Comunicação em jogo: a relação entre as mudanças organizacionais e as atividades lúdicas Tainah Schuindt Ferrari Veras Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Bauru/SP e-mail: [email protected] Maria Eugênia Porém Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Bauru/SP e-mail: [email protected] Comunicação Oral Pesquisa em andamento Introdução: O cenário atual, marcado pela intensa circulação de capital e de informação de forma globalizada, está em constante transformação. Como aponta Manucci (2008, p. 8, tradução nossa), o século XXI “começou com profundas mudanças nos movimentos dos mercados, com o surgimento de novas ordens econômicas e redefinições tecnológicas e sociais de produção”. Por isso, o presente artigo tem o objetivo de refletir sobre a importância da comunicação organizacional nesse contexto de transformações no qual estamos inseridos. Para isso, utiliza o conceito de impacto corporativo proposto por Manucci (2008) para contextualizar essas transformações, e propõe uma comparação entre a comunicação organizacional e o jogo, a partir das ideias de autores como Caillois (1990) e Huizinga (2001). Metodologia: Pesquisa exploratória do tipo bibliográfica. Segundo Dmitruk (2004), é um tipo de pesquisa que envolve o diálogo e a síntese com autores e fontes utilizadas, instaurando um processo de escrita própria resultante da reflexão que surgir do contato entre esses autores e fontes e a realidade. Nesse caso, foram selecionadas fontes do acervo da biblioteca da Universidade Estadual Paulista – 1 Bauru/SP, acervo próprio das autoras e fontes eletrônicas, especialmente as disponíveis na internet. Resultados e discussões: As organizações, que impulsionam e são impulsionadas por mudanças de ordem econômica, política e social, sentem cada vez mais os efeitos da instabilidade e da imprevisibilidade do contexto em que estamos inseridos, entendendo que os seus movimentos “têm efeitos de múltiplas consequências e repercussões” (Manucci, 2008, p. 7, tradução nossa). Em outras palavras, da mesma forma em que as organizações recebem o impacto vindo do ambiente social, o ambiente social é impactado pelas organizações. Manucci (2008, p. 7, tradução nossa) conceitua o impacto corporativo como “o resultado da participação de uma organização na sociedade [que] se define pela interação cotidiana com diferentes públicos”. Quando falamos de participação e de interação, estamos invariavelmente falando de comunicação, “a energia que circula nos sistemas (...), o oxigênio que confere vida às organizações (...) [e] está presente em todos os setores, em todas as relações, em todos os fluxos de informação, espaços de interação e diálogo”. (Duarte; Monteiro, 2009, p. 334). A comunicação é a grande responsável pela criação de uma “rede de significados coletivos, (...) a partir da interpretação e da conceituação que as pessoas constroem a partir de suas próprias experiências com a organização” (Manucci, 2008, p. 8). Como se pode observar, nesse cenário de construção coletiva, os diferentes públicos de uma empresa são protagonistas da realidade e estão em constante interação. A própria noção de organização “pressupõe o estabelecimento de vínculos entre diferentes sujeitos, e esses vínculos são acionados, estabelecidos e fortalecidos – ou mesmo rompidos – mediante comunicação”. (Baldissera, 2014, p. 113). Analisando o vínculo estabelecido entre dois indivíduos, podemos dizer que, quando eles se comunicam, os elementos inerentes às culturas, às competências e às visões de mundo de cada um ficam frente a frente e são postos em movimento; por essa razão, a comunicação pode ser compreendida como um “processo de construção e disputa de sentidos” (Baldissera, 2004, p. 128). 2 Entendemos que, no universo organizacional, os processos comunicacionais de construção e de disputa de sentidos estão inseridos em um ambiente com regras e objetivos a serem atingidos. Por essa razão, a comunicação organizacional muito se assemelha ao universo de um jogo, que também possui esses elementos. Por isso, realizamos uma pesquisa exploratória bibliográfica para entender em que aspectos esses conceitos estão relacionados. Inicialmente observamos que, da mesma forma em que há disputa de sentidos para que a comunicação ocorra, em um jogo há o “confronto de diferentes pontos de vista, essencial ao desenvolvimento do pensamento lógico” (Macedo; Petty; Passos, 2007, p. 14). Também podemos dizer que jogar envolve uma série de ações comuns ao processo de comunicação, como “observar, questionar, discutir, interpretar, solucionar e analisar” (Perrenoud, 1997 e Macedo 1999, apud Macedo; Petty; Passos, 2007, p.25). Outro ponto comum entre a comunicação organizacional e o jogo reside no fato de que ambos são construídos a partir do sentido e da importância que os indivíduos atribuem a eles. Huizinga (2001, p. 3 e 4) defende que “no jogo, existe alguma coisa „em jogo‟ que transcende as necessidades imediatas da vida e confere um sentido à ação. Todo jogo significa alguma coisa.” Da mesma forma, a comunicação cria uma teia de significados entre os envolvidos, e assim como o jogo só começa quando os participantes se movimentam, a comunicação não depende apenas da vontade de interagir, mas sim da ação. É importante ressaltar que: (...) para a ocorrência de uma organização não basta um forte desejo, uma boa intenção, uma ideia brilhante, deter capital, ter objetivos claramente definidos, existir mercado para seus produtos e serviços (se for o caso) etc. A possibilidade de existência da organização está no estabelecimento de relações e na estruturação de vínculos mediante processos comunicacionais, bem como na sua articulação à teia simbólica. É necessário que tal organização e o que ela representa façam sentido para os sujeitos que, de alguma foram a constituem. (Baldissera, 2014, p. 115). Enxergar o sentido de algo é o que faz com que os indivíduos queiram fazer parte de um jogo de tabuleiro, de um jogo virtual, ou do próprio jogo da comunicação, tão inerente à condição humana. Em todos esses exemplos, os participantes têm liberdade de ação, e agem de acordo com o contexto em que estão inseridos e com 3 as experiências que possuem. É essa liberdade que torna os cenários tão imprevisíveis, já que “um desfecho conhecido a priori, sem possibilidade de erro ou de surpresa, conduzido claramente a um resultado inelutável, é incompatível com a natureza do jogo” (Caillois, 1990, p.27). Se compararmos isso com o cenário de impacto corporativo, podemos dizer que: Nesse jogo de múltiplos atores surgem situações novas impossíveis de prever, em primeira instância pela organização. Este postulado é um fator chave para o desenvolvimento de vínculos estratégicos: a realidade é impossível de controlar. A instabilidade atual do contexto rompe com a visão clássica do mundo como um relógio, ordenado e previsível (Manucci, 2008, p. 33). Diante desse cenário, surgem algumas questões: “como entender o jogo do qual participamos? Como conhecer a dinâmica de seus protagonistas? Como aproximarse das regras que condicionam esses movimentos?” (Manucci, 2008, p. 21). Uma das chaves para isso está na atuação estratégica do gestor de comunicação. Quando um indivíduo ensina ao outro um determinado jogo, ele costuma mostrar quais são as melhores alternativas, comentar sobre suas experiências com o jogo, além de motivar para a ação. Em uma organização, é preciso que ocorra o mesmo, ou seja, que o gestor de comunicação motive sua equipe e todos os membros da empresa, oriente quais são as melhores práticas, fazendo com que todos sejam protagonistas da comunicação. Uma vez que os integrantes assumem esse protagonismo, cabe ao gestor fazer com que a vontade de se comunicar se transforme em competência comunicativa, ou seja “em uma série de processos, saberes e experiências de diversos tipos que o emissor-receptor deve colocar em jogo para produzir ou compreender discursos adequados à situação e ao contexto de comunicação” (Bermúdez; González, 2011, tradução nossa). É essa competência comunicativa que permitirá que a organização atue de forma competitiva e sustentável, impactando positivamente o meio, sendo impactada por ele, e alcançando vitórias no jogo de sentidos e representações em que atua. Considerações finais: A partir da análise conceitual do cenário em que as organizações atuais estão inseridas e da relevância da comunicação organizacional nesse processo, buscou-se demonstrar, de forma lúdica, o que está em jogo quando 4 os indivíduos de uma empresa interagem para a criação de significados, e qual é a importância do gestor de comunicação nesse processo. Além da discussão proposta, o artigo em questão abre espaço para outras reflexões, como: a avaliação das organizações atuais em relação à comunicação organizacional, o impacto do cotidiano e da cultura organizacional no posicionamento do gestor de comunicação, e mesmo as atividades lúdicas que podem auxiliar nesse cenário. PALAVRAS-CHAVE: Comunicação organizacional; jogo; impacto corporativo; competência comunicativa REFERÊNCIAS: BALDISSERA, R. A complexidade dos processos comunicacionais e a interação nas organizações. In: MARCHIORI, M. (org.). Cultura e interação. São Caetano do Sul, SP: Difusão Editora; Rio de Janeiro: Editora Senac Rio de Janeiro, 2014. Pg. 113-124. BERMÚDEZ, L.; GONZÁLEZ, L. La competencia comunicativa: elemento clave en las organizaciones. Quórum Académico, vol. 8, núm. 1, enero-junio, 2011, pp. 95-110. Universidad del Zulia Maracaibo, Venezuela. Disponível em: http://www.hacienda.go.cr/cifh/sidovih/uploads/archivos/Articulo/La%20competencia %20comunicativa,%20elemento%20clave%20en%20las%20organizaciones2011.pdf . Acesso em: 10 mar. 2015. CAILLOIS, R. Os jogos e os homens. Lisboa: Cotovia, 1990. DUARTE, J. MONTEIRO, G. Potencializando a comunicação nas organizações. In: KUNSCH, M.M.K. Comunicação organizacional: linguagem, gestão e perspectivas. Volume 2. São Paulo: Saraiva, 2009. Pg. 333-359 DMITRUK, H.B.(Org.) Pesquisa bibliográfica e outros tipos de pesquisa. In: Cadernos metodológicos: diretrizes do trabalho científico. 6.ed. Chapecó: Argos, 2004.P. 67-76. HUIZINGA, J.. Homo ludens. São Paulo: Perspectiva, 2001. 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