PARADIGMAS EDUCACIONAIS: A PESQUISA-AÇÃO COMO PROPOSTA INOVADORA PARA A AÇÃO DOCENTE. MACHADO, Mércia Freire Rocha Cordeiro – IFPR/PUCPR [email protected] Eixo Temático: Didática: Teorias, Metodologias e Práticas Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Este relato apresenta por meio de um breve histórico evolutivo, a influência dos paradigmas na prática docente universitária. Com base na fundamentação conceitual e teórica, buscou-se refletir sobre as mudanças sócio-educacionais na tentativa de entender sua trajetória e influência histórica, repensando a ação docente como contribuição para a construção de uma prática pedagógica diferenciada. A metodologia fundamentou-se na abordagem qualitativa do tipo pesquisa-ação, numa busca de uma interação entre sujeitos e pesquisadores na produção de novos conhecimentos. Este processo de pesquisa-ação teve como participantes os quatorze professores que cursaram a disciplina de Paradigmas Educacionais na Prática Pedagógica do Programa de Mestrado em Educação de uma Universidade particular no Paraná no primeiro semestre de 2009. Por intermédio da revisão bibliográfica dos paradigmas educacionais: conservadores e inovadores abordando as categorias aluno, professor, metodologia, avaliação e escola e das produções individuais e coletivas percebeu-se que todas as áreas do conhecimento, principalmente a educação têm sido desafiada a superar a visão reducionista arraigada pela e na academia, com o propósito de construir uma ação pedagógica transformadora, crítica e reflexiva baseada em um paradigma emergente. O processo investigativo individual e coletivo da pesquisa-ação por meio das teóricas e discussões da prática permitiu perceber que os professores só mudarão a sua prática pedagógica se sentirem uma razão muito forte para isso, às vezes só as comprovações científicas não ultrapassam as manias e tradições de uma prática arraigada, na mesmice, no mais fácil e no menos trabalhoso. A partir desta experiência vivenciada na pesquisa-ação foi possível ratificar que os paradigmas educacionais influenciam na prática pedagógica e que ser um educador atualmente, requer uma mudança paradigmática no que tange a formação cidadãos críticos, produtores do conhecimento e com qualidade de vida. Palavras-chave: Mudança paradigmática. Formação continuada. Paradigmas conservadores. Paradigmas inovadores. 10549 Introdução O programa de Mestrado em Educação de uma Universidade particular do Paraná oferece em sua proposta pedagógica a linha de pesquisa Teoria e Prática Pedagógica na Formação de Professores com o propósito de problematizar, refletir e analisar a prática pedagógica, o ensino, a aprendizagem, as tecnologias educacionais e saberes docentes na formação inicial e continuada dos professores. Vinculado a esta linha, está o grupo de pesquisa, nascedouro desta investigação, cujo foco está na complexidade, na produção do conhecimento e na transformação da realidade, como pressupostos norteadores na prática pedagógica dos professores universitários. O projeto de pesquisa – Paradigmas Educacionais e Formação de Professores - PEFOP investiga a "Prática Pedagógica dos Professores Universitários" tomando como referência o processo dialético, os professores, que também são pesquisadores. Este processo de pesquisa optou por uma abordagem qualitativa tipo pesquisa-ação para fomentar a investigação e a produção de artigos ou relatos dos 14 professores participantes da disciplina Paradigmas educacionais na prática Pedagógica e que atuam nos diferentes níveis de ensino e áreas afins. Por meio desta pesquisa-ação, num processo que envolveu a produção individual e coletiva dos mestrandos e doutorandos matriculados na disciplina, foi possível delinear através de um breve histórico evolutivo os paradigmas conservadores e inovadores e suas possíveis implicações no processo educativo até os dias atuais. Com base na fundamentação conceitual e teórica, buscou-se refletir sobre as mudanças sócio-educacionais na tentativa de entender sua trajetória e influência histórica na construção de uma prática pedagógica diferenciada. O caminho trilhado individual e coletivamente pelos professores permitiu investigar, pesquisar, revisitar, revisar, acrescentar, substituir e produzir conhecimentos para buscar uma prática pedagógica fundamentada num paradigma inovador emergente ou da complexidade. O desafio de toda investigação na área da educação será sempre, a busca de caminhos alternativos para que o professor ultrapasse a posição positivista da ação docente e construam referencias que justifiquem uma mudança paradigmática comprometida com a formação cidadãos críticos, produtores do conhecimento e com qualidade de vida. Este processo de pesquisa - ação foi desenvolvida em três fases. Na primeira delas foi realizada a leitura individual de textos e o levantamento dos pressupostos teóricos e práticos do paradigma conservador nas abordagens pedagógicas: Tradicional, Escolanovista, 10550 Tecnicista. Em seguida abriu-se espaço para a discussão visando à construção de um quadro sinóptico a luz dos pressupostos teóricos dos autores propostos. Na segunda fase, parte-se para a investigação dos paradigmas contemporâneos: Progressista, Holístico, Ensino com Pesquisa, seguida da produção individual de quadro sinóptico sobre os referenciais e finalmente a produção coletiva das principais características de cada abordagem e suas categorias pedagógicas. Na terceira e última fase a discussão acerca dos paradigmas e reflexão sobre a prática pedagógica. Por fim, a construção de um artigo ou relato sobre a temática investigada e o processo desenvolvido. Esta produção final subsidiou as discussões que propiciaram a construção do marco teórico da pesquisa e a proposição de uma prática pedagógica inovadora que possibilite a superação da visão conservadora de reprodução para produção do conhecimento. PARADIGMAS CONSERVADORES: TRADICIONAL, ESCOLA NOVA HUMANISTA E TECNICISTA COMPORTAMENTALISTA Segundo Behrens (2005 p. 17) o século XX manteve a tendência do século XIX, fortemente influenciado pelo método cartesiano – a separação entre mente e matéria e a divisão do conhecimento em campos especializados em busca de uma maior eficácia. O que levou a comunidade científica a considerar o mundo e o conhecimento de forma reducionista, compartimentalizado, especializado e fragmentado. Fortalecendo o movimento de “separação da ciência e ética, da razão e emoção, da ciência e fé e em especial da mente e corpo” (Behrens 2005, p. 19). Portanto passamos a considerar somente como conhecimento científico legítimo o que for comprovável, racional e objetivo. Com a fragmentação do conhecimento, o homem sem perceber se afastou das emoções, passou a viver em crise, atormentado pela sombra da competitividade exacerbada e numa busca incessante do poder e da riqueza. Invertem-se os de padrões e valores da sociedade, o ter passou se sobrepõe ao ser em decorrência do consumismo incentivado pelo sistema econômico. O pensamento newtoniano-cartesiano inevitavelmente atingiu a área educacional em todos os seus níveis. 10551 A visão fragmentada levou os professores e alunos a processos que se restringem à reprodução do conhecimento. As metodologias utilizadas pelos docentes têm estado assentadas na reprodução do conhecimento, na cópia e na imitação. A ênfase do processo pedagógico recai no produto, no resultado, na memorização do conteúdo, restringindo-se em cumprir tarefas repetitivas que, muitas vezes, não apresenta sentido ou significado para quem as realiza. (BEHRENS, 2005, p. 23) A trajetória histórica educacional retrata muitos cenários e um processo em constante transformação decorrentes das influências e contribuições de diversas áreas do conhecimento. No entanto, para fins didáticos é necessário estabelecermos uma caracterização cronológica para que esse processo de evolução seja evidenciado. Analisaremos a influência dos paradigmas na ação docente nas categorias: escola, professor, aluno, metodologia e avaliação investigando os pressupostos que cada abordagem traz como caracterização relevante e significativa. Começaremos com o paradigma conservador tradicional. Nesta abordagem o aluno é caracterizado como um sujeito passivo, obediente, resignado e organizado que deve assimilar/memorizar os conteúdos transmitidos pelo professor. O professor em contrapartida é o detentor de todo conhecimento, com uma postura autoritária, severa e rigorosa, conduzindo os alunos a repetição e a reprodução do conhecimento. A metodologia era fundamentada no método indutivo, sustentada pelos pilares: escute, leia, decore e repita. As aulas eram predominantemente expositivas, centradas no professor. O conteúdo já pronto, fragmentado e acabado, desenvolvido de forma seqüencial e ordenado, desvinculado das outras disciplinas. As avaliações eram aplicadas com ênfase na memorização e mensuradas pela quantidade de atividades realizadas. A escola, no entanto, apresentava-se como um ambiente físico, austero, conservador e cerimonioso, local onde se realizava a educação por excelência. Na abordagem do paradigma conservador por volta dos anos trinta so século passado denominado escola nova humanista o aluno era a figura central do processo ensinoaprendizagem e responsável pelo seu aprendizado. O professor organiza e coordena as atividades planejadas em conjunto com os alunos, mantendo uma postura autentica, positiva e acolhedora. A metodologia centrada na aprendizagem por resolução de problemas, atribuindo destacando a importância dos métodos, das unidades de experiências e dos trabalhos em grupo. A avaliação privilegiava a autoavaliação. Por fim, a escola nesta tendência enfatiza o ensino centrado no aluno tentando mudar o eixo da escola tradicional. Nesse sentido cabe a contribuição de Behrens (2005, p. 47) 10552 Na realidade, houve uma grande dificuldade de implementação desta tendência em larga escala nas instituições de ensino pela falta de equipamento, laboratório e, principalmente, pela falta de preparo do professor para assumir a nova postura. Embora no interior da escola continuasse a proclamação dos procedimentos escolanovistas e democráticos, os professores, em geral, não abdicavam do ensino tradicional. Fundamentada no positivismo, a abordagem tecnicista foi proposta nos anos sessenta do século XX, com uma visão comportamentalista propõe uma prática pedagógica com base nos critérios da eficiência, eficácia e da produtividade, fundamentada no princípio da racionalidade. O aluno considerado um sujeito passivo, condicionado, responsivo, obediente, acrítico e expectador do processo. O professor nesta tendência apresenta-se como o elo entre a verdade científica e o aluno, um transmissor, planejador e reprodutor do conhecimento que utiliza sistemas instrucionais. A metodologia centrada em aulas com organização racional dos meios e modelos mantém a ênfase na continuação da reprodução do conhecimento: repetitivo e mecânico. Para a organização do processo ensino-aprendizagem propõe a utilização de manuais, módulos instrucionais e técnicas de microensino. As avaliações reprodutivas eram formalizadas em dois momentos. O foco era dado ao alcance dos objetivos, com vista ao produto final, e portanto, com altos índices de reprovações. A escola fundamenta seu papel no treino modelando o comportamento dos alunos da época. Resumidamente Behrens (2005, p.48) afirma que, na abordagem tecnicista “a essência da educação não é professor, nem o aluno, mas organização racional dos meios”, para isso exige-se um planejamento sistematizado disposto em forma de objetivos instrucionais observáveis e mensuráveis, com destaque nos procedimentos e a avaliação quantitativa. A autora ainda assinala que foi a partir do século XX, que a ciência que respaldava essas certezas entrou em crise, sendo solicitada uma revisão de posicionamentos e suposições cristalizadas ao longo dos tempos e gradativamente foram sendo colocadas em xeque a excessiva fragmentação, a visão positivista, a unilateralidade do pensamento em detrimento de uma visão mais ampliada e entretecida de vida e de mundo. TRANSICAO PARADIGMÁTICA DA ABORDAGEM CONSERVADORA PARA ABORDAGEM INOVADORA Estamos vivendo um período revolucionário, com mudanças econômicas, culturais, sociais, políticas, religiosas, institucionais, fisiológicas e epistemológicas. Todas as áreas do 10553 conhecimento, inclusive, a Educação, têm sido influenciadas pelos paradigmas da ciência e comprovada por todo o processo de transição histórica da humanidade. Esta trajetória paradigmática impõe desafios para o século XXI impulsionados pela sociedade do conhecimento em encontro com as eras oral, escrita e digital e a necessidade de ultrapassar o conservadorismo newtoniano-cartesino de onde advêm a reprodução do conhecimento para a produção do conhecimento dentro de um paradigma inovador emergente (LÉVY, 1995, p. 7882). Nesta prática pedagógica, em linhas gerais, o professor deve propor estudos sistemáticos e investigações orientadas fomentando a produção do conhecimento. O aluno sai da posição de objeto observado e torna-se sujeito ativo do processo. A escola, no entanto passa a ser uma nova instituição, apta a enfrentar os desafios constantes, decorrentes da instabilidade da sociedade emergente, concebida a partir das discussões compartilhadas entre professores, alunos, gestores e toda comunidade escolar, assumindo uma posição essencial e decisiva na formação de sujeitos aptos para o exercício da cidadania crítica e participativa. As opções metodológicas na visão inovadora favorecem a formação do indivíduo em todas suas dimensões, construída numa abordagem dialética de ação/reflexão/ação consolidada no diálogo e no trabalho coletivo. Importante ressaltar que esta metodologia exige procedimentos de regulação que a tornem séria e rigorosa, que estimule a análise, a capacidade de compor e recompor dados, informações, argumentos e idéias. Ainda no enfoque do paradigma emergente, a avaliação permeia todo o processo educativo, assumindo um caráter contínuo e transformador. Participam do processo o professor e aluno na composição dos critérios de avaliação. A avaliação funciona como um contrato, onde professor e aluno sabem exatamente as suas funções e seus papéis no processo educativo. OS PARADIGMAS INOVADORES: HOLÍSTICO, PROGRESSISTA, ENSINO COM PESQUISA De acordo com Behrens (2005, p. 54) no final do século XX aparecem outras denominações para o paradigma inovador: Cardoso (1995) denomina “holístico”, Prigogine (1986) e Capra (1996) “sistêmico”, Moraes (1997), Boaventura Santos (1989) e Pimentel (1993) “paradigma emergente”. Ainda segundo a autora, os pontos de convergência nos estudos destes autores no que concerne ao paradigma inovador são “a visão da totalidade e a 10554 superação da reprodução para a produção do conhecimento” (BEHRENS, 2005, p. 54). Na entrada do século XXI, Morin (2000) apresenta a denominação “Paradigmas da Complexidade” A ação pedagógica fundamentada nesta nova concepção constitui-se num desafio constante, o qual convida o tempo todo a reflexões e novas atitudes, mobilizando para o questionamento, a dúvida e a incerteza. O paradigma inovador na ciência muda seu eixo norteador. E esta transposição paradigmática requer de nós, educadores, a criação de um processo de confiança, tempo de espera, envolvimento, e a consciência que a quebra de paradigmas não acontece por rupturas. É necessário que assumamos uma postura disciplinar com enfoque globalizador e interdisciplinar do conhecimento, passemos de uma visão mecânica e fragmentada do mundo para uma visão dinâmica e integrada, de uma perspectiva reducionista para a sistêmica e interconectada das relações, do isolamento e individualismo para a partilha e à construção coletiva. Para fins comparativos, analisaremos com a mesma metodologia utilizada nos paradigmas tradicionais, a influência dos paradigmas inovadores na ação docente nas categorias: escola, professor, aluno, metodologia e avaliação investigando os pressupostos que cada abordagem traz como caracterização relevante e significativa. ABORDAGEM SISTEMICA NUMA VISAO HOLÍSTICA A ruptura do paradigma Newtoniano-cartesiano, numa visão simplista analisa o mundo em partes independentes, assim como a associação dos homens que dominam a natureza, que considera a lógica fria e pontual separatista, não encontra mais abrigo neste novo contexto, pela constatação que o homem é um ser complexo, dotado de razão, mas também de emoção, intuição e visão de mundo particular. A abordagem holística ou sistêmica apresenta-se com maior ênfase nas duas últimas décadas do séc. XX e no inicio do séc. XXI. Behrens (2007, p.03) registra que No ano de 1997, a UNESCO realiza um encontro em Paris que envolveu educadores expressivos de todo no mundo. Deste encontro, originou-se o Relatório da Proposta para Educação no século XXI, que destaca a necessidade de focalizar a aprendizagem em quatro grandes pilares: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser. 10555 Em face disto, a autora recomenda Para que ocorram esses processos de aprendizagens significativas, recomenda-se que a prática pedagógica do professor contemple um paradigma novo que venha atender as exigências da sociedade com a produção do conhecimento, em especial, com a oferta dos recursos disponíveis presentes na era oral, escrita e digital (BEHRENS, 2007, p.03). Segundo Behrens (2005, p. 56) a abordagem holística ou sistêmica “busca a superação da fragmentação do conhecimento, o resgate do ser humano com suas inteligências múltiplas, levando à formação de um profissional humano, ético e sensível”. Nesta abordagem o desafio é a transposição da reprodução para a produção do conhecimento e que a educação influencia e é influenciada pelo contexto, com a proposição de um equilíbrio entre as partes sem a anulação de nenhuma delas. O aluno é caracterizado como um ser complexo, único, competente e valioso. O professor, no entanto, atua com a visão interdisciplinar. Assume o papel de parceiro, amigo e colaborador, entretanto é crítico, exigente, reflexivo, engajado e democrático, trabalhando com a visão de totalidade do aluno e do processo. No paradigma holístico, a metodologia de ensino está focada na interdependência e interdisciplinaridade. Contempla um currículo flexível, unindo teoria e prática, considerando as múltiplas inteligências dos alunos em todo o processo de aprendizagem, conduzindo-os a partir de uma prática pedagógica crítica, reflexiva, autônoma e transformadora, onde professores e alunos constroem seus próprios métodos. Trata o aluno como único e valoriza suas vivencias e experiências anteriores. A avaliação, na visão holística é considerada um processo contínuo, que visa o aluno como um todo, considerando as múltiplas inteligências com suas especificidades, direcionando a construção do conhecimento, onde as diferenças somente enriquecem o convívio, trabalhando a unidade na diversidade. O processo avaliativo está a serviço da construção do conhecimento, da harmonia, da conciliação, da aceitação dos diferentes, tendo como premissa uma melhor qualidade de vida. (Behrens, 2005, p. 68). A escola por sua vez, é o local onde o aluno busca sua formação para o exercício da cidadania, onde o significado de educar seja “utilizar práticas pedagógicas que desenvolvam simultaneamente razão, sensação, sentimento, e intuição que estimulem a integração intercultural e a visão planetária das coisas em nome da paz e da unidade do mundo” (CARDOSO, 1995, p.53). 10556 ABORDAGEM PROGRESSISTA Esta abordagem tem como precursor no Brasil o educador Paulo Freire. Caracteriza-se por um processo de busca de transformação social e está alicerçada numa proposta de educação que leva em consideração o indivíduo como um ser que constrói sua própria história e como sujeito influi e é influenciado pelo meio. Segundo Behrens (2005, p. 56) a abordagem progressista, Tem como pressuposto central a transformação social. Instiga o diálogo e a discussão coletiva com forcas propulsoras de uma aprendizagem significativa e contempla os trabalhos coletivos, as parcerias e a participação crítica e reflexiva dos alunos e dos professores. De acordo com Libâneo (1986, p.32) a pedagogia progressista no Brasil, manifesta-se em três tendências “a libertadora, mais conhecida pedagogia de Paulo Freire; a libertária, que reúne os defensores da autogestão pedagógica; a crítico-social dos conteúdos, que, diferentemente das anteriores, acentua a primazia dos conteúdos no seu confronto com as realidades sociais”. Behrens (2006, p. 81) complementa ainda que: Os pressupostos do paradigma inovador na ciência propõem movimentos de evolução, de interconexão, de entropia, de inter-relacionamento e defendem um pensamento em rede, tal qual uma teia, onde todos os seres vivos interagem e são interdependentes uns dos outros. O aluno nesta abordagem participa da construção do conhecimento, portanto assume sua posição como sujeito histórico, responsável, reflexivo e criativo em todo o processo, dividindo com o professor a responsabilidade de sucesso e pelo fracasso do grupo nas atividades e avaliações propostas. O professor progressista por sua vez, torna-se o educadoreducando, o líder, o articulador, o mediador entre o saber elaborado e o conhecimento a ser produzido que tem sua autoridade conquistada pela sua competência acadêmica. É sujeito do processo sem impor suas idéias e concepções, mantendo um relacionamento amoroso, fraterno e solidário com o aluno. As opções metodológicas na visão inovadora progressista contemplam uma abordagem dialética de ação/reflexão/ação alicerçados pela contextualidade, problematização e diálogo. A prática educativa está centrada na reflexão crítica, discussão, 10557 nos relatos de experiências, nos trabalhos coletivos na reflexão de temas geradores levando-se em consideração os aspectos sociais e políticos. O processo de avaliação contínuo, processual e transformador com momentos de autoavaliação e avaliação grupal, no entanto com a exigência, a rigorosidade e a competência necessária. A escola nesta abordagem caracterizase como uma instituição libertadora, democrática, dialógica e crítica, no qual defende a importância dos conteúdos abertos às realidades sociais. ABORDAGEM DO ENSINO COM PESQUISA As transformações na sociedade do conhecimento estão acontecendo rapidamente em todo o mundo, impondo um repensar imediato no ensino oferecido, principalmente nas universidades. Essas mudanças têm exigido uma ruptura na antiga prática docente, onde as metodologias reprodutivas e conservadoras que estavam fundamentadas no escute, leia, decore e repita. O desenvolvimento científico e tecnológico tem funcionado como mola propulsora para que alunos e professores busquem um ensino que priorize a criticidade, criatividade, ética, visão global e a reflexão. Uma das formas metodológicas inovadoras que atendem a estas prerrogativas é a abordagem do ensino com pesquisa. A pesquisa no ensino tem como finalidade primordial "construir a capacidade de (re) construir", de acordo com Demo (1996, p. 1). A pesquisa deve não só ser incentivada como prática pedagógica, mas se tornar uma estratégia de ensino possível para a construção do conhecimento de professores e alunos. Ainda segundo Demo, "educar pela pesquisa tem como condição essencial primeira que o profissional da educação seja pesquisador, ou seja, maneje a pesquisa como princípio científico e educativo" (DEMO, 1996, p. 2). No ensino com pesquisa errar é fundamental para que professor e aluno construam uma base sólida de teoria comprovada na prática. Como afirma Cunha (1996, p. 122), "o conhecimento é sempre provisório, um processo que se refaz a cada momento". Além disso, esta proposta de ensino busca a criatividade e a autonomia, tanto dos alunos quanto dos educadores. Nesta perspectiva, Behrens (2005, p. 84) considera “Como sujeito, o aluno precisa ser instigado a avançar com autonomia, a se exprimir com propriedade, a construir espaços próprios, a tomar iniciativa, a participar com responsabilidade, enfim a fazer acontecer e a aprender a aprender”. 10558 Para esta proposta de mudança, todos os atores do processo, o aluno, o professor, a metodologia, a avaliação e a escola assumem um papeis diferenciados, no entanto que se completam. Um não se justifica sem o outro. Reconhecido como sujeito no processo, o aluno no ensino com pesquisa é um questionador, um investigador, um argumentador, que age com criatividade, tem capacidade produtiva e raciocínio lógico, e principalmente sabe viver com ética e cidadania, ou seja, um aluno que domina e sabe lidar com os novos conhecimentos. O professor assume o papel de educador, mediador, articulador crítico e criativo do processo pedagógico, instigando o aluno a aprender a aprender, ampliando as possibilidades para a emancipação de si mesmo e de seus educandos. A metodologia fundamenta-se na produção do conhecimento pelos alunos e pelos professores com autonomia, com criatividade e criticidade, objetivando ultrapassar o ensino livresco e conservador, numa proposta de fomentar no aluno a capacidade de problematizar, investigar, estudar, refletir e sistematizar o conhecimento. O processo avaliativo se dá de forma contínua, processual e participativa, contemplando critérios discutidos e construídos com os alunos, perdendo assim o sentido de sanção, de autoritarismo e de poder. Desta forma, erige uma escola que busca a melhoria de toda uma sociedade. Um ambiente em que professores e alunos são sujeitos do processo e que juntos gestem projetos na produção do conhecimento. É evidente, que para que todo este processo aconteça com qualidade e atinja os objetivos a que se fundamenta a proposta o significado de pesquisa deve ser re-dimensionado. Nossos alunos estão acostumados a outro enfoque de pesquisa. Realizam trabalhos compilando e copiando informações sem saber o que realmente é importante. Acreditam que quanto mais informações contiverem a pesquisa, mais satisfeito ficará o professor. De acordo com Behrens (2005, p. 85) a pesquisa reprodutiva, “se realizada com seriedade, pode trazer benefícios desde que o aluno saiba tirar proveito dos conteúdos pesquisados”. Behrens (2005, p. 88 e 89) destaca a sugestão de níveis crescentes de pesquisa proposto por Demo (1994) como aproximação da teoria a da prática. Segundo a autora, Demo referenda cinco níveis da pesquisa (BEHRENS, 2005, p.89) conforme figura 1. No primeiro nível a “interpretação reprodutiva no sentido de tomar um texto e sistematizar de modo a reproduzir com fidedignidade. No segundo nível a “interpretação própria, no sentido de tomar um texto e conferir-lhe formato interpretativo pessoal”. Num terceiro nível a “reconstrução no sentido de tomar a construção vigente como ponto de partida e refazer sob signo de uma 10559 proposta”. Como quarto nível denominado construção no sentido “de tomar o que existe como simples referencia e abrir novos caminhos”. E por fim, o quinto e último nível, da criação e descoberta, para a “introdução de novos paradigmas metodológicos, teóricos e práticos”. Figura 1- Níveis Crescentes de Pesquisa Fonte: Machado (2010) adaptado de Behrens (2005, p. 88-89). A interconexão ou aliança destas abordagens possibilitam a construção de um paradigma inovador. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante da caracterização dos paradigmas conservadores e inovadores na educação, e diante da contingência do cenário que se constrói para o século XXI, inevitavelmente, nós, profissionais da educação nos deparamos com a intransferível responsabilidade de assumir novas posturas avançando numa práxis educacional renovada para além dos discursos. Como vivenciamos um momento de transição é certo que nossas convicções, concepções e fazeres escolares não migrarão espontaneamente de uma visão e para uma ação concebidas a partir dos pressupostos do paradigma emergente, como afirma Santos (1987, p.58), ainda “estamos divididos, fragmentados, sabemo-nos a caminho, mas não exatamente onde estamos na jornada.” Para tanto, constituem-se como critérios imprescindíveis na mobilização de alunos e professores rumo a uma aprendizagem voltadas às exigências impostas pelo advento da sociedade do conhecimento, novos procedimentos, metodologias inovadoras, parcerias colaborativas, intenso diálogo, investimento incansável na pesquisa, na leitura e na produção. Para que essa mudança aconteça existe a necessidade de convencimento dos envolvidos, e como ônus e bônus do processo, o direito e dever de arriscar-se, a coragem para transgredir, vontade de transcender e só assim evoluir. Behrens (2005) ao propor uma aliança entre os paradigmas holístico, progressista e ensino com pesquisa, defende a produção do conhecimento com a visão crítica e complexa. Segundo ela, é possível sim, uma transformação histórica no trabalho do professor para a produção do conhecimento fundamentado na visão sistêmica ou holística do homem e da 10560 vida, na abordagem progressista da educação e na proposta metodológica ensino com pesquisa (BEHRENS, 2005). O processo investigativo individual e coletivo da pesquisa-ação por meio das teóricas e discussões da prática permitiu perceber que os professores só mudarão a sua prática pedagógica se sentirem uma razão muito forte para isso, às vezes só as comprovações científicas não ultrapassam as manias e tradições de uma prática arraigada, na mesmice, no mais fácil e no menos trabalhoso. É preciso algo mais para que esse processo seja desencadeado. Algo sentido na pele que faça repensar toda uma prática que de certa forma, já estava estabelecida. E nesta experiência despretensiosa em cumprimento de roteiros acadêmicos somos impactados a repensar individual e coletivamente toda nossa ação docente. É impossível passar refletindo e discutindo pelas quinze semanas e não, pelo menos tentar, mudar a princípio nas pequenas coisas, que em educação se transformam em mil possibilidades. Este é o desafio que se apresenta no relato e deixa para quem quiser e puder o convite para quebrar seus paradigmas e inovar como professor universitário. REFERÊNCIAS BEHRENS, Marilda Aparecida. Paradigma da complexidade: metodologia de projetos, contratos didáticos e portfólios. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006. ___________________________. Projetos de aprendizagem colaborativa num paradigma emergente. In MORAN, José Manuel. Novas tecnologias e mediação pedagógica. 12 ed., Campinas, SP: Papirus, 2006. ___________________________. O paradigma emergente e a prática pedagógica. 2 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005. ___________________________. ALCANTARA. Paulo R; TORRES, Patrícia Lupion Torres; MATOS, Elizete Lúcia Moreira. A prática docente e as mídias educacionais: convergências e divergências. 2007. Disponível em: <http://www.abed.org.br/congresso2007/tc/572007115855AM.pdf>. Acesso em: 15 maio 2009. CARDOSO, Clodoaldo Meneguello. A canção da inteireza: uma visão holística da educação. São Paulo: Summus, 1995. CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. Tradução de Newton Roberval Eichemberg. São Paulo: Cultrix, 1996. DEMO, Pedro. Educar pela pesquisa. Campinas, SP, Autores Associados, 1996. 10561 FLACH, Carla Regina de Camargo, BEHRENS, Marilda Aparecida. Paradigmas educacionais e sua influencia na prática pedagógica. Curitiba, 2008. LÉVY, P. As Tecnologias da Inteligência. Rio de Janeiro: Editora 34, 1995. LIBÂNEO, José Carlos. Tendências Pedagógicas na prática escolar. In: Democratização da Escola Pública: a pedagogia critico-social dos conteúdos. 16ª ed. São Paulo: Loyola, 1999. MORAES. Maria Cândida. O paradigma educacional emergente. 10ª ed. Campinas, SP: Papirus, 1997. ______________________. A realização dos saberes: o desafio do século XXI. Rio de Janeiro: Bertrand, 2001. MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 5ª ed. São Paulo: Cortez; Brasília: UNESCO, 2000. SANTOS, Boaventura de Sousa. Um discurso sobre as ciências. 12ª ed. Porto: Edições Afrontamento, 1987.