Goethe-Institut Salvador-Bahia Simpósio Internacional “Cacau e Sustentabilidade no Sul da Bahia” Com o enfoque na qualidade, a Ceplac está incentivando os produtores, realizando avaliação das amostras enviadas para esses concursos, mas estrategicamente é necessário que a Associação dos Produtores de Cacau, com o objetivo de incentivar a qualidade do cacau no Sul da Bahia, instituindo um prêmio regional com o propósito de caracterizar o cacau da região, mesmo incumbindo a Ceplac de avaliar as amostras. Esse concurso pode ser lançado no IV Salão de Chocolate, em Ilhéus. Os produtores precisam se beneficiar do marketing desses três eventos, despertando o desejo de desenvolver ações coordenadas para mudar o padrão de concorrência, dada a especificidade do cacau da região sul baiana. Também com enfoque na qualidade, o ministro da agricultura, pecuária e abastecimento, através da Instrução Normativa nº 38, de 23/06/2008, estabelece o Regulamento Técnico da Amêndoa de Cacau, definindo o seu padrão oficial de classificação, com os requisitos de identidade e qualidade, a amostragem, o modo de apresentação e a marcação ou rotulagem. A amêndoa de cacau está sendo classificada em Tipos, de acordo com os percentuais de tolerância de defeitos previstos na Tabela 4 desse Regulamento Técnico, podendo ainda ser enquadrada como Fora de Tipo ou Desclassificada. Tabela 4. Tabela 4 - Amêndoa de cacau - Tolerância de defeitos, expressa em %/peso e respectivo enquadramento do produto. Com vistas a dar um padrão de classificação e padronização do tipo cacau fino, a Associação dos Profissionais do Cacau Fino e Especial– APCFE, fundada em 05/06/2004,estabeleceu os seguintes objetivos: melhorar a qualidade aromática do cacau fino, com definição de novas normas; aplicar novos padrões de qualidade na realidade do campo; exportar a produção, fornecendo apoio logístico; certificar a qualidade do cacau; promover o comércio e o consumo de cacau fino; valorizar os produtores com capacitação e prêmios.Essa associação estabeleceu um regulamento técnico de um padrão de cacau fino, não sendo, contudo, reconhecida oficialmente. A CEPLAC tem uma grande tradição na classificação e padronização do cacau brasileiro. No projeto/atividade de avaliação técnica da qualidade da amêndoa de cacau (2009), consta um relatório técnico da CEPLAC de 1984, quanto às provas organolépticas realizadas na Pensilvânia/EUA pelo QualityControl Lab. M&M MARS, em amostras de 439 fazendas da Bahia, destacando-se os 31 Goethe-Institut Salvador-Bahia Simpósio Internacional “Cacau e Sustentabilidade no Sul da Bahia” municípios de Almadina, Coaraci, Itajuípe, Lomanto Junior, Arataca e Uma, por apresentaram maior teor de manteiga, ou seja, 56%, ao passo que as cidades com conteúdo de manteiga mais baixo ficaram com 54,8%. De um modo geral, os municípios de Ibicaraí, Ilhéus, Itabuna, Itajuípe e Floresta Azul forneceram a melhor matéria-prima para o melhor chocolate das fazendas analisadas com potencial de utilização de até 20% desse cacau nas formulações. Esse chocolate apresentou acidez aceitável, amargor aceitável, adstringênciamoderada e fumaça aceitável. Isso demonstra a preocupação da Ceplac já naquela época com a qualidade do cacau brasileiro. Atualmente o Serviço de Controle de Qualidade Vegetal – SECOQ, do Centro de Extensão – CENEX e a Seção de Tecnologia de Alimentos – SETEA do Centro de Pesquisas do Cacau – CEPEC são os órgãos encarregados de classificar e buscar melhorar a qualidade do cacau brasileiro. As amostras que concorreram no Salão do Chocolate de Paris e na exposição de São Paulo tiveram a classificação da Ceplac. Além dos laudos de melhoria da qualidade do cacau brasileiro e de classificação de amêndoas de cacau, o Serviço de Controle de Qualidade Vegetal da CEPLAC está utilizando o laudo de avaliação da qualidade físico-sensorial da amêndoa de cacau em que se analisa o peso médio da amêndoa em 100 gramas, % amêndoas albinas, aspecto externo, % de mofo externo, umidade, aroma, grau de fermentação e defeitos e, por fim, classifica a amêndoa em Excelente, Boa, Regular e Sem Qualidade. Esse trabalho minucioso está fazendo com que as amostras classificadas e enviadas para concursos em São Paulo e Paris estejam recebendo prêmios de “CocoaofExcelence”. Pereira (2003) classifica o cacau fino,obedecendo a critérios, como odores, características visuais, assim como características físicas e químicas, conforme mostra a tabela 5 abaixo. Tabela 5 – Classificação de cacau fino e especial Tipo I Classe 1 2 Odores Ausente Ausente Ausente Outros Ausente Ausente Características Visuais Percentual Ardósias 0 1 Mofadas 0 0 Bichadas 0 0 Violetas 0 6 Germinadas 0 0 Quebradas 1 2 Corpos estranhos 0 1 Marrom 100 93 Aspecto Característico Características Físicas e Químicas das Amêndoas Comprimento 2,1 1,9 Tamanho Largura 0,8 0,7 Espessura 0,8 0,7 Razão Comp/Larg 38 37 (%) Peso de 100 sementes (g) 120 115 Umidade (%) 6,5 6,5 Casca (Testa) – (%) 10 11 Ácidos graxos livres (%) 1,75 1,75 Frutose (%) 0,4 0,3 3 Ausente Ausente 4 Ausente Ausente 5 Ausente Ausente 1 1 0 12 1 3 1 87 1 1 0 18 1 3 2 81 2 2 0 24 2 4 2 74 1,7 0,6 0,7 35 1,6 0,5 0,6 31 1,6 0,5 0,6 31 110 6,5 12 1,75 0,3 105 7,0 13 1,75 0,2 100 7,0 14 1,75 0,2 32 Goethe-Institut Salvador-Bahia Simpósio Internacional “Cacau e Sustentabilidade no Sul da Bahia” Glicose (%) 0,1 0,1 0,1 0,1 Teor de gordura (%) 58 56 56 55 pH 5,5 5,5 5,3 5,0 Fonte: Pereira (2003). Manual prático para o beneficiamento do cacau fino e especial. 0,1 55 5,0 3.5. A organização da produção através da agroindustrialização cooperativa - O Programa de Agregação de valores – PROADCE A CEPLAC, prospectando o futuro a pedido da Câmara Setorial do Cacau, está elaborando um programa para agregar valores à cacauicultura através da implantação de agroindústrias de derivados de cacau e chocolates especiais de pequeno e médio porte nas regiões brasileirasprodutoras de cacau - PROADCE. Os objetivos Específicos foram: a)Viabilizar, junto às instâncias competentes (Governo Federal - MAPA, MDA, MDIC, BNDEs, BRDE e/ou financiamento internacional), uma linha de crédito específica para o PROADCE; b) Elaborar, sob a coordenação da CEPLAC, com a colaboração de entidades parceiras em cada Estado envolvido, o Regulamento Técnico que estabelecerá as condições e os pré-requisitos em que os cacauicultores e as indústrias de chocolate deverão se enquadrar para participar do programa (e ter acesso ao crédito);c) Organizar, em cada Estado envolvido, um Comitê de apoio à instalação e à operacionalização do Programa de Implantação de Agroindústrias de Chocolate de Pequeno e Médio Porte; d) Identificar as áreas potenciais para implantação das agroindústrias chocolateiras;e) Aumentar a renda e o emprego na cacauicultura. O modelo de governança escolhido foi o da organização interna (empresa), baseado na Agroindustrialização cooperativa,quesempre tem se mostrado como a saída para essa situação. A agroindústria cooperativa aumenta a renda do agricultor quando integra a produção e tende a controlar todo o complexo rural de seu produto. É o agente principal que direciona e maximiza a eficiência do uso dos insumos e investimentos rurais relacionados com o produto dela. Ao controlar sua matéria-prima, localiza adequadamente a produção, evita a perda de produtos e é a agente principal do aumento de produção. A agroindústria ainda reduz os custos de armazenamento, de transporte e das margens de comercialização do complexo rural do produto dela. Finalmente a agroindústria valoriza melhor o produto que lhe serve de matéria-prima e diversifica os subprodutos e mercados, proporcionando ao produtor da matéria-prima se apropriar dos ganhos obtidos em toda a sua cadeia de produção.A educação cooperativista é importante para instruir os cooperados na sua relação com a prática do ato cooperativo, que deve estar alicerçado em três pilares: participação, profissionalismo (gerenciamento) e ética. Para implantação das 55 agroindústrias de chocolate no Brasil projetadas pelo programa serão necessários R$ 351.609.122,98, distribuindo-se essas indústrias da seguinte forma:4 em Rondônia, 1 no Amazonas, 13 no Pará, 35 na Bahia, e 2 no Espírito Santo.Tabela 6. 33 Goethe-Institut Salvador-Bahia Simpósio Internacional “Cacau e Sustentabilidade no Sul da Bahia” Tabela 6 – Recursos necessários para implementação do PROADCE Variável Capacidade Brasil e Unidade daFederação Área Área plantada colhida (Hectares) (Hectares) Ano da safra Produção Cacau (Toneladas) Fino % % Produção Anual da Cacau Indústria/N Fino (t) úmero de Valor Necessário (R$) Indústrias Brasil Safra 2010 691.229 647.036 231.494 100,00 3% 6.945 55 175.804.561,49 Rondônia Safra 2010 38.560 28.891 17.486 7,55 3% 525 4 13.279.474,03 Amazonas Safra 2010 1.390 923 1.382 0,60 3% 41 0 1.049.538,67 Pará Safra 2010 73.106 73.106 55.164 23,83 3% 1.655 13 41.893.452,23 Bahia Safra 2010 554.713 522.044 149.303 64,50 3% 4.479 35 113.385.869,37 Espírito Santo Safra 2010 22.132 21.005 7.513 3,25 3% 225 2 5.705.632,42 MatoGrosso Safra 2010 1.328 1.067 646 0,28 3% 19 0 Total 2010 490.594,77 351.609.122,98 IBGE Para calcular o número de indústrias necessárias por estado e o valor necessário para financiá-las, tomou-se 3% da produção brasileira para calcular a quantidade de cacau fino que as agroindústrias iriam beneficiar. Com base em uma indústria de 60 Kg de amêndoas de cacau por hora, trabalhandose 8 horas por dia, obtêm-se 480 Kg de cacau por dia. Trabalhando-se 264 dias por ano, necessita-se de 126.720 kg/ano. Levando-se em consideração que 80% do cacau se transforma em líquor, obtêmse 101.376 Kg de massa de cacau/ano. Dividindo-se a produção por estado de cacau fino pela quantidade de cacau fino que cada agroindústria iria consumir, encontra-se o número de fábricas. Mutiplicando-seesse resultado pelo valor do equipamento (R$ 3.207.851,90) e levando-se em consideração a construção civil, perfaz-se um total de R$ 351.609.122,98. Esse programa está em fase final de discussão na Câmara Setorial do Cacau do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. 3.6. A produção, preços, barreiras tarifárias e os novos nichos de mercadode cacau (oportunidades comerciais) 3.6.1. A produção de cacau fino A produção de cacau fino representa 5% da produção mundial. Das 3.342 toneladas de cacau produzidas no mundo em 2006/07,cerca de 167 mil t são de cacau fino. 20% da produção, ou 134 mil t, é produzida na América latina e Caribe, 18% ou 30 mil t na Ásia e Oceania e somente 2%, ou 3 t na África. Das 134 mil t produzidas na América latina e Caribe, 87 mil t é produzida no Equador, 31 mil t na Colômbia, 11 mil t na Venezuela e 3 mil t no Brasil e 2 mil t outros países. (Figura 6) Figura 6 – Participação da produção de cacau fino na produção mundial de cacau. 34 Goethe-Institut Salvador-Bahia Simpósio Internacional “Cacau e Sustentabilidade no Sul da Bahia” Participação da Produção Mundial de Cacau em Comum e Cacau fino (2006/07 Produção Bruta de Cacau 3.376 Toneladas Produção Líquida de Cacau 3.342 Toneladas 167 3.175 95% 30 5% 167 134 18% 3 2% 80% Produção de Cacau Bulk (Comum, Regular ou Ordinário) Produção de Cacau Fine or the Flavour (Fino ou de Sabor, Aroma) América Latina e Caribe Ásia e Oceania África 11 31 134 Equador 3.6.1. 3 87 Colombia Venezuela 3 Brasil Outros Preços praticados pelo mercado de cacau fino Se levarmos por conta as importações realizadas pela União Europeia em 2007/08, podemos verificar que os preços praticados no mercado de cacau fino variaram de US$ 1.721/t recebido pela Guatemala a US$ 7.342/t recebido por Granada. A média de preço ficou em torno de US$ 2.233/t. Tabela 7. Tabela 7 – Preços praticados na comercialização de cacau fino no Mercado Europeu. 35 Goethe-Institut Salvador-Bahia Simpósio Internacional “Cacau e Sustentabilidade no Sul da Bahia” As tarifas aplicadas ao cacau na União Europeia dependerão do país de origem da importação assim como do produto. Um assunto importante a ter em conta são as “regras de origem”. As normas de origem são os instrumentos jurídicos para determinar o lugar de fabricação ou obtenção dos produtos aos quais seriam aplicadas as preferências tarifárias, nesse caso é condicionante para poder aplicar o SGP+ (Sistema Geral de Preferências). Se o “cacau e seus derivados” cumprem origem, então poderão aplicar a SGP+. As preferências da SPG se aplicam às importações no território aduaneiro da Comunidade Europeia de produtos específicos procedentes de países individuais. Tais produtos devem ser originários de um país beneficiário que desfrute do regime SPG que inclui esses produtos. Para que se considerem originários do país exportador, os produtos devem satisfazer algumas exigências que se estabelecem nas normas de origem. As normas de origem que se aplicam às importações no marco da SPG têm como objetivo garantir que as preferências tarifárias favoreçam o desenvolvimento dos países beneficiários. Está contido no Regulamento (CEE) nº 2454-93. Enquanto os produtos inteiramente obtidos no país exportador são considerados originários desse país, os produtos fabricados a partir de elementos procedentes de outros países são considerados originários somente se forem submetidos a uma elaboração ou a uma transformação suficiente. Ao cumprir-se a regra de origem, então assim alguns países da América Latina e Caribe poderão aplicar a SGP+ consistente na TARIFA de 0%. No caso de NMF (Nação mais Favorecida), dependendo do tipo de produto, terão que pagar de 7%, 8% até 9,6% de tarifa para o ingresso ao mercado europeu. 36 Goethe-Institut Salvador-Bahia Simpósio Internacional “Cacau e Sustentabilidade no Sul da Bahia” As normas de origem preveem também que os produtos devem ir acompanhados de um certificado de origem modelo A ou de uma declaração em fatura e devemser expedidos diretamente pela Comunidade. Tabela 8. Tabela 8 - A seguir se expõem as tarifas de entrada na União Europeia aplicadas aos principais países exportadores latino-americanos junto com as aplicadas à Costa do Marfim, principal mercado competidor da área latino-americana: 37 Goethe-Institut Salvador-Bahia Simpósio Internacional “Cacau e Sustentabilidade no Sul da Bahia” 38 Goethe-Institut Salvador-Bahia Simpósio Internacional “Cacau e Sustentabilidade no Sul da Bahia” Fonte: TARIC Barreiras não tarifárias Como fabricante de um país latino-americano, esse deve estar consciente dos requisitos de acesso ao mercado de seus sócios comerciais e dos governos da UE. Esses requisitos se exigem através da legislação e através das etiquetas, dos códigos e dos sistemas de gestão. É importante ser cuidadoso com o meio ambiente, com a saúde do consumidor, com a segurança e com as preocupações sociais. É necessário cumprir com a legislação da UE e estar consciente de que é possível que sejam feitas solicitações adicionais, as quais não necessariamente estarão moldadas nos requisitos legais. Novos nichos de mercado As importações mundiais e europeias de cacau e seus derivados incrementaram 13% no período considerado de 2004-2008. Portanto, pode-se dizer que as oportunidades de negócio para os exportadores latino-americanos seguem uma tendência crescente devido ao incremento das importações a nível mundial desses produtos nos últimos anos. A taxa de crescimento nas importações dos principais clientes europeus (Alemanha, França, Holanda, Reino Unido e Bélgica) se manteve constante nesses últimos anos acima de 10%; enquanto que a média nos Estados Unidos se manteve em 5%. A União Europeia se converte, desse modo,no mercado mundial mais interessante para o setor. Tabela 9. 39 Goethe-Institut Salvador-Bahia Simpósio Internacional “Cacau e Sustentabilidade no Sul da Bahia” Tabela 9 - Evolução das importações. Países que oferecem oportunidades comerciais Fonte: COMTRADE Segundo a fonte estatística COMTRADE, as importações mundiais do produto com código tarifário 1801 (Cacau em grão, inteiro ou quebrado, cru ou torrado) no ano 2008 foram US$ 7.635,266 milhões de dólares, o que representou um crescimento percentual em relação à cifra do ano 2007 de 25% (no período 2004-2008 a taxa de crescimento foi de 14%). A tendência observada, portanto, é claramente crescente. Os países com maior taxa de crescimento no período 2004-2008 foram Armênia (79%), Irã (49%) e Malásia (38%), enquanto que Croácia (-22%), Polônia (-10%) e Áustria (-5%) obtiveram um crescimento menor entre os principais importadores. Os principais importadores mundiais são Holanda (17% das importações mundiais), Malásia (15,43%), Alemanha (10,58%), Bélgica (6,11%) e França (5,45%). Na figura 7 se observa a distribuição das importações desse produto por país no ano de 2008.Figura 7. Figura 7 - importações mundiais do produto com código tarifário 1801 (Cacau em grão, inteiro ou quebrado, cru ou torrado) no ano 2008 40