Pure Magazine/ Edição cinco/ Verão 2010 Rita Brütt em entrevista Joalharia e Bijutaria Antes e agora Alexander Wang “The Prodigy-Boy” Victoire De Castellane A PoetiSa que cria jóias Elsa Schiaparelli, Um manifesto à moda Tina Berning (Expressão Humana) FICHA TÉCNICA: DIRECÇÃO /EDIÇÃO: Helga Carvalho www.helgacarvalho.com PURE DESIGN GRÁFICO: Hidden Attic: Sara Gomes, thesecondbushome.com Bráulio Amado, iusecomicsans.com WEB DESIGNER: Ivo Fernandes www.disturbnot.com/ PUBLICIDADE: [email protected] RP: Hugo Tiburccio [email protected] ANDREIA ANTUNES DO AMARAL, 1984. Natural de Tomar, designer e investigadora, temse dedicado a estudos relacionados com o Design Têxtil. É licenciada em Design de Moda e Têxtil pela Escola Superior de Artes Aplicadas do Instituto Politécnico de Castelo Branco. Encontra-se, desde 2007, a frequentar um programa de doutoramento pela Universidade Politécnica de Valência (Espanha), no qual terminou, em 2009, o grau de Estudos Avançados com o trabalho de investigação “A arte da Trapologia: definição e origem na Beira Baixa”. Coordenadora do projecto científico Grafema, Revista de Estudos do Livro, Imprensa e Design de Comunicação (www.gfm-grafema.com). COLABORADORES: Edição/Texto: Andreia Amaral Brígida Ribeiros Carlos Natálio Carlota Brogueira Cláudia Rodrigues Carolina de Almeida Francisco Vaz Fernandes Miguel Ângelo Matos Natacha de Noronha Pedro Lima Rita Correia Soraia do Carmo Sara Andrade Sara Vale Soraia do Carmo Susana Lage Vanessa Ferreira Fotografia: Paulo Segadães Pedro Pacheco Sérgio Santos Vídeo: Tiago Ribeiro Ilustração: Marco Godinho www.puremagazine.pt www.puremag.blogspot.com CAPA: Rita Brutt Fotografia: Paulo Segadães Styling: Helga Carvalho Maquilhagem & Cabelos: Miguel Molena com Produtos Christian Dior 5 EDITORIAL Joalharia e bijutaria duas áreas incontornáveis, indissociáveis da Moda. Cada vez mais, a joalharia liberta-se da imagem clássica que nos habituou abraçando caminhos mais expressivos e autónomos. A bijutaria ganha por sua vez maior dimensão através de estatuto criativo. Entrevistámos alguns criadores da área, diferentes entre si mas com percursos sólidos e bem definidos. Falam-nos das suas inspirações, métodos, colecções e desafios futuros, e deixam-nos sonhar com as suas criações! Para 2010, a Pure assume uma nova imagem, um novo layout. O conteúdo é o mesmo, o invólucro é diferente. São tempos de mudança para um projecto que se mantém fiel a si mesmo. CLÁUDIA RODRIGUES Cláudia tem 25 anos. Licenciou-se em Design de Moda e Têxtil em 2006. Estagiou com Ana Salazar, Dino Alves, na Zoot e na DIF magazine. Viveu 3 meses em São Paulo e descobriu uma cidade incrivelmente rica em expressão artística. Lá estagiou com as criadoras Karlla Girotto e Rita Weiner e descobriu a “queda” para o styling. Ambas lhe mostraram uma forma diferente de encarar os tecidos e a moda no geral. Gosta de experimentar, de criar personagens, de construir e desconstruir histórias. Foi responsável durante um ano pela edição de moda da DIF. Actualmente é consultora de imagem da fadista Ana Moura e stylist freelancer. Colecciona revistas, imagens soltas e registos gráficos. Ambiciona conhecer o mundo todo. www.claudiarodrigues.com Vanessa da Silva Miranda Nasceu em 1986, em Lisboa. Desde pequenina que gostava de letras e de roupas e, por isso, passava horas a inventar histórias e a desfilar na passarelle imaginária lá de casa. Sempre soube que seguiria duas carreiras paralelas e cruzadas: o Jornalismo e a Moda. A primeira paixão levou-a a tirar o curso de Comunicação Social na Universidade Católica e está actualmente a terminar o mestrado em Media e Jornalismo, na mesma universidade; a segunda ainda é cedo para dizer, mas vai sonhando com tudo o que quer fazer: styling, fotografia, artigos. Estagiou na revista Máxima, onde teve a oportunidade de conjugar as duas vertentes e por agora procura fazer algumas colaborações pontuais, enquanto termina a tese. Assina nesta edição o artigo sobre o novo talento Alexander Wang. COLABORADORES RITA CORREIA 29 anos, licenciada em Ciências da Comunicação, vertente jornalismo na Universidade Lusófona. Todo o trabalho passou pela imprensa escrita, o meio que mais gosto. O primeiro estágio foi na TVI online, de onde saí e voltei a entrar para fazer vários reality shows. Durante dois anos estive no jornal 24horas. O sítio onde mais gostei de trabalhar foi o jornal Record por gostar tanto de desporto, principalmente de futebol. Actualmente sou assessora de imprensa da Contraponto, Pergaminho, Arteplural e Gestãoplus, todas chancelas da Bertrand. PEDRO LIMA Lembra-se de rodar metros e metros de fita de cassete no seu Walkman, evoluiu para um leitor de CD mais cool e descontraído, destilou estilo com o seu novo MiniDisc, até que chegou finalmente ao seu inseparável iPod. O que se manteve foi a música, ouvida no fundo do poço ou em alta definição, mas sempre presente e incansavelmente lá. Assim se descreve: um fiel adorador de música. Nascido em 1981 em Lisboa, estudou Publicidade no IADE e passou por algumas agências onde trabalha como redactor. A sua aventura musical na web começou num blog, Stereo Beatbox, onde investe no que mais gosta, escrever sobre música, partilhar as tendências do que melhor se faz no universo sónico do Disco ao Synthpop, do Indie ao Electro, do Soul ao Funk, dos 60’s ao que ainda está por publicar. Foi com este ritmo que chegou à Parq Mag e à Pure Magazine, com as quais colabora frequentemente. SARA VALE 25 anos, nasceu em Lisboa e passou por Madrid enquanto tirava Ciências da Comunicação na Nova. Tornou-se copy de publicidade por acaso mas o que gosta mesmo é pasteis de Belém, muffins com framboesas e passear no eléctrico 28 ou num comboio qualquer. Ir, ver e voltar, para depois contar. Colabora com a Zoot, Dif, le Cool e estreia-se agora na Pure. Um dia vai ter uma Tarteria. PURE Rita Brütt PURE Por Natacha de Noronha Rita veste colete com aplicações de franjas nos ombros, PATRIZIA PEPE. “Conta-me Como Foi”, uma das mais bem-sucedidas séries portuguesas actualmente em exibição na RTP1, adaptada da espanhola “Cuéntame Cómo Pasó”, veio não só relançar a qualidade da ficção portuguesa como também revelar novas caras do teatro português, entre as quais Rita Brütt, que dá corpo a Maria Isabel, a filha mais velha do casal Lopes. Rita veste t-shirt em algodão com aplicações e estampagens, LANVIN na LOJA DAS MEIAS. Saia BCBG MAXAZRIA. Leggings e ténis em camurça, CONVERSE. Rita veste blusa em seda estampada, ESCADA na LOJA DAS MEIAS. Cinto em cetim, TARA JARMON, Calças em algodão estampado, CUSTO BARCELONA. Rita veste body em malha, TARA JARMON. Blazer em denim, DIESEL. Saia em algodão, MANGO. Sapatos em pele gravada, EL CABALLO. Rita veste vestido em seda, IRO. Colar MAX&CO. Blazer masculino GANT. Rita veste blusa em seda, GERARD DAREL. Colete em algodão orgânico, AMERICAN VINTAGE. Mini-saia em malha estampada, BCBG MAXAZRIA. Botins em pele de pónei tingida e cabedal, PILAR ABRIL. Rita veste t-shirt em algodão, MAX&CO. Blazer, EL CABALLO. Calções em denim deslavado, INSIGHT. Colar MAX&CO. Sapatos em pele, EL CABALLO. Rita veste t-shirt em algodão, INSIGHT. Top em algodão, TWENTY 8 TWELVE. Camisa em seda, IRO. Pure Magazine – Pela incontornável relevância do “Conta-me…”na ficção portuguesa, de que forma sentes que esta participação possa ter marcado o rumo da tua carreira? Rita Brütt – Acho que ficámos todos maravilhados com a unanimidade do “Conta-me…”. Foi tão transversal, como não se poderia imaginar e, fazer parte disso é um privilégio muito grande. Foi o meu primeiro trabalho em televisão, durou muito tempo (ainda dura), tornei-me uma actriz mais visível por causa dele e isso já deu frutos, o Jorge Silva Melo (encenador da companhia de teatro Artistas Unidos), por exemplo, convidou-me (também) porque me viu lá. Quando fui escolhida, depois do casting, tinha imensos pudores em trabalhar em televisão, vinha da Escola Superior de Teatro e Cinema, desconhecia a linguagem, achava que era um trabalho menor, e ao mesmo tempo tinha tanto medo de falhar. Aprendi a arriscar. A confiar que dependia de mim, e que o medo quando não nos trava, torna-nos mais fortes. Não tenho noção da duração do impacto “Contame…” no meu caminho, para já tenho tido sempre trabalho e bom trabalho! Espero ter oportunidade de fazer mais e melhor. Rita veste camisa em algodão estampado, PEPE JEANS. Blazer, WEILL. Jeans, PEPE JEANS. Pure Magazine – A Maria Isabel é uma rapariga comum integrada numa família de classe média, numa realidade passada, mas ainda muito perto do nosso quotidiano. Como foi a construção desta personagem? Que similitudes e que diferenças criaste comparativamente a uma adolescente dos dias de hoje? Rita Brütt – A Maria Isabel tinha 20 anos em 1968, era ajudante de cabeleireira, ajudava em casa e tinha muitos namorados, era um espírito livre. À minha volta existem muitas mulheres dessa geração e com muitas coisas em comum. Partilharam álbuns de fotografias e muitas conversas, comigo. Vi muitos filmes da época, mas não foram eles que me ajudaram a compreender melhor o que era viver naquela altura, como se falava com os pais, com os avós, como eram as tensões e a autoridade - isso foram as pessoas. A maior vantagem de pensar numa pessoa do passado é que podemos ter acesso ao que acontece a seguir, o futuro, o caminho dessas mulheres, social, político e humano. A Maria Isabel foi uma personagem sempre diferente e isso também foi muito interessante de construir com coerência, era uma mulher a crescer e a pensar, a ser contra muitas regras da altura e aí eu pude expressar algumas das minhas opiniões, minhas da Rita, as minhas opiniões com a forma da Maria Isabel, e eu crescia com ela. De irreverente, fútil, reivindicativa, passando a consciente, opinativa, interessada, depois a vontade de ser actriz contra tudo e todos, depois trabalhadora, e livre, muito mais calma e doce com os pais. Uma pessoa tridimensional, que cresce e amadurece. Íamos gravando e construindo, um dos pontos essenciais foi a família e a relação entre eles. O pai era austero e autoritário, mas os filhos sabiam que ele gostava deles, e a Maria Isabel também. A relação pai-filha, foi muito divertida de explorar, porque existia uma tensão permanente entre eles, discordavam sempre, mas no fundo ela queria agradar/conquistar o pai, conseguir dar-lhe a volta... e ia dando. Com a mãe, a princípio a relação era sobre os valores e o que uma mulher devia ser - trabalhar, casar e ter filhos. Depois foram-se tornando cada vez mais cúmplices, contaminando-se naquela necessidade de conquistar mais espaço para elas e conseguir fazer o que queriam. A Maria Isabel tinha ali uma aliada, sempre. A família!! Era uma família e pêras, divertíamo-nos tanto a fazer aquelas cenas caóticas à mesa de jantar. O crescimento, as crises, as dúvidas, passei por elas, tinha-me a mim própria para me comparar com a Maria Isabel. As diferenças eram impostas pelos tempos, pela forma e contexto. Em quase três anos de gravações, saí da casa da minha mãe, aluguei uma casa, tornei-me independente, trabalhei noutras coisas, cresci. Noutra época, tenho outra liberdade e nunca ninguém me deu um estalo quando disse que queria ser actriz ou namorar. E essa liberdade agradeço-a às mulheres que a conquistaram antes de mim, que penaram por ela para eu poder fazer o que me dá na real gana, e faço! Há melhor forma de agradecer? Pure Magazine – Este processo mudou em algum ponto o teu método criativo? Rita Brütt – Não tenho um método criativo. Não me guio por nenhuma doutrina específica. Depende sempre do que estou a fazer, como e com quem. Preciso de coisas diferentes de cada vez, claro que cada vez mais me conheço melhor e posso adoptar algumas regras e métodos de trabalho. Mas às vezes encontro mais ordem na desordem. Ouço, leio, penso, duvido e experimento, sempre. Tudo o resto é variável. E vou sempre voltar à escola, sempre que há uma pausa, estuda-se mais um bocado. E vive-se mais um bocado! É esse o meu método criativo, Viver! Pure Magazine – Assumindo que o “Contame…” tem como principal característica provocar na audiência uma projecção sobre o que fomos, somos ou poderíamos ser, perguntar-te-ia se em algum momento te aconteceu confundires-te com a própria Maria Isabel? PURE PURE Rita veste vestido em algodão, BCBG MAXAZRIA RUNWAY. Blazer PEDRO PEDRO. Pure Magazine – Como definirias as diferenças de trabalho entre esta série em particular, e o teatro? Rita Brütt – Fazer uma série de televisão durante dois anos e meio, onde a personagem muda e a história também, é necessariamente muito diferente de um trabalho em teatro. Em teatro ensaias um mês e tal um determinado texto, uma personagem com um caminho específico e definido e repetes, repetes, repetes enquanto constróis. Depois estreias, vem o público e o espectáculo muda, cresce, ganhas com o que o que o público te dá. E todos os dias de espectáculo acontecem coisas diferentes, mas há um caminho interior, uma construção definida, marcações, luzes, deixas dos e para os colegas. O espectáculo pode ser sempre diferente mas é também sempre o mesmo. Isto nunca pode acontecer em televisão, por isso é que o teatro é tão brutal, o público está ali e tu tens um universo que tentas dominar todas as noites e é sempre diferente – é um jogo. Televisão joga-se, mas é mais rápido, marcas a cena, ensaias, o realizador desaparece para a régie e gravas. Em princípio, se ninguém Pure Magazine – Como é trabalhar com esta se engasgar no texto, nem tropeçar na mobília, equipa? a cena está feita à primeira e pronto, aquela Rita Brütt – Tivemos muitas equipas diferentes, cena ficou imortalizada, poderia ter sido melhor e muitas pessoas que estiveram lá desde o princípio. ou pior, mas nunca mais a vais fazer. É muito difícil quando uns se vão embora e vêm É vertiginoso, desafiante e muitas vezes frustrante, outros, achas sempre que não vai ser a mesma coisa, mas é assim. que os outros eram melhores (nalguns casos até pode ser verdade). Mas é uma questão de adaptação, até toda a gente se conhecer. A equipa Pure Magazine – Como te definirias como toda é igualmente importante, se falta um operador actriz? de câmara, uma maquilhadora ou um actor, Rita Brütt – Definir? Não me defino, acho que compromete de igual forma o trabalho. Eles são quanto mais aberta e disponível, melhor. Não o nosso primeiro público. É para aquelas pessoas quer dizer que não tenha preferências e coisas que que estão connosco todos os dias - que nos vêem me apeteça explorar, mais do que outras, mas por as inseguranças, os momentos brutais, que nos enquanto apetece-me tudo, experimentar tudo e protegem -, que nós fazemos primeiro. Tivemos fazer. Actriz em crescimento. sempre boas equipas, e isso fazia com que houvesse um bom ambiente de trabalho – acho Pure Magazine – Que projectos gostarias de que toda a gente gostava de fazer o “Conta-me…”. realizar? Quando trabalhas em televisão só há uma coisa Rita Brütt – Lá está... Por agora apetecia-me fazer que atrapalha: quando se perde a perspectiva um intervalo de televisão. Tenho pensado nisso, no e o ego se intromete. Raramente aconteceu, mas é que é que me apetece falar. Estou um bocado farta do uma confusão natural, trocam-se as prioridades teatro “auto-referente”, “umbiguista” que fala dos actores e achas-te mais importante do que mais uma peça e dos processos criativos, apetece-me falar sobre as da engrenagem. Penso que isso foi uma coisa impor- questões das pessoas, sobre a vida, ainda não descortinei tante que aprendi, quando vi acontecer com outras como e sob que forma é que isso vai acontecer, pessoas, percebi que aquilo nunca me poderia mas vai. acontecer a mim, acho que assim é que é trabalhar em equipa. Pure Magazine – Qual a tua relação com a moda? Rita Brütt – Em estatística, é o valor que tem maior número de observações. Mas também são tendências de consumo...não sou muito consumista. Não tenho uma relação muito pensada com estilo, modos Rita Brütt – Embora não tenha vivido a época acho que o “Conta-me…”, projecta algumas realidades do passado e também se afasta da realidade portuguesa – uma consequência de ser uma série de ficção e não uma série documental. É como dizes, talvez as coisas pudessem ser mais assim do que foram, mas acho que existiram situações bem mais difíceis para muitas famílias “Lopes”, e isso não se mostrou. Despoletaram-se memórias e conversas, e imortalizou-se uma espécie de memória para as gerações vindouras, gosto de pensar nisso, o que pensarão os meus netos ao ver o “Conta-me…” daqui a 40 anos? Lá estou eu a estender-me na tua introdução à pergunta... se me confundi com a Maria Isabel? Sim, ainda por cima ela teve um percurso parecido com o meu, as duas com 21 anos estudávamos e trabalhávamos e fomos estudar teatro. Acho que até agora só uma personagem se afastou mais de mim, uma prostituta, e mesmo assim estabeleço sempre pontos de contacto, o meu material emocional, interior é sempre emprestado às “pessoas” que faço, senão acho que não seriam pessoas. Não sei fazer de outra forma. de vestir ou tendências. Tenho o meu próprio gosto, não quer dizer que não seja vaidosa, ou que não me preocupe quando é preciso. É uma questão de prioridades, é mais provável que use uma peça de roupa até ela se desfazer, por ser confortável, e gaste uma pipa de massa numa viagem a Moçambique, do que gastar mais de 200 euros em roupa por ano. Mas talvez esteja na moda ir a Moçambique e aí safo-me e estou oh, tão na moda! Make-up: Diorskin Nude Natural Glow Hydrating Diorskin Sculpt Lifting Smoothing Concealer Diorskin Nude Natural Glow Fresh Powder Makeup Eyeliner Pencil - No. 090 Black 5 Color Eyeshadow - No. 790 Night DiorSkin Poudre Shimmer ( Ultra Shimmering All Over Face Powder ) - # 001 Rose Diamond Diorshow Black Out Mascara - # 099 Kohl Black DiorKiss Luscious Lip Plumping Gloss fotografado por: PAULO SEGADÃES assistido por: HUGO GONÇALVES styling: HELGA CARVALHO maquilhagem & cabelos: MIGUEL MOLENA COM PRODUTOS CHRISTIAN DIOR agradecimentos: A PURE MAGAZINE AGRADECE A JOÃO FRAZÃO E À QUIOTO TODAS AS FACILIDADES CONCEDIDAS PARA A REALIZAÇÃO DESTE EDITORIAL. www.quioto.com PURE NEWS PURE Por Carolina Almeira Calendário Pirelli 2010, Setembro, Daisy e Catherine Art of the Trench da Burberry A Burberry decidiu prestar uma homenagem ao seu icónico trench coat com uma incursão pelas redes sociais online. A marca lançou o site Art of The Trench (artofthetrench.com), permitindo aos membros conectados através do Facebook submeter fotografias e histórias acerca dos seus trench coats da Burberry e partilhá-las com o ciberespaço. O web site apresenta-se como uma espécie de blog de street style e as primeiras fotografias são de Scott Schuman, o conhecido The Sartorialist. Criado originalmente pelo fundador da Burberry, Thomas Burberry, para o exército britânico em 1914, o trench coat continua a ser a peça mais vendida da marca. Leica e Hermès Calendário Pirelli 2010 Jóias Mode en Module Quando duas marcas míticas se unem para criar um objecto de culto, o resultado merece mesmo uma ovação sagrada. A Leica e a Hermès juntaram, pela segunda vez, o melhor que cada uma sabe fazer – máquinas fotográficas e elegantes produtos em pele – para apresentar uma peça de colecção: a série limitada Leica M7, uma máquina fotográfica que nos faz recuar no tempo, vestida com o melhor couro da casa de luxo francesa, em duas cores: laranja ou castanho. Cada tom será limitado a 100 máquinas numeradas. Este ano o Calendário Pirelli esconde por detrás da objectiva Terry Richardson, o enfant terrible da fotografia, que viajou até ao Brasil para fazer as 30 imagens alusivas aos meses de 2010. A Leica M7 é uma máquina analógica, com rolo de 35 milímetros e faz lembrar as câmaras utilizadas em filmes de viagens pelas savanas africanas. Preço: cerca de dez mil euros Nesta 37ª edição do calendário, Terry Richardson mostra um retorno a um Eros puro e divertido para satirizar convenções. O fotógrafo norte-americano persegue fantasias e provocações, mas fazendo ressaltar a simplicidade que modela e captura o lado mais claro e brilhante da feminilidade. Impera a mulher natural, num regresso às atmosferas autênticas das décadas de 60 e 70 e uma homenagem às primeiras edições do calendário, fotografadas por Robert Freeman (1964), Brian Duffy (1965) e Harry Peccinotti (1968 e 1969). A dupla londrina Matthew Gill e Ann Nelvig juntaram-se para criar uma marca de jóias muito especial, onde formas estruturadas criam uma elegante ordem que contrasta com um design dinâmico. Ele, designer gráfico, ela, designer de moda - dois talentos que vivem no seio da atmosfera britânica altamente criativa e se uniram para criar Mode en Module www.modeenmodule.com. Com uma consciência precisa em relação às suas criações e aquilo em que acreditam, os dois artistas desenvolveram uma marca de joalharia que fala a linguagem de sobrevivência selvagem. A pele é o elemento de eleição, a qual é entrecruzada, tecida e esquartejada originando um objecto que parece íntimo e pessoal. Construídas por materiais leves, as peças transmitem dinamismo e sexualidade em bruto. PURE Vivienne Westwood Anglomania & Lee Chanel lança 31 Rue Cambon Vivienne Westwood está a criar uma linha de denim para a icónica marca norte-americana Lee Jeans, que será lançada na próxima estação Outono/Inverno. A criatividade pode ter inúmeras formas de expressão e Karl Lagerfeld faz questão de não deixar nenhuma de parte. Como se a moda, a fotografia e a realização não fosse suficiente, o director criativo da Maison Chanel entra agora no mundo das revistas impressas. 31 Rue Cambon foi o nome escolhido para o título, que poderá ser encontrado nas lojas Chanel em todo o mundo. A insígnia que em 2009 celebrou o seu 120º aniversário decidiu unir-se à criadora que levou o punk directamente para a passerelle para uma colecção cápsula de homem e mulher constituída por nove peças. Denominada The Vivienne Westwood Anglomania and Lee, a linha deverá incluir desde pequenos shorts a jeans ultra-finos, passando pelas boyfriend’s jeans. As peças de denim vão surgir em todas as cores do arco-íris e com alguns detalhes metálicos, bem ao estilo de Vivenne Westwood. O preço deverá variar entre 90 e 225 euros. Olivier Zham, editor da revista Purple, ficou encarregue da direcção artística do primeiro número da publicação, mas foi o próprio criador da casa de moda francesa que definiu todo o conceito da revista, que inclui desde o lado couture da marca até às suas linhas de maquilhagem. O modelo Baptiste Giabiconi, um dos preferidos de Karl Lagerfeld, surge como protagonista neste nº 1 da 31 Rue Cambon, nome que remete para o endereço da primeira loja de Coco Chanel. PURE Michael Stipe pour Maison Martin Margiela O vocalista dos R.E.M., Michael Stipe, colaborou com a Maison Martin Margiela num projecto conceptual que envolveu a criação de uma edição limitada de 199 microcassetes. A microcassete não pode ser definida nem como uma peça de joalharia nem um objecto de arte, mas pode ter um pouco das suas essências (ou nenhuma), já que é para ser utilizada como o seu proprietário bem o entender. Cada miniatura do projecto Michael Stipe pour Maison Martin Margiela é apresentada num caderno feito à mão, numerado e assinado pelo vocalista da banda de rock norte-americana, e também as microcassetes estão carimbadas com um discreto MSO9. À venda nas lojas MMM e pontos de venda seleccionados. Daniel Sannwald lança livro O jovem fotógrafo alemão Daniel Sannwald lança este ano o seu primeiro livro, que reúne os inúmeros trabalhos que realizou durante os últimos dez anos. Por um curto período de tempo Sannwald surgiu como uma das vozes incomparáveis da fotografia contemporânea, tendo colaborado com revistas de referência como a i-D, Vogue Hommes Japão, V, Qvest e Dazed & Confused. Fruto da Royal Academy da Antuérpia, o jovem fotógrafo reinterpreta agora o sumo do seu trabalho num livro que foca o seu interesse tanto nas montagens digitais como numa retrospectiva mais tradicional. O livro, publicado pela Heroes, conta com textos de Cecilia Dean, Ashley Heath e o próprio Sannwald. PURE PURE JOALHARIA E BIJUTARIA: antes e agora Por Sara Andrade Longe vai o tempo em que a sumptuosidade de uma peça de joalharia se media pelos quilates. Hoje, a mais selecta é-o pelo intrínseco trabalho artístico que encerra. John Lennon disse uma vez em concerto: “Aqueles que estão nos lugares baratos, podem bater palmas; os outros, chocalhem as jóias”. Embora estereotipado e, há quem possa defender, preconceituoso, o comentário não deixa de ser factual. Ao longo dos tempos, as jóias funcionaram como sinal de estatuto e riqueza e, de uma maneira geral, basearam-se numa fórmula de proporcionalidade directa, que passava a ideia de quanto maior e mais brilhante, melhor posição social. E embora o mote continue a ter algum fundo de verdade, a equação tem sido aperfeiçoada para se adaptar aos novos tempos. Porque as jóias deixaram de representar moeda ou encerrar valor monetário para passarem a acessório de moda ou forma de expressão artística, hoje em dia, a escolha de um bijoux não pretende unicamente indicar um determinado escalão ou classe, mas é sem dúvida o reflexo de personalidade, do tipo de tribo urbana a que se pertence e um espelho do que queremos ser ou pelo menos, aparentar ser. Por isso, é comum encontrar opções, actualmente, que vão além dos diamantes, dos camafeus, dos anéis “forget me not” e dos solitários. Porque se se quer expressar individualidade, há que procurar jóias únicas. Produto de um avanço tecnológico ou simplesmente de uma crescente flexibilidade da mentalidade social, a joalharia, bijutaria e acessórios em geral têm surgido em formatos que desafiam qualquer tipo de modelo tradicional ou legado histórico. Multiplicaram-se os moldes, as lapidações, a montagem e os materiais, mas acima de tudo, a criatividade. Também porque os padrões sociais de outrora evoluíram, as peças de joalharia assim o fizeram: originalmente criadas para servir determinado propósito ou função, foram gradualmente crescendo para artigos de decoração e de objectivo estético. Os ornamentos do Antigo Egipto, por exemplo, deram o mote para uma especialização nesta arte e são vistos como a aurora da joalharia moderna: eram diversificados nas pedras, nos metais usados e no desenho, mas é impossível contornar o facto de terem um lado pragmático - o de servirem como talismãs ou amuletos. O período greco-romano trouxe detalhes mais minuciosos às peças, cujo propósito era representarem ou homenagearem os deuses - aqui nasceu o camafeu (uma divindade esculpida em pedra a 3 dimensões, num género de retrato). A Idade média transformou estes sinais de riqueza exterior em odes ao Cristianismo e no Renascimento, as peças ganharam motivos mais egoístas e tornaram-se símbolos de excentricidade. Foi a partir do séc. XVII que surgiu (alguma) democratização da joalharia, devido ao aumento do poder de compra e de uma consequente acessibilidade maior a metais preciosos e semipreciosos como a prata e o ouro. Esta contínua e crescente acessibilidade, bem como a multiplicação de técnicas e conhecimento da área, trouxeram à joalharia uma componente de expressão artística inédita. As melhorias tecnológicas traduziram-se na possibilidade de se construírem jóias a partir de materiais menos dispendiosos, matérias primas de fácil acesso e bases sintéticas, trabalhadas de forma a rivalizar até as mais caras e raras pedras. O resultado é um enfoque maior no design e na intrínseca arte de uma peça, e menos no seu simbolismo e status social. Associado à dissipação de condicionantes sociais, os estilos disponíveis agora são infindáveis. E, ainda que a maioria dos moldes originais acima descritos se tenham mantido e ainda são corriqueiros, outros arquétipos surgiram num desafio total àquilo que se fizera até então. Alfinete de peito, YAZBUKEY Campanha publicitária, YAZBUKEY Colar, DELFINA DELETTREZ Anel, BIJOUX HEART Anel, DELFINA DELETTREZ PURE PURE Anel, DIOR JOAILLERIE. Pulseira, LARA BOHINC Anel, DIOR JOAILLERIE. Peça de Colecção Out./Inverno 2007, VALENTIM QUARESMA. Peça de Colecção Primavera/Verão 2010, VALENTIM QUARESMA. O exemplo mais crasso é talvez o de Victoire de Castellane, a criadora por trás da Dior Joaillerie, cujos anéis e restantes obras encerram em reduzidos centímetros quadrados, verdadeiros mundos tridimensionais - joaninhas e abelhas em ouro esmaltado sobre flores no mesmo material substituem fileiras de diamantes, outrora uma opção óbvia. Não quer isso dizer que o trabalho da criadora resulta em peças baratas; na verdade, os materiais são da melhor qualidade e normalmente vêm acompanhados de pedras preciosas de tamanho exuberante - mas é incontornável conceder que rubis e esmeraldas estão a dar lugar a esmaltes e cristais, tudo em prol da beleza final da peça. E é óbvio que há peças Dior Joaillerie cuja designação “cravejada de diamantes” é um eufemismo, mas isso acontece sempre sob a égide de um design inesperado e algo peculiar: serpentes, caveiras e demais símbolos raramente associados a jóias ganham aqui dimensão artística. Outro exemplo de uma evolução técnica e criativa chega-nos da Vuitton. A sua linha de Alta Joalharia conta, há cerca de duas estações, com diamantes monogramados, ou seja, pedras cujo corte imitam o monograma da casa. Com 61 a 77 faces (os diamantes normais têm apenas 58), não é o facto de reflectirem a luz múltiplas vezes mais do que outro tipo de lapidação que é o mais brilhante nesta situação; o que é realmente surpreendente é chegarmos a um patamar em que a especialização e recursos permitem este tipo de liberdade e, atreverme-ia a acrescentar, capricho criativo. Mas saindo dos exemplos de luxo e entrando na área da bijutaria, as peças aqui descem de preço (às vezes não muito), mas são igualmente cobiçadas: os colares em cetim com extravagantes flores em resina do último Verão da Marni, os “babetes” em feltro de algodão com pedras em nada preciosas e cristais, popularizados pela Lanvin, ou as novidades abstractas da Bottega Veneta para a nova estação são autênticas obras de arte e são já de interesse público, sem que este se prenda com o seu peso em quilates. Mais flagrante ainda são as obras do criador português Valentim Quaresma: materiais do dia-a-dia como alfinetes-de-ama, correntes, cadeados e argolas em metal ganham valor e entram numa esfera artística quando cuidadosamente trabalhados em direcção a um design final que tem tanto de inesperado como de sumptuoso. Há alguns criadores que entram inclusivamente numa componente perturbadora e fantasiosa, como Delfina Delettrez, cujo lado onírico das suas peças (o anel “do olho” é a sua mais famosa), mas nem por isso desprezada. A portuguesa Marta Fontes também trabalha com resinas e contas coloridas, e as suas peças têm um lado irónico e cómico largamente apreciado, porque nunca deixa de ser chique a sua extravagância. Mercado para este tipo de visões? Sem dúvida. Porque agora que temos liberdade de escolher e ser quem somos, sem estigmas da sociedade, há alguns de nós que são fantasiosos, românticos, pueris e irreverentes, e, consequentemente, identificam-se com a imagética destes designers. E a conclusão a que se chega hoje em dia é que é preciso pensar fora da caixa de veludo onde normalmente se encontram diamantes solitários. Em género de lei da oferta e da procura, hoje, o mais raro é a originalidade e não os quilates. Por isso, a individualidade e personalidade de uma peça ganham valor igual ou superior ao de outra cuja riqueza é óbvia. Seja para preenchimento de nichos de mercado, seja como forma de expressão pessoal, a Joalharia hoje em dia está mais alargada e democrática, mas, incongruentemente, também mais selecta. Porque hoje não basta ter o dinheiro para adquiri-la. Talvez seja necessário também ter o gosto e a compreensão. Talvez hoje, John Lennon teria democratizado a frase e dito apenas “chocalhem os acessórios”. PURE ENTREVISTAS Joalharia e Bijutaria PURE Por Susana Lage Ditta Von Teese musa de BIJOUX HEART Não é um mero acessório, nem é só uma vaidade. Através da jóia conhece-se a pessoa que a usa e o estilo de quem a criou. Criatividade, delicadeza, ousadia e glamour são algumas das matrizes que acompanham os criadores de jóias entrevistados pela Pure. Nas suas colecções encontram-se anéis, pulseiras, colares ou brincos. O resto é silêncio. Silêncio pela surpresa, porque o mundo da criação sempre surpreende. LARA BOHINC Anel by LARA BOHINC Brincos by BIJOUX HEART BIJOUX HEART Bijoux Heart foi criada por Tracy Graham há 20 anos. Muito cedo, a designer inglesa ganhou vários prémios da Conde Nast, e desenvolveu peças para Vivienne Westwood, Catherine Walker, e Lulu Guinness. Nos últimos anos, tem criado jóias de alta-costura para Dita Von Teese. A colaboração com o ícone burlesco de estilo vintage define o estilo da marca. Bijoux Heart usa pedras vintage, pedras semi-preciosas e outros materiais, para criar jóias artesanais requintadas, muitas vezes com influências desde a Art Nouveau até à Art Déco. O que é que te inspirou a ser designer de jóias? Desde muito nova que faço jóias, obviamente com pouco sucesso no início. Mas lembro-me, aos 9 anos de idade, de tirar a parte de trás dos emblemas e martelá-los para fazer discos e usá-los como um colar. O meu estilo sempre foi vintage e sem dúvida que adoro Art Nouveau. Como é o teu processo de criação? Bastante caótico. Gostava de ser do tipo de designer que reflecte sobre os best-sellers do passado e tem uma fórmula de sucesso, mas às vezes basta assistir um filme antigo e ver um vestido fabuloso para ser inspirada pela forma como se combinam diversas cores. LARA BOHINC Lara Bohinc nasceu na Eslovénia. Tem um mestrado em joalharia e trabalho de metais do Royal College of Art. Já colaborou com a Gucci, Costume National, Lanvin, Exte, Guy Laroche, Marcus Lupfer e Julien Mcdonald, e actualmente é consultora freelancer para a Cartier International. Bohinc usa a formação em desenho industrial para fazer peças conceituais, eclécticas, ambiciosas, bem como acessórios de couro, óculos e carteiras, com um toque Art Déco. Com que frequência lanças novas colecções? Quatro vezes por ano. Muitas vezes pedem-nos novos itens a meio da época para substituir as peças vendidas. No que é que estás a trabalhar agora? Temos alguns projectos interessantes para 2010. Um deles foi solicitado por Patricia Field para fornecer as nossas jóias ao filme “Sexo e a Cidade 2”, que saíu em Maio. Também temos uma grande colaboração, ainda sob segredo, para A/W’10. Descreve o teu estilo numa palavra. Glamoroso! O que significa a joalharia para ti? É um adereço para o corpo, complementa um look mas também é o item mais pessoal que se pode usar. A joalharia expressa muito mais a personalidade de quem a usa do que a roupa, uma vez que não é um item necessário da mesma forma que as peças de roupa o são. Se não estivesses na indústria da moda, o que estarias a fazer? Provavelmente seria arquitecta ou jornalista. Quem são os teus designers preferidos? Raymond Templer e Charles Fouquet em joalharia, Willy Rizzo em mobiliário, Verner Panton em interiores, e Roberto Capucci em moda. Que aspecto da moda menos gostas? Copiar é um grande problema. Enquanto designers, as nossas ideias são tudo o que temos e quando alguém copia algo sobre o qual estivemos muito tempo a trabalhar sentimo-nos roubados. Como surgiu a ideia de trabalhar numa colecção de sapatos? Queria ter sapatos que complementassem as colecções de carteiras e jóias, então este foi um bom ponto de partida. PURE PURE YAZBUKEY Yazbukey foi criada pelas irmãs turcas Yaz e Emel, descendentes de Mehmet Ali Pasha, rei do Egipto. Yaz nasceu em Istambul, estudou Design Industrial e Gráfico, e Design de Moda no Studio Berçot. Emel nasceu no Cairo, trabalhou na Christian Lacroix e posteriormente também estudou no Studio Berçot. Depois de viverem em diferentes cidades, decidiram instalar-se em Paris e lançar a linha de acessórios Yazbukey, inspirada na Pop Art, em musicais de Vincent Minelli, na música de Gershwin, em contos de La Fontaine e Grimm, e em filmes de Hitchcock e Tim Burton. VALENTIM QUARESMA A carreira de Valentim Quaresma iniciou-se ainda durante a escola, quando começou a desenhar jóias e acessórios para a Ana Salazar, em 1989. Ganhou o concurso de Jovens Criadores da Europa e do Mediterrâneo em 1994, e nesse mesmo ano abriu um estúdio em Lisboa. O designer português tem apostado cada vez mais na sua própria colecção e apresentou a de Primavera/Verão 2010 com o nome True Love. Quando e como surgiu a vontade de criar? Aos 15 anos tive de uma lesão grave no ginásio onde praticava mini trampolim que me impediu de seguir uma via profissional nesta área, por isso optei por outra paixão que tinha que era a arte e a moda. O que vos despertou o interesse em design? O interesse pela música conduziu-nos à moda. Tens alguma marca ou criador que inspire os teus trabalhos? Trabalho com a Ana Salazar há 20 anos e sempre foi a minha criadora de eleição. Como é um dia na vida de Yaz e Emel? Acordar muito cedo, ver e-mails, pequeno-almoço com amigos, ginásio, trabalho, trabalho, diversão, trabalho, telefone, telefone, telefone, tratar dos cães, trabalho, jantar, copos e festa! Tudo com pernas longas, saltos altos e vestidos curtos! EMEL Quantas colecções trabalhas por ano? Quatro, duas para a Ana Salazar, duas para mim e ainda alguns projectos artísticos pelo meio. Que regras da moda gostam de quebrar? Passamos o tempo a quebrar regras! Colar by YAZBUKEY Onde se inspiram para desenhar uma nova colecção? Separamo-nos e fazemos cada uma a sua pesquisa. Depois discutimos as inspirações para chegar a uma ideia central e desenvolvemos uma história. Somos inspiradas pelo ambiente que nos rodeia, amigos, música, filmes, vida nocturna, e os nossos cães! Actualmente, com a “massificação do produto”, ainda há espaço para a criação de autor, numa área de nicho? Claro que sim, temos é de perceber onde está o nosso mercado e conquistá-lo. Três palavras para definir o teu estilo... Intemporal, inesperado, insólito. O que se segue para a marca Yazbukey? Comemoramos este ano o 10º aniversário da marca. Como tal, vamos ter muitas surpresas para os nossos fãs, amigos e família. ITS#ACCESSORIES 2008, VALENTIM QUARESMA. VALENTIM QUARESMA YAZ PURE PURE ESTILOS DE VIDA: SQUATTERS DAR VIDA A SÍTIOS SEM VIDA Por Rita Correia, Ilustração Marco Godinho O termo squat, que originalmente significa “acocorar-se” ou “agachar-se”, refere-se ao acto de ocupar temporariamente ou permanentemente um espaço abandonado ou desabitado sem permissão dos proprietários, não para transformá-lo numa propriedade privada - para ser alugada ou vendida -, mas com o objectivo de criar o próprio mundo de quem o ocupa. milhares de pessoas sem-tecto, foi a combinação perfeita para o aparecimento deste movimento. A partir de então, várias foram as famílias que se organizaram, e como não tinham onde morar, começaram a invadir prédios e casas abandonadas. Esta invasão a propriedades alheias começou a ser notícia na maior parte dos jornais londrinos e os squatters passaram a receber apoios da população. Contudo, com o passar do tempo as O movimento squatter abrange uma série coisas mudaram… O movimento tornou-se popular, de ideologias, muitas vezes associadas a mais pessoas passaram a utilizar este método para uma tribo urbana especial, que por vezes conseguir um tecto e, devido a isso, foi criada uma justificam os actos como um gesto de lei que garante alguns direitos aos squatters. Apesar protesto político contra as dificuldades de não ser uma actividade ilegal e de ser um direito económicas e de acesso à especulação defendido por lei, os squatters podem ser expulsos imobiliária, defendendo o uso de espaços muito facilmente e a invasão pode até resultar em abandonados como centros sociais ou prisão. culturais. As pessoas, com características Hoje em dia, o movimento em Londres é similares ou complementares, são escolhidas multicultural, diversificado e os seus fundamentos para formar uma pequena comunidade. Em são bastante diferentes dos da década de 60, vez de uma parceria comercial, a vida de quando a razão era a crise do sector imobiliário squat é baseada na amizade e na tolerância. ou até mesmo a resistência dos hippies contra o sistema. Com os alugueres caríssimos, as pessoas É verdade que muitos optam por este estilo não invadem mais por não terem para onde ir, mas de vida por necessidade, mas outros, e sim para economizar o dinheiro do aluguer. Na sua possivelmente a maior parte, vive assim maioria, os squatters são pessoas que têm emprego por prazer, pois baseiam-se principalmente mas preferem dar-se ao “luxo” de morar de graça. na liberdade que têm. Não estabelecem compromissos com ninguém apenas com Um dos motivos da junção de artistas, músicos, as pessoas que partilham o espaço, o que DJs que habitam os squats são as squat parties, faz com que a liberdade seja uma palavra de festas que acontecem geralmente em lugares ordem neste movimento. abandonados e secretos. As festas são promovidas pelos sound systems de diferentes squats e só se sabe Para se perceber mais sobre esta “tribo” é onde é na própria noite. Estas festas atraem cada preciso recuar uns anos, e voltar aos anos 60 vez mais pessoas, amantes da cultura electrónica, de Londres. Ao contrário dos dias de hoje, dispostos a divertirem-se livremente, sem tinha um significado político muito forte, preconceitos e com um grande espírito de aventura. sendo considerado um resultado de um movimento social com elevada importância. A liberdade do dia-a-dia também pode ser vista A crise no sector imobiliário, o elevado na maneira de vestir. Sem um estilo muito número de propriedades abandonadas e predefinido, os squatters têm uma aparência que se pode considerar desleixada, “artesanalmente” adaptada e com alguma sugestão ou similaridade ao punk. A maior parte não dispensa as roupas muito largas e a puxarem um pouco para o velho que conjugam com acessórios como lenços à volta do pescoço, gorros, brincos, correntes e pulseiras. As “botas da tropa” e os ténis são o calçado mais usado. Por opção ou não, a maior parte usa rastas no cabelo. PURE Por Vanessa da Silva Miranda A simplicidade tem destas coisas. Cai bem, sabe bem e é visualmente agradável, especialmente numa época marcada pela multiplicidade de tendências onde os revivalismos de silhuetas trabalhadas não conhecem limites à imaginação. Alexander Wang, adepto do simple-chic é o mestre na arte do vestuário clean. Este miúdo de apenas 25 anos é aquele a quem poderíamos apelidar de o novo prodigy-boy. De ascendência chinesa e americana, Wang é um reflexo do espírito com que cria as suas colecções, ou seja, calças de ganga e uma t-shirt também podem ser sexys. Wang conseguiu em pouquíssimo tempo afirmar-se como um dos nomes promissores do momento. Das ruas e para as ruas! O lema das colecções da label Alexander Wang é o mais frontal possível e envia uma mensagem bem explícita: somos mulheres, gostamos de roupa prática que possa saltar das passerelles para o nosso guarda-roupa, mas com estilo e atitude. As colecções surpreendem a cada ano, sem deixar margem para dúvidas: estética de linhas depuradas e intemporais, sobriedade de cores, silhuetas de inspiração masculina sobre as curvas femininas, um espírito muito rock n’roll e uma abordagem chique de quem se sabe afirmar sem precisar de extras. Entre aquelas que se revêem neste espírito encontramos mulheres como Rachel Bilson, Misha Barton, Lindsay Lohan e Erin Wasson, suas amigas e fãs. Wang captou a mulher moderna como ela quer ser vista, forte e feminina, glamorosa mas simples. Alexander Wang soube desde cedo que queria ser designer, aos 15 anos já desenhava vestidos e aos 18 deixou para trás São Francisco para entrar na prestigiada Parsons School of Design, em Nova Iorque. Paralelamente, estagiava com os mestres Marc Jacobs e Derek Lam e na revista Teen Vogue PURE PURE e desenhava algumas peças daquela que viria a ser a sua primeira colecção, composta por malhas e sweats em caxemira. A apresentação desta, em 2005, pôs Wang na lista dos preferidos das editoras de moda. Dois anos depois, faz a estreia da sua primeira colecção completa perante uma plateia que aplaude extasiada o fantástico mix entre o hip-hop e o chique parisiense dos anos setenta. Assim nasce a marca Alexander Wang, uma empresa familiar criada por Wang, a mãe e a cunhada. O sucesso continuou e a estante do wonder-boy foi-se enchendo de prémios que lhe reconheciam o mérito: em 2008 recebeu $1,000,000, atribuídos pelo Council of Fashion Designers of America e pelo Vogue Fashion Fund para designers emergentes, e foi galardoado com o Ecco Domani Fashion Fundation Award; este ano, teve o reconhecimento da indústria com o Swarovski Womens Wear Designer of the Year do Concil of Fashion Designers of America e, mais recentemente, dia 12 de Novembro em Zurique, recebeu o Swiss Textiles Award 2009, um prémio no valor de 100.000€, incentivo para a criação de moda. O reconhecimento do público, dos meios e da indústria somam-se. À simplicidade e elegância dos modelos, aos quais Wang confere um certo toque roqueiro, alia-se a qualidade da modelagem e do corte, que o criador privilegia em detrimento de estampados e padrões, criando uma espécie de apogeu da forma simplificada e da sobriedade. O segredo do sucesso está, segundo Wang, na inspiração que retira do dia-a-dia, das pessoas comuns com quem se cruza na rua, fazendo desfilar na passerelle coordenados que facilmente saltariam para o nosso closet! Wang recuperou PURE a beleza de peças básicas como o imprescindível vestido preto ou o blusão motard, mas adicionoulhes um toque extra de estilo para se adequarem à mulher contemporânea. A magia de Wang é a vestibilidade das suas roupas, longe dos brilhantismos e fantasias, sem nunca esquecer que a mulher que irá vestir quer ser notada, sem prescindir do conforto. Além das roupas, Wang procurou alargar os horizontes lançando, em 2008, uma linha de acessórios e de calçado e criando uma colecção de Outono/Inverno de roupa de festa; na primavera de 2009, surgiu a T by Alexander Wang, uma linha formada exclusivamente por t-shirts, e a primeira colaboração com o mundo da beleza, tendo, em parceria com a Shiseido, criado a linha maquilhagem (apenas disponível na Ásia). O início de 2010 foi marcado por dois acontecimentos importantes que vêem confirmar mais um ano de consagração, a estreia de Wang na roupa masculina, lançando a primeira colecção para homens, como parte da linha T by Alexander Wang, inspirada no homem que procura um compromisso entre a moda e o conforto, e a chegada às lojas das peças que Wang desenhou para a Gap, na colaboração GAP Design Editions, criada pelos designers finalistas do prémio CFDA/Vogue Fashion Found de 2008. Em apenas quatro anos, desde que estreou os seus básicos de caxemira, Wang afirmou-se como um dos talentos do futuro, conquistando o respeito e a admiração entre os seus pares e, inegavelmente, conquistando-nos a nós. PURE PURE Elsa Schiaparelli Um manifesto à moda Por Sara Vale As histórias surrealistas escrevem-se com manifestos. A de Elsa Schiaparelli, criadora icónica desta corrente, não é excepção. Schiapi, nome pelo qual ficou respeitavelmente conhecida, deixounos um legado de peças de moda eternas, das silhuetas marcadas por chumaços ao electrizante rosa choque, passando por padrões excêntricos com lagostas ou textos jornalísticos, acessórios com formas intrigantes, perfumes enigmáticos. Entremos pois nesta realidade surreal. Elsa Schiparelli, contemporânea mas não homónima de Coco Chanel, espalhou a sua magia por Paris durante os loucos anos 20 e 30. Nascida em na bella Roma, e dada a sua formação em Artes e Filosofia, a sua sensibilidade face à moda era mais que inata, uma audácia na improvisação, uma lufada de ar fresco nas tendências rígidas do pós Grande Guerra. Talvez por isso, o seu fascínio pelo Surrealismo e Dadaísmo, e consequentes relações com Man Ray, Salvador Dali e Jean Cocteau, a tenham levado a criações tão bizarras quanto actuais. Centremo-nos pois nesta actualidade e filosofia de moda de Elsa Schiaparelli. E isto merece um manifesto. Não em doze mandamentos, como o seu livro das regras pelas quais todas a mulheres se devem (ou deveriam) reger, mas em quatro. Para não corrermos o risco de esquecê-los. Viva os acessórios. Os acessórios marcaram assídua presença nas criações de Schiaparelli. Sapatos e chapéus, luvas e jóias, carteiras e chapéussapato. Estranho? Não, se pensarmos na admiração de Schiapi por Dali. O chapéu-sapato (1937), foi justamente inspirado numa fotografia do artista, na qual usava um sapato na cabeça. Bem visto, portanto. Juntam-se os botões em forma de peixe, écharpes com padrões de jornal, luvas com cabeças de raposa. Se agora espanta, imagine-se no pré Segunda Guerra Mundial. No entanto, foram peças que tiveram não só o respeito dos seus pares como a aceitação do público em geral. Cor connosco. Tal como a vida não é a preto e branco, também nós não nos devemos vestir assim. Quem o defende é Schiapi para quem a mulher (e o homem) deve arriscar na cor, saltar as normas, infringi-las, se for o caso. No seu primeiro salão, o Pour le Sport (1927), atingiu a sua cor de marca, o rosa-choque, aplicando-o em diversas criações como os mediáticos botins às riscas. “Uma provocação”, diria Yves Saint-Laurent. Brilhante, acrescentamos. Este rosa electrizante acabou por dar nome ao seu perfume- cujo frasco, desenhado pela pintora surrealista Leonor Fini, representava o peito da actriz Mae West – e do seu livro de memórias. Mais um registo para a história da moda. Dar forma às formas. Se a mulher tem formas, é para marcá-las ainda mais. Os so 80s chumaços são mais uma inspiração de Schiaparelli, bem como as camisolas de lã e os zips na alta costura. Já estava na hora das camisolas femininas serem mais elegantes que deformadas. E tal pedia não só uma nova forma de tricotar como um adereço, mais precisamente, um laço. Nasce assim a bow-knot sweater, uma peça marcante da década de 20, o espelho de uma mulher moderna sem medo de se movimentar ou expressar. As (grandes) senhoras ajustam-se ao vestido. Never fit a dress to the body, but train the body to fit the dress. Não é um apelo a dietas loucas ou sofrimentos de beleza mas um grito à feminidade no seu livro “The twelve commandments for a woman”. Talvez seja por isso que nomes como a Duquesa de Windsor, Marlene Dietrich ou Katharine Hepburn fossem clientes habituais dos modelos de Schiaparelli, ao mesmo tempo que as suas criações apareciam em guarda-roupas de Mae West em Every Day’s a Holiday e Zsa Zsa Gabor em Moulin Rouge. Talvez seja por qualquer outra coisa. Resta-nos a verdade da actualidade de Elsa Schiaparelli, mais que uma pioneira ou transgressora, uma senhora. Só uma grande mulher acredita que a roupa deve adaptar-se ao estilo de vida de cada um e não o contrário. Porque só assim faz sentido criar. Bowknot Sweater Silly sunglasses featuring long blue eyelashes & small lenses were dreamed up by designer Schiaparelli. Paris, France, February 1951 Fotógrafo: Gordon Parks PURE PLUS PURE Por Carlota Broqueira Rei Kawakubo e a Barbie A designer de moda Japonesa e fundadora da marca Comme des Garçons, Rei Kawakubo, vestiu a boneca mais famosa do mundo, a Barbie. A Platinum Label Collection, Barbie Collector, é uma edição limitada que tem contado com colaboração de vários designers como Christian Lacroix, Karl Lagerfeld, Christian Louboutin, Sonia Rikyel entre outros. A mais recente boneca vem numa caixa com um padrão floral a condizer com o vestido criado por Kawakubo. O seu preço ronda os 300€ e pode ser adquirida no www.net-a-porter.com. Prada abre Megastore Stella Mccartney em Lisboa em parceria com Morrissey Apesar da recessão económica que estamos a viver, a icónica marca italiana abre megastore no nosso país. Este espaço situa-se em Lisboa, na Avenida da Liberdade e acabou de ser inaugurado. A marca de Miuccia Prada, foi considerada recentemente a mais influente do mundo. A directora da Vogue US, Anna Wintour declarou:“ Prada é o único motivo para alguém assistir à temporada da moda em Milão”. Stella McCartney vai fazer uma colecção de sapatos leather free em parceria com Morrissey, activista ambiental, compositor e ex-vocalista da banda britânica The Smiths. Desde que começou a sua actividade como designer, Stella nunca utilizou peles na confecção das suas colecções. Apesar de este projecto estar o ainda estar numa fase inicial, esta linha de sapatos vegan, confeccionados com couro vegetal, estará disponível ao público já este ano. Alice in Wonderland by Furla Nova colecção de Christian Louboutin Última colecção McQueen para Puma A Furla em parceria com os designers Fabio Sasso e Juan Caro da marca Lokomotiv, criou recentemente uma colecção de acessórios inspirada no filme de Tim Burton “Alice in Wonderland”. Este projecto permite a novos designers apresentarem o seu próprio ponto de vista sobre o tema, por detrás de uma conceituada marca como a Furla. A dupla de criadores brindou-nos com uma colecção vintage e surrealista, que inclui carteiras, sapatos, lenços, relógios e chapéus-de-chuva. A Furla conta com 80 anos de existência, continuando a investir na inovação, pesquisa e tecnologia de forma a poder continuar a oferecer qualidade em todos os seus produtos. O conhecido designer de sapatos femininos Christian Louboutin lança pela primeira vez uma colecção de sapatos masculinos Primavera/ Verão 2010. Além dos esperados sapatos de sola encarnada, a colecção inclui dois pares de ténis, disponíveis nas cores preto e branco fruto da colaboração entre o criador e o músico americano Pharell Williams. As tachas cravadas sobre pele foram elemento recorrente desta colecção que mais uma vez não nos deixou indiferente. Alexander Mcqueen deixou-nos em Fevereiro passado. Além da sua última colecção de prêt-à-porter apresentada na semana da moda em Paris, o criador realizou para a marca Puma uma última parceria. Em estações passadas, Mcqueen usou como inspiração uma modalidade desportiva. Para esta Primavera/Verão 2010, a colecção é inspirada nas artes marciais onde o conceito é o poder da mente e do corpo. O “poder” , está presente em toda a colecção, e é representado através de ‘Crane vs. Tiger’, a nova imagem da marca, fotografada por Nick Knight. Mcqueen ficará presente na memória de todos como um dos criadores que mais marcou a história da moda. PURE PURE Por Brígida Ribeiros Vine Street, 32 x 24 cm, Guache e Tinta sobre Papel, 2009 A ilustração é neste momento um campo com ampla produção internacional de qualidade. Se desde a década de 1960 a fotografia tomou o lugar outrora ocupado pela ilustração, temos na última década assistido a uma reconquista de espaço nos mais diversos suportes. Potenciada pelos avanços tecnológicos, a ilustração digital difundiu-se até à exaustão quer através de “vectorizações” quer através da utilização de ferramentas mais sofisticadas, dando fruto a ilustrações de grande impacto visual. Há no entanto uns tantos ilustradores, a que me permito chamar resistentes, que encontram nos meios tradicionais do desenho e da pintura manual os meios necessários e indispensáveis às suas criações. Destaco Mats Gustafson (com uma longa carreira), Stina Persson e Tina Berning, que exploram, com resultados notáveis as potencialidades das aguarelas e aguadas de tinta. 100 Girls On Cheap Paper (livro) The Passengers II, 29,7 x 21 cm, Tinta da China e Tipp Ex sobre papel, 2009 Berning utiliza com simplicidade e mestria as possibilidades expressivas das tintas à base de água, explorando a gestualidade, através da mancha e de traços precisos ambos com subtis variações tonais potenciadas pelas diferenças de concentração de tinta. Quer no seu trabalho sob encomenda, quer no trabalho pessoal, definem-se silhuetas delicadas e emana uma expressão ambígua Tina Berning define o desenhar figuras humanas como o seu interesse principal, exemplo disso é “100 Girls on Cheap Paper”, uma abordagem pessoal da expressão e beleza da identidade feminina. Trata-se de uma colecção de desenhos, estudos e pinturas expostos em Berlim, Amsterdão, Tóquio e Nova Iorque, publicada em livro pela Printkultur e cuja edição se encontra esgotada e foi agora reeditado pela Chronicle Books. Sobre papel antigo, comprado em mercados de velharias Tina Berning explorou 100 vezes, dia após dia, Tina Berning, cujo trabalho tem sido distinguido e a vulnerabilidade, sensibilidade e carisma das mulheres, confrontando a sua pertença a um grupo publicado em inúmeras antologias, estudou artes e a sua individualidade. gráficas em Nuremberga. Diz-se admiradora do reputado ilustrador Heinz Edelmann, recentemente A mesma problemática, aplicada a homens falecido, famoso pela direcção artística e desenhos e mulheres é abordada em “The Passengers” exposição que decorreu entre 10 de Setembro animados do filme Yellow Submarine (1968), e 9 de Outubro último na Galeria Hanahou baseado na música dos Beatles, e influenciada por em Nova Iorque, a segunda da artista em revistas, álbuns de fotografias e postais antigos. 2009, no seguimento de “The Listeners” na Galeria Andreas Binder em Munique. Em “The Trabalhou na criação de capas de discos e posters para a indústria musical antes de se tornar designer Passengers” coexistem grupos e figuras isoladas na revista Jetzt, suplemento do jornal diário Die que se observam mutuamente, entre voyeurismo Süddeutsche Zeitung. Abandonou este trabalho e e exibicionismo. Segue-se “The Witness”, mudou-se para Berlim, concentrando-se na criação uma exposição programada para este ano e a visual independente. Encontrou na ilustração e continuação da colaboração com o fotógrafo pintura os seus meios privilegiados de expressão. Michelangelo Di Battista, com quem realizou um No entanto outras publicações têm surgido no seu trabalho para a Vogue Itália em 2007. Espera-se a percurso profissional, colaborando regularmente mesma intensidade e delicadeza. Ficaremos atentos! com revistas e jornais como Die Zeit, New York Times, Nylon, Playboy, SZ, Cosmopolitan e Vogue. Também o meio publicitário se reabriu à ilustração e Berning trabalhou em campanhas para clientes tão diversificados como a Coca-Cola, Smart, Mercedez Benz, Shiseido, Davidoff, entre outros. PURE PURE VICTOIRE DE CASTELLANE a poetiSa que cria jóias Por Miguel Ângelo Matos Victoire de Castellane lançou o departamento Dior de alta joalharia a 1 de Janeiro de 1998. Uma parisiense aristocrata, vive na capital francesa com os seus filhos. A sua franja, arranjada da mesma forma desde os cinco anos, e os saltos impossivelmente altos, tornam a sua silhueta numa autêntica obra de arte viva. Os seus olhos mostram um misto de candura e fantasia, e há sempre (um certo) sorriso presente segundo consta por informações oficiais, porque a entrevista aconteceu através da internet. De uma apresentação prévia do seu trabalho descobrimos que o que a inspira e torna diferente é a mescla de referências. A inocência do technicolor, a sofisticação do cinemascope, surpresas do mundo botânico, asas de borboletas, esplendores da natureza, Hollywood e Bollywood, desenhos animados dos anos 50, brincar com as barreiras entre o natural e o artificial, ingénuo e belo, diminuto e excessive. É também uma distinção pouco comum, dada às pedras semi-precisosas que a torna diferente. PURE Como se sente no papel de criadora de joalharia da Casa Dior ? Dior Joaillerie é uma invenção minha e estou muito orgulhosa dela! Eu preciso profundamente de estar livre para fazer o que gosto. Também estou orgulhosa que as minhas criações sejam apreciadas por mulheres à procura de uma joalharia mais poética, neste que é um ramo tão convencional. A mensagem impertinente e audaciosa que Victoire nos faz chegar através das suas criações, mostra-nos uma extrema feminilidade aliada à poesia da alta costura. O lado artesanal e valores como qualidade estão presentes nas suas colecções. Qual é a sua colecção favorita? Adoro todas as minhas criações. Mas, a minha colecção preferida é sempre a próxima. Quais as suas inspirações principais, neste momento? O universo feminino e as mulheres em geral, a arte, os filmes, fotografias nas revistas, contos de fadas, o universo infantil: tudo! Coloco tudo no meu “shaker mental” e as ideias saem. É sempre assim o começo de uma colecção. Dior remete-nos para a personalidade reservada de Christian Dior e de como o seu New Look se opôs aos novos valores do pós-guerra. Foi generosamente copiado e apreciado, imitado e odiado. Um desafio, PURE uma forma de cortar absolutamente única, e uma excentricidade, mais ou menos contida em certos momentos, que estava presente num revivalismo daquilo que tinha sido já o papel decorativo das mulheres na alta sociedade de séculos passados, no meio das aristocracias europeias. Victoire de Castellane vem por sua vez não só personificar esse papel como criar novos códigos na joalharia, assim como Galliano o faz nas suas colecções. Que relação tem com os outros designers da casa Dior, como o John Galliano? Nós não trabalhamos juntos mas eu penso que todos temos em mente a herança Dior. Adoro o seu ponto de vista meio doido, o seu sentido de extravagância em relação à moda, e isso temos em comum porque eu aprecio esses factores quando crio as minhas jóias. A colecção Reis e Rainhas, a última a ser criada, apresenta-se com ironia e um sentido de novidade bastante radical. As caveiras sugerem o fim da aristocracia, que em França foi muito cedo e muito desejado. Mas as jóias mostram que não há valores que não permanecem. Peças que não devem ser levadas muito a sério mas que estão recheadas de sentido. Fale-nos da sua última criação. A nova colecção é composta por dez imagens de rainhas para os anéis e dez reis para os pendentes, baseado no imaginário dos reinados e dos reinos. É uma história de amor onde a ideia principal é de que as pessoas passam mas as jóias ficam como no Memento Mori durante a Idade Média. As colecções de Dior Joaillerie estão disponíveis na boutique da Place Vendôme, e nas capitais mais importantes de todo o mundo. Em Portugal é possível encontrá-las na Joalharia Machado. Para comprar, para usar, para ter, possuir. Para mostrar ou para guardar. Dior Joaillerie e Victoire de Castellane operam no mundo das jóias em perfeita osmose. www.diorjoaillerie.com Colecção Reis e Rainhas, Anel “Rainha de Chrysoprasie” em platina, diamantes e chrysoprasie. PURE BEAUTY SHOPPING shopping beauty PURE fotogradado por PEDRO PACHECO www.pedro-pacheco.com assistido por LUÍS ALMEIDA maquilhagem ANTON BEILL cabelos NOLGA STELLA modelo CARLA GARCIA, CENTRAL MODELS agradecimentos: light equipment www.spot-lightservice.com VERÃO 2010 1. 3. 2. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 1- Máscara de pestanas “Star Lash” nº1, GIORGIO ARMANI. 2- Esmalte de unhas, Nº41, YVES SAINT LAURENT. 3- Sombra de olhos, “Paintpot”, M.A.C. 4- Pó para rosto “Prisme Again Visage”, GIVENCHY. 5- Sabonete líquido facial “the soap”, HAKANSSON. 6- Base de rosto, “Anti-Blemish Solutions”, CLINIQUE. 7- Lápis para lábios “Nano Lips”, SEPHORA. 8- Eau de Toilette “Impératrice”, D&G. 9- Duo de sombras “Heaven Teddy Bear”, TOO FACED. 10- Batom “Rouge Volupte” Nº 27, YVES SAINT LAURENT. 10. PURE PURE FASHION SHOPPING FLOWER POWER LUDIC 3. VERÃO 2010 VERÃO 2010 1. 3. 2. 1. 2. 4. 4. 5. 5. 6. 7. 6. 7. 8. 8. 9. 10. 9. 10. 01020304050607080910- Brincos “Milly-sous-la-neige” em ouro branco e diamantes, DIOR JOAILLERIE. Colar “Magie” em ouro branco, diamantes, esmeraldas e topázios, BOUCHERON. Anel “Gwendoline” em ouro amarelo, diamantes, safiras rosas e coral branco, DIOR JOALLERIE. Pregadeira em ouro amarelo e strass, SONIA RYKIEL. Pregadeira “Caresse D’orchidées” em ouro branco, diamantes, safiras e rubis, CARTIER. Brincos em ouro amarelo, safiras e diamantes, BVLGARI. Anel em ouro amarelo e diamantes, H. STERN. Brincos “Grace” em ouro rosa e ágata branca, MIMI. Pulseira em ouro amarelo e madrepérola, TOUS. Anel “Aurora” em ouro branco e diamantes, DAMIANI. 01- Pochette “Maça” incrustada a strass, JUDITH LEIBER. 02- Anel “Power Ring” em ouro e cristal, H. STERN. 03- Brincos “Espinosa Vertes” em ouro branco, rubelites, diamantes, citrines, ametistas, safiras rosas, safiras, tsavorites e laque, DIOR JOAILLERIE. 04- Anel em ouro amarelo com laque, CAROLINA HERRERA. 05- Brincos em ouro amarelo, onix, peridot e laque, CARTIER. 06- Colar em corda, latão dourado e madeira lacada, LOUIS VUITTON. 07- Pregadeira “laço”, YASZBUKEY. 08- Pregadeira em plexiglas, SONIA RYKIEL. 09- Pulseira em metal e em tweed, CHANEL. 10- Anel em ouro amarelo e ágata branca, DELFINA DELETTREZ. WHITE PURE VERÃO 2010 PURE YELLOW 2. 1. 4. 3. VERÃO 2010 3. 2. 1. 4. 6. 5. 6. 5. 7. 9. 7. 10. 10. 8. 8. 01020304050607080910- Sautoir “Moon” em ouro branco com pérolas, YOHJI YAMAMOTO JEWERLY. Pendente em ouro branco, CARTIER. Pulseira em ouro branco, diamantes e onix, H. STERN. Anel “Mimioui” em ouro branco e diamantes, DIOR JEWERLY. Bracelete “Seventies” em ouro branco e diamantes, DINH VAN. Brincos em ouro branco e diamantes, DAMIANI. Pulseira corrente em ouro branco e diamantes, DINH VAN. Anel “Polvo” em ouro branco e diamantes, BOUCHERON. Anel em ouro cinza e onix, CARTIER. Pulseira em em ouro branco e diamantes, BVLGARI. 9. 01020304050607080910- Pendente em ouro amarelo e diamantes, DINH VAN. Pulseira em ouro amarelo, DIANE VON FURSTENBERG para H.STERN. Anel em ouro amarelo, ouro branco, diamantes e esmeraldas, BOUCHERON. Brincos em ouro amarelo, TOUS. Relógio “Reflet de Boucheron” em ouro amarelo e diamantes, BOUCHERON. Fio em ouro amarelo “Gamgle” com safiras, LOUIS VUITTON. Pulseira em ouro amarelo e strass, CAROLINA HERRERA. Anel “Laço” em ouro amarelo, DIOR JOAILLERIE. Anel em ouro amarelo e laque, CARTIER. Anel “Class One” em ouro amarelo, diamantes e citrine, CHAUMET. PURE ROOM 104 fotografado por SÉRGIO SANTOS assistido por TELMA TELMA RUSSO styling HELGA CARVALHO maquilhagem ANNE SOPHIE COSTA cabelos NOLGA STELLA modelo KATERINA, L’AGENCE MODELS PURE Katerina veste blusa traçada em seda, GERARD DAREL. Saia em seda, DINO ALVES. Sandálias em nobuck com sola compensada, MANGO. Brincos “Shan” em ouro, cristal de rocha e ágata branca, MIMI. Pulseira “Moonlight Colours” em ouro nobre, topázios, citrinos, quartzo e diamantes, H. STERN. Anel “Cocktail” em ouro amarelo, quartzo rosa e cristal de rocha, MIMI. Anel “Shan” em ouro, cristal de rocha, ágata branca e diamantes, MIMI. Katerina usa anel “Power ring”, anel em ouro amarelo e quartzo, H. STERN DVF. Anel “Highlight Stars” em ouro nobre, ametista e diamantes, H. STERN. Anel “Highlight” em ouro nobre e quartzo fumado, H. STERN. Katerina veste vestido em algodão com cinto em elástico, TWENTY8TWELVE. Casaco em seda, PATRIZIA PEPE. Brincos em ouro amarelo, TOUS. Anéis em ouro amarelo, TOUS. Katerina veste vestido, TWENTY8TWELVE. Brincos em metal lacado, MANGO. Pulseira “Moonlight Colours” em ouro nobre, topázios, citrinos, quartzo e diamantes, H. STERN. Anel “Cocktail” em ouro amarelo, quartzo rosa e cristal de rocha, MIMI. Katerina veste blazer em malha masculino, DINO ALVES. Leggings leopardo, PEPE JEANS. Sandálias com salto em cunha, MANGO. Brincos em metal lacado, MANGO. Pulseira “Moonlight Colours” em ouro nobre, topázios, citrinos, quartzo e diamantes, H. STERN. Anel “Cocktail” em ouro amarelo, quartzo rosa e cristal de rocha, MIMI. Anel “Shan” em ouro, cristal de rocha, ágata branca e diamantes, MIMI. Katerina veste vestido em malha, DINO ALVES. Brincos em ouro amarelo, TOUS. PURE MODA LISBOA PRIMAVERA /VERÃO 2010 Fotografado por Sérgio Santos PURE O FIM DO CINEMA, OUTRA VEZ? Por Carlos Natálio Não nos passaria pela cabeça começar um artigo por atacar desmesuradamente a razão por tudo o que ela é: de inestimável canivete suíço para o caos, a característica distintiva, até ver, da espécie humana. Mas mesmo sem cair no utilitarismo de Adorno, é fácil de perceber que o sistema racional, como qualquer ferramenta, facilmente se auto encerra em si, não se moldando à velocidade das solicitações. Aliás, sempre que uma grande porta se escancara, dificilmente a razão deve ser a principal creditada. Ela passa uns tempos com “dor de cotovelo” e depois é boa a interpretar e a incorporar essa inovação no seu sistema. O certo é que esse “click” original provém muitas vezes do lado mais instintivo do ser humano, de associações pouco racionais. O ser original, o thinking outside the box, está de certa forma ligado ao pensamento artístico. O cinema, ao longo da sua história, soube retrabalhar a sua essência na direcção de novos conteúdos apresentados a par e passo da mutação das sensibilidades culturais dos seus públicos. O que não foi capaz de repensar de forma tão eficaz foram as formas de comunicação paralelas que assentam ainda num gigantesco e analógico sistema de distribuição a todos os títulos ineficaz. E a razão de ser desta inacção assenta sobretudo numa tentativa dos “porta-vozes” do cinema mainstream, ou seja, os responsáveis pelas grandes multinacionais, de tentarem impor ainda o seu modelo económico e racional caído cada vez mais em desgraça. O cinema, ou quem nele decide, não tem dado espaço à criatividade artística para que sobreviva. A razão de tão arruaceiro e profético preâmbulo prende-se com a necessidade de repensar a originalidade como essência da manifestação artística e deixar o “ruído” dos circuitos artísticos e do pensamento económico e racionalista determinarem mas não definirem a arte. E ser original, neste caso, no do cinema, significa dar-lhe espaço para se adaptar criativamente à nova realidade rápida, virtual e interligada. Com a voraz democratização da tecnologia e consequente criação de uma nova literacia digital, muitos modelos económicos entram em falência, ao passo que os próprios valores sociais e morais conhecem uma profunda transformação. Todas estas mutações acontecem num novo espaço de geografia digital sem fronteiras chamado Internet. Embora o cinema, globalmente considerado, tenha de aprender a mutar-se de acordo com as mais variadas lições da Internet, são sobretudo as suas indústrias aquelas que tem tido um papel mais complicado neste processo de adaptação. E tal acontece porque o modus operandi dessas indústrias, a forma pela qual elas se proclamaram impérios, é posto em causa pelo próprio funcionamento da rede. Os grandes estúdios cinematográficos vivem do investimento de grandes somas em produtos cinematográficos que depois fazem chegar, por meios dos seus avultados recursos económicos, a uma grande parte da população mundial. A grande questão é que a Internet funciona como verdadeiro xeque-mate ao papel de intermediário artístico dos estúdios e grandes multinacionais. Isto porque por um lado suplanta os métodos de distribuição terrestre e analógica e, por outro, determina a queda abrupta do valor económico do cinema enquanto conteúdo digital: a vulgar pirataria. Comecemos então por aí, pela “pirataria”. Esta coloca em confronto o público-alvo do cinema e os seus criadores. Estes últimos vêm-na como uma mera subtracção de propriedade alheia e como tal uma actividade ilícita. A questão é de natureza puramente económica e não moral, como o querem fazer crer os lamentáveis anúncios que anunciam os downloads como crimes. Qualquer PURE PURE inovação na História, desde a água canalizada à imprensa escrita, passa por duas fases no seu ciclo económico. Numa primeira, a técnica por detrás de cada inovação é de conhecimento restrito de uma minoria. As regras do mercado permitem então à dita minoria controlar o valor, distribuição e acesso a essa descoberta. A segunda fase acontece quando a inovação já não é “nova”, sendo que isso significa que já haverá algo melhor disponível ou que a técnica por detrás daquela novidade já é acedida facilmente pela maioria, os consumidores. Em qualquer dos casos, o resultado é o mesmo: a queda abrupta do valor económico do produto, outrora valioso. Ora, a democratização dos meios tecnológicos que referimos tem por consequência que qualquer conteúdo digital se encontra num processo de crescente e maciça acessibilidade. E que portanto o seu valor económico se degrade. Daí, a grande crise na indústria discográfica e cinematográfica. E o mais importante aqui é a palavra indústria porque, como sabemos, o cinema e a música não morreram, nem tal parece estar para breve. O que está em mutação é a forma de fazer e sobretudo comercializar essas artes cujo conteúdo, porque digitalmente reprodutível, tem sido reavaliado do ponto de vista do seu valor de troca. A chave para toda esta questão está na análise do fenómeno da “pirataria”. É seguramente mais fácil, pelo menos do ponto de vista das grandes multinacionais, classificar este fenómeno como ilícito e lançar mãos do lobby e influência política para circunscrever o fenómeno. Processos como o instaurado contra o célebre Pirate Bay atestam-no. O problema é que estas soluções são o cinema, mais uma vez, a ser racional e não original. E sobretudo a não querer ver a dimensão da mudança com quem terá que lidar na próxima década. A pirataria, ou o dito file sharing, há muito que deixou de ser apenas uma traquinice levada a cabo por meia dúzia de adolescentes xico-espertos, para se tornar no paradigma de troca de informação entre os utilizadores da Internet. Um paradigma definido por uma maioria que são, para o bem e para o mal, os consumidores de cinema. Como pode então o cinema lidar com isto? Chris Anderson, editor da revista “Wire” é um dos principais pensadores sobre como conciliar as indústrias cinematográfica e discográfica com a maciça reprodução grátis de cópias na Internet. No seu livro, “Free: The Future of a Radical Price”, refere que se não é possível vender cópias aos consumidores então é necessário vender-lhes aquilo que eles não conseguem obter por si. Na verdade, o que a Internet espelha é que, pela primeira vez, os consumidores -a maioria dos agentes económicos em jogo - tem o poder. O poder de decidir o que querem ver ou ouvir, como, PURE quando e onde o querem fazer. É nesse espaço de interpretação que o jogo da adaptação das grandes indústrias cinematográficas tem de ser jogado. Uma coisa parece óbvia, os consumidores estão a dar carta vermelha, ao papel que aquelas antes tinham, de intermediário clássico, de monopolista de um produto que já nem tem tanto valor por si. O que Chris indica é que nesta fase há coisas mais valiosas que o conteúdo de um filme ou de um álbum e que, o facto de estes serem grátis, não significa nem o fim da arte, nem sequer do seu sistema industrial. Os consumidores estão ainda disposto a pagar por outras coisas. Por exemplo, num mar de conteúdo grátis, os internautas preferem puxar da carteira para pagar pelo imediatismo, pela personalização dos serviços, por sistemas de procura de conteúdo, filtros de informação, guias de contextualização, etc, etc. Mas a tendência rumo à disponibilidade dos conteúdos grátis é só uma das partes do problema com que as indústrias têm de lidar. Outro, talvez ainda mais devastador, é que o próprio sistema de distribuição que usam assenta em gigantescas campanhas de marketing de comunicação one to many (uma empresa chega a milhares de consumidores com um monopólio de produtos, definindo o seu valor). Por definição, a Internet não só põe em causa esse sistema de distribuição geográfica como os próprios consumidores rejeitam essa hierarquização com as grandes indústrias a servir de intermediários entre eles e os artistas. Por outras palavras, uma campanha de distribuição de milhões de dólares da Warner pode ser menos eficaz que um bom utilizador do you tube, facebook e afins. E o consumidor cultural do século. XXI, habituado ao rápido e à interacção, quer estar no mesmo plano do artista, sendo que os dias do espectador passivo já lá vão. Estas duas preocupações têm afectado e muito os tradicionais contratos de distribuição cinematográfica. M. Dot Strange, jovem animador americano é um bom exemplo do estado e potencialidades da actual distribuição. Fascinado pelo cinema de animação, Dot começou a aprender animação através de tutorials online e decidiu criar a partir do seu quarto “We Are The Strange”, uma animação futurista com cerca de hora e meia. Durante o processo de aprendizagem e experimentação foi partilhando com os seus seguidores, no seu blog e canal do youtube, a ideia, notícias e feedback por detrás do seu projecto, angariando assim uma legião de fãs. Quando o primeiro trailer chegou a ser disponibilizado no youtube, seis milhões correram a vê-lo, e isto bastante antes de o filme estar pronto. Por altura da estreia, M. Dot Strange já tinha uma fanbase de muitos milhões de espectadores, sendo que parte dela o ajudou a legendar gratuitamente o filme para dezenas de línguas. Já depois de todo o buzz e word to mouth acerca de “We Are The Strange”, este foi seleccionado para o festival de Sundance. Aí, uma conhecida distribuidora ofereceu ao realizador um contrato na casa dos milhões de dólares, algo que foi educadamente recusado por Dot. A justificação foi que “com uma simples ligação à Internet, no meu quarto, eu consigo fazer chegar o meu filme a mais pessoas do que eles”. O certo é que mesmo com o seu filme disponibilizado de graça na Internet, e apenas com base em donativos dos fãs e publicidade, Dot Strange já prepara o seu próximo projecto. Casos como o de Dot Strange têm-se multiplicado, mostrando ao mundo que o cinema não morrerá pela cedência do seu conteúdo grátis e que a Internet mais do que uma ameaça é uma plataforma de potencial em franca exploração. Uma das novas facetas da Internet é a abolição de hierarquias e a relação one to one (substituído a mass scale distribution de one to many) entre consumidor e artista. O consumidor decidiu que está farto de empresas intermediárias que não acrescentam real valor aos serviços e que até estão entre eles e a verdadeira interacção com o seu artista favorito. É com base nesta nova relação, que os consumidores do presente exigem ao artista que se apresente na Internet como pessoa mesmo que nesse processo tenha de vestir o papel de produtor/realizador/distribuidor da sua própria arte. Pessoas como Peter Broderick, o pai do do it by yourself distribution, têm-se especializado em aconselhar cineastas e músicos a prescindir das grandes produtoras e distribuidoras e a estabelecer uma relação directa com o seu público-alvo. Aqui várias técnicas começam a vulgarizar-se e a provar os seus frutos. Multiplicam-se os filmes que angariam dinheiro de produção pela solicitação, quer de donativos do público (crowd funding), quer de participação enquanto accionistas no eventual lucro da obra. Quer no estádio da produção, quer durante a rodagem ou na distribuição, trata-se de encontra o público a quem tocará a respectiva obra. E depois manter e acarinhar essa relação, dando-lhes notícias sobre os projectos, marcando visionamentos seguidos de sessões de feedback, pedindo a participação na própria concepção da obra, vendendo-lhes merchandising e produtos conexos (roots distribution). Isto são apenas alguns exemplos já estabelecidos da potencialidade da Internet como espaço global, capaz de ligar emocional e economicamente artistas e seu público. E uma vez encontradas as pessoas com as mesmas afinidades, o cinema tem todo o espaço para ser aquilo que sempre foi. Arte. Originalidade. PURE MÚSICA THE GOLDEN FILTER QUIMERA DE OURO Por Pedro Lima PURE Tapam a cara nas sessões fotográficas. Já usaram vozes distorcidas em entrevistas. Deixam a música falar por eles. Misteriosos e evasivos, os The Golden Filter entraram-nos pelos ouvidos sem se mostrarem ao mundo e deixaram blogues e críticos de música a roer as unhas de curiosidade para saber quem era, afinal, esta banda. Fomos descobrir. Os The Golden Filter surgiram na música electrónica com o fascínio e a fantasia com que a Alice perseguiu o Coelho Branco no País das Maravilhas. A banda sediada em Brooklyn (NY), começou o seu percurso ultra-secreto em finais de 2008 com o single incendiário Solid Gold, divulgando-o com precisão cirúrgica através de blogues de música influentes. Da noite para o dia, o tema tomou de assalto a blogosfera, gerando uma enchente de comentários, críticas, remixes e uma enorme antecipação por mais. Misteriosos e evasivos, mas sem atitude snob, Penelope (vocalista) e Stephan (programador) preparam-se para se apresentarem formalmente na Primavera de 2010 com o seu álbum de estreia pela Brille Records, editora responsável por nomes como The Knife, Good Shoes ou Operator. Até lá preservam o segredo (até os apelidos são mantidos em silêncio) e aumentam os níveis de prazer com remixes e temas originais premeditadamente lançados a conta-gotas. O duo produz música hedonística, com uma combinação de texturas neo-disco e sintetizadores que se derretem nos ouvidos, sensuais e de ritmo energético. A força do baixo sempre presente e a electrónica sinuosa são apenas suavizadas pela voz fresca e etérea de Penelope, que acrescenta a cada nota a transparência de um sonho. As deambulações sonoras da banda têm sido consistentes. Seguem uma linha condutora sem grandes desvios, inspirados na pop dos anos 80, batidas de disco reluzente, melodias borbulhantes e vocais sussurrados. Em Solid Gold somos empurrados para uma caçada frenética à golden fox, num cenário tingido de tons dourados. A cadência é marcada por ritmos pulsantes de tirar o fôlego. No entanto, é impossível chegar ao fim desta música sem uma estranha sensação de leveza e euforia. Com a publicação da sétima colectânea da editora francesa Kitsuné Records surgiu Favourite Things, o seguidor embriagado, decadente e infantil, que trocou as voltas aos admiradores com uma sonoridade mais rock-psicadélico de atitude despojada. Entre variados remixes de artistas como Empire of the Sun, Little Boots, Cut Copy, Polly Scattergood, Peter Bjorn & John ou O.Children, foram ainda conhecidos os inspirados Hide Me e Thunderbird, que apostam uma vez mais nas vibrações disco noir intemporais, nos vocais cristalinos e ambientes místicos. Thunderbird reúne tudo o que a banda nos habituou. O tema, alusivo à criatura mitológica nativo-americana, símbolo de cura e purificação, faz-se em jeito de chamamento, num ritmo de dança contagiante que enfeitiça, potenciado por tambores tribais e ofuscado pelo brilho das luzes das bolas de espelhos. É com este encantamento que os The Golden Filter nos prendem em cada tema e que vêm confirmando a sua originalidade. A ansiedade vai aumentando e a vontade de explorar estes recantos sonoros é quase incontrolável. O poder de controlo é imenso, mas a banda vai mostrando o seu rosto e abrindo caminho para um álbum que se prevê arrebatador. Entretanto, dançamos até à Primavera com raposas douradas e aves do paraíso, e não ficamos nada mal. Fotos: The Golden Filter www.thegoldenfilter.com PURE PURE ARTE Félix Gonzalez-Torres, Forma e fluIdo Por Francisco Vaz Fernandes Enquanto em Portugal se aprova a lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo, há dez anos atrás morre de Sida Félix Gonzalez-Torres que construiu uma obra singular no campo das artes plásticas em torno do amor pelo seu parceiro. A natureza dessa relação levou-o a uma produção de carácter militante a favor dos direitos dos gays, sem que esse prisma esgotasse o amplo sentido da sua arte. Pelo contrário, esta questão central na sua obra permitia levantar um grande número de questões relativas ao estatuto do artista, ao processo criativo, formas de expor e de coleccionar arte contemporânea, o que o torna uma das grandes referências da arte dos anos 90. Muito provavelmente será recordado como um dos artistas mais importantes e influentes da segunda metade do século XX. A sua peça “The lover”, constituída por uma pilha de folhas azuis, foi apresentada pela primeira vez em 1990, ou seja há cerca de 20 anos. O amontoado das folhas de cartolina conferem-lhe uma forma cúbica aludindo à tradição modernista, nomeadamente aos artistas minimalistas americanos que foram uma referência na sua formação. Apesar dessa abordagem formalista e abstracta, as menções que o motivam pertencem à esfera privada. Na essência, o artista cubano residente em Nova Iorque, procurou encontrar uma adaptação de estilos e linguagens visuais anteriores e dar-lhes novos significados a partir de um pequeno mecanismo de subversão que implica a passagem da esfera do privado para a esfera pública. Desta forma, o rigor formal de tradição modernista sem grande expressão emocional, passa na obra de Gonzalez-Torres a ganhar uma dimensão política, confrontando a habitual tolerância cínica americana em relação minorias. Ou seja, a imposição implícita de invisibilidade e condenação ao mundo do privado são postas em questão no seu trabalho ao colocar em público aspectos da sua vida amorosa e ao relaciona-los com outros acontecimentos históricos que se tornam referências para a comunidade gay, criando assim uma nova visão do mundo. A sua peça “The Lover” (1990) alude à figura central na vida de Félix, o seu namorado, Ross Laycock. No seu dicionário cromático que estabelece ao longo do seu percurso criativo, a cor azul clara, normalmente usada nas culturas ocidentais como referência para as crianças de sexo masculino, tornava-se na sua obra, uma menção a Ross ou então a ambos. As folhas empilhadas azuis dessa obra podiam ser levadas pelo público passando a ter um destino que o artista desconhecia. Essa possibilidade de o público tocar e interagir com a suas obras expostas, fazia com que o artista negasse toda a autoridade da arte e a áurea que estes tipo de sistemas impõem em geral, encurtando assim o distanciamento em relação ao observador. No seu caso, a arte é antes de mais pensada como algo de fluído que está em interacção com o público, que se encontra entre esse público e o artista, porque é pensada como fazendo parte da vida em estado contínuo sem delimitações. Nesse sentido, este artista não autoriza fronteiras entre a arte e tudo o resto que está em seu contorno, que constitui a vida. A presença das práticas homossexuais e de tudo que isso representa na sua vida, está paralelamente presente na sua obra. A esse propósito associa-se a obra de Félix Gonzalez-Torres a uma estética dual dada as constantes referências à sua relação amorosa. Em geral são peças que são apresentadas em paralelo, onde os elementos que dela fazem parte são absolutamente iguais. Há várias obras constituídas por dois espelhos ou duas cortinas azuis a baloiçar ao sabor do vento ou ainda dois Untitled (The Dead) 1993 , lâmpadas, Felix Gonzalez-Torres 1-Untitled (Dead by Gun), 1990, impressão offset sobre papel, sem limite de cópias, Felix Gonzalez-Torres relógios cronometricamente sintonizados. Esta última, conhecida por “Untitled - Perfect Lovers”, (1987 -1991), tornou-se uma das suas obras mais icónicas. Nela figuram dois relógios banais com ponteiros em sintonia que marcam a mesma hora em movimento igual. No mundo ideal de Gonzalez-Torres, o duplo está sempre presente, um indivíduo não resiste só. Sobrevive em pares como parte de um casal amoroso que envelhece junto sem perigo de separações prematuras causadas por males incuráveis e inexplicáveis. O enamoramento, a existência de um estado de estreito vínculo com outro ser, a constituição de uma comunidade a dois, está ainda presente numa outra peça emblemática, “The Lovers” (1991), constituída por rebuçados brancos e azuis espalhados pelo chão que combinam o peso dos dois homens apaixonados. Como acontecia com as pilhas de papel também aqui o público era convidado a recolher o parte da obra, neste caso os rebuçados. Em geral o impulso é levá-los à boca sem qualquer restringente durante a visita à exposição. Atitude esta que implica alusões eróticas por do processo fazerem parte acções como chupar e ingerir fluidos. O artista regista metaforicamente uma fusão momentânea de corpos, insistindo na ideia da mutabilidade dos corpos em busca de satisfação sensual e emocional. Há uma fusão eucarística se observarmos do ponto de vista da tradição religiosa e algo oposto, de sentido libertino ao mesmo tempo. Gonzales-Torres propõe-se com esta obra dar algo de doce que se pode meter na boca e chupar, consciente que cada rebuçado é a metáfora do corpo do Ross e do seu. Desta forma a sua obra, ele e Ross, fazem parte do corpo de outros. Confessava que para ele era apaixonante ver que durante alguns segundos a metáfora do seu corpo pudesse permanecer dentro da boca de outra pessoa despertando uma enorme sensualidade . A diluição do seu corpo e do seu namorado no corpo de outros, a possibilidade de potenciar energia noutros corpos, surge numa altura em que Ross está a beira da morte infectado pelo Vírus da SIDA. Ross morreria em 1991 quatro anos antes de Félix Gonzalez Torres por causa idêntica. Quando realizou este trabalho assim como outros que o sucederam constituídos por montes de bombons ou rebuçados espalhados pelo chão, o artista defrontava a morte iminente do namorado e sentia que de algum modo teria que aprender a aceitar a separação. Deixar partir elementos que representavam o peso do corpo, fazia todo sentido na altura para Gonzalez Torres. A obra corria risco da dissolução total, mas também era assim que sentia o envasar da vida transitória. Essa ameaça contínua era símbolo de uma perda poética que considerava inerente a toda a criação estética. Nesse sentido, a forma como encara a presença de Ross na sua vida sem qualquer vínculo contratual é a forma como expõe a sua arte perante o público. PURE PURE Untitled ( The Lovers) 1991, rebuçados empilhados, Felix Gonzalez-Torres “Untitled- Perfect Lovers”, 1991 Two clocks that show the time synchronised, Felix Gonzalez-Torres Felix Gonzalez-Torres “The Lovers”, 1991, constituída por rebuçados brancos e azuis, Felix Gonzalez-Torres Untitled (L.A.), 1991, rebuçados verdes embrulhados individualmente em celofane, The Racholsky Collection, Felix Gonzalez-Torres PURE PURE VESTUÁRIO E TECNOLOGIA NOVOS TRAPOS VELHOS Trapologia tradicional: tapete realizado manualmente por Margarida Cabarrão para utilização na pedaleira de uma máquina de costura (anos 1920-30). Por Andreia Amaral Serão velhos todos os trapos? Serão todos inúteis? Poderão transformar-se em “novos”? “Trapo” e “farrapo” remetem-nos para o antagonismo entre a palavra e aquilo a que se refere: «trapo ou farrapo, (…) pedaço de tecido velho, rasgado». Na Trapologia, os trapos e os farrapos não são apenas retalhos de tecido velhos e sem utilidade; transformam-se em objectos preciosos, aos quais se atribuem novos significados, com o intuito de se prestarem multifacetados à sociedade. Outra das grandes diferenças entre a Trapologia tradicional e contemporânea está nos efeitos visuais que se criam. Enquanto as criações da tradicional parecem um pouco mais desajeitadas — como se o artista/artesão fosse executando o objecto sem se preocupar com o lado estético do produto final mas apenas com o reaproveitamento —, na contemporânea, normalmente, verifica-se um maior cuidado, um perfeccionismo na execução do objecto, na escolha dos materiais, e constata-se, por vezes, a repetição de um determinado módulo/ padrão. Pode dizer-se que na tradicional apenas se dá atenção à “expressão” do objecto, enquanto na contemporânea, além da “expressão”, também se cuida do “meio de expressão”. Então, defina-se a Trapologia, despertem-se as mentes de quem vê os trapos como lixo A Trapologia é a arte de junção ou reaproveitamento de tecidos, é a sua reutilização, numa reconversão para novas funções. A Trapologia surgiu da necessidade de o Homem se proteger; contudo, actualmente, os seus fundamentos podem ser outros: numa época em que a sociedade cada vez mais se preocupa com o ambiente (nomeadamente com a reciclagem), porque não reutilizar e Quando se observa uma peça/objecto de Trapologia reaproveitar os ditos trapos velhos? contemporânea, quase de imediato se a associa ao Patchwork inglês; a grande diferença está na sua Mas será tudo isto denominado de “Trapologia”? aplicação, uma vez que o Patchwork quase sempre Hoje em dia, já há indústrias que produzem tecidos, se limita a padrões predefinidos, os quais já têm com o intuito de fornecer a Trapologia. Daí que designações atribuídas. se possa distinguir, no campo artesanal, dois tipos de Trapologia: a tradicional e a contemporânea. Na tradicional, recorre-se a teares manuais, a agulhas de tricotar e até aos próprios dedos, sendo a reciclagem de trapos velhos — a essência desta arte — a regra fundamental. Neste âmbito, é possível a criação de utensílios e objectos artísticos tradicionais. A contemporânea é, maioritariamente, executada com máquinas de costura, seguindo-se um planeamento metodológico e recorrendo-se ao mercado para adquirir os tecidos. Por esta razão, a Trapologia contemporânea exige um maior poder económico do que a tradicional, em que apenas se reaproveitam tecidos velhos, normalmente resultantes de trabalhos de costura. Salienta-se que a Trapologia Artesanal é um modo de produção em que o uso de máquinas está sempre subordinado ao homem. Não é verdade que no artesanato actual estas não estejam presentes; o que se verifica é que a utilização de máquinas (teares manuais e máquinas de costura) não visa Trapologia tradicional: fronha de almofada realizada em tear manual por Teresa de Jesus (anos 1960). economizar tempo ou mão-de-obra (como na grande indústria), mas sim tornar mais cómodo o trabalho do artista/artesão. Andreia Amaral Doutoranda em Design Universidade Politécnica de Valência (Espanha) Faculdade de Belas Artes de San Carlos — Departamento de Desenho Trapologia contemporânea: capa de livro realizada com máquina de costura por Tarapatices (2009). Trapologia contemporânea: capa de livro realizada com máquina de costura por Tarapatices (2009). PURE PURE PERFIL: RUBEN RUA Por Cláudia Rodrigues ”Corpos desenhados e looks interessantes, existem muitos. Acho que se puderes transmitir um pouco mais da tua personalidade e da tua essência enquanto ser humano, isso será uma mais valia para a tua carreira.” Marco Marezza, teste em Paris Personalidade bem fincada e discurso forte, assim é a agradável presença de Ruben Rua, um modelo que nos conquistou cá dentro e que dá cartas lá fora. Onde e quando nasceste? Nasci a 8 de Fevereiro de 1987 na magnífica cidade do Porto. Onde Vives? Nos últimos quatro anos da minha vida, acho que me tornei um cidadão do mundo. No entanto, a minha base é indubitavelmente em Portugal, dividindo o meu tempo entre o Porto e Lisboa. Porquê modelo, o que te moveu e como aconteceu? Não foi uma escolha muito pensada. Confesso que não era um sonho de criança e por isso foi o aproveitar de uma oportunidade. A porta abriu-se e eu decidi entrar. Tudo começou em 2005, ano em que fui finalista do Elite Model Look. Não tive um inicio de carreira fácil, na medida, em que o trabalho não apareceu de um dia para o outro. Tive de ser paciente e acima de tudo muito lutador. Em 2006 comecei a trabalhar a bom ritmo no mercado nacional, fui para Paris, fiz alguns trabalhos e bons testes fotográficos que me proporcionaram o meu primeiro editorial para a GQ Espanhola, fotografado em Madrid no final desse mesmo ano. Em Janeiro de 2007, confirmouse o verdadeiro arranque da minha carreira internacional, com uma season bem sucedida nas semanas de moda de Milão e Paris. O que te atrai na moda? Existem algumas componentes que considero muito interessantes. O facto de me ter que transformar e multiplicar em diferentes personagens para abraçar os vários trabalhos , agrada me muito. A possiblidade de viajar e ganhar algum dinheiro é também, naturalmente uma grande motivação. Por fim, considero que a moda me alargou horizontes e me deu uma bagagem cultural e social que se traduz na pessoa que sou hoje. O que te inspira? A vida nas suas diversas vertentes. Gosto de observar cenas do quotidiano e reflectir sobre elas. Por outro lado gosto de maximizar capacidades e retirar o máximo proveito de todas as experiências, o que se aplica também no meu mundo profissional. O que te define? Acredito que os meus maiores trunfos sejam o meu profissionalismo e a minha versatilidade. Quando estás a trabalhar, quem és? Tento adaptar-me às exigências dos clientes e corresponder às expectativas. Acredito que os manequins são actores sem texto, que revelam emoções, vontades e sentimentos através de imagens movendo o seu corpo e alterando a sua expressão para traduzirem estados de espírito. Por isso na maior parte das vezes, a trabalhar sou outra pessoa qualquer que não eu mesmo. PURE PURE Começaste o ano com uma experiência de vida em Tóquio ligada à tua profissão. Como aconteceu, o que fizeste e o que trouxeste contigo? Sim, é verdade, fiz um contrato de dois meses em Tóquio, que se acabou por revelar umas das melhores experiências da minha vida. Profissionalmente foi muito bom, tendo trabalhado Como foi tomar a decisão de encarar a praticamente todos os dias. Pessoalmente, o Japão profissão de modelo tão a sério que permitiu revelou se um país muito civilizado, simpático, atingir este nível? bonito, oferecendo me uma qualidade de vida Para mim as coisas sempre foram sérias desde o primeiro dia. Eu jogava andebol de alta competição única. Trouxe comigo muitas memórias e histórias para contar, trouxe também a saudade e a e parei de um dia para o outro. Não esperei para vontade de voltar em breve. Sou verdadeiramente ver se a minha carreira podia ou não, dar cartas. apaixonado por aquela cidade. À minha frente tinha a possibilidade de ter uma carreira e achei que a única forma de maximizar Porquê Tóquio? essa possibilidade seria dedicar-me a sério. Não Em termos profissionais é dos mais importantes tinha que ser o melhor do mundo, tinha que ser o melhor que eu poderia ser. E acho que esta é a base mercados do mundo, trabalhando com cachets muito superiores aos que são praticados na Europa. do sucesso ou o limite do insucesso. Pessoalmente, a Ásia fascina me imenso e por isso a vontade em ir era naturalmente muita. Quando é que paraste de estudar? Em Setembro de 2007, após um ano do início da minha carreira internacional. As viagens e os trabalhos multiplicaram-se e começou a ser muito difícil conciliar as duas coisas. Percebi que assim, não ia estar a 100% em nenhum lado. Congelei a matrícula (no 2º ano de Gestão). Não esqueci os estudos, mas neste momento, as minhas prioridades são outras. À frente da camara ou na passarela? Escolho à frente da camara porque acho que um modelo é verdadeiramente posto à prova quando fotografa. É aqui que temos que nos transformar, é mais interessante e o desafio é maior. Spoil Me (Grécia) Tinhas outra meta importante a alcançar este ano, viajar para Nova Iorque em Abril. Foi atingida? Não fui para Nova Iorque. Tive compromissos profissionais e assuntos pessoais que me não me permitiram viajar. Talvez este ano isso ainda possa acontecer. Vamos ver…Deus sabe aquilo que faz. Tendo em conta a tua experiência profissional, como está Portugal em relação à moda? Acho que somos um país carregado de talento. Possuimos bons modelos, maquilhadores, fotógrafos, produtores, stylists e criadores. Infelizmente faltam os apoios para exportarmos e desenvolvermos tantas capacidades, o que se traduz no facto de Portugal ser um mercado de dimensão média. Apesar de as coisas não serem perfeitas, tenho muito orgulho nos nossos profissionais e nas nossas semanas de moda. Março e Outubro são obrigatoriamente meses passados em Portugal para estar presente na Moda Lisboa e no Portugal Fashion. PURE O que destacas nos países onde já trabalhaste? Destaco o profissionalismo de Paris, o feeling trendy/trash/underground de Londres, a qualidade de vida em Espanha, abundância editorial em Atenas, o budget Alemão, a semana de moda em Milão, e o rigor e simpatia nipónica. O que guardas e o que esqueces facilmente? Acho que a vida é feita de memórias e relações, por isso essas acabam por ser as coisas que tento guardar. Tudo o resto, no final, acabam por ser insignificantes e sem conteúdo. Como é conhecer Jean Paul Gaultier? Sinto me um privilegiado por conhecer tantos criadores importantes e que marcam inequivocamente a história da moda mundial. Jean Paul Gaultier é um desses nomes. Pessoa pela qual eu nutro um enorma admiração e respeito. Revelou-se uma pessoa extremamente simpática, bondosa, cuidadosa e educada, superando as minhas melhores expectativas. Fotógrafos de referência? Destaco o Marco Marezza e o Tyen. O Marco Marezza fez o meu primeiro teste fotográfico, em 2006. Fotografou-me na campanha de óculos-de-sol da Valentino e também, na campanha e lookbook da Red Valentino, em 2007. O Tyen, director criativo de cosméticos da Dior, fotografou-me para o seu livro no início de 2010, para a Wound magazine e tirou-me uma polaroid com a Mónica Bellucci. Top 5 dos editoriais que fizeste? 1. GQ Espanha, Pedro Walter (o meu primeiro editorial) 2. Vanity Fair Itália 3. Playboy França,edição nº 100 Alexandre Ubeda 4. GQ Portugal, Pedro Ferreira 5. Wound magazine, Tyen PURE Top 5 dos desfiles que fizeste? 1. Miguel Vieira (1º desfile em Março 06, como convidado) 2. Dolce&Gabbana (1º desfile internacional) 3. Gianfranco Ferré (última colecção que desenhou antes de falecer) 4. Valentino (último desfile como director da casa Valentino) 5. Jean Paul Gaultier (o meu criador internacional preferido) O que ambicionas agora? No curto prazo, usufruir do verão em Portugal. A médio prazo, continuar a desenvolver a minha carreira, possivelmente alargando-a até outras áreas. Sempre com o objectivo final de ser uma pessoa mais feliz, mais realizada e mais completa. Ruben Rua e Jean Paul Gaultier PURE EXPOS PURE Por Soraia do Carmo Hats, Shoes, Bags and Dress Clips O Fashion Museum em Bath apresenta uma linha cronológica da moda. Aqui, são as peças de roupa e acessórios quem conta as histórias da evolução dos tempos. A linha cronológica é longa e começa há 200 anos atrás. Cem chapéus, cem sapatos e cem carteiras são os guias desta história da moda . Estas três espécies de acessórios estão articuladas entre si na exposição, de forma a ilustrar o mais meticulosamente possível as escolhas das mulheres ao longo da história. Cronologias à parte, esta exposição cujas peças são provenientes do próprio espólio do museu, não se esqueceu de trazer perante os olhos dos visitantes algumas peças curiosas como o dress clip, uma peça usada em 1930 para decorar vestidos de noite mas que acabou por cair no esquecimento...pelo menos até ser exposta em Dezembro de 2010 As Jóias do Victoria and Albert Museum O espólio de joalharia do Victoria and Albert Museum é um dos mais ricos e exuberantes a nível mundial. A exposição permanente das jóias compreende autênticos tesouros dos últimos 800 anos que estão concentradas na galeria William and Judith Bollinger. Visitar esta exposição é ver desenrolar mesmo à frente a história mundial de onde emergem figuras que têm tanto de incontornável como de surpreendente. Aqui podem ser vistas peças que fizeram parte da vida de figuras históricas como a rainha Elizabeth I ou Catarina a Grande da Rússia. Ou até mesmo as tiaras da Imperatriz Josefina, presentes do Imperador Napoleão. Lalique e Fabergé são alguns dos criadores cujas peças se encontram expostas permanentemente no museu. The Victoria and Albert Museum, Cromwell Road, South Kensington, London FASHION MUSEUM, Assembly Rooms, Bennett Street, BATH www.fashionmuseum.co.uk Crystal loves leather Dificilmente haverá no mundo objectos quotidianos que já não tenham sido cobertos pela camuflagem de brilhos dos cristais Swarovski. A moda não ficou impune a este ataque de “cristalização” e é precisamente este o tema da exposição Crystal Loves leather que irá decorrer no Tassenmuseum em Amsterdão. Neste caso Crystal loves não só leather mas também um sem fim de outras matérias primas. Na exposição estarão seleccionadas carteiras e outras peças de acessórios de designers internacionais que processaram os cristais nas suas criações. A cidade de Amsterdão recebe a exposição de 8 de Março a 29 de Agosto. Tassen museum Hendrikje, Herengracht 573, Amsterdam Ornamento de cabelo, PHILIPPE WOLFER, Bélgica 1905-7. Ouro, enamel, diamantes e rubis em forma de orquídea. Altura7.6cm Museum no. M.11-1962 PURE PURE Le Grand Bal Dior O Museu Christian Dior propõe uma nova exposição temporária denominada de Le Grand Bal Dior. O objectivo é evocar a época dos sumptuosos bailes organizados pela ocasião do lançamento dos perfumes Dior. Entre a selecção de peças do criador do New Look estão compreendidas uma série de coordenados, textos, fotografias e decorações que ilustram a grandeza desses bailes. Fazer reviver a sumptuosidade da época pela riqueza ilustrativa das peças expostas é o objectivo. Algumas criações vintage da casa Dior estarão também à vista de todos. Porém, irá estabelecer-se uma ponte entre a tradição e a modernidade na medida em que estarão também incluídas criações de John Galliano representante do presente desta casa e do seu pesado legado. De 13 de maio a 26 de Setembro a exposição estará aberta das 10h às 18h todos os dias sem interrupção. Musée et Jardin Christian Dior, La villa “Les Rhumbs”, Granville Irving Penn Portraits A National Portrait Gallery vai homenagear o trabalho do fotógrafo Irving Penn. Um dos fotógrafos mais influentes de sempre que focou o seu trabalho na captação de retratos de figuras icónicas da cultura mundial. A celebração do trabalho de Penn em forma de exposição conta com 120 impressões. Entre elas encontram-se os fotografias para a revista Vogue desde 1944 até aos dias de hoje. A exposição estará patente de 18 de Fevereiro até 6 de Julho e é uma boa oportunidade de conhecer a carteira de figuras que Irving Penn captou para a posteridade como Truman Capote, Pablo Picasso, Christian Dior e Edith Piaf e muitos outros não menos brilhantes nomes. Grace Kelly: Style Icon O esplendoroso guarda-roupa de Grace Kelly está exposto no Victoria and Albert Museum de 17 de Abril a 26 de Setembro de 2010. Traçando a evolução do seu estilo como uma das mais populares actrizes da década de 50 ao atributo do título de Princesa do Mónaco, a exposição apresenta 50 coordenados incluindo jóias, chapéus até à famosa carteira Kelly da Hermès. Podem ser vistos vestidos usados em filmes, em ocasiões sociais ou mesmo aquele que usou quando ganhou o óscar em 1955 acompanhado da respectiva estatueta. Na exposição são mostrados extractos de filmes, clips, pósteres e fotografias. A exposição igualmente inclui o vestido usado por Grace Kelly para a cerimónia do seu casamento com ao príncipe Rainier em 1956 e 35 vestidos de alta costura dos anos 60 e 70, criações dos seus costureiros favoritos, Christian Dior, Balenciaga, Givenchy, e Yves St Laurent. National Portrait Gallery, St Martin’s Place, London THE VICTORIA AND ALBERT MUSEUM, Cromwell Road, South Kensington, London PURE PURE GUIA DE COMPRAS AMERICAN VINTAGE: SG Representations, Lda. Tel. +351 22 093 42 51 www.soniagoncalves.com H. STERN: Lisboa: Reparar & Encantar, C. C. Colombo; David Rosas, Av. Liberdade. Porto: Machado Joalheiro, Av. Boavista. BCBG MAXAZRIA: Rua Castilho, 27-B Tel: 21 316 22 84 Amoreiras Shopping Tel: 351 213 867 391 IRO: SG Representations, Lda. Tel. +351 22 093 42 51 www.soniagoncalves.com BOUCHERON: www.boucheron.com INSIGHT: www.insight51.com BVLGARI: www.bulgari.com JUDITH LEIBER: www.judithleiber.com CAROLINA HERRERA: www.carolinaherrera.com LANVIN: na LOJA DAS MEIAS CARTIER: www.cartier.com LOJA DAS MEIAS: Cascais: Av. Valbom, 4. Lisboa: Ed. Castil, R. Castilho, 39; Pç.D. Pedro IV, 1; C.C. Amoreiras, Lj. 2001-2 e 2004. CHANEL: na Stivali CHAUMET: Lisboa: Reparar & Encantar, C. C. Colombo; David Rosas, Av. Liberdade. Porto: Machado Joalheiro, Av. Boavista. www.chaumet.com CONVERSE: Proged-Converse Tel. + 351 21 446 15 30 COOL DE SAC: Rua D. Pedro V, 56 b/c, Lisboa Tel. +351 21 347 0830 www.cooldesac.pt CUSTO BARCELONA: www.custo-barcelona.com DAMIANI: www.damiani.com LOUIS VUITTON: Lisboa: Av. da Liberdade, 190A; R. Augusta, 196. Tel. + 351. 21 346 86 00 MANGO: Punto Fa: + 34 93 860 22 22 www.mango.es. Vendas por internet: www.mangoshop.com. MAX&CO: www.maxandco.com MIMI: Lisboa: Reparar & Encantar, C. C. Colombo; David Rosas, Av. Liberdade. Porto: Machado Joalheiro, Av. Boavista. PATRIZIA PEPE: André Costa - Largo Capitão Pinheiro Torres Meireles, 56/61, Porto. Tel. + 351 22 619 90 50 DELFINA DELETTREZ: www.delfinadelettrez.com DIESEL: Lisboa: Diesel Store, Praça Luís de Camões, 28 a 32. Tel. + 33 21 342 19 80 PEDRO PEDRO: Tel. + 351 932 642 377 [email protected] www.pedropedro.com DINH VAN: www.dinhvan.com PEPE JEANS: Tel. 21 324 01 11 DINO ALVES: Rua Luz Soriano, 67 - 1º Post. 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