CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS CAMPUS TIMÓTEO PROCESSOS INDUSTRIAIS - PRÁTICA "Polímeros" Contexto temático: SE aromática; reações no grupo carbonila. Assuntos abordados: policondensação das resinas uréia-formaldeído, fenol-formaldeído e curamento. Prof. Armin Isenmann. Objetivo: Preparo do pré-polímero e curamento irreversível sob diferentes condições, fornecendo um durômero. Possíveis classificações de materiais plásticos Critérios extensivos (= dependência da massa): superfície, forma, tamanho, peso. Critérios intensivos (= independência da massa): cheiro, cor, transparência, resistência química e térmica, morfologia, textura. Segundo sua origem: Os polímeros sintéticos podem ser produzidos a base de 1) óleo mineral (> 90% dos plásticos padrões), 2) carvão (1 t de carvão contém 40 kg de alcatrão, base de benzeno, fenol, piridina, cresóis, anilina, etc. que podem ser refinados fornecendo os monômeros dos policondensados); 3) polímeros naturais ou a base de recursos regenerativos (celulose, amido, látex, glicídios e açucares, óleos e gorduras insaturadas; furfural) A tendência atual é a substituição das fontes minerais - óleo e carvão - pelos recursos regenerativos. Uns exemplos onde isso é praticado com sucesso: o furfural, extraído do destilado da madeira, é aplicado em resinas fenólicas e Nylon 6.6; o etanol de açúcar pode ser transformado em etileno, então é material de partida do PE; ácido 11aminoundecanóico de óleos pode ser processado para Nylon 11. Além destas transformações químicas que fornecem os monômeros polimerizáveis a partir de recursos naturais, existe a possibilidade de modificar um biopolímero quimica ou mecanicamente, sem alterar o comprimento da cadeia polimérica. Estas reações são conhecidas como "polímero-análogas": • Reyon ("seda de viscose") que pode ser feita por regeneração de xantatos da celulose (celofane) ou solução da celulose em reagente de Schweizer, [Cu(NH3)4](OH)2, 1 • papel, 1 Uma lista completa dos solventes no processamento da celulose, ver livro "Química a partir de recursos renováveis", deste autor. • celulose esterificada com ácido acético (CA; acetato da celulose) ou nítrico (celulóide; que era usado até 1950 para filmes do cinema). Critérios mecânicos e termomecânicos: grosseiramente podemos classificar em termoplásticos, elastômeros (borrachas) e termofixos (durômeros). Critérios químicos: Para o químico é mais interessante classificar os polímeros sintéticos conforme o mecanismo da síntese. • Polimerização (iniciação radical, catiônica ou aniônica); • Poli-inserção (catálise Ziegler-Natta); • Poli-metatese (usando carbenos de metais pesados, p.ex. R4W=CHR´, inclusive reações pericíclicas do tipo Diels-Alder) • Policondensação e trans-esterificação (formando os poliésteres e poliamidas); • Poliadição (levando à família dos poliuretanos). Outros critérios químicos freqüentemente usados para a classificação das macromoléculas se referem diretamente à estrutura da cadeia polimérica: • peso molecular, • reatividade, • estéreo-regularidade, • solubilidade e compatibilidade, • estabilidade frente ataques químicos, • ramificações da cadeia, • cristalinidade do material. Classificação por finalidade e uso: • Massas para extrusão, injeção ou moldagem (granulado ou pó), • peças (chapas, tubos, perfis), • elastômeros vulcanizados, • folhas, fibras, espumas, • colas (soluções ou misturas reativas), • verniz (suspensões ou látex), • aplicações especiais (resinas trocadoras de íons, membranas). Classificação dos plásticos por potência, volume de produção e custo Produção mundial anual (estagnação desde 1993): Polímeros padrões ("commodities"): 90.000.000 t ≈ 90% do mercado; preços < 4 R$/kg Polímeros técnicos ("engineering plastics"): 10.000.000 t ≈ 10% do mercado; entre 4 e 12 R$/kg Polímeros de alta performance ("specialities"): 100.000 t = 0,1% do mercado; preços >> 12 R$/kg. Figura 1: Triângulo de performance: a altura da pirâmide reflete o preço, a sua largura o volume produzido do polímero. Figura 2: Abscissa: Temperatura do uso permanente [°C]; Ordenada: Preço [R$ / kg] Linhas tracejadas: divisa entre commodities, engineering plastics e specialities. Parte específica: Aminoresinas e resinas fenólicas. Baquelite (resina PF) A baquelite foi a primeira resina sintética explorada comercialmente em larga escala, e trata-se de um produto de condensação do fenol com o formaldeído e é classificada como uma Resina fenólica; seu principal produto comercial é a "Fórmica". Seu inventor, um químico belga, Leo Baekland, chamou o produto de baquelite (1909). Esta polimerização encaixa na família dos policondensados por que a água é eliminada ao longo de todo o procedimento da síntese. É um plástico termoestável, ou seja, não sofre alterações físicas durante o aquecimento; pelo contrário, ocorre maior entrelaçamento das moléculas fazendo com que a baquelite se torne ainda mais resistente. Segue síntese e estrutura representativa da resina PF curada: Aspectos da preparação industrial da resina fenólica: As resinas fenólicas podem apresentar-se na forma líquida ou sólida, de acordo com a proporção de cada reagente, tempo de polimerização etc. No estado líquido são viscosas, com uma viscosidade variando entre 80 a 4000cp a 25oC, conforme o grau de condensação, e pH variando entre 7,5 e 8,5 (são básicas, portanto). Sua densidade é de 1,0 a 1,25, e são solúveis em álcool, éteres, cetonas e, alguns tipos, em água. As resinas fenólicas na forma líquida é conhecida como resol. No estado sólido é chamada de novolaque, geralmente já formuladas com cargas, plastificantes e outros aditivos, apresentam-se com coloração escura, com densidade variando entre 1,3 e 1,6. Apresentam um índice de absorção de 0,3 a 1% e, depois de curadas, tornam-se infusíveis, resistindo até 150 ou 250oC, conforme a carga e os aditivos. Acima destas temperaturas, há carbonização e decomposição. Antes da polimerização final, que se dá durante a moldagem, possuem um ponto de fusão variando entre 55 a 85oC, o que torna extremamente fácil e econômica sua moldagem. São dois processos empregados para a produção de resina PF: O primeiro, conhecido como processo de etapa única, ou americano, é usado para a obtenção das resinas líquidas. Neste processo, o fenol e um excesso de formaldeído, juntamente com um catalisador alcalino (em geral NaOH ou amônia) são colocados em um reator de níquel ou aço inox e aquecidos a 70oC por períodos que variam entre 10 minutos e 3 horas. A reação é exotérmica, liberando 89 cal/g. Um maior tempo de processamento, aliado a temperaturas mais baixas, possibilita maior controle das propriedades da resina; por isso, em certas fases do processo, resfria-se o reator circulando água fria. Durante a reação, a água se separa, formando um lençol superior, que é extraído à vácuo; a mistura escurece levemente e sofre aumento de viscosidade. Tempo de processamento, controle de pH, temperatura e viscosidade são os fatores principais a serem observados. Depois de removida 75% da água, a resina torna-se xaroposa; neste ponto, enquanto a resina ainda tem afinidade com a água, adiciona-se um ácido orgânico, como o ácido lático, maléico ou anidrido ftálico, usados para clarear e neutralizar a resina. Após a acidificação, a adição de glicerina (cerca de 13% em peso) proporciona resinas translúcidas. A mistura de plastificantes, pigmentos e outros aditivos é feita no reator; em seguida, processa-se a desidratação final, sob vácuo, a uma temperatura variando entre 75 e 80oC. Ainda quente, a resina pode ser vazada em moldes de chumbo pré-aquecidos, para a produção de blocos. O tempo de cura é de aproximadamente 3 a 10 dias, a uma temperatura de 85oC. Na produção clássica de baquelite, emprega-se um catalisador ácido inorgânico, como o ácido sulfúrico, e um excesso de fenol. Esta mistura é aquecida num reator durante 3 a 6 horas, a uma temperatura que varia entre 140 e 165oC. Durante a reação de condensação, há formação de água que é retirada a vácuo; a resina quente, desidratada e viscosa é vazada em bandejas rasas, onde esfria e endurece. Depois, forma o aglutinante para compostos fenólicos de moldagem. O segundo processo de fabricação dos resóis é conhecido como "alcalino ou seco"; por ser mais caro que o ácido, só é usado quando se desejam resinas translúcidas ou de cores muito claras. Este processo, ao contrário do úmido/ácido, produz um novolaque. A resina resultante presta-se mais à moldagem por compressão e transferência. Aplicações e técnicas de aplicação: Há uma grande variedade de aplicações, tanto para o tipo resol comum, quanto para o tipo novolaque. Resol: têm largo emprego na impregnação de materiais diversos (papéis, tecidos, madeira, etc.), na fabricação de adesivos, vernizes e em rebolos do tipo resinóide (como aglomerante). Resóis podendo ser aplicados a pincel, por imersão, borrifo entre outros. Novolaque: Os vernizes e lacas constituem outra grande aplicação das resinas líquidas, mas também dos novolaques altamente viscosos. De baixo peso molecular, são solúveis em óleo e compatíveis com compostos resinosos, desde que sua polimerização não se tenha completado e não estejam ocupadas duas ou mais valências do fenol. Acha aplicação na fábrica de vernizes para revestimento elétrico, placas de interruptores, e outras peças elétricas moldadas, laminados com lona ou papel, revestimento de móveis, paredes e alças de panelas. Aminoresinas As aminoresinas (resina carbamida; aminoplástico) são policondensados termofixos, feitos por formaldeído (em analogia à resina PF) e um componente com grupo(s) -NH2. Em dependência deste segundo componente as aminoresinas subdividem-se em • resina de uréia (resina UF) • resina de melamina (resina MF) • resina de anilina (resina AF). Resina UF: A equação não equilibrada da condensação entre uréia e formaldeído deve ao mesmo tempo fornecer uma impressão da estrutura molecular do polímero UF: A resina UF (além da resina melamina-formaldeído, MF) é o constituinte principal em cola de madeira (cola branca). A vantagem principal é seu preço bastante acessível: é a mais barata cola reativa. Como desvantagens podem ser vistas a insuficiência mecâncica ao ser exposto à umidade e a instabilidade química a longo prazo. Chapas de aglomerado com esta cola exibem uma taxa elevada de emissão de formaldeído (tóxico). Outras aplicações: revestimento de assoalhos, acabamento de tecidos, peças moldadas. Resina MF: Um pouco mais caro, mas na sua resistência térmica e em ambiente úmido superior à resina UF é a resina melamínica, MF, onde a uréia é substituída por melamina (cianuramida; 1,3,5-triazina-2,4,6-triamina). Esse monômero é de acesso bastante fácil: é o produto da pirólise da uréia. NH2 O 3 H2N ∆ NH2 - 3 H2O N H2N NH Tautomeria N N NH2 Melamina (forma enamina) HN HN N H NH Melamina (forma imina) Os aditivos usados na resina MF são: • Cargas e estabilizadores: celulose, farinha de madeira, carbohidratos, • Plastificantes e lubrificantes: ftalatos e fosfatos, óleo vegetal, glicerina. • Dissolventes: alcoóis, hidrocarbonetos aromáticos, cetonas. • Endurecedores • Pigmentos • Anti-fungo As aplicações principais da resina MF são: • Revestimentos protetores e decorativos. • Pinturas para parede exterior NH • • • • Esmaltes, vernizes e pinturas diversas: a resina MF proporciona maior dureza, resistência à abrasão, resistência térmica e resistência ao amarelamento. Colas especiais de madeira: mostram maior repelência à umidade Recobrimentos de eletrodomésticos Adesivos resistentes ao calor (até 160°C não há decomposição). Parte prática Neste roteiro são descritas vários procedimentos de laboratório que levam à resina termofixa. Podem ser preparadas resinas de uréia-formaldeído (UF) e fenol-formaldeído (PF). Aviso: o formol prejudica a saúde humana; portanto recomendo executar todas as etapas na capela de exaustão. Cuidado: Fenol causa queimaduras na pele! Em caso de acidente: lave bem a parte do corpo, com bastante água, secar e imediatamente aplicar um algodão enchido com glicerina. Receita 1 para baquelite (resina fenol-formaldeído; resina PF): Em um tubo de ensaio de boca larga, coloque 5g de fenol, 15ml de solução de formaldeído a 40% e 3ml de solução concentrada de amônia (d = 0,88). Aqueça a mistura com uma pequena chama até que a mistura se torne opaca. Esfrie, rejeite a camada aquosa, retendo o material viscoso no fundo e aqueça em banho-maria a 60oC durante 30 minutos. Após isso, aqueça a massa pastosa em uma estufa a ar a 75oC durante 4 a 6 horas, até que uma resina sólida aparece. Receita 2 para a resina PF (fenol-formaldeído): Adicione 15 mL de uma solução aquosa de formaldeído 37% em um béquer de 100 mL. Dissolva 5g de fenol nesta solução e adicione lentamente, com agitação (utilize um palito de sorvete para agitar) 10 mL de HCl concentrado. Prossiga a agitação (a reação é exotérmica). Anote o que ocorre no sistema. Lave o polímero obtido com água e deixe secar em um papel absorvente. Anote as características do material. Teste sua solubilidade em água, etanol e clorofórmio. Receita 3 para a resina PF (fenol-formaldeído): a) Em um erlenmeyer de 50 mL, coloque o fenol (5 g) e aqueça em banho-maria até fundir. Acrescente o formaldeído (13,7 mL) e a solução de hidróxido de amônio (4 mL). Aqueça a mistura em banho-maria (80 °C) por 5 minutos. b) Resfrie a mistura em banho de gelo, agitando continuamente com movimentos circulares, até que ocorra a formação de um material sólido e um sobrenadante. c) Elimine o sobrenadante e adicione gotas de ácido acético glacial ao material sólido até que a mistura se torne ácida. Verifique o pH com papel de tornassol. d) Aqueça novamente a mistura em banho-maria (80 °C) por 20 minutos. Após esse tempo, remova o sobrenadante e transfira imediatamente a resina para o molde apropriado (copinho descartável, por exemplo). Receita 4 para a resina PF (fenol-formaldeído): 10 g de fenol, 12,5 mL de solução de formol (37%) e 27,5 mL de ácido acético glacial são misturados em um béquer. 24 mL de HCl concentrado são adicionados lentamente e sob agitação contínua. Receita 5 para resina UF: a) Em um erlenmeyer de 50 mL, coloque a uréia (6 g), o formaldeído (10 mL; solução de 30 a 37%) e a solução aquosa de hidróxido de sódio 10% (2 mL). Aqueça a mistura em banho-maria (80 °C) durante 15 minutos. b) Resfrie a mistura em banho de gelo por aprox. 10 minutos, agitando com movimentos circulares não muito lentos. Durante esta etapa ocorrerá ligeira turbidez na mistura e ela se torna cada vez mais viscosa. c) Retire o erlenmeyer do banho de gelo e adicione solução de ácido sulfúrico 30%, gota a gota, até a completa neutralização da mistura (aprox. 8 gotas), verificando o pH com papel de tornassol. Nesta etapa podem ser adicionados corantes à mistura para obter uma resina colorida. d) Aqueça novamente a mistura em banho-maria (80 °C) e adicione lentamente, gota a gota, solução de ácido sulfúrico 30% até que este se torne bastante consistente. Neste ponto, verta a mistura rapidamente em moldes apropriados (copinho de café descartáveis) e lave imediatamente o erlenmeyer. O material devidamente acondicionado deverá ser mantido na estufa a 50 °C, para que ocorra o endurecimento (curamento) da resina. Receita 6 para resina UF: a) Em um tubo de ensaio, colocar 12 g de formol (formalina) que corresponde a 11 mL. b) Acrescente 2 mL de solução aquosa a 10% de NaOH. c) Adicione 6 g de uréia e aqueça a mistura com cuidado, sobre pequena chama (usar pinça de madeira). d) Manter em ebulição por cerca de 15 minutos, de modo a causar a evaporação de ~1/3 do volume inicial. e) Resfriar a mistura reacional e adicionar ácido acético glacial até que o papel de tornassol mostre reação ligeiramente ácida. f) Aquecer durante 20 min em banho de água fervente, contida em béquer, para completar a polimerização. Referências 1) R. J. Gillespie et al, "Atoms, Molecules and Reactions: An Introduction to Chemistry", Prentice-Hall Int. Inc., N. Jersey, 1994, Cap. 20. 2) D. L. Pavia et al, "Organic Laboratory Techniques: a Contemporary Approach", W. B. Saunders Co, N. York, 2a Ed., 1976. Questionário: Q1: Classifique seu material sob os diversos aspectos/critérios, mencionados na introdução. Q2: Formule a reação que leva à resina MF. Desenhe uma parte representativa do polímero curado. Q3: Escreva o mecanismo da reação que leva à resina PF. Indique em quais etapas você usa catalise ácida e onde básica. Q4: Explique as expressões "durômero" (também chamados de "termofixo"), "elastômero" e "termoplástico". Diferencie-os em termos de estrutura molecular, comportamento mecânico a temperatura ambiente, comportamento a temperaturas altas e indique aplicações típicas. Q5: Procure os nomes em extenso, das siglas que se usaram para os polímeros na Figura 2. Q6: Informa-se sobre os seguintes derivados, parentes da melamina e da uréia (indique estrutura, síntese e aplicações no laboratório): a) urotropina; b) ácido cianúrico. Q7 - optativo: Procure na Internet outras receitas como preparar as resinas no laboratório. Na elaboração do relatório não pode faltar: 1) uma descrição detalhada das etapas operacionais, indicando período, quantidades, pH, temperatura e manipulação física (agitação) de cada etapa. Complete com as suas observações, tais como viscosidade, coloração, cheiros. 2) Descreva rendimento, aparência, comportamento frente solventes / reagentes químicos, do seu produto polimérico.