URGÊNCIA NA EDUCAÇÃO:
A SUPERAÇÃO DO PARADIGMA DA SOCIEDADE DA PRODUÇÃO DE MASSA
PELA SOCIEDADE DO CONHECIMENTO
Fabiane Lopes de Oliveira*
Graciela Zanchet Bocalon**
Mariana Saad Weinhardt Costa***
Marilda Aparecida Behrens****
“Ensinar e aprender são assim momentos de um processo
maior – o de conhecer , que implica re-conhecer”
Paulo Freire
Este texto apresenta uma síntese produzida numa pesquisa realizada num trabalho coletivo
com professores universitários na disciplina de Paradigmas Contemporâneos na Educação
Superior. A problemática focou a busca da superação do paradigma contemporâneo e levam a
investigar as abordagens que levaram a reprodução do conhecimento e a pesquisar as
abordagens inovadoras que caracterizam o paradigma da complexidade ou emergente.
RESUMO:
Diante de tanto desenvolvimento intelectual, político, social e tecnológico, percebe-se infelizmente que a escola,
não vem evoluindo com a mesma intensidade. O que importa nos dias de hoje é a competência e o conhecimento
que o aluno possui e não o número de horas que ele fica sentado em sala de aula, ouvindo o que o professor
transmite. O presente texto tem a finalidade de apresenta a evolução, paradigmática ocorrida nos séculos XX e
XXI e sua real importância na educação, contendo aspectos relevantes os avanços e os retrocessos. A sociedade
sofre modificações e amplia sua rede de inter-relações com os sujeitos e o conhecimento que se faz urgente e
necessário. O que se espera é uma aprendizagem para a vida, que busque o conhecimento e recupere os valores
perdidos. Enquanto educadores é preciso refletir sobre as práticas pedagógicas e construir uma nova forma de
trabalhar. É preciso romper com uma educação fragmentada, cartesiana e buscar metodologias que preparem a
humanidade para construir uma sociedade mais justa e igualitária veja o homem na sua totalidade.
Palavras-chave: Paradigma; transformação; prática pedagógica; tecnologias.
Paradigma da Ciência
A pesquisa realizada por um grupo de professores universitários permitiu
Percebe-se por meio de leituras e discussões, a evolução dos Paradigmas da Ciência no século
XX e XXI. Segundo Behrens: “Pensar na Educação implica refletir sobre os paradigmas que
caracterizam o século XX e a projeção das mudanças paradigmáticas no início do século
XXI” (2005, p.17).
Neste início de século, vive-se em um período de inquietudes e
questionamentos, onde se coloca em cheque muitas verdades até então inquestionáveis nesse
_______________________________
*Aluna de Disciplina Isolada do Mestrado em Educação da PUCPR, [email protected].
**Graduada em Matemática e Especialista em Educação Matemática. Aluna do Mestrado em Educação,
PUCPR, junho de 2006. Contato: [email protected]
*** Pedagoga, Especialista em Modalidades de Intervenção no Processo de Aprendizagem. Aluna do
Mestrado em Educação, PUCPR, junho de 2006. Contato: [email protected]
**** Professora da PUPR, Pedagoga, Mestre e Doutora em Educação pela PUCSP.
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sentido cabe indagar: Qual o papel dos personagens do processo educativo – professor, aluno,
escola, metodologia e avaliação - frente aos paradigmas inovadores?
Em nossa sociedade muitos fatores interferem para a mudança de
paradigmas, o medo do avanço, do diferente, o enfrentamento do impacto, do novo, a
resistência à inovação e a crise, podem mudar os nossos pilares de sustentação e mudar alguns
conceitos e ações. Uma nova concepção gera instabilidade e a entropia acaba levando os
momentos de reorganização, criação e produção.
Conforme Behrens
Os paradigmas estão em todos os aspectos de nossas vidas, em nossas práticas
cotidianas, religiosas, profissionais, educacionais, sociais e científicas. Conforme
Behrens, diversos autores para definir paradigma apontam Thomas Khun, filósofo e
historiador da ciência, que em sua obra As estruturas das revoluções científicas tem
a preocupação de esclarecer o termo. Segundo Khun (1994, p.225), um paradigma
constitui-se: “a constelação de crenças, valores e técnicas partilhados pelos
membros de uma comunidade científica”. Ao referendar um modelo a força de um
paradigma está constituída no consenso de determinada comunidade científica
durante uma certa época. (2005, p.25)
É necessário que os educadores pensem como responsáveis e co-autores da
história. O papel que se faz urgente desempenhar na Educação é o de inovar com qualidade.
Este processo reflexivo empreende fazer um retrocesso nos paradigmas conservadores, ver e
investigar, como os mesmos evoluíram para chegarem até os inovadores. Os quais as
mudanças que ainda são necessárias para construir as propostas escolares inovadoras na
escola. O esforço para a modificação deve ser conjunto, pois ninguém fará uma renovação
sozinha. O todo será modificado, mas com participação coletiva e responsabilidade de uma
coletividade, imbuídas para realizar as mudanças que se fazem necessárias na Educação do
século XXI.
Os Paradigmas Conservadores: na prática pedagógica
Segundo Behrens (2005, p.41) o paradigma conservador pode ser apresentado
nas abordagens tradicional, escolanovista e tecnicista. Na abordagem tradicional, o muitos
anos (senão séculos) esteve presente na Educação o Paradigma Conservador.A abordagem
tradicional, toma como centro de tudo a transmissão e a reprodução de um conteúdo pronto e
acabado. Nesse sentido, cabe a contribuição de Mizukami (1986, p. 11) quando afirma:
A abordagem tradicional é caracterizada pela concepção de educação como um
produto, já que os modelos a serem alcançados estão pré-estabelecidos, daí a
ausência de ênfase no processo. Trata-se, pois, da transmissão de idéias selecionadas
.
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e organizadas logicamente. Este tipo de concepção de educação é encontrado em
vários momentos da história, permanecendo atualmente sob diferentes formas.
A abordagem tradicional é a forma mais conservadora e também a que
persistiu (e ainda persiste) nos modelos educacionais. Acrescenta-se que esta permaneça
esteja legada a forma de manter o adulto ainda no comando, não permitindo questionamentos
por parte dos alunos. Libâneo comenta a respeito do relacionamento professor-aluno:
Predomina a autoridade do professor que exige atitude receptiva dos alunos e
impede qualquer comunicação entre eles no decorrer da aula. O professor transmite
o conteúdo na forma de verdade a ser absorvida; em conseqüência, a disciplina
imposta é o meio mais eficaz para assegurar a atenção e o silêncio. (1986, p. 24)
A escola neste paradigma tinha a visão de que o aluno, estava ali para
receber informações, pois era um adulto em miniatura, submisso, único e isolado. O aluno era
visto como um depósito vazio de conhecimento, uma tabula rasa, pois ele só teria acesso à
informação se estivesse no ambiente escolar. O professor tradicional é um elemento
imprescindível na transmissão de conteúdos e um repetidor de informações. Sua docência
baseia-se na disciplina e na obediência. Mostra-se como autoridade intelectual e moral, que
fornece receituários e conteúdos fragmentados, não havendo interação como os alunos. Em
geral, utiliza uma metodologia nos modelos prontos, com uma visão cartesiana, que faz com
que o aluno escute, leia, decore e repita os conteúdos. Assim o aluno é receptivo, passivo,
obediente, decora informações e não é questionador. As aulas tradicionais são exclusivamente
expositivas e demonstrativas, onde o professor organiza a ação docente sem permitir a
participação dos alunos. A avaliação na referida abordagem, se dá pela memorização e leva a
reprodução do conteúdo, a exatidão e dos resultados quantitativos.
A escola tradicional funciona como; é uma agência sistematizadora de uma
cultura complexa, pois é o lugar onde se realiza a educação. Tem uma visão utilitarista, tem
concepção vertical, catequética e unificadora. A visão tradicional leva a rigorosidade nos
exames seletivos, nos programas minuciosos, rígidos e coercitivos. Coloca o diploma como
princípio organizador e consagrador do ciclo, ou seja, ele determina o sucesso ou fracasso do
aluno.
A abordagem escolanovista aparece, com a vinda de alguns pensamentos divergentes do
tradicional, “embasada por pressupostos de educadores como Rogers, Dewey, Montessori,
Piaget, a Escola Nova foi acolhida no Brasil, por volta de 1930, num momento histórico de
efervescência de idéias, aspirações e antagonismos políticos, econômicos e sociais”
.
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(BEHRENS, 2005, p.44). Na abordagem escolanovista apresenta grande a ênfase nas relações
interpessoais defende o aluno como centro do processo e busca o desenvolvimento de sua
personalidade, da vida psicológica e emocional, e considera, fundamentos da biologia e da
psicologia e dando ênfase ao indivíduo e a sua atividade criadora” (BEHRENS, 2005 p.44).
A proposição da tendência escolanovista dura pouco tempo. Como comenta
Behrens, “Embora no interior da escola continuasse a proclamação dos procedimentos
escolanovistas e democráticos, os professores, em geral, não abdicavam do ensino
tradicional”. (2005, p. 47) Esta é uma realidade constante nas escolas da época, que reflete
nos dias de hoje.
O aluno, nesta abordagem escolanovista, é figura central do processo ensino
aprendizagem. Aprende pelas descobertas, tem liberdade de aprender, participa das
experiências de aprendizado de maneira ativa e desenvolve iniciativa própria. É ativo no
processo educativo, se apresenta como o principal elaborador do conhecimento humano, é um
ser autônomo, que usa a liberdade para aprender, interage com os demais no processo ensinoaprendizagem respeitando as individualidades. O aluno é alguém que se auto-avalia e se autodesenvolve, responsabilizando-se pelos objetivos referentes à sua aprendizagem. Os alunos,
por meio da avaliação, atingem suas metas pessoais e conseguem maior valorização dos
aspectos afetivos.
Desta forma, a escola nova caracteriza a participação muito mais do que
ativa no processo, pois ela se torna altamente determinante. O professor tem o papel de
facilitador, acolhedor, aconselhador e orientador dos alunos. Sua função é ajudar o aluno a se
organizar, utilizando técnicas de sensibilização. Os sentimentos de cada aluno são
considerados a, sem ameaça. Utiliza atividades centradas nos alunos valorizando o trabalho
em grupo e o incentivo a pesquisa.
A Abordagem Tecnicista acompanha a Revolução Industrial com a visão
de que as fábricas necessitavam de mão de obra que reproduzissem o que era solicitado e
consequentemente as escolas entraram neste mesmo ritmo.
O regime militar no país aliado a uma forma altamente positivista de
pensamento influencia as: experiências e as experimentações planejadas e a quantificadas.
Segundo MIZUKAMI, (1986, p. 19): “Para os positivistas lógicos, enquadrados nesse tipo de
abordagem, o conhecimento consiste na forma de se ordenar as experiências e os eventos do
universo, colocando-os em códigos simbólicos”. O conhecimento apresenta-se fragmentado e
.
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o estudo focaliza as partes e não o todo. Surgem com grande ênfase, as especialidades, como
comenta Behrens ( 2005,p.50) :
A abordagem tecnicista dá ênfase à reprodução do conhecimento. Valoriza as aulas
expositivas e os exercícios repetitivos. A responsabilidade do professor é buscar
procedimentos e técnicas que possibilitem ‘pensar a matéria’ e a ‘cumprir o
programa’. Com a finalidade de provocar a assimilação e a repetição, são utilizados
recursos audiovisuais para facilitar a reprodução fiel do conteúdo.
O aluno na abordagem tecnicista é considerado como um recipiente de
informações. Caracteriza-se como um sujeito é responsivo e acrítico, ou seja, aceita o que lhe
é dado, sem questionamentos. Precisa demonstrar eficiência e produtividade, pois segundo
Behrens (2005, p. 48) ”A forte interferência do positivismo e a cisão entre sujeito e objeto
provocam uma educação fragmentada e mecanicista. Ao separar corpo e mente, a ciência
transfere para a educação e, por conseqüência, ao ensino, um sistema fechado,
compartimentalizado e dividido”.
O professor tecnicista é um instrutor de decisões eficientes e efetivas, que
soluciona o problema, buscando o desempenho do indivíduo. É alguém que transmite e
reproduz conhecimento e prestigia a nota e o comportamento desejado. Emprega a técnica
pela técnica em busca de uma performance. Atendendo ao modelo cartesiano, tem como
objetivo o treinamento dos indivíduos envolvidos. Consequentemente a avaliação nesta
abordagem visa o produto final, focalizando a abordagem da aprendizagem técnica. Realizase basicamente em dois momentos, por meio de pré e pós-testes, resultando em aspectos
mensuráveis de aprendizagem.
A escola tecnicista é uma agência educacional, que educa formalmente, ou
seja, técnica e cientificamente em geral, perdendo de vista a especificidade da educação.
Coloca a educação voltada para os conteúdo, deixando de lado as experiências. No final do
processo, a escola molda o aluno de acordo com a realidade que se apresenta. Fica a escola
com o papel de treinar os alunos, funcionando como modeladora de comportamento humano.
Não se pode esquecer que a abordagem tecnicista, favoreceu para o avanço e
desenvolvimento científico-tecnológico (BEHRENS, 2005, p. 47). Porém, formou para visar
o lucro, ao domínio e a ganância empresarial, ficando o ser humano e a escola fragmentados e
esquecidos de sua totalidade. Segundo Behrens (2005, p.22):
A forte influência do pensamento newtoniano-cartesiano fragmentou o saber,
repartiu o todo... E como esse processo burocrático e robótico restringiu cada
profissional a uma especialidade, impulsionando a especificidade, perdendo a
consciência global e provocando o afastamento da realidade em toda sua plenitude.
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Nas escolas mesmo com um novo paradigma ainda existe uma prática
pedagógica extremamente conservadora, pois continua exigindo a memorização, a repetição, à
cópia, o resultado.
É preciso mudar, fugir do velho modelo de educação e construir uma nova
concepção pedagógica, uma nova forma de trabalhar em educação.
A Transição Paradigmática - da Produção de Massa para Uma Sociedade do
Conhecimento:
Visto os paradigmas conservadores e a forma dos mesmos nas diversas
esferas ligadas à educação, é preciso compreender a importância da transição paradigmática
que ocorreu a partir da década de 1980 aproximadamente, que focalizou a produção do
conhecimento dos alunos e superação da reprodução.
Esta crise paradigmática ou ruptura ocorrida ficou mais urgente frente a três
fatores de grande importância: os avanços tecnológicos ocorridos de forma rápida e que
necessitavam de maior compreensão; a destruição e falta de zelo pelos aspectos naturais que
nos rodeam, sem pensar nas conseqüências das ações; e a forte competitividade, desenfreada,
que rompe com qualquer ética e preocupação para com o próximo. Neste sentido Behrens
comenta:
Com esse vazio, acirrado pela competitividade, mesmo tendo acesso ao mais alto
grau de desenvolvimento tecnológico, o homem passou a viver em crise, alicerçando
conflitos diários, administrando um processo de cobrança de eficiência e eficácia em
favor de um produto e de um capital. (2005, p.22)
Na realidade é preciso superar esses paradigmas conservadores. Não
somente o que os fundamentava, mas também o que os embasava enquanto ações: parar com
cópias e com a visão, fragmentada. O desafio prende-se a unificar os conteúdos, para se ter a
compreensão do todo; a superar a visão acrítica, pois é era preciso estar presente ativamente
na sociedade, opinando e participando da sua construção. Ir além de escutar, ler, decorar e
repetir – escutar o seu próximo e se comunicar com ele; ler o mundo ao qual faz parte;
produzir algo inovador, deixando a sua marca; ousar o novo, sem ter medo de errar, pois
errando, aprende-se.
Nesse sentido Moraes comenta:
Um repensar sobre o assunto passa a ser requerido. Novos debates, novas idéias,
novas contribuições, novas buscas e novas reconstruções, com base em novos
fundamentos. Em conseqüência, inicia-se um processo de mudança conceitual, surge
.
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uma forma de pensamento totalmente diferente, uma transição de um modelo para
outro, tudo isso decorrente da insatisfação com modelos predominantes de
explicação. (...), surge um novo paradigma explicando os fenômenos que o antigo já
não mais explicava. (1998, p. 55)
A urgência de uma sociedade do conhecimento se faz presente quando muda
o enfoque da reprodução para a produção do conhecimento, “levando os alunos a uma nova
sociedade: a do aprender a aprender, a conhecer, a fazer, a conviver, a ser” (Delor, 1996).
Neste novo paradigma são dadas ênfases na visão da totalidade, nas redes, teias, conexões
estabelecidas para ampliar o aprendizado, a forma como o mesmo se dá e os sistemas
integrados, onde todos os envolvidos são peças essenciais para a aprendizagem consciente e
com significado. Pois, “A crise e a resistência fazem parte deste processo de transposição: por
um lado provocam um mal-estar na comunidade científica (...) por outro, instiga cientistas e
intelectuais para reverem teorias e buscarem uma profunda renovação de suas concepções”.
(BEHRENS, 2005, p.27)
É a busca de uma sociedade mais justa e igualitária, onde a aprendizagem se
dá não somente nas salas de aula, mas também em espaços informais. A formação continuada
envolve a crítica, o projeto, a produção, a argumentação, a pesquisa, a participação, a análise,
a elaboração, a criação e o trabalho conjunto que devem estar sempre presentes.
Para tanto, se depara com correntes de profissionais da Educação que
querem esta inovação e lutam para que a transição realmente aconteça. É preciso ter claro que
a sociedade do conhecimento tem um acúmulo de informações muito grande e que são
necessárias intervenções para que sejam feitos bons usos das referidas informações, não
perdendo o foco do ensino-aprendizagem. Pois “o conhecimento de rede desafia a
estruturação estática e permanente, para uma produção do conhecimento intermitente, que
evolui, que acrescenta, que transforma, que cria e recria”. (BEHRENS, 2005, p. 35)
O paradigma Inovador, tem a focalização no pensamento complexo, na
visão da globalidade, na visão holística e num amplo processo de interconexão de redes. Pois,
“Essas teorias inovadoras (...) provocaram uma grande guinada na ciência, desacreditando verdades tidas como
absolutas e inquestionáveis. O desafio e o desequilíbrio impostos (...) levam à proposição de teorias que se
complementam, se interpenetram, como colcha de retalhos ainda por costurar...” (BEHRENS, 2005, p. 36).
Para tanto, segundo a autora o paradigma inovador exige uma aliança entre três abordagens,
holística, ensino com pesquisa e progressista.
Paradigmas Inovadores na prática pedagógica
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3600
Os paradigmas inovadores são defendidos por Behrens (2005) como uma teia
entrelaçada da abordagem holística, progressista e do ensino com pesquisa. A abordagem
holística vai muito além de uma tendência pedagógica, pois apresenta um desafio para
modificar o sujeito enquanto ser vivente. Esta abordagem chama a atenção dos indivíduos,
que vivem num cosmos e que as atitudes de uns vão influenciar diretamente na vida de todos.
Coloca a co-responsabilidade na mão de todos que estão participando ativamente do processo
educativo e da própria vida. Nesse sentido Behrens (2005, p.70) alerta: “A missão educativa
numa abordagem sistêmica precisa cultuar a responsabilidade individual e grupal para aliviar
o sofrimento e provocar o desenvolvimento humano...”. A Abordagem Holística tem como
objetivos, interligar o todo, resgatar o ser humano em sua totalidade, utilizar as inteligências
múltiplas, buscar uma sociedade mais justa e igualitária, o aprender além da sala de aula.
Na abordagem holística, o aluno é visto como alguém que participa da
construção do conhecimento e que usa as sensações, os sentimentos, as emoções e as
intuições para aprender. Ele se envolve no processo educativo e produz seu conhecimento
com autonomia, criatividade, criticidade e espírito investigativo. Apresenta criatividade e
talento e interpreta o conhecimento. É um ser pleno e com potencialidades para desenvolverse por completo. Utiliza e acessa com independência o universo de informações em rede e
vive num mundo de relações, sendo um ser complexo e único. Sabe viver coletivamente,
aprende a aprender e compreender que educação é para toda a vida. Essa abordagem apresenta
grande ênfase no conhecer e atuar com ética, para ser crítico e construtor de uma sociedade
justa e igualitária.
O professor nesta abordagem percebe a importância de um olhar holístico na
educação. Este docente na sua prática pedagógica a superação da fragmentação e da
reprodução de conhecimentos e que instiga o aluno a reconhecer a sua realidade e refletir
sobre ela. (BERHENS, 2005, p.62). Apresenta uma ação pedagógica que conduz à produção
do conhecimento, formando um ser crítico e inovador. O professor, para acompanhar essas
mudanças precisa buscar caminhos alternativos para uma ação docente significativa
preocupada com o futuro da humanidade e todas as suas formas de vida no planeta. Deve
compreender o ver o educando como ser pleno completo e com potencialidades. Procura
empregar uma metodologia, com visão de totalidade. Ao propor projetos criativos e
transformadores que provoquem aprendizagens significativas, estimulando a análise, os
argumentos, a busca de informações. O docente holístico organiza e estrutura as ações de
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forma a possibilitar a construção e reconstrução da prática educativa proposta e a busca de
autonomia e qualidade no processo pedagógico.
A avaliação holística valoriza a reflexão, ação, curiosidade, questionamento
e o espírito crítico. Respeita o aluno como pessoa, com seus limites e avanços, com um
crescimento gradativo, formando profissionais humanos, éticos e sensíveis. Base-a em
resultados mais significativos, superando a fragmentação do conhecimento. Nesta abordagem
os alunos podem aprender com o erro, pois permite um compartilhamento de idéias.
(BEHRENS, 2005, p.68). A visão holística está a serviço da construção do conhecimento e na
aceitação dos diferentes, para uma melhoria da qualidade de vida.
A escola enquanto espaço holístico ecológico e sistêmico, busca preparar os
alunos para atuar em um ambiente que vai além do processo educativo e que vive a emoção,
paixão, sentimento, que são inerentes ao ser humano. É um lugar que promove o
desenvolvimento do sentido da interação e da responsabilidade consigo mesmo e com os
demais e com o planeta. Busca um ensino que privilegie a interdisciplinaridade e facilite o
completo desenvolvimento de todos os educandos. A escola numa abordagem holística
integra as perspectivas globais e da comunidade, cultivando as relações entre o homem, o
mundo a natureza, respeitando as diferenças, trabalhando com o todo conectado como uma
teia de relações. Neste contexto, Behrens (2005, p. 70) acrescenta: “a educação global busca
reconstruir a visão de que o universo é uma totalidade integrada na qual tudo está conectado. Nesse sentido, a
escola precisa promover o desenvolvimento do sentido da integração e a responsabilidade consigo mesmo, com
os demais e com o planeta em todas suas dimensões”. Assim a escola
educa para a vida e não apenas para
fazer a prova.
A Abordagem Progressista alia-se a visão holística para alicerçar o paradigma emergente. A
abordagem progressista dá ênfase ao indivíduo como ser que está a serviço da construção da
sua própria história, por meio de troca de idéias, informações, interação, vivência no coletivo,
entre outros. Segundo Paulo Freire (1992, p.106): “É a “leitura do mundo” exatamente a que
vai possibilitando a decifração cada vez mais crítica da ou das “situações-limites”, mais além
das quais se acha o “inédito viável”. Behrens ainda comenta que “(...) a abordagem
progressista caracteriza-se por um processo de busca de transformação social. Para
desencadear esse processo, torna-se necessário uma educação que propicie uma prática
pedagógica crítica, reflexiva e transformadora”. (2005, p. 72)
O aluno na abordagem progressista é um ser que constrói sua ação
educativa, alguém que compartilha idéias, informações, responsabilidades, decisões entre o
grupo. Sujeito ativo, criativo e que atua como co-responsável e participativo no processo
.
3602
educativo. Vivencia uma relação dialógica, é um sujeito da práxis, estabelece parceria.
Aprende e ao fazê-lo, ensina (Freire, 1992) . É um ser participativo, crítico e criativo na ação
docente, consequentemente tem um maior envolvimento no processo de investigação e
discussão coletiva para buscar a produção do conhecimento, para educar-se permanentemente,
ou seja, aceita que é um ser inacabado.
O professor progressista tem uma relação horizontal com os alunos, na busca
contínua de diálogo (BEHRENS, 2005, p.73). Assume o papel de mediador, engajando-se
com o aluno no ato de conhecer. Busca uma prática pedagógica transformadora embasada no
diálogo, é um líder ético, democrático e autêntico. Respeita os alunos e acredita na sua
capacidade, não impondo sua leitura de mundo. Empenha-se em favor da democratização e na
natureza prática educativa, que é o conhecer. Ensina e ao fazê-lo, aprende ( Freire, 1992).
Busca a formação do homem e a transformação social por meio da conscientização e de uma
postura crítica, reflexiva e alicerçada na comunicação dialógica. Utiliza a mediação para levar
uma formação do indivíduo como ser histórico. A avaliação na abordagem progressista é
contínua, processual e transformadora. Contempla momentos de auto-avaliação e avaliação
grupal. A reflexão e produção de conhecimentos são revisitadas durante e no final do
processo.
A escola progressista proporciona uma educação que possibilite a vivência
no coletivo. Estabelece um clima de troca, diálogo, inter-relação, transformação,
enriquecimento mútuo e está sempre em processo. Comenta Behrens:
A consolidação da abordagem progressista (...) é um desafio a ser transposto dia a
dia. (...) apesar desses referenciais progressistas virem sendo propostos desde os
anos de 80, as escolas, de maneira geral, não conseguiram ultrapassar o ensino
conservador e permanecem restritas à reprodução do conhecimento. (2005, p. 79)
Assim, a escola é uma instituição libertadora, dialógica e crítica. Seu fator
de mudança é a democratização dela mesma. Defende a presença participante dos alunos, das
famílias e todos os envolvidos direta e indiretamente em estudos que resultem na
programação dos conteúdos que serão trabalhados. A escola, respeita a visão de mundo de
cada indivíduo, determinante, participativa e reflexiva na formação do sujeito social.
Abordagem do Ensino com Pesquisa
A terceira abordagem que compõe a teia do Paradigma Inovador é a do
Ensino com Pesquisa. Nesta abordagem, a ênfase é dada para pesquisa como princípio
científico e como produção do conhecimento. O foco é a aprendizagem e para tanto propõe
.
3603
educar pela pesquisa. Demo coloca que “educar pela pesquisa, do ponto de vista metodológico. Não se
trata de uma visão pedagógica (...) O interesse está voltado a fundamentar a importância da pesquisa para a
educação, até o ponto de tornar a pesquisa a maneira escolar e acadêmica de educar”. (1996, p.1).
parceria de professor e alunos
Busca a
com a função de aprender a aprender na produção do
conhecimento e a superação da reprodução.
Com essa visão, “recuperar a relação entre ensino e pesquisa é partir do
pressuposto de que pelo ensino também se faz produção do conhecimento, incluindo a
produção da consciência das novas gerações, fazendo-se sujeitos da própria história (...)”
(CUNHA, 1996, p. 125)
O aluno nesta abordagem é parceiro do trabalho, tem liberdade de
expressão, é crítico. Atuante, argumenta, problematiza, tem capacidade produtiva e adquire
autonomia para ler e refletir criticamente produzindo o conhecimento. Segundo Behrens
(2005,p.24) O aluno é sujeito do processo, “como sujeito, o aluno precisa ser instigado a avançar com
autonomia, a se exprimir com propriedade, a construir espaços próprios, a tomar iniciativa, a participar com
responsabilidade, enfim a fazer acontecer e a aprender a aprender”,
e assim passa a ser responsável pelo
seu processo de aprendizagem.
O professor na abordagem ensino com pesquisa é o orquestrador do
processo educativo (BEHRENS, 2005, p.82). É um ser pesquisador, e exerce orientação
motivadora. Possui conhecimento inovador, consciência crítica, espírito questionador. Faz
uma relação pedagógica interativa e internaliza a pesquisa como atitude cotidiana. Prioriza o
trabalho em equipe como exercício de cidadania coletiva e organizada, estimula recursos a
motivações lúdicas, oferece parceria entre família e escola. A avaliação é contínua, processual
e participativa. O professor gera autonomia e interesse pela pesquisa. Propõe a participação
ativa – individual e grupal. Utiliza o contrato didático, onde professores e alunos têm clareza
de suas funções e papéis, dentro do processo, faz um acompanhamento diário de seu ritmo
participativo e produtivo, a elaboração da avaliação com o intuito de reflexão e de crítica
sobre os conteúdos trabalhados.
A escola na abordagem ensino com pesquisa é um lugar local de cidadania e
espaço produtivo. Ambiente inovador, transformador e participativo e equipado para
pesquisa. Segundo Demo “Educar pela pesquisa tem como condição essencial primeira que o
profissional da educação seja pesquisador, ou seja, maneje a pesquisa como princípio
científico e educativo e a tenha como atitude cotidiana” (1996, p. 2). E não somente o
professor, mas todo o ambiente educativo deve estar imbuído em fomentar esta prática da
pesquisa.
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Posicionamento sobre o Avanço Paradigmático/ Paradigma na Era Digital
Vive-se atualmente num período de perplexidades e incertezas, um tempo de
crises de concepções de paradigmas. Por isso há necessidade de lançar olhares sobre as várias
teorias que permeiam a vida e conduzem a prática pedagógica.
É preciso romper o paradigma cartesiano e buscar uma educação que
perceba o homem em sua totalidade. Busca romper com uma educação fragmentada e
enfrentar o desafio como professores, buscando uma nova prática pedagógica onde o sujeito e
o processo de ensino-aprendizagem andam juntos. Implica numa aprendizagem para a vida,
onde a pessoa busca com o professor o seu conhecimento, a motivação, a satisfação de
freqüentar a escola.
A escola como vem se apresentando precisa de um novo sentido, de um
novo significado. A escola com uma visão inovadora propõe uma educação com valores, com
justiça, igualdade de direitos e com ética.
Por isso, as rupturas paradigmáticas são importantes, pois que busca do
novo empreende partir do passado pensando no futuro e construir o presente.
Assim, os educadores precisam refletir sobre a prática pedagógica. É neste
processo ao analisar, observar, imprimir juízo de valor e especialmente conhecer como a
pessoa aprende.
As
mudanças são fundamentais em todo o processo educativo, pois a
sociedade clama por transformação. A todo o momento estão sendo colocados em cheque os
conhecimentos e metodologias aplicadas nas escolas, pois as mesmas precisam estar sendo
aprimoradas e cotidianamente.
A escola precisa passar a ser um local onde se aprende, ensina e educa. Na
crescente corrida pelo desenvolvimento, não é mais possível estar parado e olhando o futuro
passar diante dos olhos, sem tomar parte do mesmo. Não se pode negar que as informações
estão a cada vez mais velozes e que o professor não consegue mais deter todo o
conhecimento. Neste desafio,cabe destacar o papel e a importância das tecnologias que podem
e devem aprimorar as práticas educativas, pois estes recursos deixam as aulas mais
interessantes e atrativas.
Os professores e os alunos precisam ser agentes de transformação capazes
de reger a sociedade para ideais mais justos e igualitários, proporcionando um aumento cada
vez maior de oportunidades e a diminuição da exclusão social, intelectual e moral de vários
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3605
setores da sociedade. Este deve ser o compromisso ético para com a educação e para com os
cidadãos responsáveis e comprometidos com o mundo melhor.
REFERÊNCIAS:
BEHRENS, Marilda Aparecida. O Paradigma emergente e a prática pedagógica.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.
____________________________Educação:
Champagnat, 1996.
Caminhos
perspectivas.
Curitiba:
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