UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU AVM FACULDADE INTEGRADA A Criança Precoce e a Dinâmica Familiar: Vivências Emocionais e Comportamentos Por: Ricardo Barbosa dos Santos Orientadora: Professora Maria Esther de Araújo Co-orientadora: Professora Giselle Böger Brand Recife 2015 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A Criança Precoce e a Dinâmica Familiar: Vivências Emocionais e Comportamentos Ricardo Barbosa dos Santos Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do Mestre – Universidade Candido Mendes como requisito parcial para a obtenção do grau de especialista em Saúde da Família. Orientadora: Professora Maria Esther de Araújo. Co-orientadora: Professora Giselle Böger Brand RECIFE 2015 AGRADECIMENTOS A Thiane Araújo, inigualável, minha meus esposa eternos agradecimentos. Aos meus filhos Bruno e Clara, razão do meu viver. DEDICATÓRIA Dedico ao meu amado filho Bruno, primeira lição de precocidade aprendi. Eternamente, te amo! que RESUMO Este trabalho tem como objetivo analisar a influência da família na formação da dinâmica emocional e dos comportamentos apresentados pelas crianças com precocidade. A precocidade é um fenômeno que se refere à aquisição de habilidades antes do tempo esperado e a família, como base do desenvolvimento infantil, contribui na formação da dinâmica emocional e do comportamento, tendo, na constituição das características apresentadas pelas crianças precoces, forte influência. A pesquisa foi baseada em levantamento bibliográfico a fim de respaldar a análise de dois estudos de caso de crianças precoces, ambas acompanhadas em grupo, nomeado de oficina de precoces em uma instituição pública. Após a análise dos dados, concluímos que a família exerce um papel fundamental na intensificação ou não dos comportamentos apresentados pela criança precoce. METODOLOGIA A pesquisa foi baseada no levantamento bibliográfico relativo ao desenvolvimento infantil, à precocidade e à dinâmica familiar, com o objetivo de respaldar a análise de dois estudos de caso de crianças precoces. Constitui-se em uma pesquisa exploratória, pois propõe uma maior aproximação e compreensão do problema, por meio de estudo bibliográfico e análise de casos. O estudo bibliográfico foi fundamentado nas principais contribuições teóricas recentes sobre precocidade, com base nos trabalhos de Denise de Souza Fleith e de Maria Auxiliadora Dessen, referências nos estudos sobre precocidade e altas habilidades no Brasil, professoras e pesquisadoras da Universidade de Brasília - UnB; a respeito do desenvolvimento infantil numa perspectiva psicanalítica, tendo como referência contribuições significativas dos psicanalistas Alfredo Jerusalinsky e Gustavo Mano; e relativas à dinâmica familiar, no ponto de vista da abordagem sistêmica, conforme contribuições de Nathan Ackerman. Além da referida contribuição teórica, o estudo teve como base a análise de dois casos: o primeiro de uma criança com 5 anos de idade, do sexo feminino e aluna do Jardim I, da Educação Infantil, na cidade do Cabo de Santo Agostinho/PE, e atendida em psicoterapia individual de base psicanalítica. A segunda criança, com 6 anos de idade, do sexo masculino, é aluno do Jardim II, da Educação Infantil, na cidade de Recife/PE. Ambas as crianças são acompanhadas em grupo, na oficina de precoces de uma instituição pública. A coleta de dados foi realizada por meio de questionários (Anexo I) respondidos pelas educadoras de uma instituição pública que oferece serviço na área de educação especial, que acompanham os sujeitos da pesquisa em um atendimento nomeado de oficina de precoces; pelos pais; e, ainda, pelos registros efetuados pelo psicólogo clínico autor deste estudo que acompanha um dos sujeitos. Os dados coletados dos casos foram apresentados de forma descritiva. A análise dos dados foi realizada de acordo com a abordagem qualitativa, por meio da descrição dos casos, pelo uso do raciocínio indutivo, realizando a interpretação dos fenômenos e atribuindo-lhes significados. SUMÁRIO INTRODUÇÃO....................................................................................................9 CAPÍTULO I - PRECOCIDADE: UMA INTRODUÇÃO.............................................11 CAPÍTULO II - DINÂMICA FAMILIAR E DESENVOLVIMENTO INFANTIL......20 CAPÍTULO III – A DINÂMICA FAMILIAR DIANTE DA PRECOCIDADE DA CRIANÇA.......................................................................................................................25 CAPÍTULO IV – RELATO DOS CASOS......................................................................30 ANÁLISE E DISCUSSÃO.............................................................................................35 ANEXOS.........................................................................................................................39 BIBLIOGRAFIA.............................................................................................................41 WEBGRAFIA.................................................................................................................43 9 INTRODUÇÃO Este trabalho se propõe a estudar a precocidade enquanto fenômeno observado em crianças na primeira infância (2 a 7 anos), e que diz respeito à aquisição antes do momento esperado ou considerado normal de habilidades como: linguagem, motricidade e cognição, dentre outras. O estudo foi realizado através de levantamento teórico e de dois estudos de caso, um de uma criança de 5 anos e outra de 6 anos, tendo como referência a constituição emocional, o comportamento da criança precoce e a sua dinâmica familiar. A família, como base do desenvolvimento infantil, contribui na formação da dinâmica emocional e do comportamento, tendo, na constituição das características apresentadas pelas crianças precoces, forte influência. Sendo assim, questionamos como a dinâmica familiar influencia na vivência emocional e na formação de comportamentos apresentados pelas crianças precoces. Em 2007, tivemos a oportunidade de participar de um curso de formação para profissionais da educação realizado pelo Ministério da Educação e Cultura - MEC, quando tivemos a oportunidade de conhecer as contribuições recentes acerca dos estudos sobre altas habilidades e precocidade. Este curso foi promovido com o intuito de capacitar profissionais da educação municipal para a implantação de um serviço suplementar na área da educação especial. Este serviço tem por objetivo realizar o atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos com altas habilidades/superdotação, a fim de oportunizar o aprendizado específico e estimular suas potencialidades criativas e seu senso crítico, oferecendo ainda apoio pedagógico aos professores e orientação às famílias destas crianças (FLEITH, 2007). Conhecendo o trabalho da instituição e sua equipe, passamos a acompanhar suas atividades e a receber, com grande frequência, no nosso consultório, crianças com altas habilidades e com precocidade, encaminhadas pela entidade. Por conta disso, na clínica, observamos que a dinâmica emocional e muitos dos comportamentos apresentados pelas crianças estavam 10 relacionados diretamente à dinâmica de funcionamento e história da família, e não apenas ao fato da criança apresentar precocidade. A metodologia do estudo é apresentada discorrendo sobre os recursos e estratégias utilizados para a pesquisa, a fim de investigar a hipótese de que, apesar de ter características emocionais e de comportamento que, no geral, são inerentes à criança precoce, a dinâmica emocional e de funcionamento da família contribui intensamente para o surgimento e reforço de tais comportamentos. Posteriormente, na fundamentação teórica, iniciamos no capítulo I abordando o conceito de precocidade, as características referentes às habilidades que podem ser identificadas e aspectos da dinâmica emocional das crianças precoces, com o intuito de esclarecer o tema e seus conceitos, em especial relativos às questões afetivas que, vale ressaltar, são pouco abordadas no meio acadêmico. O capítulo II discorre sobre as influências da dinâmica familiar no desenvolvimento infantil, a partir de uma perspectiva psicanalítica e sistêmica, enfocando as significações psíquicas que os pais constroem na relação com o filho e como a dinâmica destas representações entre os membros da família interfere na constituição do sujeito psíquico. O capítulo III enfoca a relação entre o funcionamento familiar e a constituição e expressão da dinâmica emocional da criança precoce, mostrando como a família tem um papel fundante e direto no surgimento e desenvolvimento das habilidades, comportamentos e atividade afetiva desses menores. O capítulo IV apresenta o relato de dois casos, abordando a experiência familiar, a formação, contextualização e exteriorização da vida emocional e dos comportamentos apresentados pelos sujeitos analisados. Logo após, apresentamos a conclusão do trabalho, com a análise e interpretação dos casos apresentados, onde são expostas as conclusões fundamentadas na teoria relacionada com a realidade experimentada por esses sujeitos. 11 CAPÍTULO I PRECOCIDADE: UMA INTRODUÇÃO A precocidade no desenvolvimento infantil é analisada na literatura especializada e nos inventários de personalidade há bastante tempo. O que diferencia a criança precoce dos seus pares é o seu desenvolvimento tipicamente avançado na primeira infância (PIAGET, 1999) - de 2 a 7 anos de idade -, marcado pela aquisição de uma ou mais habilidades antes do momento esperado para seu grupo etário. Precocidade não se refere apenas às aquisições antecipadas de competências no desenvolvimento cognitivo, mas, também, de comportamentos apresentados ou de pensamentos desenvolvidos, característicos de crianças mais velhas. Assim, aquela que é precoce não se confunde com a criança prodígio, como o foi Wolfgang Amadeus Mozart, que apresenta um desempenho elevado, próprio de um profissional adulto, em algum campo particular do saber; e com os gênios, que se destacam entre os melhores, a exemplo de Leonardo da Vinci e Albert Einstein, que, atualmente, são entendidos como aqueles indivíduos que deram uma contribuição significativa e original aos povos, por isso mesmo considerados os grandes realizadores da humanidade, conforme Virgolim (2007). Assim, as crianças precoces, as crianças prodígio e os gênios constituem as três gradações ou manifestações específicas formadoras de um contínuo entendido como fenômeno da superdotação/altas habilidades. Para Renzulli (1986) apud Alencar (1992), estudioso do Centro Nacional de Pesquisa Sobre o Superdotado e Talentoso, da Universidade de Connecticut, Estados Unidos, existem dois tipos elementares de superdotação. O primeiro é a superdotação do contexto educacional (schoolhouse giftedness), e o segundo tipo é denominada criativa-produtiva (creative-productive). Os dois exemplos de superdotação são igualmente importantes e interrelacionados, e ambos têm a necessidade de estímulos por meio de programas escolares específicos de incentivo. 12 A superdotação do contexto educacional é aquela apresentada pelos alunos que apresentam um bom rendimento escolar, fruto de uma compreensão e capacidade de raciocínio mais elaborado. Os alunos que apresentam essa superdotação são regularmente orientados para programas de encaminhamento e orientação, que enfatizam a aprendizagem dedutiva (do geral para o particular) e o treino de processos estruturados de pensamento que tem por objetivo a obtenção, a guarda e a reprodução da informação adquirida. O segundo tipo de superdotação, a criativa-produtiva, diz respeito à produção original, inovadora, diferente do que é estabelecido, em que a ênfase no processo de aprendizagem recai sobre a integração dos processos de pensamento com a informação, partindo do particular para o geral (indução), objetivando a resolução de problemas reais. A esse modelo de superdotação Renzulli dedicou especial atenção e grande parte da sua produção teórica e prática, e serviu de base para a sua concepção de superdotação que relaciona os seguintes fatores: a) habilidade acima da média; b) dedicação à tarefa; e c) criatividade. A habilidade acima da média é relacionada à habilidade geral e a habilidades específicas. A habilidade geral diz respeito ao processamento de informações, à integração de experiências (background) e ao emprego do raciocínio abstrato. As habilidades específicas estão ligadas à capacidade de adquirir competência para a realização de atividades especializadas, como o domínio da física teórica ou de alguma prática esportiva específica. A dedicação à tarefa define o empenho do indivíduo na consecução de determinado objetivo e refere-se a traços de personalidade como perseverança, compromisso com o objetivo e autoconfiança, além da convicção de que se é capaz de desenvolver um trabalho de qualidade. Quanto ao terceiro fator, a criatividade, pode ser mais bem compreendida e dimensionada a partir da atividade e produção criativa do indivíduo, quando realizando uma atividade de seu interesse. Renzulli chama a atenção para o fato de que os testes de criatividade ordinariamente 13 empregados possuem limitações significativas, questão que foge ao objetivo deste estudo. Assim, para Joseph Renzulli (1986) apud Andrés (2010), o fenômeno da superdotação pode ser entendido de acordo com o seu Modelo dos Três Anéis, que define os conjuntos de traços que resultariam no fenômeno em questão: 1) Habilidade acima da média em uma área particular do conhecimento, quando comparado aos colegas de mesma idade e origem social e cultural; 2) Dedicação à tarefa, que implica em motivação, foco e empenho na busca pelo objetivo; 3) Pensamento criativo, que diz respeito a pensar de forma inovadora em algo diferente do tradicional, realizar conexões entre ideias até então não consideradas e chegar a conclusões inéditas. Para o renomado autor, esses são os fundamentos da superdotação. Vale destacar que os três elementos (habilidade acima da média, envolvimento com a tarefa e criatividade), necessariamente não precisam marcar presença simultaneamente, ou ter o mesmo poder de manifestação ao longo da vida. O que interessa é a existência de alguma relação entre eles, para que a produtividade de primeira linha possa se manifestar. Aqui, neste trabalho, abordaremos especificamente as características referentes à precocidade. São chamadas de precoces as crianças que mostram alguma capacidade prematuramente desenvolvida, em qualquer área do saber humano, como na física, na astronomia, na dança, na pintura, na música, na informática, nas relações sociais, na promoção da paz, na leitura, na comunicação, na expressão corporal, nos esportes etc. Contudo, para evitar o emprego equivocado de rótulos como o de superdotado, prodígio ou gênio, o desenvolvimento da criança deve ser criteriosamente acompanhado, já que “mesmo a superdotação precoce, em seu grau extremo, não é garantia de sucesso futuro ou de que esta pessoa se tornará um adulto eminente” (VIRGOLIM, 2007, p. 23). De acordo com Alencar (1992), mais recentemente, a compreensão multidimensional de inteligência tem sido enfatizada, o que significa o emprego de muitas fontes e procedimentos para se considerar o fenômeno da 14 superdotação, como: testes de inteligência, produção criativa, avaliação do desempenho escolar, observação do comportamento, acrescidos de entrevistas com professores e com a família e avaliações feitas pelo próprio aluno sobre suas habilidades e interesses. No final do século passado e início do atual, foram criadas diversas escalas que buscam avaliar características dos alunos como motivação, liderança, criatividade e aprendizagem, a serem utilizadas pelos professores. O meio socioeconômico e o contexto cultural do aluno também são de extrema importância. Assim, os testes normalmente aplicados dizem respeito à realidade do jovem da classe média urbana, mas pouco tem a ver com as condições de vida do jovem do meio rural e das camadas socialmente menos favorecidas das cidades brasileiras. Com estes alunos, devemos dispensar especial atenção a aspectos como motivação e compromisso, criatividade do pensamento, e características da personalidade como dinamismo e perseverança, relacionando esses fatores ao seu meio social e cultural. Com base no trabalho de Ourofino e Guimarães (2007), podemos destacar as seguintes características dentre as mais encontradas em crianças precoces em idade pré-escolar: • Alto grau de curiosidade; • Boa memória; • Atenção concentrada; • Persistência; • Independência e autonomia; • Interesse por áreas e tópicos diversos; • Aprendizagem rápida; • Criatividade e imaginação; • Iniciativa; • Liderança; • Vocabulário avançado para a sua idade cronológica; • Riqueza de expressão verbal (elaboração e fluência de ideias); • Habilidade para considerar pontos de vista de outras pessoas; 15 • Facilidade para interagir com pessoas mais velhas e adultos. Do ponto de vista de Mano (2013), a infância e a adolescência podem também ser entendidos enquanto processos psíquicos constituintes do sujeito, o que mostra as relações existentes entre a psicologia do desenvolvimento e a psicanálise, particularmente a lacaniana. De maneira breve, podemos afirmar que a psicologia do desenvolvimento trata da normatização e da classificação dos períodos, dentro dos parâmetros de uma maturação típica. Dessa forma, segue um ordenamento exterior previamente fixado, definido pela cronologia. Já a psicanálise, mais especificamente a produção teórica de Jaques Lacan, fala de tempos do sujeito, por ele definidos como instante de ver, tempo de compreender e momento de concluir, todos do campo do tempo lógico, de significado e alcance subjetivo, em oposição ao tempo cronológico e universal da psicologia do desenvolvimento. De acordo com Pinho (2003), o vocábulo desenvolvimento diz respeito a todas as modificações pelas quais passa o indivíduo, no decorrer de sua existência, no que se refere aos aspectos biológico, psíquico e social. Tem um significado diferente, portanto, do termo crescimento - que define as modificações no peso, na altura, nas dimensões do corpo -, e de maturação, que vem a ser a particularização ou especialização progressiva das estruturas que compõem o organismo, a exemplo do sistema nervoso central. Ourofino e Guimarães (2007) afirmam que, no caso de crianças precoces, pode haver um descompasso entre o desenvolvimento cognitivo, considerado avançado, e o desenvolvimento afetivo que não apresenta, necessariamente, sinais de amadurecimento e de estar acompanhando aquele. Os precoces apresentam, dessa forma, assincronia do desenvolvimento, ou seja, o desencontro entre o desenvolvimento cognitivo, afetivo e psicomotor, que se revela nas relações entre cognição e emoção, no desenvolvimento moral e na significativa intensidade emocional da pessoa superdotada (CUPERTINO, 2008). O equilíbrio emocional pode ser posto à prova de forma sensível por causa da assincronia, o que não raramente acarreta problemas pessoais, familiares, escolares e com a comunidade. Vale destacar que Leta Hollingworth foi a primeira autora a chamar a atenção para o fato de que a 16 capacidade cognitiva de um adulto e a maturidade emocional de uma criança em um corpo de criança podem causar alguns problemas, a exemplo dos conflitos familiares, de acordo com Silverman (1993). A acentuada elaboração verbal e conceitual, quando ainda estão dando os primeiros passos no aprendizado da leitura, acarreta significativa frustração; a habilidade espacial desenvolvida, associada à incapacidade de colocar no papel o que conseguem perceber, causa desolação; a desenvoltura cinestésica, somada à dificuldade para relacionar-se com os pares e, consequentemente, de integrar-se em uma prática esportiva, faz com que a criança se sinta desafiada internamente. Já que o desenvolvimento e o amadurecimento de cada uma das áreas citadas têm o seu próprio percurso e tempo de realização, muitas crianças precoces sofrem por causa dessa assincronia, em um momento em que ainda não gozam de maturidade emocional e intelectual para entendê-la e assimilá-la, o que tem reflexos diretos em sua autoestima. As crianças precoces formam um grupo heterogêneo, com diferentes interesses, níveis de habilidades, desenvolvimento emocional, social e físico (FLEITH, 2006). Com a busca pelo desenvolvimento global da criança, em outras palavras, de todas as áreas do desenvolvimento pessoal, numa compreensão que transcende a concepção unidimensional da inteligência, Howard Gardner e sua Teoria das Inteligências Múltiplas tem importantes contribuições para compreendermos as habilidades que podem ser desenvolvidas por uma criança no decorrer do seu desenvolvimento e como estas se manifestam (Antunes, 2002). Para ele, a inteligência é definida como “potencial biopsicológico para processar informações, que pode ser ativado num cenário cultural para solucionar problemas ou criar produtos que sejam valorizados numa cultura.” (Gardner, 2000, p.47). Algumas de suas lições sobre os tipos de inteligência são sintetizadas a seguir: • Inteligência cinestésica: capacidade para solucionar problemas ou produzir produtos por meio do uso de partes ou de todo o corpo; habilidade para fazer bom uso da coordenação motora ampla e 17 fina em atividades esportivas e coreografias para controlar o deslocamento do corpo e a manipulação de objetos com eficiência. Empregada por atletas, bailarinos, equilibristas etc. • Inteligência espacial: segundo Gardner, é o tipo de inteligência característico dos engenheiros, arquitetos e artistas plásticos, ou seja, daqueles que percebem e concebem a realidade espacial de forma clara e precisa, conseguindo manipular formas e objetos mentalmente e, com base no que perceberam inicialmente, criar novos objetos, formas, composições e soluções numa representação espacial. • Inteligência interpessoal: habilidade para compreender e responder de forma satisfatória aos humores, temperamentos e motivações das pessoas; capacidade de perceber as inclinações e desejos dos sujeitos e para reagir de maneira adequada com base no que foi percebido. • Inteligência intrapessoal: capacidade de acessar, analisar e direcionar os próprios conteúdos emocionais e intelectuais, como pensamentos e desejos, no intuito de resolver questões pessoais; conhecimento das próprias necessidades, potencialidades e características, para que possa formular uma imagem coerente e definida de si e para que esta atue de forma eficiente. • Inteligência linguística: capacidade para perceber as diferentes sonoridades, ritmos e significados das palavras, e os variados contextos e funções da linguagem; habilidade para usar a linguagem com o propósito de emocionar, persuadir, agradar ou transmitir conhecimentos. Para Gardner, é a modalidade de inteligência predominante nos poetas, operadores do direito e escritores. • Inteligência musical: relacionada com as atividades de composição e reprodução musical, canto, tocar instrumentos musicais e apreciar música. Também é a capacidade de 18 identificar e distinguir timbres musicais, texturas e sonoridades diversas. É apresentada por músicos e intérpretes musicais. • Inteligência lógico-matemática: diz respeito à facilidade de raciocínio, identificação e aplicação de padrões, estabelecimento de ordenamentos e sistematizações. Habilidade no estudo de relações e categorias fazendo uso de objetos e/ou símbolos. Capacidade de fazer experimentos de forma controlada, trabalhar com séries de raciocínios, identificar problemas complexos e suas soluções. Faz parte do cotidiano de matemáticos, físicos e cientistas. • Inteligência naturalista ou ecológica: habilidade para reconhecer e analisar a flora e a fauna, as rochas e suas diferentes manifestações. Capacidade de agir construtivamente no meio natural. É apresentada por botânicos, geólogos, ornitólogos e zoólogos. Para Gardner (2000), todas as pessoas possuem várias inteligências e os níveis de habilidade em cada uma dessas inteligências são independentes, ou seja, o elevado desempenho em uma delas não significa o mesmo resultado nas outras. As pessoas são diferentes entre si em suas inteligências por causa da sua herança genética e do contexto ambiental e cultural onde vivem, e é papel da escola oportunizar condições variadas para o desenvolvimento e expressão dos diferentes tipos de inteligência. Um dos pontos mais positivos dessa teoria é a ênfase na compreensão multicategorial da inteligência e da superdotação. Dessa forma, é frequente percebermos uma criança muito desenvolvida do ponto de vista intelectual, porém física e emocionalmente imatura, o que precisa ser registrado e acompanhado pelos mais próximos. Inclusive, o desempenho diferenciado pode ser o resultado de uma estimulação intensa realizada pelos familiares e que, quando a criança venha a ingressar no universo escolar, tal desempenho passe a ser mediano, típico das crianças daquela faixa etária. Daí a compreensão de que uma criança precoce não será, necessariamente, genial. Diante dessa constatação, verifica-se a 19 importância de acompanhar o desenvolvimento dessa criança, de registrar as habilidades e os interesses apresentados na fase inicial da vida escolar e de ofertar atividades estimuladoras e enriquecedoras de sua competência, e a dinâmica familiar tem papel fundamental neste processo, pois influencia a vivência emocional e, consequentemente, contribui para a formação de valores e comportamentos específicos apresentados pelas crianças precoces. 20 CAPÍTULO II DINÂMICA FAMILIAR E DESENVOLVIMENTO INFANTIL A infância é marcada pela passagem do infans (filhote humano ainda não falante) à condição de falasser (sujeito falante e desejante). Para a psicanálise, a fundação na linguagem do sujeito psicanalítico ocorre em situações que antecedem o próprio nascer, como o são as idealizações dos pais, os significantes da novela familiar e o universo simbólico prévio. O instante de ver pode ser entendido como o testemunho primordial da castração, própria e do Outro, em que ocorre a entrada do projeto de sujeito na linguagem e consequente início da formação de um projeto de indivíduo, que se dá pela captação dos significantes primordiais. Em outras palavras, é o momento de ingresso do infans no universo linguístico, social e culturalmente determinado e traspassado pela linguagem, apesar de ainda alienado desse universo (MANO, 2013). Para Freud (1993) apud Mano (2013), a organização genital infantil ocorre, dentre outros fatores, por meio de danos narcísicos precoces, como a perda do seio materno depois de terminado o sugar, a entrega cotidiana de suas fezes e a separação do útero, ao nascer. Todas essas situações têm sua significação advinda do Outro, que pode ser o pai, a mãe, o irmão ou outra pessoa afetivamente significativa para a criança. De fato, de acordo com Jerusalinsky (2001) apud Mano (2013), por algum tempo na vida da criança ocorre uma carência de posição de sujeito, que, muitas vezes, é antecipado, mas não efetivado enquanto tal, no discurso dos pais apresentado na clínica psicanalítica. Ou seja, a criança ocupa o lugar de objeto. Tal situação é expressa na fala queixosa dos pais, na perspectiva patológica dos médicos e no respeito às regras que é exigido no ambiente escolar. Enfrentando essa situação, a criança tem a necessidade de um lugar de onde possa se expressar e se enunciar enquanto sujeito, já que ela é falada, criticada, comentada, avaliada e condenada, mas não lhe é dada a oportunidade para que fale por si 21 e de si, o que faz com que ela fique na posição de gozo do Outro, no lugar do infans. Esse jogo entre a posição gozada e gozosa, de acordo com Jerusalinsky (2001) apud Mano (2013), é fundamental para a própria sobrevivência da criança. Suas manifestações como o choro, o resmungo e o grito não se estruturam enquanto fala; são, antes, pedidos carentes de uma significação que é dada pelo Outro, no lugar de desejante, que precisa oferecer algo que vá além do que a simples necessidade biologicamente determinada solicita. Dessa forma, percebemos que significantes e significados podem ser dados quando a palavra ainda não está ao alcance da criança, e o acesso àquela, vale destacar, implica também em abdicar do gozo de ser o objeto para o Outro. O trabalho psíquico na infância consiste, essencialmente, em passar da posição de objeto, falada, para o lugar de sujeito falante. Do ponto de vista psicanalítico, a dimensão mental promove a organização do sistema motor, perceptivo, fonatório, adaptativo etc. Tem como ponto de partida os mecanismos físico-biológicos, e percorre o caminho de volta para eles modificando até mesmo o seu funcionamento. Assim, podemos afirmar que a estruturação do tônus muscular depende não somente de automatismos neurofisiológicos, mas ainda do tratamento que o Outro, na posição materna, dispense aos estímulos internos que atuam na criança. Assim, depende da relação do Outro com a criança a promoção do processo de maturação harmoniosa do tônus muscular desta. O bebê, que se encontra em um momento de variação tônico-muscular, recebe da mãe o significado por meio da linguagem, dimensão especificamente psíquica. Há ainda outros exemplos da subjetividade psíquica influenciando o funcionamento corporal/neuromuscular, como é o caso da conversão histérica e do quadro catatônico da psicose esquizofrênica, dentre outros. A determinação simbólica do funcionamento psíquico é marcante nos transtornos excrementícios, mictórios e de vômitos associados a quadros fóbicos ou anoréxicos. Nos casos de autismo precoce, o plano perceptivo, diretamente afetado pela falha na posição simbólica, passa por um processo de desintegração sensorial. A cadeia significante, ao efetuar a captura do corpo, 22 dá início ao ordenamento simbólico, operado por um Outro, processo constituinte da posição imaginária. De acordo com Lacan (1978) apud Jerusalinsky (1999), por causa de sua deficiência instintual, o ser humano necessita da mediação do Outro para a formação do seu objeto de desejo. Por causa dessa insuficiência biológica, a dimensão psíquica, enquanto pulsão, representa o organicamente determinado. Ao receber um estímulo externo e buscando evitar os seus efeitos, a criança vale-se da ação para resolver os desacordos. Já no que diz respeito aos conflitos internos, a dinâmica de resolução é mais complexa, uma vez que exige a intervenção tutelar do Outro, já que é ele quem constitui o objeto humano, enquanto significante e formador do Imaginário. O mesmo não ocorre com o objeto animal, que é constituído hereditariamente, unicamente por determinação biológica. Assim, é o discurso do Outro que preenche o bebê, que até então ocupava o lugar vazio, sem significado, de objeto, para que possa recobrir, no Real, o objeto. Tal estruturação ocorre com a inscrição de marcas simbólicas no corpo pela mãe, definindo assim a borda do objeto, que, para o bem da criança, permanecerá vazio. O bebê fala por meio do discurso paterno sobre ele, ocupando, a partir de então, um lugar na cadeia significante dos pais, que denegam a sua insuficiência. Pelo que vimos, o desenvolvimento do bebê se dá por meio das marcas simbólicas que o afetam. Não tem por base unicamente o critério biológico e a influência ambiental, mas considera as marcas simbólicas que se organizam em séries significantes que, por sua vez, dão origem a sistemas estáveis – visual, auditivo, fonatório, motor etc. O ritmo do desenvolvimento é definido pelo desejo do Outro e é expresso pelo seu discurso. O sujeito é fruto da linguagem, pois o conjunto biológico acrescido da estrutura significante proporcionada pela linguagem autoriza a criança a se apropriar dessas instâncias e sistemas simbólicos, que a remetem ao campo fantasmático e ao da realidade. 23 De fato, o encontro da subjetividade da criança com a subjetividade dos pais promove a articulação de sintomas, que não se esgota no puramente orgânico, o que diz respeito diretamente ao tempo de constituição dessa criança, que se estrutura enquanto realização do desejo e sustentação psíquica dos pais. E, de grande importância para o nosso estudo, como se relacionar com essa criança que foge aos padrões tradicionais no que se relaciona com a aquisição precoce de habilidades e competências, apresentando um desenvolvimento cognitivo que não é acompanhado por um amadurecimento e desenvoltura emocional? A busca de resposta pelos pais, aflitos e desnorteados, se baseia em estudos técnicos e médicos, que, com significativa frequência, os afastam da criança, carente de atenção, orientação, companhia e acolhimento. O tempo de compreender diz respeito à organização dos significantes para a estruturação do psiquismo infantil. Portanto, é aqui que ocorre a passagem de objeto para a posição de sujeito, ou aquele que sabe do lugar que ocupa para o Outro, conforme Giongo (2011) apud Mano (2013). Com a capacidade de manejar os significantes que toma emprestados, a criança dá início ao processo de separação, ou seja, dá início à individuação que trará a sua nova posição, desta vez diante da castração. Ou seja, deixará o lugar de objeto e passará a ocupar o lugar do Outro e, assim, terá condições de construir a sua própria história. De acordo com Bernardino (2007) apud Mano (2013), ocorre a internalização da estrutura simbólica, que faz o papel de apoio inconsciente e permite à criança posicionar o seu discurso. A criança tem, pelo exposto, um papel ativo em seu processo de estruturação psíquica e, para Rodulfo (1990) apud Mano (2013, p.5), “a criança alimenta a si mesma através do seio da mãe”. Agora vamos abordar o Nome-do-Pai, que atua enquanto significante em situações de demarcação de lugares simbólicos, a partir do momento em que a criança se ocupa da palavra. É o crédito resultante do exercício da função paterna, condição sine qua non para que se torne significante. Em poucas palavras, o tempo de compreender diz respeito à passagem do lugar de objeto 24 na fala do Outro ao lugar de sujeito, transição essa que ocorre a partir da elaboração da castração. O terceiro estádio, o momento de concluir, remete ao chamado para que o sujeito se enuncie, situação própria do ingresso na adolescência, quando ocorre a falta de um significante que designe plenamente o sujeito, no Outro. A memória não faz uso unicamente da acumulação de informações significativas, mas dá novos significados ao material armazenado, fazendo uso de intersecções significantes, o que permite o encontro dos tempos e dos fatos marcantes. De acordo com Ackerman (1978), a família, enquanto sistema de trocas recíprocas entre seus membros, constitui-se em um contexto de desenvolvimento, a quem cabe a realização e harmonização de todas as funções essenciais, dentre as quais destacam-se a garantia de sobrevivência e a transmissão da humanidade fundamental do indivíduo. Tal funcionamento ocorre tomando por base o funcionamento da família e de seus membros, de maneira honesta e transparente em relação aos perigos e oportunidades do meio social em questão. Cabe ainda à família a relação com o meio social mais amplo, à medida que apresenta e inclui os seus constituintes no meio escolar, no círculo de amizades, na vizinhança etc. Para que possa cumprir o seu papel, a família necessita desenvolver a afetividade entre os seus membros, por meio do emprego e circulação dos sentimentos de afeto, de devoção e de lealdade, o que significa, de forma mais abrangente, a preocupação com o bem-estar e a felicidade do outro. Nesse sistema de trocas entre pais e filhos, o fenômeno da precocidade exige uma revisão dos papéis exercidos tradicionalmente pelos membros da família. Esta tem uma função crítica e essencial no desenvolvimento de crianças precoces, já que é o contexto inicial de desenvolvimento do ser humano e, conforme Dessen e Braz (2005, p.128), “além de ser um espaço de transmissão de cultura, significado social e conhecimento agregado ao longo das gerações”. 25 CAPÍTULO III A DINÃMICA FAMILIAR FRENTE À PRECOCIDADE DA CRIANÇA A família constitui-se em um sistema que propicia o desenvolvimento inicial dos seus membros, provendo-os com os elementos necessários para a sua sobrevivência e socialização iniciais, ao proporcionar significação pessoal e social à existência dos seus integrantes. Desta forma, nas palavras de Dessen (2007, p.23), “o seu importante papel na proteção do funcionamento biológico, na sobrevivência humana, na manutenção e transmissão de valores, tradições e significados culturais é inquestionável.” O grupo familiar, neste sentido, é fundamental para o desenvolvimento das habilidades, precoces ou não, de uma criança. De acordo com Silverman (1993, p.171), “a superdotação é uma qualidade da família, mais do que uma qualidade que diferencia a criança do resto de sua família”, ou seja, além dos pais de criança precoces em geral possuírem uma formação intelectual diferenciada, o meio familiar dessas crianças é significativamente favorável ao desenvolvimento da precocidade, já que atua de forma motivadora e fortalecedora das potencialidades da criança. É um meio familiar voltado para o desenvolvimento dos filhos, em que ocorre interação constante, por meio de conversas, jogos, leituras e demais atividades voltadas para a valorização da educação e do aprimoramento pessoal. O acompanhamento constante dos filhos tem por base modelos convincentes de comportamento, valores solidamente estabelecidos e o incentivo aos interesses dos menores, por meio do fortalecimento da independência e da curiosidade. Vale ressaltar que, a despeito do rigor exagerado que o incauto pode identificar na conduta dos pais de crianças precoces, há o necessário espaço para os erros da criança, que são considerados com tolerância e acolhimento, no sentido de promover a sua revisão e aprendizado com as dificuldades. 26 São lares marcados pelo forte sentimento de união, por relacionamentos construtivos e por conflitos menos significativos do que os existentes em lares de crianças que não são precoces, e de um menor número de divórcios. Tratase de um sistema de influências recíprocas entre a família e a criança precoce, em que a herança genética e a dinâmica de convivência familiar interagem de uma maneira a facilitar ou a dificultar o desenvolvimento da precocidade. Quando nasce uma criança com algum tipo de déficit no desenvolvimento, logo as necessidades específicas desta criança são identificadas e a família imediatamente é orientada a buscar atendimentos adequados as suas especificidades. Porém, quando nasce uma criança que virá a ser superdotada, a família mantém-se por longo tempo desorientada, perdida, já que as evidências da alta habilidade da criança só surgirão no decorrer do seu desenvolvimento (DELOU, 2007). Segundo Dessen (2007), a maioria dos pais de crianças precoces reconhecem as habilidades de destaque dos seus filhos por volta dos 5 anos de idade. Estas famílias vivenciam algumas situações consideradas tranquilas em contextos familiares que não têm crianças precoces como desafiantes, a saber: decisões sobre em qual escola colocar o filho, se devem ou não acelerar a criança na série escolar, dentre outros. Estes desafios são mais intensos e inclusive podem desencadear conflitos entre os pais no que se refere à concordância nas decisões a respeito de suas relações parentais. Devido à assincronia do desenvolvimento, também é difícil para os pais lidar com um filho que tem argumentos verbais de uma idade avançada e comportamento emocional de sua faixa etária. Na maioria das vezes, os pais estão desinformados a respeito do modo de ser peculiar e das necessidades específicas do seu filho precoce, o que faz com que fiquem desnorteados a respeito do que fazer e de como proceder, no sentido de incentivar ou de inibir o potencial do seu filho, além de se perceberem isolados e sem apoio. Essa dinâmica familiar pode ser entendida de acordo com vários fatores: 27 “(a) ideias preconceituosas e estereotipadas disseminadas na sociedade sobre o indivíduo superdotado; (b) hostilidade encoberta por parte da sociedade àqueles que apresentam um potencial elevado; (c) apoio limitado da sociedade a projetos na área da superdotação; (d) falta de informações sobre recursos, programas e serviços disponíveis para estes indivíduos; (e) dissonância entre as práticas usualmente recomendadas para a criação de um filho e a realidade vivenciada com o filho superdotado e (f) a preferência por ter um filho que seja “normal” a ter que pagar o preço por ser diferente”. (COLANGELO, 1997; SILVERMAN, 1993; WEBB & DE VRIES, 1998), apud Fleith (2007, p. 9) A manifestação da precocidade na criança é causa, amiúde, de ansiedade, de cobranças exageradas e de desorientação dos pais, que não conseguem entender o que acontece com o próprio filho e agem, com frequência, como se ele apresentasse algum transtorno de aprendizagem. Essa atitude dos pais é influenciada pelos mitos, preconceitos e estereótipos que cercam a questão da precocidade, o que acaba por gerar confusão e desentendimento, impedindo ou obstaculizando a oferta de compreensão, apoio e incentivo de que essas crianças tanto necessitam. Nesse contexto, muitos pais apresentam dificuldades com questões emocionais, familiares, sociais, cognitivas e escolares de seus filhos precoces (ASPESI, 2007). É comum a ocorrência de ciúmes e de rivalidades nos lares em que há uma criança precoce e outra com desenvolvimento típico (SILVERMAN,1993). Confusos na administração de limites, os pais muitas vezes são mais permissivos do que deveriam, por medo ou receio de frustrar o filho, visto como excepcional e admirável, o que evidencia que consideram a criança superior estimulando assim modelos de relacionamento pautados pela competitividade e proteção exageradas, o que certamente causa problemas na família, na comunidade, na escola etc (DESSEN, 2007). Muitos pais afirmam que se identificam com a realidade dos filhos precoces, e que enfrentaram situações favoráveis e desfavoráveis semelhantes àquelas vivenciadas pelos menores. Apesar disso, tal identificação com os filhos não levou os pais a ter uma compreensão aprofundada e detalhada da 28 situação emocional vivenciada pela criança precoce, o que impede a elaboração da problemática em questão. Assim, pela carência de elaboração psíquica, muitas vezes repetem com os filhos as situações que vivenciaram quando pequenos. O despreparo dos pais acaba afetando os comportamentos apresentados pelos filhos, que, muitas vezes, se sentem exigidos em demasia e expostos a situações sociais para as quais não estão devidamente amadurecidos, o que pode levar a desentendimentos, perda da autoestima e desmotivação. É público que um ambiente socioafetivo saudável auxilia na promoção do bem-estar psicológico e age eficazmente sobre a capacidade de autorregulação da criança, fatores que auxiliam na sincronização do desenvolvimento global (DESSEN, 2007). Por causa do desempenho precoce de seus filhos, muitos pais, por preconceito ou desinformação, ficam assustados e defendem que estes devem ter uma formação familiar, social e escolar igual a das outras crianças, negando assim as suas possibilidades e potencialidades, tentando adequá-las a padrões de normalidade, e podando qualquer expectativa quanto ao futuro. De acordo com Silverman (1993), apud Aspesi (2007), nesse ambiente, as reais necessidades da criança não são atendidas, já que suas potencialidades e talentos não são devidamente considerados, além dos problemas emocionais e sociais igualmente desencadeados. É muito importante conhecer a forma como funcionam as famílias de crianças e adolescentes com altas habilidades/superdotação para compreensão dos efeitos do desenvolvimento diferenciado destes indivíduos, inclusive emocional, e de como a família recebe a notícia de que um de seus membros é superdotado. A família sofre quando se dá conta de que a sociedade ainda tem preconceitos com relação às altas habilidades/superdotação. Um destes preconceitos é a negação de que altas habilidades/superdotação não existem, pois consideram todos iguais. Outra concepção errônea referente a alta habilidade/superdotação é de que a criança não precisa de apoio ou ajuda pedagógica especializada para desenvolver suas habilidades, pois julgam que ela já nasceu inteligente e existem muito 29 mais alunos que precisam de ajuda do que os alunos com destaque no desenvolvimento (DELOU, 2007). Sendo assim, a família das crianças precoces não encontra profissionais especializados em altas habilidades/superdotação, tanto nas escolas públicas como nas particulares (DELOU, 2007). O mesmo ocorre na área da saúde, particularmente na psicologia, aqui em questão,. Isto gera muitas vezes má compreensão e intervenções inadequadas, como, por exemplo, diagnosticar uma criança superdotada como hiperativa, pois muitos profissionais confundem o alto nível de energia com hipercinesia ou hiperatividade (OUROFINO & GUIMARÃES, 2007). Pelo exposto, a criança precoce constitui-se em um desafio para a família, que não sabe lidar com suas peculiaridades, interesses, habilidades e potenciais. Pelo seu destaque em uma ou mais áreas, ao contrário de muitos dos seus pares, usualmente acaba ocupando o lugar do diferente ou excluído do seu grupo, carente de afeto e de incentivo. Sendo assim, a família da criança precoce necessita também ser acompanhada, a fim de receber suporte sobre as especificidades emocionais dos pequenos. 30 CAPÍTULO IV RELATO DOS CASOS Este trabalho apresentará dois casos de crianças precoces, ambas acompanhadas em uma instituição pública na área de educação especial, com o propósito de analisar a constituição emocional e a dinâmica familiar de cada uma delas. CASO I C., 5 anos de idade, é a filha de um casal que já tinha uma filha primogênita, com quatorze anos de idade, quando a genitora S. engravidou. Aproximadamente, quando C. tinha dois anos de idade, sua mãe entrou em contato com uma equipe que atende crianças com altas habilidades/superdotação , muito aflita e assustada, sem saber como lidar com os comportamentos apresentados pela criança, a saber, aquisição precoce na habilidade de leitura, fluência verbal acentuada para uma criança na sua idade e alta criticidade. Apesar da instituição ter atendimento em grupo dirigido para crianças com precocidade (Oficina de Precoces), C. não podia iniciar o acompanhamento, visto que este só é oferecido para crianças a partir dos três anos de idade. Sendo assim, sua mãe foi atendida no espaço dedicado às famílias, participando de encontros de orientação individual e de palestras informativas, que trabalham sobre as especificidades de desenvolvimento e comportamento da criança precoce. Após um ano, C., já com três anos de idade, começou a ser atendida na oficina de precoces. Já apresentava habilidade fluente em leitura; porém, era bastante voluntariosa, apresentando crises de birra ao ser frustrada, pois desejava que tudo ocorresse de acordo com seu interesse. Devido a isso, sua socialização era prejudicada, não aceitando brincar com os colegas do grupo e a seguir a rotina estabelecida no atendimento. Mostrava-se questionadora. A mãe, angustiada, sempre abordava as professoras da oficina, sem saber lidar 31 com o comportamento voluntarioso da filha que: não aceitava participar da aula de balé com meninas da sua idade, por considerá-las “bobinhas”, resultando na atitude da mãe de colocá-la numa turma de meninas maiores; não queria participar das festas da escola, o que era atendido pelos pais e professores; declarava não gostar de bebês; chorava em algumas atividades promovidas pela sua professora da sala regular; entrava em desespero ao ouvir estampidos de fogos de artifício; negava-se a ir para festas de aniversários por não gostar da vela e da música etc. Uma das professoras da oficina de precoces, que também é psicóloga, observou que a mãe de C., apesar de mostrar-se desorientada com os comportamentos da menina, também apresentava certo gozo ao relatar os feitos desta, inclusive, com dificuldade em ouvir as intervenções das profissionais, que sempre pontuavam a necessidade de não ceder a todas as exigências da criança, explicando a importância de administrar limites. Após várias orientações, foi sugerido à mãe colocar a criança em psicoterapia, sendo esclarecido que, além do comportamento voluntarioso, C. também demonstrava imaturidade emocional significativa para lidar com frustrações, como: dificuldade em aceitar a falta de habilidade em algumas atividades; não controlar seus medos; e ser intolerante com o diferente, dentre outros comportamentos registrados na época. A família de C., constituída pela sua mãe, seu pai e sua irmã, demostra viver em harmonia, sem conflitos familiares significativos. A mãe é assistente social e professora de balé clássico. É comunicativa, tem boa capacidade de argumentação e se identifica bastante com a filha, declarando que, quando criança, tinha comportamentos muito parecidos com os que a filha apresenta. O pai, G., demonstra ser tímido, fala pouco e é técnico em explosivos. Ambos valorizam a educação, o conhecimento e a formação dos filhos, promovendo um ambiente familiar enriquecedor em atividades que estimulam o corpo e a mente. A mãe afirma que tem especial predileção pela leitura. O pai, apesar de ser mais reservado, administra limites para a filha com mais eficiência que a mãe, que geralmente cede diante das exigências da filha. Segundo S., muitos 32 comportamentos que a criança apresenta na presença dela, não são observados quando o pai está presente. Na escola, C. não recebe nenhum atendimento educacional especializado que atenda às necessidades pedagógicas específicas da criança. Isso gera bastante resistência da criança em realizar atividades que tenham baixo nível de dificuldade pelo fato de já dominar a leitura e razoavelmente a escrita. Em algumas situações a criança chega a encenar que está doente como pretexto para sair da sala de aula. C. iniciou psicoterapia no segundo semestre de 2013. Os pais investem bastante no tratamento. Em especial, a mãe está procurando observar e compreender melhor a maneira de ser e as atitudes da filha, além de desenvolver um ponto de vista crítico sobre como abordar e estimular a criança. Os pais estão compreendendo que a realização pessoal da filha depende diretamente de uma maneira particular deles se relacionarem com ela, maneira esta que necessita privilegiar as especificidades intelectuais, emocionais e sociais de C. Durante o processo psicoterapêutico, a criança obteve boa evolução. Segundo a mãe, ela está mais flexível e tolerante no contato com bebês e crianças da sua idade; está começando a administrar seus medos e despertando para novas habilidades intelectuais, frutos do amadurecimento emocional, que lhe permitiu entrar em contato com conteúdos e atividades para os quais não tinha muita habilidade. A criança continua sendo acompanhada na oficina de precoces e em psicoterapia. CASO II B., 6 anos de idade, é filho primogênito. Os pais são psicólogos e valorizam a educação, o conhecimento e o compromisso com a formação do menor, investindo na compra de livros, brinquedos e jogos educativos e no acesso a atividades que promovam o desenvolvimento de um espírito crítico e de um gosto refinado para atividades de lazer. A dinâmica familiar não evidencia conflitos significativos. Os pais não apresentam dificuldade em administrar limites ao filho. A mãe é comunicativa e tem habilidade de liderança, enquanto o pai é mais reservado e gosta muito de atividades intelectuais. Assim como B., o pai, desde pequeno, apresenta habilidade 33 acadêmica, principalmente em linguagem. Ademais, lembra que, na escola, era muito ativo motoramente, sendo recorrente suas idas à coordenação da escola pois terminava as tarefas com rapidez e ficava conversando na sala de aula. A mãe, além das habilidades de liderança, tem espírito crítico desenvolvido, boa fluência verbal e raciocínio rápido. B. ingressou na oficina de precoces, aos três anos de idade. Quando a criança tinha um ano e três meses de idade, começou a realizar pseudoleitura. Por volta de um ano e oito meses, B. já conhecia todas as letras do alfabeto, aprendidas através da interação com a babá, que nomeava as letras do tapete emborrachado da criança. Quando começou a participar da oficina de precoces, a criança já lia frases simples, habilidade que adquiriu antes de ingressar na escola, pois só começou sua vida escolar aos três anos de idade. É importante ressaltar que, apesar dos pais oferecerem um ambiente enriquecedor, não realizaram intervenções diretas com o propósito de ensinar a leitura. Ao iniciar suas atividades na oficina de precoces, a criança apresentava boa interação e socialização com as professoras e os colegas, além de não ter dificuldade em seguir a rotina e as regras acordadas no grupo, apesar de ter um comportamento motor um pouco agitado. É bastante comunicativa, e expressa suas ideias em palavras com boa fluência. Os pais nunca relataram dificuldades de comportamento, inclusive no meio escolar, que, vale destacar, não atendia às especificidades pedagógicas da criança. Porém, mesmo tendo alguns episódios de elevada autocrítica, após intervenções das professoras da oficina de precoces ou dos pais, B. se organizava, permitindo-se participar ou realizar atividades em que não tinha tanta habilidade. O aluno sempre realizou as atividades propostas na oficina e na sala escolar com zelo e dedicação. Assim como C., na escola B. também não tem atendimento educacional especializado, que atenda às suas especificidades pedagógicas enquanto aluno que tem precocidade em leitura e escrita. Por apresentar bastante energia motora, a psicóloga da escola chegou a levantar a possibilidade da criança ter hipercinesia, o que não foi rebatido pelos pais, visto que ambos têm conhecimento sobre altas habilidades/superdotação e, em casa, não observam 34 comportamento hipercinético no filho. No caso de B., o seu acompanhamento ficou restrito a oficina de precoces, com o intuito de acompanhar e dar suporte a sua precocidade. Até o momento, a criança mantém o vínculo com a instituição e desenvolveu, em 2014, a habilidade da escrita, inclusive produzindo pequenos textos, habilidade desenvolvida de forma autônoma, pois a série que estava cursando (Jardim II), ainda não estimula a produção textual. 35 ANÁLISE E DISCUSSÃO Para Ourofino e Guimarães (2007), apud Fleith (2007), embora a maior parte das crianças precoces seja emocional e socialmente ajustadas, é comum encontrarmos sujeitos com dificuldades de ajustamento emocional e social, relacionados diretamente com os altos padrões de exigência característicos dessas crianças. Assim, por exemplo, o aluno intelectualmente bem dotado pode não apresentar o rendimento acadêmico que se espera dele. Este desencontro entre potencial e desempenho verificado possivelmente termina por agravar ainda mais as dificuldades afetivas, repercutindo no conceito que a criança tem de si mesma e acarretando isolamento social e reduzida tolerância à frustração. Neste processo, a família exerce uma influência fundamental sobre a potencialização ou não de tais características. Seguindo este raciocínio, observamos tal influência nos casos apreciados, visto que ambas as crianças são precoces, apresentam algumas características em comum, porém com dinâmicas emocionais e intensidades diferentes. Para Kreppner (2000) apud Dessen (2007), cada família em particular tem a capacidade de estabelecer a sua própria cultura, ao priorizar valores e modelos de conduta em detrimento de outros que dizem respeito a sua constituição, que servem de canal de comunicação com o mundo exterior e para a avaliação dessas experiências. Dentro desse contexto, podemos observar que ambas as famílias em questão estimulam o potencial global dos seus filhos, oferecendo-lhes um ambiente enriquecedor. Porém, há diferenças significativas no modo de relacionamento que estabelecem com os seus filhos. No caso I, o de C., observamos uma mãe que identifica-se com as características de precocidade apresentadas pela filha e tem dificuldades em colocar limites significativos, no que diz respeito à intolerância da menina em aceitar manter contato com bebês, crianças menores do que ela e com crianças da sua idade que tenham preferências por brincadeiras diferentes daquelas que ela estima, nomeando-as de “bobas”. Sendo assim, a mãe, que 36 tem um deslumbramento e um encantamento em relação as falas e atitudes da criança, não consegue barrá-la e cede aos seus apelos e caprichos, orbitando em torno das suas vontades. É interessante notar que quando algo foge ao controle e vontade da menina, ela se desespera e, desorganizada, busca a mãe querendo que esta reestabeleça o domínio das suas vontades para que ela fique satisfeita novamente. Um caso emblemático desta situação ocorre quando a criança ouve os estampidos de fogos de artifícios que, alheios a sua vontade, a incomodam e desorganizam, já que ela não pode controlar o uso destes fogos em situações de comemorações pessoais e em festas populares, acarretando no seu isolamento social. Aqui, observamos desenvolvimento, ou seja, um a exemplo criança típico que é de assincronia bastante do desenvolvida cognitivamente e, em contrapartida, não apresenta o amadurecimento emocional necessário para lidar com frustrações. Isto interfere diretamente na sua socialização, que fica restrita. No caso II, da criança B., observamos uma configuração familiar diferente, em que os pais, apesar de reconhecerem as peculiaridades do filho, não fazem confusão sobre o papel da criança na família, conseguindo estabelecer de maneira clara regras e limites de convivência dentro e fora do ambiente familiar. O garoto não é considerado superior e especial e a dinâmica familiar não gira em torno das questões dele. Pelo contrário, como afirma Dessen, apud Fleith (2007, p.25), “a família pode funcionar de modo saudável, desenvolvendo padrões de interação positivos e um nível de ajustamento satisfatório.” Isso reflete construtivamente nas atitudes da criança, que, apesar de ter algumas características próprias da precocidade, como o perfeccionismo, consegue organizar-se emocionalmente diante de desafios e atividades para as quais não possui habilidade destacada. Mesmo apresentando alto nível de energia, a criança consegue se adequar ao ambiente no que se refere às regras e modo de funcionamento acordados previamente, como, por exemplo, a realização das atividades escolares que a professora da sala regular indica, 37 que, no seu caso, não são desafiadoras e estimulantes, pois o menor já domina os conteúdos. Contudo, realiza as atividades com interesse e colaboração. Ourofino e Guimarães (2007), pontuam que se as percepções e interpretações apuradas das crianças com potencial elevado em relação ao modo peculiar de ver o mundo e a consciência precoce dos processos sociais forem frustradas, podem desencadear uma introspecção dos sentimentos e opiniões, ocasionando o retraimento social. Novamente, a família tem papel fundamental neste contexto. Se os pais assumirem uma posição elevada de exigência, solicitando demasiada excelência e expectativas de sucesso, a criança pode não suportar tal demanda e, como defesa, recorrer ao isolamento social. No caso de B., a postura dos pais em promover um ambiente rico em estímulos, mas respeitando os interesses e ritmo da criança, favorece que esta consiga lidar com suas discrepâncias, assincronias no seu desenvolvimento. O modo peculiar de ser e estar no mundo, como: perfeccionismo, tendência a questionar regras, dificuldades de relacionamento com colegas de mesma idade que não compartilham dos mesmos interesses etc, necessariamente não se constituem em problemas de comportamento propriamente ditos: “...no processo de desenvolvimento do indivíduo e de acordo com o contexto social e experiências afetivas vivenciadas, as características que inicialmente têm um caráter positivo que qualificam a superdotação, podem sofrer uma ruptura e serem vivenciadas ou entendidas como uma manifestação problemática” (OUROFINO & GUIMARÃES, 2007, p. 49). Desta forma, além da escola buscar atender as especificidades da criança superdotada e da criança precoce, a família também necessita compreender o modo peculiar de funcionamento intelectual e, sobretudo, emocional destes indivíduos. Para isso, o modo como os pais significam seus filhos favorece ou não uma organização psíquica, visto que, apesar de ter características emocionais e de comportamento que, no geral, são inerentes à criança precoce, a dinâmica familiar contribui intensamente para o surgimento e reforço de tais comportamentos. 38 De acordo como o estudo bibliográfico e de caso realizados, registramos que, de fato, os comportamentos apresentados pelas crianças precoces não são determinados apenas como decorrência das atitudes específicas esperadas deste grupo de acordo com a literatura especializada. 39 ANEXOS Índice de anexos Anexo 1 >> QUESTIONÁRIOS 40 ANEXO 1 RESPONDIDO PELAS PROFESSORES DA OFICINA DE PRECOCES 1. Qual o perfil de comportamento da criança quando iniciou o atendimento no NAAH/S? 2. Quais as habilidades precoces apresentadas pela criança? 3. Qual a sua percepção acerca da dinâmica familiar da criança? 4. Como está a criança atualmente? RESPONDIDO PELOS PAIS 1. Como você percebe a precocidade do seu filho? 2. Quais as dificuldades que você encontra na educação de uma criança precoce? 3. Como você percebe a sua dinâmica familiar? 41 BIBLIOGRAFIA ACKERMAN, N. W. Psicoterapia de la familia neurótica. 2ª ed. Buenos Aires: Ediciones Hormé, 1978. ALENCAR, Eunice M. L.S. Indivíduos com altas habilidades/superdotação: clarificando conceitos, desfazendo ideias errôneas. Em FLEITH, Denise de Souza (org). A construção de práticas educacionais para alunos com altas habilidades/superdotação: volume 1: orientação a professores. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2007. ANTUNES, Celso. As inteligências múltiplas e seus estímulos. 9ª ed. São Paulo: Papirus, 1998. ASPESI, C. de C. A família do aluno com altas habilidades/superdotação. Em FLEITH, Denise de Souza (org). A construção de práticas educacionais para alunos com altas habilidades/superdotação: volume 3: o aluno e a família. 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