Estruturas das Sessões em TCC Eliana Melcher Martins Mestre em Ciências pelo depto de Psicobiologia da UNIFESP Especialista em Medicina Comportamental pela UNIFESP Psicóloga Clínica Cognitivo – Comportamental Diretora do CETCC – Centro de Estudos em Terapia Cognitiva Comportamental Entrevista Inicial • Tornar o processo da terapia compreensível • Confortável para o paciente: saber como será o tratamento, o que fará na sessão e durante a semana e o que esperar do terapeuta • Terapeutas de outras linhas podem sentir desconforto à princípio: “o paciente não gostará disso”; “ele se sentirá controlado”; “posso perder material importante” ou “isso é rígido demais”... • Testar esses pensamentos, anotando os resultados: como essa forma de trabalho pode melhorar o desempenho e o trabalho em si Metas e Estrutura da Primeira Entrevista • • • • • • • • Exame diagnóstico completo Queixa manifesta Funcionamento atual Sintomas História de vida Conceitualização Inicial Plano de terapia geral Anotações da sessão a posteriori: Anotações de terapia Nome do paciente: ______________Data:______ Sessão no.:_ Escores objetivos: BDI_________BAI _______BHS_______ Humor antes:_________ Humor depois:_________ Objetivos do Terapeuta: Pontos importantes da sessão: Tarefa de Casa: (escrita ou anexada) Sessão seguinte ou sessões futuras: Metas do Terapeuta na Entrevista Inicial • • • • • Estabelecer Confiança e Rapport Mostrar o modelo cognitivo de terapia Educar o paciente sobre seu transtorno Definir as dificuldades e promover esperança Verificar as expectativas do paciente com relação à terapia • Coletar informações adicionais sobre as dificuldades do paciente • Desenvolver uma lista de metas • Terapeuta experiente X terapeuta iniciante Estrutura da 1ª. Entrevista • Estabelecimento da Agenda • Checagem de Humor (incluindo escores objetivos) • Esmiuçar a queixa manifesta • Estabelecer metas para a terapia • Mostrar o modelo cognitivo • Identificar as expectativas do paciente quanto à terapia • Educar o paciente sobre o seu transtorno • Estabelecer a tarefa de casa • Fazer um resumo da sessão • Pedir feedback ao paciente Itens Relevantes da Agenda • Medicação • Abuso de álcool ou drogas Casos especiais: • • • • Ideação suicida Desesperança Paciente em perigo Representante de perigo para os outros Confiança e Rapport • Fácil com pacientes sem transtornos de personalidade. • Paciente sente-se valorizado com a compreensão do terapeuta de seus problemas e idéias através de suas perguntas e declarações atenciosas. • A segurança do terapeuta é entendida de forma explícita e implícita pelo paciente. • Mostra que podem trabalhar juntos e tudo fará para entender e ajudá-lo, visto que já o fez com outras pessoas com problemas semelhantes. • E que a TCC pode realmente ser o tratamento adequado para melhorar o seu quadro. Confiança e Rapport • Pedir feedback ao paciente no final de cada sessão pode ajudar o terapeuta na avaliação de si mesmo e do processo terapêutico. • Ajuda a reforçar a aliança terapêutica. • Corrige concepções errôneas por parte do terapeuta. • Pacientes gostam dessas avaliações. Aumentam a sincronia de ambos: terapeuta e paciente. Estabelecendo a agenda • A dupla decide junta o que vai falar na sessão. • Num primeiro momento o terapeuta poderá sugerir alguns tópicos • Rápido e objetivo • Facilita a compreensão do processo • Tornando clara a participação ativa do paciente de forma estruturada e produtiva • Tarefa de casa: tem como objetivo o estabelecimento de um novo tópico a ser trabalhado na sessão seguinte • Para a maioria dos pacientes esse processo é fácil de ser entendido. Checagem de Humor • Escala Analógica ( de 0 a 100%) • Uso dos inventários (BDI, BAI, BHS e outros) para uma verificação mais objetiva e de relatos que não foram feitos pelo paciente. • Colocar em forma de gráficos. Revisão da queixa apresentada, identificação de outros problemas e estabelecimento de metas • Resumo da queixa • Preparar junto com o paciente objetivamente as metas que gostaria de atingir com a terapia. • Fazer o paciente especificar o que quer dizer com “ser mais feliz” ou “sentir-se melhor”. • Verificando sempre se há ideação suicida. • Auxiliar o paciente com o envolvimento de escrever. • Pode-se pedir ao paciente que elabore melhor a lista de metas em casa. Modelo Cognitivo Percepção do modelo cognitivo pelo paciente • 3 ou 4 exemplos de como seu pensamento influencia seu sentimento e seu comportamento. • Difícil de identificar, utilizar outras técnicas. (serão vistas a posteriori) • Pensamento automático pode ser verbal ou uma imagem. • Tarefa de casa: trazer por escrito situações onde identificou um PAD. Expectativas para a Terapia • Eliminar a expectativa de a terapia ser algo místico ou inexplicável: Como melhorei? • A TCC é ordenada e racional, os pacientes se entendem melhor, resolvem seus problemas e aprendem ferramentas que podem aplicar. • Os pacientes tem a responsabilidade de progredir na terapia. • Dar uma noção geral de quanto tempo a terapia vai durar... Educando o paciente sobre seu transtorno • Explicar ao paciente o seu transtorno pode facilitar a compreensão de como seus problemas ocorrem na atualidade. • Utilização de metáforas pode ajudar. • Evitar os rótulos com os transtornos de personalidade. • Aumenta a esperança do paciente de solucionar seu problema e a confiança de que o terapeuta tem conhecimento suficiente para ajudá-lo. Resumo de final de sessão e tarefa de casa • Une e reforça os pontos importantes trabalhados na sessão. • Revisão do que o paciente concordou em fazer como tarefa de casa. • No início o terapeuta resume e depois encoraja o paciente a fazê-lo. • Verifique se “tarefa de casa” remete ao paciente algo desagradável. • Primeiras tarefas: leituras, monitoramento de atividades e ou agendamento. Feedback • Pode ser verbal ou por escrito • Fortalece o rapport (terapeuta se importa com o que o paciente pensa). • Chance para se resolver qualquer mal entendido. • Paciente testa suas conclusões • Exemplo de feedback por escrito: Exemplo de feedback por escrito: 1. O que você vivenciou hoje que é importante para se lembrar? 2. Quanto você sentiu que poderia confiar no seu terapeuta hoje? 3. Houve qualquer coisa que incomodou você em relação à terapia hoje? Se houve, o que foi? 4. Quanta tarefa de casa você fez para a terapia hoje? Quão propenso você está a fazer a nova tarefa de casa? 5. O que você deseja certificar-se de abordar na próxima sessão? Exercício prático Em duplas: • Um colega será o terapeuta e o outro paciente. • O paciente poderá ter um problema de depressão ou de um transtorno de ansiedade (pânico ou fobia social). Você escolhe. • Treinem a sessão inicial e escrevam o que for necessário para depois fazer uma apresentação para os outros colegas e discussão com a turma toda. Sessão 2 em diante: Estrutura e Forma 1. Breve atualização e verificação do humor (e da medicação, uso de álcool e ou drogas, quando for o caso). 2. Ponte com a sessão anterior. 3. Estabelecimento da Agenda. 4. Revisar Tarefa de Casa. 5. Discussão de tópicos do roteiro, estabelecimento de nova tarefa de casa e resumos periódicos. 6. Resumo Final e Feedback. Verificação do Humor • Breve • Combinada com uma atualização da semana • Verificação dos escores objetivos e comparação • Construção da agenda • As melhoras e ou pioras devem ser questionadas por conta dos pensamentos positivos ou negativos que passaram pela cabeça do paciente, reforçando o modelo cognitivo. • Desta forma o paciente tem controle sobre a responsabilidade do seu progresso. Verificação do Humor Cria várias oportunidades: • Preocupação com o estado de humor do paciente na semana anterior. • Monitorar como progrediu de uma sessão a outra. Verificação da medicação (auxilia na administração da mesma) e ou ingestão de álcool e ou drogas. • Explicar o progresso ou sua falta. • Reforçar o modelo cognitivo: quanto o pensamento influencia humor. Em vários diagnósticos apresentados. • Pode sugerir um encaminhamento para o psiquiatra. Ponte com a sessão anterior • Saber que será indagado sobre a sessão anterior motiva o paciente a se preparar para a sessão atual. • Caso o paciente não se lembre da sessão anterior o terapeuta tenta junto ao paciente relembrá-lo mentalmente ou fazendo perguntas por escrito. • Aproveitar para socializar o paciente com o processo terapêutico e solucionar possíveis incômodos ocorridos entre as sessões Roteiro de Ligação de sessão Adaptado com permissão de Thomas Ellis, Ph.D. 1. Sobre o que nós falamos na sessão anterior, o que foi importante? O que você aprendeu? (1 a 3 frases) 2. Houve algo que incomodou você na nossa última sessão? Qualquer coisa que você esteja relutante em dizer? 3. Como foi a sua semana? Como estava o seu humor, comparado a outras semanas? (1 a 3 frases) 4. Alguma coisa aconteceu nesta semana que seja importante discutir? (1 a 3 frases) 5. Que problema você deseja colocar no roteiro? (1 a 3 frases) 6. Que tarefa de casa você fez/não fez? O que você aprendeu? Observe que: Uma razão pela qual existe uma falha de o paciente esquecer o conteúdo da sessão é a falha do terapeuta em não encorajar o paciente a escrever os pontos importantes da sessão. Estabelecer o roteiro ou agenda da sessão • Nas sessões iniciais esse é um trabalho maior para o terapeuta. • Depois o paciente é encorajado a tomar essa iniciativa. • O objetivo dessa habilidade é fazer com que o paciente seja seu próprio terapeuta ao término da terapia. • “Que problemas você deseja focalizar hoje?” “O que você deseja colocar no roteiro para obter ajuda hoje?” “Sobre o que nós deveríamos trabalhar hoje?” • Priorizar itens quando existem muitos. Nem sempre dá para seguir o roteiro • Paciente bastante aflito sobre um tópico. • Um tópico novo surge e é bastante relevante. • O humor do paciente muda para pior durante a sessão. • Terapeuta engaja o paciente em uma conversação mais casual para alcançar uma meta mais específica: falar sobre um filme, a família ou sua opinião sobre um evento com o objetivo de melhorar seu humor, facilitar a aliança ou aliviar seu funcionamento cognitivo ou habilidades sociais Revisão da Tarefa de Casa • Estudos sugerem: pacientes que fazem tarefa de casa melhoram mais do que os que não fazem (Persons et al.,1988; Niemeyer & Feixas, 1990). • Reforçar esse comportamento é nosso dever pois o paciente pode não fazer por falta de cobrança. • Terapeutas experientes podem integrar a tarefa de casa à discussão de assuntos relevantes. • Terapeutas iniciantes devem se ater ao roteiro para não pular itens relevantes da tarefa de casa. Discussão dos tópicos da agenda, Estabelecimento de uma Nova Tarefa de Casa e Resumos Periódicos • Perguntar ao paciente com qual ítem do roteiro ele quer começar = mais ativo, assertivo assume mais responsabilidade. • Às vezes o terapeuta pode sugerir quando achar relevante e mais eficaz no momento. • Na discussão o terapeuta procura: a) b) c) d) e) Relacionar o tópico às metas propostas Reforçar o modelo cognitivo Ensina a identificar os Pensamentos Automáticos Prover algum alívio de sintomas Construir e manter rapport através de entendimento genuíno Resumos Periódicos • 2 tipos: • Breve sumário do que foi dito para esclarecer o que foi feito e o que farão a seguir. • Resumo do conteúdo dito pelo paciente, usando suas palavras, para que o terapeuta se certifique de que entendeu a problemática e a torne de forma mais concisa e clara para o paciente. Resumo final e Feedback • Tornar claro para o paciente os pontos mais importantes trabalhados na sessão de um modo otimista. • No início o terapeuta faz esse resumo. • O paciente é encorajado a fazê-lo posteriormente. • Pode ser encorajado a fazer anotações dos pontos importantes para facilitar esse tipo de resumo. Da sessão 3 em diante • Mantém o mesmo formato da sessão 2. • O conteúdo varia de acordo com as metas estabelecidas entre terapeuta e paciente. • Um plano de tratamento vai sendo delineado. • O terapeuta inicialmente assume a liderança em sugerir itens do roteiro, ajudar o paciente a identificar Pas, projetar TC e fazer os resumos de sessão. • No decorrer do processo o paciente vai assumindo essas funções. Da sessão 3 em diante • Mudança gradual de uma ênfase dos pensamentos automáticos para as crenças subjacentes e centrais. • Mudança de comportamento de uma forma menos previsível. Pacientes deprimidos são encorajados a se tornarem mais ativos para depois se trabalhar o cognitivo. • Prática de técnicas que estimulem habilidades novas, como a assertividade. • Preparar o paciente para o término da terapia e prevenção de recaída Da sessão 3 em diante • Uso da conceitualização cognitiva para orientar os estágios da terapia. • Importante as anotações de terapia para o terapeuta estar melhor preparado e dar continuidade às metas propostas no início. • Com isso refina-se a conceitualização, monitora-se o que está sendo trabalhado em terapia e se planeja as sessões futuras. • Tudo deve ser anotado para que o terapeuta não se perca. Mesmo terapeutas experientes tem dificuldade em se lembrar de todos esses itens. Exercício Prático • Caso Judith Beck. • Ler, reconhecer os conceitos da TCC. • Fazer um RPD com um Pensamento Automático Disfuncional