Juarez Dayrell
AS RELAÇÕES SOCIAIS NO
COTIDIANO ESCOLAR
– Relação com os professores:
“Primeiramente o professor tem que se dar bem com os
alunos,se não, ele não consegue dar aula. Eu conheço
várias experiências vividas dentro de sala já... o professor
que não se dá bem com aluno pode ser o melhor do
mundo, saber explicar a matéria do jeito que for, se ele
não se der bem com os alunos ele vai ser um professor
chato e não vai conseguir passar nada, ele vai ser para o
resto da vida um professor chato!” (Mulher,GD4, BH)
“Hoje eu dia tem muitos professores que são meus
amigos, e tem muitos que não sabemnem meu
nome.Tem professores que souberam me educar,
souberam me ajudar a terpensamento. Hoje em dia
tem muitos professores que souberam ensinar,
outros não,outros eu não agradeço não, porque o
que eles passaram pra mim não deu praencaixar
na minha vida, porque eles não explicavam do jeito
correto, eles explicavamde um jeito que era só pra
fazer aquilo e pronto, terminava os estudos e
pronto!”(Homem, GD2, EP B, Belém)
•
• "Então até hoje eu lido como um fato assim, eu não
sei como explicar assim, como eu me sinto, vou ser
sincera. As vezes eu fico muito chateada pelo fato de
eu ser negra,não tenho preconceito com a minha cor
não, mas pelo fato de eu ser negra as pessoas falam:"
você nunca vai ser ninguém"...Essa é a realidade, as
pessoas, por você ser negra, pensam assim, ela é
negra, ela é favelada, só o que o negro tem, é
favelada, não vai ser ninguém, ou vai ser ladrão, ou
vai ser noia, é só isso. Então, isso chateia muito
porque pelo fato de eu ser negra, não diz que eu sou
favelada ou que eu vou ser ladrona, porque tem
muita gente que é branca e só Deus sabe como é,
então isso magoa muito de verdade.(GD5 EPA São
Paulo)
•
 Heterogeneidade dos jovens que chegam à
escola: desafia a lógica homogeneizadora.
 Noção degradante de “carente” ou “baixa auto
estima”
 Complexidade das relações intersubjetivas no
cotidiano escolar: podem contribuir ou negar o
reconhecimento
 A qualidade das relações entre professores e
alunos e entre os próprios alunos é um meio de
construção de autoconfiança, ganhando uma
importância como condição e suporte na
construção das identidades dos jovens.
2º-A ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA
 A INFRA ESTRUTURA:
 Desde quando era na primeira série eles falam que vão
arrumar o banheiro e a quadra, pra gente poder ter educação
física, nunca arrumaram. Eu tô na oitava série. Somam nove
anos, contando com a bomba que eu tomei, um ano que eu
repeti, nove anos na escola do mesmo jeito. (DAYRELL;
JESUS, 2013, p. 52).

 A escola num todo, a escola não tem uma coisa, assim, um
lugar pra gente estudar, por exemplo, uma biblioteca na
escola. Tem, mas não abriu ainda, ficou um espaço lá que
ficou só pra informática. Os alunos da manhã não têm
professor de informática, só à tarde, eu estudo de manhã, aí
fica essa deficiência. Por exemplo, a quadra: a quadra está
toda quebrada, o chão todo quebrado, aí ta tudo rachado, as
salas também, a minha sala não tem nem janela, a gente tem
o ar condicionado ao ar livre, que é o vento que bate na gente
lá, porque ventilador não tem nenhum funcionando; agora
que chegaram as lâmpadas. O ano passado a diretora disse
que ia ajeitar a escola, quando chegou esse ano, no início do
ano a diretora já tinha achado lugar pra gente estudar
enquanto eles iam reformar, tiraram nosso nome da reforma,
a gente ficou assim de novo na estaca zero. (DAYRELL;
JESUS, 2013, p. 52).
Sub aproveitamento da capacidade instalada:
 Tem até uns computadores, mas é fechada a sala,
assim... Nunca teve uma aula no computador, assim...
(DAYRELL; JESUS, 2013, p. 55).
 Na minha escola não tem quadra não, só uma quadra
de vôlei muito pequena mesmo... A biblioteca,
laboratórios, eles fecharam, porque estava acontecendo
uns problemas lá e fecharam, e sala de informática,
também. (Idem, p. 55).
 A ESTÉTICA DA ESCOLA:
 É uma poluição visual. Tem gente que não diz nada,
mas sabe que lá [na escola] é feia. Se sente até num
lugar assim... num ambiente feio, sujo, paredes
pichadas... muitas mesas, cadeiras quebradas. Tudo
isso dificulta... (DAYRELL; JESUS, 2013, p. 58).
 A estrutura na escola já não favorece, porque já tá
precária e não favorece muito e os alunos ficam
pensando assim, “mas a escola tá tão ruim por que que
eu devo continuar aqui?”. Aí eles ficam saindo da escola
por causa disso. Aí fica difícil... (DAYRELL; JESUS,
2013, p.58).
 A RELAÇÃO COM O CONHECIMENTO:
 -Também acho isso, tem muita matéria...
 -Você vê, português, matemática, geografia, biologia,
filosofia, sociologia, história e a gente não sabe nada!
 - Eu acho que é muito... a pessoa escolhe que matéria
que quer, querendo ou não o que você vai, por exemplo,
usar na sua vida, o que você vai usar dessa matéria na
sua vida...
 -Acho que deveria ficar só as básicas, as mais
importantes.
 -Português e matemática que é o que você vai usar na
sua vida... GD5 BH
 Eu queria que deixasse mais simples as matérias. Eles
ensinassem alguma coisa que fizesse parte da nossa
vida. Também queria que tivesse alguém auxiliando a
gente, motivando os estudos. Me motivando, me
ensinando as coisa que eu tenho dúvida. Porque tem
vez que eu tenho dúvida numa coisa tão besta, né? Tem
vez que o pessoal me chama de burro. Só que aí não é
não, né!?(DAYRELL; JESUS, 2013, p. 64).
 Minha maior dificuldade foi minha mente fechada com
o estudo. Eu não conseguia aprender o que eles
estavam ensinando, prestar atenção no que o professor
falou, tem tudo isso né, quando a pessoa tem mais a
mente aberta, fica mais tranquilo, entendeu?
(DAYRELL; JESUS, 2013, p. 65).

 – Tem professores que não sabem explicar a matéria direito.
 – Aí eles tiram uma parte do livro para você decorar.
 – E você tem que saber decorar... e eu não sei não.
 – Eu tenho um professor, que é de inglês! Ela passa os trem no
quadro e quer que a gente faz! Tem gente que faz! Mas eu não
sei, aí não faço não! (DAYRELL; JESUS, 2013, p. 66).

 A minha professora de português sentava, pronto, botava a
página do livro, a gente tinha que ler o texto se tivesse texto.
Quando a tarefa não tinha texto, a gente que se virasse pela
resposta, porque ela só fazia ler as perguntas, mas não
explicava. Ela chegava e botava a tarefa no quadro e a gente se
virava para fazer. E ela ficava sentada até o final da aula.
Tinha vez que eram duas aulas dela. Ela não explicava a
matéria para a gente, e quando ela explicava, ninguém
entendia. Ela não sabia explicar a matéria de português para
a gente. Era desse jeito. Aí, assim, como a gente ia aprender a
matéria de português se a professora não explicava? A gente
fazia um abaixo assinado para a diretora para mudar de
professora, mas era o mesmo que nada, ela não mudava e
ficava a mesma coisa. Eu sei que, no final das contas,
ninguém aprendia português. (DAYRELL; JESUS, 2013, p. 66).
Jovens, escola e a dimensão dos
direitos
 Demanda dos jovens pelo seu reconhecimento
como jovens.
 Querem ser reconhecidos como interlocutores
válidos :
“-Porque nós pudemos falar as coisas sem que
alguém negasse nossas idéias.
-Porque é raro um adulto parar para ouvir o que
nós pensamos...
-Foi muito boa esta atividade. Acho que nós
temos sempre que ter alguém maisexperiente
para ouvir nossas opiniões de nós jovens.” (GD 5,
BH)
• Centralidade dos projetos de futuro:
“Aí a professora começou a chamar a gente de pobre,
classe baixa, começou a falar um bocado de coisa,
botou a gente por baixo. Aí todo mundo, ninguém
gostava dela por causa disso”
“A minha professora, a nossa professora de história
ela é um exemplo disso. Ela incentiva, ela fala da
nossa oportunidade, dos meios que a gente tem de
chegar lá. Ela incentiva que a gente tem que
estudar, não tem que ligar para o que os outros
falam, que as pessoas falam que: “Ah, tu é aluno de
escola pública? Tu não vai conseguir. Tu quer
escolher um curso superior, tu não vai conseguir
passar. Tu tem que escolher uma licenciatura,
porque pobre tem que ser licenciatura.” Tem
profissional que incentiva. Uma minoria, mas tem.”
(GD 10)
 A escola se esquece de preparar o aluno para a vida e só pensa
em passar o aluno no vestibular. Esquece de preparar para a
vida, para o mercado de trabalho, de ensinar como vai ser a
dificuldade entre patrão e empregado. A grande maioria dos
professores foca na questão do conteúdo. O professor
deveria sair mais do quadro. Por exemplo, poderia
mostrar (GD 2-Belem)
 “A escola deveria ser mais atrativa para os jovens com
atividades para os jovens, com cara de jovens. As aulas serem
mais dinâmicas. A escola não está colaborando no sentido
positivo com aqueles que querem fazer uma faculdade, pois
faltam várias coisas. Falta informação, por exemplo, a escola
avisar sobre o ENEM. O estudo é fraco, por isso os alunos têm
pouca facilidade para passar no vestibular, o estudo não é
aprofundado pela falta de material, sendo preciso fazer um
cursinho fora.” (GD 3- Santarém)
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