Aprendizagem sem fronteiras Learning without borders OS DESAFIOS DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO COMO LÓCUS CENTRAL DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA Eixo temático 2: Formação de professores e cultura digital Samuel de Souza Neto1 Agências Financiadoras: CNPQ, CAPES, UNESP/PROGRAD-NE 1. Introdução Esta pesquisa trata das transformações profundas que a formação docente vem passando em relação ao lugar, às modalidades e duração e acompanhamento dos estágios na formação inicial . Estas transformações, que estão na base do movimento da profissionalização docente assumem formatos específicos em função das características de cada país e contexto universitário. Porém, o ponto para o qual elas convergem é o de considerar a prática profissional como um lócus de produção, e também de formação nos saberes. Neste contexto, este trabalho teve como objetivo identificar no modelo profissional canadense, Quebec, a proposta de formação relativa a esse processo que vem colocando a escola e, por conseqüência, a prática como lócus de formação e produção de saberes, considerando: a) a estrutura e a organização do estágio supervisionado (número de horas e de estágios, modalidades e momentos da formação) e; b) a supervisão pedagógica durante o estágio. 2. Metodologia 1 UNESP – Rio Claro, Departamento de Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação; Programa de Pós-Graduação em Ciências da Motricidade – [email protected]. Aprendizagem sem fronteiras Learning without borders Optou-se por uma metodologia de pesquisa qualitativa, tendo no construtivismo social o paradigma de referência a ser percorrido e como técnicas a entrevista semiestruturada e a análise de conteúdo. Nesta pesquisa, os participantes foram cinco professores vinculados a realidade do estágio supervisionado. 3. Resultados e Discussão Entre os resultados observou-se na entrevista com os participantes a proposta de um modelo profissional de currículo: (a) centrado na formação do profissional reflexivo, um profissional que produz saberes e que é capaz de deliberar sobre sua própria prática, de objetivá-la, de partilhála, de questioná-la e aperfeiçoá-la, melhorando o seu ensino; (b) com uma visão pluralista dos saberes na base da formação pautados por uma epistemologia da prática, tendo por referência saberes práticos e competências, pois os professores e os pesquisadores produzem e controlam os saberes na base da profissão no qual o saber da experiência, os saberes práticos possuem o mesmo estatuto que os saberes científicos; (c) a formação está centrada na prática com estágios em alternância ao longo da formação, do 1º ao 4º ano, entre o meio escolar e o meio de formação na universidade com 700 horas (quatro estágios, um em cada ano, indo do estágio de observação no primeiro até o estágio de regencia no terceiro e último ano); o processo de formação é partilhado entre universidade e escola e, em uma certa medida, mesmo a avaliação é partilhada entre os atores implicados na formação, como os professores colaboradores (ou associados, tutores, ou mestres de estágio) da escola, bem como envolvendo diretores, especialistas e técnicos de ensino, supervisores, além do professor da universidade; (d) os professores colaboradores da escola são formados para receber estagiários em cursos oferecidos pela Comissão Escolar de uma dia ou dois dias; (e) os professores supervisiores da universidade reunem-se com estes professores colaboradores antes de cada estágio para orientá-los e ouvir as suas Aprendizagem sem fronteiras Learning without borders sugestões e reivindicações; da mesma forma que mantem contato com eles e assiste-se a uma aula de cada estagiário par avaliação; (d) a escola é o locus central da formação. Dessa forma sai-se do modelo acadêmico de formação, distante da escola e dos professores colaboradores e passa-se a conceber a escola como lugar de formação, uma formação não mais centrada no conhecimento, mas envolvendo a prática (BORGES, 2008). Neste sentido, Formosinho (2009, p. 111) também nos alerta para o fato de que quanto mais acadêmica for a cultura da instituição de formação, maior distância haverá entre as disciplinas curriculares e a prática pedagógica, menor interação e maior diferença de estatuto haverá entre os diversos tipos de formadores envolvidos. 4. Considerações Finais Concluiu-se que o movimento de profissionalização do ensino trouxe uma nova configuração no âmbito da formação, alterando o curriculo e incluindo novas disciplinas como “a gestão da classe”, “conhecimento de materiais e recursos da quadra e ginásios”, entre outros aspectos. No estágio supervisionado são desenvolvidas e cobradas 12 competências (Ministério da Educação) tanto dos estudantes como dos professores colaboradores e professsores supervisores, envolvendo, por exemplo, se o estagiário é capaz de ensinar, tem capacidade de reflexão, se ele age com ética no decorrer do seu trabalho, entre outras. Dessa forma entra em campo o conhecimento profissional na base dessa formação, apontando para a necessidade dos profissionais em formação conquistarem uma espécie de capital profissional, baseado em: (a) conhecimentos especializados e formalizados, tendo como referência as disciplinas científicas; (b) uma longa formação de alto nível; (c) conhecimentos profissionais modelados e voltados para a situação de situações problematícas concretas; (d) aquisição de competências e direito de usar esses conhecimentos em um território demarcado pela especificidade dessa atuação profissional; (e) avaliação, significanto a compreensão dos conhecimentos e da prática; (f) autonomia e discernimento por parte dos profissionais, pois os conhecimentos profissionais exigem uma parcela de improvisação e de adapatação na situações Aprendizagem sem fronteiras Learning without borders inesperadas e únicas; (g) capacitação permanente, no sentido de formação continuada, buscando autoformar-se e atualizar-se através de diferentes meios, depois da graduação e; (h) reponsabilidade por seus atos. Embora haja esses avanços questiona-se também quando o professor colaborador não é efetivo nesse processo, a relação teoria e prática no decorrer da formação, entre outros aspectos, apontando para o fato de que esse processo é dinâmico e não estático. Referências BORGES, C.. A formação docente em Educação Física em Quebec: saberes espaços, culturas e agentes. In: TRAVERSINI, C. (Org.) [et al.] Trajetória e processos de ensinar e aprender: práticas e didáticas: livro 2 – XIV ENDIPE – Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008. FORMOSINHO, J. (coord.) A academização da formação de professores. In: FORMOSINHO, J.. Formação de Professores: Aprendizagem profissional e acção docente. Porto: porto Editora, 2009. Palavras-chave: Modelo Profissional de Formação; Formação Inicial Professores; Estágio Curricular Supervisionado; Educação Física.