Research Highlights: Melhorando a competitividade através de uma desvalorização fiscal: o caso de Portugal Francesco Franco October 24, 2010 A economia portuguesa enfrenta um problema muito sério: o crescimento da produtividade é anémico, o crescimento do produto é muito baixo, o défice público é grande e o défice da balança corrente é enorme. Olivier Blanchard (2007) obstante ser difícil proceder a uma quantificação exacta das variações, o aumento inicial da taxa efectiva de IVA necessário para que a TSU seja reduzida em 20 pontos percentuais (ou seja, praticamente eliminada) é, aproximadamente 10 pontos. Um tal aumento no IVA poderia ser alcançado criando uma taxa única de 23%. Este aumento poderia ser anunciado como temporário, enquanto que a redução da TSU seria permanente. A natureza temporária do aumento do IVA é mais atraente politicamente e preserva o efeito positivo na poupança privada e nos ganhos de competitividade. Neste trabalho estudamos os efeitos de uma desvalorização fiscal1 obtida através de uma substituição, orçamentalmente neutra, de contribuições para a SS por impostos sobre o consumo3 . Abstract 1A Balança Corrente portuguesa tem estado deficitário em cada um dos últimos 15 anos. Durante este período os défices acumulados atingiram a extraordinária cifra de 120% do PIB. Para uma economia em desenvolvimento e em envelhecimento, esta trajectória apenas seria sustentável com perspectivas tremendamente favoráveis de crescimento do produto. Por outro lado, as opções de politica económica são limitadas: não existe politica monetária autónoma, não existe moeda para desvalorizar e as possibilidades em incorrer em défices públicos ou aumentar a dívida estão grandemente limitadas. A alternativa restante para iniciar o necessário processo de redução dos níveis de dívida (privada e pública), é uma alteração da estrutura fiscal que incentive a poupança privada e as exportações mas que seja neutra em termos do saldo do orçamento dos administrações públicas. Um aumento das taxas do IVA conjugada com uma redução das Contribuições Patronais para a Segurança Social (Taxa Social Única -TSU) – a chamada desvalorização fiscal 2 – pode, em princípio, alcançar o objectivo desejado se acompanhado por um clima de moderação salarial. Para que seja possível obter um ganho significativo de competitividade e uma redução assinalável no consumo, as alterações nas taxas de imposto teriam de ser grandes. Não Os Desequilíbrios da Economia Portuguesa A Figura 1 representa a evolução da procura agregada deste a adesão ao Euro. .68 data .66 .64 .62 .28 .26 .24 .18 Private -.06 -.08 -.1 -.12 -.14 Current CA .22 .21 .2 .19 TB Government 2000 2002 2004 2006 2008 2010 date The The evolution consumption investment are Account shown consumption ofas &aggregate aNet percentage Exports demand of GDP. Source:Eurostat in Portugal. Private consumption .62 .64 .66 .68 Private investment .18 .2 .22 .24 .26 .28 The evolution of aggregate demand in Portugal. 2002 2004 2006 date 2008 2010 2004 2006 date 2008 2010 CA TB 2000 2002 2000 2002 2004 2006 date 2008 2010 2000 2002 2004 2006 date 2008 2010 Government consumption .19 .2 .21 .22 Current Account & Net Exports -.14 -.12 -.1 -.08 -.06 2000 The data are shown as a percentage of GDP. Source:Eurostat Figure 1: Aggregate demand in Portugal 1 Faculdade de Economia, Universidade Nova de Lisboa. Contact: [email protected]. I am grateful to Ana Paula Guimaraes and Joao Marques for their excellent research assistance. 2 Veja-se (5). 3 A Alemanha adoptou esta política em 2007 quando aumentou o IVA em 3 pontos e reduziu as contribuições patronais, Mais recentemente, também a Hungria adoptou uma medida similar. 1 Receitas Fiscais em Portugal Aparentemente, o endividamento externo líquido tem financiado predominantemente o consumo privado e público, enquanto que a fracção no investimento privado tem diminuído. Isto sugere que.Portugal necessita de aumentar a poupança privada reduzindo o consumo e melhorando as exportações líquidas. A taxa genérica de IVA em Portugal é 21% e tudo indica que será aumentada para 23%. As contribuições do empregador para a segurança social são 23,75% do salário bruto. Cada um deste impostos gera uma receita de aproximadamente 8,7% do PIB. A dependência das receitas fiscais dos impostos sobre os salários é ligeiramente superior à média europeia; o IVA também tende a ter em Portugal um peso maior nas receitas fiscais. Este maior peso não pode ser explicado apenas pelas taxas serem altas pois, não só Portugal não possui a taxa máxima mais elevada, como certos bens relevantes gozam de taxas reduzidas inferiores ao padrão europeu. Por exemplo, as taxas sobre a electricidade ou gás natural são mais baixas do que no resto da Europa. Melhorando a competitividade para reduzir o défice externo O estudo realizado encontrou os seguintes resultados para uma amostra de 9 países da UEM4 desde o início do EURO. A médio prazo (2000-2008): • Existe uma relação negativa entre défices comerciais e variações na competitividade, medida pelos custos de trabalho unitários unilaterais (CTU). .VAT 0 .05 .1 .15 .2 .25 PetrolVAT Cyprus Luxembourg Malta Spain Germany Netherlands Slovak France Austria Italy Slovenia Belgium Ireland Portugal Finland Greece Denmark Source: VAT 05 general on Republic Eurostat, Petrol 2010 rate 2010 VAT general rate • A Produtividade Total dos Factores (PTF) está negativamente relacionada com os CTU. VAT on Petrol 2010 Denmark Denmark Greece Greece Finland Finland Portugal Portugal Ireland • Uma estrutura fiscal que favoreça o consumo relativamente ao trabalho está positivamente relacionada com os CTU. • A fracção do consumo público gasta em salários tende a estar positivamente relacionada com os CTU. Ireland Belgium Belgium Slovenia Slovenia Italy Italy Austria Austria France France Slovak Republic Slovak Republic Netherlands Netherlands Germany Germany Spain Spain Malta Malta Luxembourg Luxembourg Cyprus Cyprus 0 .05 .1 .15 VAT .2 .25 Source: Eurostat, 2010 • A inflação dos bens não transaccionáveis relativamente aos transaccionáveis não aparenta estar relacionada com os CTU. 0 .05 .1 .15 .2 PetrolVAT .25 Source: Eurostat, 2010 (a) VAT rates in Europe, general rate and petrol. .NaturalgasVAT 0 .05 .1 .15 .2 .25 ElectricityVAT Luxembourg Portugal Italy Greece Ireland Cyprus Malta Spain Germany Netherlands Slovak France Austria Slovenia Belgium Finland Denmark Source: VAT 05 on Republic Eurostat, gas2010 electricity 2010 2010 VAT on gas 2010 Por outro lado, no curto prazo (1 ano): VAT on electricity 2010 Denmark Denmark Finland • A PTF não está relacionada com os CTU. Finland Belgium Belgium Slovenia Slovenia Austria • Um aumento de 1 pp na taxa efectiva de IVA aumenta os CTU de 1 pp. Austria France France Slovak Republic Slovak Republic Netherlands Netherlands Germany Germany Spain Spain Malta Malta Cyprus Cyprus Ireland Ireland Greece • Um aumento de 1 pp na TSU efectiva aumenta dos CTU em 0,7 pp. Um crescimento de 1 pp na inflação dos bens não transaccionáveis relativamente aos transaccionáveis aumenta os CTU em 1,25 pp. Greece Italy Italy Portugal Portugal Luxembourg Luxembourg 0 Source: Eurostat, 2010 .05 .1 .15 .2 NaturalgasVAT .25 0 .05 .1 .15 .2 ElectricityVAT .25 Source: Eurostat, 2010 (b) VAT rates in Europe, electricity and natural gas. • Um aumento de 1 pp nos salários das Administrações Públicas aumenta os CTU em 1,48 pp. Figure 2 4 Excluiu-se a Bélgica, Irlanda e Luxemburgo uma vez que para estes países a ligação estreita entre as balanças Comercial e Corrente não se verifica. Eu interpreto a importância das receitas do IVA como um outro sintoma do excessivo peso do consumo privado. 2 Table 1: VAT and ESSC in Portugal Tax Basis Tax rate Revenue Effective tax rate Consumption 68% 21% 8.79% 12.7% Gross Wages s.t. Tax 36.5% 23.7% 8.68% 23.7% digamos por 2 ou 3 anos, das taxas do IVA poderia gerar receitas suficientes para financiar a redução da TSU e espoletar uma dinâmica de ajustamento com menor consumo, maior competitividade e mais emprego. Se a politica fosse bem sucedida, o aumento da base fiscal da TSU ajudaria a compensar a redução do consumo e permitiria a redução futura das taxas de IVA em certos bens e serviços. Mais importante, a redução do consumo permitiria que a economia portuguesa iniciasse o muito necessário processo de redução do endividamento. Cálculos rápidos, em que a base fiscal é mantida constante, sugerem que, por cada ponto percentual de aumento da taxa efectiva de IVA a TSU pode reduzir-se 1,86 pontos, para manter a receita fiscal. Note-se que para aumentar a taxa efectiva de IVA pode aumentar-se a taxa genérica ou aumentar as taxas reduzidas. É claro que a base tributária não permaneceria inalterada na sequencia dessa alteração da estrutura fiscal. No artigo é desenvolvido um modelo teórico que permite inferir o ajustamento qualitativo da economia a uma tal alteração (aumento do emprego e redução do consumo privado). References [1] Vat rates applied in the member states of the european union. pages 1–27, Oct 2010. [2] A Alesina and R Perotti. The welfare state and competitiveness. The American Economic Review, pages 921–939, 1997. Conclusões [3] O Blanchard. Adjustment within the euro. the difficult case of portugal. Portuguese Economic Journal, 6(1):1–21, 2007. Considere-se um corte na TSU de 23,75% para 3,75%. Em teoria isto provocaria uma redução instantânea dos custos laborais de 20%. O mesmo corte, usando agora as elasticidades estimadas com dados de painel para diferentes países, produz uma redução (mais realista) de 15% nos CTU. Para manter as receitas fiscais inalteradas, a taxa efectiva de IVA deveria aumentar 10,7 pp. Este aumento da taxa efectiva é enorme mas a redução dos custos de trabalho assim permitida também o é. O Quadro 2 mostra que uma taxa única de 21% corresponderia a uma aumento da taxa efectiva de 8,3 pontos, dos actuais 12,7 %. A aplicação uniforme da anunciada taxa geral de 23% elevaria a taxa efectiva em 10,3 pontos. Convém enfatizar, de novo, que estes cálculos simples não levam em consideração alterações da base fiscal. A evidência empírica mostra que aumentos no IVA são repassados, quase imediatamente, para os salários. Uma condição necessária para reduzir os CTU e aumentar a competitividade é, pois, que os salários se mantenham estáveis. A alteração aqui analisada tornaria a estrutura fiscal portuguesa mais distante da típica na Europa e mais próxima da de países como a Dinamarca onde as contribuições patronais são cerca de 3% e existe uma taxa única de IVA de 25% em virtualmente todos os bens e serviços5 . Uma versão transitória da alteração pode tornar a proposta politicamente mais apelativa. A uniformização temporária, [4] O Blanchard and J Gali. Labor markets and monetary policy: A new keynesian model with unemployment. American Economic Journal: Macroeconomics, 2(2):1–30, 2010. [5] D Cavallo and J Cottani. For greece, a fiscal devaluation is a better solution than a temporary holiday from the eurozone. Voxeu.org, Feb 2010. [6] J Decressin, E Stavrev, International Monetary Fund. Research Dept, and International Monetary Fund. European Dept. Current Accounts in a Currency Union. 2009. [7] PR Krugman and MS Feldstein. International trade effects of value added taxation. NBER Working Paper, 1989. [8] A Lipinska and L Von Thadden. Monetary and fiscal policy aspects of indirect tax changes in a monetary union. Working Paper Series, Jan 2009. [9] M Obstfeld and KS Rogoff. Global current account imbalances and exchange rate adjustments. Brookings Papers on Economic Activity, 2005(1):67–123, 2005. 5 Alguns bens estão isentos. Estes incluem jornais, habitação, saúde e serviços bancários. 3 [10] F Woehlbier, M Fantini, T Lapunova, and B Heimann. Taxation trends in the european union: 2009 edition. Taxation . . . , Jan 2009. 4