XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012
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AUTOCONCEITO DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS E NÍVEL TÉCNICO
Andresa Aparecida Ferreira
Mestranda em Educação pela Faculdade de
Educação da Universidade Estadual de Campinas – FE/UNICAMP
Selma de Cássia Martinelli
Professora Doutora do Programa de Pós-graduação
da Faculdade de Educação da Universidade Estadual
de Campinas – FE/UNICAMP.
Resumo
Este trabalho objetivou avaliar o autoconceito de universitários, do sexo feminino, dos
cursos de pedagogia e licenciaturas e estudantes de nível técnico do curso de
enfermagem. Foi utilizada uma escala de autoconceito com 35 itens, a qual foi
respondida por 379 estudantes de curso técnico e universitário, com idades entre 17 e 58
anos. Os estudantes do curso de Pedagogia e Licenciaturas freqüentavam cinco
universidades particulares e uma universidade pública e os estudantes de curso técnico
freqüentavam uma escola técnica particular, todas de municípios do interior do estado
de São Paulo. Os dados foram analisados pela estatística descritiva e observou-se que os
resultados apresentados em cada subescala e na escala geral de autoconceito esteve
abaixo da média de cada subescala e da escala geral, o que significa que as estudantes
possuem níveis baixos de apreço pessoal, autoestima, satisfação pessoal,
autodeterminação e confiança pessoal. Tais resultados remetem a uma discussão sobre
esses aspectos com relação ao sexo feminino, pois parece haver uma tendência desse
gênero no que diz respeito às baixas autopercepções do indivíduo. Além disso,
considerando que o autoconceito pode influenciar as percepções, julgamentos, decisões
e inferências que os indivíduos realizam sobre si mesmo e sobre os outros, pode-se
levantar hipóteses a respeito das baixas percepções das estudantes com relação a sua
satisfação com o curso e com suas expectativas profissionais. Nesse sentido, reitera-se a
importância da variável e aponta-se a necessidade de futuros estudos, uma vez que o
autoconceito pode estar relacionado com questões do próprio indivíduo, sua relação
com a escola e com o trabalho.
Palavras-chave: autopercepções; autoconceito; estudantes universitários; ensino
superior; ensino técnico.
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As autopercepções têm sido abordadas nas pesquisas como sendo um dos fatores
afetivo-emocionais que podem estar relacionados com aspectos acadêmicos, pessoais e
sociais dos indivíduos. A compreensão das autopercepções, ou seja, a maneira como o
próprio indivíduo se vê ou se avalia, é importante na medida em que podem influenciar,
entre outros, aspectos relativos à motivação, a escolha de atividades, a quantidade de
esforços a ser investida, a tolerância aos obstáculos e a persistência frente às
adversidades ocorridas no decorrer da vida do indivíduo (FONTAINE, 2005). Dentre as
percepções que o indivíduo constrói a respeito de si mesmo destaca-se neste estudo a
variável psicológica referente ao autoconceito.
De acordo com Candieux (1996), ele pode ser definido como um conjunto de
atribuições cognitivas que um indivíduo faz a respeito de si e de seu comportamento em
situações objetivas e das suas características pessoais. Este autor diz ainda que o
autoconceito envolve a avaliação que o indivíduo faz de si mesmo de um modo global,
como também atribuições que faz de características específicas do seu modo de ser,
caracterizando domínios específicos de competência e percepção, relacionados ao
comportamento, aparência, desempenho acadêmico, aceitação social, dentre outros.
Essas características pessoais se encaixam em três tipos principais de percepção, a
saber: descritiva (avaliações conscientes de si, abrangendo aspectos específicos de
capacidades e competências); avaliativa (relativas às respostas emocionais positivas ou
negativas) e de congruência (referente às discrepâncias entre autoavaliação e a avaliação
externa).
Nessa mesma direção, Harter (1996) define autoconceito como sendo as
atribuições que a pessoa faz a respeito de si mesma, como elas se percebem e o que ela
pensa sobre suas características pessoais. A autora assinala que o autoconceito é
construído nas interações e pode ser alterado ao longo da vida, de acordo com
experiências significativas. Os estudos sobre o autoconceito ganham uma nova
interpretação a partir do trabalho desenvolvido por Shavelson, Huebner e Stanton
(1976), quando deixa de ser visto como uma estrutura unidimensional. Os autores
desenvolveram um modelo teórico hierárquico e multidimensional do autoconceito, no
qual o autoconceito geral aparece no ápice e é dividido em componentes acadêmicos
(por exemplo: matemática e leitura) e não acadêmicos (por exemplo: autoconceito
social, emocional e físico), os quais seriam subdivididos em componentes mais
específicos (por exemplo: autoconceito físico em habilidades físicas e aparência física).
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Se por um lado nem todos os pesquisadores aceitem o modelo hieráquico
referente ao autoconceito, por outro a característica multidimensional tem uma
aceitação maior por grande parte dos estudiosos e muitos deles já reconheceram a sua
multidimensionalidade
(CRAVEN;
MARSH;
BURNETT,
2003;
SISTO
e
MARTINELLI, 2006). Nesse sentido, o autoconceito visto como um constructo
multidimensional,
comportamento,
que
envolve
aparência,
atribuições
desempenho
em
domínios
acadêmico
e
específicos
aceitação
social.
como
Seu
desenvolvimento pode ser influenciado pela opinião de pessoas importantes, como
membros familiares e que fazem parte de seu círculo social e de trabalho (GEST;
RULISON; DAVIDSON; WELSH, 2008). É importante destacar que o autoconceito vai
se tornando mais diferenciado e estável à medida que o indivíduo cresce (DONOHUE,
WISE; ROMSKI, 2010).
O autoconceito tem motivado o interesse de muitos pesquisadores e,
relacionados a ele, muitas outras variáveis tem sido estudadas. No estudo específico
desta variável, com estudantes adultos e ou universitários, Bardagi e Boff (2010)
buscaram avaliar os níveis de clareza de autoconceito, autoeficácia e comportamento
exploratório em universitários, em fase de conclusão de curso, as autoras verificaram
que houve correlação positiva entre a auto-eficácia e a clareza de autoconceito. A
clareza de autoconceito refere-se ao quanto as crenças relativas a si mesmo (ou seja, os
atributos pessoais percebidos) são claramente definidas, consistentes e estáveis no
tempo. Essa relação positiva entre auto-eficácia e clareza de autoconceito significa que
quanto mais o sujeito se conhece no papel que desempenha, mais ele depositará em si a
confiança necessária para enfrentar situações aversivas ou processos de mudança. Além
disso, as autoras assinalam que essa íntima relação entre a auto-eficácia e a clareza de
autoconceito influencia diretamente na clareza que o sujeito tem sobre si mesmo e no
quanto ele acredita ser capaz de obter sucesso no desempenho de determinada atividade,
principalmente com relação ao mercado de trabalho que foi o foco do estudo.
A investigação de autopercepções em universitários mostra-se importante
também quando o foco são as decisões de carreira e as percepções profissionais futuras
dos estudantes. Nesse sentido, Teixeira e Gomes (2005) avaliaram a contribuição de
clareza de autoconceito, autoeficácia profissional, comportamento exploratório,
participação em atividades acadêmicas de formação, situação do mercado de trabalho e
percepção pessoal de oportunidades profissionais na predição da decisão de carreira,
entre estudantes em fim de curso universitário. Os resultados evidenciaram que a
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percepção de oportunidades profissionais, a autoeficácia profissional, a clareza de
autoconceito, a exploração de informação, o apoio percebido em relação ao projeto
profissional e uma baixa percepção de barreiras mostraram-se preditores da decisão de
carreira. Quanto ao preditor percepção pessoal de oportunidades profissionais, os
autores dizem que pode ser entendido também como o otimismo dos formandos quanto
ao seu estabelecimento na profissão. Além disso, também mostrou que a autoeficácia
profissional, a situação do mercado de trabalho e o apoio em relação ao projeto
profissional são fatores que contribuem significativamente para a formação de
expectativas positivas quanto ao futuro profissional.
Em estudo realizado por Silva e Vendramini (2005) as autoras objetivaram
avaliar o autoconceito de universitários em disciplinas de estatística, e sua relação com
o curso, turno, semestre, idade e gênero. Os resultados obtidos permitiram afirmar que
há uma correlação positiva entre o autoconceito e o desempenho acadêmico do aluno,
pois o autoconceito acadêmico está intimamente ligado ao desempenho e a dinâmica das
relações que ocorrem no ambiente escolar. Indicadores de correlação entre o
autoconceito e o número de reprovações na disciplina também foram evidenciados.
Apesar dessas considerações, as autoras discutem que ainda não se sabe o quanto o
autoconceito mais elevado pode contribuir para um maior desempenho do aluno, e
conseqüentemente, a diminuição no número de reprovações do mesmo. No que se refere
à relação entre o autoconceito acadêmico e o curso, turno, gênero e idade dos
participantes, não houve diferenças estatisticamente significativas, embora as autoras
ressaltem que é importante considerar as limitações metodológicas, principalmente no
que se refere ao tamanho da amostra (somente dois cursos, da mesma instituição) e que
talvez não tenham permitido verificar de forma mais consistente uma possível
diferenciação entre os gêneros.
No que se refere a essa questão das diferenças entre gêneros alguns estudos têm
apontado que o gênero tem sido considerado uma variável importante na análise do
autoconceito.
Partindo desta indicação Giavoni e Tamayo (2000) realizaram um
trabalho de construção e validação de um Inventário dos Esquemas de Gênero do
Autoconceito (IEGA). Este instrumento avalia dois componentes do autoconceito; os
esquemas masculinos e femininos. Os autores ressaltam que a escala masculina e
feminina apresentaram estruturas multidimensionais. A alternativa de explicação dos
autores é que a perspectiva dicotômica dos conceitos de masculinidade e feminilidade
somada à influência destes conceitos sobre a formação da identidade de gênero e do
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autoconceito, permitem postular que, possivelmente, as estruturas fatoriais dos
esquemas masculinos e femininos devam diferir em função do sexo. Além disso, como
os esquemas cognitivos moldam, filtram e guiam as percepções dos indivíduos, pode-se
postular que a presença destes esquemas de gênero no autoconceito influenciará as
percepções do indivíduo, na medida em que pode influenciar as percepções,
julgamentos, decisões e inferências que realiza sobre si mesmo e sobre os outros.
Estudos preocupados com a diferenciação entre os gêneros em relação ao
autoconceito também têm despertado o interesse de estudiosos do assunto. Assim, Ribas
(1994) analisou a estrutura do autoconceito de pré-adolescentes e adolescentes. Os
resultados evidenciaram que as meninas pré-adolescentes possuem um autoconceito
superior ao dos meninos da mesma faixa etária enquanto que na adolescência os
meninos é que apresentaram um autoconceito mais positivo do que as meninas. Os
adolescentes, de ambos os sexos, por sua vez, parecem ter um autoconceito mais
positivo que os pré-adolescentes.
Com a tendência atual de se considerar as diferenças nos domínios específicos
do autoconceito, alguns achados importantes têm se destacado. No domínio das
habilidades físicas apareceram grandes diferenças entre os sexos. Com relação à
aparência física, os meninos têm apresentado um autoconceito mais elevado que as
meninas, embora essas diferenças comecem somente no início da adolescência. Para
Harter (1990) as garotas consideram os atrativos físicos mais importantes que os
meninos e elas se tornam mais insatisfeitas com sua aparência durante a adolescência
que os garotos.
Tais estudos demonstram o interesse pela variável gênero no sentido de apontar
similaridades e diferenças relacionadas ao autoconceito dos indivíduos. Como se pode
perceber os estudos que vem sendo realizados tratam de uma clientela concentrada em
crianças e adolescentes. No entanto, verificar essa questão relacionada ao sexo em
populações de nível de escolaridade superior, pode trazer evidências relacionadas à
idade, curso, carreira e percepções sobre si e sobre os outros.
Estudos ainda com relação à variável gênero, mas relacionados a outras
variáveis, como percepção pessoal e satisfação tem sido realizados em diferentes
contextos. Souza e Puente-Palácios (2011) realizaram um trabalho em que abordaram o
autoconceito
profissional
como
característica
individual
que
influencia
o
comportamento dos indivíduos no âmbito de trabalho. Dentre os resultados, os autores
relatam que a variável sexo contribuiu para a explicação de satisfação com a equipe de
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trabalho, de maneira que os homens apresentam maiores níveis de satisfação do que as
mulheres.
Dessa forma, as investigações sobre o autoconceito, percepções pessoais e
satisfação, relacionadas ao gênero, parecem diferir dependendo da clientela e do
contexto em que o estudo é realizado. Nesse sentido, torna-se importante verificar o
autoconceito de adultos, estudantes universitários e de nível técnico, especificamente do
sexo feminino, tendo em vista a influência que esse constructo pode exercer em sua vida
acadêmica, pessoal, social e de trabalho.
Método
Participantes
O instrumento foi aplicado em 379 participantes adultos, do sexo feminino, em
sua maioria universitárias (88%) e que frequentavam o curso de Pedagogia. Dentre os
participantes apenas 12% frequentavam curso de nível técnico de enfermagem. Os
estudantes pertencem a instituições públicas e privadas dos municípios de CampinasSP, Ribeirão Preto-SP, Sertãozinho-SP e Ituverava-SP e na faixa etária entre 17 e 58
anos, sendo que a maioria se concentrou na faixa dos 19 aos 25 anos de idade.
Instrumento
Para a realização do estudo foi utilizado uma escala de Avaliação do
Autoconceito em Adultos, que foi construída para este fim e encontra-se em estudo. O
instrumento é composto por 35 itens dispostos em uma escala Likert de 3 pontos para as
assertivas “concordo”, “concordo parcialmente” e “discordo” e avalia a percepção
positiva de autoconceito. A escala é dividida em quatro fatores, a saber: Apreço pessoal
(10 itens); Autoestima (11 itens); Satisfação pessoal (8 itens) e Autodeterminação e
Confiança pessoal (6 itens).
A escala geral permite obter uma pontuação máxima de 70 pontos. O fator
Apreço pessoal pode variar de 0 a 20 pontos apresenta questões relativas a como a
pessoa se vê em relação a si mesma e aos outros. O fator Autoestima varia de 0 a 22, diz
respeito aos aspectos valorativos que a pessoa atribui a si mesma. O fator Satisfação
pessoal pode variar de 0 a 16 e refere-se a como a pessoa se sente com relação ao que
faz ou ao que possui. E, por último, o fator Autodeterminação e Confiança pessoal pode
variar de 0 a 12 e corresponde às questões sobre persistência e confiança no que faz em
diferentes ambientes como o trabalho e a escola (ver quadro 1).
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Resultados
A análise descritiva dos dados revelou que, de maneira geral, a pontuação obtida
pelas estudantes em cada subescala e na escala geral de autoconceito esteve abaixo da
média de cada subescala e da escala geral, conforme pode ser verificado na tabela a
seguir. Os dados apresentados também permitem verificar a pontuação mínima e
máxima obtida em cada uma das subescalas e na escala total (ver tabela 1).
Os resultados apresentados na Tabela 1 permitem afirmar que as médias das
respostas dos participantes, para a escala e subescalas de autoconceito foram 4,49 na
subescala de Apreço pessoal, de 6,27 na subescala de Autoestima, na subescala de
Satisfação pessoal foi de 3,06, de 2,98 na subescala de Autodeterminação e confiança
pessoal e no autoconceito geral a média foi de 16,79. Para a escala de apreço pessoal
pode-se constatar que 90,8% das estudantes estavam abaixo da média da escala e que
apenas 9,3% revelaram ter um bom apreço pessoal. Para a escala de Autoestima, 84,4%
revelaram não apresentar uma boa autoestima, o que significa dizer que não
valorizavam suas características pessoais ou não estavam satisfeitas muito satisfeitas
com elas, com suas capacidades ou habilidades. Para a escala de Satisfação pessoal
89,7% da amostra também revelou ter níveis baixos de satisfação pessoal seja em
relação a sua aparência, trabalho ou vida pessoal. Por último, a avaliação de
autodeterminação e confiança pessoal também esteve abaixo do esperado uma vez que,
87,1% da amostra declarou não se considerar persistente no que faz e confiante de suas
capacidades e habilidades.
Discussão
Os achados do presente estudo, ainda que preliminares, apontam tendências
relacionadas ao sexo feminino. Essa tendência de diferenças de gênero, já vem sendo
apontada por Giavoni e Tamayo (2000) em seu trabalho de construção e validação do
Inventário dos Esquemas de Gênero do Autoconceito (IEGA). Os autores salientam que
esquemas de gênero dizem respeito à psicologia do gênero, a qual permite abordar o
processo de tipificação sexual sob uma nova perspectiva que explora como se forma e
como se representa mentalmente o gênero, ao passo que os indivíduos quando se
autodescrevem utilizam características que compõem os conceitos de masculinidade e
feminilidade. Nesse sentido, os autores relatam que esquemas de gênero no
autoconceito influenciarão as percepções do indivíduo, na medida em que podem
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influenciar as percepções, julgamentos, decisões e inferências que realizam sobre si
mesmo e sobre os outros.
O resultado do presente estudo mostra uma tendência das mulheres apresentarem
níveis baixos de satisfação e de percepção pessoal. Tal resultado confirma os achados de
Souza e Puente-Palácios (2011), pois em seu estudo os autores verificaram que os
homens apresentam maiores níveis de satisfação do que as mulheres. Embora neste
estudo não se tenha investigado o autoconceito de mulheres em comparação ao de
homens, pode-se perceber que estas revelam ter baixas percepções de si mesmas
relativas aos aspectos investigados pelo instrumento.
Uma diferença entre o presente estudo e o realizado por Souza e Puente-Palácios
(2011) é que a diferença no nível de satisfação percebido entre homens e mulheres foi
investigada em uma amostra de indivíduos inseridos em atividades de trabalho relativas
a área de ciências exatas, e que tem sido predominantemente ocupada por pessoas do
gênero masculino. Com isso, os autores chamam a atenção para o fato de que as
mulheres são consideradas minoria e estão, pois, mais sujeitas às discriminações de
sexo e remuneração, por exemplo, o que poderia levar a avaliações inferiores de
satisfação com o trabalho em equipe. Tal justificativa, no entanto, não se aplicaria ao
presente trabalho, uma vez que os cursos aos quais as participantes pertencem, são
relacionadas à área de humanidades, mais especificamente licenciatura, na qual há
predominância do sexo feminino. A hipótese que poderia justificar tal resultado pode
estar relacionada à satisfação pela escolha do curso e suas perspectivas com o mercado
de trabalho.
Considerando tal aspecto, essa hipótese estaria condizente com o trabalho de
Teixeira e Gomes (2005), pois apesar de não ter feito a comparação entre gêneros, os
autores ressaltam que as autopercepções em universitários mostram-se importantes
também quando o foco são as decisões de carreira e as percepções profissionais futuras
dos estudantes. Além disso, quanto ao preditor percepção pessoal de oportunidades
profissionais, os autores dizem que o otimismo dos formandos quanto ao seu
estabelecimento na profissão, bem como a autoeficácia profissional, junto à situação do
mercado de trabalho, são fatores que contribuem significativamente para a formação de
expectativas positivas quanto ao futuro profissional.
Análises desse tipo, comparando grupos dos sexos masculino e feminino, ou
comparação a outros grupos de indivíduos, como por exemplo, mulheres trabalhadoras
ou de outros contextos, podem ser interessantes para se pensar questões relativas à
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própria educação, ao mercado de trabalho, bem como de saúde mental, entre outras
possibilidades.
Ressalta-se ainda que o instrumento proposto mostrou bons índices de
confiabilidade e consistência interna o que reforça a possibilidade de seu uso em
indivíduos adultos e aponta-se para a necessidade de que uma amostra mais
diversificada de participantes também seja avaliada tanto para confirmar sua
confiabilidade quanto para se obter dados de outras populações sobre as questões
avaliadas pelo instrumento. Aspectos relacionados ao desempenho escolar e
autoconceito de indivíduos adultos também poderiam ser investigados.
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Quadro 1- Exemplos dos itens de cada fator da escala “ Avaliação do autoconceito em
adultos”.
Exemplos:
Apreço Pessoal
As pessoas gostam de mim.
( ) Concordo
( ) Concordo Parcialmente
( ) Discordo
Acredito ter uma boa aparência.
( ) Concordo
( ) Concordo Parcialmente
( ) Discordo
( ) Concordo Parcialmente
( ) Discordo
Autoestima
Eu sou tímido(a).
Concordo ( )
Eu me acho lento nas coisas que faço.
Concordo ( )
( ) Concordo Parcialmente
( ) Discordo
Satisfação Pessoal
Estou satisfeito com o meu trabalho.
Concordo ( )
( ) Concordo Parcialmente
( ) Discordo
( ) Concordo Parcialmente
( ) Discordo
Eu me sinto feliz.
Concordo ( )
Autodeterminação e Confiança Pessoal
Eu sou persistente no que faço na escola.
( ) Concordo
( ) Concordo Parcialmente
( ) Discordo
Faço tudo bem feito.
( ) Concordo
( ) Concordo Parcialmente
( ) Discordo
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Tabela 1- Análises descritivas do autoconceito de estudantes universitárias e de
nível técnico.
N
Pontuação
Pontuação
Mínima
Máxima
Média
Desvio
Padrão
Apreço pessoal
379
0
17
4,49
3,62
Autoestima
379
0
21
6,27
4,24
Satisfação pessoal
379
0
14
3,06
2,96
Autodeterminação e
379
0
12
2,98
2,18
379
1
53
16,79
9,81
confiança pessoal
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