XIV Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Salvador de Bahia, Brasil, 27 - 30 oct. 2009 Factores chave no processo de implementação de políticas públicas em Portugal Maria Engrácia Cardim I. INTRODUÇÃO A implementação constitui uma fase do processo de produção de políticas públicas que não é habitualmente analisada como responsável pelo êxito ou pela falência daquelas políticas (DYE, 2002). Todavia, é no seu decurso que tem lugar a concretização do projecto que a governação entendeu ser mais adequado à resolução de um dado problema. As expectativas que actores e destinatários nele colocam e a gestão dos recursos que lhe são afectos, justificam que se cuide da sua eficiência, mas também do impacto que pode gerar no tecido social e na confiança dos cidadãos. Às agências a quem é cometida a responsabilidade de pôr em prática o que foi equacionado como mais eficaz, incumbe garantir a articulação com as condições observadas no tecido destinatário e a sustentação técnica de quem representa as soluções no terreno. Às representações sociais que vão sendo construídas sobre o processo não são alheias novas variáveis decorrentes de cenários políticos sociais envolventes. Neste paper apresentamos reflexões sobre estas questões, que emergiram de pesquisa levada a cabo sobre a implementação de políticas públicas em Portugal, nos domínios da educação, da formação e da segurança social (CARDIM, 2006). Na sequência daquela pesquisa promovemos investigação sobre pontos críticos anteriormente identificados, análise das discrepâncias entre o discurso oficial e a confirmação das práticas, que nos remetem para a análise do papel da coordenação dos processos de implementação pluri-agências e para a importância de uma cultura de partilha de boas práticas propulsora de transferência de conhecimento e de aproveitamento das lições da experiência. Como área crítica na implementação de políticas públicas transversais a tutelas (de tendência verticalizada) desenvolvemos análise crítica sobre a expressão no terreno de políticas de acessibilidade dirigidas à concretização da igualdade de oportunidades e de direitos relativamente a cidadãos com mobilidade reduzida. Generalizadamente esquecida nas preocupações de quem gere a adequação das políticas públicas às características e necessidades dos contextos societais (cujas dinâmicas neles forçam novas configurações nos problemas e na relação entre as soluções que se lhes ajustam), encontra-se a monitorização do painel das políticas activas. As consequências daquele esquecimento ou desatenção permitem que se perpetuem, onerando o peso da administração e perturbando a percepção sobre a eficácia do papel do Estado. A opção por desenvolver e reforçar quadros de governance que articulem as características, as dinâmicas e as competências locais com a intervenção programática ou reguladora do Estado, traduz-se também em processos de implementação territorializada. 1 XIV Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Salvador de Bahia, Brasil, 27 - 30 oct. 2009 Esta estratégia facilita a aproximação entre quem gere e quem é gerido, seja na perspectiva de uma melhor disponibilização da provisão pública, seja no aproveitamento dos recursos locais e do reforço da sociedade civil como parceira do Estado, seja ainda no melhoramento do exercício da coordenação dos agentes no terreno, deles extraindo sinergias e capacidade de actuar com eficácia. II. IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS NO QUADRO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Uma observação atenta sobre a definição das políticas públicas, sobre a sua formulação e sobre o seu impacto, leva-nos frequentemente à conclusão de que existe um elevado risco de não serem obtidos os resultados previstos, de surgirem efeitos perversos, ou, simplesmente, de não ter sido sequer alcançada a visibilidade desejada. Não obstante a identificação dos problemas e da sua prioridade de resolução, a justificação e a oportunidade das decisões, a legitimidade de quem as toma, a tecnicidade envolvida no seu equacionamento, a relevância das respostas que se pretendem, ou, ainda, o conjunto de meios envolvidos, parece existir algo mais que inibe ou distorce os resultados desejados. Não nos interessa aqui colocar no eixo das causalidades a componente valorativa que resulta da concordância ou discordância com as ideias, postulados ou orientações de quem decide sobre a matéria pública. Para além de nos colocar noutra matriz temática, aquele enfoque, mesmo aplicado em tempos políticos diferenciados e com matrizes ideológicas distintas, levar-nos-ia, provavelmente, a concluir da inevitabilidade daqueles desajustes. Dirigindo-se as políticas públicas à resolução de problemas identificados na estrutura e no funcionamento da sociedade e das comunidades que a compõem, cujo interesse envolve os cidadãos, enquanto seus destinatários finais, é legítimo que se questione sobre como estes foram atingidos, como foram envolvidos e quais as mais-valias decorrentes. Sendo objecto de exploração científica, as evidências que decorrem da metodologia científica associada à produção das políticas públicas parecem, na generalidade, não suscitar a adesão dos participantes e dos actores dos processos. De facto, a resolução de problemas públicos promove, desde logo, o confronto entre interesses sociais divergentes, que vão, nomeadamente, da própria consideração de um problema como adequado e prioritário para constar da agenda política, à sua formulação, à estruturação do modo como se prevê seja concretizada e às opções de actuação que suscita no transcurso da sua vida útil. Determinante, subjaz ainda a moldura política e ideológica do regime. Muito resumidamente, partimos, para o efeito aqui proposto, do princípio de que se assumem como políticas públicas as decisões tomadas pelo governo, destinadas à resolução de problemas que afectam a sociedade ou à introdução de regras e orientações que determinam o modo de funcionamento do colectivo dos cidadãos e das instituições e actores que operam na sua esfera de actuação (que, à partida, se identifica com o espaço nacional). As decorrentes orientações correspondem ao que o governo entende fazer ou realizar, mas também ao que o governo escolhe não fazer, escudado na sua dimensão sancionatória. 2 XIV Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Salvador de Bahia, Brasil, 27 - 30 oct. 2009 Escoram-se na causa pública e no interesse comum, afectam um elevado número e diversidade de pessoas e são interpretadas e implementadas por actores públicos e privados (BIRKLAND, 2001). O carácter público das políticas vai para além da consideração dos bens públicos, estendendo-se aos sistemas que providenciam os bens ou serviços públicos. Os bens ou serviços públicos remetem para acessibilidade garantida a todos os cidadãos, em igualdade de condições de tempo, de custo e de qualidade. Os correspondentes modelos de provisão são variáveis e dependentes das opções políticas de cada sociedade (DYE, 2002). A diversidade de pessoas (entendidas individual e colectivamente), de instituições e de interesses envolvidos confere-lhes natural e significativa importância, mas também suscita, não raras vezes, controvérsia e frustração no seio dos seus destinatários. À afirmação de que as políticas públicas se resumem a leis, regulamentos e orientações definidas pelo (ou em nome do) governo relativamente a questões, problemas ou áreas de interesse, contrapõe-se um entendimento mais extensivo que afirma que as políticas se revelam através de textos, de práticas, de comportamentos, de símbolos e de discursos que definem, divulgam e disponibilizam valores, bens e serviços, bem como regulações, regulamentações, investimentos, estatutos e outros atributos valorativos de sinal positivo ou negativo. Quer dizer que, após a formação e publicação da legislação, continua a desenrolarse o processo de elaboração e de concretização das políticas, através de quem as vai implementar (ou pôr em prática), uma vez que envolvem decisões sobre quem vai beneficiar efectivamente das medidas, de que forma, com que meios e através de quem. E é exactamente ao longo desse itinerário que se emitem os sinais que alimentam as percepções de agentes e de destinatários, que assim vão formatando, elas próprias, representações colectivas, muitas vezes distintas do conceito inicial. Portanto, entre a definição política e os seus resultados transcorre um processo que envolve estruturas, meios, actores e caminhos que, no seu conjunto, são capazes de anular, de subverter, de limitar ou de levar a bom termo a ideia inicial ou a intenção de resolução. Expectativas e capital de confiança, investimentos financeiros e materiais, esforço legislativo, podem, assim, frustrar-se através de um processo, a que generalizadamente não é conferida importância central, mas que, não raramente, determina o seu êxito ou fracasso. Este processo ou transcurso constitui a fase de Implementação de uma Política Pública, através do qual ela caminha do estádio de orientação até ao estádio de concretização e de consumo pelos seus destinatários finais. É, fundamentalmente, no corpo da fase de implementação que se desenrolam as actividades, se accionam os recursos e se responsabilizam os agentes que vão pôr em prática a “construção” dos meios e das respostas que “factualizam” as políticas públicas. E é ainda nesta fase que se procede à monitorização das políticas, por forma a que se garantam os objectivos definidos, se incorporem no tecido visado e se actualizem face aos meios e aos modos de actuação. De facto, estamos perante mais do que uma simples fase do ciclo de realização das políticas públicas. Estamos perante um processo de integração, de processamento e de socialização das orientações ou medidas de política, que até aqui se mantinham como corpo de decisões e que agora passam para a dimensão da concretização. 3 XIV Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Salvador de Bahia, Brasil, 27 - 30 oct. 2009 À importância conferida ao processo de implementação, enquanto chave no ciclo de produção de políticas públicas, vem juntar-se a sua relevância no tocante aos meios que envolve, aos recursos que consome e, ainda, ao investimento que lhe está programaticamente associado. Não menos importante é, ainda, a eventual usura que o insucesso das políticas provoca no capital de expectativas do colectivo social e na credibilidade da capacidade pública de resolver problemas e de melhorar as condições de vida e de cidadania dos indivíduos e das instituições. Pôr em prática o que é decidido envolve um processo a que são chamadas, nomeadamente, as várias disciplinas da gestão. Mas, para além do desenho e da formulação dos programas, existe uma dimensão que, muitas vezes, consome vontades, meios, competências e tempo. Essa dimensão concretiza-se na passagem das decisões pelas estruturas incumbidas de as veicular e de as pôr em prática. A passagem e a incorporação da informação (e das decisões) nos níveis do aparelho burocrático assume características muito diversas, que podem viabilizar, alterar ou inibir a decisão tomada ou subverter o seu próprio sentido. Esta “passagem” pelos níveis intermédios das estruturas burocráticas e a forma como chegam ao “destino” e como são aplicadas, constitui matéria de interesse para o desempenho público e área de trabalho oportuna para a investigação. No cerne da questão está também a forma como as organizações da administração pública se posicionam face à missão de levar a bom termo as resoluções e orientações que concretizam as políticas públicas, recolhendo, em retorno, a informação sobre os seus resultados e impactos e sobre as dinâmicas geradas para a sua implementação. Com aquela preocupação têm vindo a desenvolver-se estratégias e novas abordagens de gestão, consubstanciadas em modelos que rompessem com o peso e a alegada ineficácia do sector público na gestão das organizações. Visavam uma maior eficácia na obtenção de resultados, um melhor aproveitamento dos recursos, uma diminuição do desperdício e a própria extinção de bolsas de improdutividade. New Public Management, New Public Service, Public Governance Movement constituem sucessivas abordagens. Nomeadamente o modelo Governance procura posicionar-se como “uma nova forma de pensar sobre as capacidades do Estado e as relações entre este e a sociedade” (PIERRE e PETERS, 2000: 50). Visa ainda reforçar o enfoque intra-organizacional e o claro alinhamento das organizações relativamente a objectivos e resultados (RHODES, 1997: 55), a que não é alheio o estreitamento das relações entre disponibilizadores e destinatários das políticas públicas. III. ABORDAGENS TEÓRICAS À IMPLEMENTAÇÃO O desajuste entre a realização e a expectativa condena (ou pode condenar) o sucesso das políticas públicas, não obstante o seu desenho ter sido alegadamente adequado, em fase de agendamento social e político e de decisão, à dimensão e à gravidade dos problemas e à expressão e amplitude dos seus destinatários, tendo comportado (em princípio) a identificação dos problemas mais prementes, a definição da sua prioridade, tipo e formato de resposta, o equacionamento de recursos e meios necessários, o seu agenciamento e o agendamento público do respectivo programa. Todavia, a política de implementação configura-se como uma das questões mais problemáticas para quem produz e gere o processo político e a matéria pública. 4 XIV Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Salvador de Bahia, Brasil, 27 - 30 oct. 2009 O protagonismo e a autonomização da Implementação, enquanto fase do processo político, vieram a tomar crescente lugar na investigação e na produção científica a partir dos anos 70, do século XX (HILL e HUPE, 2002). Os trabalhos de Pressman e Wildavsky (PRESSMAN e WILDAVSKY, 1984) sobre o Projecto de Oakland vieram iniciar o estudo sistemático daquela fase do ciclo de produção das políticas públicas. Desde então, têm vindo a emergir sucessivas gerações de investigação dando corpo e conteúdo à Teoria da Implementação. Sucessivos enfoques, parâmetros e modelos, associados às matrizes e correntes científicas das disciplinas que vieram a constituir-se como seus referenciais (designadamente, a Ciência Política, a Administração Pública, a Sociologia, a Psicologia Social, a Gestão, a Economia), preencheram (e preenchem) espaços de demonstração, de entendimento e de explicação dos processos de concretização das políticas (BIRKLAND, 2001). Em jogo estava a delimitação do núcleo causal predominante, abrindo passo, ora para uma propedêutica eficaz, ora para uma explicação e interpretação mais abrangente e integradora, de forma crescente. Partiu-se de um primeiro paradigma de abordagem top down, de carácter dedutivo, nascido no vértice superior da pirâmide institucional de “decisão pública”, atravessando o aparelho ou a agência implementadora até à base e prolongando-se na verificação da percepção social sobre o formato da política pública, junto dos destinatários (SABATIER e MAZMANIAN, 2000). Um segundo paradigma (LIPSKY, 1980) veio colocar o cerne da questão numa abordagem bottom up, de carácter indutivo e explicativo (SCHARPF, 1986), nascida exactamente na base da estrutura de provisão, ou seja, no nível dos street level bureaucrats e do seu contacto com os destinatários finais e com o seu contexto. Outra abordagem elegeu como fulcro do processo de implementação a estrutura intermédia das organizações (GOGGIN, BOWMAN e LESTER, 1990), 1990). Podendo considerar-se sucedâneo da abordagem top-down, no seu âmbito viriam a ser desenvolvidas e testadas teorias sobre o comportamento do segmento dos funcionários intermédios das organizações, designados “middle range”. Ocupando as camadas intermédias dos aparelhos organizativos da administração pública, movem-se num cenário de opacidade relativamente à visão da operacionalidade das políticas públicas e à sua directa ligação às necessidades do mundo exterior e dos destinatários finais. No seu modus inscrevem-se comportamentos que habitualmente não promovem fluidez na passagem de informação de orientação (descendente) e de retorno (ascendente). A multidisciplinaridade do problema vinha, entretanto, aconselhar abordagens conjugadas e mais abrangentes, já que a solução não se vislumbrava num só modelo ou numa mono abordagem (HILL e HUPE, 2002). 5 XIV Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Salvador de Bahia, Brasil, 27 - 30 oct. 2009 Num quadro de reflexão mais amplo, o trabalho de O’Toole (O’TOOLE, 1997) promove a relação interdisciplinar no estudo da implementação, empreendida num quadro de colaboração multi-actores. A sua contribuição faz-se sentir ainda na modelização dos processos inter-organizacionais e nas questões relativas à gestão de redes relacionais. A questão da implementação multi-agências apela à centralidade da coordenação, enquanto factor chave. Ainda com O’Toole (O’TOOLE, 2001), para além da centralidade da cooperação na implementação em contextos de rede, são evidenciados problemas de incerteza e de debilidade institucional nas fases de formação da implementação, geradores de desafios para quem pretenda gerir a implementação de políticas inovadoras. Na continuidade desta abordagem mais abrangente, surgem enfoques na análise e no impacto das respostas dos actores sociais (individuais ou grupais) afectados pela política, bem como nos factores macro-contextuais mais abrangentes (SCHOFIELD, 2004). Um novo ênfase vem sendo dado, na actualidade, à pesquisa e à prática das relações entre ética, responsabilidade social e responsabilidade pública (public accountability), na óptica da obrigação de prestar contas e de responder pelos resultados e controlo, propondo assim o reforço e a renovação dos estudos sobre implementação (MOZZICAFREDO, 2003). O conceito de responsabilidade transporta-se para a centralidade da relação entre a administração/prestador e o cidadão/destinatário, traduzindo-se em obrigações que se reportam, nomeadamente: ao funcionamento do sistema administrativo, na óptica do seu dever de eficiência e eficácia; à demonstração do seu modo de agir e dos seus resultados, na óptica da transparência e da devolução do seu labor junto dos destinatários, que, no limite, são cidadãos e seus “accionistas”; à integração em projectos coordenados, que correspondem à concretização de políticas públicas, elas próprias interligadas, enquanto resposta articulada que o governo formula, visando a resolução de problemas de interesse público; à fiabilidade da sua actuação concreta relativamente ao formato e às finalidades daquelas políticas, respondendo perante a entidade coordenadora (o governo), a quem os cidadãos delegaram, por via democrática, o dever de formulação de respostas. A construção de uma imagem de confiança no sistema decorre, significativamente, de práticas consistentes e de respostas coerentes com a formulação pública do que publicamente é prometido aos cidadãos. Neste alinhamento, situa-se a “difusão da ética profissional e da realização eficaz dos programas públicos, como valor de legitimação do funcionamento da administração” (MOZZICAFREDO, 2003). O modelo do Estado e dos regimes é também determinante na compreensão e a gestão das “caixas pretas”, onde se desenrolam os processos de implementação das políticas públicas, face à decorrente dimensão e tipologia da presença do Estado. Portugal surge aqui como palco de investimento nesta área, posto que alia uma intervenção de orientações políticas e um quadro legislativo e regulamentar denso, uma representação social de ineficiência na gestão das agências implementadoras, uma débil cultura de avaliação e de monitorização das políticas e de hábitos e práticas de parceria, de colaboração e de coordenação. 6 XIV Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Salvador de Bahia, Brasil, 27 - 30 oct. 2009 A escassa produção de narrativa e de reflexão sobre as práticas, vem ainda enfraquecer a capacidade analítica e a eventual introdução de rectificações, reformas ou proposições, que diminuam o gap entre o que é pretendido e o que é concretizado. IV. SUPORTE METODOLÓGICO E ESTRUTURA DE OBSERVAÇÃO E DE ANÁLISE DO PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO Como suporte à pesquisa optámos por uma estratégia metodológica que acolhe a complexidade do objecto, o seu contexto e a teia de interacções que o caracterizam e determinam, os estados e as práticas inspiradas por perspectivas e backgrounds diferenciados (FLICK, 2002). Os processos de mudança social e a diversidade de estilos e de contextos de vida têm vindo a redireccionar a pesquisa social das tradicionais metodologias dedutivas (imprecisas na diferenciação dos objectos de estudo), para a utilização de estratégias indutivas. Ao invés de se partir de teorias que se testam, são requeridos conceitos com sensibilidade empírica, utilizados na aproximação aos contextos sociais em estudo – conhecimento e práticas são estudados na sua dimensão local (FLICK, 2002). Segundo Peter deLeon (1998), deveria considerar-se, de momento, suficiente e satisfatório o domínio da compreensão da implementação, sendo que a explicação não implica necessariamente a previsão. Ora uma orientação pós positivista pode desenvolver-se neste eixo. Uma metodologia qualitativa adapta-se melhor a um baixo standard de quantificação (com escassez ou mesmo inexistência de informação e de dados disponíveis), proporcionando a captação de uma visão mais completa das condições do contexto. Seguimos, portanto, não uma conceptualização teórica e metodológica única, mas várias abordagens inspiradoras da discussão, da análise e da prática da pesquisa (Flick, 2002) em processo de triangulação. (---------------------------------------introduzir imagem 1-----------------------------------------No desenvolvimento da pesquisa sobre o processo de implementação de políticas públicas nas áreas da educação, da formação e da segurança social, utilizámos uma estratégia de pesquisa de informação que combinou aquela abordagem, com formatos parametrizados ajustados à apreensão de variáveis de referência para caracterização dos processos de implementação estudados. A sua aplicação permitiu-nos manter o mesmo scope de observação e de análise, de grande utilidade para a análise comparativa entre os sistemas estudados. A selecção dos parâmetros decorreu de um prévio trabalho exploratório sobre o itinerário utilizado na implementação dos sistemas e sobre a tipologia das políticas analisadas. 7 XIV Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Salvador de Bahia, Brasil, 27 - 30 oct. 2009 A sua aplicação prática revelou-a robusta na adequação ao levantamento e à identificação da informação. Da sua estrutura damos conta na apresentação sinóptica que se segue. Introduzimos alguns preenchimentos, colocados apenas a título de exemplo, dado o carácter reservado que a divulgação dos reais preenchimentos encerra. ----------------------------------------inserir quadro 1-----------------------------------------------------A percepção de que existe uma tensão entre a construção social do discurso sobre a realidade e as práticas coloca dois níveis de análise que têm que ser contrastados. Relativamente ao tema da implementação conjugam-se assim dois mundos, o mundo do discurso e o mundo da acção, por forma a identificar a existência (ou não) de disfunção e o seu sentido e momento de afastamento. O material proveniente de cada um desses “mundos” é sujeito a processo comparativo a partir do qual se identificam as relações consistentes e as relações inconsistentes. A informação foi também recolhida em fontes, cuja tipologia abrange (MASON,1996): • Pessoas (indivíduos isoladamente e inseridos em grupos ou colectividades) • Organizações, instituições e entidades • Textos • Contextos e ambientes • Objectos, instrumentos, produtos media • Eventos e acontecimentos A partir de síntese meta teórica proveniente de abordagens institucionais, (HILL e HUPE, 2002) desenvolvemos um quadro de análise aplicado à organização implementadora, sobre os três níveis de governação, que nela se cruzam: A. Os três níveis de actuação: 1. Constitucional; 2. Directivo; 3. Operacional; B. Os três loci ou contextos onde se desenvolvem as relações político-societais (âmbito político, âmbito institucional, âmbito local): 1. Patamar político - O sistema político administrativo; 2. Patamar institucional - As relações institucionais; 3. Patamar micro – o âmbito local (street level). Contribuímos, assim, com elementos sobre a iluminação de um conjunto de aspectos a ter em conta nos processos de implementação, face à expectável interferência que podem provocar nos comportamentos ou nos resultados das políticas públicas. 8 XIV Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Salvador de Bahia, Brasil, 27 - 30 oct. 2009 V. FACTORES CRÍTICOS NO PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO O paradigma actual de implementação de políticas públicas, numa lógica de governança, assenta numa base de criação de redes e parcerias, seja em cooperação inter-agências, ou em cooperação estreita destas com os seus diversos stakeholders (HILL e HUPE, 2002). As mudanças recentemente operadas (e a operar) na Administração Pública Portuguesa ainda não esbateram, ao nível do aparelho e das agências, o enorme apego ao modelo burocrático (grande formalização e centralização), contribuindo para o desperdício das potencialidades que poderiam advir dessas redes. Na sequência de investigação anterior (CARDIM, 2006), sobre a construção de frameworks of analysis com vocação explicativa e propedêutica, sustentada em trabalho empírico que incidiu sobre diversas políticas nas áreas da educação, formação e segurança social, surgiram resultados que permitiram o desenho de modelos de enquadramento e análise de processos de implementação. Deles emergiu a identificação de pontos críticos para o sucesso de uma implementação, tais como: 1. Coordenação, enquanto questão chave nos processos de territorialização das políticas, em quadros de implementação pluri-agências. Integram-se aqui parâmetros já avançados na linha de investigação enquadradora, abordando-se questões relacionadas com a implementação local, com a territorialização de políticas conjugadas e com o papel e os modos de coordenação entre políticas, entre agências implementadoras e entre actores locais e centrais. Trata-se também de (re)construir o processo de implementação de políticas no local e o agenciamento e interacção entre parceiros, haja em vista a forma como se materializa a articulação, a coordenação e a monitorização formal, não formal e informal. O “construir” e o “descodificar” o sistema de implementação de políticas no terreno e a forma como os processos de agenciamento de recursos e de vontades são desenvolvidos e “modelizados”, concorrem para a percepção das variáveis que influenciam aqueles processos e os seus “resultados”, variáveis essas que advêm do contexto social, das suas estruturas de poder e de relação e da representação que agências e actores envolvidos produzem na comunidade. 2. Verificação do valor da distância entre o enunciado das políticas e a sua concretização; 3. Equacionamento e a dinamização do papel das redes sociais, enquanto factores de sinergia nos processos de territorialização das políticas públicas; 4. Adopção de estratégias de negociação e de envolvimento de parcerias, associando competências e mais-valias e promovendo o esclarecimento dos actores sociais e dos destinatários das políticas; 5. Adopção de um modelo de public accountability, com introdução de práticas, processos e instrumentos facilitadores do exercício de prestação de contas e da promoção de uma cultura de transparência e de rigor, como factor de credibilidade, geradora de confiança; 6. Responsabilização dos actores envolvidos; 7. Actualização e fluidez de informação sobre a política pública, quer a nível interno às organizações implementadoras (vertical e horizontal), quer a nível externo, dirigida a parceiros, destinatários e outros stakeholders envolvidos; 9 XIV Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Salvador de Bahia, Brasil, 27 - 30 oct. 2009 8. Desenvolvimento de uma cultura de reflexão sobre a experiência e sobre a identificação e partilha de boas práticas, como factor propulsor de conhecimento. Comuns aos três sistemas estudados (educação, formação, segurança social) permanecem questões que podem comprometer a sua manutenção e o desenvolvimento das suas finalidades e destinatários, da sua integridade conceptual, da sua qualidade técnica. A divulgação pública de programas e de finalidades e a integração e relacionamento de resultados devidamente qualificados, ajuda a promover o comprometimento e a responsabilização dos actores envolvidos. O acompanhamento e a monitorização dos sistemas constituem processos de validação de percursos e de detecção de aportações de correcção ou de melhoria, sobretudo se preocupados com a incorporação das lições provenientes da reflexão sobre a experiência. A coordenação e o trabalho de cooperação constituem actuações chave, não só para a eficácia dos sistemas, como também para a partilha do sentido comum de actuações convergentes. A acessibilidade (interna e externa) aos programas, às suas finalidades e destinatários e aos seus processos e regras, aos seus responsáveis e aos seus resultados, constitui, não só o exercício do dever de transparência na provisão do serviço público, como também um meio efectivo de controlo da efectivação das políticas. A proximidade do destinatário final e do seu contexto constitui, por fim, a garantia da utilidade, da oportunidade e da pertinência das políticas públicas, enquanto formas de melhoria da condição colectiva da vida em sociedade, enquanto modos de resolução de problemas integrados na esfera da acção pública e enquanto intervenções territorializadas e ajustadas aos ambientes concretos, entre si diversos nos formatos, mas comuns no sentido das necessidades. No decurso do trabalho de investigação registaram-se obstáculos relativos ao estudo dos processos de implementação visados, que em si podem traduzir disfunções face a um modelo de funcionamento com transparência e public accountability. Reflectiram-se sobretudo: • No fechamento das agências; • Nas dificuldades levantadas ao acesso a informações referentes aos processos de implementação, aos sistemas de comunicação interna e aos desempenhos na execução das políticas, que prejudicou ainda a investigação sobre os ciclos e os processos produtivos gerados e geridos no seio das organizações; • Na manutenção de estatutos de caixa preta, favoráveis à perpetuação de complexos dispositivos procedimentais, de inspiração burocrática e resistentes à introdução de processos produtivos mais eficazes e inovadores • Na indisponibilidade de informação de carácter quantitativo e qualitativo, facilitadora de comparação entre o discurso oficial e as práticas que caracterizam a disponibilização das medidas no terreno. Identificaram-se todavia boas práticas circunscritas no tempo e nos contextos. 10 XIV Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Salvador de Bahia, Brasil, 27 - 30 oct. 2009 Os processos foram submetidos a análise de per si e a análise comparativa subordinada aos parâmetros: génese da política; condições de formulação e de implementação de cada política; características da agência implementadora; ocorrências determinantes e consequências; perspectivas de evolução. O objectivo daqueles estudos consistia em perceber o que acontece entre as expectativas políticas e os seus resultados, tal como são percebidos. Subsumido naquele objectivo, perfilavam-se as seguintes questões: que se passa no processo de aplicação do que é decidido; qual o percurso de evolução de uma política; que tipo de direcções e de relações tende a estabelecer com os problemas que visa resolver, com os seus destinatários e com os seus contextos e circunstâncias – aproximação ou afastamento, acessibilidade ou burocratização, imobilismo ou evolução. A resolução daquelas questões implicou a compreensão dos diferentes processos à luz dos eixos de cada uma das políticas em análise, prosseguindo o esclarecimento de: como é que as decisões foram postas em prática; quais os seus objectivos iniciais e como é que foram percebidos e comunicados por quem os aplicou; como foram percebidos pelos destinatários; como é que acompanharam as evoluções do contexto, das ocorrências políticas e sociais ou das mudanças de direcção e de gestão das estruturas enquadradoras. O alinhamento do que emergiu na actividade identificadora veio a alimentar a compreensão e a caracterização dos itinerários. Identificaram-se as questões centrais ao processo de implementação a partir da observação e da análise de três sistemas. A especificidade de cada um determinou que os aspectos relevantes (de sinal positivo ou negativo) não fossem comuns. Mas, por isso mesmo, veio alargar-se a possibilidade de indicação de fases, momentos, acções ou processos que resultam cruciais para a prossecução das finalidades das políticas públicas, em tempo útil e de forma adequada. BIBLIOGRAFIA Anderson, James E. 1975. Public Policy-Making. New York: Praeger. Bardach, Eugene. 2004. A Practical Guide for Policy Analysis: The Eightfold Path to More Effective Problem Solving. New York: Chatham House Publishers. Barrett, Susan. 2004. “Implementations Studies: Time for a Revival? Personal Reflections on 20 years of Implementation Studies”. Public Administration 82:249-262. 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É Doutorada em Ciências Sociais, na especialidade de Administração Pública, por esta instituição do ensino superior. 12 XIV Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Salvador de Bahia, Brasil, 27 - 30 oct. 2009 (Rua Almerindo Lessa - 1300-663 Lisboa | Tel:[+351] 21 361 94 30 | Fax:[+351] 21 361 94 42 | e-mail: [email protected] IMAGENS E QUADROS Quadro 1 – MATRIZ DE RECOLHA DE INFORMAÇÃO SOBRE PROCESSOS DE IMPLEMENTAÇÃO Colocação em Agenda GÉNESE Formulação da política Tempo de formulação Participação pública Preparação da legislação CONDIÇÕES Estatuto Envolvimento político; Divulgação esclarecimento Organização AGÊNCIA Estrutura Funcionamento IMPLEMENTADORA Modelo implementação Práticas OCORRÊNCIAS Tipo de Ocorrência Ex: Mudança de governo e de tutela Ex:Mudança de gestão 13 XIV Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Salvador de Bahia, Brasil, 27 - 30 oct. 2009 Alteração do estatuto da agência Debate e discussão pública vontade política Consequência focagem estratégica entre a agência e o sistema Relação entre a agência e os pólos locais 1ºnível Alteração da medida e desinvestimento político na medida Construção social sobre a medida DETERMINANTES/ CONSEQUÊNCIAS Ex: Estabilização do sistema em termos conceptuais; estruturação administrativa do sistema; linha de desenvolvimento estratégico; tipo de imagem pública do sistema; representação social junto de stakeholders e actores sociais; mobilidade de pessoal na agência e no sistema Consequência 2º nível Diversidade de práticas na aplicação da linha metodológica distintiva; apoio técnico e metodológico no terreno; espaços de partilha de problemas e de soluções; mobilidade de pessoal na agência diferenciação das práticas locais; aparelho administrativo e seus agentes; rotinização e generalização da prestação pecuniária; etc Realização de reflexões ao nível do sistema; impactos de novos protocolos com sistemas e instâncias de referência; relançamento de sistema de acompanhamento profissionalizado Sentido Positivo PERSPECTIVAS Extensão do sistema; mobilização de novos actores; etc Alargamento dos sectores preocupados com a descaracterização e o desvirtuamento da medida; vontade de reflexão em processo de estruturação; possibilidade de reequacionamento da medida, prevendo diferenciação de respostas e de medidas de política para diferentes tipologias de situação e de segmentos de população; manifestação de vontade política Cultura de gestão pouco reflexiva e inovadora ao nível da agência; desalento de alguns pólos técnicos inovadores no seio da agencia Sentido Negativo perda de sentido inovador e de afastamento da pilotagem central face aos contextos, às necessidades e às práticas de terreno Cedência ao imobilismo e à rotinização; delegação do sentido e da realização das reformas nas estruturas tradicionais do aparelho administrativo; ausência de questionamento e de reequacionamento da medida 14 XIV Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Salvador de Bahia, Brasil, 27 - 30 oct. 2009 O PROCESSO PRODUÇÃO POLÍTICAS E IMPLEMENTAÇÃO DE DAS A Identificação dos problemas e formulação das políticas Divulgação alargada Estrutura Existência de compromisso responsabilidade directa e rosto Processo IMPLEMENTAÇÃO Transparência E Acessibilidade Consistência dos Resultados (public accountability), Existência de um núcleo duro de grande capacidade técnica, tocado pela fortaleza da convicção; com capacidade e mobilização para investimento conceptual, metodológico e operacional; com standards elevados de sentido organizacional; com mobilização para aprender; com capacidade de identificar as situações em que é vantajoso ir buscar competências fora; com consciência do processo colectivo Interna - compromisso e responsabilização pela parte que a cada um cabe na prossecução do todo. Externa - disponibilidade de informação de carácter quantitativo - public accountability Factor de credibilidade e de confiança, que permite aceitar como fiável o discurso político Monitorização política Monitorização E Evolução Monitorização técnica e de gestão Gestão da iniciativa e percepção estratégica dos processos Resultados obtidos; modificações realizadas e aconselháveis; impactos no contexto intervencionado /ou Grupos de trabalho envolvidos no processo Reforço grupal que ultrapassa o somatório dos elementos individuais que a compõem Informações relevantes adicionais Confiança, ou seja, expectativa previsível, construída sobre um conjunto de observações sobre comportamentos de sentido e resultado semelhantes; “normalidade” subjacente ao acolhimento e à instalação da confiança Construções sociais erigidas sobre a leitura da realidade, que concorrem, elas próprias, para novos aconteceres ou devires Práticas de confirmação do discurso Processos colectivos consistentes, construídos de forma e por eixos convergentes que geram concentração e encadeamento de vontades esclarecidas, conhecedoras do que é pretendido e sabedoras de como deve ser prosseguido 15