Velhos novos desafios para a diversidade Étnico/Racial Susana Aparecida Ferreira (Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE) Aparecida de Jesus Ferreira (Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG) RESUMO: O objetivo deste trabalho é refletir sobre a diversidade étnico/racial na sala de aula, e se é possível que o professor através de novas metodologias e ou de um ensino mais crítico e reflexivo, colabore para a afirmação e valorização das identidades étnico/raciais, contribuindo para a minimização das diferenças em sala de aula. Entendemos estas questões como sendo social, histórica e culturalmente construídas e ainda, um desafio para o professor. Depois de conquistas como as ações afirmativas e documentos oficiais que tratam da diversidade étnico-racial, intentamos refletir como os professores, além de se orientarem por estes documentos oficiais, podem se valer das novas teorias de letramento para incentivar as discussões sobre o tema em sala de aula. Considerando as identidades sociais, pois, por meio dela, o aluno se identifica e compreende o lugar que ocupa na sociedade. Para sustentar nossas reflexões, recorreremos a autores que versam sobre diversidade étnico/racial, como Ferreira (2009), (2011), (2012); Ferreira e Ferreira (2011); Gomes (2012), sobre novos letramentos, Street (2003), Monte Mór (2007), e formação de professores, Ferreira (2006); Kleiman (2005), entre outros que possam contribuir para estas reflexões. Como metodologia, utilizamos a pesquisa bibliográfica. Os resultados esperados são suscitar reflexões e questionamentos a respeito do tema. Concluímos, entendendo que o Brasil ainda possui um preconceito velado, sendo assim, é necessária a continuidade de pesquisas e reflexões sobre o tema diversidade étnico/racial. Neste caso os estudos sobre os novos letramentos podem vir a contribuir para um ensino diferenciado, cabe ao professor tentar conduzir de maneira reflexiva. PALAVRAS-CHAVE: Diversidade Étnico-Racial; novos letramentos; minimização das diferenças. ABSTRACT: The objective of this paper is to reflect about the race/ethnity diversity in the classroom, and it is possible that the teacher through the new methodologies and a more critical and reflexive teaching, collaborate for the affirmation and appreciation of race/ethnity diversity, contributing to the minimization of the differences in the classroom. We understand these issues as a social, historical and culturally constructed and also a challenge for teacher. After affirmative actions conquests and official documents dealing with race/ethnity diversity, we intend to reflect how the teacher, in addition to being guided by these official documents, can take advantage of the new theories of literacy to encourage discussions on this topic in the classroom. Considering the social identities because, through it the student identifies and understands his place in society. To support our reflection, we use the authors that deal with race/ethnity diversity like Ferreira (2009), (2011), (2012); Ferreira and Ferreira (2011); Gomes (2012), about new literacies , Street (2003); Monte Mór (2007), and teachers formation, Ferreira (2006); Kleiman (2005), and others that can contribute to our reflections. Like methodolgy, we used the bibliografic research. That results that we hope to rise refletions and questions about this subject. In conclusion, understanding that the Brazil still has a hidden prejudice, so it is necessary to continues researches and reflections on the theme race/ethnity diversity. In this case studies on new literacies could potentially contribute to differentiated instruction, it is the teacher trying to drive in a reflexive way. KEY-WORDS: Race/ethnity diversity; new literacies; minimizing of differences. IDENTIDADES SOCIAIS DE RAÇA E ETNIA1 As identidades sociais podem ser muitas, dependendo do contexto social que estamos inseridos, segundo Hall (1987) são nomes que damos aos diferentes modos com os quais nos posicionamos dentro de nossos contextos sociais. Assim, as identidades sociais, além de serem construídas, reconstruídas e mantidas por meio das interações, também podem ser geridas por questões de interesse, bem como as questões ideológicas que perpassam a vida em sociedade. São determinadas em um processo que ocorre em todos os contextos, situações, instituições, e na instituição escolar também tornam-se uma questão especial pois a escola é a agência de letramento (STREET, 2003; JUNG, 2009) na qual passamos uma parte significativa de nossas vidas. Para Hall (2002) ela é reconhecida através da diferença, no momento de interação social, de identificação ou não identificação, de alteridade. Os processos são inconscientes e sócio, cultural e historicamente construídos, dessa forma, podemos entender que as identidades sociais de raça/etnia também são. A circulação do sujeito pelas diversas instituições sociais, as interações sociais, principalmente no que se refere à instituição escolar, sendo um lugar de longa permanência, promovem essas afirmações, negações ou construções identitárias, culminando no empoderamento ou apagamento do sujeito perante a sociedade. Podemos refletir também sobre essas construções identitárias se consideramos o que coloca Costa (2012), a respeito do tempo considerável que os alunos geralmente passam em sala de aula, pois, um aluno que consiga passar por toda a etapa da educação formal no Brasil, estará presente na instituição escola via de regra por 12 anos, em 200 dias letivos anuais. É um tempo considerável e relevante para a construção das identidades sociais. Pretendemos 1 Raça: Segundo Ferreira (2009, p. 29), esse termo é complicado à medida que remete a traços biológicos de espécies distintas. Gomes também pontua que “[...] podemos compreender que as raças são, na realidade, construções sociais, políticas e culturais nas relações sociais e de poder ao longo do processo histórico. Não significam, de forma alguma, um dado da natureza. É no contexto da cultura que nós aprendemos a enxergar as raças” (GOMES, 2005, p. 49). Raça deve ser entendida no sentido construído socialmente e historicamente na nossa sociedade (FERREIRA, 2006, p. 29). Etnia: “É o outro termo ou conceito usado para se referir ao pertencimento ancestral e étnico/racial dos negros e outros grupos em nossa sociedade (GOMES, 2005, p. 50). Ou ainda, “[...] uma etnia é um conjunto de indivíduos que, histórica ou mitologicamente, tem um ancestral comum; tem uma língua em comum, uma mesma religião ou cosmovisão; uma mesma cultura e moram geograficamente num mesmo território” (MUNANGA, 2003, p. 12). realizar algumas reflexões abordando o ensino da diversidade étnico /racial e as novas concepções de letramento, para tanto traremos a seguir questões que versam a respeito de letramento, novos letramentos, multiletramentos, documentos oficiais e formação de professores. Podemos nos questionar então, como o professor pode se valer das reflexões sobre os novos estudos do letramento para auxiliar a sua prática pedagógica, principalmente no que tange à diversidade étnico/racial. Para auxiliar em tais reflexões dividimos este artigo em seis seções que versam sobre os temas, respectivamente: Letramento, alfabetização, novos letramentos, documentos oficiais e algumas considerações finais. ALGUMAS REFLEXÕES A RESPEITO DO LETRAMENTO Neste contexto de mudanças políticas e epistemológicas, Gomes (2012) aponta que estas questões principalmente no que se relaciona teoria e práticas tentam ser adequadas às novas exigências no campo educacional, exigências que tentamos relacionar com as questões diversidade étnico-racial, tomando como ponto de partida um letramento como prática social. Segundo Jung (2009) o termo letramento, foi introduzido na academia, justamente para “separar os estudos sobre o impacto social da escrita na sociedade dos estudos sobre alfabetização” (JUNG, 2009, p. 46). É esse impacto social dos letramentos na sociedade que nos permite refletir sobre a maneira que um trabalho diferenciado em sala de aula pode auxiliar na construção do sujeito, como cidadão. Ao passo que as reflexões a respeito das práticas pedagógicas tentam acompanhar as evoluções que tem ocorrido nos últimos anos, Rojo (2010), salienta que tais mudanças ocorreram também no perfil dos estudantes, sendo que o acesso à escola esta de alguma forma se democratizando, então, essas camadas mais populares estão tendo acesso à educação, e estão levando consigo toda uma gama de conhecimento de mundo, em forma de práticas de letramento que não são valorizadas pela escola, mas que estão diretamente relacionadas com as práticas de letramento tidas como dominantes (da esfera literária, jornalística, etc.). Então “os letramentos escolares, no entanto, não acompanham essas mudanças e permaneceram arraigados em práticas cristalizadas, criando insuficiências” (ROJO, 2010, p. 23). “Ou nas palavras de Gomes: “Quanto mais se amplia o direito à educação, quanto mais se universaliza a educação básica e se democratiza o acesso ao ensino superior, mais entram para o espaço escolar sujeitos antes invisibilizados ou desconsiderados como sujeitos de conhecimento” (GOMES, 2012, p. 99). A autora, neste sentido coloca também a preocupação com a adequação dos currículos, pois, o mesmo é de certa forma questionada pela própria bagagem e experiência de vida desse novo perfil de alunado, que estão agora inseridos de maneira “democrática” no ensino. Para uma melhor reflexão, no próximo tópico, traremos algumas questões que versam sobre alfabetização, letramento e multiletramentos. ALFABETIZAR E LETRAR: ALGUMAS REFLEXÕES O conceito de alfabetização como simples decodificação, consolidou-se no passado, como a básica exigência de ler e escrever. Assim como tudo se move, os conceitos também são ressignificados (STREET, 2003). Neste sentido, podemos entender que a pessoa dita analfabeta, na atualidade tem dificuldade em obter seus direitos de cidadã, participativa da sociedade. Para nos auxiliar nesta reflexão inicial sobre alfabetização Soares (2000), exemplifica que a condição de “estar” analfabeto é muito mais do que não saber ler nem escrever, é inserir as práticas sociais no contexto da leitura e escrita, desta maneira “o analfabeto é aquele que não pode exercer toda a sua plenitude os direitos de cidadão, é aquele que a sociedade marginaliza” (SOARES, 2000, p. 20). Este conceito de alfabetização já era defendido por Paulo Freire, considerado um dos maiores pensadores na área educacional do século XX, já falava em uma maneira reflexiva de pensar e “ler o mundo”, ou seja, “leitura crítica da leitura” envolvendo a compreensão crítica do conceito de alfabetização (FREIRE, 1989, p.9). Uma prática pedagógica que ia além do ato de ler e escrever, que visava formar um cidadão capaz de formular sua própria opinião sobre o mundo, libertando-se da opressão do sistema que o cercava. A partir das reflexões de Paulo Freire, surgiram muitos seguidores de sua teoria, uma pedagogia crítica e libertária. O termo alfabetização acabou então definindo um ensino mecanicista e positivista, relacionado ao modelo autônomo de letramento (STREET, 2003; JUNG, 2009; STRET, 2013), Assim, em novos tempos era preciso não só outra nomenclatura, mas uma releitura deste termo adequando-o às necessidades sociais contemporâneas do falante real. Soares (2000) e Kleiman (2005) atribuem a ressignificação deste conceito à Mary Kato em 1986 onde a mesma cunhou o termo letramento, que Soares (2000) esclarece ser um termo recémchegado no Brasil, ou seja, na segunda metade da década de 80. Para esclarecer este conceito podemos recorrer à Soares (2000) que pontua a necessidade de ir além da simples decodificação, apenas ler e escrever, numa necessidade corrente de se adequar a uma nova realidade de exigências. Neste sentido, Kleiman (2005), define que “‘letramento’ é um conceito criado para referir-se aos usos da língua escrita não somente na escola, mas em todo lugar. Porque a escrita está por todos os lados fazendo parte da paisagem cotidiana [...]” (KLEIMAN, 2005, p.6). A importância das novas abordagens de letramento se torna notória à medida que se mune de pesquisas realizadas a respeito do tema, onde fica clara a sua importância devido à consideração do contexto histórico social do sujeito aprendiz. Os estudos sobre as novas teorias de letramento já vem sendo realizados há algumas décadas e no Brasil esta tomando cada vez mais corpo. Não apenas ensinando habilidades mecanicistas, mas formando cidadãos críticos e reflexivos, e estudos sobre os novos letramentos vem ao encontro dessas inquietações a respeito do como e o que ensinar para o aluno nesses tempos de globalização e novas tecnologias. OS ESTUDOS DOS NOVOS LETRAMENTOS As preocupações sobre a maneira de ensinar, em meio a um mundo cheio de mudanças e tecnologias, com uma imensa diversidade cultural e lingüística, resultaram em encontro de pesquisadores renomados, para discutir como deveriam ser tratadas estas questões dentro do ensino, como trabalhar com tamanha diversidade em todos os sentidos. Cope e kalantzis (2008), o objetivo do referido encontro foi reunir os questionamentos que conferem à pedagogia dos novos letramentos status de base das diferentes experiências nacionais e culturais, focando, assim, um mundo em efervescente mudança, a qual perpassa a nossa vida em sociedade. O termo multiletramentos surgiu então no intuito de englobar todas essas discussões referentes às novas pedagogias do letramento. Dois pontos que foram postos como prioritários pelo grupo: o primeiro é o crescimento cultural da diversidade linguística, com a cultura de massa que nos impele cotidianamente, nesta “negociação” com as diferenças que enfrentamos em nossos contextos sociais também de maneira diária. Desta maneira, entendemos os multiletramentos como as múltipalas maneiras possíveis de se gerar significados, e, intentamos relacionar estas reflexões com as questões de diversidade étnico/racial, pensando como os multiletramentos podem ser apresentados em sala de aula e como podem se relacionar com as questões raciais. Quanto ao primeiro termo Borba e Aragão (2012, p.231) definem como: “[...] estado ou condição que assume aquele que utiliza bem a leitura e a escrita, seja através do suporte impresso, seja através do suporte digital, levando em consideração a diversidade dos usos da linguagem”. Este termo segundo Borba e Aragão (2012), que se baseiam em Cope e Kalantzis (2001), engloba as mudanças sociolinguísticas e culturais que permeiam a sociedade atual, bem como a maneira como tais questões se correlacionam com a pluralidade linguística e rapidez de informações, ao passo que todas essas transformações exigem novas competências linguísticas e comunicativas para que os significados se (re)construam de múltiplas maneiras. O termo multiletramento é colocado por Borba e Aragão (2012) como um conceito “guarda-chuva”, que vem englobar várias habilidades, como: letramento digital, letramento crítico, hipertexto, gêneros digitais, cidadania, inclusão e o outro termo que colocamos acima, a multimodalidade. A linguagem digital e sua relação com a educação já vem sendo estudada pelos teóricos que pesquisam os novos letramentos e multiletramentos: Luke & Freebody (1997), Synder (2000), Gee (2003), Monte Mór (2007). Segundo Monte Mór (2007, p. 31) Esses estudos refletem as percepções a respeito das mudanças na maneira de como o conhecimento está sendo construído. Acreditamos que os novos estudos sobre os letramentos só vem somar força a favor de uma educação melhor, mais acessível, igualitário, que foque o sujeito como cidadão e inserido em práticas sociais, entendendo a necessidade de preparar esses alunos para conviverem em sociedade, respeitando as diferenças nesta sociedade que pode explorar todos os recursos que as novas teorias e novas tecnologias trazem, e, também se apropriar dessas práticas para tornarem-se cidadãos mais reflexivos e conscientes dos seus lugares na sociedade, sempre entendendo todos somos iguais em nossas diferenças. A RELAÇÃO COM OS DOCUMENTOS OFICIAIS Os documentos oficiais (PCN,1998b; DCN, 2005; Lei Federal 10639/2003; OCEM, 2006), e claro o movimento negro que dá visibilidade as causas raciais, já vem se preocupando com o tema da diversidade racial a algum tempo, tempo ainda curto para a desconstrução do racismo no Brasil. Desta maneira, é relevante citar neste trabalho, o livro de Aparecida de Jesus Ferreira, publicado em 2009 e que realiza reflexões a respeito da temática da pluralidade cultural contida nos Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), a partir disso propõe um olhar mais crítico a respeito da produção de materiais didáticos, que possam dar oportunidade de reflexão sobre diversidade étnico/racial aos alunos, no que tange principalmente: raça/etnia, diferença/diversidade cultural, identidade e cidadania. Além de reflexões sobre formação de professores e as confluências com esta temática, no intuito de propiciar uma formação mais reflexiva a respeito da própria realidade cultural da qual esses alunos podem fazer parte. Segundo Ferreira (2009), essas discussões tem se intensificado especialmente após a publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN (BRASIL, 1998) e da Lei Federal 10639/ que veio incutir no currículo escolar a temática História e Cultura Afro-brasileira e Africana: §1o O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil (BRASIL, Lei Federal 10639/2003). É importante que o aluno tenha a clareza que a história dos negros não se iniciou quando eles chegaram ao Brasil, tomados como escravo, sob condições desumanas, mas que muitos antes disso já existia uma história histórico e cultural do seu lugar de origem, que lhes foi extirpada impiedosamente. Ferreira (2009) menciona também, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais (BRASIL, 2005), que abordam a inserção desta temática na formação de professores. Neste sentido podemos destacar: A obrigatoriedade de inclusão de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana nos currículos da Educação Básica trata-se de decisão política, com fortes repercussões pedagógicas, inclusive na formação de professores. Com esta medida, reconhece-se devidamente a história e cultura de seu povo, buscando reparar danos, que se repetem há cinco séculos, à sua identidade e a seus direitos. A relevância do estudo de temas decorrentes da história e cultura afro-brasileira e africana não se restringe à população negra, ao contrário, diz respeito a todos os brasileiros de uma sociedade multicultural e pluriétnica, capazes de construir uma nação democrática (BRASIL, 2005, P.17). Podemos considerar que, para “uma educação que esteja comprometida com a inserção das minorias e não com a exclusão de grupos minoritários” (FERREIRA, 2009, p. 24), devemos considerar tanto na formação pré-serviço, quanto na prática em sala de aula a relevância de afirmar a identidade brasileira de nossos afro-descendentes, o respeito à diversidade para construir a cidadania. Assim, mencionamos que as políticas de Ações afirmativas, são políticas direcionadas à reparação e valorização histórico, cultural e identitária e étnica e “conjuntos de ações dirigidas à correção de desigualdades raciais e sociais, orientadas para a oferta de tratamento diferenciado com vistas a corrigir desvantagens e marginalização criadas e mantidas por estrutura social excludente e discriminatória (BRASIL, 2005, p.12). Essas questões nos fazem refletir sobre onde estão representados estes grupos “minoritários”, que na que tipo de trabalho possuem ? qual a média salarial e a inserção nos contextos sociais elitizados? Entre outras questões, o que preocupa é a não visibilidade das pessoas negras na sociedade como um qual é a distância da igualdade obtida e merecida. No que tange aos multiletramentos, Ferreira (2009), traz sugestões para trabalhos em grupo, abordando os temas: racismo, raça, etnia, diferença, diversidade cultural, identidade e cidadania. Na mídia: televisão, rádio, internet, poemas, jornal, revista, etc., e como os mesmo são abordados pelos professores, e de que forma eles podem desconstruir ou afirmar as formas de preconceito. As reflexões e sugestões de Ferreira (2009) nos auxiliam na compreensão da importância dos materiais de ensino, e do que eles podem representar para desconstruir estereótipos, e contribuir com a valorização e afirmação da cultura afro-descendente entendemos que os materiais de ensino, também devem ser um material de apoio à aprendizagem, uma fonte de recursos para trabalhar a cultura e a identidade do aluno, não como única fonte de recurso, e nesta questão os multiletramentos tem grande contribuição. Uma visão reflexiva do professor pode auxiliar na descunstução de certos estereótipos que podem ser vinculados por qualquer meio de comunicação e especialmente pelo material didático do aluno. Nesta questão, compartilhamos da idéia que: Além da omissão e distorção histórico-cultural, a presença dos estereótipos no livro didático e outros materiais pedagógicos podem determinar a rejeição inconsciente a um saber que humilha. Em uma sociedade onde dois mundos sociais em contato têm relações políticas, econômicas e culturais desiguais, inexiste o reconhecimento das diferenças, enquanto distinções fenotípicas e culturais e não como desigualdades (SILVA, 2003, p. 17) A esta questão soma-se o esforço da UNESCO em mudar o olhar do Brasil sobre a história do negro. Já em 1964 a organização iniciou uma caminhada tentando mostrar ao mundo uma história da África contada pelos próprios africanos, demonstrando que as regiões africanas eram povoadas por sociedades organizadas e não apenas por tribos. Deste modo, a historiografia africana foi contada com olhares livres de estereótipos. Isso foi possível pelo trabalho de 350 cientistas, sendo dois terços deles, africanos. Esta pesquisa deu origem a uma coleção que, a princípio teve edições em inglês, francês e árabe, entre as décadas de 80 e 90. Assim, a sociedade pode perceber que a história africana não se restringiu, nem se resumiu ao tráfico de escravos e à pobreza. A parceria da Unesco-Brasil2 com a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação (secad-MEC) teve o objetivo de tentar preencher essa lacuna na formação educacional do povo brasileiro. Cremos que é relevante citar um dado que é bem recente, um mapa sobre a população segundo “cor e raça”, este foi lançado no dia 07 de novembro de 2013 durante a III Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Conapir), em pareceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Este mapa referencia o percentual da população negra no Brasil, levando em consideração o Censo Demográfico de 2010. Os dados apresentados poderão contribuir para o direcionamento de políticas públicas baseadas na real necessidade de cada região, por exemplo: ➢ Localidades com população branca em maior número têm renda per capita superior, quando comparadas com as localidades com a maioria da população negra; ➢ No Estado do Rio de Janeiro, existe grande diferença entre os bairros de classe A e B e as favelas, pois, estas são habitadas em sua maioria por cidadãos afro-brasileiros; ➢ No Rio Grande do Sul existem quilombos urbanos, onde a situação econômica é nitidamente inferior. Estes dados foram retirados do site http://www.portaldaigualdade.gov.br/noticias/ultimas_noticias/2013/11/201cmapa-da-populacaosegundo-cor-e-raca201d-e-lancado-durante-a-iii-conapir/?searchterm=mapa . Acessado em 08-11-2013. Estes dados são importantes para que possamos entender a pertinência na continuidade sobre os estudos e pesquisas a respeito da diversidade racial, e a importância de dar visibilidade a estas questões que podem auxiliar tanto na elaboração de políticas públicas, quanto na afirmação das identidades sociais dos afro-descentes, e possivelmente de uma minimização desta exclusão que o país ainda vive, mas parece não querer perceber. CONSIDERAÇÕES FINAIS Acreditamos que, os estudos sobre os novos letramentos, podem auxiliar a prática pedagógica do professor, fazendo com que ele reflita a respeito da diversidade étnico/racial 2 Disponível em :<http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-office/singleview/news/general_history_of_africa_collection_in_portuguese-1/#.UnzYw3lTscA> acesso em . em 29/06/2013. em sua classe, utilizando de diferentes abordagens para chegar a determinadas reflexões, pois este tema, como todo tema polêmico pede um cuidado especial ao ser levado para a sala de aula. Porque a intenção é que o aluno seja capaz de refletir, se posicionar, de maneira crítica. Nesta questão, entendemos que os documentos oficiais podem ser um norteador da prática, posto que a algum tempo já abordam estes temas, assim eles podem ser um norteador na reflexão sobre a diversidade, mas ao mesmo tempo também, valorizar, empoderar, e não afirmar o preconceito latente ou silenciar. Apesar de o termo Raça, ter sido ressignificado pelo movimento negro, a sociedade como um todo precisa entender que raça refere-se ao conceito biológico, justamente pelo motivo dessas questões serem historicamente construídas, segundo Ferreira (2011) o trabalho para a desconstrução dos estereótipos, da discriminação, do racismo na sociedade ainda estão em processo de desconstrução, e a escola tem um importante papel nesta questão, pois o preconceito, naturalizado e velado ainda é muito grande. Assim, as reflexões sobre as novas teorias de letramento, trazem à tona a necessidade da relação entre teoria e prática, por isso, entendemos que as questões sobre diversidade étnico /racial podem e devem ser discutidas em sala de aula, também com o auxílio de práticas pedagógicas diferenciadas. Nesta questão Henriques (2002) pontua que a desigualdade racial é mascarada pelo silêncio, pois que ela existe de forma velada na sociedade, impedindo a ascensão social da população negra. A educação tem papel importantíssimo. Para tanto, o professor precisa ser capaz de conduzir assuntos polêmicos como o em tema questão, ou seja, é importante o investimento na formação de professores, tanto no que tange às questões de multiletramentos, diversidade étnico /racial, documentos oficiais e a maneira como eles podem auxiliar e nortear reflexões como estas. Ferreira (2012) constata neste sentido, dificuldades dos professores tanto em formação como em campo de trabalho, para lidar com as questões de pluralidade cultural (mesmo que estas estejam mencionadas em documentos oficiais) no que se refere à raça/etnia. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei Federal n. 10639/2003, de 9 de janeiro de 2003. Ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. Brasília: MEC/SEF, 1998b. BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações ÉtnicoRaciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. 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