Administração Fatores de empregabilidade para profissionais acima dos 40 anos de idade Márcia Mello Costa De Liberal1 Maria Bernadete Pupo2 1 Pós-doutora em Ciências Sociais pela PUC-SP. Doutora em Sociologia pela Universidade Técnica de Lisboa. É professora e pesquisadora na Universidade Presbiteriana Mackenzie e nas Faculdades Integradas Rio Branco. É professora visitante na Pós-graduação do Centro Universitário FIEO. 2 Administradora de Empresas pela Universidade Anhembi Morumbi. Pós-Graduada em Direito do Trabalho. Mestra em Administração de Recursos Humanos pela FIEO. Gerente de Recursos Humanos do UNIFIEO. Articulista e docente para os cursos de Graduação e PósGraduação. RESUMO O presente artigo identifica e analisa fatores de empregabilidade para obtenção ou manutenção do emprego, a partir da amostra de 64 profissionais acima de 40 anos de idade, estudantes de pós-graduação (lato e stricto sensu), em instituição de ensino superior, localizada na cidade de Osasco, na Grande São Paulo. A análise dos dados foi feita com base no referencial teórico de autores como Bridges, Rifkin, Drucker, Carvalho, Motta e Bueno. Os resultados da pesquisa sugerem a importância de fatores como comunicação, equilíbrio emocional, rede de amigos, relacionamento interpessoal, entusiasmo, gostar do que faz e proatividade, preparo prévio para exercer atividades laborativas e manutenção do emprego no mercado competitivo de trabalho. PALAVRAS-CHAVE Empregabilidade. Trabalho. Aprendizagem. Habilidade. Competência. ABSTRACT The present article identifies and analyzes employability factors for obtaining or maintaining of the job from a sample of professionals above 40 years old (students of after-graduation lato and stricto sensu in a superior education institution in the city of Osasco, State of São Paulo). The data analysis was made based on authors as Bridges, Rifkin, Drucker, Oak, Motta and Bueno. As final result, it is important to mention that the professionals – as products displayed in a show window – must detach their individual competencies – understood as the capacity to mobilize multiples acquirements, knowledge and abilities – preparing themselves to face a battle at the work market. KEY WORDS Employability. Job. Organizational learning. Abilities. Competence. Fatores de empregabilidade para profissionais acima dos 40 anos de idade 32 Administração Introdução Intensificando-se a globalização que atinge a todos os setores empregatícios, houve ampliação do trabalho mecanizado, automação que redundou na elevação do desemprego de grande contingente de trabalhadores e assim como tem acontecido no setor financeiro em, praticamente, todos os setores da economia, máquinas “inteligentes” estão gradativamente substituindo seres humanos, nas mais variadas tarefas. Milhões de trabalhadores da “velha economia” são levados para as filas de candidatos a empregos da “nova economia”. Freqüentemente o destino é a informalidade ou o trabalho com remuneração inferior a que tinham anteriormente. As transformações contemporâneas implicam sistemas produtivos com elevado grau de automatização, de uniformização e de robotização perante os quais o trabalhador humano tem papel de coadjuvante menor (MOTTA, 1998, p. 98). O desaparecimento dos empregos reflete mudanças já ocorridas que podem ou não ser exploradas como oportunidades por pessoas e por organizações que saibam como fazê-lo (BRIDGES, 1995, p. 33). O processo em andamento poderá abrir novas perspectivas para a humanidade ou significar a sentença de morte para a civilização moderna (RIFKIN, 1995, p. 305). Como forma de sobrevivência diante das constantes e velozes mudanças, observa-se crescente procura por embasamento cognitivo, cursos de capacitação, e o surgimento de empresas que outplacement objetivam assessorar o profissional a identificar suas aptidões e seu perfil profissional; orientá-lo sobre o mercado de trabalho e assessorá-lo na busca de novo emprego ou de nova atividade profissional. Ao buscar compreender o significado da empregabilidade dos indivíduos, principalmente daqueles acima dos 40 anos de idade, essa pesquisa destaca fatores que, na visão dos questionados, podem se tornar diferenciais para obtenção e manutenção do emprego nessa faixa etária. Empregabilidade A partir de uma definição simplista, empregabilidade pode ser entendida como o conjunto de pré-requisitos necessários para se obter e conservar um emprego. Contudo, a discussão sobre o termo “empregabilidade” é relativamente recente no Brasil, mas bastante apropriada, tendo em vista a diversidade das mudanças que cercam o mundo do trabalho. O tema parece ter despertado enorme interesse entre os estudiosos da ciência da administração. No entanto, fora do meio acadêmico, o termo ainda é pouco conhecido e são poucas as pessoas que conseguem definir o que realmente seja empregabilidade. Bueno (1996, p.45) afirma que a palavra empregabilidade vem do inglês employability e representa o conjunto de conhecimentos, habilidades e Fatores de empregabilidade para profissionais acima dos 40 anos de idade 33 Administração comportamentos que tornam um executivo ou um profissional importante para a sua organização e para toda e qualquer outra. Bueno (1996, p.53-56) nos dá outra visão sobre empregabilidade definindo-a como aptidão dos trabalhadores em conquistar emprego e mantê-lo todos os dias, sobrevivendo e prosperando numa sociedade sem empregos. Para Bridges (1995, p.59), o profissional precisa desenvolver uma mentalidade de maneira a administrar sua própria carreira de modo que essa se assemelhe mais à de um vendedor externo, um vendedor de si próprio, do que à de um empregado tradicional. Para Carvalho (2004, p.50), a empregabilidade consiste na participação em processos de recrutamento e seleção de pessoal nas empresas e na obtenção de respostas mais rápidas do que outros candidatos. Para Case et al., (1997) a empregabilidade pode ser entendida como capacidade de obter trabalho e remuneração sem que isto implique, necessariamente, o trabalho com vínculo empregatício ou carteira assinada. Embora possam parecer semelhantes entre si, empregabilidade e emprego são dois conceitos distintos. O primeiro está relacionado ao conjunto de conhecimentos, habilidades e comportamentos que tornam o executivo ou um profissional efetivamente importante para sua empresa. Trata-se da aptidão dos trabalhadores de conquistar emprego e de mantêlo emprego ao longo do tempo (BUENO, 1996, p.33). Já o “emprego” diz respeito ao posto de trabalho remunerado, com carteira assinada, ocupado pelo profissional em uma dada organização. Nesta dimensão, Drucker (1993, p.56) expressa a idéia de que nenhuma sociedade, ao longo dos tempos, enfrentou tantos desafios. No entanto, igualmente novas são as oportunidades da sociedade do conhecimento, na qual, pela primeira vez na história, a possibilidade de liderança estará aberta a todos. E também a possibilidade de adquirir conhecimentos não mais dependendo da obtenção de educação prescrita em determinada idade. O aprendizado tornar-se-á a ferramenta da pessoa – a sua disposição em qualquer idade - porque várias aptidões e conhecimentos poderão ser obtidos por meio de novas tecnologias de aprendizado. Deste modo, conhecer e analisar a nova dinâmica denominada empregabilidade torna-se fundamental para que os profissionais, principalmente aqueles acima de 40 anos de idade, possam mais bem enfrentar os desafios do contexto altamente competitivo do mercado de trabalho da atualidade. Fatores de empregabilidade Os fatores de empregabilidade podem ser entendidos como o conjunto de competências e habilidades necessárias para garantir colocação dentro das Fatores de empregabilidade para profissionais acima dos 40 anos de idade 34 Administração organizações. Neste cenário, no qual predomina a competitividade, antigos valores foram abandonados e novos paradigmas incorporados: no lugar do chefe autoritário, a competência para gestão de pessoas e obtenção de bons resultados; no lugar da garantia de emprego, o conhecimento dos fatores de empregabilidade. É necessário entender que a literatura apresenta perfis, modelos ideais para determinados empregos, porém o profissional muitas vezes não poderá atingi-los plenamente. Como estratégia para análise deste artigo, abaixo será apresentado um quadro para visualização das características estudadas pelos autores, constituindo o modelo dos fatores de empregabilidade para um profissional, nos dias de hoje, conseguir ou manter-se no emprego. Quadro 1 - Modelo dos fatores de Empregabilidade. Informações extraídas de Barone (2004). Nota: Os espaços preenchidos correspondem aos fatores praticados nos países mencionados. Os espaços em branco não puderam ser correlacionados a nenhum dos fatores. As prescrições dos especialistas são amplas e variadas. Qualquer profissional, principalmente os acima de 40 anos, que as leia atentamente, poderá ficar paralisado diante de tantas expectativas, em relação seus deveres. Uma maneira de tornar o assunto menos assustador consiste em tomar como base os fatores citados e criar sua própria personalidade de forma a perseguir com mais determinação os objetivos propostos. Entre os múltiplos fatores apresentados ressaltam-se: competência, conhecimento tecnológico, saber utilizar-se da informática e possuir habilidades de trabalho em equipe, de liderança e de relações interpessoais. A noção de empregabilidade parece ter ainda, como a de competência, contornos pouco delineados e prestar-se a usos diversos, salvo na literatura econômica do desemprego. Diferentes enfoques dos fatores de Fatores de empregabilidade para profissionais acima dos 40 anos de idade 35 Administração empregabilidade têm sido atribuídos por vários autores. Os fatores de sucesso são às vezes generalizados sem ser consideradas as características especificas do segmento da população a que se referem. Assim, optou-se por realizar pesquisa de caráter exploratório com o objetivo de propiciar maior familiaridade com o tema e maior aprimoramento das idéias. Daí a importância que o conhecimento científico oferece, pois objetiva buscar a articulação entre a teoria e a realidade empírica. A articulação faz-se por meio de um fio condutor que é o método. O método possui como função, além do papel instrumental, a “própria alma do conteúdo”, como dizia Lenin (1986, p.45). Para a seleção da amostra, foram identificados estudantes de pósgraduação (lato e stricto sensu), acima de 40 anos de idade. Numa instituição de ensino superior localizada na cidade de Osasco, na Grande São Paulo. Optouse pela amostra intencional como forma de assegurar a representatividade de um grupo de estudantes, considerando, assim, um público privilegiado, com potencial para contribuir positivamente para resultado da pesquisa. A seguir serão descritos os procedimentos utilizados para formatação e análise de dados coletados através do instrumento proposto para mensuração dos construtos de interesse deste estudo: Coleta de dados A fase de coleta de dados foi realizada através de pesquisa de caráter exploratório com duas diferentes formas de realização: a) entrevistas pessoais; b) respostas a questionários. Nas entrevistas pessoais os dados primários foram obtidos através de entrevistas semi-estruturadas ou entrevistas em profundidade, como diz Richardson (1999, p. 208), contando com amostra intencional de dezessete alunos, os quais ressaltaram os principais fatores de empregabilidade para um profissional acima de 40 anos ter ou manter o emprego. A identificação dos alunos constou de uma lista fornecida pela Secretaria de Cursos, contendo nome, idade, número da sala e bloco. Com base nesses dados, a entrevistadora dirigiu-se ao Campus onde se localizava a amostra, e a entrevista durou cerca de 30 a 40 minutos, efetuada em momentos que antecederam às aulas. A elaboração de questionários de múltipla escolha objetivou obter resultados qualitativo e quantitativo dos primeiros respondentes. As questões dividiram-se em dois grandes blocos: o primeiro continha trinta e uma questões fechadas sobre os fatores de recomendação para conseguir um emprego, e o segundo bloco contendo vinte e duas questões fechadas relativas aos fatores de recomendação para manter-se no emprego. O instrumento de coleta de Fatores de empregabilidade para profissionais acima dos 40 anos de idade 36 Administração dados foi submetido a um pré-teste, envolvendo cerca de 20 profissionais da área e fora da área, com a finalidade de validar o entendimento. Segundo Easterby-Smith et al. (1991, p.58), a realização de tal procedimento revela-se significativo ao permitir verificar, a priori, se os itens do instrumento são compreensíveis, se a seqüência das questões encontra-se bem delineada e se há itens sensíveis. Cumpridas essas etapas e procedidas as alterações necessárias, foram impressos cerca de 100 questionários e contou-se com amostra de alunos com as mesmas características e local do primeiro grupo. O instrumento foi editado em forma de livreto (booklet). A distribuição se deu por contato pessoal, antes do início das aulas ou no seu intervalo, quando a pesquisadora explicou aos respondentes a natureza da pesquisa e a forma de preenchimento do questionário. O tempo para o seu preenchimento girou em média de 15 a 20 minutos, os respondentes não tinham limites para identificar os fatores e, por fim, foi determinado um prazo para que a pesquisadora recolhesse as respostas. A pesquisa ocorreu entre os meses de abril a junho de 2004. Foram devolvidos sessenta e quatro questionários, nenhum deles invalidado. A utilização de questionários baseou-se no postulado por Parasuraman (1991, p. 28), que afirma ser o questionário muito importante na pesquisa científica, especialmente nas ciências sociais. Tabulação dos dados Para facilitar o processamento dos dados, bem como o cruzamento das informações, utilizou-se o banco de dados Access, através do qual foi possível a realização de várias consultas para cruzamento dos dados. Após esta etapa, foram construídos oito gráficos referentes à caracterização pessoal, fundamentando-se em tabelas cruzadas, para melhor visualização e análise dos resultados. Para as questões sobre os fatores de como ter ou como manter o emprego, foram construídas duas grandes tabelas para caracterização da análise de freqüência. Análise dos dados A análise dos dados objetivou levantar o aspecto qualitativo da realidade social, aliando-o à ótica da teoria e da realidade empírica. Os relatos dos profissionais (alunos) entrevistados foram baseados em vivências, características pessoais e definições individuais. Essas opiniões emitidas foram fundamentais para a compreensão do que eles entendem como fatores mais importantes de empregabilidade, quer para obtenção quer para a manutenção do emprego. Em relação ao referencial teórico, foram estabelecidas comparações com os fatores de empregabilidade propostos por autores citados no Quadro 1. Nos dados obtidos caracterizou-se um perfil predominantemente feminino: na amostra de 64 respondentes, 39 pertencia ao sexo feminino; em relação à faixa etária constatou-se que 65% delas encontravam-se entre 40 e 45 anos, 23% entre 46 a 50 anos e 12% acima de 50 anos. Entre os 39 respondentes Fatores de empregabilidade para profissionais acima dos 40 anos de idade 37 Administração masculinos, 66% encontravam-se na faixa etária entre 40 a 45 anos, 20% entre 46 a 50 anos e 14% acima de 50 anos. Outro aspecto a ser destacado refere-se à predominância de profissionais na faixa de 40 a acima de 50 anos que se encontravam empregados (89%) e somente 11% desta mesma faixa etária encontravam-se inoperantes. A formação educacional preponderante do grupo pesquisado (55%) pertencia à área de humanas. Outro ponto relevante é que mais da metade dos participantes da amostra (76%) trabalhava sob regime de registro em carteira (CLT) e os 24% restantes se dividiram entre autônomos enquanto pessoa física e jurídica. A atuação profissional predominante dos pesquisados (51%) estava voltada para o segmento de serviços; os 49% restantes estavam divididos entre os segmentos do comércio, indústria e outros. Resultados da pesquisa Fatores de acesso ao emprego Tabela 1 – Recomendações para obtenção de emprego. Fonte: Dados da pesquisa. Com base nos dados mencionados na Tabela 1 revela-se elevada percepção dos profissionais amostrados, evidenciando-se como as qualidades mais requeridas, aquelas diretamente associadas a características pessoais e Fatores de empregabilidade para profissionais acima dos 40 anos de idade 38 Administração relacionais, ficando em menor escala de importância os fatores associados à performance técnica. Os dados coletados patenteiam, não obstante a importância das relativas ao aperfeiçoamento técnico, maior pré-disposição pela busca de aprimoramento das habilidades pessoais e inter-relacionais como um valoroso diferencial competitivo. Tabela 2 – Distribuição por faixa etária. Os fatores de empregabilidade demonstrados na Tabela 2 apresentam pouca variação nas três faixas etárias consideradas. É possível que, por se sentirem em situação de risco (período em que os rendimentos devem ser maximizados para efeito de aposentadoria) os integrantes da faixa 46-50 anos sejam um pouco mais enfáticos. Todavia é curioso observar que 100% dos respondentes apontaram o fator “acompanhar a evolução da informática” como o mais relevante. Esse resultado nos remete à hipótese de que os profissionais nesta faixa etária foram os mais afetados em termos do aprendizado e do acompanhamento da tecnologia, demonstrando preocupação real como forma de se manterem competitivos nos dias atuais. Tabela 3 – Distribuição por sexo. As mulheres superam os homens na convergência dos fatores de empregabilidade mais importantes, conforme observado na Tabela 3. Este pode ser um sintoma de orientação estratégica mais bem focada por parte do gênero feminino ou um reflexo de orientação vocacionada para os aspectos comportamentais envolvidos. Por outro lado, o mesmo não poderia ser dito com relação à informática, área até então de domínio predominantemente masculino. A convergência e a coesão das percepções femininas poderiam ser vistas como possíveis indicadores de progressão mais intensa das mulheres rumo à empregabilidade. Fatores de empregabilidade para profissionais acima dos 40 anos de idade 39 Administração Tabela 4 – Situação empregatícia. Como seria de se esperar, os desempregados são unânimes quanto à importância da rede de amigos como fator facilitador para se recolocar no mercado de trabalho, conforme a Tabela 4. Analisando os dois segmentos, é apropriado supor que os que estão empregados estariam menos preocupados com o fator de empregabilidade primordial (rede de amigos), justamente porque estão em melhores condições de montar sua rede, por estar empregados. Não se justifica, do ponto de vista lógico, que os desempregados sejam os que menos apontem a comunicação como fator de empregabilidade. Pode-se indagar se a não aplicabilidade do fator comunicação tenha contribuído ou não para o desemprego deste grupo. Tabela 5 – Área de atuação. A Tabela 5 demonstra que, mesmo considerando que atuem em áreas técnicas, fica difícil entender o baixo grau de escolha de fatores relacionados à comunicação e ao equilíbrio emocional. Mais difícil ainda é entender que considerem a informática como fator de empregabilidade pouco relevante. As referências feitas aos fatores relevantes entre os autores consultados sugerem um ponto de vista comum indicando que as recomendações dos entrevistados são semelhantes às da literatura que trata do assunto, sem levar em conta a faixa etária. Fatores de empregabilidade para profissionais acima dos 40 anos de idade 40 Administração Tabela 6 – Recomendações para manter-se no emprego. Fonte: Dados da pesquisa. A análise da Tabela 6 aponta o sentido de importantes semelhanças entre as recomendações advindas das percepções dos respondentes e as propostas dos autores pesquisados. No que tange aos fatores de manutenção do emprego, constatamos que estes apontam as habilidades comportamentais e de relacionamento interpessoal como as mais significativas. Tabela 7 – Distribuição por faixa etária. Fonte: Dados da pesquisa. Consideradas em conjunto pelos dados apresentados na Tabela 7, as diferenças observadas não são tão expressivas. A tendência geral sinaliza que os quatro fatores apontados inicialmente são bastante significativos em todas as faixas etárias. Apenas a título de curiosidade caberia questionar se alguma característica da faixa etária acima dos 50 estaria desempenhando algum papel Fatores de empregabilidade para profissionais acima dos 40 anos de idade 41 Administração no item proatividade, pois há queda numérica expressiva nesse item. Tabela 8 – Distribuição por sexo. Fonte: Dados da pesquisa. Homens e mulheres parecem ter orientação levemente diferenciada, conforme aponta a Tabela 8. Os dados permitem supor que as respostas das mulheres relacionam-se mais a características pessoais e relacionais; as dos homens orientam-se mais pela atividade. É possível que o ambiente de trabalho esteja se encaminhando para valorizar cada vez mais justamente os fatores mais intensamente apontados pelas mulheres. Neste caso, o futuro poderá reservar desafios ainda maiores para os homens. Talvez pudesse inferir que manter o emprego, segundo a concepção feminina, seria algo diretamente ligado a competências humanas, orgânicas e não mecanicistas como tem sido a típica práxis masculina. Tabela 9 – Situação empregatícia. Fonte: Dados da pesquisa. Observa-se, na Tabela 9, que os desempregados são unânimes em apontar o entusiasmo como fator de manutenção do emprego, cabendo levantar a hipótese de que os empregados só descobrem a importância deste fator quando perdem seu posto de trabalho. Tabela 10 – Área de atuação. Fonte: Dados da pesquisa. Fatores de empregabilidade para profissionais acima dos 40 anos de idade 42 Administração Para quem atua na área de exatas, a manutenção do emprego parece depender menos de fatores comportamentais do que para quem atua nas áreas de humanas, conforme demonstra a Tabela 10. Talvez esta seja uma realidade em rápida transformação. Talvez pudéssemos levantar a hipótese de que a percepção dos que atuam nas áreas de exatas estaria sendo distorcida por sua formação. Considerações finais O presente estudo centrou-se na análise de fatores de empregabilidade levantados entre profissionais acima de 40 anos de idade. Surgiram, durante o estudo, importantes teorias que auxiliaram no entendimento dos possíveis efeitos de um conjunto de variáveis de competências individuais. Descobriu-se que diante das avalanches de pessoas em busca de emprego e da sua própria manutenção, a concepção de empregabilidade surge como forma de consolidar as alterações percebidas nesse universo em constante mutação, em especial nos últimos anos. Verificamos pela análise das opiniões dos profissionais que, como produtos expostos em uma vitrine, eles devem destacar suas competências individuais entendidas como a capacidade de o indivíduo mobilizar múltiplos saberes, conhecimentos e habilidades, preparando-se cada vez mais para enfrentar verdadeira batalha no mercado de trabalho, atuando como guerreiros no mundo organizacional em busca de sobrevivência. Porém imaginar que a empregabilidade esteja somente associada a variações na escolaridade e na experiência dos indivíduos é exercício reducionista, pois que outros fatores também são considerados importantes, destacando-se as qualidades pessoais e inter-relacionais. Nesse sentido, esse estudo contribui com o debate sobre o tema, ao demonstrar que o ser humano é capaz de superar este desafio, uma vez que fora dos muros das empresas, o trabalhador ganha, assim, independência contratual e autonomia organizacional, tornando-se vendedor de si próprio e não mais vendedor de simples força de trabalho. Dessa forma, cria-se aí uma linha divisória entre trabalho e emprego, onde o que prevalece não é o fato de simplesmente terse um trabalho e sim a habilidade de ter-se emprego, assumindo assim caráter individual e exclusivo do trabalhador. No decorrer do estudo, percebeu-se que a discussão sobre a empregabilidade não é simples e não deve ser ignorada. Para os autores considerados mais pessimistas, a empregabilidade é sinônimo de sentença de morte para a civilização, sinalizando grande transformação social. Para outros mais otimistas, esboça-se novo conceito de qualificação, baseado no desenvolvimento das competências do trabalhador habilitado a pensar e a aprender a aprender a bem se relacionar com os demais. Fatores de empregabilidade para profissionais acima dos 40 anos de idade 43 Administração Pudemos inferir, também, haver bastante similitude e compatibilidade entre os fatores de empregabilidade indicados pelos profissionais e os conceitos apontados pelos autores estudados. Pudemos perceber que na visão dos autores analisados, a capacitação fornece a promoção profissional tanto de jovens como de adultos, qualificando-os e aperfeiçoando-os em todos os níveis, permanentemente, validando assim sua formação para o mercado de trabalho, tornando-os empregáveis, independente de carteira assinada. É importante ressaltar que a possível contribuição que este estudo possa oferecer à área de Recursos Humanos, ao traçar um novo perfil de trabalhador, com características de “novo” profissional, configura aí a empregabilidade como o começo das novas relações de trabalho, que contribuem para o profissional ter ou manter-se no emprego, e consideramos também que esta pesquisa trouxe à tona a importância da valorização do ser humano no aspecto do desenvolvimento social, do conhecimento, das habilidades e atitudes, como alavanca para sua inserção no mercado de trabalho e para sua manutenção no emprego, independente da idade. Referências BARONE, Rosa Elisa M. Formação profissional: uma contribuição para o debate brasileiro contemporâneo a partir da experiência internacional. Disponível em: <http://200.179.53.5/informativo/BTS/241/ boltec241b.htm>. Acesso em: 17 jul. 2004. BATES, Terence; BLOCH, Susan. O impacto do fim do emprego. HSM Management, São Paulo, n. 5, p.48-52, nov./dez. 1997. 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