 assumem o trabalho psiquiátrico como a Psiquiatria tradicional, velha psiquiatria, Psiquiatria clássica. (BISNETO, 2011). Porém, Amarante (1996) afirma que existe um conjunto de instituições de assistência psiquiátrica que são inspiradas tipicamente no Movimento de Reforma Psiquiátrico chamados serviços psiquiátricos alternativos como os CAPS – Centro de Atenção Psicossocial. Segundo Rosa e Feitosa (2008) os CAPS, entre outros, são instituições executoras da Política Publica de Saúde Mental objetivando retirar o monopólio que durante quase todo o século XX fora exercido pela iniciativa privada, na forma de hospitais psiquiátricos particulares, os quais muitas vezes negligenciavam o tratamento adequado a fim de receber mais recursos vindos do Estado, inclusive na forma de internamentos desnecessários. A Portaria/GM nº 336 - de 19 de fevereiro de 2002, define e estabelece as diretrizes para o funcionamento dos CAPS, além de categorizá-los conforme a clientela denominando-os de CAPS I, CAPS II, CAPS III, CAPS i, CAPS ad. O primeiro Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) do Brasil foi inaugurado em março de 1986, na cidade de São Paulo: Centro de Atenção Psicossocial Professor Luiz da Rocha Cerqueira, conhecido como CAPS da Rua Itapeva. A criação desses CAPS e de tantos outros, com outros nomes e lugares, fez parte de um intenso movimento social, inicialmente de trabalhadores de saúde mental, que buscavam a melhoria da assistência no Brasil e denunciavam a situação precária dos hospitais psiquiátricos, que ainda eram o único recurso destinado aos usuários portadores de transtornos mentais. (BRASIL, 2004). Pinheiro e Guizardi (2004) nos remetem ao conhecimento do tratamento tradicional sobre a saúde mental que tem sido revisto nas práticas do serviço de saúde substituído pelo cuidado ao ser humano, que é inserido num contexto social frágil, passando a apresentar um sofrimento e busca então um profissional e uma instituição de saúde como apoio e solução de seu problema. A liberdade e a negação ao isolamento têm que ser vista como um cuidado na capacidade do sujeito para operar as suas escolhas. “Porém, o cuidado abarca a construção de projetos de vida, em contraposição ao reducionismo de uma 32 intervenção voltada para a remissão dos sintomas”. (ALVES, GULJOR, 2004; p, 227). Alves (2001) refere à substituição formal do termo “tratar” por “cuidar” com atenção aos portadores de transtornos mentais, adequando assim à incorporação de situações a serem superadas e, não simplesmente, trabalhando com critérios de seleção ou exclusão. A integralidade entra então como negação ao isolamento proposto em tratamentos asilares, anteriores à Reforma Psiquiátrica e enfoca o seu cuidado com o ser e seu sofrimento. 2.4 A saúde mental em Fortaleza: Avanços e desafios Fortaleza hoje, conta com a política de saúde mental que atualmente vem ampliando sua rede de saúde através da Coordenação Municipal de Saúde Mental da cidade com a implantação dos CAPS nas seis secretarias executivas. Nos últimos quatro anos, a expansão e qualificação da rede de atenção à saúde mental, sobretudo dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps), foram objetivos principais das ações e normatizações do Ministério da Saúde. Pontos estratégicos para a organização da rede de atenção à saúde mental num determinado território, a expansão destes serviços foi fundamental para mudar o cenário da atenção à saúde mental no Brasil. Neste período, o Ministério da Saúde pautou-se pela implantação de uma rede pública e articulada de serviços. (Ministério da Saúde, 2007, pg. 11). Nos centros de atenção psicossocial os usuários são assistidos em regime de atenção diária. O tratamento acontece por meio de atendimentos individuais e em grupos, bem como em oficinas terapêuticas, que buscam a inclusão social pelo desenvolvimento da cidadania. É nessas oficinas que acontecem as relações entre usuários e trabalhadores e familiares, na perspectiva do cuidado integral, visando à reabilitação da pessoa 33 com transtorno psíquico. O Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) em Fortaleza depara-se no seu cotidiano com portadores de perturbações mentais graves, que necessitam de cuidado dos trabalhadores de saúde mental, cuidado que deve envolver sentimentos, preocupações com a higiene, alimentação, interação e escuta terapêutica. (BRASIL et al, 2008). Para Bisneto (2011) o importante é que nas instituições em que há uma presença em alguma medida do Movimento de Reforma Psiquiátrica, as concepções psiquiátricas em que a sua ênfase à dimensão social e política dos problemas mentais deve ser respeitada, propiciando a possibilidade de uma direção emancipadora para o campo da Saúde Mental. Na historia dos serviços de saúde mental, considerado nas ultimas décadas, no Brasil identificou-se uma transformação da assistência a partir da implantação dos CAPS. No entanto, um caso em Sobral no Ceará nos chama atenção que podemos aqui relatar, com o tratamento dado a um doente mental pelos funcionários excluído internado em uma clinica. (BISNETO, 2011). Até meados do ano 2000 Sobral, não havia uma política organizada de atenção à saúde mental, predominando uma assistência psiquiátrica centralizada na Casa Repouso Guararapes - um hospital psiquiátrico clássico, cuja clientela apresentava alto grau de cronificação, com grande tempo de permanência e frequentes reinternações. A morte de um cliente nessa instituição, em outubro de 1999, desencadeou processos de auditoria que levaram à confirmação de casos de maus tratos e espancamentos, o que culminou, posteriormente, com o fechamento do manicômio. (BARROS et al, 2007). 34 Esse caso ficou conhecido como Damião Ximenes como vê na reportagem do Jornal O Globo de 20062 Damião Ximenes foi torturado e assassinado no dia 04 de outubro de 1999, quando estava internado na Casa de Repouso Guararapes, filiado à época ao Sistema Único de Saúde, no município de Sobral, estado do Ceará. Era portador de transtorno mental – com sintomas de esquizofrenia. Morreu aos 30 anos. Diante da demora injustificada no julgamento da ação penal e diversas falhas e irregularidades para apurar os responsáveis pelo assassinato, os familiares de Damião Ximenes e a Justiça Global apresentaram petição contra o Estado brasileiro perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos, na qual denunciaram os fatos ocorridos que ocasionaram sua morte e a impunidade do caso. (JORNAL O GLOBO, 2006). No entanto, somente no ano de 2001, após 12 anos no Congresso Nacional, que a Lei Paulo Delgado é sancionada no País, já que o ocorrido em Sobral foi no ano de 1999, porém houve mudanças na Lei que protege contra tais casos de discriminação e maus tratos como no seu Art. 1º- São direitos da pessoa portadora de transtorno mental. Parágrafo I – ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às suas necessidades. III – ser protegida de qualquer forma de abuso e exploração. (BRASIL et al, 2008). Diante disso, a saúde publica tem demonstrado avanços em relação no que diz respeito à descentralização, universalidade, integralidade e equidade mais controle social, a PNH surgiu para as questões de saúde na tentativa de humanizar e ofertar um atendimento de qualidade articulando com avanços tecnológicos. Diante disso, à questão das políticas publicas voltada para a saúde mental contemporânea teve avanços e ao mesmo tempo retrocessos na perspectiva do cuidado com o portador de transtorno mental, mas deve-se pensar na urgência de implementação de estratégias, por parte da administração pública que visem combater a desprecarização no setor da saúde mental. 2 Disponível em: http://global.org.br/programas/o-caso-damiao-ximenes-o-primeiro-contra-o-brasil-na- corte-interamericana-de-direitos-humanos-sera-decidido-entre-os-dias-3-e-4-de-julho-na-costa-rica/ acesso dia 10/11/2013 As 16:10. 35 3. POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA. 3.1 CONTEXTUALIZANDO AS POLÍTICAS PÙBLICAS E POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA. Os séculos XVIII e XIX foram marcantes no que se refere às transformações políticas, econômicas e socioculturais. As duas últimas décadas do século passado e inicio deste milênio foram marcados por profundas transformações provocadas pelo capitalismo. Entendemos que as primeiras décadas do século XX foram marcadas pelo início da industrialização impulsionada pelas atividades relacionadas com a cafeicultura e as necessidades básicas do mercado brasileiro. Essas transformações no cenário econômico na sociedade geraram crises, Paniago (2007) afirma quanto ao surgimento do que conhecemos como crise contemporânea do capitalismo, essa é uma crise comumente relacionada ao fracasso do Estado do Bem-Estar Social, cuja consolidação se deu no período pós-II Grande Guerra nos países avançados, sendo este processo mais precisamente observável a partir dos anos 70. Crise que quando lemos sobre a mesma nos leva a reestruturação produtiva do Capital e a reorientação do Estado em articular com a crise em favor da sociedade e as modificações que ocorreram nas relações sociais. Paniago ressalva da natureza dessa crise no universo das políticas sociais dizendo; A análise da natureza da crise é de fundamental importância para uma avaliação crítica das possibilidades de desenvolvimento e universalização das políticas sociais e de expansão da esfera pública, na medida em que esses desenvolvimentos estão condicionados tanto pelo êxito das propostas privatistas da direita consubstanciadas no projeto neoliberal, quanto pela viabilidade de se enfrentar a crise com as propostas da esquerda as quais têm variado entre a retomada de um projeto neokeynesiano de crescimento econômico, ou a construção de uma alternativa distante tanto do socialismo como do neoliberalismo – uma terceira via como temos visto ser adotada por alguns países avançados. Parece predominar a ideia de que não haveria mais lugar para uma proposta de superação do capital. (PANIAGO, 2007; p.2). 36 Cabe aqui ressaltar, que as medidas pensadas e implementadas como possibilidades de saída desta crise capitalista, encontram-se no modelo neoliberal de ajustes fiscais e econômicos a sua suposta “receita de cura”. Tais medidas não afetaram o conjunto das sociedades sob seus moldes apenas no que tange a esfera social e econômica, mas atingem diretamente os mais diversos “pilares” que serviram de sustentação às mínimas “regras” de sociabilidade dentro da sociedade burguesa. (SILVA, 2012). Diante dos imperativos de crescimento expansivo, condição inexorável do modo de existência do capital, da desvalorização da força de trabalho, do desemprego estrutural, e do enfraquecimento histórico da resistência operária organizada, motivada pelo fracasso das tentativas de substituição do capitalismo pelo socialismo experimentadas tanto pelos social democratas como pelo “socialismo real”, pensar no restabelecimento dos padrões de financiamento das políticas sociais do Welfare State é reincidir na mesma crença da luta defensiva do passado que supunha possível se ganhar espaços no capitalismo para a construção da emancipação do trabalho. (PIAGINO, 2007; p. 4). O neoliberalismo promoveu uma substantiva reorientação das políticas sociais, em um compromisso da esfera pública do WelfareStateé privatizando os serviços sociais das políticas públicas e transferindo a responsabilidade social para a sociedade. Costa (2005) afirma que nesse contexto do neoliberalismo, pode se observar um processo mundial de diminuição do estado social. Essa tendência então passa a encontrar terreno ainda mais fértil nos países atingidos por fortes desigualdades sociais e por grande diferença nas condições de vida da população. Ou ainda, em países, como o Brasil, em que não houve uma efetiva constituição do estado de bem-estar social. Com o desmonte do sistema de proteção social, o Estado passa a ser mínimo para o social e máximo para o capital, agravando a situação das camadas menos abastadas. Aumenta a demanda por benefícios, mas diminuem-se drasticamente os serviços públicos oferecidos. Neste momento, as políticas sociais passam a ser 37 orientadas por três princípios: o da privatização, o da descentralização e o da focalização. (FONSECA, 2006). Isso tem gerado consequências. [...] consequências negativas, configuradas na reprodução de desigualdades sociais e na falta de garantias sociais para grande parcela da população. Neste início do século, constata-se que a civilização, ao longo dos anos, não foi capaz de constituir um pacto que trouxesse melhorias sociais. A desigual distribuição de bens sociais, a discriminação, o desrespeito às diferenças, a incerteza, a involução de valores não são anomalias, mas constituintes do pensamento globalizado e do processo econômico em curso. (COSTA, 2005; p.1). As condições de melhorias econômicas como vemos atualmente para a ampliação de empregos pra sociedade que na verdade não existe, tem ocorrido é um aumentado da vulnerabilidade das massas e tem gerado uma das expressões da questão social de grupos de diferentes formas especificamente. O cenário produzido pela sociedade burguesa, desde a sua fundação em meados do século XIX, percorre a história da humanidade e deixa resquícios, muitas vezes irreversíveis de pobreza e miséria absoluta. Dada às circunstâncias de um sistema que, para existir, polariza duas realidades opostas, riqueza e pobreza, a formação do Estado Capitalista entra nessa conjuntura e vai se constituindo como espaço intensamente contraditório, refletindo a própria realidade em que está inserido. (NOGUEIRA, 2013). Nesse sentido, põe-se em discussão como o modelo de produção e suas crises cíclicas repercutem de forma negativa na vida social, manifestam-se cotidianamente na realidade e são constadas na miséria, na fome, na pauperização das classes menos favorecidas, na violência urbana, na falta de condições dignas de moradia, educação, saúde, transporte. Ou seja, as mais adversas expressões da condição humana convergem para a questão da população de rua que, sob a análise crítica, desvela-se a partir da construção histórica da sociabilidade capitalista. (NOGUEIRA, 2013). Os ajustes capitalistas na sociedade provocaram mudanças na sociedade em geral, cujos efeitos foram o agravamento do desemprego, das desigualdades, das precarizações esses efeitos produziram então uma superpopulação relativa que fez 38 aumentar a pobreza. E foi nesse contexto que se tornou cada vez mais expressiva a presença de pessoas em situação de rua. Oliveira et al (2012) ressalva aqueles que vivem a margem da questão social pode implicar na privação, falta de recursos ou, de uma forma mais abrangente, ausência de cidadania, situação esta vivenciada pela população de rua que de certa forma perderam seu direito de votação e são classificadas como a pior fase que alguém poderia se encontrar, por não ter vínculos pessoais, sociais e nem mesmo condições mínimas de sobrevivência. A situação de rua, em que vivem milhares de pessoas atualmente é um quadro social produzido pelas estratificações do sistema capitalista, no qual uma minoria da população detém a grande parcela das riquezas produzidas. Este sistema produz um alto índice de pessoas em situação de vulnerabilidade social e miséria. Atualmente no Brasil, podemos perceber a existência de um quadro de pobreza e miséria amplamente gritante, quadro este comprovado por dados obtidos através de vários estudos e pesquisas realizadas. (SOUZA e FORTINI, 2013). Na contemporaneidade, o fenômeno população de rua assume características que se destaca como uma expressão da questão social, nesse contexto esse fenômeno cresce a cada dia, como parte da pobreza e da superpopulação relativa ainda que com pouca repercussão no cenário da política nacional. Santos et al (2012) afirma que, o fenômeno de população de rua é interpretado essencialmente como produto de um processo dos que vivem a margem da questão social permeado por trajetórias psicológicas de vulnerabilidades e fragilidades, incluindo rupturas de vínculos da existência humana em sociedade. O sujeito que passa pelo processo de uma das expressões da questão social encontra-se na ausência de lugar, o que envolve a anulação social, que reveste seu cotidiano com um misto de indiferença e hostilidade. Não é difícil, assim, a partir da definição, situar os moradores de rua nesse processo que os anulam socialmente, e os prendem em uma condição limitante. 39 A tentativa de resolver problemas relacionados as expressão da questão social nessa sociedade deve haver mudanças em relação às políticas, no caso da população de rua as políticas foram criadas. O debate sobre alguns conceitos e noções sobre as melhorias dessa população nesse sistema capitalista foram feitos por uma categoria teórica que posicionaram em realizar mudanças em relação ao Estado e essa população de rua, diante disso surgiram várias questionamentos políticos. No Brasil, os estudos sobre populações de rua têm se ampliado a partir dos anos 1990. As pesquisas apresentam diferenças substantivas sobre tal população e indicam a diversidade nos perfis dos que vivem nas e das ruas. São investigações que merecem destaque, principalmente se considerarmos a gravidade dessa questão social. (MACIEL, 2004). “A expressão população de rua é de fato, um conceitos amplo e genérico e apresenta deficiências e insuficiências que não dão conta da complexidade do que significa viver nas ruas” (ROSA, 2005; p.65). De acordo com o Decreto nº 7.053, de 23 de dezembro de 2009, que institui a Política Nacional para a População em Situação de Rua, trata-se de grupo populacional heterogêneo que possui em comum a pobreza extrema, os vínculos familiares fragilizados ou rompidos e a inexistência de moradia convencional regular. Essa população se caracteriza, ainda, pela utilização de logradouros públicos (praças, jardins, canteiros, marquises, viadutos) e áreas degradadas (prédios abandonados, ruínas, carcaças de veículos) como espaço de moradia e de sustento, de forma temporária ou permanente, bem como unidades de serviços de acolhimento para pernoite temporário ou moradia provisória. (BRASIL, 2013). Até se chegar à elaboração de políticas sociais de assistência às populações e segmentos sociais vulnerabilizados e inseridos num contexto de pobreza e exclusão, assegurando-lhes os direitos de cidadania e proteção social sob o amparo dos dispositivos constitucionais, muito se percorreu e muitas lutas foram travadas. (COSTA, 2013). 40 Dantas fala que; Nas entrelinhas do texto de nossa Carta Magna, portanto, a população de rua teria como parte integrante da população brasileira, direitos sociais a serem garantidos pelo Poder Público, através de políticas públicas gerais destinadas à população como um todo. Entretanto, a “assistência aos desamparados” e a “erradicação da pobreza e da marginalização”, constantes no texto, podem ser interpretadas como referências as populações mais vulneráveis, às quais deveriam ser destinadas políticas específicas. (DANTAS, 2007; p.31). Um dos desafios a ser enfrentado, ao se propor a construção de uma política nacional para inclusão social da população em situação de rua, está em sua própria conceituação. A diversidade de grupos e distintas localizações, a heterogeneidade desta população e das condições em que se encontra que é sem um endereço fixo. (BRASÍLIA, 2008). No Governo do Presidente FHC mesmo tendo direcionando as políticas de enfrentamento à pobreza apenas para os mais pauperizados, o governo não conseguiu atingir uma parcela peculiar da população: a população de rua. Inexistente para as estatísticas, invisível para a sociedade e inelegível para qualquer programa social, aquele que mora na rua não consegue sair de sua situação justamente por não existirem programas específicos de enfrentamento a essa questão, complexa por englobar desvinculações múltiplas. (FERNANDES, 2006). Porém, no governo que sucedeu FHC, Luís Inácio Lula da Silva afirma Fernandes (2006) deu continuidade às práticas de fortalecimento do capital baseadas na refilantropização, definindo como prioridade de seu mandato o combate à fome. Foi instituído o Programa Fome Zero marcado pelo objetivo de manter seus beneficiários biologicamente vivos através da distribuição de um cartãoalimentação no valor de R$ 50,00. Tentando diminuir a fome, mas o desemprego estrutural instaurado no país não é combalido e nem a população de rua foi beneficiada. O MDS adota em seu texto da Política Nacional para a População em Situação de Rua, um conceito norteador, que passa a servir de parâmetro para a 41 compreensão do que seja a população em situação de rua. Cabe aqui destacar algumas das normativas3 regem a atenção à População em Situação de rua no âmbito do SUAS. - Política Nacional de Assistência Social – PNAS. A PNAS reconheceu a atenção à população em situação de rua no âmbito do SUAS. - Lei nº 11.258 de 2005 - inclui, no parágrafo único do Artigo 23 da Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS, a prerrogativa de que, na organização dos serviços da Assistência Social, deverão ser criados programas destinados às pessoas em situação de rua. - Decreto s/nº, de 25 de outubro de 2006 – instituiu o Grupo de Trabalho Interministerial (GTI), coordenado pelo MDS, com a finalidade de elaborar estudos e apresentar propostas de políticas públicas para a inclusão social da população em situação de rua. - Portaria MDS nº 381, de 12 de dezembro de 2006 do MDS – assegurou recursos do cofinanciamento federal para municípios com mais de 300.000 habitantes com população em situação de rua, visando apoio à oferta de serviços de acolhimento destinados a este público. - Resolução do Conselho Nacional de Assistência Social - CNAS nº 109, de 11 de novembro, de 2009. –Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais. Documento que tipifica os serviços socioassistenciais em âmbito nacional, dentre os quais os serviços destinados ao atendimento à População em Situação de Rua na Proteção Social Especial - PSE: Serviço Especializado em Abordagem Social; Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua; Serviço de Acolhimento Institucional (que incluem adultos e famílias em situação de rua) e Serviço de Acolhimento em República 3 (que inclui adultos em processo de saída das ruas). Disponível em: http://www.mds.gov.br/falemds/perguntas-frequentes/assistencia-social/pse-protecao-socialespecial/populacao-de-rua/populacao-em-situacao-de-rua acesso dia 04/12/2013 às 13:00 hs. 42 - Decreto nº 7.053, de 23 de dezembro de 2009 – instituiu a Política Nacional para a População em Situação de Rua e o seu Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento. - Instrução Operacional conjunta Secretaria Nacional de Assistência Social SNAS e Secretaria Nacional de Renda e Cidadania - SENARC Nº 07, de 22 de novembro de 2010 - reúne orientações aos municípios e Distrito Federal para a inclusão de Pessoas em Situação de Rua no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CADUNICO). - Resolução da Comissão Intergestores Tripartite – CIT nº 7, de 07 de junho de 2010 - pactuou critérios de partilha de recursos do cofinanciamento federal para a Expansão dos Serviços Socioassistenciais 2010, com recursos advindos do Plano Integrado de Enfrentamento ao crack e outras Drogas (Decreto 7179, de 20 de maio de 2010). - Portaria Nº 843, de 28 de dezembro de 2010 – Dispõe sobre o cofinanciamento federal, por meio do Piso Fixo de Média Complexidade - PFMC, dos serviços socioassistenciais ofertados pelos Centros de Referência Especializados de Assistência Social - CREAS e pelos Centros de Referência Especializados para População em Situação de Rua, e dá outras providências. Cabe aqui também ressaltar alguns anos que marcaram algumas das normativas de políticas para população de rua como em: 1988: Na Constituição Federal em seu Artigo 5º, a igualdade de todos os cidadãos brasileiros perante a lei e a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. 2004: Na PNAS onde assegura cobertura a população em situação de rua; 2005: Na Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS (2003) 43 –Lei nº 11.258, 30/12/05, altera o parágrafo único do art. 23 das LOAS: “Na organização dos serviços da Assistência Social serão criados programas de amparo: II - às pessoas que vivem em situação de rua.” Estabelece a obrigatoriedade de criação de programas direcionados à população em situação de rua em situação de rua, no âmbito da organização dos serviços de assistência social, numa perspectiva de ação intersetorial. 2005: I Encontro Nacional sobre População de Rua em Situação de Rua; Decreto, de 25 de outubro de 2006, que constitui Grupo de Trabalho Interministerial - GTI, com a finalidade de elaborar estudos e apresentar propostas de políticas públicas para a inclusão social da população em situação de rua; 2007/2008: Pesquisa Nacional da População em Situação de Rua; Portaria MDS nº 381, de 12 de dezembro de 2006, do MDS – Cofinanciamento de serviços continuados de acolhimento institucional para a população em situação de rua. Municípios com mais de 250 mil habitantes. 2009: II Encontro Nacional sobre População de Rua em Situação de Rua. Instrução Operacional conjunta – SNAS e SENARC Nº 07, de 22 de novembro de 2010 – que reúne orientações aos municípios e Distrito Federal para a inclusão de pessoas em situação de rua no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal. •Portaria Nº 843, de 28 de dezembro de 2010 – Dispõe sobre o cofinanciamento federal dos serviços socioassistenciais ofertados pelos CREAS e pelos Centros Pop e dá outras providências. •Portaria Nº 139, DE 28 DE JUNHO DE 2012 - Altera a Portaria nº 843, de 28 de dezembro de 2010, que dispõe sobre o cofinanciamento federal, dos serviços ofertados pelos CREAS e Centros Pop e dá outras providências. 44 Lopes apud Mendonça (2006) comenta que a dificuldade de implantar políticas públicas efetivas e transformadoras encontra-se no desconhecimento de configurações subjetivas, uma vez que, este desconhecimento não permite perceber a variedade de manifestações da pobreza, homogeneizando, equivocadamente, o que é heterogêneo. Assim como as pessoas em situação de rua têm por direito constitucional serem consideradas cidadãs integrais, também as políticas públicas que as contemplam devem ser pensadas desde uma perspectiva interdisciplinar e integral, deslocando-se da Assistência Social a responsabilidade exclusiva pelo atendimento a este segmento. (BRASÍLIA, 2008). Dada à heterogeneidade e multiplicidade de indivíduos que compõem as ações para a denominada população em situação de rua, é de grande importância perceber as intersecções entre esta política com os variados planos, políticas e marcos legais, tais como Brasília (2008) ressalta como o Estatuto do Idoso, o Estatuto da Criança e do Adolescente, a Política Nacional para Promoção da Igualdade Racial, o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, o Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária, e tantos outros que se entrecruzam na realidade específica desta população. Repensar essas questões é também traçar ações que visem à promoção subjetiva, visto que, um dos motivos pelos quais as iniciativas das políticas públicas não se tornam efetivas, ocorre justamente pelo fato de se desconsiderar a homogeneidade e a subjetividade dos indivíduos para os quais as propostas são criadas. (SOUZA e FORTINI, 2013). Outro ponto a destacar sobre as políticas para população de rua, é sobre a questão das políticas de saúde, Dantas (2007) fala que a política de saúde para a população em situação de rua no Brasil é aqui abordada pela perspectiva de reflexão a respeito da transgressão dos direitos sociais, evidenciados de forma emblemática. Cabe destacar que a população em situação de rua não se adéqua ao 45 perfil dos assistidos pela maior parte das políticas públicas, constituindo, portanto, um desafio o processo de construção de políticas adequadas a este grupo social. Partindo-se da premissa de que quanto maior for à desigualdade social de um país, maior será a repercussão na qualidade de vida e, consequentemente de saúde, da sociedade de uma forma geral e do sujeito e sua família em particular. Bottietal (2009) fala que neste sentido a desigualdade social do país exerce influências significativas na qualidade de saúde da população brasileira, uma vez que a saúde individual não se limita às sua dimensão biológica e psicológica; ao contrário, está diretamente relacionada com as condições de vida e sofre influência das políticas sociais e econômicas adotadas no país. Importante ressaltar dois princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), o princípio da equidade e da universalidade. Em relação à equidade na saúde torna-se imprescindível que os serviços de saúde considerem que em cada população existem grupos com problemas específicos e diferenças no modo de viver, de adoecer e de ter oportunidades de satisfazer suas necessidades de vida. (BOTTI et al, 2009). Isso implica, em primeiro lugar, na realização de estudos epidemiológicos da população de rua e definições de estratégias e meios específicos que viabilizem o acesso desta população aos recursos de saúde disponíveis. Nesta direção, a universalização da saúde apresenta o desafio de intervir na realidade tal como ela está constituída. Hoje a população de rua é parte do cenário urbano, requerendo intervenções que levem em conta como ela se constituiu e as formas de sobrevivências ali desenvolvidas. (BOTTI et al, 2009). Refletir então sobre as políticas públicas para população de rua é ir de acordo com que Maciel (2005) nos fala políticas públicas em particular àquelas denominadas de políticas sociais em uma sociedade capitalista, remete a necessidade de termos que compreender que essas políticas apresentam em sua constituição uma complexidade histórica, já que surgem em uma íntima relação com as características históricas de cada realidade social em que emergem. 46 3.2 População em situação de Rua: sujeitos em questão no atendimento às políticas públicas. O fenômeno chamado população de rua, é marcado pelo reflexo das relações capitalistas em que a pobreza urbana reflete severamente no estágio de exclusão que se encontra uma parcela da população. O fenômeno é uma expressão inconteste das desigualdades sociais resultantes das relações capitalistas. Escorel (2000) descreve as pessoas em situações de rua, dizendo que o que todas as pesquisas revelam é que não há um único perfil da população de rua, há perfis; não é um bloco homogêneo de pessoas, são populações. Silva denomina o que é população em situação de rua. Grupo populacional heterogêneo, mas que possui, em comum, a pobreza extrema, os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de moradia convencional regular, em função do que as pessoas que o constituem procuram os logradouros públicos (ruas, praças, jardins, canteiros, marquises e baixios de viadutos), as áreas degradadas (dos prédios abandonados, ruínas, cemitérios e carcaças de veículos) como espaço de moradia e sustento, por contingência temporária ou de forma permanente, podendo utilizar albergues para pernoitar e abrigos, casas de acolhida temporária ou moradias provisórias. (SILVA, 2009; p.136). Porém, aqui não é possível definir um perfil daqueles que moram na rua, pois esse contingente é bastante heterogêneo, composto dos mais variados tipos de pessoas e nas mais diversificadas situações. Para Oliveira et al (2012) os estudos de Amed et al. (1996) tem a população de rua considerada em três tipos a) Ficar na rua: situação precariedade devido à ausência de recursos para se manter, necessitando de programas de proteção social. As pessoas que se encontram nessa situação sentem-se desvalorizadas e demonstram medo de dormir na rua, buscando albergues ou pensões para ficarem, recorrendo aos serviços do plantão do Serviço Social e geralmente estão à procura de emprego ou bicos que lhe permitam pagar uma pensão. Eles não aceitam se identificados como morador de rua, e ainda possuem fortes laços com familiares e tem propósitos. 47 b) Estar na rua: Começam a adotar a rua como local de pernoite e já não a consideram tão ameaçadoras. Relacionando com as pessoas que já estão na rua, buscam novas alternativas de sobrevivência. Os contatos com a família apesar de ainda os possuir estão enfraquecidos. c) Ser de rua: A rua torna-se seu lugar de referência e espaço de suas relações, sendo limitadas suas condições de higiene e alimentação, fazem frequentemente uso de bebidas alcoólicas e sofrem um processo de depauperamento físico, mental em função de sua condição de vida. A rua torna-se espaço de moradia de forma praticamente definitiva, e já perderam o vínculo com a família. Entretanto, existem condições ou características em comuns que permitem identificar essa população de rua como um grupo populacional diferenciado. Brasil (2013) ressalta que as pessoas que moram na rua ocupam os vãos e desvãos das cidades: ruas e becos, viadutos e pontes, praças e marquises, rodoviárias e BRs. Pernoitam em albergues na maioria das vezes considerados verdadeiros depósitos humanos. Eles resistem nos espaços públicos, por estes serem o “único e último lugar” que sobrou do sistema econômico vigente, que exclui os direitos daqueles que não conseguem se encaixar no perverso modelo de produção e distribuição de bens e riquezas. Ao discorremos sobre a população em situação de rua, percebemos que elas trazem o conceito de desqualificação social para sociedade pelo fato de morarem na rua, o qual caracteriza-se pelo movimento de expulsão gradativa para fora do mercado de trabalho bem como, pelo apoio assistencialista que recebem durante este processo. A rua tem sido considerada para a população de rua por este segmento um espaço de moradia e sobrevivência. É nela que como afirma Oliveira et al (2012) que o homem de rua expressa um modo de vida peculiar, quando exclui uma série de bens sociais como habitação, emprego regular, acesso e serviços, e vive das sobras do excedente social. 48 Concluem que o processo de ida para a rua consiste em três fases: a de fragilidade, relacionada à perda do emprego; a de dependência dos serviços sociais e aquela caracterizada pela ruptura dos vínculos sociais. (VARANDA e ADORNO, 2004). Em linhas gerais, a rua torna-se o nítido lugar onde afloram as diferenças e as contradições da vida cotidiana. Torna-se necessário pensarmos em dimensões sobre a população de rua, Anderson e Snow (1998) refere-se não somente o fato da habitação, mas também a falha na rede de apoio familiar e de outros laços com a sociedade e a população de rua através de seus relacionamentos, e a questão também da dimensão moral, na qual a pessoa que vive na rua se apresenta como indigno e sem valor. Para compreender o fenômeno população em situação de rua e o sentido da vida nas ruas, não podemos estabelecer conceitos unívocos, segmentados ou mesmo imediatos. Costa (2013) afirma que a condição de habitar a rua de forma definitiva exige dos seus moradores esforços contínuos e estratégias diversificadas e criativas para sobreviver, se proteger dos perigos e, porque não dizer, manter-se vivo. A diversidade de designações existentes para a população de rua e cada uma delas especificamente, já revela um terreno amplo e fértil de análises que cada termo sugere e cada história de vida origina. A diversidade de nomeações, em sua maioria permeada de preconceitos, expõe a complexidade e as controvérsias que a problemática daqueles que vivem na rua instaura. Essas expressões e designações também se vinculam a processos históricos e culturais dos territórios em que se manifestam. (COSTA, 2013; p. 35). A situação de rua, em que vivem milhares de pessoas atualmente é um quadro social produzido pelas estratificações do sistema capitalista, no qual uma minoria da população detém a grande parcela das riquezas produzidas. Este sistema capitalista produz um alto índice de pessoas em situação de vulnerabilidade social e miséria e esse contexto coopera para levar as pessoas a morarem nas ruas. A população em situação de rua ocupa uma posição de sem lar, sem laços e sem dignidade, sendo que o único lugar que lhe resta para tentar existir de algum modo é a rua. Ainda que, possa considerar que entrar na rua significa desenvolver 49 um processo compensatório em relação às perdas e criar novos recursos de sobrevivência ou subsistência. (VARANDA e ADORNO, 2004). Para os que se autodeclaram moradores de rua a forma como percebem a rua é diferente e alguns identificam a rua como espaço de moradia. Como nos fala WEBER de 50 anos. 4 Moro nas ruas, sem lugares certos, só Deus sabe o que passo, não gosto nem de ficar falando que já tenho vontade de chorar, tenho uma vontade de morrer, pois não tenho ninguém nessa vida, converso só, sofro só... Ninguém cuida de pobre, pobre era para morrer. Não tenho dinheiro, nem remédio. Só Deus que me ajuda! Atualmente no Brasil, podemos perceber a existência de um quadro de pobreza e miséria amplamente gritante, quadro este comprovado por dados obtidos através de vários estudos e pesquisas realizadas. (SOUZA e FORTINI, 2013). Assim, para Costa (2013) o fenômeno da população de rua ganhou visibilidade e vem sendo alvo de discussões e debates entre muitos, mas para a grande maioria da sociedade, dos habitantes das grandes cidades, é algo que muitas vezes passa despercebida, ou quando se percebe, a atitude gerada é de desconforto, incômodo, receio ou mesmo indiferença. Mergulhar no universo que retrata o fenômeno da população em situação de rua é também mergulhar no universo da pobreza, da desigualdade e da exclusão, questões que fazem parte da vida de uma parcela significativa da população brasileira vinculadas a processos históricos. (COSTA, 2013; p.69). Embora Oliveira et al (2012) afirme que haja a vista os direitos garantidos aos cidadãos, como: justiça, igualdade, cidadania e dignidade, tornam-se contraditórios quando se depara com indivíduos que estão à margem da questão social como a pobreza e marginalização, fruto de toda uma cultura enraizada no desenvolvimento do país. 4 Todos os nomes utilizados nesse trabalho são fictícios. 50 O fenômeno população em situação de rua, assim como todo fenômeno abriga um conjunto de indagações e o esforço para configuramos o contexto contemporâneo sempre nos levará para as indagações das expressões da questão social. A rua é espaço de contradição para algumas pessoas, lugar de liberdade, encontro e rompimento com as regras da casa. Assim confirma Maria da Penha. Sai de casa porque não me dava com minha madrasta. Meu pai era agricultor, minha mãe morreu do coração. A minha madastra era muito ruim com a gente. Comigo e minhas irmãs. Tenho duas irmãs gêmeas, não sou eu não, elas são gêmeas. Não sei onde elas estão não. Eu bebia muito, aí eu fugi. Eu não aguentei e fui morar na rua. Sabe as pessoas é muito ruim. (MARIA DA PENHA, 55 anos). Essa questão da população em situação de rua não se explica a partir de um único determinante. Entretanto, existem fatores que se destacam no conjunto dessas determinações. Fatores esses típicos de determinadas localidades ou épocas específicas. São várias as causas estruturais desse fenômeno, mas a central é a que se vincula à estrutura de uma sociedade capitalista onde são fortalecidos cotidianamente valores do individualismo, da disputa e da exclusão para esse segmento. 3.3 Análise da visão dos moradores de rua sobre as políticas públicas de saúde mental (CAPS e Consultório de Rua). Primeiro iremos aqui ressaltar um perfil dos usuários entrevistados, seu Weber tem 50 anos mora nas ruas de Fortaleza, mas certo pelas ruas de Messejana em torno do Terminal, conversa muito pouco. Maria da Penha tem 55 anos tem casa, mas vive nas ruas a encontrei no Terminal da Messejana, só aceitou conversar depois de pagar um lanche e seu Marx de 70 anos encontrei andando nas ruas do bairro da Messejana, gosta muito de conversar, porém fala palavras sem sentidos e diz ter Esquizofrenia. Todos vivem em um mundo real e imaginário, então como alcançá-los através das políticas? 51 A universalidade de acesso à saúde, como um dos princípios do Sistema Único de Saúde – SUS é um dos eixos éticos que norteiam essa prática. Ao acolher um segmento populacional em situação de exclusão social, que se auto exclui ou que é excluída da rede de serviços, o objetivo é intervir inserindo esses usuários na rede SUS e conceder-lhes o direito à saúde pública, funcionando como porta de entrada no sistema de saúde. O CAPS como um centro de apoio psicossocial dentro de Fortaleza faz parte dessa linha do SUS no atendimento a pessoas com transtornos mentais, e a população de rua com esses transtornos também estão no seu direito de usufruir atendimento nesta instituição. Quando perguntamos para os entrevistados se os mesmos conheciam o CAPS tivemos a seguinte afirmação. Conheço ,quando eu tinha família eu andava lá, porque minha veia falava que eu era doido, que a bebida deixa eu doido... Abandonei, não vi resultado... só remédio ..remédio. (WEBER, 55 anos). Já ouvi falar do CAPS, mas nunca fui lá! Essa política ai é para rico, só eles que conseguem as coisas, só para tomarem o dinheiro da gente, vou lá não. (MARX, 70 anos). Fui pro CAPS ali daquela rua perto do mercantil (Se refere ao antigo CAPS da Messejana), mas saiu dali e eu não fui mais faz muito tempo, já disse a senhora que não vou mais, mas quando eu ia era remédio e eu fazia era vender trocava por bebida. (risos). (MARIA DA PENHA, 55 anos). Identificamos a fragilização da saúde de moradores de rua e a falta de um atendimento, já que os mesmo necessitam de um atendimento especializado e medicamentos. Essa população é altamente vulnerável a múltiplos fatores de riscos para a saúde, os quais estão associados à sua condição extrema de pobreza. Seus problemas físicos e mentais podem, em parte, serem explicados pela sua condição desfavorável de vida. 52 No entanto, hoje a população de rua é parte do cenário urbano, requerendo intervenções que levem em conta como ela se constitui e as formas de sobrevivência nas ruas desenvolvidas. Mesmo com os CAPS existe um setor engajado na saúde denominado Consultório de rua. O dispositivo em saúde denominado Consultório de Rua que se constitui como afirma Brasília (2010) em um Projeto Nacional desenvolvido pelo Ministério da Saúde voltado para o atendimento a usuários de substâncias psicoativas em situação de rua, tendo como base para o desenvolvimento de suas práticas a abordagem da Redução de Danos. Os Consultórios de Rua constituem uma modalidade de atendimento extramuros dirigida aos usuários Promovem a acessibilidade a serviços da rede institucionalizada, a assistência integral e a promoção de laços sociais para os usuários em situação de exclusão social, possibilitando um espaço concreto do exercício de direitos e cidadania. Pacheco (2013) diz que a proposta da abordagem de rua voltada ao atendimento de usuários em situação de rua, no âmbito da saúde mental, em Fortaleza, surgiu após a consolidação dos seis Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD) nas respectivas Secretarias Executivas Regionais (SERs) I, II, III, IV, V e VI. Consultório? Onde fica? Nunca ouvi falar não, a senhora me dar o endereço de lá? Moça eu sou vou ficar bom quando as vozes quiserem. – Elas vão me ajudar. (MARX, 70 anos). Moça existe isso não. Tudo mentira! (MARIA DA PENHA, 55 anos). Um aspecto de grande relevância do Consultório de Rua é exatamente ser uma proposta de clínica na rua, especializada para o atendimento de problemas relacionados inclusive a população de rua com transtorno mental, mas será que esse consultório de rua tem realmente contribuído para que as políticas de saúde fossem feitas. 53 As histórias e caminhos que tivemos oportunidades de captar durante nosso percurso, nos levam a perguntar onde estão as políticas de saúde para a população de rua? Porque essas pessoas não utilizam os serviços ofertados? E porque aqueles que trabalham com essa população não buscam ativamente esses usuários para fazer atendimento? Muitos desses que vivem nas ruas depois que estão nas ruas, ficam difíceis se reerguerem por conta do preconceito da sociedade, que em muitas vezes os julgam como lixo. E quando falamos em sociedade nos deparamos com a seguinte fala de um dos entrevistados Tem muita gente ruim, mas tem muita gente boa que ajuda a gente. As outras eu não sei onde estão não. (se referindo as outras pessoas que moravam com ela na rua). Tudo que você for fazer pede pra Jesus. Não pede ninguém não. Vai prum canto e pede Jesus. Você é o que? –Me formando para ser assistente social. - vocês são boazinhas, gosto de vocês conversam com a gente. Tu pareces médica. Você tinha que ser medica. Porque você não vai ser medica? Ein pra cuidar de mim, os médicos que cuidar de mim não! Indagações nos são feitas, ficamos reflexivas diante da situação que nos foi apresentada pessoas em situação de transtorno vivendo nas ruas sem sequer utilizar de uma instituição de apoio a sua doença, “só podemos compreender as situações cotidianas aprendendo sua complexidade, através de suas diferentes manifestações, o que requer instrumentos afinados de observação e crítica dos fatos observados.” (DINIZ, 1999, p. 51). Histórias que configuram referências práticas e simbólicas que se constrange nas ruas que perambulam, espaços que gosta ou desgosta, contextos que lhe atraem ou passam despercebidos ou até mesmo o único refúgio. As possibilidades de viver no Brasil seria uma política de saúde devidamente comprometida com aqueles que dela precisam, com profissionais devidamente qualificados para atender esse usuário, questão de moradia digna, família reestruturada, medicamentos para o tratamento. Porém, uma morte social está a cada dia sendo vista nas diversas expressões da questão social ao analisarmos moradores de rua com transtornos como falta de atendimento, exclusão da família e sociedade e exclusão entre eles mesmos, pois o morador de rua sem transtorno não quer ajudar aquele que tem. 54 CONCLUSÃO A realização deste trabalho de conclusão de curso permitiu apresentar algumas considerações aproximativas. Em relação à saúde mental podemos verificar que nas últimas décadas houve um avanço significativo na ampliação das ações públicas nessa área, com maior participação do Estado e movimentação na sociedade civil nas diferentes conjunturas. Nesse sentido, longe de concluir quaisquer questões, pretendemos nesse momento traçar indagações e impressões sobre o que estudamos, vivemos e sentimos com bases em experiências o campo com os sujeitos envolvidos e com a pesquisadora. Envolver a temática das políticas de saúde mental e a população de rua que tem transtorno foi um desafio na realização desta pesquisa, desafio maior pelo fato de ir a campo em busca desses sujeitos e tentar regatar deles a sua noção de direitos dentro da política de saúde. Conhecer de perto a realidade do meu objeto de pesquisa deixou muitas reflexões à cerca desse avanço que ocorreu na política de saúde mental, chego a pensar que se avançou porque não funciona? Porque ainda essas pessoas estão á mercê da sorte e dos desfechos da exclusão da sociedade? Verificou-se no campo de pesquisa a falta de interação entre as instituições de saúde mental que exercem as políticas constantemente na contemporaneidade e os sujeitos que vivem nas ruas com transtorno. Por isso, contribuir para debates locais no âmbito das tentativas de acertos e erros no processo da efetivação das políticas púbicas de saúde para a população em situação de Rua, tendo como foco a questão da temática fundamental que são as questões de saúde mental para pessoas em situação de rua com transtorno faz parte da realidade desse estudo e que essa pesquisa possa contribuir para isso. No município de Fortaleza a atuação da instituição CAPS e do consultório de rua em atendimento a população de saúde mental tentado estabelecer um bom atendimento aos usuários de saúde mental, porém o fato das políticas não atender a 55 grande demanda deve ser analisado, deve-se levar em conta problemas de gestão superior em relação a essa política e os profissionais serem mais capacitados em dar atendimento a essa população, a busca ativa deve ser realizada para que se tenha um numero menor de pessoas que sofrem com transtorno ficar a mercê. Um ponto a ser destacado frente a esse contexto, tornava-se uma responsabilidade fundamental elaborar políticas públicas de saúde específicas para a população em situação de Rua com transtorno, o que deve permanecer como política prioritária para qualquer governo. Em outros termos, dada a centralidade das questões relacionadas à população em situação de rua, não se pode conceber como uma política que seja prioridade só em nível nacional ou restrita à política de saúde. Meu trabalho de Conclusão de Curso só veio aguçar mais ainda minha vontade de conhecer profundamente o tema, assim darei continuação ao estudo com mais calma e aprofundamentos em outras etapas da minha vida acadêmica e profissional. 56 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ALVES, Domingos Sávio. Integralidade nas políticas de saúde mental. In: PINHEIRO, Roseni; MATTOS, Ruben Araujo (Orgs.). Os sentidos da integralidade na atenção e no cuidado à saúde. São Paulo/Rio de Janeiro: Hucitec/IMSUERJ/ Abrasco, 2001. Pág.167-76. AMARANTE, P.D (Org.). Saúde Mental, políticas e instituições: programa de educação à distância. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003. ________________. Psiquiatria Social e Reforma Psiquiátrica. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1994. AMED ALI, D. M. et al. População de rua: necessidades de saúde e organização de serviços. São Paulo: Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, 1996. BISNETO, José Augusto. Serviço social e saúde mental: uma análise da prática. / José Augusto Bisneto. – 3. Ed. – São Paulo: Cortez, 2011. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Residências terapêuticas: o que são, para que servem / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – Brasília: Ministério da Saúde, 2004. ______________________, – Reforma Psiquiátrica e Política de Saúde Mental no Brasil. – Conferência Regional de Reforma dos Serviços de Saúde Mental: 15 anos Depois de Caracas. Brasília, 07 a 10 de Novembro de 2005. BRASIL. Ministério Público de Minas Gerais. Direitos dos Moradores de Rua: um guia na luta pela dignidade e sociedade. – MG, 2013. 57 _________. Ministério do Desenvolvimento e Combate à Fome - MDS. Secretaria Nacional de Assistência Social. Política Nacional para Inclusão da População em Situação de Rua para Consulta Pública. Brasília: MDS, 2013. BRASÍLIA. POLÍTICA NACIONALPARA INCLUSÃO SOCIAL DAPOPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA. DF, 2008. BOTTI, Nadja Cristiane Lappannet al. Condições de saúde da população de rua da cidade de Belo Horizonte. Cadernos Brasileiros de Saúde Mental - Vol.1 N.2 Out/Dez de 2009 ISSN 1984-2147. BARROS, Márcia Maria M.A. et al. Saberes e prática do agente comunitário de saúde no universo do transtorno mental. Ciência e Saúde coletiva, nº 14, 2009. CALDAS, Amanda de Alvarenga; NOBRE, Júlio Cesar de Almeida Nobre. Saúde mental e Reforma Psiquiátrica Brasileira: reflexões acerca da cidadania dos portadores de transtorno mental. Cadernos UnifoA, edição nº 20 – Dezembro de 2012. CERVO, Amado Luiz. Metodologia científica/ Amado Luiz Cervo, Pedro Alcino Bervian, Roberto da Silva. – 6ª ed. – São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. COSTA, Ana Paula Motta. População em situação de rua: contextualização e caracterização. Revista Virtual Textos & Contextos, nº 4, dez. 2005. COSTA, Ana Lucia Peixoto. Política Municipal de atendimento à população em situação de Rua de Fortaleza: desafios para uma proposta de inclusão. Universidade Estadual do Ceará, 2013. Tese de Mestrado acadêmico em Políticas Públicas e sociedade. DANTAS, Monica. Construção de Políticas Públicas para População em Situação de Rua no Município do Rio de Janeiro: Limites, Avanços e Desafios. MINISTÉRIO DA SAÚDEFUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ ESCOLA NACIONAL DE 58 SAÚDE PÚBLICA SÉRGIO AROUCA PROGRAMA DE PÓS- GRADUAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA SUBÁREA SAÚDE E SOCIEDADE. Rio de janeiro, 2007. DELGADO, Pedro Gabriel Godinho. et al. Reforma Psiquiátrica e política de saúde mental no Brasil: Conferência Regional de Reforma dos Serviços de Saúde Mental: 15 anos depois de Caracas. In: MELLO, Marcelo Feijó de. (orgs). Epidemiologia da saúde mental no Brasil/ Marcelo Feijó de Mello, Andrea de Abreu Feijó de Mello, Robert Kohn (orgs). – Porto Alegre: Armed, 2007. FONSECA, Daiana Ruffonida. POPULAÇÃO DE RUA NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO: antigas práticas reeditadas em tempo de refilantropização. Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2006. FOUCAULT, Michel. História da loucura. São Paulo: Perspectiva, 2007. GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa/ Antônio Carlos Gil. - 4. ed. - São Paulo: Atlas, 2002 . GOLDENBERG, Mirian. A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em Ciências Sociais / Mirian Goldenberg. - 8*ed. Rio de Janeiro: Record, 2004. LIMA, Sandra Costa. O programa de volta para casa em Fortaleza: o que mudou na vida de seus beneficiários? Universidade Estadual do Ceará – UECE, Mestrado Acadêmico em Políticas Públicas e Sociedade. Fortaleza, 2008. MACIEL, Carlos Alberto Batista. Políticas Públicas e Controle Social: encontros e desencontros da experiência brasileira. Universidade Federal do Pará, 2005. MACIEL, Valney Rocha. Os Herdeiros da Miséria: o cotidiano de mendicância no centro de Fortaleza. Universidade Estadual do Ceará. 2004. 59 MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio da pesquisa social. In: Deslandes, Suely Ferreira (org). Pesquisa Social: teoria método e criatividade. Ed. Petrópoles, RJ: Vozes, 2010. MENDONÇA, G. C. Sentidos Subjetivos de Moradores de Rua Frente ao Futuro. Campinas, 2006. Dissertação (Mestrado) – PUC. MESQUITA, J.F. de – Quem disse que lugar de louco é no hospício? Um estudo sobre os serviços residenciais terapêuticos apresentados no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambu – MG – Brasil, de 29 de setembro a 03 de Outubro de 2008. MESQUITA, José Ferreira de. NOVELLINO, Maria Salet Ferreira. CAVALCANTI, Maria Tavares. A reforma Psiquiátrica no Brasil: um novo olhar sobre o paradigma da saúde mental. Trabalho apresentado no XVII Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambu - MG – Brasil, de 20 a 24 de setembro de 2010. NOGUEIRA, Vanessa Saraiva. A POLÍTICA SOCIAL PARA MORADORES DE RUA E A DINÂMICA ESTRUTURAL DA ACUMULAÇÃO CAPITALISTA. Mestrando em Serviço Social, Trabalho e Questão Social Universidade Estadual do Ceará, 2013. OLIVEIRA, Heloisa dos Santos Martins et al. A população de rua e as relações capitalistas. Faculdades Integradas “Antônio Eufrásio de Toledo” de R. Presidente Prudente- SP. 2012. OSTERNE, Maria do Socorro Ferreira. Família, pobreza e gênero: o lugar da dominação masculina/ Maria do Socorro Ferreira Osterne. Fortaleza: EDUECE, 2001. PANIAGO, Maria Cristina Soares. Crise estrutural do Capitalismo e tendências de desenvolvimento da esfera pública. UNIVERSIDADE FEDERAL DO 60 MARANHÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM POLÍTICAS PÚBLICAS.III JORNADA INTERNACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS São Luís – MA, 28 a 30 de agosto 2007. PESSOTII, Isaias. Os nomes da loucura. São Paulo: Ed. 34, 1999. ______________, O século dos manicômios. São Paulo: Ed. 34, 1996. PINHEIRO, R.; LUZ, M. D. Práticas eficazes x modelos ideais: ação e pensamento na construção da integralidade. In: PINHEIRO, R.; MATTOS, R. A.(Org.). Construção da integralidade. Rio de Janeiro: UERJ, IMS: Abrasco, 2004. p. 7-34. ROSA, L.C dos S. e FEITOSA, L.G.G.C. Processo de Reestruturação da Reforma da atenção em Saúde Mental no Brasil: avanços e desafios. In: Revista Sociedade em Debate. Pelotas: 2008. (p.135 -152). ROSA, C. M. M. Vidas de rua. São Paulo. Hucitec, 2005. ROTTERDAM, Erasmo. Elogio da Loucura. Versão para Ebook, Editora: Atena, 2002. SANTOS, Clara Miranda te al. A rua é minha e a casa é de vocês: aspectos psicossociais de pessoas vivendo em situação de rua. Universidade Federal do Acre, 2012. SARTORI, Lecy. Alguns apontamentos sobre as relações de poder e controle nas instituições psiquiátricas. Revista Mediações, Londrina – v.11, nº 2, p. 175 – 186, Jun/Dez 2006. SILVA. Maria Lúcia Lopes da. Trabalho e População de Rua no Brasil. São Paulo: Cortez Editora, 2009, p. 136. 61 SILVA, Sandra Gomes da. O TEMPO DOS BÁRBAROS: CONTROLE SOCIAL EM TEMPOS DE CRISE ESTRUTURAL DOCAPITAL. III Simpósio Mineiro de Assistentes sociais. BH, 2012. SNOW, D.& ANDERSON, L. Desafortunados: um estudo sobre o povo da rua. Petrópolis: Vozes, 1998. SOUZA, Cintia Amélia de; FORTINI, Priscila Ferreira. VOZES DA RUA: um relato de experiência com moradores de rua. Universidade Federal de Minas Gerais – MG , 2013. SOUZA, Jamila Ana de. Prática profissional do Assistente social dentro da equipe multiprofissional de saúde mental no Município de Florianópolis. Universidade Federal de Santa Catarina – Departamento de Serviço Social, Florianópolis – SC, 2009. SOUZA, Ricardo Oliveira de. ENTRE BANCOS, PRAÇAS E ESQUINAS: os moradores de rua da cidade de Fortaleza em números e falas. IV Jornada Internacional de Políticas Públicas, 2010. UNESP. Marcos históricos da Reforma Psiquiátrica Brasileira: Transformação na legislação, na ideologia e na práxis. Revista de Psicologia, 2007. VARANDA, W., ADORNO, R.C.F. Descartáveis urbanos: discutindo a complexidade da população de rua e o desafio para políticas de saúde. Rev. Saúde e Sociedade. v. 13, n.1, p.56-69. 2004. VASCONCELOS, Ana Maria. (Orgs). Saúde mental e serviço social: o desafio da subjetividade e da interdisciplinaridade. 5º ed. São Paulo: Cortez, 2010. VITA, Natália Silva. Atuação do Serviço Social na área de saúde menta frente ao neoliberalismo. Centro de Filosofia e Ciências Humanas, UFRJ, 2007. 62 WANDERLEY, M.B. Refletindo sobre a noção de exclusão. Revista Serviço Social e Sociedade, São Paulo, v.55, Ano XVII, p.74-83, nov. 1997. 63 ANEXO ROTEIRO DE ENTREVISTA ESTRUTURADA Prezado, Prezada: afirmo que as respostas dadas serão utilizadas apenas para fins acadêmicos, sendo constituintes da monografia em Serviço Social em processo. Garanto que sua identidade será preservada por meio do anonimato, conforme os princípios éticos em pesquisa. Nome: Idade: Localização onde mora: Tipo de Transtorno Mental: Você é morador de rua? Ou Vive nas ruas? Perguntas referentes às políticas de saúde. 1- Você conhece as políticas de saúde mental? 2- Conhece o CAPS? Já utilizou o serviço dessa Instituição? 3- Você conhece o Consultório de Rua? Já foi abordada por esse serviço? 64 DECLARAÇÃO Eu, Verônica Sandréa Leite Medeiros, RG LP. CO2611/07, Nº 210 livro: CLE – 04 folhas 105, graduada em Língua Portuguesa e especialista em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, declaro ter realizado a análise e correção ortográfica do Artigo tendo como título: “Uma análise das Políticas de Saúde Mental pela optica da População em situação de Rua.”, da aluna: Emanuelle de Albuquerque Moreno do Curso de Serviço Social da Faculdade Cearense - FAC. Atesto que o trabalho encontra-se bem redigido, em português conciso e adequado, gramaticalmente correto, estando apto para o uso que a referida instituição julgue conveniente. Maracanaú, 23 de Janeiro de 2014.