AU TO RA L TO DI R EI AVM FACULDADE INTEGRADA EG ID O PE LA LE I DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA Por: Maria do Rosário de Albuquerque Melo DO CU M EN TO PR OT A INFLUÊNCIA DO LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL Orientadora: Prof. Ms. Andressa Rocha Arana Rio de Janeiro 2011 AVM FACULDADE INTEGRADA LICENCIATURA EM PEDAGOGIA A INFLUÊNCIA DO LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL Apresentação de monografia a AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção de graduação em Licenciatura em Pedagogia. Por: Maria do Rosário de Albuquerque Melo DEDICATÓRIA A minha família, amigos, em especial as minhas filhas Carolina e Roberta, a orientadora Andressa Rocha Arana, toda comunidade AVM e a todas as escolas que compartilharam espaço, minha eterna gratidão. seu SUMÁRIO RESUMO......................................................................................................................... 6 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 7 CAPÍTULO I .................................................................................................................. 9 1.1 A criança em desenvolvimento: contribuições de Vygotsky, Piaget e Wallon . 9 1.1.1 Vygotsky - O Desenvolvimento Humano numa visão sociocultural .............. 9 1.1.2 Piaget - O desenvolvimento da Inteligência .................................................. 13 CAPÍTULO II ............................................................................................................... 22 2.1 Alfabetização e Letramento: a construção da linguagem ................................ 22 CAPÍTULO III ............................................................................................................. 27 3.1 Corpo e Movimento na Creche ........................................................................ 27 3.2 A Construção da Identidade ............................................................................. 28 3.2.1 A importância das brincadeiras no desenvolvimento sóciohistórico da criança. .................................................................................................................... 28 3.2.2 O jogo na concepção de Piaget ...................................................................... 30 CAPÍTULO IV.............................................................................................................. 34 4.1 Expressão de diferentes linguagens ................................................................. 36 4.1.1 Matemática .................................................................................................... 36 4.1.2 Ciências Sociais e Naturais ........................................................................... 37 4.1.3 Corpo e movimento ....................................................................................... 37 4.1.4 Linguagens Artísticas .................................................................................... 38 4.2 As Relações Cotidianas na Sala de Aula ......................................................... 40 4.2.1. O Acolhimento ......................................................................................... 41 4.2.2. A Rotina da Creche................................................................................... 43 CAPÍTULO V ............................................................................................................... 48 CAPÍTULO VI.............................................................................................................. 50 CONCLUSÃO............................................................................................................... 52 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 54 FOLHA DE AVALIAÇÃO .......................................................................................... 56 RESUMO Este estudo propõe a reflexão sobre a importância do letramento no segmento creche da Educação Infantil, apoiada nos teóricos do desenvolvimento humano citados na pesquisa. Diante do novo olhar sobre a criança, surge a necessidade de uma proposta pedagógica que atenda este segmento da educação básica, elabora-se então, a Pedagogia para a Infância, As Orientações Curriculares para a Educação Infantil, investindo numa prática com propostas desafiadoras e exploratórias apoiadas no brincar. É importante saber como o trabalho com crianças de 0 a 3 anos inseriu-se na educação formal, rompendo na creche, com seus aspectos apenas assistencialista, de cuidar, alimentar e higienizar, aponta um novo enfoque: o educar cuidando, entendendo esta criança com suas potencialidades e especificidades. Consolidou-se através deste estudo, as relações estabelecidas por esta criança na formação de sua identidade, construção da linguagem e o processo de aprendizagem inicial da leitura/escrita. Pautada na pesquisa de campo, o resultado da análise das sentenças evidenciou a importância do contato com o mundo letrado para esta faixa etária, validado através da oralidade e do brincar para a construção do conhecimento e apropriação da linguagem. 6 INTRODUÇÃO O mundo moderno trouxe nova visão de criança, de mulher, de trabalho e de família. Com a mudança de papel da mulher na sociedade surge a necessidade de instituições que garantam uma complementação da ação da família no educar da criança. Neste contexto, as instituições de atendimento e de educação das crianças pequenas tornaram-se cada vez mais importantes, exigindo assim um pensar de suas especificidades. Ao longo da história da Educação Brasileira, a Educação Infantil era vista como um segmento voltado apenas para questões assistencialistas como cuidar, alimentar e higienizar. No entanto, com a Lei de Diretrizes e Bases Nacional (LDBN) rompe-se tal paradigma, trazendo mudanças estruturais para a Educação Infantil - segmento Creche, que faz parte da primeira etapa do Ensino Fundamental Básico. Surge então um desafio, pensar as orientações curriculares e as expectativas de aprendizagens para estas crianças. Anteriormente a este período, considerava-se que a criança só poderia dar início ao processo de aprendizagem da leitura e da escrita em determinada idade. Assim, o início deste processo estava atrelado à institucionalização da educação, ou seja, sua entrada na escola. Emília Ferreiro (2205) criticava este fato e trazia reflexões sobre as experiências sociais da criança, envolvendo o contato com contextos grafocêntricos: a criança convive com a escrita, uma mais que a outra dependendo da interação social antes mesmo de chegarem à Educação Infantil. Dessa forma, em sua convivência vão construindo sua linguagem e seu letramento: seu conceito de língua escrita, das funções do ler e escrever e o seu desejo de acesso ao mundo da escrita. Assim, é preciso reconhecer que o acesso inicial à língua escrita não se reduz ao aprender a ler e escrever no sentido de aprender a grafar palavras e decodificá-las, mas sim deve ser considerada como uma via principal de acesso ao mundo da escrita, o perceber e aprender a fazer uso da leitura e escrita, sua função social. Rompendo com seu trabalho assistencialista a educação infantil deve promover o desenvolvimento integral da criança através de ações de educar e cuidar ancoradas no Brincar. 7 A Educação Infantil atua no processo de desenvolvimento da criança em todas as dimensões humanas: afetivas, motoras, cognitiva, social, lingüística e política, propiciando a ela conhecer e aprender sobre o mundo que a abraça com afeto, prazer e ou/ desprazer; que se apresenta por meio da fantasia, literatura, música e artes; das ciências naturais e sociais e da matemática, possibilitando seu desenvolvimento e crescimento. Neste contexto, é necessário repensar o significado e importância do Letramento nas relações cotidianas do espaço da creche. A necessidade de se mensurar e qualificar a criança que freqüenta a creche e chega à Educação Infantil (Jardim de Infância) daquela que não teve oportunidade das interações e vivências do espaço da creche, apresenta-se como assunto de interesse para este estudo. Busca-se nessa proposta de estudo reconhecer e reforçar a construção de uma prática reflexiva, embasada em fundamentos teóricos acerca do desenvolvimento infantil de crianças de 0 a 3 anos e suas necessidades. Esse trabalho será embasado pelos referenciais teóricos de Piaget, Vygotsky e Wallon, que contribuíram com seus estudos para o entendimento das transformações observadas no desenvolvimento humano. Adicionalmente, faz-se necessário mensurar e qualificar a criança que freqüentou a creche e a criança que foi inserida no Ensino Fundamental Básico diretamente na Educação Infantil (Jardim de Infância) sendo, portanto o objeto de estudo deste trabalho: diferenciar e analisar a importância do Letramento e como ele se produz através do Brincar na creche. 8 CAPÍTULO I ASPECTOS DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL 1.1 A criança em desenvolvimento: contribuições de Vygotsky, Piaget e Wallon Refletir sobre o desenvolvimento da criança é estabelecer relações com estes estudiosos que trouxeram grandes contribuições para o entendimento deste processo. 1.1.1 Vygotsky - O Desenvolvimento Humano numa visão sociocultural Para estudar o desenvolvimento da criança devemos começar com a compreensão da unidade dialética das duas linhas principais e distintas: a biológica e a cultural. (VYGOTSKY, 1998, P.32) Vygotsky (1998) afirma que o homem é um sujeito social: visão sociointeracionista. É através das interações vivenciadas no dia a dia que constrói e internaliza diferentes comportamentos: sujeito e meio não existem de forma isolada. A partir das interações se define e constitui novas configurações e, desta forma se modifica, tanto o sujeito quanto o meio. Fazendo parte de determinado grupo social incorpora os signos elaborados por este grupo numa tentativa de constituir-se. Sendo assim, é um sujeito envolvido em constantes transformações e que se modifica a cada nova interação. Vygotsky (1998) interessava-se pela formação social dos signos. Neste sentido, sua preocupação estava em torno da relação entre o pensamento e linguagem. Linguagem essa que é intermediária das relações sociais e formadora do discurso interior de cada pessoa. Para ele o funcionamento psicológico do homem é moldado pela cultura. O autor dá importância à mediação simbólica (sistemas de signos): sujeitos humanos constituintes e constituídos enquanto “relações sociais internalizadas”, transformadoras do “ser” e do meio em que vive. Descarta a importância da maturação biológica para o desenvolvimento, considerando que este se dá a partir da apropriação daquilo que é social. Vygotsky (1989) ressalta ainda que a criança se apropria 9 desde o nascimento de experiências, no convívio com parceiros mais experientes e que, nesta interação dão significados às ações, criando “sistemas partilhados de consciência” que serão transformados e resignificados continuamente. É através das reconstruções das experiências vividas que a criança apropria-se de novas formas de memorizar, de perceber e de solucionar problemas originados da interação com o outro, transformando-as nas funções psicológicas do indivíduo (de funções psicológicas elementares em funções psicológicas superiores). Ao internalizar um comportamento, a criança elabora uma reconstrução mental transformando um comportamento elementar em comportamento complexo. O ser humano transforma-se de biológico em histórico, num processo em que a cultura é parte essencial da constituição da natureza humana. (Revista Viver Mente e Cérebro. Nº 2,2006,p9) Vygotsky (1998) considera que a linguagem é de fundamental importância para a construção da mente. Aponta que todos os processos mentais superiores (percepção, memória, atenção) iniciam-se com o aparecimento da linguagem. Sua teoria tem por base o desenvolvimento do indivíduo como resultado de um processo sócio histórico, enfatizando o papel da linguagem e da aprendizagem nesse desenvolvimento, mediadas pela ação do adulto ou de outras crianças. A linguagem surge inicialmente como um meio de comunicação entre a criança e as pessoas em seu ambiente. Somente depois, quando da conversão em fala interior, ela vem a organizar o pensamento da criança, ou seja, torna-se uma função mental interna. (VYGOTSKY, 1989, P.62) Dentro desta concepção, Vygotsky (1989) criou dois níveis de aprendizagem baseadas na observação do desenvolvimento da criança: o primeiro é quando a criança necessita de apoio para realizar uma tarefa (em construção), denominada de Zona de Desenvolvimento Potencial, e o segundo, é quando ela consegue realizar uma tarefa de forma independente, sem ajuda, chamada de Zona de Desenvolvimento Real. Esses níveis de desenvolvimento permitem perceber o estágio de construção da criança no sentido de que, nesta área de transição intermediária entre ambos, a Zona de Desenvolvimento Proximal, é onde a criança, na mediação com o outro, seja ele os pais, 10 professor, familiares, ou mesmo por um parceiro da mesma idade, se apropria de determinadas habilidades, ressignificando comportamentos e conceitos, viabilizando o desenvolvimento de suas funções psicológicas alcançando a Zona de Desenvolvimento Real. Com esta concepção, Vygotsky (1989) deixa clara a importância dos processos educacionais intencionais quando aponta o papel do professor como mediador e criador de possibilidades desafiadoras que permitam à criança, através de hipóteses, a construção do conhecimento. A intervenção pedagógica enfatizada por Vygotsky (1989), aposta na construção e ressignificação que o aluno é capaz de executar ao interagir com seu grupo cultural. Assim, neste processo onde ocorre a interação da criança com os atributos do mundo real, por meio da palavra que é a organização cultural das categorias (conceitos espontâneos mais conceitos científicos), viabiliza a construção do conhecimento (conceito). Considerando que a criança possui um comportamento determinado pelas ações concretas, Vygotsky (1989) ainda relaciona o brinquedo e a brincadeira de faz de conta como elementos indispensáveis que auxiliam no desenvolvimento da capacidade de abstração à aprendizagem infantil. Ao brincar, representa o mundo real e nesta representação separa o objeto do seu significado, vivenciando situações imaginárias que a conduzirá ao avanço do seu desenvolvimento. No brincar as ações das crianças são reais e sociais e com elas assimila a realidade dos adultos. O brincar é o caminho pelo qual as crianças compreendem o mundo em que vivem e vão se constituindo no seu grupo cultural. As brincadeiras de faz-de-conta funcionam como cenário no qual as crianças tornam-se capazes não só de imitar a vida como também de transformá-la, constituindo-se uma atividade interna delas, baseadas no desenvolvimento da imaginação e interpretação da realidade, sem ser ilusão ou mentira. (Orientações Curriculares para Educação Infantil. SME, 2010, p17.) A convivência com seus pares possibilita à criança observar, comparar, imitar, promovendo a criação de possibilidades para ampliar sua capacidade e expansão do seu desenvolvimento. Vygotsky (1991;1993) discute as inter-relações entre linguagem e gesto, trazendo as primeiras manifestações da criança, na busca de expressão de 11 desejos, de sentimentos e de comunicação com o outro, as brincadeiras de fazde-conta e também a escrita. A movimentação da criança pequena na busca de comunicação é intensa – ela aponta, se dirige até o objeto, chora quando não alcança, segura e puxa as pessoas quando quer alguma coisa – o gesto é a forma como se dirige ao outro. As brincadeiras por sua vez, são acompanhadas de gestos e nelas, os objetos perdem sua força determinadora (Vygotsky,1991), pois a criança age sobre eles diferentemente daquilo que vê, ressignificando-os através de seus gestos, que ganham função de signo.Pelo gesto transforma os objetos, indicando os novos significados. As brincadeiras das crianças são repletas de gestos significativos, cumprindo uma função de fala através dos gestos representados. Nelas o pensamento está separado dos objetos e a ação surge das idéias e não das coisas (Vygotsky, 1991). Para o autor primeiro surge a linguagem, depois a cognição. No processo de desenvolvimento humano, a aquisição da linguagem se dá através de várias fases: linguagem social, linguagem egocêntrica e linguagem interior. A linguagem social tem a função de comunicar e é a primeira que surge, a linguagem egocêntrica e a linguagem interior estão ligadas ao pensamento. Na visão de Vygotsky, pensamento e linguagem não são dicotômicos, mas caminham juntos: na interiorização do mundo exterior, o papel do outro (adulto ou criança) é fundamental para a constituição da consciência.E esse papel é exercido pela linguagem.Então, a gente não nasce com os sentidos e os significados já construídos e não os constrói apenas na relação com os objetos.Mas esses objetos estão sempre mesclados e mediados, precisando sempre da intervenção do outro que dá, sobre o objeto, um sentido, ou seja, um copo não é mais então apenas um objeto físico, branco, de plástico, mas tem um significado que é dado de fora, uma história que o constitui como copo.No processo de troca que tenho com os outros, vou internalizando essa linguagem, essa linguagem vai me constituindo como sujeito,vai organizando a minha consciência. (KRAMER, 1995, P.124) 12 1.1.2 Piaget - O desenvolvimento da Inteligência Em suas pesquisas na área de Psicologia, Piaget buscava responder uma questão: como os indivíduos passam de um estado de menor conhecimento para um estado de maior conhecimento? Ou seja, como um adulto chega a pensar de modo hipotético e dedutivo, criando hipóteses ou como a criança deixa de precisar dos sentidos ou da experiência direta com os objetos para uma ação mental? Piaget (et. al.1992) revolucionou a compreensão que se tinha a respeito do desenvolvimento intelectual trazendo reflexões sobre desenvolvimento mental do ser humano no campo do pensamento, da linguagem e da afetividade. Em seus estudos mostra que o desenvolvimento cognitivo se realiza em estágios relacionados a mudanças cognitivas, à maturação biológica e a experiências. Piaget (et al.1992) apresentou uma visão interacionista: a interação dos sujeitos com os objetos. Mostraram a criança e o homem num processo ativo de contínua interação, procurando entender quais os mecanismos mentais que o sujeito usa nas diferentes etapas da vida para poder entender o mundo. Para os autores a adaptação à realidade externa depende basicamente do conhecimento. Piaget aponta que o desenvolvimento cognitivo é um processo de construção de estruturas intelectuais, que se dá de forma progressiva (do nascimento à adolescência), que tende para uma forma final, a conquista das operações formais. As teorias de Piaget (1992) tentam explicar como se desenvolve a inteligência nos seres humanos. Por esta razão chamada de Epistemologia Genética, que é o estudo dos mecanismos de como o indivíduo lida com a realidade, como organiza seus conhecimentos (ou esquemas) em sistemas de ações, gerando novos comportamentos e conhecimentos. Têm comprovação científica. Ou seja, ele não somente descreveu o processo de desenvolvimento da inteligência, mas experimentalmente comprovou suas teses. Para ele a inteligência é o mecanismo de adaptação do organismo a uma situação nova e, como tal, implica a construção contínua de novas estruturas. Esta adaptação refere-se ao mundo exterior. Para ele, os indivíduos se desenvolvem 13 intelectualmente a partir de estímulos oferecidos pelo meio que os cercam: aperfeiçoamento de potencialidades que evolui do nível mais primitivo (trocas bioquímicas) até o nível das trocas simbólicas. Para o autor a Teoria Epistemológica trata da psicologia da inteligência, no desenvolvimento humano, considerando a maturação neurofisiológica e experiências consideradas como gatilhos para o processo de adaptação, que desta forma estrutura o novo esquema mental (novo conhecimento). Baseados no Desenvolvimento cognitivo, Maturação, Competência, Aptidão e Desempenho, seus estudos trouxeram importantes contribuições e reflexões para as pesquisas relativas à cognição infantil. Piaget concebeu o desenvolvimento como um processo direcional. A partir da observação direta do pensamento da criança concluiu que este desenvolvimento se dá em quatro estágios cognitivos: I- Estágio Sensório-motor Neste estágio (aproximadamente os primeiros anos de vida) Piaget (1952) destaca que os bebês aprendem por si mesmos com experiências sensoriais e nas ações motoras. O período de bebê é sem dúvida bastante complexo do ponto de vista do desenvolvimento, pois nele ocorre a organização psicológica básica em todos os aspectos (perceptivo, motor, intelectual, afetivo e social).Para o autor, o bebê irá explorar seu próprio corpo, sentir emoções, estimular o ambiente social e ser por ele estimulado, e assim desenvolver a base do seu autoconceito, apoiado no esquema corporal (a idéia que a criança forma de seu próprio corpo).O estágio sensório-motor consiste em subestágios, os quais ocorrem progressivamente de uns para o outro à medida que a criança vai vencendo, saindo de suas posturas pelas reações circulares: primárias(condicionamento operante,fortalecimento motor), reações secundárias (já com alguma intenção) e reações terciárias (tentativa de erro ) para constituir o seu eu e se colocar em relação ao ambiente. Do nascimento até um mês, seus reflexos inatos (por exemplo, o sugar), se modificam incorporando novos elementos constituindo em comportamento mais amplo. Isto é, o comportamento deixa de ser um simples reflexo e se transforma em esquema de sucção, que continuará a se modificar para se tornar mais 14 abrangente e eficiente. Este estágio é caracterizado pela repetição dos esquemas motores inatos. Progressivamente, o bebê vai aperfeiçoando os movimentos reflexos e adquirindo habilidades. Desta forma, vai se percebendo integrante do meio, percebendo os objetos, o tempo, o espaço sendo agente e paciente das transformações que nele ocorrem, evoluindo na construção cognitiva. Um novo interesse se instala, o de manipular objetos. Piaget (et al. 1992) definem-no como reações circulares secundárias: ações intencionais repetidas não apenas por seu próprio valor (estágio anterior), mas para obter resultados que vão além do próprio corpo (por exemplo, quando um adulto bate com os dedos sobre a mesa ,imitando o tocar piano, o bebê se agita e o adulto entende que deve repetir o ato.) Por volta de oito a doze meses, os bebês, já elaboram os estágios com os quais nasceram e aprendem a fazer generalizações, a partir das experiências passadas, para resolver novos problemas: engatinham para conseguir algo que querem, agarram ou afastam algo que os atrapalhe (como a mão de alguém). Criam hipóteses, experimentando e modificando esquemas anteriores para encontrar um que o satisfaça como resposta. Por volta dos doze aos dezoito meses, começam a experimentar novos comportamentos. Ao aprender a caminhar, cada vez com mais desenvoltura, o bebê expande seu mundo e explora todas as novidades que encontra sem se aperceber dos perigos. Estão envolvidos em reações chamadas por Piaget de “reações terciárias”: reações com intenção, isto é, abandonam comportamentos descobertos acidentalmente e investem em testar comportamentos até chegar aos seus objetivos, diversificam suas tentativas e erro, até obterem uma resposta satisfatória. Por volta dos 18 meses a dois anos, os bebês desenvolvem a capacidade de representar mentalmente objetos e ações da memória, buscando a palavra, números e imagens mentais. Identificam em livros infantis relações com o mundo real. Avançam no processo de socialização ao buscar companhias para o brincar. Durante o estágio Sensório-Motor, gradualmente, as crianças conquistam alguns comportamentos que lhe permitem uma organização da realidade pela aquisição da permanência substancial dos quadros sensoriais 15 que será obtida pela noção de permanência dos objetos. Isto é, evoluem na concepção de que o objeto ou pessoa existe independente de sua percepção. Em sua imaginação procuram por um objeto mesmo que não tenham visto onde ele foi escondido, o que não acontece nos estágios anteriores. Piaget (1952) considera que a permanência do objeto é base da conscientização das crianças de que elas existem à parte dos objetos e de outras pessoas: a criança trabalha ativamente no sentido de formar a noção do “eu”, de se distinguir como objeto dos demais objetos existentes no exterior e, de se colocar em relação a eles. II- Estágio Pré-Operacional Piaget (1952) chamou a segunda infância de estágio pré-operatório. Este estágio se estende aproximadamente dos dois anos aos sete anos. O desenvolvimento cognitivo torna-se mais elaborado com relação ao uso do pensamento simbólico, embora segundo o autor, não tenham ainda capacidade de pensar logicamente. O pensamento irá aumentar, gradualmente, mas a criança continuará egocêntrica e presa às ações, característica que ocorre devido à ausência de esquemas conceituais e de lógica: o pensamento será caracterizado por uma tendência lúdica, misturando realidade e fantasia o que a impede de perceber com clareza a realidade. Piaget (1952) enfatiza que a criança a nível comportamental, atuará de modo lógico e coerente, pois já tem os esquemas sensoriais motores adquiridos, mas a nível de entendimento da realidade estará desequilibrada, pela ausência de esquemas conceituais.O estágio pré-operatório é considerado como de transição no aspecto relativo à linguagem, pois com freqüência se observa a criança falando sozinha enquanto brinca, ou quando realiza uma atividade qualquer (monólogo), a criança fala o que está fazendo: enquanto come diz “nenê papa”, “o carrinho vai para a garagem”,”estou fazendo bolo de chocolate”.Esta verbalização que acompanha a ação pode ser entendida como uma passagem gradual do pensamento explícito (motor) para o pensamento interiorizado. 16 Neste estágio, avançam na função simbólica, na compreensão de identidade, na compreensão de causa e efeito, na capacidade de classificar e na compreensão de números. III- Estágio Operacional Concreto Neste estágio (entre 7 aos 12 anos) a inteligência apresenta progressos notáveis embora ainda apresente algumas limitações relacionadas aos esquemas conceituais, já que as principalmente operações mentais realizadas se referem a objetos ou situações que existem concretamente, na realidade.Começa a lidar com conceitos como números e relações. Piaget (et al.1992) considera que, inicialmente, a criança nesta fase, está limitada a pensar sobre situações do aqui e agora, pois não são capazes de pensar em termos hipotéticos, ou seja, sobre o que poderia ser ao invés do que é. Por volta dos sete anos, o equilíbrio entre a assimilação e a acomodação torna-se mais estável. A criança rompe com seu egocentrismo à medida que percebe e interage com as ações do outro. Piaget (et al.1992) destaca ainda dois elementos fundamentais nesta fase de desenvolvimento: a vontade e a autonomia. Considera a vontade como uma escala permanente de valores construída pelo indivíduo e a qual ele têm que aderir. Este tipo de pensamento construído sinaliza que a criança já tem a capacidade de raciocinar sobre questões afetivas numa perspectiva coordenada e reversível. Já a autonomia do raciocínio, demonstra que a criança tem capacidade para raciocinar de acordo com um conjunto próprio de normas. Desta forma, percebem as regras como provenientes de uma autoridade. É a moralidade de obediência ou respeito unilateral. No entanto, à medida que as crianças vão se tornando capazes de se colocar no ponto de vista do outro, começam a ser capazes de fazer suas próprias avaliações morais. A partir daí, segundo Piaget (et al 1992), progressivamente, a criança muda de uma perspectiva moral baseada no respeito unilateral, para outra baseada no respeito mútuo.Com o desenvolvimento da vontade e da autonomia, ocorrem mudanças significativas nos conceitos construídos até então, sobre regras, mentira, justiça e julgamento moral. No estágio anterior, as crianças percebem as regras de maneira fixas e permanentes e exigem dos outros adesão rígida, mas no estágio operacional 17 concreto, abandonam esta postura e começam a compreender a importância das regras para um jogo correto.A cooperação começa a se manifestar e as regras deixam de ser vistas como absolutas e imutáveis. Consegue refletir sobre o inverso das coisas e dos fenômenos, e a relação entre os objetos. IV- Estágio das Operações Formais Neste período, que se dá durante a adolescência, o indivíduo é capaz de formar esquemas conceituais abstratos e realizar com eles operações mentais gerando inúmeras possibilidades na apropriação de informações, conteúdos e na flexibilidade do pensamento. Para Piaget (1952) nesta fase ele adquire capacidade para criticar os sistemas sociais e propor novos códigos de conduta, discute os valores morais de seus pais e constrói os seus próprios, construindo assim, sua autonomia. Wallon - O Desenvolvimento da afetividade, cognição e motricidade Em sua pesquisa, buscava compreender a base orgânica e cerebral das funções psíquicas. Interessava-se em saber onde se localizava na mente material, no cérebro, funções como a memória, a afetividade, o comportamento social. Henri Wallon (1988) foi pioneiro nos estudos de psicologia da criança, um dos autores que mais se interessou em estudar o desenvolvimento infantil para um melhor entendimento do psiquismo humano, seus mecanismos e relações, a partir de uma perspectiva genética. A partir das idéias elaboradas por Wallon, entende-se que na base orgânica do corpo humano, o Sistema Nervoso, as conexões cerebrais modificam-se à medida que o ser humano relaciona-se socialmente. Wallon(1988) considera que, o ser humano é organicamente social. Wallon criticava muito a educação tradicional. Através de seus estudos os educadores podem buscar subsídios e reflexões pedagógicas para compreender o processo de desenvolvimento emocional humano, a formação da personalidade, linguagem e movimento. Para a Educação Infantil, Wallon(1988) nos trouxe o entendimento de que as crianças constroem seu caminho da aprendizagem pelo canal emocional. Elaborou uma teoria dos Estágios de Desenvolvimento Psicomotor, 18 com o objetivo de nortear o conhecimento emocional da criança, vinculado às relações sociais. Wallon (1988) propõe o estudo contextualizado das condutas infantis, para que se possa compreender a criança e o seu comportamento, afirmando serem necessários aspectos como o contexto social, familiar e cultural, possibilitando dar às crianças em suas fases, as condições necessárias para que aconteça seu desenvolvimento. A “Psicogênese da Pessoa Completa” é o estudo integrado do desenvolvimento humano considerando o sujeito como geneticamente social. Para Wallon (1988), não é possível dissociar o biológico do social no homem, sua existência se dá entre as exigências da sociedade e as do organismo. O autor fundamentou suas idéias em quatro elementos básicos que se interligam: a afetividade, o movimento, a inteligência e a formação do “eu” como pessoa. As transformações fisiológicas que revelam traços importantes de caráter e personalidade têm na afetividade um fator preponderante na demonstração de seus desejos e vontades, pois Wallon aponta que a emoção é orgânica. A emoção é altamente orgânica, altera a respiração, os batimentos cardíacos e até o tônus muscular, tem movimentos de tensão e distensão que ajudam o ser humano a se conhecer. (DANTAS, 1992, p. 51) Dantas afirma que, a raiva, a alegria, o medo, a tristeza e os sentimentos mais profundos ganham importância na relação da criança com o meio. Os movimentos, segundo Wallon (1988), são originados a partir da atividade muscular. São ações executadas para alcançar um objetivo imediato e não diretamente relacionado com outro indivíduo (andar, pegar objetos e mastigar). Estes movimentos também podem ter uma função expressiva e comunicativa, estando eles associados a outras pessoas ou sendo usados para estruturação do pensamento do próprio movimento: falar, gesticular, sorrir. A construção da formação do “eu,” depende essencialmente do outro. A negação do outro se dá como uma espécie de instrumento de descoberta de si próprio (por volta dos 3 anos). Na evolução da Psicomotricidade, Wallon (1988) estabelece cinco estágios do desenvolvimento cognitivo, e ressalta que 19 estes não se dão de forma linear, mas sim permeados de conflitos internos e externos. A mudança de cada estágio se caracteriza por mudanças de comportamento, uma atividade predominante que será substituída no estágio seguinte, promovendo novas formas de pensamento, de interação social e de emoções que irão se voltar à construção do próprio sujeito e também para a construção da realidade exterior. Destes estágios, os três primeiros estão relacionados ao desenvolvimento da criança de zero a três anos, foco no presente estudo, e por conseguinte alvo de maior atenção. Estágio impulsivo-emocional Ocorre no primeiro ano de vida, neste estágio a afetividade comanda as primeiras reações do bebê com as pessoas. A afetividade é a possibilidade de afetar e ser afetado nas relações. Para Wallon(1988), a emoção é um fator mediador entre o bebê e o meio ambiente. Neste estágio, a criança percebe que seu choro, seus risos, seus gestos, interferem no ambiente, constituindo uma linguagem interativa, viabilizando sua comunicação com o outro. Há um “diálogo tônico”, ou seja, uma espécie de conversa entre o bebê e o adulto por meio não só das palavras, mas do tônus corporal, da expressão facial, dos gestos, do contato físico. Wallon(1988) afirma que, a criança usa a afetividade para influenciar e satisfazer suas necessidades através de trocas afetivas. Ele aponta que ela Já consegue partilhar emoções, considera esta etapa como intrinsecamente social, pois desde o início, o bebê provoca reações diversas, comunicando-se emocionalmente com o meio e com as pessoas. Estágio Motor e Projetivo Ocorre até os três anos, nele a criança conquista maior autonomia. Começa a predominância da cognição. As atividades sensoriais e motoras de exploração do mundo são orientadas no sentido de compreender e dominar o meio desconhecido. Nele também ocorre o desenvolvimento da função simbólica e da linguagem, o ato mental projeta-se em atos motores. Aos 20 poucos, a intensa motricidade vai sendo inibida pelo ato mental, pelo funcionamento cognitivo. O ato interioriza-se, desloca-se de fora, do motor, ligados aos objetos físicos, para o mental, ligado à atividade interna da criança. Wallon (1968) considera que ato motor e ato mental relacionam-se intimamente. Ressalta então que, a estimulação de habilidades físicas favorece a autonomia, pelo domínio do próprio corpo e do espaço ao redor, sendo viabilizada pelo brincar. Estágio do Personalismo- de 3 a 6 anos A afetividade volta a dominar seu desenvolvimento, fazendo com que a criança “desperte” para as pessoas, saindo de seu egocentrismo natural: desenvolve a consciência de si própria mediante as intervenções sociais. A função simbólica e a linguagem promovem a origem do pensamento discursivo, numa relação de construção recíproca, sincreticamente. Avança na construção de sua autonomia ao sair do sincretismo (mistura de idéias num mesmo plano) e se reconhece independente das situações em que está envolvida, constituindo a consciência do “eu”. É hora de saber quem sou eu. Na verdade está numa busca de afirmar o que quer, ou quem ela é, opondo-se a tudo que lhe é apresentado: intenso negativismo, diz “não” para tudo.Nesta fase são características comuns na criança a imitação (em oposição ao negativismo, nega o adulto, mas quer imitá-lo) , a manipulação e a sedução em relação aos outros.A interação social tem fundamental importância, pois a criança vive em constante trabalho afetivo e moral que viabilizará a real construção de sua autonomia. Wallon (1968) ressalta que a afetividade é uma característica humana fundamental para o entendimento do desenvolvimento de sujeitos históricos, únicos. Para ele, as relações entre afetividade e cognição estão presentes no cotidiano escolar, merecendo um olhar atento dos educadores. 21 CAPÍTULO II ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL 2.1 Alfabetização e Letramento: a construção da linguagem Desde o nascimento, o bebê se insere em um campo social repleto de palavras e significados. À medida que provocamos o diálogo entre suas expressões (gestos, vocalizações e olhares) e os sentidos que partilhamos, o bebê vai pouco a pouco participando e entendendo esse campo (MEC, 2007). Dessa forma, a criança está exposta às práticas sociais da leitura e da escrita. A Educação Infantil deve estar voltada a esta concepção de trabalho integrado ao desenvolvimento e às vivências diárias e significativas que favorecerão a busca investigativa nas diferentes linguagens, viabilizando sua comunicação. Atualmente, sabe-se que desde o berçário as crianças estão expostas a práticas da leitura e da escrita em seu cotidiano e assim, constroem gradativamente o conhecimento dessas linguagens quando ouve histórias, vê um adulto lendo jornal, utilizando um livro de receitas, escrevendo um cartão, acessando o computador (lendo e-mail), lêem um outdoor, propagandas – letramento. Numa sociedade urbana e letrada, a diversidade de linguagens é um elemento forte de comunicação entre as pessoas e as crianças buscam compreendê-las nas práticas orais e escritas – função social. Hoje, a creche é o espaço primordial na instituição dessas relações para a construção da linguagem. É nela que ocorrem as descobertas e possibilidades tanto da linguagem oral quanto da escrita – letramento. É na linguagem, e por meio dela que construímos a leitura da vida e de nossa própria história. Com a linguagem somos capazes de imprimir sentidos que, por serem provisórios, refletem a essencial transitoriedade da própria vida e da nossa existência histórica (Souza,1994). Esse novo paradigma, apoiado em bases epistemológicas, fundamenta uma “Pedagogia para a Infância”. 22 A Construção da Escrita e o Desenvolvimento Infantil A Educação Infantil teve, por muito tempo, uma função preparatória, em que se considerava importante dar as condições necessárias às crianças iniciarem a alfabetização. Estas condições estavam ligadas à prontidão e a maturidade. As crianças freqüentavam os “Jardins-de-Infância”, uma metáfora que induz ao objetivo da educação anteriormente: cuidar das crianças para que floresçam e amadureçam como em um jardim, para que cresçam e cheguem à floração. Nesses “jardins” não deveria haver “letras”, pois se considerava a criança prematura para o acesso à língua escrita. Rompendo com este paradigma, surge a Psicogênese da Língua Escrita, oriunda das teorias postuladas por Piaget. Piaget - Psicogênese da Língua Escrita Emília Ferreiro, psicolinguísta, psicóloga e pesquisadora, trabalha na área da linguagem escrita. Fez seu doutorado na Universidade de Genebra, sob a orientação de Jean Piaget, em uma área que Piaget não havia explorado: a escrita. Tornou-se uma referência no estudo da Psicogênese da Língua Escrita. Ana Teberosky desenvolveu pesquisas na área da linguagem junto ao Instituto Municipal de Investigações Psicológicas Aplicadas à Educação (IMIPE) e ao Instituto Municipal de Educação (IME). Doutora em psicologia. Ao lado de Emília Ferreiro estudaram a compreensão do processo de aquisição da escrita. As pesquisas de Ferreiro e Teberosky (2005) apoiam-se nos pressupostos epistemológicos de Piaget, aplicando-os para a análise do aprendizado da língua escrita. Temos uma imagem empobrecida da criança que aprende: a reduzimos a um par de olhos, um par de ouvidos, uma mão para pegar um instrumento para marcar e um aparelho fonador que emite sons. Atrás disso há um sujeito cognoscente, alguém que pensa que constrói interpretações, que age sobre o real para fazê-lo seu. (Ferreiro, E. e teberosky,2005, p.16) Ferreiro considera que para aprender a ler e escrever, mais do que exigir como pré-requisitos maturação e prontidão, é necessário que a criança tenha 23 compreendido que a escrita é um modo de representar conceitos, idéias, pensamentos e a maneira pela qual esta representação é feita no grupo cultural em que está inserida. Ela não criou um método de alfabetização, e sim um caminho para a reflexão de como a criança constrói suas relações com o mundo letrado. Ao observar o desenvolvimento cognitivo das crianças relativo à aquisição da leitura e da escrita, percebe-se que elas elaboram suas próprias hipóteses, sendo elas espontâneas ou provisórias, sobre o sistema da escrita do mundo que a cerca até se apropriar da complexidade da língua escrita. Antes de compreender qual é o modelo de sistema de representação da linguagem que a nossa escrita representa, a criança está despreparada para alfabetizar-se.(FERREIRO, E e TEBEROSKY, 2005, p.19) Considerando tal afirmativa, as descobertas de Ferreiro afetaram, de maneira fundamental, toda a noção de prontidão e de pré-requisitos, transferindo a ênfase dos aspectos relacionados a habilidades motoras para os aspectos relacionados à construção da compreensão do sistema de representação. A alfabetização/letramento é considerada um objeto socialmente elaborado, exigindo interações com a riqueza e complexidade do mundo da língua escrita. A escrita é um signo que a criança começa a perceber e a internalizar. Ferreiro e Teberosky (2005) salientam que toda criança passa por níveis sucessivos para a construção da escrita, a saber: I- Hipótese Pré-silábica A hipótese central se estabelece na reprodução de traços básicos da escrita que a criança tem contato em seu cotidiano. O que vale é a intenção. Escrever e desenhar tem o mesmo significado. Ainda não faz relação entre a escrita e a fala e não diferencia letras e números. Acredita que coisas grandes têm um número grande de letras e coisas pequenas têm um número pequeno de letras (realismo nominal). Usa letras do nome para escrever tudo usando pseudoletras, garatujas e/ou números. “Lê” em seus rabiscos aquilo que quis escrever. Os principais conflitos vividos pelas crianças são identificar quais sinais usar para escrever 24 palavras e conhecer o significado dos sinais escritos. Avançam quando diferenciam o desenho da escrita, percebem as letras e seus sons, identificam e escrevem o próprio nome, identificam o nome dos colegas e percebem que se usa letras em diferentes posições. II- Hipótese Silábica Divide-se em: a) Silábico restrito – sem valor sonoro A hipótese central é de que para ler coisas diferentes é preciso usar formas diferentes, procurar combinar de várias maneiras as poucas formas de letras que é capaz de reproduzir. Respeita duas exigências básicas: a quantidade de letras que nunca é inferior a três (eixo quantitativo) e a variedade entre elas que não podem ser repetidas (eixo qualitativo). Ainda não faz relação do som com a grafia. Usa uma letra para representar cada sílaba, sem se preocupar com o valor sonoro; b) Silábico Evoluído – com valor sonoro Tenta dar um valor sonoro a cada uma das letras da palavra. Surge a hipótese silábica, cada grafia traçada corresponde a uma sílaba pronunciada, podendo ser usada letras ou outro tipo de grafia. Os conflitos desta hipótese consistem em verificar se a escrita está vinculada à pronúncia das partes da palavra (sílabas), em saber como ajustar a escrita à fala e em descobrir qual a quantidade mínima de letras necessárias para se escrever. São considerados avanços a atribuição de valor sonoro às letras e a aceitação de que não é preciso muitas letras para se escrever, apenas o necessário para representar a fala. III- Hipótese Silábica-Alfabética É a fase da transição da hipótese silábica para a alfabética. Compreende que a escrita representa os sons da fala. Alterna escrita silábica com alfabética. Apresenta a escrita com sílabas completas ou incompletas. Nesta etapa, os conflitos vividos pela criança se representam em como fazer a sua escrita ser lida por outras pessoas, em como separar as 25 palavras na escrita se isto não acontece na fala e em como adequar a escrita à quantidade mínima de caracteres. Os avanços ocorrem quando a criança usar mais de uma letra para representar o fonema quando necessário e a atribuição do valor sonoro das letras. IV- Hipótese Alfabética Compreende a função social da escrita: comunicação. Relaciona cada caractere da escrita como valores menores que a sílaba. Faz a correspondência entre fonemas (som) e grafemas (letras). Em alguns momentos escreve como fala. Inicia a preocupação com as questões ortográficas. Separa as palavras quando escreve frases ou textos. Produz textos de forma convencional. Nesta fase, os conflitos vividos pela criança consistem em entender porque se escreve de uma forma e se fala de outra, em como distinguir letras, sílabas e frases e em como aprender as convenções da língua escrita. É avanço a preocupação com as questões ortográficas textuais. 26 CAPÍTULO III O JOGO E O BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL E SEU PAPEL NO LETRAMENTO 3.1 Corpo e Movimento na Creche O movimento é uma importante dimensão do desenvolvimento e da cultura humana. A criança se arrasta, engatinha, corre, pula, joga, fantasia e faz coisas que nós adultos nem sempre entendemos, pois sua maior característica é a intensidade da atividade motora e a fantasia. Corpo e mente devem ser entendidos como formadores de um único organismo. Ao movimentarem-se as crianças expressam sentimentos, emoções e pensamentos, ampliando as possibilidades do uso significativo de gestos e posturas corporais. Na Educação Infantil, o trabalho com movimento, contempla as diferentes funções e manifestações do ato motor, propiciando um amplo desenvolvimento da motricidade na criança. Froebel acreditou na criança, enalteceu sua perfeição, valorizou sua liberdade e desejou a expressão da natureza infantil por meio de brincadeiras livres e espontâneas. Instituiu uma pedagogia tendo a representação simbólica como eixo do trabalho educativo, sendo reconhecido por isso como psicólogo da infância. (KISHIMOTO,2005, p.23) Nos “Jardins de Infância” o aprendizado ocorria a partir de ações que exigissem o desenvolvimento dos movimentos físicos, juntamente com o funcionamento dos processos mentais. (YAMIN, 2001, p. 49) Eles nos mostram que durante a brincadeira a criança, por meio das atividades lúdicas assimila e satisfaz seus desejos e representa a realidade que a cerca. Por isto é que enquanto bem pequena, a criança precisa do adulto como intérprete de seus movimentos e expressões, agindo como mediador, auxiliando-a na satisfação de suas necessidades. Gradualmente ela desenvolve a dimensão objetiva do movimento, ou seja, as competências para agir no espaço físico. 27 É grande a influência que a cultura tem sobre o desenvolvimento da motricidade infantil, pois cada grupo social atribui diferentes significados à gestos e expressões faciais, assim como aos jogos, às brincadeiras e às danças. 3.2 A Construção da Identidade 3.2.1 A importância das brincadeiras no desenvolvimento sóciohistórico da criança. A criança, em sua primeira infância, é muito centrada nela mesma (egocentrismo). Constrói sua realidade gradualmente, adquirindo noções espaciais, temporais e do próprio corpo, separando e percebendo o “eu” dos objetos a seu redor. Constrói o seu mundo a partir das relações que estabelece com os outros e com as coisas. Há na primeira infância uma forte presença de autocentração, que vai se modificando a medida que a escola permita que a criança aja em liberdade em parceria com o ambiente familiar, promovendo sua socialização. No brincar, a criança se interroga, observa, reflete, a seu jeito, sobre o mundo no qual vive: estranha e este estranhamento ou desequilíbrio,(quebra das suas estruturas) é condição para compreensão e construção do conhecimento. Então, é pela brincadeira, que ela recria o mundo explorando os limites de sua construção. Gouvea (2007) considera que, o brinquedo tem em si uma linguagem própria que não representa nem reproduz o real. Diz ainda que, a criança não pensa o mundo para expressá-lo na brincadeira, mas o significa através dela. Desta forma, é que o brinquedo transcende o real, promovendo as múltiplas possibilidades de sua construção. Benjamin (1994) relata que, a criança ao brincar não imita o mundo real “como se”, mas sim empresta-lhe um sentido pela linguagem simbólica. Só no brinquedo as operações exigidas podem ser substituídas por outras e as condições do objeto podem ser substituídas por outras condições do objeto 28 com preservação do próprio (LEONTIEV, 1988, p. 122) conteúdo da ação. Seguindo esta concepção o caráter lúdico está presente na ação cotidiana da criança que empresta-lhe sentido em suas atividades, que não está na objetividade dos resultados buscados pelos adultos, mas no prazer da sua execução.Sobre a importância do ato de brincar para o desenvolvimento psíquico do ser humano. Nenhuma criança brinca espontaneamente só para passar o tempo. Sua escolha é motivada por processos íntimos, desejos, problemas, ansiedades. O que está acontecendo com a mente da criança determina suas atividades lúdicas; brincar é sua linguagem secreta, que devemos respeitar mesmo se não a entendemos. (BETTELHEIM, 1984, p. 358) Os jogos ao longo da história sempre foram considerados uma forma de atividade humana, tanto no sentido de recrear como para educar. A relação entre o jogo e a educação são antigas; gregos e romanos já falavam da sua importância na educação da criança. Foi a partir do século XVIII que a criança foi considerada como um ser distinto do adulto e o brincar é tido como típico de sua idade. A partir de então, as brincadeiras fazem parte da vida das crianças e são inseridas no espaço escolar.A vida da criança passa a ser vista com importância em todos os aspectos de sua formação, pois como ser bio-psico-social inicia seu processo de desenvolvimento e interação com o grupo que pertence. Kishimoto (1994) afirma que “o jogo vincula-se ao sonho, à imaginação, ao pensamento e ao símbolo”. Pensando assim, não podemos desvincular o movimento de seu real objetivo: a organização de esquemas motores, construídos pelos sujeitos no contato com seus pares considerando tanto os recursos biológicos e psicológicos de cada pessoa, mas também sua interação com o meio em que vive. O que se espera deste trabalho é que as crianças possam, da melhor forma possível, apresentar em cada período de vida uma boa qualidade de movimentos. 29 Surge uma nova “Pedagogia da Criança” que considerou, na concepção de Kishimoto (1994), o homem como ser simbólico que se constrói na coletividade, na capacidade de pensar vinculada à capacidade de sonhar, imaginar e jogar com a realidade. Ele vê o jogo como uma gênese da metáfora humana. É necessário, no entanto, compreendermos que o jogo é uma atividade que tem sua própria razão de ser e contém em si mesmo, o seu objetivo, mas é fundamental diferenciar as formas de jogo nas diferentes fases da infância.Torna-se necessário que o educador conheça e compreenda a evolução da criança e a partir daí pense que tipo de atividade pode e deve propor, tendo claro seus objetivos,a definição de como será realizada, para desta forma, promover uma atividade que contribua para a constituição de sua identidade cultural e personalidade. 3.2.2 O jogo na concepção de Piaget A origem das manifestações lúdicas acompanha o desenvolvimento da inteligência e estão vinculados aos estágios do desenvolvimento cognitivo (Piaget, 1978) Cabe ao professor conhecer tais estágios para, ao escolher uma atividade lúdica, esta esteja de acordo com a etapa de desenvolvimento cognitivo da criança e consiga alcançar os objetivos esperados. Piaget (1878) considera outro aspecto importante ao conceituar o jogo. A relação deste com o processo de adaptação, que implica dois processos complementares: a assimilação e a acomodação. Compreende-se então que, a assimilação se caracteriza por um processo que se dá quando a criança se depara com determinado problema do mundo exterior (desafio) e para resolvê-lo reutiliza estruturas mentais já existentes. Já quando ela não consegue resolvê-lo com as estruturas existentes, modifica-as, acontecendo a acomodação. Desta forma, Piaget (1952) 30 considera que existe uma adaptação ao ambiente por meio da equilibração, pois à medida que joga a criança assimila novas informações, acomodando-as e incorporando-as às suas estruturas mentais. Piaget identifica três tipos de estruturas mentais decorrentes da evolução do brincar infantil: o exercício, o simbólico e a regra. c) Jogo de exercício representa a forma inicial do jogo na criança. Está relacionado ao período sensório-motor do desenvolvimento cognitivo (por volta de 0 a 2 anos).É uma atividade lúdica, natural surge como uma série de movimentos simples, repetição de gestos como agitar os braços, sacudir objetos, emitir sons, caminhar, pular, etc.Embora comecem da fase maternal até os 2 anos, eles se mantêm durante toda a infância e até na fase adulta.Por exemplo andar de bicicleta,de moto.Não supõe o pensamento e nem qualquer estrutura representativa, é especificamente lúdica. d) Jogo simbólico tem início com o aparecimento da função simbólica (final do segundo ano de vida) quando a criança entra no estágio pré-operacional do desenvolvimento cognitivo. É marcado pela habilidade de estabelecer a diferença entre o símbolo e sua representação, seu significado. Desta forma, tem a função de estabelecer relação com a realidade, através da transformação do real para satisfazer o “eu” (desejos). Representam as relações vivenciadas em seu cotidiano. Esse faz-de-conta possibilita à criança a realização de sonhos e fantasias, revela conflitos, medos e angústias, aliviando tensões e frustrações. Surgem novos símbolos lúdicos que determinam a evolução do jogo simbólico, que vão intermediar o período entre 7,11 e 12 anos (do simbólico para o de regras). Surgem desenhos, trabalhos manuais, representações teatrais. e) Jogo de regras constitui-se nos jogos do ser socializado e se manifestam quando por volta dos 4 anos, acontece um declínio nos jogos simbólicos e a criança começa a se interessar pelas regras. Este tipo de jogo continua durante toda a vida do indivíduo (esportes, trabalho, jogos de xadrez, baralho, RPG e outros). São constituídos por 31 jogos sensório-motor como o futebol, por exemplo, e intelectual, o xadrez. É caracterizado pela existência de leis (regras) impostas pelo grupo, penalidade pelo não cumprimento das leis e uma forte competição entre seus elementos. Também pressupõe a necessidade de parceiros e um conjunto de obrigações o que lhes dá um caráter eminentemente social. Apresenta assim, um equilíbrio entre a assimilação do eu e a vida social, marcando a passagem do jogo infantil para o jogo adulto. Para Piaget (1952), as regras instituem legitimidade ao jogo, inserindo na competição, uma disciplina coletiva e uma moral de honra. O jogo na concepção de Vygotsky Ele estabelece uma relação estreita entre o jogo e a aprendizagem, atribuindo-lhe grande importância relacionando-a à teoria do desenvolvimento cognitivo, que nos seus estudos está relacionada a interação entre a criança e as relações cotidianas, estabelecidas na Zona de Desenvolvimento Proximal. Vygotsky (1998) alerta que não é todo jogo da criança que possibilita a criação de uma zona de desenvolvimento proximal, do mesmo modo que nem toda proposta de ensino o consegue. No jogo simbólico, é necessário a presença destes aspectos : a situação imaginária e as regras de conduta.No jogo simbólico a criança ensaia atitudes, valores, hábitos e situações para as quais não está preparada na vida real. Outro elemento importante no jogo é o papel da imaginação, que está relacionada com a atividade criadora, muito presente nos jogos da criança, pois é pela imaginação, que produz mais do que aquilo que vê, vai além da realidade, dando-lhe seu sentido. Ele destaca a importância do professor perceber as necessidades e capacidades da criança, sua aptidão em utilizar os caminhos, as hipóteses, as possibilidades geradas que permitam que avance em seu desenvolvimento. 32 O jogo na concepção de Wallon Um estudioso do psiquismo humano na perspectiva genética. Ele defendeu a gênese da pessoa, na qual justificou o seu interesse pela evolução psicológica da criança. Na concepção de Ferreira (2005), a psicogenética Walloriana, oferece bases para reflexão sobre as práticas pedagógicas e peculiaridades do desenvolvimento da infância numa visão contextualizada. É na infância, numa atividade lúdica, que a criança expressa sentimentos e criatividade de uma maneira muito natural e espontânea, viabilizando através da interação com o outro, a apropriação da identidade e desenvolvimento da autonomia. O brincar facilita o crescimento e, em conseqüência promove o desenvolvimento. Uma criança que não brinca não se constitui de maneira saudável, tem prejuízos no desenvolvimento motor e sócio afetivo. (WINNICOTT, 1975, p.113) Desta afirmação concluímos o quanto é importante o papel do professor dando subsídios, através do brincar, para a criança tornar-se sujeito construtor de sua identidade, negociando significados conduzidos pelo corpo e pela linguagem. Os jogos possibilitam que o educador percebe e acompanhe as experiências vividas pelas crianças como memorização, enumeração socialização, articulações sensoriais de forma progressiva, permitindo uma interferência adequada no sentido de proporcionar mais crescimento. O brincar na escola, como recurso pedagógico tem que ser visto com clareza e cautela, pois ele também promove a constituição do indivíduo. Com sua inclusão no espaço escolar deve-se atentar para esse duplo aspecto: promover o desenvolvimento da criança enquanto indivíduos e viabilizar a construção do conhecimento, processos estes indissociáveis. 33 CAPÍTULO IV AS REFERÊNCIAS CURRICULARES NA EDUCAÇÃO INFANTIL O Referencial Curricular para Educação Infantil (RCNEI) aponta metas de qualidade que contribuem para que as crianças de 0 a 5 anos se desenvolvam integralmente constituindo-se como cidadãos cujo o direito à infância sejam reconhecidos. Ele foi estruturado para servir de guia de reflexão sobre os objetivos, as habilidades e orientações didáticas para profissionais que atuam com crianças dessa faixa etária, sendo importante norteador no auxílio às instituições já existente respeitando a diversidade cultural brasileira, atendendo às determinações da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96) que estabelece que a Educação Infantil é a primeira etapa da educação básica. A Educação Infantil é entendida então, como nível de ensino e desta forma, as instituições públicas ou privadas devem ter como parâmetro tal documento. Rompe-se assim, com a tradição assistencialista das creches representando um avanço para a Educação Infantil. Os Referenciais Curriculares para a Educação Infantil trazem reflexões sobre as práticas educativas na creche e da escolaridade antecipada das préescolas visando também contribuir para o planejamento, desenvolvimento e avaliação destas práticas considerando a pluralidade e diversidade étnica, religiosa, de gênero, social e cultural das crianças brasileiras favorecendo a construção de propostas educativas que respondam as demandas das crianças e seus familiares nas diferentes regiões do Brasil. Alerta às especificidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas das crianças desta faixa etária, a qualidade das experiências desenvolvidas devem estar embasadas no exercício da cidadania apoiadas: • No respeito à dignidade e aos direitos das crianças; • No direito das crianças a brincar, como forma particular de expressão, pensamento, interação e comunicação infantil; 34 • No acesso das crianças aos bens socioculturais disponíveis, ampliando o desenvolvimento das capacidades relativas à expressão, à comunicação, à interação social, ao pensamento, à ética e a estética; • Na socialização das crianças por meio de sua participação e inserção nas mais diversificadas práticas sociais, sem discriminação de espécies alguma; • No atendimento aos cuidados essenciais associados à sobrevivência e ao desenvolvimento de sua identidade. As novas orientações curriculares (SME, GED, 2010), têm a intenção de incluir assuntos das diferentes áreas de conhecimento, oportunizando a expressão das diferentes linguagens por meio das quais as crianças e adultos se expressam e desenvolvem interação. As áreas de conhecimento e as linguagens são trabalhadas de forma a explicar os objetivos gerais, da ação intencional do adulto educador e também a ação da criança ao interagir com as propostas planejadas para ela, as habilidades. Tais orientações se subdividem em: linguagem oral e escrita. A linguagem está presente no cotidiano e na prática do espaço da educação infantil, pois está constituída como meio de comunicação deste grupo social expressando sentimentos e idéias, mediado por sistemas simbólicos diversos. Através da ampliação das possibilidades de expressão, é reconhecido o importante papel da educação infantil que vem viabilizando o desenvolvimento e o domínio das linguagens verbal, oral e escrita. Pelas interações sociais geram-se possibilidades às crianças, desde a mais tenra idade, de participar e observar de situações de comunicação fazendo-as gradualmente perceber o mundo que as rodeia, antes mesmo do desenvolvimento da fala. Ao se estabelecer conversas com os bebês um processo de comunicação se estabelece através da identificação de desejos, balbucios, expressões faciais, gestos, entonações, modulação da voz, sentimentos como a raiva, choro e contentamento que interferem na comunicação entre educador e criança compartilhando significados. Sendo assim, é vivendo a linguagem oral no dia a dia que a criança vai aprendendo a 35 fazer uso da mesma e se apropriando do seu funcionamento e descobrindo a possibilidade do registro. Muitos materiais escritos estão presentes no cotidiano da criança nos espaços de educação infantil, enriquecendo e favorecendo as suas experiências de aprendizagem da construção da escrita e da leitura. É no trabalho com a oralidade explorada nas experiências sociais diárias que se oportunizam possibilidades às crianças o acesso à cultura nos espaços de educação infantil. A Educação Infantil deve ser então, um lugar para a experiência, a necessidade, a importância e a aprendizagem de utilizar a oralidade, a leitura e a escrita. 4.1 Expressão de diferentes linguagens 4.1.1 Matemática Os conceitos e os conhecimentos matemáticos, também fazem parte integrante do universo das crianças desde o nascimento. Elas participam de inúmeras situações vivenciadas em contextos significativos e presentes em suas práticas culturais. São trabalhados a partir das experiências e vivências do dia a dia e de suas brincadeiras nos espaços de educação infantil. É através das brincadeiras que vivenciam noções de grandezas, de tempo, peso, volume, contagem; relações entre quantidades; noções de espaço e formas, leitura e escrita de números, classificações, associações e comparações diversas vinculadas à suas experiências sociais. Para possibilitar aprendizagens, é necessário organizar um ambiente favorável com objetos e brinquedos presentes no mundo social que aproximem as crianças e favoreçam as experiências matemáticas que envolvem: equivocar-se, revisar, analisar, refletir sobre ações realizadas considerando o desenvolvimento lógico-matemático da faixa etária da criança, por meio de conversas e registros. Sendo assim, é essencial que o educador conheça como o desenvolvimento lógico-matemático dessa faixa etária da educação infantil se dá e quais práticas culturais estão presentes em seu cotidiano. 36 Deve-se considerar o rápido e intenso processo de mudança vivido nas faixas etárias, pois elas apresentam possibilidades de estabelecer vários tipos de relações e representações mentais, gestuais e indagações. São muitas as ações que interferem na construção dos conhecimentos matemáticos, essas ações ocorrem fundamentalmente no convívio social e com jogos, brincadeiras, músicas entre outras. 4.1.2 Ciências Sociais e Naturais O trabalho referente aos conhecimentos das ciências sociais e naturais deve estar voltado para a promoção das experiências das crianças e para a construção de conhecimentos diversificados sobre as relações sociais de convivência das pessoas e dos objetos inseridos no ambiente. É importante que as crianças tenham contato com diferentes elementos, acontecimentos do mundo e fenômenos, para que ela possa explorar o ambiente que a cerca, o próprio corpo, os animais, as plantas, a água, a terra, favorecendo a descoberta de transformações das coisas pela ação da natureza e do homem. A construção por meio da observação, formulação de hipóteses, experimentação, registro, interpretação por meio de resultados são caminhos para um trabalho significativo com a natureza e sociedade na qual a criança da educação infantil torna-se sujeito de suas aprendizagens e de seu desenvolvimento. Tais descobertas favorecem a postura curiosa da criança em relação ao mundo que a cerca, motivando seus interesses, sua vontade de entender e conhecer as coisas e as práticas de sua comunidade e de si mesma e dos outros, percebendo-se responsáveis também pelo cuidado com o nosso planeta. 4.1.3 Corpo e movimento As crianças se movimentam desde que nascem e crescem adquirindo cada vez mais controle sobre o seu próprio corpo e vão se apropriando cada vez mais das suas possibilidades de interação com o mundo. Pelo corpo e 37 seus movimentos elas atuam, dão significado ao ambiente em que vivem, pela interação com o outro. Na educação infantil, o trabalho com movimento, contempla as diferentes funções e manifestações do ato motor, propiciando um amplo desenvolvimento da motricidade na criança. Quanto menor a criança, mais ela precisa de adultos que interpretem o significado de seus movimentos e expressões, auxiliando-as na satisfação de suas necessidades. É somente aos poucos que se desenvolve a dimensão objetiva do movimento, ou seja, as competências para agir no espaço físico. O desenvolvimento da motricidade infantil é influenciado pela cultura, pois cada grupo social atribui diferentes significados aos gestos, expressões faciais, aos jogos, brincadeiras e danças. 4.1.4 Linguagens Artísticas - Música A música é uma linguagem muito importante e presente na comunicação e expressão do ser humano. Está relacionada a aspectos sensíveis, afetivos, estéticos e cognitivos promovendo a interação e a comunicação social. Desde muito cedo a criança está inserida no mundo de sons e da música que favorecem a conexão cultural do meio onde vive, viabilizando a apropriação de sonoridades próprias de seu grupo. Assim, chegam à educação infantil com repertório próprio do ambiente familiar como músicas, canções, sons familiares que se juntarão a novos sons no espaço escolar abrindo um canal comunicativo de grande importância para as relações do grupo. A presença da música em diferentes e variadas situações na Educação Infantil faz com que os bebês e as crianças iniciem o seu processo de musicalização de forma intuitiva. Adultos cantam cantigas diversas, fazem brincadeiras cantadas com rimas e parlendas, criando interações que estabelecem a comunicação. Compreende-se a música como linguagem e forma de conhecimento presente no cotidiano infantil de modo intenso, acessível ao mundo dos bebês 38 e das crianças, que por meio do prazer da escuta, desenvolvem a capacidade de observação, análise, reconhecimento e reflexão. - Artes Visuais Tal como a música, a arte visual é uma linguagem, e sendo assim, ela é uma forma de expressão e comunicação humana. Na educação infantil, quando a criança rabisca, desenha no chão, na areia e nos muros, ao utilizar materiais encontrados por acaso como pedrinhas, folhas, tampinhas, pintar objetos ou seu próprio corpo, ela está utilizando-se das Artes Visuais para expressar experiências sensíveis. As artes visuais são importantes estratégias de organização e apropriação de um pensamento simbólico em processo de construção e devem estar presentes no cotidiano da educação infantil. Devem estar vinculadas a todas as ações lúdicas propostas no planejamento, pois o pensamento, a sensibilidade, a imaginação, a percepção, a intuição e a cognição não existem separadamente na criança. A ação do educador deve ir além da disponibilização de materiais para produção de trabalhos artísticos, deve viabilizar o processo de desenvolvimento e da apropriação da linguagem gráfico-plástica através dos sentidos, numa proposta prazerosa para a criança. A linguagem gráfico-plástica vai se constituindo gradualmente e quanto mais contato ela tiver com as diferentes linguagens artísticas vai aprimorando suas habilidades de desenhar, esculpir, pintar utilizando diferentes materiais tais como esponja, massinha, argila, papel, madeira, tecido, pedra. Portanto a curiosidade das crianças nessa faixa etária deve ser aproveitada através do trabalho dos sentidos nas brincadeiras e no jogo simbólico. A produção da arte e o fazer artístico são construídos pela criança através de suas impressões, idéias e interpretações. São elaboradas a partir de suas experiências ao longo da vida, que envolvem a relação com a produção de arte, com o mundo dos objetos e com o seu próprio fazer. As artes visuais têm uma estrutura e características próprias, cuja aprendizagem se dá por meio da articulação do fazer artístico, da apreciação e da reflexão: 39 - Fazer Artístico Centrado na exploração, expressão e comunicação. A exploração e manipulação de materiais, como lápis e pincéis de diferentes texturas e espessuras, broxas, carvão, carimbos, o reconhecimento de diferentes movimentos gestuais, visando a produção de marcas gráficas. Atividades com estruturas tridimensionais usando sucata adequadamente selecionada para a faixa etária, favorecimento da exploração da dimensão espacial.Tais práticas têm o objetivo da construção de criação pessoal, levando a criação de novas formas de conhecer e de se relacionar com seu Eu interior. - Apreciação Percepção do sentido que o objeto propõe. Promover uma proposta onde as crianças contemplem materiais diversos e significativos para ela visando desenvolver a capacidade de construção de sentido, reconhecimento, análise e identificação de obras de artes e de seus produtores. O professor deve ser um provocador da apreciação e leitura de imagens e aquele que acolhe e socializa a linguagem das crianças. - Reflexão É um pensar sobre todos os conteúdos do objeto artístico que se manifesta em sala, compartilhando perguntas e afirmações que a criança realiza, instigada pelo professor, e no contato com suas próprias produções e a dos artistas. 4.2 As Relações Cotidianas na Sala de Aula As práticas educativas devem ser concebidas possibilitando à criança vivenciar situações que promovam a construção de conhecimento apoiadas na teoria construtivista, envolvendo atividades significativas que possibilitem a sua interação com o grupo e com o ambiente onde vive. Propostas desafiadoras, significativas e prazerosas favorecendo novas descobertas devem permear o planejamento considerando imprevistos e a reorganização do trabalho Dessa 40 forma, o ato de planejar o acolhimento, a rotina de sala de aula, o espaço físico e a proposta pedagógica são elementos fundamentais para a construção do conhecimento. Quando conseguimos acompanhar a construção do pensamento da criança é inevitável o surgimento da paixão por elas, pois como é que seres tão pequenos, em idade e tamanho, são capazes de estabelecer tantas interligações, compondo, decodificando uma impressionante quantidade de informações? (DANTAS, 1992, p.71) O ato de planejar faz parte do cotidiano. O planejamento do educador deve ser pautado em experiências e princípios muito próximos dos vivenciados no dia a dia da criança. Ao planejar, o educador precisa pensar sobre a organização do tempo, do espaço e dos materiais. Planejar a prática educativa garante ao educador encontrar uma forma útil e organizada de antecipar ações, prever possíveis ações das crianças e ter clareza de qual é o objetivo dentro de determinada proposta. Para planejar é fundamental conhecer as características da faixa etária com a qual se trabalha. Conhecer o desenvolvimento infantil faz com que se tenham referências e instrumentos para observar as crianças: como se relacionam, como exploram os espaços e materiais, o que já sabem fazer com ajuda e sem ajuda do adulto, o que lhes desperta o interesse, quais são as suas motivações e exigências. A partir da observação, se tem condição de planejar propostas específicas para cada grupo com o qual se trabalha, de forma que respeite e considere o nível real da criança .O planejamento deve, contemplar desafios adequados a cada grupo viabilizados pelo trabalho na Zona de Desenvolvimento Proximal. 4.2.1. O Acolhimento Ao entrar na Creche ou na escola, a criança começa sua relação com o mundo, num ambiente cheio de novidades e propostas que lhe permite ampliar seu universo social e cultural. Tal situação cria não só na criança como também na família certa ansiedade e medo, já que habitualmente, a criança convive com poucas pessoas em casa, com quem já estabeleceu um vínculo 41 afetivo e na creche passa a conviver com um grande número de pessoas estranhas a ela, adultos e crianças, onde tudo é novo. Os momentos iniciais na creche exigem um esforço daqueles que estão envolvidos com a criança, pois ela neste novo contexto pode se mostrar triste ou quieta em demasia, irritada ou até mesmo recusando-se a se alimentar. A Adaptação pode ser entendida como o esforço que a criança realiza para ficar, e bem, no espaço coletivo, povoado de pessoas grandes e pequenas desconhecidas com regras e limites diferentes do ambiente doméstico onde viveu até agora. Ela se esforça, mas sua adaptação não depende só dela, mas da forma como é acolhida. Por isso, planejar e organizar a chegada das crianças e famílias é tarefa primordial na creche. O período do acolhimento (adaptação), deve ser cuidadosamente planejado para promover a confiança e o conhecimento mútuo, assim ele favorece a criação de vínculos afetivos entre as crianças,as famílias e os educadores possibilitando novas interações sociais. O espaço educativo pode possibilitar que a família conheça o ambiente onde a criança ficará gerando assim, maior confiança entre pais e educadores. A adaptação deve estar apoiada na necessidade de acolher, aconchegar, promover o bem estar, o conforto físico e emocional firmando o compromisso com a qualidade e responsabilidade do espaço escolar.A qualidade do acolhimento garantirá a qualidade da adaptação. Para tornar mais fácil a adaptação da criança à creche, seu ingresso deve ser feito de forma gradual, onde ela permanecerá inicialmente por curto espaço de tempo que vai aumentando gradativamente, tendo a presença da família como uma referência.Sua rotina de alimentação, banho, sono vão sendo mediadas pelo educador que vai auxiliando-a buscando um equilíbrio de seus hábitos com a nova rotina da creche. As crianças muito pequenas têm poucos recursos para se expressar, visto que ainda não dominam a linguagem verbal, sendo assim manifestam seus sentimentos através do corpo. Neste processo de adaptação elas vivenciam momentos de separação, insegurança e outros sentimentos, que nesta situação podem vir a desencadear diversos tipos de comportamento 42 como choro, doenças freqüentes, recusa de alimento, excesso ou falta de sono. Deve-se ter atenção, pois a criança estará sempre expressando suas dificuldades necessitando do auxílio e o cuidado do adulto. Cabe ao educador ter a sensibilidade de acalmar os pais por estas reações das crianças de certa forma normais diante de novas situações. À medida que a criança vai se adaptando, a família vai percebendo mudanças em seu relacionamento e sua permanência na creche influencia positivamente condições para o seu desenvolvimento. Falar de creche ou de Educação Infantil é muito mais do que falar de uma instituição,(...) da sua necessidade social ou da sua importância educacional.É falar da criança.De um ser humano, pequenino, mas exuberante de vida;dependente, mas capaz de polarizar atenções ao redor de si;todo aberto para o outro, mas que só se desvela se, no outro, houver paixão.É tocar no mistério da pessoa humana enquanto vida em busca da plenitude, de felicidade, de encontro. (DIDONET, 2001, P.11) 4.2.2. A Rotina da Creche Os diferentes momentos do dia na creche são marcados por várias ações educativas como cuidados, experiências, brincadeiras, refeições, higiene e sono. A diversidade deve estar presente na rotina diária, tanto dos bebês quanto das crianças maiores proporcionando possibilidades articuladas de escolhas, vivências de experiências simultânea, seja em pequenos grupos, em grupos maiores ou individualmente, dividindo o tempo em atividades calmas e ativas. A hora do banho ou o momento da higiene pessoal devem ser feitas junto com as crianças, mostrando e descrevendo todas as ações através de conversas e músicas possibilitando à criança a compreensão. A preparação desta rotina deve ser organizada de forma a oferecer às crianças o desenvolvimento da autonomia através do despir-se, lavar-se, seca-se, vestirse e calçar a si e aos outros. Podem experimentar a temperatura da água, a textura do sabão e das esponjas e também podem ser estimuladas a cuidar uns dos outros promovendo assim o cuidar/educar como sujeitos ativos na construção de sua identidade. 43 Estabelecer uma rotina na creche é fundamental para as crianças, pois através dela o educador pode propor atividades, respeitando os interesses das crianças e organizando o espaço disponível dentro e fora da sala de aula: a) Atividades de livre escolha como brincadeiras em grupo ou individual utilizando os “cantinhos” de jogos, da leitura, da fantasia, da casinha, da pintura ou do desenho dando oportunidade de escolha às crianças de acordo com seus desejos.Também podem ser oferecidos manuseio livre e brincadeiras com sucatas, brincadeira no pátio com pneus, cordas, bambolês, brincadeiras com água, terra. Tais atividades possibilitam um trabalho mais individualizado, dando oportunidade do educador observar a interação da criança com o brincar; b) Atividades coletivas – estas atividades são dirigidas pelo educador e propostas para todo grupo, promovendo o trabalho de concentração e a interação da criança com o grupo. Geralmente são efetivadas num espaço amplo como o pátio.São jogos sensoriais (trabalho voltado para o desenvolvimento da acuidade auditiva, percepção visual, o tato e o olfato); são os jogos motores (trabalhando esquema corporal), através dos movimentos de saltar, correr, caminhar sobre obstáculos, entrar e sair de caixas e outros; as brincadeiras e rodas cantadas como batatinha frita um, dois, três; ciranda cirandinha, atirei o pau no gato; audição de histórias com o auxílio de fantoches, gravuras do próprio livro, bonecas e bonecos; conversas na roda; c)Atividades físicas – têm por objetivo realizar cuidados básicos que a criança necessita para o desenvolvimento de sua autonomia. São caracterizadas pelo cuidar educativo como sentar à mesa com os colegas e professora para as refeições, repartir o seu lanche com o colega, esperar sua vez para ser servido, limpar seu lugar de trabalho e alimentação, ir ao banheiro sem o auxílio do adulto, realizar sua higiene com independência. Na alimentação trocar progressivamente a mamadeira pelo copo, permitir que ela coma com sua própria mão, mastigar alimentos mais sólidos. Na hora da higiene deixar que lave as mãos sozinha, escove os dentes, que possa vestir-se e despir-se , 44 guardar seus pertences e materiais individuais de modo a torna-se cada vez mais autônomo. Na hora do repouso, promover locais adequados para que descansem com tranqüilidade. A construção do espaço físico da creche Pensar na organização dos espaços, ou ambientes na educação infantil é pensar como essa criança interage com o meio onde vive. Nesta concepção, deve-se estar atento para o quantitativo de crianças por metro quadrado, a escolha dos formatos dos materiais e o espaço de circulação desta criança.No entanto, o que assistimos no sistema educacional é a adaptação de casas sem a menor preocupação com a segurança e a viabilidade de execução do projeto pedagógico. Numa outra perspectiva, cabe ao educador, no entanto, adaptar este espaço preocupando-se em permitir à criança as interações necessárias ao seu desenvolvimento considerando a faixa etária, o tamanho da sala de aula e as possibilidades de organização dos materiais disponíveis. Assim, o educador precisa pensar este espaço com possibilidade desafiadora, estimulante para a livre exploração e integração viabilizando a construção de novos saberes e a autonomia da criança. A brincadeira O brincar é o principal modo de expressão da infância. Brincar não significa apenas recrear, tem um significado muito mais amplo, pois é através dele que a criança constrói sua identidade, se desenvolve, explora o mundo, amplia sua percepção e interage com o mundo. É uma das formas mais complexas que ela tem de comunicar-se consigo mesma e com o mundo. Por isso, é fundamental garantir na rotina da creche momentos onde a criança possa brincar, respeitando o seu modo de ser. Na educação infantil, os momentos de brincadeira de faz-de-conta, são fundamentais e devem ser garantidos diariamente na rotina das crianças desta faixa etária, para seu desenvolvimento emocional, social e cognitivo. Existe uma variedade de ações lúdicas praticadas pelas crianças de forma espontânea e que promovem o desenvolvimento de habilidades 45 psicomotoras, cognitivas. No brincar experimentam diferentes sentimentos de amor, confiança, solidariedade, união, proteção assim como, inveja, frustrações, rejeição, propondo vivências que traduzem simbolismo do mundo adulto e do mundo infantil. Proposta Pedagógica A proposta pedagógica na educação infantil deve estar apoiada nas concepções dos teóricos como Vygotsky, Piaget e Wallon, além do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, das Novas Orientações curriculares para Educação Infantil no sentido de garantir os direitos que essa criança tem e o respeito pelos seus saberes e a diversidade cultural brasileira. Sendo assim, deve reconhecer a criança como um ser íntegro, que aprende com seus pares, buscando oportunizar atividades intencionais que colaborem com o desenvolvimento integral dessa criança: uma proposta que intensifica as possibilidades de um trabalho que respeite a diversidade, integrando o espaço educativo contido na idéia de que o tempo e o espaço na educação infantil devem ser vividos e organizados, considerando as demandas das crianças e suas práticas no dia a dia, propiciando de forma gradual, novas oportunidades para o seu desenvolvimento e para as suas iniciativas e curiosidades infantis. Nesta proposta pedagógica, ganha destaque o trabalho exploratório das crianças especialmente por meio da brincadeira que permite a abordagem de diferentes assuntos, diferentes linguagens que permitem a interação entre a criança e o adulto. Considera-se também necessário, o compromisso de promover uma educação numa perspectiva inclusiva, pois as diferenças sociais, econômicas, físicas, cognitivas e psicológicas são componentes do universo coletivo e devem ser trabalhadas para oportunizar o convívio em sociedade de forma harmoniosa garantindo a toda criança seu desenvolvimento e crescimento, no qual o cuidar e o educar sejam vistos de forma indissociável nesta prática educativa.Cuidar de bebês e de crianças inclui atender a todas as necessidades infantis sejam elas físicas, emocionais, cognitivas ou sociais, 46 oferecendo-lhes condições de se sentirem confortáveis em relação ao sono, fome, sede, higiene e dor, dando-lhes real possibilidade de aprendizagem. Significa também, acolher, garantir a segurança e saúde, alimentar a curiosidade e expressividade infantis promovendo situações pertinentes à faixa etária atendida, ancoradas principalmente no brincar. 47 CAPÍTULO V METODOLOGIA Este estudo foi estruturado com enfoque teórico-bibliográfico, dando embasamento às características do trabalho desenvolvido na Educação Infantil e aspectos de pesquisa de campo. Baseando-se na hipótese de que o início do letramento se dá desde os primeiros anos de vida surgiu a preocupação da pesquisadora de averiguar se ela se faz verdadeira ou não. A pesquisa de campo foi escolhida como parâmetro para validar as hipóteses consideradas, pois através de trabalho de campo podem-se mensurar as hipóteses levantadas neste estudo. O uso do instrumento questionário surgiu da necessidade de verificar junto aos educadores da Educação Infantil a importância do letramento na creche, objeto deste estudo. Para tanto foi respeitada a orientação necessária para os procedimentos metodológicos e técnicos. O produto dos questionários foi exposto em gráfico estatístico, indicando resultados sobre a importância do letramento na Educação Infantil. Para realizar a coleta de dados houve a participação de uma Creche, Espaço de Desenvolvimento Infantil (EDI) e uma escola da rede municipal de ensino do Rio de Janeiro. Foram elaboradas cinco sentenças, as quais foram distribuídas e respondidas individualmente pelos profissionais envolvidos. A creche é constituída por turmas de educação infantil desde o Berçário até o Maternal II, funcionando em horário integral. A Escola possui turmas de Jardim (Educação Infantil 4 e 5 anos) funcionando em dois turnos, manhã e tarde. Participaram como sujeitos deste trabalho cinco educadores da educação infantil, como apresentado na Tabela 1. Todos os educadores participam da formação dada pela prefeitura municipal do Rio de Janeiro e o governo federal – PROINFANTIL.Para preservar a identidade dos participantes seus nomes são apresentados pelas iniciais. 48 Tabela 1: Descrição dos participantes da pesquisa. Nome V.S J G Idade Função Agente Auxiliar de Creche Agente Auxiliar de Creche Agente Auxiliar de Creche Grupamento Tempo de Profissão Maternal I 3 anos Maternal I 3 anos Maternal II 2 anos V. L. Professora EI(Jardim II) 5 anos A.F Professora Maternal II 3 anos Formação Magistério em curso Magistério em curso Magistério em curso Pedagogia em curso Pedagogia concluída 49 CAPÍTULO VI RESULTADOS Baseando-se na hipótese de que o início do letramento se dá desde os primeiros anos de vida surgiu a preocupação da pesquisadora de averiguar se ela se faz verdadeira ou não. Apresenta-se na Tabela 2 a análise das frases afirmativas do questionário: Tabela 2: Sentenças sobre a importância do letramento na Educação Infantil utilizadas no estudo. SENTENÇA QUESTÃO É fundamental para a criança a sua inserção num ambiente letrado para S1 que inicie gradualmente a construção de seus conhecimentos. S2 Compreender o desenvolvimento infantil capacita o professor em suas ações na promoção do desenvolvimento da criança. S3 As atividades livres, as brincadeiras, as trocas verbais no dia a dia, ampliam o desenvolvimento da oralidade. S4 No contato com a leitura/escrita formal a criança testa e reconstrói suas hipóteses sobre a linguagem. S5 É através da narrativa de histórias que a criança desenvolverá sua linguagem. Na Figura 1 observa-se que 100% dos educadores que participaram do trabalho concorda que é importante a criança estar inserida desde cedo em um meio letrado (S1), além de reafirmar a importância da formação do professor nas atribuições de atividades apropriadas para a faixa etária (S2). 60% dos educadores concordaram sobre a sentença S5 que aborda o papel da narrativa de histórias para o desenvolvimento da linguagem na criança. A S3 ressalta que as trocas verbais no dia a dia facilitam a construção da linguagem oral, através do lúdico e brincadeiras; com essa sentença concordaram 100% dos educadores. 40% dos educadores refletiram e se dividiram sobre a S4 que busca analisar as hipóteses sobre a leitura/escrita que a criança possui antes do letramento. 50 A maior parte dos educadores concorda que o processo de letramento se inicia a partir da interação da criança com o meio, quando elas se expressam com gestos, balbucios e palavras no seu cotidiano. Análise das Hipóteses sobre Letramento Concordo 100% Concordo em parte Não concordo 80% 60% 40% 20% 0% S1 S2 S3 S4 S5 Figura 1: Análise das hipóteses sobre o letramento infantil. 51 CONCLUSÃO A preocupação nesse estudo foi propiciar uma reflexão sobre a importância do letramento na educação infantil considerando o segmento creche como fase inicial do ensino básico, conhecendo as concepções de infância, linguagem e letramento presentes nas práticas da educação infantil. Apoiado nos referenciais bibliográficos, que apontam para uma criança produtora de cultura, cidadã de direitos e na linguagem como espaço de interações sociais, percebeu-se a importância da prática pedagógica para a construção do conhecimento com propostas desafiadoras que viabilizam o trabalho desde o bebê até a entrada da criança na “fase educacional”. Repensando, assim, os novos paradigmas para a educação infantil, constatamos o envolvimento da criança pequena em rituais comunicativos numa perspectiva interativa que possibilita à creche atuar num espaço relacional e de construção do processo de aprendizagem inicial da leitura/escrita. A creche, anteriormente vista com uma prática assistencialista, torna-se parte da educação formal. Foi importante saber que a criança de 0 a 3 anos é hoje considerada em suas expressões, potencialidades e necessidades. Pudemos perceber que os bebês são seres ativos, pois observando os seus movimentos no espaço educativo, dialogando com as suas ações e necessidades, contribuímos para que ele seja uma criança com iniciativa, autonomia e autoestima positiva, afirmando o papel fundamental das relações de afeto, referendado nessa pesquisa, estabelecendo vínculos desde os primeiros contatos com o mundo e com o espaço educativo caracterizado pelo “diálogo tônico”, em que a afetividade, marca os contatos com os adultos, construídos pelos sentidos. Na relação da criança com a brincadeira e com o brincar, caminho necessário para o desenvolvimento infantil, percebeu-se a necessidade destas atividades na rotina diária da creche como garantia da relação imaginária e do real na constituição da identidade da criança. 52 Nesse sentido, todo o trabalho que trace um caminho onde é garantido à criança o seu direito à participação, realizado através da exploração da oralidade, das atividades de expressão, das brincadeiras, da psicomotricidade, da narração de histórias e produção de textos da literatura infantil, deve ser validado como referência, de modo que se entenda que este processo de ler e escrever já começou bem antes e não no momento em que se sistematiza a alfabetização. Assim, entende-se que, o trabalho com a linguagem em Educação Infantil é revelador da necessidade uma ampla discussão reflexiva das práticas pedagógicas e a necessidade de se reinventar e criar novas possibilidades para o ensino inicial básico. É primordial então, que se estabeleça espaços para a vivência dos educadores em diferentes produções culturais viabilizando trocas de experiências que favoreçam o intercâmbio para “novos olhares”. Pensando desta forma, concluiu-se com a amostragem positiva da pesquisa, a importância do contato com o letramento desde a fase inicial da educação infantil, segmento creche, para o favorecimento da formação da criança leitora e escritora, processo este que nunca termina, garantindo a inserção da criança à cultura letrada e à inclusão digital, pré requisito à sociedade da informação. 53 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BETTELHEIM, B. Uma vida para seu filho. São Paulo: Artmed, 1984.358p. CRAIDY, M.C., O Educador de todos os dias - Convivendo com crianças de 0 a 6 anos - Cadernos Educação Infantil.i Ed: Mediação. Porto Alegre. 2006 DANTAS, H. In:Piaget,Vygotsky e Wallon:teorias Psicogenéticas em Discussão.Ed:Summus,1992. DIDONET,V. Creche: a que veio? Para onde vai? Brasília, Em aberto, v 18, no73, 2001. FERREIRA,M.C.R ; MELLO, A.N; VITORIA, T; GOSUEN,A; CHAGURI,A. C.OS FAZERES NA EDUCAÇÃO INFANTIL.São PAULO: Cortez Editora,2005. FERREIRO,E; TEBEROSKY,A. Psicogênese da Linguagem Escrita.Porto Alegre: Cortez Editora, 2005. GOULART, B.I.Fundamentos Psicobiológicos da Educação.Ed: Lê 1982. GOUVEA,Maria Cristina S. de.A criança e a linguagem:Entre palavras e coisas. Belo Horizonte:Autêntica, 2007. HOFFMAN,J; SILVA, M. B.G. Da Ação Educativa na Creche.Cadernos Educação Infantil 1. Porto Alegre, Editora Mediação, 2007. KISHIMOTO, T.M. Jogos tradicionais infantis: o jogo, a criança e a educação. Petropolis: Vozes, 1994. KRAMER, S.Alfabetização,Leitura e Escrita.Ed.Ática.2001. KRAMER, S; Leite Isabel Maria. Infância e Produção Cultural. Ed: Papirus. 2005. SOARES, M. Alfabetização e letramento. São Paulo: Ed. Contexto. 2005. MEC. Referencial Curricular para Educação Infantil. Brasília, 1998. MEC. Coleção PROINFANTIL. Brasília, 2007. OLIVEIRA, Z.R. de. Educação Infantil – Fundamentos e Métodos. São Paulo: Cortez Editora, 2005. PIAGET, J.A. A formação do símbolo na criança. 3ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1978. 54 PIAGET, J.A. A representação do mundo na criança. Rio de Janeiro: Difel, 1952. SOUZA, S.J. Infância e linguagem: Bakhtin, Vygotsky e Benjamin. Campinas: Papirus, 1994. VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 3ª.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1989. 168p. (Coleção Psicologia e Pedagogia. Nova Série). ___________. A Formação Social da Mente. São Paulo, Martins Fontes, 1991. ___________. Pensamento e Linguagem. São Paulo, Martins Fontes, 1993 ___________. A Formação Social da Mente, São Paulo: Martins Fontes, 1998. VYGOTSKY, L.S, LURIA, LEONTIEV. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone: Editora da USP. 1988. WALLON, H. A Evolução Psicológica da Criança. Lisboa: Ed: 70, 1968. __________. As origens do pensamento na criança. São Paulo: Manole.1988 WINNICOTT, D. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Ed:Imago.1975, 55 FOLHA DE AVALIAÇÃO Nome da Instituição: Título da Monografia: Autor: Data de entrega: Avaliado por: Conceito: 56