CanCro GineColÓGiCo reunião de Consenso naCional Coimbra 16 de outubro 2010-11-27 CanCro GineColÓGiCo reunião de Consenso naCional cancrO DO enDOMÉtriO inClui CarCinossarComa e o CarCinoFibroma Coimbra 16 de outubro 2010-11-27 ParticiPantes OrganizaçãO secção de Ginecologia oncológica sociedade Portuguesa de Ginecologia cancrO DO enDOMÉtriO antónio Guimarães; alexandre morgado; almerinda Petiz; ana Felix; ana Francisca; ana maria Costa; ana opinião; ana rodrigues; antónio Gomes; antónio Pego; Carlos barros; Carlos Guerra; Carlos lopes; Clara Coelho; Cláudia marques; Cristina Frutuoso; Cristina marques; Cristina ramalho; daniel Pereira da silva; deolinda Pereira; elisabete Castelo branco; eugénia Cruz; Fátima Vaz; Fernando Fernandes; Fernando mota; Filomena santos; Francisco nogueira martins; Guy Vieira; Henrique nabais; Henrique rodrigues; idílio Gomes; isabel botto; isabel Henriques; isabel riscado; isabel santana; Joana bello; Jorge simões; José alberto moutinho; José manuel Furtado; luís Pedro afonso; luís sá; luís Vieira Pinto; luísa Carvalho; luísa Guerreiro; lurdes salgado; madalena nogueira; manuel Pontes; mara rocha; margarida barros; maria Fortunato; maria José Pires; noémia afonso; Paula alves; Paula lapa; Paula serrano braga; Paulo aldinhas; Paulo Correia; Paulo Gil agostinho; Paulo ribas; Pedro Gil agostinho; Pedro madeira; Pedro Vieira de Castro; raquel Pina; rita sousa; rosário Couto; silva Pereira; sofia broco; susana dias; teresa Carvalho; teresa rebelo; teresa silva; teresina amaro; Vitor baltar; Vitor lagoa É um tumor epitelial maligno primário, geralmente, com diferenciação glandular, com origem no endométrio e com potencial para invadir o miométrio e metastizar à distância. segundo a classificação da oms (organização mundial de saúde) de 2002, para os tumores do aparelho genital feminino, reconhecemse 9 tipos histológicos. os tumores mistos malignos (carcinossarcoma e carcinofibroma) são considerados, actualmente, carcinomas metaplásicos de alto grau. intrODuçãO o carcinoma do endométrio é, na actualidade, a neoplasia maligna ginecológica mais frequente nos países industrializados, representando cerca de 6% dos cancros no sexo feminino(1). o risco da mulher desenvolver carcinoma do endométrio ao longo da sua vida é de 2,5%(2). entre nós, a incidência é de 10,27/100000 (ron 2005) e a taxa de mortalidade 1,9/ 100000 (risco de morrer em Portugal, dGs 2005). o pico de incidência ocorre nas 6ª e 7ª décadas de vida, sendo que cerca de 75% dos casos ocorrem após a menopausa. no entanto, 2 a 5% surgem antes dos 40 anos de idade(1). aproximadamente 75% dos casos são diagnosticados no estadio i, daí que o prognóstico seja mais favorável; embora a taxa de mortalidade tenha vindo a aumentar nos últimos 20 anos, devido ao aumento da esperança de vida e à coexistência de comorbilidades(3). o carcinossarcoma e o carcinofibroma sâo considerados formas de carcinoma do endométrio. actualmente, não há rastreio efectivo para este cancro, excepto nos casos de s. lynch ii(2). DiagnósticO Cerca de 90% dos carcinomas do endométrio manifestam-se através de hemorragia uterina anormal. algias pélvicas são outra manifestação frequente nas mulheres idosas(1). a ecografia transvaginal e a histeroscopia são os métodos complementares de diagnóstico habitualmente usados na avaliação das suspeitas de cancro do endométrio(1). no entanto, o diagnóstico é histológico, pelo que é obrigatório uma biópsia endometrial. em cerca de 25-30% dos casos o diagnóstico histológico da peça cirúrgica tem um grau de diferenciação menos favorável que o da biópsia(2,4). 4 cancrO DO enDOMÉtriO cancrO ginÉcOlógicO HistOlOgia Tumores Epiteliais: • adenocarcinoma endometrióide (com 4 variantes: diferenciação escamosa, viloglandular, secretora e de células ciliadas); • adenocarcinoma mucinoso; • adenocarcinoma seroso; • adenocarcinoma de células claras; • adenocarcinoma misto; • Carcinoma de células escamosas; • Carcinoma de células de transição; • Carcinoma de pequenas células; • Carcinoma indiferenciado. Tumores mistos epiteliais mesenquimatosos: • Carcinossarcoma ou tumor mulleriano misto maligno; • Carcinofibroma (tumor raro). Do ponto de vista biológico, os tumores epiteliais dividem-se em 3 tipos(3,5): • tumores tipo i ou estrogénio-dependentes, que representam 80-85% dos casos; • tumores tipo ii ou não estrogénio-dependentes, representam 10-15% dos casos; • tumores do tipo iii ou carcinoma hereditário do endométrio, representam 5-10%. os tumores tipo i são predominantemente do tipo endometrióide e geralmente bem (G1) ou moderadamente (G2) diferenciados. estão habitualmente associados a hiperplasia endometrial. a estimulação estrogénica sem oposição é o principal factor de risco, quer o estrogénio seja exógeno (terapêutica hormonal de substituição, tamoxifeno), ou endógeno (obesidade, menarca precoce, nuliparidade, menopausa tardia, síndrome ovários poliquísticos). as doentes são, frequentemente, obesas, diabéticas e hipertensas. os tumores tipo ii são, geralmente, mal diferenciados (G3), mais agressivos e com pior prognóstico, geralmente do tipo seroso ou de células claras, sem factores de risco conhecidos. associados a endométrio atrófico ou a pólipo(s). Habitualmente, são multíparas e com idade superior às do tipo i(2,6,7). os tumores tipo iii surgem em mulheres portadoras de mutações genéticas. metade destes casos correspondem a doentes com s. de lynch ii ou Carcinoma colo-rectal hereditário não polipóico(3). o carcinossarcoma dissemina-se de forma semelhante aos carcinomas epiteliais, invadindo os gânglios linfáticos em elevada percentagem. 5 o estadiamento do cancro está em constante evolução, pois tem de se adaptar aos avanços científicos decorrentes da investigação. em 1988, a FiGo mudou o estadiamento médico (desde 1971) para cirúrgico. e, recentemente, este sofreu alterações mínimas, mas extremamente importantes. os estadios ia e ib passaram a ia, dado não haver diferença significativa na sobrevivência aos 5 anos dos estadios iaG1, ibG1, iaG2 e ibG2. o estadio ii não se divide em a e b, pois o envolvimento glandular endocervical é considerado estadio i. o envolvimento dos gânglios para-aórticos está associado a pior prognóstico que o envolvimento dos gânglios pélvicos, pelo que se subdividiu o estadio iiiC em 1 e 2. a citologia positiva foi excluída como factor condicionante do novo estadiamento cirúrgico(8). as portadoras de cancro do endométrio com contra-indicação para cirurgia, poderão ser tratadas com radioterapia, embora com resultados inferiores, e nestes casos deve ser utilizado o estadiamento clínico da FiGo de 1971 (em anexo), devendo ser devidamente assinalado este facto(1,3). a avaliação prévia ao tratamento deve incluir, além do exame fisíco geral e ginecológico (com particular atenção ao tamanho e mobilidade do útero, presença de massas extra-uterinas, ascite e potenciais locais de metastização como os gânglios supraclaviculares), exames laboratoriais de rotina (hemograma com plaquetas, bioquímica, marcadores virusais) e imagiológicos (radiografia tórax Pa) e o Ca 125. exames imagiológicos pélvicos ou abdominais para avaliação da invasão miometrial, parametrial ou cervical são opcionais se o estadiamento cirúrgico está programado. nos raros casos de estadiamento clínico ou de suspeita de doença avançada: • a taC toráco-abdominal e pélvica é um exame rápido e disponível, que permite a avaliação simultânea de metastização pulmonar, hepática, adenomegálias torácicas, abdominais ou pélvicas e mesmo a presença de carcinomatose peritoneal ou lesões ósseas. • a ressonância magnética nuclear (rmn) pélvica permite avaliar localmente a lesão nomeadamente a profundidade da invasão do miométrio, colo e paramétrios. na pesquisa de metástases ganglionares a rmn é um exame sensibilidade idêntica à taC. Constituem factores de risco para doença extra-uterina: Ca 125 elevado, citologia cervical positiva ou doença cervical extensa, histologia não endometrióide e massa anexial. a suspeita clínica de invasão do colo uterino deve ser confirmada com biópsia da lesão(9). ESTADIAMENTO FIGO – 200910 Estadio I* tumor confinado ao corpo uterino ia* invasão inferior a ½ do miométrio ib* invasão igual ou superior a ½ do miométrio Estadio II* tumor invade o estroma cervical, mas limitado ao útero** Estadio III* invasão local e/regional iiia* tumor invade a serosa e/ou anexos iiib* tumor invade a vagina e/ou paramétrio iiiC* metástases gânglios pélvicos e/ou para-aórticos iiiC1* metástases gânglios pélvicos iiiC2* metástases gânglios para-aórticos c/ ou s/ invasão dos gânglios pélvicos Estadio IV* invasão da bexiga e/ou mucosa intestinal e /ou metástases à distância iVa* tumor invade bexiga e/ou mucosa intestinal iVb* metástases à distância, incluindo intra-abdominais e/ou gânglios inguinais *G1, G2 ou G3 **envolvimento glandular endocervical deve ser considerado estadio i • Citologia positiva deve ser referida separadamente sem alterar o estadio; • Carcinossarcoma deve ser estadiado como carcinoma(11). cancrO DO enDOMÉtriO cancrO ginÉcOlógicO 6 estaDiaMentO asPectOs gerais DO trataMentO Cirurgia o estadiamento do cancro do endométrio deve ser cirúrgico, pois o estadiamento clínico é incorrecto em mais de 20% dos casos(12). Constituem excepções à necessidade de realização do estadiamento cirúrgico: as doentes com alto risco de mortalidade ou morbilidade cirúrgica, muitas vezes por co-morbilidades associadas; doentes com infiltração dos paramétrios, metástases vaginais extensas, invasão da bexiga e/ou recto (confirmação histológica). a cirurgia isolada é curativa nos casos de doença de baixo risco (G1 ou G2, limitada ao útero, invasão limitada ao endométrio ou à metade interna do miométrio) – ia G1, G2. Factores que aumentam o risco de doença extra-uterina e de recidivas: tumor do tipo seroso papilar, de células claras, carcinossarcoma e carcinofibroma, G3, invasão superior a metade da parede miometrial, extensão tumoral além do fundo uterino (segmento inferior, colo, anexos), invasão do espaço linfovascular, metastização ganglionar e tumor superior a 2 cm ou que preencha a totalidade da cavidade(1,13). Aspectos técnicos da cirurgia: citologia do lavado peritoneal (com cerca de 300cc de soro fisiológico), exploração de toda a cavidade abdominal com biópsia de lesões suspeitas, histerectomia total extrafascial com anexectomia bilateral. o exame anatomopatológico intra-operatório da peça tem por objectivo orientar a decisão de completar o estadiamento cirúrgico com a linfadenectomia ou, pelo contrário, dispensar a sua realização. nos de alto grau incluindo o carcinossarcoma e carcinofibromas a linfadenectomia deverá ser sempre realizada. tumores ia (G1, G2) – não é obrigatório linfadenectomia tumores ia G3, ,ib ,ii, iii – linfadenectomia pélvica e lombo-aórtica tumores estadio ii clínico – histerectomia radical modificada tipo Piver ii com linfadenectomia pélvica e lombo-aórtica na linfadenectomia pélvica devem ser removidos os gânglios das cadeias obturadora, interilíaca, ilíaca externa, ilíaca comum; pelo menos 6 gânglios de cada lado devem ser excisados; na linfadenectomia para-aórtica dissecção até ao nivel da artéria mesentérica inferior(13), sempre que possível até aos vasos renais(1). a incidência de metástases em gânglios pélvicos e para-aórticos é directa7 Notas: nos carcinossarcomas além da histerectomia total com anexectomia bilateral e linfadenectomia pélvica e lombo-aórtica deve ser realizada a omentectomia; os carcinossarcomas com componente epitelial seroso ou de células claras tratam-se como os serosos. Outros tipos histológicos (mais raros) devem ser alvo de tratamento individualizado, de preferência em centro de referência Radioterapia a radioterapia (rt) é habitualmente usada como terapêutica adjuvante do cancro do endométrio. Pode consistir na braquiterapia vaginal e/ou radioterapia externa. as doentes com contra-indicação cirúrgica deverão ser submetidas a rt. a rt pode, ainda, ser usada como terapêutica sintomática. os estudos prospectivos randomizados publicados que avaliaram a eficácia da rt nos estadios i e ii (aalders, PorteC-1 e 2, GoG-99) demonstraram redução das recidivas loco-regionais, mas sem benefício na sobrevivência. no estadio i, a braquiterapia parece ser suficiente para manter um bom controlo local da doença já que a grande maioria das recidivas neste estadio são vaginais. Quimioterapia Hormonoterapia Considerada uma opção no contexto de doença metastática para os carcinomas tipo endometrióide, dada a sua baixa toxicidade e taxas de resposta entre 10-25%. não está estabelecido qualquer esquema, droga ou dose. têm-se usado progestativos (acetato de megestrol 160mg/dia e o acetato de medroxiprogesterona 150-200mg/dia), tamoxifeno e inibidores da aromatase(3,9). PrOtOcOlO De trataMentO cancrO DO enDOMÉtriO cancrO ginÉcOlógicO mente proporcional à profundidade de invasão miometrial e ao grau de diferenciação. as doentes com nódulos linfáticos metastizados têm alto risco de recidiva, o que justifica terapêuticas adjuvantes(1). neste sentido, a linfadenectomia pélvica e para-aórtica é essencial para o estadiamento completo do cancro do endométrio, tendo sido demonstrado o seu valor prognóstico, sendo discutível o seu valor terapêutico. são aceitáveis procedimentos por via laparoscópica(1). a técnica de pesquisa do gânglio sentinela é, por enquanto, aceite no âmbito de protocolos de investigação(1). em estadios avançados a cirurgia de cito-redução parece conferir vantagens na sobrevivência(13). Adenocarcinoma seroso, adenocarcinoma de células claras estes tumores podem desenvolver-se em endométrios atróficos, tendo como percursor o carcinoma intra-epitelial do endométrio e não a hiperplasia endometrial. os serosos podem ser multifocais e apresentarem doença à distância sem invasão miometrial. Por isso, o estadiamento deste tipo de tumores é idêntico ao cancro do ovário, devendo efectuar-se a cirurgia descrita previamente com linfadenectomia pélvica e lombo-aórtica complementada com a omentectomia, biópsias peritoneais múltiplas e citologia das cúpulas diafragmáticas(1,3,4). Após estadiamento cirúrgico completo • • • • • • • • • • iaG1-2 – vigilância iaG3, ibG1-2 – braquiterapia vaginal ibG2 (com invasão linfo-vascular, tumor >2cm ou extensão ao istmo ou idade >60 anos): braquiterapia vaginal +/- rt pélvica externa ibG3, iiG1-2 - braquiterapia vaginal + rt pélvica externa iiG3 - braquiterapia vaginal + rt pélvica externa iiia, iiib - externa pélvica + braquiterapia vaginal iiiC1– rt externa pélvica + braquiterapia vaginal ± Qt iiiC2 - braquiterapia vaginal + rt externa pélvica + rt lombo-aórtica + Qt iV – terapêutica individualizada (Qt ± rt) Carcinossarcomas: ia – vigilância ± rt ± Qt ib, ii – Qt ± rt ou rt abdomino-pélvica braquiterapia vaginal iii e iV com cirurgia adequada – Qt ± rt ou rt abdomino-pélvica ± braquiterapia vaginal iii e iV com cirurgia inadequada – Qt Após estadiamento cirúrgico incompleto ou achado de peça operatória nestes casos preconiza-se estudo imagiológico por taC ou rmn (ver atrás). Se resultado negativo: • tumor limitado à metade interna do miométrio, G1 G2, sem factores de risco: (invasão linfo-vascular, tumor >2cm, extensão ao istmo, idade>60 anos) – vigilância; • outros casos – ponderar cirurgia para completar estadiamento ou braquiterapia + rt externa pélvica, Qt. Se resultado positivo: Cirurgia de re-estadiamento ou punção biópsia guiada seguida de excisão ganglionar se biópsia positiva. Posteriormente terapêutica, adjuvante proposta para os casos de estadiamento completo, que passa pela braquiterapia vaginal, rt externa pélvica com ou sem rt externa lombo-aórtica e/ou Qt(9). nos adenocarcinomas seroso e de células claras e carcinossarcoma deve ser considerada a quimioterapia (Qt) adjuvante, com carboplatina/paclitaxel(14). nos outros tipos histológicos pode ser usada como terapêutica adjuvante e/ou paliativa nos estadios avançados, habitualmente carboplatina/paclitaxel ou cisplatina/doxorubicina. 8 9 doentes com hiperplasia atípica do endométrio ou carcinoma endometrial tipo endometrióide no estadio iG1 e rmn negativa para invasão miometrial, que desejam preservar a fertilidade, podem ser tratadas com progestativo, via intrauterina, oral ou parenteral, sendo que a dose e duração do tratamento não estão estabelecida. o mínimo que se aconselha são 3 meses de tratamento(3,13). Vigilância trimestral com ecografia transvaginal e biópsia endometrial. logo que possível, deve efectuar terapêutica cirúrgica(3,13). DOentes inOPeráveis devem efectuar rt externa (pélvica ± lombo-aórtica) e/ou braquiterapia(4,9). se não reunirem condições, ponderar terapêutica sistémica ou de suporte(4). biblioGraFia 1– estadiamento cirúrgico do cancro do endométrio, r. ribeiro, D. P. silva; acta Obster ginecol Port, 2010; 4 (4): 88-100; 2– endometrial cancer: epidemiology, risk factors, clinical features, diagnosis and screening, l. chen, J. s. Berek; uptodate, september 2009; 3– endometrial cancer, J. i. sorosky; american college of Obstetrians and gynecologists, vol 111, nº2, part 1, February 2008; 4– cancro ginecológico – consenso nacional, sociedade Portuguesa de ginecologia; Fevereiro de 2007; 5– WHO classificatinos of tumors – tumors of the breast and female genital organs iarc Press; lyon 2003; 6– Prognostic factores in endometrial carcinoma, P. uharcek; J. Obstet. gynaecol. res., vol 34, n5: 776783, October 2008; 7– Histopathology and pathogenesis of endometrial cancer, l. c. lomo, J. l. Hecht, B. goff, s. j. Falk; uptodate, september 2009; cancrO DO enDOMÉtriO cancrO ginÉcOlógicO trataMentO cOnservaDOr Para PreservaçãO Da FertiliDaDe 8– FigO staging system revised: what should be considered critically for gynecologicmcancer?, H. s. Kim, Y. s. song; J gynecol Oncol vol. 20, nº 3: 135-136, september 2009; 9– nccn clinical Practice guidelines in Oncology – uterine neoplasms v.i.2010; 10– revised FigO stanging for carcinoma of the vulva, cervix, and endometrium; international Journal of gynecology and Obstetrics, 105 (2009) 103-104; PrOtOcOlO De vigilância exame clínico e ginecológico: • nos primeiros 2 anos, de 4/4 meses • nos 3 anos seguintes, de 6/6 meses • após o 5º ano: anual os exames complementares realizam-se de acordo com a clínica. o Ca 125 deve ser pedido se elevado no pré-tratamento(3,9). 11– cancer staging Manual – aJcc, seventh edition, springer, 403-417; 12– Preoperative local staging of endometrial cancer: transvaginal sonography vs. Magnetic resonance imaging, l. savelli, M. ceccarini, M. ludovisi, et al; ultrasound Obstet gynecol 2008: 31: 560-566; 13– endometrial cancer: Pretreatment evaluation, staging, and posttreatment surveillance, s. c. Plaxe, B. goff, s. J. Falk; uptodate, september 2009; 14– uterine papillary serous and clear cell cancer, P. e. schwartz, a. J. Mundt; uptodate, september 2009. trataMentO Da recOrrência o tratamento da recorrência é individualizado, dependendo do estadio inicial, dos tratamentos prévios realizados e da localização da recidiva. Pode envolver rt, Qt, hormonoterapia e/ou cirurgia. a recidiva vaginal é a mais comum, e o seu tratamento pode passar pela braquiterapia vaginal + rt externa ou pela exploração cirúrgica com ressecção ± rt(3,9). ANEXO ESTADIAMENTO CLÍNICO DA FIGO 1971 Estadio I tumor limitado ao corpo do útero ia Cavidade uterina < 8cm ib Cavidade uterina > 8cm Estadio II tumor invade o colo Estadio III tumor com invasão para além do útero (incluindo a vagina), mas que não ultrapassa a pélvis Estadio IV tumor com invasão para além da pélvis e/ou envolvimento da bexiga e/ou recto e/ou metástases à distância iVa tumor com invasão dos orgãos adjacentes (bexiga e/ou recto) iVb metástases à distância 10 11 cancrO DO cOlO DO ÚterO cancrO DO cOlO DO ÚterO ressonância magnética (rm) pélvica - com indicação de estadiamento, incluindo sequência em t2 axial no abdómen(3) ou rm abdominal e pélvica. a rm pode ser dispensada nos estádios < ib1. Quando existir contra-indicação à realização de rm, a doente deve fazer tC abdomino-pélvica. • Cistoscopia (quando há suspeita clínica de invasão vesical e rm pélvica inconclusiva) • rectosigmoidoscopia (quando há suspeita clínica de invasão do recto e rm pélvica inconclusiva) • Pet-Ct (exame opcional) cancrO DO cOlO DO ÚterO cancrO ginÉcOlógicO • deve ser utilizado, principalmente, para excluir metástases fora da pelve para planeamento da terapêutica ou quando existe recidiva pélvica e se coloca a hipótese de cirurgia radical.(4,5) intrODuçãO o carcinoma do colo do útero representa 6% dos tumores malignos ginecológicos. em Portugal, é o tumor maligno genital mais frequente. o carcinoma pavimento-celular é o tipo histológico mais comum. actualmente, o adenocarcinoma tem vindo a aumentar a sua frequência relativa. em Portugal, a incidência registada em 2005, no registo oncológico nacional, foi de 8,77/100 000 mulheres com 545 novos casos.(1) nos anos 90, a epidemiologia e a biologia molecular estabeleceram uma relação causal entre infecção persistente pelo vírus do papiloma humano (HPV) de alto risco e o cancro do colo do útero. o prognóstico relaciona-se com a extensão tumoral (estádio e volume), o tipo histológico, a invasão de espaços linfo-vasculares e a metastização ganglionar. este protocolo aplica-se aos tipos histológicos comuns (carcinoma pavimentocelular, adenoescamoso e adenocarcinoma) estando excluídos outros tipos histológicos, como: carcinoma neuroendócrino, outros carcinomas, melanoma maligno, sarcomas e linfomas. DiagnósticO • • 14 exame clínico e ginecológico diagnóstico histológico a conização é recomendada sempre que a biópsia não define com precisão a existência ou não de invasão e quando há suspeita de neoplasia microinvasiva. o diagnóstico de carcinoma microinvasivo só é aceitável em peça cirúrgica. em peças de conização, traquelectomia ou histerectomia é indispensável a medição da infiltração em profundidade e extensão do componente invasivo da neoplasia, o que permitirá (se as margens são livres do tumor) o correcto estadiamento dos tumores < ib1.(2) • exames laboratoriais de rotina • radiografia do tórax estaDiaMentO o estadiamento do carcinoma do colo do útero é clínico/imagiológico. o estadio não deve ser alterado pelos achados subsequentes. Quando há dúvidas quanto ao estadio a atribuir a um tumor, deve classificar-se no estádio mais precoce. Estadiamento FIGO 2009:(6) Estadio I - Carcinoma limitado ao colo IA - Carcinoma pré-clínico (só diagnóstico histológico) IA1 - invasão do estroma < 3 mm em profundidade e < 7 mm em extensão IA2 - invasão do estroma > 3 mm e < 5mm em profundidade e < 7 mm em extensão IB - Carcinoma com dimensões superiores ao estadio ia IB1 - tumor < 4 cm IB2 - tumor > 4 cm Estadio II - Carcinoma estende-se para além do colo, mas não atinge a parede pélvica e/ou carcinoma invade a vagina mas não o 1/3 inferior IIA1 - Carcinoma < 4 cm de maior eixo não infiltra o paramétrio IIA2 - Carcinoma > 4 cm de maior eixo não infiltra o paramétrio IIB - Carcinoma infiltra o paramétrio Estadio III - Carcinoma invade o 1/3 inferior da vagina e/ou estende-se à parede pélvica IIIA - invasão do 1/3 inferior da vagina IIIB - extensão à parede pélvica, e/ou hidronefrose, e/ou rim não funcionante Estadio IV - Carcinoma invade a mucosa da bexiga e/ou do recto e/ou estende-se para além da pelve IVA - o tumor invade a mucosa da bexiga e/ou do recto IVB - metástases à distância incluindo, metástases ganglionares inguinais 15 no carcinoma do colo do útero a decisão terapêutica é influenciada pelos factores de prognóstico da doença, pela capacidade técnica da instituição e pela preferência da doente. nos estadios precoces – ia1, ia2 e ib1 < 2 cm - pode ser efectuada cirurgia conservadora. nos estadios ib1 e iia1 quer a cirurgia radical quer a radioterapia são terapêuticas adequadas. nos tumores mais volumosos - estadios ib2 a iVa - a quimiorradioterapia é o tratamento preferencial. no tratamento por radioterapia deve associar-se, sempre que possível, radioterapia externa e braquiterapia intracavitária. HISTEREcTOMIA RADIcAl PIvER III lINFADENEcTOMIA PélvIcA BIlATERAl* ± BIóPSIAS DE GâNGlIOS lOMBOAóRTIcOS Gânglios pélvicos negativos sem outros factores de prognóstico Vigilância clínica Gânglios pélvicos negativos com 2 ou mais factores de prognóstico: - tumores > 4 cm - invasão profunda do estroma (>2/3 da espessura) - invasão linfovascular radioterapia(11-15) cancrO DO cOlO DO ÚterO cancrO ginÉcOlógicO Estádio IB1 IIA1 trataMentO Estádio IA cONIzAçãO* margens negativas estudo endocervical negativo estádio ia1 sem invasão linfovascular Vigilância clínica**ou Histerectomia estádio ia1 com invasão linfovascular estádio ia2 sem desejo de fertilidade Histerectomia radical com linfadenectomia pélvica (Piver ii) terapêutica adjuvante (baseada nos parâmetros cirúrgico-patológicos como no estádio ib1) margens positivas estudo endocervical negativo reconização ou, se impossível, Histerectomia radical com linfadenectomia pélvica (Piver ii) Com desejo de fertilidade traquelectomia radical*** linfadenectomia pélvica Gânglios negativos Vigilância clínica Gânglios Positivos tratamento individualizado Gânglios pélvicos positivos e/ou Paramétrios infiltrados e/ou margens cirúrgicas positivas Quimiorradioterapia(16) Gânglios lomboaórticos positivos tC tórax /Pet-Ct sem metástases à distância Com metástases à distância Quimiorradioterapia biópsia (a considerar) negativo Positivo Quimioterapia radioterapia Notas: 1. no estadio ia1 sem invasão linfovascular, em doentes com contra-indicação cirúrgica, está indicada braquiterapia intracavitária; 2. no estadio ia1 com invasão linfovascular e no estadio ia2, em doentes com contra-indicação cirúrgica, está indicada braquiterapia intracavitária e radioterapia externa. 3. no adenocarcinoma ia está indicada a histerectomia radical tipo ii com anexectomia bilateral e linfadenectomia pélvica bilateral. 16 * conização deve ser em peça única. ** só se a peça de conização tiver margens livres de tumor. no caso de existir colonização de “glândulas” endocervicais por carcinoma in situ tem indicação para terapêutica cirúrgica. *** a traquelectomia radical com linfadenectomia pélvica bilateral deve ser efectuada em centros com experiência(7-10). Notas: 1 Quando a margem cirúrgica vaginal é inferior a 5 mm é recomendada radioterapia. 2 em doentes sem condições cirúrgicas é recomendada radioterapia. 3 no estádio ib1 < 2 cm, em mulheres que desejam preservar a fertilidade, é aceitável a traquelectomia radical com linfadenectomia pélvica bilateral efectuada em centros com experiência. 4 a identificação e a biópsia do gânglio sentinela no carcinoma do colo do útero ainda não é preconizada por rotina; apenas em estudos de investigação(17-20). *Mínimo exigível de 12 gânglios pélvicos (6 à direita e 6 à esquerda). 17 carcinoma do colo do útero e Gravidez ESTáDIO > IA2 RM Gânglios lombo-aórticos positivos* (confirmado por citologia ou histologia) Gânglios lombo-aórticos negativos Gestação < 20 semanas Gestação > 20 semanas tratar de acordo com o protocolo* maturidade fetal cancrO DO cOlO DO ÚterO cancrO ginÉcOlógicO Estádio IB2, IIA2, IIB, IIIA, IIIB, IvA tratar de acordo com o protocolo tC tórax/Pet-Ct sem metástases à distância Com metástases à distância Quimiorradioterapia Quimioterapia (25-30) Quimiorradioterapia Notas: • a proposta de tratamento deve ser objecto de uma avaliação multidisciplinar * Pode ou não haver interrupção da gravidez prévia. Recidiva do carcinoma do colo do Útero Notas: • no estádio iVa com fístula urinária e/ou rectal ponderar tratamento primário por exenteração pélvica após exclusão de doença extra-pélvica (imagiologia /Pet-Ct). * REcIDIvA PélvIcA Os gânglios lombo-aórticos suspeitos devem ser confirmados por biópsia (citologia/histologia) Com radioterapia prévia doença não Central doença Central* Quimioterapia Cuidados paliativos exenteração pélvica sem radioterapia prévia radioterapia e/ou Quimioterapia Estádio Iv Quimioterapia radioterapia decisão individual * 18 Doença limitada à pelve com intervalo livre de doença > 1 ano. em casos seleccionados, ponderar cirurgia menos radical. 19 (1) REcIDIvA ExTRA-PélvIcA registo Oncológico nacional 2005 (3) van vierzen P, clin radiol 1998 (4) Kidd ea et al: cancer 2007; 110:1650-3 (5) chung HH, Jo H, Kang WJ, et al. clinical impact of integrated Pet/ct on the management of suspected cervical cancer recurrence. gynecol Oncol. 2007; 104:529-534 Única múltipla ou irressecável Cirurgia ou radioterapia ou Quimioterapia (6) Pecorelli s. revised FigO staging for carcinoma of the vulva, cervix, and endometrium. int J gynaecol Obstet. 2009; 105:103-104 (7) Koliopoulos g, sotiriadis a, Kyrgiou M. conservative surgical methods for FigO stage ia squamous cervical carcinoma and their role in preserving women’s fertility,. gynecol Oncol. 2004;93:469-473 Quimioterapia Cuidados paliativos (8) Bernardini M, Barrett J, seaward g, covens a. Pregnancy outcomes in patients after radical trachelectomy. am J Obstet gynecol. 2003;189:1378-1382 cancrO DO cOlO DO ÚterO cancrO ginÉcOlógicO biblioGraFia (9) Boss ea, van golde rJ, Beerendonk cc, Massuger lF. Pregnancy after radical trachelectomy: a real option? gynecol. Oncol. 2005;99:s152-156 (10) Plante M, renaud Mc, Hoskins ia, vaginal radical trachelectomy: a valuable fertility-perserving option in the mamagement of early-stage cervical cancer. a series of 50 pregnancies and review of the literature. gynecol Oncol. 2005;98:3-10 (11) seguiMentO Consulta de Ginecologia oncológica: • 1º ano: 4/4 meses e citologia anual • 2º ano: 6/6 meses e citologia anual • 3º ao 5º ano: consulta anual com citologia • >5º ano: considerar alta para o médico assistente os exames complementares de diagnóstico devem ser realizados em função da sintomatologia e do exame clínico da doente. Considerar a realização de exames imagiológicos (rm pélvica/tC abdomino-pélvico) nos 3 primeiros anos(31-33). seddis a, Bundy Bn, rotman Mz. a randomized trial of pelvic radiation therapy versus no further therapy in selected patients with satge iB carcinoma of the cervix after radical hysterectomy and pelvic lymphadenectomy: a gynecologic Oncology group study. gynecol Oncol. 1999;73-177-183 (12) rotman M, sedlis a, Piedmonte Mr, et al. a phase iii randomized trial of postoperative pelvic irradiation in stage iB cervical carcinoma with poor prognostic features:follow-up of a gynecologic oncology group study. int J radiat Oncol Biol Phys. 2006;65:169-176 (13) Monk Bj, Wang J, im s,. rethinking the use of radiation and chemotherapy after radical hysterectomy: a clinical-pathologic analysis of a gynecologic Oncology group/southwest Oncology group/radiation therapy Oncology group trial. gynecol Oncol. 2005; 96:721-728 (14) chernofsky Mr, Felix Jc, Muderspach li,. influence of quantity of lymph vascular space invasion on time to recurrence in women with early –stage squamous cancer of the cervix. gynecol Oncol. 2006;100:288-293 (15) Keys HM, Bundy Bn, stehman FB,. cisplatin, radiation, and adjuvant hysterectomy compared with radiation and adjuvant hysterectomy for bulky stage iB cervical carcinoma. n engl J Med. 1999;340:11541161 (16) Peters Wa, 3rd, liu PY, Barrett rJ, 2nd. concurrent chemotherapy and pelvic radiation therapy compared with pelvic radiation therapy alone as adjuvant therapy after radical surgery in high-risk earlystage cancer of the cervix. J clin Oncol. 2000;18:1606-1613 (17) altgassen c, Hertel H, Brandstadt a, Kohler c. Multicenter validation study of the sentinel lymph node concept in cervical cancer: agO study group. J clin Oncol. 2008;26:2943-2951 (18) selman tJ, Mann c, zamora J,. Diagnostic accuracy of tests for lymph node status in primary cervical câncer: a systematic review and meta-analysis. cMaJ. 2008;178:855-862 (19) van de lande J, torrenga B, raijmakers Pg. sentinel lymph node detection in early stage uterine cervix carcinoma: a systematic review. gynecol Oncol. 2007;106:604-613 (20) schneider a, the sentinel concept in patients with cervical cancer. J surg Oncol. 2007;96:337-341 20 21 cancrO DO OváriO cancrO DO OváriO 23 intrODuçãO aproximadamente 90% dos tumores primitivos do ovário têm origem no epitélio de superfície e surgem, sobretudo, em mulheres pós-menopáusicas. em geral, 75% dos tumores são diagnosticados nos estadios iii e iV, dada a inexistência de sintomas específicos. de acordo com os últimos dados disponíveis (registo oncológico nacional – 2005), a taxa de incidência padronizada à população europeia foi de 6,63 por 100 000 mulheres. o cancro do ovário é o mais letal dos cancros ginecológicos. nos últimos 25 anos houve uma modesta melhoria na sobrevivência global para as doentes com cancro do ovário, estimando-se a sobrevivência aos 5 anos em 37%, no início dos anos 70, e em 44%, em 2000. cancrO DO OváriO cancrO ginÉcOlógicO ficadas, formando tufos, arranjos cribriformes ou micropapilares, com estratificação celular e atipia ligeira a moderada. associam-se a implantes peritoneais (dois terços dos casos), do tipo invasivo e não invasivo; ou, em 20% dos casos, a implantes em gânglios linfáticos. a ocorrência de implantes peritoneais invasivos (15-25% dos casos) confere-lhes um pior prognóstico, comparativamente à associação com implantes não-invasivos (evolução prolongada, indolente). microinvasão (um ou mais focos de células individuais ou agrupamentos celulares invadindo o estroma, nenhum deles excedendo 10 mm2) está presente em 10-15% dos casos. os tumores “borderline” são considerados lesões precursoras do carcinoma seroso de baixo grau, podendo ocorrer simultaneamente ou no seu seguimento (<15%). o carcinoma seroso de baixo grau (raro) é caracterizado por atipia citológica ligeira a moderada e baixo índice mitótico. os tumores “borderline” podem, também, ser do tipo mucinoso e, mais raramente, do tipo endometrióide. Distinguem-se dois tipos de tumores mucinosos “borderline”: • o tipo endocervical (10-15%), bilateral em 40% dos casos, podendo associar-se a implantes abdominais e pélvicos, alguns dos quais invasivos, mas apresentando um curso clínico indolente. • o tipo intestinal (85-90%), bilateral em 5% dos casos, podendo conter áreas de carcinoma intraepitelial e associar-se, em casos avançados, a implantes invasivos. nestes casos, o prognóstico é semelhante aos carcinomas mucinosos do ovário com metástases. os tumores mucinosos do ovário associados a pseudomixoma peritoneal são, numa grande percentagem, bilaterais e quase todos de origem metastática, segundo a evidência recente. deste modo, é muito importante a distinção entre tumor mucinoso “borderline” ou carcinoma mucinoso (primário) do ovário e carcinoma metastático (do apêndice, do cólon, do trato gastrointestinal superior, do pâncreas, etc.). HistOlOgia 24 dos tumores malignos do ovário, aproximadamente 90% são epiteliais (com origem no epitélio de superfície ou em seus derivados mullerianos). são compostos por um ou mais tipos distintos de epitélio, à mistura com uma quantidade variável de estroma. o seu comportamento biológico varia de acordo com o tipo histológico. Cada tipo de tumor é dividido em três categorias de relevância prognóstica: benigno (adenoma, papiloma), maligno (carcinoma) e de baixo potencial maligno (malignidade intermédia ou “borderline”). o padrão de crescimento, (cístico ou de superfície) e o predomínio da presença de estroma são igualmente referidos na classificação. segundo a evidência actual, o cancro do ovário representa um grupo de entidades distintas, apresentando diversos tipos de carcinogénese, devendo beneficiar de uma abordagem mais específica. assim, importa considerar os seguintes aspectos: o tumor seroso “borderline” é um tumor epitelial de baixo potencial maligno, bilateral em 30 a 50% dos casos, que se caracteriza por uma proliferação de células epiteliais, de tipo seroso, dispostas em papilas hierarquicamente rami- ABOrDAGEM pATOGENéTICA E COrrELAçãO MOLECuLAr a subclassificação proposta por Kurman, baseada em dados morfológicos e genéticos, distingue dois grupos, designados tipo i e tipo ii. tumores de tipo i incluem aqueles que derivam de lesões precursoras, bem caracterizadas, nomeadamente tumores “borderline”. alguns têm um crescimento variável (mucinosos, endometrióides), enquanto outros são neoplasias de crescimento lento (carcinomas serosos de baixo grau). Caracterizam-se por relativa estabilidade genética, associando-se a diferentes mutações (incluindo Kras, braF, Pten e β-Catenina). tumores de tipo ii são, pelo contrário, biologicamente agressivos, sem lesões precursoras identificáveis, pensando-se ter origem de novo a partir do epitélio celómico. este grupo inclui a maioria dos carcinomas serosos (de alto grau), carcinomas de células claras, carcinomas de células de transição, tumores mullerianos mistos malignos e carcinomas indiferenciados. Caracterizam-se por instabilidade genética e mutações do tP53. o cancro hereditário associado a 25 DiagnósticO Tumores do epitélio-estroma de superfície Tipos histológicos (componente epitelial) • serosos • mucinosos • endometrióides • Células claras • Células de transição (incluindo brenner) • Células pavimentosas ou espinocelulares • epiteliais mistos • indiferenciados e inclassificáveis. o diagnóstico do cancro do ovário é feito em fases avançadas da doença em cerca de 70% das doentes. • História Clínica • exame objectivo • ecografia pélvica (eventualmente complementada com rmn pélvica) • marcadores tumorais – Ca 125, outros se clinicamente indicados (Ca 19.9, Ca 72.4 e ratio Ca125/Cea) • estudo do tubo digestivo, se clinicamente indicado • taC abdomino-pélvico • radiografia/taC torácico • imagiologia de intervenção • laparoscopia Grau de malignidade do componente epitelial e/ou estromal • borderline (ou de baixo potencial maligno) • maligno • Carcinoma • sarcoma • ambos (tumor mulleriano misto maligno) a avaliação por taC de critérios de ressecabilidade habitualmente aceites ou, se necessário, a laparoscopia, recomendam-se na doença avançada para decisão de quimioterapia neo-adjuvante. o diagnóstico deverá ser histológico (biópsia com obtenção de espécime para exame histológico por imagiologia de intervenção ou laparoscopia). o diagnóstico intra-operatório por exame extemporâneo é obrigatório, salvo em alguns tumores disseminados. Tumores de células germinativas • disgerminoma • tumor do saco vitelino (do seio endodérmico) • Carcinoma embrionário • Coriocarcinoma não-gestacional • teratoma imaturo • tumor de células germinativas maligno misto (especificar tipos) • tumores malignos de tipo somático associados a teratoma maduro (especificar tipo) • outro Tumores dos cordões sexuais-estroma • tumor de células da granulosa, do tipo adulto e juvenil • tumor de células de sertoli-leydig • outro Outros • Carcinoma de pequenas células, do tipo pulmonar e hipercalcémico • Carcinoma neuroendócrino de grandes células cancrO DO OváriO cancrO ginÉcOlógicO mutações do brCa1 e do brCa2 pertence ao grupo de tumores de tipo ii. É recomendada a classificação da organização mundial de saúde (oms) para os tumores do ovário, que se indica, seguidamente, de forma abreviada: estaDiaMentO o estadiamento do cancro do ovário é cirúrgico. deve estabelecer-se após laparotomia exploradora, a menos que se trate de doença considerada irressecável ou houver contra-indicação cirúrgica (nesse caso, aceitam-se dados dos métodos de imagem. aceita-se a classificação da FiGo revista em 1997. Estádio I - Tumor limitado aos ovários ia - tumor limitado a um ovário; cápsula intacta; ausência de tumor na superfície ovárica ib - tumor limitado a ambos os ovários cápsula intacta; ausência de tumor na superfície ovárica ic - tumor limitado a um ou ambos os ovários com cápsula rota e/ou tumor na superfície ovárica e/ou células neoplásicas na ascite ou no lavado peritoneal* Estádio II - O tumor envolve um ou ambos os ovários com extensão pélvica iia - extensão e/ou implantes no útero e/ou trompa iib - extensão a outras estruturas pélvicas iic - extensão e/ou implantes no útero e/ou trompa ou a outras estruturas pélvicas, com células neoplásicas na ascite ou no lavado peritoneal* 26 27 iiia - metástases peritoneais microscópicas fora da pelve iiib - metástases peritoneais macroscópicas fora da pelve menores ou iguais a 2 cm de maior dimensão iiic - metástases peritoneais macroscópicas fora da pelve >2 cm de maior dimensão e/ou metástases nos gânglios regionais ou inguinais** Estádio Iv - Metástases à distância (metástases peritoneais excluídas) * deve ser discriminado se a rotura da cápsula foi espontânea ou durante a cirurgia e se a citologia é positiva em lavado peritoneal ou em líquido ascítico. ** metástases na cápsula hepática correspondem ao estadio iii. metástases no parenquima hepático correspondem ao estadio iV. o derrame pleural deve ter citologia positiva para células malignas para atribuição do estadio iV. asPectOs gerais DO trataMentO o tratamento padrão actual do cancro do ovário consiste na cirurgia primária seguida, frequentemente, por quimioterapia adjuvante. Quando existe uma elevada probabilidade, fundamentada em parâmetros clínico-imagiológicos, de a doença ser irressecável ou de não ser alcançável a cirurgia de citorredução óptima em estadios iiiC e iV, a quimioterapia neoadjuvante e cirurgia de intervalo é uma opção terapêutica a ponderar em grupo multidisciplinar. Cabe a cada equipa multidisciplinar estabelecer os seus critérios de ressecabilidade e proceder à selecção de doentes para cirurgia e para quimioterapia neoadjuvante. Doença aparentemente limitada à pélvis • massas tumorais aparentemente confinadas ao/s ovário/s são removidas intactas e enviadas para estudo extemporâneo. • Citologia das cúpulas diafragmáticas por raspagem ou, em alternativa, biópsia. • biópsias de todas as lesões suspeitas ou em zonas de aderências. biópsias múltiplas, em zonas aparentemente sãs, a nível do fundo-de-saco de douglas, peritoneu vesical, goteiras parieto-cólicas, mesentério e meso-colon. • omentectomia infra-cólica. • apendicectomia obrigatória nos tumores mucinosos. • linfadenectomia pélvica e para-aórtica sistemática interessando os gânglios obturadores, ilíacos internos, externos e primitivos, e aórticos, idealmente até às artérias renais. deverão ser removidos, no mínimo, 6 gânglios pélvicos de cada lado. • Histerectomia total e anexectomia bilateral. • descrição minuciosa dos achados operatórios e da doença residual (localização e tamanho). cancrO DO OváriO cancrO ginÉcOlógicO Estádio III - O tumor interessa um ou ambos os ovários com metástases peritoneais confirmadas fora da pelve e/ou metástases ganglionares Doença avançada • líquido ascítico aspirado. • inspecção e palpação de toda a cavidade peritoneal para avaliar a extensão tumoral. • o máximo esforço cirúrgico é a regra. tipicamente são realizadas histerectomia total e anexectomia bilateral, omentectomia total e remoção da doença metastática das superfícies peritoneais e intestino. as ressecções intestinais são justificadas se detectada lesão estenosante/oclusiva ou se a doença residual for ausente ou mínima no final da intervenção. • mesmo na presença de doença disseminada, onde uma cirurgia de redução óptima se considere inexequível é, habitualmente, possível e desejável remover o tumor primitivo e/ou o “omental cake” – massa tumoral em que está transformado o epiplon. • na doença irressecável são apenas efectuadas biópsias. cirurgia Primária cirurgia a cirurgia é a terapêutica primária recomendada e deve ser realizada por médicos com treino em Ginecologia oncológica. na ausência de contra-indicação cirúrgica e/ou de critérios de irressecabilidade tumoral, a laparotomia exploradora constitui a abordagem inicial do cancro do ovário. Metodologia • incisão mediana, infra, para e supra-umbilical. • Colheita de líquido presente no fundo-de-saco de douglas para exame citológico ou citologia do lavado peritoneal (~300 ml de soro fisiológico). • toda a cavidade peritoneal é explorada (inspecção e palpação), diafragma, intestino em toda a sua extensão e órgãos abdominais incluídos. 28 Máxima redução tumoral a cirurgia primária tem por objectivo o estadiamento correcto da doença e a realização da máxima redução tumoral, de modo a que as lesões residuais sejam o mais pequenas possível, idealmente ausentes. define-se citorredução óptima quando as maiores lesões tumorais residuais são inferiores a 1 cm. Vários ensaios clínicos demonstraram o benefício da citorredução óptima no que concerne a resposta à quimioterapia adjuvante, intervalo livre de doença e sobrevivência global. a cirurgia radical usada no cancro avançado do ovário com disseminação extensa tem por objectivo aumentar a taxa de redução tumoral óptima. Para tanto, podem ser realizadas histerectomia tipo (Piver) 1, 2 ou 3, omentectomia total e esplenectomia, peritonectomia (diafragma incluído), ressecções intestinais e eventualmente exenterações pélvicas e hepatectomia segmentar. 29 conservadora a cirurgia conservadora (laparotomia exploradora com anexectomia unilateral, biópsia do ovário contralateral e estadiamento completo) está indicada, apenas, se a doente desejar preservar a fertilidade, não tiver história de cancro hereditário do ovário e o tumor do ovário for “borderline” ou cancro epitelial ia G1. QuiMiOteraPia a quimioterapia é um componente essencial do tratamento do cancro do ovário. Quimioterapia Adjuvante realizada após cirurgia tem fins curativos. está indicada nos tumores de células claras (qualquer estadio) e, para os outros tipos histológicos, tumores nos estádios ia ou ib G3, ic, ii e iii. o regime recomendado é carboplatina (auC 5-7.5) e paclitaxel 175 mg/m2/3h, cada 3 semanas, 6 ciclos. em alternativa, a associação cisplatina e paclitaxel(1 a 10). cancrO DO OváriO cancrO ginÉcOlógicO Contudo, não existem estudos que demonstrem maior sobrevivência das doentes submetidas a cirurgia radical ou ultra-radical. além do mais, a morbilidade é maior e a qualidade de vida tende a piorar com esta cirurgia agressiva. cirurgia Secundária Intervalo a cirurgia de cito-redução de intervalo, também conhecida por cirurgia de intervalo, é realizada após resposta à quimioterapia neoadjuvante (3 ou 4 ciclos) ou em doentes que efectuaram quimioterapia após uma cirurgia primária de redução tumoral incompleta. Redução tumoral o regime com Docetaxel, 60-75 mg/m2, ev, em perfusão de 1h, d1 seguido de carboplatina, auC 5 a 6 ev, em perfusão de 1h, d1 a cada 3 semanas, está preconizado se existe alguma contra-indicação ao uso de paclitaxel. recentemente foi publicado um estudo com o regime com paclitaxel semanal que revelou vantagens significativas no ild e sobrevivência global. • Carboplatina (auC 6) e paclitaxel 80 mg/m2, ev, perfusão de 1h, nos d1, d8, d15, a cada 3 semanas num total de 6 a 9 ciclos(10, 15). a cirurgia secundária de redução tumoral está reservada a pacientes com um longo intervalo livre de doença, pelo menos 12 meses. só deverá ser realizada se julgada exequível, ou seja, se respeitadas algumas condições: • bom estado geral • ausência de ascite ou ascite estimada <500 ml • o exame clínico e a imagiologia pré-operatória sugerem doença localizada e ressecável • • Paliativa um estudo randomizado da eortC validou esta modalidade terapêutica, demonstrando vantagens na redução da morbilidade operatória(16). a cirurgia paliativa na doença recidivante justifica-se, exclusivamente, como terapêutica sintomática ou visando o tratamento de complicações (habitualmente obstrução intestinal), contribuindo para uma melhor qualidade de vida e podendo mesmo prolongar a sobrevivência. Abordagem laparoscópica a utilização da laparoscopia deve ser efectuada por equipas com treino em cirurgia oncológica e em situações seleccionadas. a sua utilização pressupõe as mesmas orientações oncológicas que a cirurgia aberta. a sua utilidade tem sido demonstrada por vários estudos, nomeadamente em estadios precoces, na cirurgia conservadora, na selecção de doentes para quimioterapia neoadjuvante, na realização de cirurgia de intervalo após quimioterapia neoadjuvante. Quimioterapia Neoadjuvante ou Primária realizada em estádios avançados para redução das massas tumorais (3 ciclos), de modo a permitir uma cirurgia de intervalo o mais completa possível. está indicada nas seguintes circunstâncias: doença irressecável pela extensão ou localização (como sugerido por taC) Co-morbilidades que aumentem o risco cirúrgico Quimioterapia Intraperitoneal apesar da existência de ensaios randomizados demonstrando a eficácia da quimioterapia iP em doentes no estadio iii com doença residual <1 cm, a interpretação dos resultados é controversa e a toxicidade e complicações são significativamente superiores à via endovenosa, o que tem impedido a generalização da sua utilização na prática clínica. além do mais, desconhecem-se o regime de quimioterapia iP, número de ciclos e método de administração óptimos. (11 a 14) relativamente à quimioterapia peritoneal hipertérmica, não existem estudos randomizados a validar o seu uso por rotina na prática clínica. no entanto, existem centros em Portugal com experiencia nesta técnica com obtenção de bons resultados, sendo de considerar em doentes devidamente seleccionados. Quimioterapia de Manutenção / consolidação administrada a pacientes sem doença clínica (Ca 125 e taC abdomino-pélvica normais) após conclusão da quimioterapia de 1ª linha por cancro avançado do ovário. os estudos realizados, nomeadamente com paclitaxel ou carboplatina, não demonstraram benefícios na sobrevivência global ou na sobrevivência livre de doença. 30 31 a quimioterapia de altas doses, com ou sem factores de crescimento hematopoiéticos, tem sido usada na erradicação de doença residual mínima. além da elevada toxicidade, com impacto significativo na qualidade de vida, não foi demonstrado o seu valor no aumento da sobrevivência. PrOtOcOlO DO trataMentO aDJuvante Após estadiamento cirúrgico completo raDiOteraPia a radioterapia não está indicada no tratamento primário ou adjuvante do cancro do ovário. Pode ser usada, raramente, com fins paliativos em doença localizada e sintomática. teraPêutica HOrMOnal na doença recidivante e em doentes sem performance/status compatível com quimioterapia, têm sido usados os análogos da GnrH e tamoxifeno, fulvestrant, mas também anti-androgénios e inibidores da aromatase com resultados modestos. PrOtOcOlO DO trataMentO PriMáriO laparotomia exploradora, Ht + ab e estadiamento completo desejo de preservação da fertilidade e aparente estadio ia: anexectomia unilateral e estadiamento completo Doença avançada (estadios IIb a Iv) • • laparotomia exploradora com máximo esforço cirúrgico doença irressecável: biópsia Qt neoadjuvante cirurgia prévia e/ou estadiamento incompletos individualizar a terapêutica: • • • laparotomia exploradora para completar estadiamento Qt Qt seguida por cirurgia de intervalo Vigilância Células claras ia ou ib (G3) ic, ii, iii ou iV paclitaxel + carboplatina/cisplatina ou ensaio clínico PrOtOcOlO De vigilância • 1º e 2º ano exame clínico e Ca 125, ou outro marcador tumoral anormal na data do diagnóstico, cada 3 meses exames complementares de acordo com a situação clínica (aparecimento de sinais e/ou sintomas) • 3º ano exame clínico e Ca 125, ou outro marcador tumoral anormal na data do diagnóstico, cada 4 meses exames complementares de acordo com a situação clínica • 4º ao 5º ano exame clínico e Ca 125, ou outro marcador tumoral anormal na data do diagnóstico, cada 6 meses exames complementares de acordo com a situação clínica Tumor clinicamente limitado ao aparelho genital (estadios I e IIa) • • ia ou ib (G1 ou G2) cancrO DO OváriO cancrO ginÉcOlógicO Quimioterapia de Altas Doses a taC abdomino-pélvica não deve ser pedida por rotina. deve ser requisitada quando houver evidência clínica ou aumento do Ca 125 que sugiram doença em progressão. o Pet-Ct poderá ser considerado em situações seleccionadas, nomeadamente na detecção de outras localizações tumorais, doença ganglionar, peritoneal ou hepática subcapsular e permite, ainda, uma melhor selecção das pacientes potencialmente elegíveis para cirurgia secundária. a doente é incentivada a recorrer ao serviço sempre que surjam sinais e/ou sintomas sugestivos de recorrência. trataMentO Da recOrrência actualmente, não é possível padronizar a terapêutica das recorrências tumorais, sendo a terapêutica instituída com base na avaliação da sensibilidade aos platinos, performance status, co-morbilidades e perfil de toxicidade do regime previamente utilizado. 32 33 a quimioterapia é a terapêutica habitualmente recomendada na doença recidivante. o protocolo da quimioterapia a seleccionar deve ser baseado na sensibilidade aos platinos. define-se doença refractária como aquela em que há progressão durante a terapêutica primária. as doentes com resposta ao tratamento primário, mas com recorrência precoce – inferior a 6 meses após conclusão deste – são identificadas como tendo doença resistente aos derivados da platina. se a recorrência surgir num período igual ou superior a 6 meses, a doença é designada como sensível aos derivados da platina. não há indicação para quimioterapia em doentes assintomáticas, com elevação do Ca 125, mas sem sinais clínicos ou imagiológicos de recorrência. o estudo de fase iii desenvolvido pela eortC veio confirmar, definitivamente, que tanto nas doentes sensíveis como nas resistentes ao platino, o tratamento está, apenas, recomendado se clinicamente indicado e não com base em critérios laboratoriais. tuMOres BOrDerline DO OváriO Estadiamento padrão • Na doença sensível aos derivados da platina devem ser usadas associações com estes derivados. • paclitaxel 175 mg/m2, e.v. em perfusão de 3 horas no d1, seguido de carboplatina, auC 5-6, ev, em perfusão de 30 min, d1 a cada 3 semana. • paclitaxel 175 mg/m2, e.v. em perfusão de 3 horas no d1, seguido de cisplatina, 75 mg/m2, em perfusão de 2h, d1 a cada 3 semanas, em doentes com reacção de hipersenssibilidade prévia à carboplatina • Docetaxel, 60-75 mg/m2, ev, em perfusão de 1h, d1 seguido de carboplatina, auC 5 a 6 ev, em perfusão de 30 min, d1 a cada 3 semanas. Habitualmente preconizado se existe alguma contra-indicação ao uso de peclitaxel, nomeadamente neuropatia. • Doxorrubicina lipossómica peguilada 30 mg/m2, ev, em perfusão de 1h, d1 seguido de carboplatina, auC 5, ev, em perfusão de 30 minutos, d1 a cada 4 semanas. • Gemcitabina 1000 mg/m2 ev, perfusão de 30 minutos, nos d1, d8 seguido de carboplatina, auC 4, ev, em perfusão de 30 minutos, d1 a cada 3 semanas; • Trabectadina 1.1 mg/m2, ev, em perfusão de 3h, d1 e Doxorrubicina lipossómica peguilada 30 mg/m2, ev, em perfusão de 1h, d1, a cada 3 semanas. • Carboplatina, auC 5 a 6 ev, em perfusão de 30 minutos, d1 a cada 3 semanas; em doentes com baixo performance status ou com co-morbiliddes que imponham risco elevado para a utilização de regimes de poliquimioterapia Na doença refractária ou resistente poderão ser utilizados citostáticos em 2ª linha, habitualmente em monoterapia e de modo sequencial: • • • • • • 34 Doxorrubicina lipossómica peguilada, 30 a 40 mg/m2 (40 a 50 mg/m2 associada a maior incidência de síndrome palmo-plantar) mg/m2 ev no d1, a cada 4 semanas; Topotecano, 2,5 a 4 mg/m2 ev nos d1, d8 e d15 a cada 4 semanas; Topotecano, 1,25 mg/m2 ev nos d1 a 5 a cada 3 semanas; Gemcitabina 1000 mg/m2 ev, perfusão de 30 minutos, nos d1, d8 e d15 a cada 4 semanas; Vinorelbina, 25 mg/m2 ev semanalmente; Etoposido oral cancrO DO OváriO cancrO ginÉcOlógicO Quimioterapia • • • • • • • massas tumorais aparentemente confinadas ao/s ovário/s são removidas intactas e enviadas para estudo extemporâneo. Histerectomia total e anexectomia bilateral. Citologia das cúpulas diafragmáticas por raspagem ou, em alternativa, biópsia. biópsias de todas as lesões suspeitas ou em zonas de aderências. biópsias múltiplas, em zonas aparentemente sãs, a nível do fundo-de-saco de douglas, peritoneu vesical, goteiras parieto-cólicas, mesentério e meso-colon. omentectomia infra-cólica. apendicectomia obrigatória nos tumores mucinosos. descrição minuciosa dos achados operatórios e da doença residual (localização e tamanho). cirurgia conservadora a cirurgia conservadora, nomeadamente a anexectomia unilateral com estadiamento completo, poderá ser considerada em doentes que desejam preservar a fertilidade. a decisão de completar a cirurgia não é consensual. Abordagem laparoscópica a abordagem laparóscopica pode ser considerada, sobretudo, em doentes que pretendem preservar a fertilidade. o estadiamento por via laparóscopica deve obedecer às mesmas regras que por laparotomia. Re-estadiamento após cirurgia não completa a decisão de re-estadiar deve ser individualizada, tendo em consideração a capacidade de estadiamento da cirurgia prévia, o sub-tipo de tumor, e as preocupações da doente e cirurgião. os estudos mostram que o re-estadimento terá pouco impacto na sobrevida. Quimioterapia está indicada sempre que existam implantes invasores de acordo com os protocolos utilizados no tratamento do carcinoma invasor. 35 outros 1 icOn1 & eOrtc-actiOn. international collaborative Ovarian neoplasm trial 1 and adjuvant chemotherapy in Ovarian neoplasm trial: two Parallel randomized Phase iii trials of adjuvant chemotherapy in Patients With early-stage Ovarian carcinoma. J. natl. cancer inst. 95, 105-112, doi:10.1093/jnci/95.2.105 (2003). 1. surgery for ovarian cancer e chemotherapy for epithelial ovarian cancer. in gynecologic cancer, editores: eifel PJ, gershenson DM, Kavanagh JJ e silva eg. springer, 2006. 2. Du Bois a, Quinn M, thigpen t e col. 2004 consensus statements on the management of ovarian cancer. annals of Oncology 16 (supplement 8), 2005. icOn1. international collaborative Ovarian neoplasm trial 1: a randomized trial of adjuvant chemotherapy in Women With early-stage Ovarian cancer. J. natl. cancer inst. 95, 125-132, doi:10.1093/jnci/95.2.125 (2003). 3. cancer topics of the national cancer institute: www.cancer.gov/cancertopics/pdq/ 4. epithelial ovarian cancer. in Practical gynecologic Oncology. editores: Berek Js e Hacker nF. lippincott Williams & Wilkins, 2005. 5. Primary surgery e chemotherapy for epithelial ovarian cancer. in gynecologic cancer. contoversies in Management. editores: gershenson, Mcguire, gore, Quinn e thomas. elsevier, 2004. 2 3 36 trimbos, J. et al. impact of adjuvant chemotherapy and surgical staging in early-stage ovarian carcinoma: european Organisation for research and treatment of cancer-adjuvant chemotherapy in Ovarian neoplasm trial. Jnci Journal of the national cancer institute 95, 113 (2003). 4 trimbos, B. et al. surgical staging and treatment of early Ovarian cancer: long-term analysis From a randomized trial. Jnci Journal of the national cancer institute (2010). 6. Harter P, Du Bois a. the role of surgery in ovarian cancer with special emphasis on cytoreductive surgery for recurrence. curr Opin Oncol, 2005, 17: 505-14. 5 Bakkum-gamez, J. n. et al. influence of intraoperative capsule rupture on Outcomes in stage i epithelial Ovarian cancer. Obstetrics & gynecology 113, 11-17 10.1097/aOg.1090b1013e3181917a3181910c (2009). 7. Jemal a, Murray t, Ward e e col. cancer statistics, 2005. ca cancer J clin, 2005, 55: 10-30. 8. tavassoli F e col. World Health Organization of classification of tumours. Pathology & genetics of tumours of the breast and female genital organs. lyon, iarc press, 2003. 6 Ozols, r. F. et al. Phase iii trial of carboplatin and Paclitaxel compared With cisplatin and Paclitaxel in Patients With Optimally resected stage iii Ovarian cancer: a gynecologic Oncology group study. Journal of clinical Oncology 21, 3194-3200, doi:10.1200/jco.2003.02.153 (2003). 9. Bristow re, Duska lr, lambrou nc e col. a model for predicting surgical outcome in patients with advanced ovarian carcinoma using computed tomography. cancer, 2000, 89: 1532-40. 7 vasey, P. a. et al. Phase iii randomized trial of Docetaxel–carboplatin versus Paclitaxel–carboplatin as First-line chemotherapy for Ovarian carcinoma. Journal of the national cancer institute 96, 16821691, doi:10.1093/jnci/djh323 (2004). 8 Paclitaxel plus carboplatin versus standard chemotherapy with either single-agent carboplatin or cyclophosphamide, doxorubicin, and cisplatin in women with ovarian cancer: the icOn3 randomised trial. lancet 360, 505-515 (2002). 9 Mcguire, W. et al. cyclophosphamide and cisplatin compared with paclitaxel and cisplatin in patients with stage iii and stage iv ovarian cancer. new england Journal of Medicine 334, 1 (1996). 10 Bell, J. et al. randomized phase iii trial of three versus six cycles of adjuvant carboplatin and paclitaxel in early stage epithelial ovarian carcinoma: a gynecologic Oncology group study. gynecologic oncology 102, 432-439 (2006). 11 armstrong, D. et al. intraperitoneal cisplatin and paclitaxel in ovarian cancer. new england Journal of Medicine 354, 34 (2006). 12 Markman, M. & Walker, J. intraperitoneal chemotherapy of ovarian cancer: a review, with a focus on practical aspects of treatment. Journal of clinical Oncology 24, 988 (2006). 13 Walker, J. et al. intraperitoneal catheter outcomes in a phase iii trial of intravenous versus intraperitoneal chemotherapy in optimal stage iii ovarian and primary peritoneal cancer: a gynecologic Oncology group study. gynecologic oncology 100, 27-32 (2006). 14 Hess, l. et al. a meta-analysis of the efficacy of intraperitoneal cisplatin for the front-line treatment of ovarian cancer. international Journal of gynecological cancer 17, 561-570 (2007). 15 noriyuki, K. et al. Dose-dense paclitaxel once a week in combination with carboplatin every 3 weeks for advanced ovarian cancer: a phase 3, open-label, randomised controlled trial. lancet 374, 13311338 (2009). 16 vergote, i. et al. neoadjuvant chemotherapy or Primary surgery in stage iiic or iv Ovarian cancer. new england Journal of Medicine 363, 943-953 (2010). 17 Pujade-lauraine, e. et al. Pegylated liposomal Doxorubicin and carboplatin compared With Paclitaxel and carboplatin for Patients With Platinum-sensitive Ovarian cancer in late relapse. Journal of clinical Oncology 28, 3323-3329, doi:10.1200/jco.2009.25.7519 (2010). 18 Monk, B. J. et al. trabectedin Plus Pegylated liposomal Doxorubicin in recurrent Ovarian cancer. Journal of clinical Oncology 28, 3107-3114, doi:10.1200/jco.2009.25.4037 (2010). 19 Burger, r. a. et al. Phase iii trial of bevacizumab (Bev) in the primary treatment of advanced epithelial ovarian cancer (eOc), primary peritoneal cancer (PPc), or fallopian tube cancer (Ftc): a gynecologic Oncology group study. J clin Oncol (Meeting abstracts) 28, lBa1- (2010). 20. Fong, P. c. et al. Poly(aDP)-ribose Polymerase inhibition: Frequent Durable responses in Brca carrier Ovarian cancer correlating With Platinum-Free interval. Journal of clinical Oncology 28, 25122519, doi:10.1200/jco.2009.26.9589 (2010). cancrO DO OváriO cancrO ginÉcOlógicO biblioGraFia 10. Martin g. controversies in surveillance options for patients after initial treatment for ovarian cancer. in Perry Mc (ed): 42 annual Meeting, ascO, 2006. 11. armstrong D, Bundy B e col. Phase iii randomized trial of intravenous cisplatin and paclitaxel versus an intensive regimen of intravenous paclitaxel, intraperitoneal paclitaxel in stage iii ovarian cancer. n engl J Med 2006; 354: 34-43. 12. Mota F, custódio na, Oliveira cF. cancer épithélial de l’ovaire. revue Médicale suisse, in press. 37 cancrO Da vulva cancrO Da vulva aproximadamente 90% dos tumores são carcinomas epidermóides, também designados espinho-celulares ou malpighianos. subdividem-se em vários subtipos histológicos distintos: queratinizante, não-queratinizante, condilomatoso, verrucoso, basalóide e outros mais raros7. o seu aspecto macroscópico varia entre uma placa sobrelevada branca ou avermelhada, até uma lesão exofítica ou ulcerada. outros tipos histológicos menos comuns, compreendem: • melanoma • carcinoma basocelular • tumores malignos da glândula de bartholin (adenocarcinoma, carcinoma epidermóide, carcinoma de células de transição) • sarcoma • tumores dos anexos cutâneos cancrO Da vulva cancrO ginÉcOlógicO HistOlOgia etiOPatOgenia intrODuçãO o cancro da vulva é uma neoplasia rara, representando 4% de todos os cancros ginecológicos, pelo que deve ser referenciado para centros oncológicos com equipas multidisciplinares. no nosso país, e para o ano de 2005, o registo oncológico o registo oncológico nacional registou 81 novos casos, ao que correspondeu uma taxa de incidência padronizada de 0,95/100 000, valor que coincide com o geralmente referido na literatura para os países desenvolvidos(1). esta neoplasia é mais frequente nas mulheres pós-menopáusicas, apresentando um pico de incidência por volta dos 65-70 anos. actualmente, verificase um aumento do número de casos em mulheres jovens, rondando 7% os tumores invasivos diagnosticados em mulheres com menos de 40 anos(2). É reforçada a noção de que qualquer lesão vulvar de diagnóstico incerto exige uma biopsia. a extensão local da neoplasia interessa os órgãos adjacentes (vagina, uretra e ânus). a disseminação linfática para os gânglios inguinais é precoce, seguindose a colonização dos gânglios femorais e pélvicos(3). a disseminação hematogénia é rara e tardia. a dimensão do tumor e a profundidade de invasão do estroma são os principais factores de risco para a metastização ganglionar. o estado ganglionar constitui o factor de prognóstico mais significativo.4 existe, ainda, uma correlação linear directa entre o número de gânglios invadidos, tamanho dos focos invasivos, sua extensão ao tecido peri-ganglionar e o prognóstico da doença(5,6). o carcinoma da vulva pode ser curável quando diagnosticado num estadio precoce (i e ii da FiGo), com taxas de sobrevivência corrigida aos 5 anos superiores a 90% que, contudo, caem para 43% na doença localmente avançada(2). 40 estão identificadas duas vias etiopatogénicas distintas na carcinogénese do epitélio vulvar(8,9). uma relaciona-se com a infecção por HPV (vírus do papiloma humano) oncogénicos que são responsáveis por aproximadamente 40% dos cancros da vulva. os tumores são do tipo basalóide ou condilomatoso e coexistem com lesões de Vin 3. tipicamente, as mulheres encontram-se na 6ª década da vida e apresentam factores de risco como consumo de tabaco, imunodepressão e antecedentes de outras ist. os cancros da vulva independentes do HPV são geralmente do tipo queratinizante, surgem em mulheres mais idosas, frequentemente com antecedentes de inflamação vulvar crónica, coexistem com líquen escleroso ou hiperplasia epidermóide e a mutação do gene supressor tumoral p53 é frequente. DiagnósticO e avaliaçãO Da extensãO tuMOral • • • • • História clínica completa e exame clínico. o prurido vulvar crónico ou uma massa vulvar constituem o motivo de consulta mais frequente. exame ginecológico (para exclusão de neoplasia do colo do útero e vagina). através da inspecção e palpação deverão ser anotados a localização, macroscopia, dimensões e locais de invasão do tumor. as regiões inguinais são cuidadosamente examinadas. diagnóstico histológico com biopsia incisional ou, preferencialmente, excisional e profunda em lesões pequenas <1cm. ecografia inguinal complementada por citopunção de qualquer gânglio suspeito. exames laboratoriais de rotina e radiografia do tórax. 41 estaDiaMentO em 2009, a FiGo modificou o estadiamento cirúrgico do cancro da vulva eliminando o estádio 0 (carcinoma in situ, Vin 3), diminuindo a heterogeneidade do estádio iii e valorizando a invasão ganglionar regional(10). o cancro da vulva dissemina-se por extensão local, embolização linfática e disseminação hematogénia. numa fase inicial, o tumor pode invadir a vagina, uretra distal ou ânus. tumores extensos podem invadir a uretra proximal, bexiga, recto e músculos perineais. a vulva possui uma rede linfática exuberante, pelo que a invasão linfática regional é comum, mesmo para pequenos carcinomas. Primeiro, são invadidos os gânglios inguinais superficiais, depois os femorais, seguindo-se a metastização dos gânglios pélvicos. regra geral, não há invasão dos gânglios pélvicos sem invasão dos inguinofemorais. a metastização hematogénia é tardia e interessa preferencialmente os pulmões, fígado e osso. trataMentO o tratamento actual do cancro da vulva deve ser individualizado, tomando em consideração a idade e co-morbilidades da doente, bem como a localização e extensão das lesões, com o objectivo de preservar a integridade anatómica e funcional da vulva e reduzir a morbilidade da terapêutica mas sem comprometer a sobrevivência(11,12). o tratamento do carcinoma da vulva é, preferencialmente, cirúrgico, complementado ou não por radioterapia. a vulvectomia radical com linfadenectomia inguinofemoral bilateral clássica é raramente usada. actualmente, prefere-se a cirurgia conservadora (excisão local radical do tumor, que implica a extensão até à fáscia perineal, com margens cirúrgicas amplas livres de neoplasia) com incisões separadas (para a vulvectomia e para as linfadenectomias inguinofemorais), que permite o mesmo controlo da doença com menor morbilidade em comparação com a cirurgia clássica. além do mais, muitos centros passaram a usar, por rotina, a identificação e excisão do/s gânglio/s sentinela nos estádios iniciais i e ii (t <4cm e n0), o que reduz significativamente a morbilidade cirúrgica(13). Para os tumores localmente avançados, a redução tumoral obtida pela radioquimioterapia ou radioterapia isolada (se quimioterapia contraindicada), em regime neoadjuvante, permite uma cirurgia menos mutiladora(14-16). bons resultados foram também documentados com a quimioterapia neoadjuvante(17,18). as modalidades terapêuticas a seguir apresentadas dizem respeito aos carcinomas epidermóides: Estádio IA • ESTADIO I cancrO Da vulva cancrO ginÉcOlógicO Nos tumores clinicamente avançados: • rm pélvica: útil na suspeita clínica da infiltração da bexiga, uretra, ânus, tecidos moles adjacentes e osso. • taC abdomino-pélvica: se adenomegálias inguinais ou suspeita de envolvimento abdominal. • taC torácica: na presença de doença abdominal ou suspeita de envolvimento pleuro-pulmonar • Cistoscopia (opcional): tumor junto à uretra* • rectosigmoidoscopia (opcional): tumor junto ao ânus* * a invasão da mucosa vesical ou rectal deve ser confirmada por biopsia cARAcTERíSTIcAS TuMORAIS excisão local alargada com margens cirúrgicas livres de tumor de pelo menos 1 cm. a linfadenectomia não é necessária. Tumor confinado à vulva Estádio IB 42 IA lesões < 2cm confinadas à vulva ou ao períneo e com invasão do estroma > 1mm, com gânglios negativos IB lesões > 2cm confinadas à vulva ou ao períneo ou com invasão do estroma > 1mm, com gânglios negativos II Tumor de qualquer tamanho com extensão às estruturas perineais adjacentes (1/3 inferior da uretra, 1/3 inferior da vagina ou ânus), com gânglios negativos III Tumor de qualquer tamanho com ou sem extensão às estruturas perineais adjacentes (1/3 inferior da uretra, 1/3 inferior da vagina ou ânus), com gânglios inguinofemorais positivos IIIA (i) uma metástase ganglionar > 5mm* (ii) 1-2 metástases ganglionares <5mm* IIIB (i) duas ou mais metástases ganglionares > 5mm* (ii) três ou mais metástases ganglionares < 5mm* IIIc metástases ganglionares com extensão extracapsular Iv Tumor invade estruturas regionais (2/3 superiores da uretra, 2/3 superiores da vagina) ou à distância IvA tumor atinge qualquer uma das seguintes estruturas: (i) mucosa vaginal e/ou uretral superior, mucosa vesical, mucosa rectal ou ossos pélvicos (ii) Gânglios inguinofemorais fixos ou ulcerados IvB Qualquer metastização à distância incluindo gânglios linfáticos pélvicos • excisão local radical (com extensão à fascia perineal) e com margens cirúrgicas livres de tumor de pelo menos 1 cm. • identificação e excisão do/s gânglio/s sentinela nos t <4cm n0. (entrou na prática clínica corrente em muitos centros para os carcinomas epidermóides e melanoma). • nos centros que não disponham da técnica do Gs: i) tumores unilaterais (a mais de 1 cm da linha média) procede-se à linfadenectomia inguinofemoral unilateral homolateral.* na presença de gânglios invadidos é necessária a linfadenectomia contralateral ou, em alternativa, a radioterapia dirigida a essa região inguinal para evitar 2ª cirurgia. ii) nos tumores bilaterais, desenvolvidos na linha média (clitóris, fúrcula) ou a 1 cm desta linha, a linfadenectomia deverá ser bilateral. as incisões cirúrgicas separadas são a regra. * a linfadenectomia inguinofemoral unilateral é considerada adequada quando 6 ou mais gânglios linfáticos são excisados. 43 Tratamento adjuvante • radioterapia tem como objectivo prevenir as recorrências loco-regionais. radioterapia vulvar:19 • margens cirúrgicas com tecido tumoral ou margens livres (histológicas) com ≤ 8mm se a avaliação pré-operatória pressupuser margens operatórias livres de tumor > 1cm: excisão local radical com linfadenectomia inguinofemoral bilateral ou Gs nos t <4cm • Quando seja impossível obter margens cirúrgicas adequadas, existem três estratégias terapêuticas a escolher em função da doente (terapêutica individualizada): i. radioquimioterapia concomitante (preferencial)** ii. radioterapia isolada iii. Quimioterapia neoadjuvante (não é consensual) estas três modalidades terapêuticas são, geralmente, seguidas por cirurgia (excisão radical das lesões residuais). Pode ser considerado a não realização da linfadenectomia inguinofemoral se as regiões inguinais tiverem sido previamente irradiadas. Estadio III Na presença de tumor julgado ressecável sem compromisso dos esfíncteres uretral ou anal: • excisão radical com margens cirúrgicas livres de tumor > 1cm Na presença de adenomegálias inguinofemorais consideradas ressecáveis: • linfadenectomia inguinofemoral bilateral Doença não adequadamente ressecável por invasão da uretra, vagina ou ânus (considerar excisão prévia apenas de gânglios linfáticos metastáticos volumosos, móveis e/ou não ulcerados): • radioquimioterapia(14,15) seguida, habitualmente, por cirurgia ou, em alternativa, prosseguir a radioterapia.** • radioterapia exclusiva.(16) em ♀ com mau estado geral ou quando a radioquimioterapia e a cirurgia não são exequíveis ou são contraindicadas • Quimioterapia neoadjuvante seguida de cirurgia17,18 (não é consensual) estas modalidades terapêuticas têm por objectivo evitar a exenteração pélvica ou a perda da função dos esfíncteres uretral ou anal. Estadio IvA • • radioquimioterapia** ou radioterapia isolada, com linfadenectomia inguinofemoral adjuvante, se tecnicamente exequível. Considerar a exenteração pélvica com vulvectomia radical e linfadenectomia Estadio IvB Terapêutica individualizada • radioterapia paliativa • Quimioterapia paliativa ** Habitualmente usa-se Cisplatina + 5-Fu 44 cancrO Da vulva cancrO ginÉcOlógicO Estadio II radioterapia inguinofemoral e pélvica:20 • um gânglio linfático invadido (com macrometástase > 5mm) • dois ou mais gânglios com micrometástases (< 2mm) • Qualquer número de gânglios com invasão extracapsular vigilância tem por objectivo diagnosticar doença recorrente ou um novo tumor primário. aproximadamente, 70% das recorrências surgem nos 2 primeiros anos após o tratamento, particularmente em doentes com gânglios invadidos. socorre-se do exame clínico e os exames complementares de diagnóstico são requisitados de acordo com a sintomatologia. 1º e 2º ano: avaliação cada 3 meses 3º ao 5º ano: avaliação de 6 em 6 meses após o 5º ano: avaliação anual trataMentO Das recOrrências terapêutica individualizada de acordo com a localização e extensão da recidiva. as recorrências locais são curáveis habitualmente com excisão cirúrgica, enquanto as recidivas nas regiões inguinais são quase sempre fatais, mesmo após cirurgia e/ou radioterapia. a metastização sistémica responde mal à quimioterapia, que não tem um regime terapêutico padronizado. trataMentO De Outras neOPlasias MenOs FreQuentes Melanoma vulvar representa a 2ª neoplasia vulvar mais comum. o seu estadiamento e terapêutica são semelhantes aos propostos para os melanomas cutâneos. o tratamento padrão consiste na excisão local radical com a técnica do Gs. todas as lesões pigmentadas suspeitas da vulva deverão ser excisadas (lesões pequenas) ou biopsadas (lesões de maiores dimensões). 45 biblioGraFia É uma neoplasia intraepitelial ou adenocarcinoma in situ da vulva. está associada a um adenocarcinoma invasivo subjacente em 10% a 12% dos casos, ou a um tumor síncrono, à distância – da mama, recto, bexiga, colo do útero, ovário e uretra – em aproximadamente 4% das pacientes. macroscopicamente, a lesão tem um aspecto “eczematóide”. a terapêutica consiste na ressecção local com margens amplas livres de neoplasia, sabendo-se que a doença se estende bem para além das lesões clínicas. as recorrências são, pois, frequentes. na presença de um carcinoma vulvar invasivo associado, a terapêutica é idêntica à proposta para os tumores epidermóides. identificado um tumor primitivo, que não vulvar, a terapêutica é a indicada para a respectiva localização tumoral. 1. sturgeon sr, Brinton la, Devesa ss e col. In situ and invasive vulvar cancer incidence trends (19731987). am J Obstet gynecol 1992; 166: 1482. 2. Beller u, Quinn Ma, Benedet Jl e col. carcinoma of the vulva. FigO annual report, volume 26. Int J Gynecol Obstet 2006; 95(1): s7-s27. 3. de Hullu Ja, van der avoort ia, Oonk MH, van der zee ag. Management of vulvar cancers. eur J surg Oncol 2006; 32: 825-831. 4. Homesley H, Bundy Bn, sedlis a e col. Prognostic factors for groin node metastasis in squamous cell carcinoma of the vulva (a gOg study). Gynecol Oncol 1993; 49: 279-283. 5. Homesley HD, Bundy Bn, sedlis a e col. assessment of current international Federation of gynecology and Obstetrics staging of vulvar carcinoma relative to prognostic factors for survival (a gOg study). am J Obstet gynecol 1991; 164(4): 997-1004. 6. Origoni M, sideri M, garsia s e col. Prognostic value of pathological patterns of lymph node positivity in squamous cell carcinoma of the vulva stage iii and iva FigO. Gynecol Oncol 1992; 45(3): 313-316. 7. Fattaneh a tavassoli and Peter Devilee. tumors of the breast and female genital organs. OMs classification of tumors. iarc Press, 2003. 8. crum cP. carcinoma of the vulva: epidemiology and pathogenesis (review). Obstet Gynecol 1992; 79: 448-454. 9. trimble cl, Hildessheim a, Brinton la e col. Heterogeneous etiology of squamous carcinoma of the vulva. Obstet Gynecol 1996; 87: 59-64. carcinoma basocelular. É uma neoplasia localmente invasiva, que, raramente, metastiza e cujo tratamento consiste na excisão local com margens cirúrgicas livres de tumor. carcinoma da glândula de Bartholin representa 1% dos cancros da vulva e é o mais comum adenocarcinoma vulvar. o seu tratamento é sobreponível ao do carcinoma epidermóide. a localização profunda do tumor justifica uma excisão local extensa que raramente obtém margens cirúrgicas livres >1cm. 10. Pecorelli s. revised FigO staging for carcinoma of the vulva, cervix, and endometrium. int J Gynecol Obstet 2009; 105: 103-104. 11. carcinoma verrucoso É um subtipo pouco frequente do carcinoma epidermóide com aspecto de couve-flor, localmente invasivo, que raramente metastiza para os gânglios regionais. o tratamento consiste na excisão local alargada com margens cirúrgicas livres de tumor >1cm. a linfadenectomia não está indicada e a radioterapia está contraindicada por possível transformação anaplásica. deverá ser efectuada re-excisão sempre que não forem obtidas margens cirúrgicas adequadas, visto ser frequente a recorrência local. sempre que exista um componente de carcinoma epidermóide associado (tumor híbrido) dever-se-á tratar como um carcinoma epidermóide. Hoffman Ms, roberts Ws, Finan Ma e col. a comparative study of radical vulvectomy and modified radical vulvectomy for the treatment of invasive squamous cell carcinoma of the vulva. Gynecol Oncol 1992; 45: 192-197. 12. thomas gM, Dembo aJ, Bryson sc e col. changing concepts in the management of vulvar cancer. Gynecol Oncol 1991; 42: 9-21. 13. van der zee ag, Oonk MH, De Hullu Ja e col. sentinel node dissection is safe in the treatment of early-stage vulvar cancer. J Clin Oncol 2008; 26(6): 884-889. 14. Montana gs, thomas gM, Moore DH e col. Preoperative chemo-radiation for carcinoma of the vulva with n2/n3 nodes: a gOg study. Int J Radiat Oncol Biol Phys 2000; 48: 1007-1013. 15. gerzten K, selvaraj rn, Kelley J e col. Preoperative chemoradiation for locally advanced carcinoma of the vulva. Gynecol Oncol 2005; 99(3): 640-644. 16. Hacker nF, Berek Js, Juillard cJ e col. Preoperative radiation therapy for locally advanced vulvar cancer. cancer 1984; 54: 2056-2061. 17. Sarcomas vulvares são tumores muito raros no adulto, sendo os tipos histológicos mais frequentes o leiomiosarcoma, fibrosarcoma e o rabdomiosarcoma. o seu tratamento deve ser individualizado e consiste, habitualmente, na excisão local alargada. o prognóstico é mau e depende do tipo histológico e extensão local da invasão. a maioria metastiza por via hematogénia e a invasão linfática é pouco frequente. cancrO Da vulva cancrO ginÉcOlógicO Doença de Paget da vulva geisler JP, Manahan KJ, Buller re. neoadjuvant chemotherapy in vulvar cancer: avoiding primary exenteration. Gynecol Oncol 2006; 100: 53-57. 18. Domingues aP, Mota F, Durão M e col. neoadjuvant chemotherapy in advanced vulvar cancer. Int J Gynecol Cancer 2010; 20(2): 294-298. 19. Faul cM, Mirmow D, Huang Q e col. adjuvant radiation for vulva carcinoma: improved local control. Int J Radiat Oncol Biol Phys 1997; 38: 381-389. 20. Homesley H, Bundy Bn, sedlis a e col. radiation therapy versus pelvic node resection for carcinoma of the vulva with positive groin nodes. Obstet Gynecol 1986; 68: 733-740. Tumores metastáticos os tumores primitivos têm origem, especialmente, no colo do útero, endométrio, ovário, recto, mama e uretra. a terapêutica é paliativa e o prognóstico reservado. 46 47 sarcOMas uterinOs e tuMOres MullerianOs MistOs MalignOs sarcOMas uterinOs e tuMOres MullerianOs MistOs MalignOs 2. tumores do músculo liso leiomiossarcoma (lms) Variante epitelioide Variante mixoide 3. outros tumores mesenquimatosos Tumores mistos malignos (epiteliais e mesenquimatosos) • adenossarcoma intrODuçãO os sarcomas uterinos constituem um grupo de tumores raros, correspondendo a cerca de 2 a 5% dos tumores malignos uterinos e representando cerca de 1% dos tumores malignos do aparelho genital feminino, com uma incidência anual inferior a 2/100 000 mulheres. têm, na sua maioria um, mau prognóstico, caracterizando-se por uma rápida progressão e uma elevada taxa de metastização à distância, com uma sobrevivência global inferior a 50% aos 5 anos, mesmo quando diagnosticados precocemente(1). o único factor etiológico estabelecido, em 10 a 25% destes tumores é a existência de radioterapia pélvica prévia(2). no entanto, existe uma frequência aumentada após a terapêutica com tamoxifeno ( incidência 17/100 000 segundo aCoG). Do ponto de vista prático, consideram-se mais relevantes pela sua frequência, os seguintes: Carcinossarcoma (Csa) - cerca de 50% leiomiosssarcoma (lms) - entre 30-40% sarcomas do estroma endometrial (see e sei) - 10-15% os Carcinossarcomas serão abordados no Capítulo Carcinomas do endométrio, pelo facto de serem classificados e tratados como tal(6;11). FactOres De PrOgnósticO Como factores de prognóstico clinico-patológicos mais importantes consideram-se(3) lEIOMIOSSARcOMAS SARcOMAS DO ESTROMA ENDOMETRIAl tamanho tumoral > 5cm Grau de diferenciação HistOlOgia Histologicamente, os sarcomas uterinos são uma população tumoral heterogénea(3). a classificação actual da oms recomenda que o termo sarcoma do estroma endometrial de alto grau seja retirado e substituído por sarcoma endometrial indiferenciado. actualmente, o Carcinossarcoma passou a ser considerado como um Carcinoma metaplásico, sendo o componente sarcomatoso uma manifestação da sua elevada agressividade. 50 sarcOMas uterinOs e tuMOres MullerianOs MistOs MalignOs cancrO ginÉcOlógicO Segundo a classificação da OMS(23), os Sarcomas uterinos subdividem-se em: Tumores Mesenquimatosos Malignos 1. tumores do estroma endometrial sarcoma do estroma endometrial, baixo grau (see) sarcoma endometrial indiferenciado (sei) Índice mitótico elevado invasão miometrial necrose de coagulação estado dos re e rP invasão vascular invasão vascular O padrão de disseminação difere com o tipo histológigo: ADN - o adenosarcoma é considerado uma neoplasia de comportamento menos agressivo com recidivas (25- 40%) loco-regionais. LMS - tendem a disseminar precocemente para órgãos distantes (via hematogénea). SEE - a disseminação loco-regional com invasão dos paramétrios é frequente. 51 exame clínico e ginecológico ecografia transvaginal biopsia endometrial o diagnóstico é histológico. o valor da curetagem-biópsia é limitado, dando falsos negativos numa elevada percentagem de casos (>50%). o diagnóstico definitivo é com frequência efectuado na peça operatória. avaliaçãO PrÉ-trataMentO(2,7) exames laboratoriais de rotina taC torácica taC abdomino-pélvica rmn pélvica (opcional) estaDiaMentO e classiFicaçãO os sarcomas uterinos são estadiados de acordo com a classificação tmn/FiGo (aJCC 2010). o estadiamento é cirúrgico, com excepção dos casos inoperáveis (9,23). leiomiossarcoma e Sarcoma do estroma endometrial Tumor primário (T) TNM FIGO t1 i tumor limitado ao útero t1a ia tumor <ou = 5 cm de maior dimensão t1b ib tumor >5 cm t2 ii tumor estende-se para além do útero, na pélvis t2a iia tumor envolve os anexos t2b iib tumor envolve outros tecidos pélvicos t3 iii tumor infiltra tecidos abdominais* t3a iiia apenas uma localização t3b iiib mais do que uma localização t4 iVa tumor invade a bexiga ou o recto *neste estadio, o tumor deve infiltrar os tecidos abdominais e não somente fazer protusão na cavidade abdominal. 52 Gânglios Linfáticos regionais (N) n0 sem metástases ganglionares regionais n1 iiiC Presença de metástases ganglionares Metástases à distância m0 m1 iVb sem metástases à distância metástases à distância (exclui anexos, pélvis e abdominais) Adenossarcoma(24) Tumor primário (T) TNM FIGO t1 i t1a ia t1b ib t1c iC t2 ii t2a iia t2b iib t3 iii t3a iiia t3b iiib t4 iVa tumor limitado ao útero tumor limitado ao endométrio/endocolo* tumor invade menos de metade do miométrio* tumor invade mais de metade do miométrio* tumor estende-se para além do útero, na pélvis tumor envolve os anexos tumor envolve outros tecidos pélvicos tumor envolve os tecidos abdominais** apenas uma localização mais do que uma localização tumor invade a bexiga ou o recto sarcOMas uterinOs e tuMOres MullerianOs MistOs MalignOs cancrO ginÉcOlógicO aBOrDageM Diagnóstica * estes estadios são diferentes do leiomiossarcoma e sarcoma do estroma endometrial. ** neste estadio, o tumor deve invadir os tecidos abdominais e não somente fazer protusão na cavidade abdominal. Gânglios linfáticos regionais (N) n0 sem metástases ganglionares n1 iiiC Presença de metástases ganglionares Metástases à distância (M) m0 sem metástases à distância m1 iVb Presença de metástases (excluindo anexos, pélvis e tecidos abdominais). ATENçãO: aJCC não fala no carcinofibroma nem no sarcoma endometrial indiferenciado. o primeiro deve ser como o carcinoma endometrial e o segundo como o leiomiossarcoma.(?) 53 estádio i estádio ia estádio ib estádio iC* estádio ii estádio iiia estádio iiib estádio iiiC estádio iVa estádio iVb t1 t1a t1b t1c t2 t3a t3b t1,t2,t3 t4 Qq t n0 n0 n0 n0 n0 n0 n0 n1 n0,n1 n0,n1 m0 m0 m0 m0 m0 m0 m0 m0 m0 m1 doença extra-uterina O tratamento é individualizado, baseado na extensão de doença e condições de operabilidade (máximo esforço cirúrgico). Tumor diagnosticado pós-operatoriamente Citologia do lavado peritoneal após miomectomia Ht ± ab biópsia selectiva de Ggs após Histerectomia Completar com anexectomia e restante laparotomia de estadiamento (excepto no lms) Tratamento adjuvante *estadio iC não se aplica ao leiomiossarcoma e sarcoma do estroma endometrial. asPectOs gerais DO trataMentO a cirurgia só por si pode ser curativa se o tumor estiver limitado ao útero(10,12). a Histerectomia total com anexectomia bilateral é o tratamento de escolha que pode ser suficiente para os lms ou see, mas não para os sei. nestes, deve ser sempre efectuada uma linfadenectomia pélvica e para-aórtica, e omentectomia.(19) nos lms não parece haver agravamento do prognóstico em doentes pré-menopáusicas, operadas de Ht por suspeita de mioma com conservação dos ovários, podendo evitar-se nova laparotomia, apesar de haver referências a lms com receptores hormonais positivos.(5,6,7) PrOtOcOlO DO trataMentO Tratamento primário (20) Tumor diagnosticado antes da cirurgia tumor limitado ao Útero i. a. b. c. ii. a. b. c. 54 Com condições cirúrgicas: Ht + ab + Citologia do lavado peritoneal + biopsias de lesões suspeitas linfadenectomia selectiva ( Gânglios aumentados ) ( lms, see, adenossarcoma ) linfadenectomia pélvica e lombo-aórtica + omentectomia (sei) Sem condições cirúrgicas: rt e/ou quimioterapia ou Hormonoterapia a radioterapia adjuvante permite um controlo local das recidivas embora sem alterar a sobrevivência (13). a elevada taxa de recorrências e a tendência para metastização à distância tornam estes tumores candidatos a terapêutica sistémica. a trabectedina é o único citostático com aprovação específica para este tipo de tumores, no entanto, não está estabelecida a eficácia da quimioterapia adjuvante(14,15,16,17,21). Estadio I e II 1. sarcoma do estroma endometrial adenossarcoma 2. sarcoma endometrial indiferenciado leiomiossarcoma Estadio III 1. sarcoma do estroma endometrial 2. sarcoma endometrial indiferenciado leiomiossarcoma Estadio Iv 1. sarcoma do estroma endometrial 2. sarcoma endometrial indiferenciado leiomiossarcoma vigilância sarcOMas uterinOs e tuMOres MullerianOs MistOs MalignOs cancrO ginÉcOlógicO Quadro Geral dos Sarcomas uterinos com ênfase nos estádios FIGO rt pélvica ± braquiterapia rt pélvica ± braquiterapia Quimioterapia + rt (só no iVa) PrOtOcOlO De seguiMentO exame físico cada 3 meses durante 2 anos; depois cada 6 – 12 meses taC torácica cada 6 meses durante 2 anos; depois anual. taC ou rmn consoante clinicamente indicado educar o doente para os sinais de alerta. Nota: nos see e no adenossarcoma, o seguimento deve estender-se por mais de 10 anos, devido á tendên- 55 trataMentO Da recOrrência dada a raridade destes tumores, a informação sobre a conduta mais adequada nas recorrências ou doença avançada é escassa, pelo que os médicos devem estar motivados para incluir estas doentes em ensaios clínicos(4;8). estes ensaios clínicos deverão ser dirigidos aos diferentes tipos histológicos dado o diverso comportamento biológico de cada tumor, com diferentes padrões de metastização e diferente sensibilidade aos tratamentos(1;2). As recorrências podem ser de 3 tipos: recorrência local, metástases isoladas e doença disseminada (23). Avaliação terapêutica caso a caso biblioGraFia 1. nccn practice guidelines in Oncology ( Fev. 2009 ) 2. gynecologic cancer controversies in management- Jan vermorken; r. Winter 3. Pathology Pages – Prof. Harold Fox 4. sgO clinical practice guidelines 5. nci guidelines for uterine sarcomas 6. acOg committee opinion n 336 june 2006 7. treatment of uterine sarcoma at Mayo clinic 8. gynecologic Oncology 103 –(2006) 684-687 9. american cancer society staging of uterine sarcoma 10. uPMc cancer center – treatmentof uterine sarcoma 11. MMMt tumors -clinical investigation: i J rad. Oncol. Biol. n3 (2004) 786-796 12. retrosp.review of208 lMs..gyn. Oncol.89( 2003) 460-469 13. limitations of adj. radiotherapy..gyn. Oncol. 94 ( 2004)191-196 Terapêutica médica para doença avançada e metastizada: regimes de quimioterapia 14. trabectedina – Proc soc clin Oncol 2007; 25 (abst 10060) 15. gemcitabine…lMs J clin Oncol 2002 by ascO podem ser usados em mono ou poliquimioterapia os seguintes agentes citostáticos(21; 22): • trabectadina (para o lms) • doxorrubicina + ifosfamida (para o lms) • doxorrubicina (para o see) • Gemcitabina / docetaxel (em estudo) 16. Multimodality therapy….MMMt - acs 2001 Hormonoterapia (apenas no SEE com rE+) • acetato de megestrol • acetato de medroxiprogesterona • análogos da GnrH em ensaios • inibidores da aromatase clínicos 23. aJcc – cancer staging. sétima edição. (2010) 487-490 17. systemic therapy advanced uterine sarcoma- gynec.Oncol. 97(2005)624-637 18. gynec oncol. 92 ( 2004)648-652 19. endometrial s.s. –gynec. Oncol. 39(1990)364-367 20. cirurgie des sarcomes ut . 31 (2003)147-150 21. adjuvant chemotherapy….int.J. gynec. cancer;14 (2004)1112-1117 22. clinical outcomes…int. J. gynecol. cancer;16 (2006) 1358-1363 sarcOMas uterinOs e tuMOres MullerianOs MistOs MalignOs cancrO ginÉcOlógicO cia para a metastização tardia destes tumores(18; 19). 24. tumours of the breast and female genital organs. World Health Organization classification of tumours (2003) 233-249 dada a raridade destes tumores, aconselha-se a realização de ensaios clínicos 56 57 cancrO HereDitáriO cancrO HereDitáriO cancrO HereDitáriO a susceptibilidade para o cancro hereditário é hoje reconhecida como factor de risco significativo para cancro ginecológico, tendo sido identificadas mutações em genes específicos; os mais importantes em termos de risco e frequência são os genes brCa1 e brCa2 (mama e ovário) e os genes de reparação msH2, mlH1 e msH6 (endométrio e ovário) no contexto do síndrome de lynch. não são descritas formas hereditárias para o cancro do colo, vagina ou vulva. Por outro lado, o carcinoma da trompa tem sido associado às mutações dos genes brCa. cancrO DO OváriO Introdução estima-se que o cancro hereditário do ovário corresponda a 5 a 10% de todos os cancros do ovário. em comparação com o cancro esporádico, o cancro hereditário é diagnosticado, em média, 10 anos mais cedo. existem dois síndromes associados com cancro hereditário do ovário: HboC (cancro hereditário da mama e ovário), habitualmente associados a mutações, de transmissão autossómica dominante, interessando os locus brCa1 ou brCa2 e responsáveis por 85 a 90% dos cancros hereditários e o HnPCC (cancro hereditário não polipóide do cólon) (síndrome de lynch), associado a mutações nos genes de reparação do adn, em particular mlH1 e msH2, e no qual o cancro do ovário surge em 5 a 10% dos casos. enquanto o risco de desenvolver cancro do ovário na população geral é de aproximadamente 1,5%, mulheres com estes dois sindromas têm um risco de 10 a 60%. o risco de cancro do ovário depende do número de familiares do 1º e 2º graus com uma história de cancro do ovário e da mama e do número de neoplasias que surgem em idades precoces. o risco é difícil de definir e requer história familiar completa. 60 são características familiares que sugerem cancro hereditário do ovário e que deverão justificar aconselhamento genético: • Cancro que ocorre em idade mais precoce que a mediana de ocorrência dos casos esporádicos; • dois ou mais cancros primários (mama e ovário) que ocorrem no mesmo indivíduo (incluindo a bilateralidade no caso do cancro de mama); • Familiar em 1º grau afectado(1); • Cancro da mama no homem; • mulheres com familiares portadores de mutação brCa ou com síndrome de lynch. Poucos estudos existem relativamente aos resultados de intervenções efectuadas para redução do risco em mulheres com susceptibilidade genética para cancro do ovário. em consequência, as recomendações de actuação são principalmente fundamentadas em opiniões de consenso (2,3). as preferências pessoais deverão, também, ser um factor importante nas escolhas das doentes relativamente às opções para redução do risco. cancrO HereDitáriO cancrO ginÉcOlógicO Parâmetros para aconselhamento genético Rastreio a necessidade de rastreio eficaz do cancro do ovário é particularmente importante para mulheres portadoras de mutações nos brCa 1 e brCa2 e nos genes de reparação (mlH1, msH2, msH6, Pms2), alterações nas quais o risco de cancro do ovário é elevado. Há especial urgência no caso das portadoras de mutação do brCa1, para as quais o risco cumulativo de cancro do ovário poderá exceder 40%. os marcadores de cancro do ovário disponíveis (isoladamente ou em combinação), até ao presente, não estão suficientemente estudados de modo a justificar o seu uso na rotina clínica com objectivo de rastreio, mesmo na população com risco genético elevado. Exame ginecológico na população geral, o exame ginecológico não tem nem especificidade nem sensibilidade para eficazmente identificar neoplasia ovárica precoce. não há dados relativamente ao benefício do exame ginecológico em mulheres com risco de cancro do ovário hereditário. 61 atendendo às actuais limitações do rastreio de cancro do ovário e o seu elevado risco em portadores de mutações brCa1 e brCa2, tem sido proposta a realização de cirurgia profiláctica entre os 35 a 40 anos ou após completado o planeamento familiar como opção eficaz de redução do risco (12). a idade óptima deverá ser individualizada, sendo que para as portadoras de mutação brCa1 deverá ser mais cedo do que para as portadoras de mutação brCa2, para as quais o risco aos 40 anos é de 1,9% versus 4,7% para o brCa1 (13). em 2009, o aCoG recomenda a realização de cirurgia profiláctica aos 40 anos ou quando o planeamento familiar estiver completo (14). cA125 cancrO DO enDOMÉtriO o valor do Ca125 no rastreio do cancro do ovário em mulheres de alto risco foi avaliado em conjunto com a ecografia ginecológica em alguns estudos retrospectivos. estão publicadas orientações recomendando o rastreio com ecografia ginecológica e Ca125 cada 6 a 12 meses, com início aos 30 a 35 anos de idade ou 5 a 10 anos antes do caso positivo mais novo (5,6). Contudo, estas recomendações são baseadas fundamentalmente em opiniões de consenso (evidência de nível d). novas estratégias de rastreio com o Ca125 estão presentemente em estudo prospectivo (GoG-0199). Introdução MODiFicaçãO DO riscO contracepção hormonal oral os contraceptivos hormonais orais, durante 3 a 6 anos, associaram-se a efeito protector contra o cancro do ovário na população em geral e nas mulheres com risco genético. Vários trabalhos, incluindo um estudo caso-controlo multicêntrico de grandes dimensões, mostraram efeito protector (7) apesar de um outro não o ter demonstrado (8). Salpingo-ooforectomia profiláctica numerosos estudos demonstraram que mulheres com risco de cancro do ovário têm redução de risco após salpingo-ooforectomia profiláctica (9). algumas séries reportaram prevalências de 2,3 a 33% de achados de neoplasias (carcinoma primário da trompa, carcinoma primário do peritoneu e carcinoma oculto do ovário) em portadoras de mutações submetidas a cirurgia profiláctica, particularmente para medianas de idade entre 42 a 48 anos (10). estes achados favorecem a necessidade de efectuar lavado peritoneal por rotina, bem como de inclusão total para exame anátomopatológico das peças cirúrgicas obtidas na cirurgia profiláctica. na ausência de terapêutica com tamoxifeno ou outra patologia subjacente (corpo ou colo uterino), a histerectomia não é necessariamente uma componente da cirurgia de redução de risco (11). 62 cancrO HereDitáriO cancrO ginÉcOlógicO relativamente aos potenciais benefícios do uso da ecografia no rastreio de neoplasia ovárica em mulheres com risco de cancro do ovário hereditário, os dados são limitados. alguns estudos demonstraram que os cancros detectados são frequentemente avançados e que ocorrem cancros de intervalo. o primeiro estudo prospectivo de ecografia e Ca125 em que a sobrevida foi o outcome primário foi completado em 2009(4). este estudo sugere que a vigilância anual com ecografia e Ca125 parece ser ineficaz na detecção de neoplasias precoces que influenciem a sobrevida. Ecografia ginecológica o Carcinoma colo-rectal hereditário não polipóico ou s. lynch ii é responsável pela maioria dos casos de carcinoma endometrial com predisposição genética. É uma doença autossómica dominante, cujos portadores das mutações têm um risco acrescido de desenvolver cancro ao longo da sua vida (risco de 27-71% de desenvolver carcinoma do endométrio e de 3-14% para o carcinoma do ovário)(15). Parâmetros para aconselhamento genético o diagnóstico assenta nos critérios de amesterdão, segundo os quais se deve observar simultaneamente: • Cancro colo-rectal ou outro tumor (vias urinárias altas, estômago, ovário, intestino delgado e sistema hepato-biliar) confirmado histologicamente em pelo menos 3 familiares; • um doente deve ser familiar em 1º grau dos outros 2 afectados; • devem existir, pelo menos, duas gerações consecutivas afectadas; • Pelo menos um dos tumores deve ser diagnosticado antes dos 50 anos de idade; • a polipose adenomatosa familiar deve ser excluída. Rastreio as portadoras da(s) mutação devem fazer vigilância (para ca. endométrio e ovário): • Biópsia endometrial anual desde os 30-35 anos de idade ou 5-10 anos antes da idade quando do diagnóstico do familiar mais jovem afectado(15). • Ecografia transvaginal e CA 125 de 6/6 meses desde, os 30-35 anos de idade ou 5-10 anos antes da idade aquando do diagnóstico do familiar mais jovem afectado(15). Modificação do risco recomenda-se a histerectomia total com anexectomia bilateral nas doentes portadores de s. lynch em idade fértil e que não desejem mais filhos(15). 63 cancrO ginÉcOlógicO biblioGraFia 1. stratton JF, Pharoah P, smith sK, et al.: a systematic review and meta-analysis of family history and risk of ovarian cancer. Br J Obstet gynaecol 105 (5): 493-9, 1998. 2. u.s. Preventive services task Force.: genetic risk assessment and Brca mutation testing for breast and ovarian cancer susceptibility: recommendation statement. ann intern Med 143 (5): 355-61, 2005. 3. acOg committee opinion. Breast-ovarian cancer screening. number 239, august 2000. american college of Obstetricians and gynecologists. committee on genetics. int J gynaecol Obstet 75 (3): 33940, 2001. 5. niH consensus conference. Ovarian cancer. screening, treatment, and follow-up. niH consensus Development Panel on Ovarian cancer. JaMa 273 (6): 491-7, 1995. 6. Burke W, Daly M, garber J, et al.: recommendations for follow-up care of individuals with an inherited predisposition to cancer. ii. Brca1 and Brca2. cancer genetics studies consortium. JaMa 277 (12): 997-1003, 1997. 7. narod sa, risch H, Moslehi r, et al.: Oral contraceptives and the risk of hereditary ovarian cancer. Hereditary Ovarian cancer clinical study group. n engl J Med 339 (7): 424-8, 1998. 8. Mclaughlin Jr, risch Ha, lubinski J, et al.: reproductive risk factors for ovarian cancer in carriers of Brca1 or Brca2 mutations: a case-control study. lancet Oncol 8 (1): 26-34, 2007. 9. rebbeck tr, Kauff nD, Domchek sM: Meta-analysis of risk reduction estimates associated with riskreducing salpingo-oophorectomy in Brca1 or Brca2 mutation carriers. J natl cancer inst 101 (2): 807, 2009. ÍnDice cancrO DO enDOMÉtriO P4 • P11 cancrO DO cOlO DO ÚterO P14 • P21 10. leeper K, garcia r, swisher e, et al.: Pathologic findings in prophylactic oophorectomy specimens in high-risk women. gynecol Oncol 87 (1): 52-6, 2002. 11. Beiner Me, Finch a, rosen B, et al.: the risk of endometrial cancer in women with Brca1 and Brca2 mutations. a prospective study. gynecol Oncol 104 (1): 7-10, 2007. 12. national comprehensive cancer network.: nccn clinical Practice guidelines in Oncology: genetic/Familial High-risk assessment: Breast and Ovarian. version 1.2006. rockledge, Pa : national comprehensive cancer network, 2006. 13. chen s, iversen es, Friebel t, et al.: characterization of Brca1 and Brca2 mutations in a large united states sample. J clin Oncol 24 (6): 863-71, 2006. cancrO DO OváriO P24 • P37 14. Hereditary breast and ovarian cancer syndrome. acOg Practice Bulletin nº103. american college of Obstetricians and gynecologists. Obstet gynecol 2009;113: 957-66, 2009. 15. endometrial and ovarian cancer screening and prevention in women with lynch syndrome (hereditary nonpolyposis colorectal cancer), K. H. lu, K. M. schmeler; uptodate, september 2009. cancrO Da vulva P40 • P47 sarcOMas uterinOs e tuMOres MullerianOs MistOs MalignOs P50 • P57 cancrO HereDitáriO P40 • P47 64 CanCro GineColÓGiCo reunião de Consenso naCional Coimbra 16 de outubro 2010-11-27