ISRAEL MATTÉ O objetivo da escola não deve ser passar conteúdos, mas preparar todos para a vida em uma sociedade moderna. Competência é a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos – saberes, capacidades e informações – para solucionar com pertinência e eficácia uma série de situações. A competência é formada pela prática, construída em situações concretas, com conteúdos, contextos e riscos identificados pelos alunos. Para desenvolver competências, os alunos devem ser colocados em situações problemáticas e desafiadoras, em situações que o obrigam a alcançar uma meta, a resolver problemas e tomar decisões. A competência constatações: está ancorada em duas 1. A transferência e a mobilização das capacidades e dos conhecimentos não caem do céu. É preciso trabalhá-las e treiná-las. Isso exige tempo, etapas didáticas e situações apropriadas. 2. Na escola não se trabalha suficientemente a transferência e a mobilização não se dá tanta importância a essa prática. O treinamento, então, é insuficiente. Os alunos acumulam saberes, passam nos exames, mas não conseguem mobilizar o que aprenderam em situações reais, no trabalho e fora dele. Isso não é dramático para quem faz estudos longos. É mais grave para quem freqüenta a escola somente por alguns anos. A abordagem por competências é uma maneira de levar a sério uma problemática antiga, aquela de transferir conhecimentos. Para elaborar um conjunto de competências, não basta nomear uma comissão de redação. Certos países contentaram-se em reformular os programas tradicionais, colocando um verbo de ação na frente dos saberes disciplinares. Onde se lia "ensinar o teorema de Pitágoras", agora lê-se "servir-se do teorema de Pitágoras para resolver problemas de geometria". Isso é maquiagem. A descrição de competências deve partir da análise de situações, da ação, e disso derivar conhecimentos. Na formação profissional, se estabelece uma profissão referencial na análise de situações de trabalho, depois se elabora um referencial de competências, que fixa os objetivos da formação. A UNESCO observa que dentre as crianças que têm chance de ir à escola somente alguns anos, uma grande parte sai sem saber utilizar as coisas que aprenderam. É preciso parar de pensar a escola básica como uma preparação para os estudos longos. Deve-se enxergá-la, ao contrário, como uma preparação de todos para a vida, aí compreendida a vida da criança e do adolescente, que não é simples. As competências não dão as costas para os saberes, mas não se pode pretender desenvolvê-las sem dedicar o tempo necessário para colocá-las em prática. Para desenvolver competências é preciso, antes de tudo, trabalhar por problemas e por projetos, propor tarefas complexas e desafios que motivem os alunos a mobilizar seus conhecimentos e, em certa medida, completá-los. A abordagem por competências leva a fazer menos coisas, a dedicar-se a um pequeno número de situações fortes e fecundas, que produzem aprendizados e giram em torno de importantes conhecimentos. Isso obriga a abrir mão de boa parte dos conteúdos tidos como indispensáveis. O ideal é dedicar mais tempo a um pequeno número de situações complexas do que abordar um grande número de assuntos que devem ser percorridos rapidamente, para virar a última página do manual, no último dia do ano letivo.