Cyro dos Anjos
(1906 - 1994)
• Principais obras: O amanuense
Belmiro (1937); Abdias (1945)
• Romancista mais sutil e lírico da
geração de 30.
• O amanuense Belmiro = A solidão e a
perda de um burocrata lírico,
descendente falido da oligarquia
mineira.
O Amanuense Belmiro
• Belmiro = procede de família interiorana e
patriarcal decadente.
• É um protagonista inadequado ao mundo
urbano.
• A escrita é a sua saída para fugir da
melancólica vida.
• Nos amigos encontra valores positivos e
humanos que ultrapassam os limites de
suas ideologias mesquinhas.
O Amanuense Belmiro
• Belmiro é um liberal ao mesmo tempo cético,
ingênuo e impotente para a ação.
• Mistura perspicácia e banalidade.
• Vê a vida passar sem realizar alguma coisa
importante.
• Volta-se para a criação de mitos (suas
musas = Carmélia, Arabela, Jandira, Camila),
que lhe permitem suportar a existência,
ainda que não acredite verdadeiramente
neles.
O Amanuense Belmiro
•
•
•
•
•
Há no texto uma tensão:
Belmiro lírico sentimental.
X
Belmiro analista e irônico.
Logo: o lirismo contínuo é dissolvido pela
ironia, também contínua, do amanuense.
(amanuense: antigo burocrata =
funcionário público de condição modesta).
O Amanuense Belmiro
• Final do romance = remete para um
grande vazio.
• Romance de tendência analítica e
introspectiva (na forma de diário), com
comentários líricos e reflexivos sobre a
mediocridade da vida pessoal do
amanuense.
ERICO VERISSIMO
(1905 - 1975)
• Principais obras:
• Primeira fase: Clarissa (1933);
Caminhos cruzados (1935); Música ao
longe (1935); Um lugar ao sol (1936);
Olhai os lírios do campo (1938); Saga
(1940); O resto é silêncio (1943);
ERICO VERISSIMO
• Principais obras:
• Segunda Fase: O tempo e o vento (O
continente - O retrato - O arquipélago)
1949-1962; Noite (1954); O senhor
embaixador (1965); O prisioneiro
(1967); Incidente em Antares (1971);
Solo de clarineta (memórias) 1973.
ERICO VERISSIMO
• PRIMEIRA FASE: Clarissa + Um lugar
ao sol + Caminhos cruzados + O resto
é silêncio = Narrativas urbanas
centradas nos dramas das classes
médias; Personagens que aparecem
em vários relatos: Clarissa, Vasco,
Noel, Fernanda; Uso da técnica do
contraponto.
Características da primeira fase
• Narrativas que localizam-se no espaço
urbano, quase todas em Porto Alegre (são
exceções “Música ao longe” e a primeira
parte de “Um lugar ao sol” = Jacarecanga
= nome fictício de uma cidade no interior
gaúcho).
Características da primeira fase
• O registro da existência – valores e
costumes – de uma pequena burguesia
(classe média), que se tornava, pouco a
pouco,o setor social mais representativo
de Porto Alegre.
• Pequena burguesia = mostrada com tintas
favoráveis.
Características da primeira fase
• Conflitos dramáticos, centrados na
ordenação familiar e na luta pela ascensão
social.
• No âmbito familiar, refletem-se os valores
conflitantes do universo social.
• O território da família é, ao mesmo tempo, o
inferno e o espaço ideal de uma verdadeira
comunidade humana.
Características da primeira fase
• Núcleo do drama interior de muitos
personagens = ascender economicamente
sem trair princípios éticos.
• Família = possibilidade de construção de um
reduto de confiança, respeito e amor.
Características da primeira fase
• Visão de mundo = liberal-humanista:
• A burguesia é questionada por seu desprezo
pelos pobres e deserdados.
• O patriciado rural é decadente e não tem
mais nada a oferecer.
Características da primeira fase
• Erico parecia não crer nas ideologias em
voga em sua época (comunismo e
fascismo), pois defendia a conscientização
individual como saída. Ou seja, apenas pela
generosidade os indivíduos poderiam
enfrentar o egoísmo do mundo moderno.
Características da primeira fase
• Narrativas que repetem casais de
personagens. Ex: A dupla Clarissa & Vasco
está presente em “Música ao longe”, Um
lugar ao sol” e “Saga”. Já a dupla Noel &
Fernanda surge em “Caminhos cruzados”,
Um lugar ao sol” e “Saga”, estabelecendo
amizade com o futuro casal Clarissa &
Vasco.
Características da primeira fase
• Habilidade técnica = jogos temporais e a
técnica do contraponto (desenvolvida pelo
inglês Aldous Huxley) = consiste em justapor
uma série de personagens e situações. Sem
que haja no texto um centro narrativo, uma
síntese para onde tudo convirja. Os
“caminhos se cruzam”, mas não tomam a
mesma direção, ao contrário do romance
convencional. (Ex. “Caminhos cruzados” e
“O resto é silêncio”)
ERICO VERISSIMO
• SEGUNDA FASE: O tempo e o vento (O
continente - O retrato - O arquipélago)
• Gigantesco painel, em termos de
ficção, da formação histórica do Rio
Grande do Sul, abrangendo 200 anos.
• Foco narrativo centrado em duas
famílias: TERRA & CAMBARÁ
O tempo e o vento
• Recriação ficcional e histórica da formação
do Rio Grande do Sul pastoril por meio da
trajetória de sucessivas gerações da família
Terra-Cambará.
O tempo e o vento
• Os indivíduos que compõem a família, além
de seus dramas pessoais específicos, vivem
de maneira privilegiada os acontecimentos
que definem a sociedade sul-rio-grandense.
O tempo e o vento
• Ex:
• Ana Terra = participa da sangrenta e árdua
conquista do território;
• Capitão Rodrigo = liga-se à Revolução
Farroupilha;
• Licurgo = tem atuação destacada na Guerra
Civil de 1893;
• Dr. Rodrigo Cambará = é um dos líderes da
Revolução de 30
O tempo e o vento
• Tema específico da trilogia:
• A ascensão e a queda política da classe de
estancieiros gaúchos, mostradas tanto em
seus aspectos épicos quanto em sua
dimensão de violência e brutalidade. Os
acontecimentos retratados, que oscilam
entre a saga e a visão crítica, abrangem um
período de 200 anos.
O tempo e o vento
• Tempo da narrativa = Inicia em 1745
(Missões) e se estende até 1945 com a
queda de Getúlio Vargas (representando o
fim do poder dos fazendeiros sulistas).
• Espaço = cidade imaginária de Santa Fé =
cidade-síntese da conquista do pampa e da
civilização pastoril que aí se formou.
O tempo e o vento
• Foco narrativo = o romance é narrado em
terceira pessoa, mas cartas e diários
permitem a presença eventual da primeira
pessoa.
• Linguagem = segue a norma culta da língua,
evitando expressões regionais – usadas
apenas esporadicamente, na fala de
personagens, normalmente, de condição
social inferior.
O tempo e o vento
• Técnica e estrutura narrativa = Erico
quebra a linearidade cronológica por
meio de contrapontos temporais (Ex. “O
Sobrado” = 7 episódios que perpassam
“O Continente”).
O tempo e o vento
• Presença de passagens intermediárias
(intermezzos) = quadros rápidos (em
linguagem poética = poemas em prosa) e
narrados no tempo verbal do presente.
Cumprem a função de preencher vazios,
tanto na construção de personagens
secundários quanto na revelação de
aspectos históricos não abordados
diretamente na narrativa.
O tempo e o vento
• Presença de passagens intermediárias
(intermezzos) = Eventualmente servem para
mostrar os Caré, família-símbolo dos
desvalidos da campanha. Os homens dessa
família servem de “bucha-de-canhão” nas
guerras locais, e as mulheres, de amantes
baratas para os estancieiros.
O CONTINENTE
• Mostra a formação da sociedade sul-riograndense, sob o controle de uma elite
audaciosa e guerreira (e também machista e
sanguinária) – forjada em lutas fronteiriças e
revoluções fratricidas -, a partir da segunda
metade do século XVIII até o final do século
XIX.
O CONTINENTE
• As ações se desenrolam ao longo de 150
anos, iniciando com um episódio nas
Missões Jesuítas, em 1745, passando pela
conquista do pampa e pela fundação de
Santa Fé e terminando com o fim ao cerco
ao sobrado dos Cambará, em junho de
1895.
O CONTINENTE
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•
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•
•
•
•
Episódios:
A fonte.
Ana Terra.
Um certo capitão Rodrigo.
A teiniaguá.
A guerra.
Ismália Caré.
O Sobrado I, II, III, IV, V, VI e VII.
A fonte
• Substrato histórico: os últimos anos das
Missões Jesuíticas (Sete Povos).
• A confluência da cultura mística católica e
a consciência mágica dos índios na figura
de Pedro Missioneiro (protegido do padre
Alonso), explicando a sua tendência a
visões e premonições.
A fonte
• A criação de uma origem mitológica para o
estabelecimento da sociedade riograndense, na medida em que Pedro,
mais tarde, fecundará Ana Terra, dando
início - em termos simbólicos - a um tipo
local, o gaúcho.
Ana Terra
• Substrato histórico: a conquista do território por
famílias paulistas e a fundação dos primeiros
povoados.
• Ana Terra é o capítulo definitivo de O tempo e o
vento. Além da representatividade histórica da
personagem (símbolo da mulher rio-grandense),
devemos atentar para:
• a) Seu erotismo, ampliado pela solidão e pela
sensação de infelicidade de viver naquele mundo
perdido que é a fazenda do pai. Daí a sua entrega
corpórea a Pedro Missioneiro.
Ana Terra
• b) A consciência natural (e quase a-histórica) do
tempo. Este é determinado primitivamente pelo
ritmo das estações, assim como os dias o são pelo
nascer e pelo desaparecer do sol.
• c) A sua garra, obstinação e capacidade de
resistência. A forma que sobrevive interiormente à
violência do estupro dos bandidos castelhanos
indica não apenas resignação ao destino, mas
estupenda força subjetiva e crença na vida. No
limite mais dramático e profundo, estes serão os
valores de todas as mulheres no romance.
Ana Terra
• d) A profissão de parteira que Ana adota
como uma metáfora da vida, enquanto a seu
redor guerras e revoluções campeiam com
todo um tributo à destruição e à morte.
Decorre daí também o seu ardente pacifismo
e seu entranhado ódio à violência em que os
homens parecem se comprazer.
Ana Terra
• e) A relação que Ana estabelece entre o
vento e as coisas importantes de sua vida, a
associação entre as "noites de vento, noite
dos mortos" e, por fim, a própria ligação do
vento com a memória feminina. Esta
memória – açulada pela natureza - é ao
mesmo tempo o tormento, o consolo e a
arma de defesa das mulheres contra a falta
de sentido da existência.
Um certo capitão Rodrigo
• O que observar:
• a) O fato do personagem central ter se
transformado - mesmo que não fosse a intenção de
E. V. - no símbolo do gaúcho, com seu misto de
bravura, fanfarronice, generosidade e pensamento
libertário. Talvez os gaudérios da época não
tivessem o mesmo carisma. Documentos da época
pintam esses homens "sem rei nem lei" quase
como párias. No caso de Rodrigo, contudo, "a
mentira histórica vira verdade artística".
Um certo capitão Rodrigo
• b) A paixão instintiva (próxima do mundo
animal) que o Capitão experimenta pela vida
e seus prazeres,especialmente os da cama
e da mesa. Apesar disso, há em sua
conduta um substrato ético que o leva, por
exemplo, a se posicionar contra os tiranos e
a respeitar sua mulher, Bibiana.
Um certo capitão Rodrigo
• c) O forte sopro épico que percorre todo o
episódio. A exemplo de Aquiles e de outros
heróis das epopéias gregas,Rodrigo
Cambará acredita que só a ação guerreira dá
sentido à vida dos homens. A domesticidade
e o cotidiano são os maiores inimigos desses
personagens, que só se sentem felizes no
fragor das batalhas e das conquistas.
Um certo capitão Rodrigo
• d) A criação de um modelo de Cambará: o macho
audacioso, mulherengo e sempre metido em
revoluções. O Dr. Rodrigo Cambará, em O
retrato e em O arquipélago, será a reduplicação
quase que perfeita do bisavô, apesar de já ser um
caudilho ilustrado. Porém, mesmo Bolívar e
Licurgo, filho e neto respectivamente,
apresentarão traços do Capitão Rodrigo. De certa
forma, os valores caudilhescos e machistas desse
personagem cristalizam o ideal de hombridade
vigente na província até meados do século XX.
Um certo capitão Rodrigo
• e) A cena espetacular da extrema-unção que
o padre Lara oferece a Rodrigo moribundo,
exigindo antes que o seu amigo se
arrependesse de todos os pecados.
Reunindo suas últimas forças, o Capitão
Cambará faz uma figa ao sacerdote que sai
dali horrorizado.
Um certo capitão Rodrigo
• f) Igualmente importante é a cena do
duelo entre Rodrigo e Bento Amaral, e
a marca incompleta que o Capitão deixa
no rosto do último.
Um certo capitão Rodrigo
• g) A paixão de Bibiana pelo gaudério é a melhor
realizada entre todos os casos amorosos que
povoam O tempo e o vento. Independentemente
dos adultérios de que é vítima, do abandono e do
desprezo do marido pela vida doméstica, ela
continua amando-o como no primeiro dia em que o
viu. "Queria vê-lo mais uma vez, só uma vez"pensa ela durante a Revolução e um pouco antes
do último encontro amoroso, numa sublime
confissão de desejo e afeto.
Um certo capitão Rodrigo
• h) O fato de Bibiana reproduzir sua avó,
Ana, tanto na obstinação, nos silêncios, no
ódio à guerra e às revoluções,na profissão
de parteira e na lembrança dos mortos,
dando seqüência ao arquétipo feminino do
romance.
ÁRVORE GENEALÓGICA (PARCIAL) DE “O CONTINENTE”
O RETRATO
• Apesar de ter seu início no retorno do Dr.
Rodrigo Cambará a Santa Fé, em 1945,
os episódios de “O retrato” concentram-se
entre 1909 e 1915. Aos grandes blocos
históricos e à estrutura de painéis, que
dominam “O continente”, o autor prefere
aqui o relato miniaturista.
O RETRATO
• O retrato é o do Dr. Rodrigo Cambará, jovem
médico, belo e audacioso. Ele representa a
modernização vivida pelas elites gaúchas, o
fazendeiro-doutor que traz inovações para o
campo, que já sonha com o capitalismo, que
sofistica hábitos e costumes.
O RETRATO
• A mescla entre intelectualismo e herança
caudilhesca (advinda dos Cambará)
transforma-o em inconteste líder político
da região. Rodrigo é, em síntese, o
caudilho ilustrado, calcado nos modelos
de Julio de Castilhos, Assis Brasil, Getúlio
Vargas, etc.
O ARQUIPÉLAGO
• A ação de “O arquipélago”, último livro da
trilogia, desenrola-se sob o signo da
desintegração familiar dos Cambará. O pano
de fundo histórico corresponde ao período de
tempo que medeia entre o ponto de máximo
poder político dos fazendeiros – o primeiro
governo de Getúlio Vargas (1930-1945) – e o
início de seu rápido e inexorável crepúsculo.
O ARQUIPÉLAGO
• Dois personagens polarizam o
romance: o Dr. Rodrigo e seu filho
Floriano Cambará.
O ARQUIPÉLAGO
• Se o Dr. Rodrigo, em “O retrato”, era um
jovem dilacerado entre o egoísmo e a
generosidade humana e social, agora em “O
arquipélago”, ele se torna um homem cínico e
corrompe-se moralmente, ao participar da
ditadura do Estado Novo sem tormentos ou
conflitos íntimos de qualquer espécie.
O ARQUIPÉLAGO
• Já seu filho Floriano Cambará possui uma
sensibilidade especial, que lhe permite
compreender “a fragmentação do continente
em um arquipélago de ilhas”. Isto é, ele
entende o esfacelamento da unidade familiar
como uma decorrência simultânea do
fracasso ético do pai e do crepúsculo de sua
classe.
O ARQUIPÉLAGO
• Então, passa a refletir sobre a história da
própria família, desde suas remotas origens
até sua desarticulação no presente, com o
objetivo de resgatá-la das brumas do
passado e avaliar o significado de uma
trajetória de dois séculos. Também
romancista, como o próprio Erico, de quem é
porta-voz, cabe a Floriano recompor um
mundo condenado ao perecimento e
questioná-lo permanentemente.
O tempo e o vento e o sentido
histórico
• Louvação e crítica ao passado.
• Construção de uma origem mítica para a
elite pastoril sul-riograndense.
• Louvação e crítica à oligarquia sulista
coexistem dialeticamente = resultado final =
o crepúsculo da velha ordem dos senhores
rurais.
O tempo e o vento e o sentido da
existência
• Tempo = passagem, corrosão, destruição,
morte = HOMENS = corrosão da
existência.
• Vento = repetição, continuidade,
permanência = MULHERES = o visceral
instinto da vida = a resistência e o
enfrentamento da falta de sentido do
tempo e o grande vazio do nada.
ERICO VERISSIMO
• SEGUNDA FASE: O senhor embaixador
= Reflexão sobre a historicidade
política e social da América Latina - A
função política dos intelectuais.
• O prisioneiro = Análise política e
moral sobre o sentido da guerra e da
tortura, tendo como pano de fundo um
país do Sudeste Asiático.
ERICO VERISSIMO
• Incidente em Antares = Relato político
com sentido alegórico. Os coveiros
em greve recusam-se a enterrar os
mortos (sete) que acabam voltando à
cidade de Antares, encontrando a
traição e o esquecimento - O texto se
propõe como uma “leitura” dos
acontecimentos de 1964 (o golpe
militar).
Dyonélio Machado
(1895 - 1985)
• Principais obras: Um pobre
homem (1927); Os ratos (1934); O
louco do Cati (1942)
• Os ratos = 24 horas na vida de um
modesto funcionário público,
oprimido pela necessidade de
pagar a conta do leiteiro = o
homem reificado
Jorge Amado
(1912 - 2001)
• Primeira Fase: O país do carnaval
(1931); Cacau (1933); Suor (1934);
Jubiabá (1935); Mar morto (1936);
Capitães de areia (1937); Terras do
sem fim (1943); São Jorge dos Ilhéus
(1944); Seara vermelha (1946); Os
subterrâneos da liberdade (1954);
JORGE AMADO
• Segunda Fase: Gabriela, cravo e
canela (1958); Os velhos marinheiros
(1961); Os pastores da noite (1964);
Dona Flor e seus dois maridos (1966);
Tenda dos milagres (1969); Tereza
Batista, cansada de guerra (1972);
Tieta do Agreste (1977); Farda,
fardão, camisola de dormir (1979);
Tocaia Grande (1984) e outros...
JORGE AMADO
• PRIMEIRA FASE = O país do carnaval -
Cacau - Suor - Jubiabá – Mar morto Capitães de areia =
• O universo das classes populares
urbanas e rurais + Romances
“proletários”, fortemente políticos +
Mistura de elementos naturalistas e
românticos.
1ª FASE
• País do carnaval (1931) = romance
medíocre, em que tentava retratar os
impasses ideológicos e existenciais de um
grupo de jovens intelectualizados e
inadaptados à realidade brasileira na época
da Revolução de 30.Por ter o caráter de
depoimento de uma geração sem rumo, o
romance obteve repercussão e seu nome se
tornou conhecido nos círculos letrados do
país.
1ª FASE
• Cacau (1933) = “Romance pequeno e
violento” que trazia duas grandes novidades:
• A incorporação da região cacaueira do sul da
Bahia ao romance realista de 1930.
• O anúncio da radicalização política: “Tentei
contar neste livro com um mínimo de
literatura para o máximo de honestidade a
vida do trabalhador das fazendas de cacau
do sul da Bahia. Será um romance
proletário?”
1ª FASE
• O romance proletário:
• Adesão ao marxismo;
• Romances transformados em propaganda
revolucionária;
• Adere, antecipadamente, o que Stálin
exigiria dos escritores (“engenheiros de
almas”) = a criação de heróis positivos que
lutassem pela utopia socialista.
1ª FASE
• Modelo e estrutura do “romance proletário”:
• A) O protagonista, oriundo das camadas
populares, encontra-se, no início do relato,
em estado de alienação de sua própria
miséria, desconhecendo-lhe as causas.
1ª FASE
• B) No transcorrer da ação, o herói adquire
consciência da opressão que o vitima. Os
opressores são, genericamente, o
latifundiário, o burguês e algum agente do
imperialismo ianque. Com isso o autor
estabelece uma esquematização psicológica
caricatural: os trabalhadores são
necessariamente generosos e justos, ao
passo que os ricos são sempre pérfidos e
exploradores.
1ª FASE
• C) A partir da conscientização das origens
dos males sociais que o afligem, o
protagonista parte para a ação política e, no
caso de São Jorge dos Ilhéus e Seara
vermelha, para uma explícita ação
ideológica-partidária, conforme os preceitos
do Partido Comunista.
1ª FASE
• Fórmula que molda quase todos os romances
da 1ª fase =
• ALIENAÇÃO
• CONSCIENTIZAÇÃO
• AÇÃO POLÍTICA.
1ª FASE
• O romantismo revolucionário:
• Ao propor a criação de um romance
proletário, Jorge Amado esbarrou em um
problema fundamental: nas fazendas de
cacau havia o trabalhador rural clássico,
explorado pelo coronel latifundiário.
1ª FASE
• Contudo, na cidade (Salvador) o proletário,
no sentido marxista, o trabalhador de fábrica
(indústria), não existia. Sem operários de
fato, Jorge Amado os substitui por
marginais ou semimarginais. Assim, seus
romances urbanos são povoados por
vagabundos, malandros, jogadores,
prostitutas, meninos de rua, marinheiros,
gente sem ocupação definida.
1ª FASE
• Essa idealização da vida popular traduz-se
na superioridade ética dos marginais,
transformados em heróis exemplares da
nova sociedade que estaria prestes a
nascer. Por causa desse “romantismo
revolucionário e populista”, Jorge Amado
tem dificuldades para traduzir em ações
realistas e análise psicológica convincente a
consciência política de seus personagens.
1ª FASE
• Apela então para o melodrama, criando
situações de um sentimentalismo
inverossímil e patético, ou utiliza um estilo
poético, em que dominam imagens referidas
ao mar, à lua, à noite, à tempestade e ao
vento. Troca a inconsistência psicossocial
dos personagens “por um redemoinho de
imagens”.
JORGE AMADO
• 1ª FASE:
• Terras do sem fim (1943)= A luta dos
“coronéis” pela posse da terra boa
para o cacau.
• São Jorge dos Ilhéus (1944)= A crise
da sociedade cacaueira e o domínio
econômico da burguesia exportadora
(conteúdo mais utópico).
JORGE AMADO
• 1ª FASE:
• Seara vermelha (1946) = Abandono
da zona do cacau e da cidade de
Salvador para retratar o sertão
baiano = tragédias de uma família de
sertanejos vítima da seca e do
latifúndio = sequência de fome e
angústia, sofrimento e esperança,
morte e instinto de sobrevivência.
Terras do sem fim (1943)
• Um dos pontos culminantes da ficção de
Amado.
• O “romance proletário” é substituído por uma
narrativa histórica centrada na luta dos
coronéis do cacau pela posse das terras
ainda devolutas (desocupadas) do sul da
Bahia.
Terras do sem fim (1943)
• A ação do romance começa em um navio que
se aproxima de Ilhéus trazendo
trabalhadores, coronéis, prostitutas e
aventureiros, todos obcecados pelas
possibilidades de riqueza abertas na região.
Quatro palavras – repetidas durante todo o
livro – marcam o mundo no qual esse grupo
de ambiciosos passa a viver (e a morrer):
TERRAS, DINHEIRO, CACAU, MORTE.
Terras do sem fim (1943)
• O escritor mergulha em suas próprias raízes
para registrar o mundo cacaueiro.
• Descreve a violência, os desatinos e mesmo
a poesia rude daquela conquista, ocorrida
nas primeiras décadas do século XX.
• Narrativa de vigor documental que revela
dramas humanos autênticos.
• Expressão poética bem convincente.
Terras do sem fim (1943)
• Mostra as condições dramáticas da vida dos
trabalhadores, mas concentra o foco
narrativo nos coronéis, que são vistos como
brutos, cruéis quando preciso, mas também
como seres dotados de forte coragem
pessoal e audácia ilimitada. Com muita
frequência um sopro épico anima suas
ações.
Terras do sem fim (1943)
• Personagens:
• Sinhô Badaró (coronel) = interpretações
bizarras da Bíblia e relativa oposição à
violência.
• Horácio Silveira (coronel) = Obstinação que
impressiona = tropeiro que ascendeu, a ferro
e fogo, representa o capitalismo primitivo
que se estabeleceu na região do cacau.
Terras do sem fim (1943)
• Ester (esposa do coronel Horácio) = moça
educada para os requintes da civilização e
obrigada a viver num mundo bárbaro depois
de seu casamento. Seu romantismo
insatisfeito, seus terrores noturnos e sua
fragilidade justificam o adultério com o
advogado Virgílio.
Terras do sem fim (1943)
• O negro Damião (jagunço do coronel
Badaró) = mata a soldo, sem qualquer tipo
de culpa ou remorso. É um assassino
ingênuo, pois não chega a compreender a
extensão de seus crimes. Além disso, adora
as crianças da fazenda, divertindo-as com
suas brincadeiras. Acaba enlouquecendo por
conta de uma “crise de consciência” ao
tentar matar Firmo, a mando do coronel.
Outras características da 1ª fase
• Imaginação criadora.
• A generosidade humana do autor que se
coloca ao lado dos setores marginais, em
especial os negros repudiados pelas elites
brasileiras.
• O conhecimento aparentemente inesgotável
das formas de vida das camadas populares.
• Registro dos costumes, dos ofícios, dos
modos de ser e agir, da religiosidade e das
estratégias de sobrevivência do povo baiano.
Outras características da 1ª fase
• O incontestável valor documental, presente
na elaboração de grandes painéis da
sociedade cacaueira quanto na fixação da
cultura afro-brasileira.
• A magnífica capacidade de criar tipos
humanos primitivos que vivem de acordo com
os seus instintos e emoções.
• A saudável obscenidade na linguagem e nos
atos dos personagens.
Outras características da 1ª fase
• Estilo cru (linguagem) carregado de
palavrões e desabusada (atrevida) descrição
dos desejos sexuais = protesto libertário
contra os falsos pudores e o falso decoro das
classes privilegiadas.
• Personagens que (oriundos do povo)
expressam prazer de viver no que diz
respeito às relações sexuais = animalidade à
flor da pele = quebra com a rigidez do
romance proletário.
JORGE AMADO
• SEGUNDA FASE: Gabriela, cravo e
canela - Os velhos marinheiros Teresa Batista, cansada de
guerra, Dona Flor e seus dois
maridos, Tieta do agreste, etc...
Visão anarquista - debochada +
Linguagem popular.
2ª FASE
• As terríveis revelações do XX Congresso do
Partido Comunista, em 1956, sobre os crimes
de Stálin, levaram Jorge Amado a afastarse da esquerda ortodoxa e a procurar uma
nova expressão estética. Como
consequência, em 1958 veio à luz um de
seus mais famosos romances: Gabriela,
cravo e canela.
Gabriela, cravo e canela (1958)
• Decadência do poder despótico dos coronéis
do cacau = progresso X atraso.
• Jorge Amado atenua o maniqueísmo
anterior. Sua compreensão mais profunda do
tecido social e da existência pessoal leva-o a
humanizar coronéis e burgueses e a
desconfiar da vocação revolucionária das
massas.
Gabriela, cravo e canela (1958)
• Jorge Amado impregna seu relato de humor
próximo do deboche, da farsa com traços de
obscenidade.
• A personagem Gabriela, em sua rebeldia
instintiva contra o moralismo de fundo
patriarcal-religioso, antecipa alguns dos
novos valores comportamentais que
começavam a ser concebidos no país, ao
final dos anos 50.
Gabriela, cravo e canela (1958)
• O escritor faz o elogio da modernização
econômica e da democracia política, que
permitiam a ascensão ao poder de homens
comprometidos com mudanças. Por isso, o
herói positivo do romance é o exportador
Mundinho Falcão. Seu triunfo é também o
triunfo do arrojo empresarial e da visão
capitalista contra o universo semifeudal dos
coronéis.
Gabriela, cravo e canela (1958)
– É impossível esquecer que o
romance foi escrito durante o
governo de JK (1956-1960), que
gerou grandes esperanças no país
(depois esmagadas pela Ditadura
Militar de 64). Gabriela, cravo e
canela é, portanto, a principal
expressão estética da visão otimista
daquele período.
Características da 2ª fase
• Personagens de origem popular, mas que
não são mais vistos como “os promotores da
ordem socialista”, e sim os representantes
da única classe capaz de enfrentar as
agruras da vida com fibra, alegria,
autenticidade e solidariedade.São
“depositários da liberdade humana” =
celebração quase anarquista do
individualismo das camadas populares.
Características da 2ª fase
• A luta dos indivíduos é contra os valores
morais arcaicos, os preconceitos sociais e
raciais, a hipocrisia sexual, o fanatismo e a
presunção, sobretudo da pequena
burguesia.
• Esforço pela liberação dos instintos e pelo
triunfo do amor livre e espontâneo
Características da 2ª fase
• Predomina a visão humorística da realidade
= o riso é mostrado como uma forma de
resistência popular.
• Utilização de elementos do folclore e da
tradição religiosa negra (valorização da
mitologia dos candomblés).
FICÇÃO
CONTEMPORÂNEA
Guimarães Rosa
&
Clarice Lispector
A GERAÇÃO DE 45
(1945 - 1970)
João Guimarães Rosa
(1908 - 1967)
João Guimarães Rosa
(1908 - 1967)
• A obra de Rosa representa o ponto máximo da
ficção brasileira do século XX. Em um processo
criativo assombroso, marcado pela invenção
estilística, pelo uso de todos os recursos
modernos da técnica narrativa e pela
demonstração de um inesgotável conhecimento
empírico (q. se guia pela experiência), tanto do
sertão mineiro quanto dos dramas da condição
humana, o autor pode ser considerado “o único
ficcionista completo da América Latina”.
João Guimarães Rosa
Obras:
• Romance : Grande sertão: veredas
(1956) - Contos: Saragana (1946);
Primeiras estórias (1962); Tumatéia
(1967); Estas estórias (1969) Novelas: Corpo de baile (Manuelzão e
Miguilim, No Urubuquaquá, No
Pinhém, Noites do sertão) 1956.
A obra de Rosa
• Características básicas: A primeira
grande inovação do autor =
linguagem = linguajar do sertanejo
(mineiro) + recriação estilística =
linguagem revolucionária =
processo de transfiguração
estilística = invenção de um novo
léxico.
O mundo de Rosa
• Mundo retratado = sertão mineiro =
imobilizado no tempo = principal
traço: a consciência mítica dos
personagens (realismo mágico =
eventos inverossímeis de um ponto de
vista racionalista= o Demônio)
A revelação do sertão mineiro
• A) O sertão como espaço físico:Minas Gerais
= caracterizado por boas pastagens para a
criação de gado, com chapadões e várzeas,
descrito minuciosamente em sua flora e fauna,
em suas “veredas misteriosas” (vereda =
caminho estreito)
A revelação do sertão mineiro
• B) O sertão simbólico: O “labiríntico” onde o
homem joga seu destino = “O sertão está fora e
está dentro de cada personagem de Guimarães
Rosa” (Antonio Candido).
A revelação do sertão mineiro
• C) O sertão como estrutura histórico-cultural:
• Realidades diferentes = civilização sertaneja
(rústica - base cultural = colonização ibérica –
consciência mítico-sacral) X civilização
“litorânea” (moderna, urbana e evoluída).
A problematização da existência
• Além de fixar, de forma “realista”, o sertão
arcaico de MG no exato momento em que ele
começava a desaparecer, engolfado pela
expansão da sociedade urbana e a
consequente homogeneização cultural do país,
Guimarães Rosa transforma muitos de seus
personagens em sujeitos que interrogam o
mundo e a si próprios em busca dos
fundamentos da existência.
As travessias
• A tentativa de captar a essência das coisas
no tumulto da vida cotidiana, faz o homem
mergulhar em incertezas, verdades
provisórias e dúvidas metódicas... Interroga,
então, o mundo e a si mesmo em busca de
uma razão para a existência = a travessia
metafísica (interior).
Grande sertão:veredas
(1956)
Grande sertão:veredas
(1956)
• Romance estruturado no jogo
dialético do presente e do passado:
• Plano presente= O ex-jagunço e hoje
fazendeiro Riobaldo narra a história
de sua vida a um doutor, ao mesmo
tempo em que formula uma série de
interrogações sobre o sentido da
existência (luta: bem x mal) a
presença do demônio, etc.
Grande sertão:veredas
(1956)
• Plano do passado= Focaliza as
experiências do jagunço Riobaldo pelo
sertão mineiro. Ocorre tanto uma
travessia exterior, por um sertão real,
como uma travessia interior, que leva
o protagonista ao autoconhecimento.
A percepção de si mesmo surge do
contato com outros homens, em
especial com Diadorim = o amor +
Hermógenes = o ódio
Grande sertão:veredas
(1956)
• Do ponto de vista narrativo, todas as
experiências do passado são discutidas no
presente, por Riobaldo, mediante um conjunto
de angustiadas interrogações sobre o destino
individual e a condição humana, sobre Deus e
o diabo, sobre o amor e o ódio, sobre a
passagem do tempo e a morte, etc. Dessa
forma, passado e presente, em permanente
contraposição, formam a totalidade da obra.
Grande sertão:veredas
(1956)
• As inquietações de Riobaldo:
• A existência ou não do demônio;
• A natureza nebulosa das relações entre o
bem e o mal;
• O significado do sentimento que
experimentou por Diadorin;
• O sentido de sua vida de jagunço;
• A busca de uma explicação para a condição
humana.
Grande sertão:veredas
(1956)
• As travessias de Riobaldo:
• A) Travessia exterior = como jagunço em um
sertão real, na qual ele conhece a natureza e
os limites extremos da condição humana,
cristalizada na selvageria e nos gestos épicos
dos companheiros de jagunçagem.
Grande sertão:veredas
(1956)
• B) A travessia interior:
• O autoconhecimento = A profunda percepção
de si mesmo e a própria formação de sua
subjetividade surgem do contato com dois
outros indivíduos que sintetizam as noções
difusas de bem e mal. Um abre para Riobaldo
as portas do medo, do ódio e da ambição:
Hermógenes. O outro, mulher camuflada de
homem, desencadeia a explosão do amor:
Diadorin.
Grande sertão:veredas
(1956)
• C) A travessia da passagem de um tipo de
consciência mítico-sacral (Riobaldo-jagunço)
para outra de estrutura lógico-racional
(Riobaldo-fazendeiro):a primeira é comum às
sociedades indígenas e mestiças dos sertões
brasileiros e latino-americanos: explica o
mundo pelo mito e pelo sagrado; a segunda é
própria da civilização racionalista moderna: vê
o mundo de um ponto de vista científico.
Grande sertão:veredas
(1956)
• Conclusão: À medida que a racionalidade das
sociedades modernas avança, o pensamento
mítico-sacral, ou mágico, tende a dissolver.
Assim, em Grande sertão:veredas, o diabo é
um personagem fundamental, no plano do
passado, dentro do universo sacral em que se
movem os jagunços. Já no plano presente,
quando conta sua vida ao doutor, Riobaldo
tende a negar a existência do demônio.
CLARICE LISPECTOR
(1920 - 1977)
CLARICE LISPECTOR
(1920 - 1977)
• Romances: Perto do coração
selvagem (1944); O lustre (1946); A
cidade sitiada (1949); A maça no
escuro (1961); A paixão segundo G. H.
(1964); Uma aprendizagem ou o Livro
dos prazeres (1969); Água viva (1973);
A hora da estrela (1977) - Contos:
Laços de família (1960); A legião
estrangeira (1964); Felicidade
clandestina (1971); etc...
CLARICE LISPECTOR
Elementos temáticos e
procedimentos narrativos:
A existência subjetiva
• Interesse em desvelar a existência subjetiva
dos personagens, relegando a história
propriamente dita a um plano secundário.
Mais do que a intriga, predominam as
inusitadas experiências psíquicas e as
impressões fugidias dos personagens
despertadas pela realidade.
O monólogo interior
• Utilização constante do monólogo interior, isto
é, de um monólogo não pronunciado, que se
desenrola apenas na mente dos personagens.
O monólogo interior, em sua acepção plena,
expõe labirínticos fluxos de consciência dos
personagens, permitindo ao ficcionista o
registro dos conteúdos mais sutis e profundos
da alma humana.
A epifania
• O termo epifania significa o relato de uma
experiência que mostra toda a força de
inusitada revelação. É a percepção de uma
realidade atordoante quando os objetos mais
simples, os gestos mais banais e as situações
mais cotidianas comportam súbita iluminação
na consciência dos figurantes. Ao dar-se a
epifania, a consciência do indivíduo se abre
para outra realidade.
Personagens dilacerados: o
universo ficcional de sua obra
• Geralmente é composto por mulheres, imersas
em estado de absoluta interiorização,
esmagadas pelo peso da subjetividade e para
quem a realidade externa é nebulosa e
ameaçadora.
Personagens dilacerados: o
universo ficcional de sua obra
• Enclausuradas em dolorosa solidão, essas
personagens buscam incessantemente a
própria identidade. A investigação do “quem
sou?” torna-se, invariavelmente, o núcleo
psicológico de todos os enredos.
Personagens dilacerados: o
universo ficcional de sua obra
• São personagens em situação de
dilaceramento, oscilando entre o desconforto
da contínua interrogação íntima e o desejo de
ruptura com a introspecção e de
estabelecimento de vínculos com o mundo
objetivo.
Personagens dilacerados: o
universo ficcional de sua obra
• Perpétua sensação de náusea dos
personagens diante da experiência do vazio, do
absurdo da vida e da liberdade ilimitada. O
“contato com o outro” talvez seja a resposta a
essa “náusea”, mas as personagens de Clarice
raramente encontram uma saída e, quando a
conseguem, deparam-se apenas com a morte,
único elemento de comunhão com o outro.
A náusea
• Trata-se da náusea existencialista, à maneira
de Sartre: mais do que uma sensação física
de enjoo, é uma situação de absoluta
liberdade de quem a vivencia. Liberdade no
sentido da destruição de todos os valores
tradicionais e da morte de todas as crenças.
A náusea
• O ser, despojado de suas antigas
certezas, vaga em um universo de
destroços, mas, ao mesmo tempo em que
o tédio e o desespero o ameaçam, ele
pode encontrar uma nova alternativa para
a existência.
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Romance de 30