PROJETO COMUNITÁRIO NA FISIOTERAPIA DA PUCPR E PRÁTICA PEDAGÓGICA: NOVAS
POSSIBILIDADES NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL
Ana Paula Loureiro Cunha, PUCPR
Eliani de Souza Arruda, PUCPR
Marilda Aparecida Behrens, PUCPR
Vera Lúcia Israel, PUCPR
Resumo
Este relato de pesquisa busca discutir as novas possibilidades na formação profissional por meio da aliança entre a vivência
no projeto comunitário e uma prática pedagógica inovadora. O foco de investigação foi a necessidade de se buscar um novo
paradigma educacional que possibilite o resgate do ser humano em sua totalidade, e que supere a transmissão do
conhecimento, com o propósito de formar profissionais com mais consciência de seu papel na sociedade, como um agente
de transformação e proteção do meio ambiente, da sociedade e do ser humano. O projeto comunitário de uma universidade
de grande porte vem de encontro a estas propostas e amplia as possibilidades de transportar tal teoria educacional à prática
pedagógica. A educação universitária, em especial, aquela que resgata a visão social, tem em seu contexto a possibilidade
de agir, interagir e transformar, formando consciência crítica e reflexiva. deste modo a ativa participação do acadêmico de
fisioterapia neste contexto sócio-educacional traz benefícios para sua formação humana e técnica. Este relata de pesquisa
ação permite apresentar a experiência de um projeto comunitário desenvolvido por professores e alunos do Curso de
Fisioterapia de uma universidade de grande porte, junto a idosos institucionalizados. A abordagem pedagógica utilizada foi
a aprendizagem por projetos (BEHRENS, 2003), com 6 (seis) alunos envolvidos e uma seqüência de atividade teóricas e
práticas realizadas com idosos institucionalizados. Na avaliação final do projeto, feita com os alunos participantes, foi
possível verificar que o vinculo entre o projeto comunitário a uma prática pedagógica inovadora possibilitou a aprendizagem
de procedimento próprios da prática profissional, o reconhecimento daquela realidade social e a produção de novos
conhecimentos, como um processo de aprendizagem numa construção coletiva entre aluno e professor.
Palavras-chave: Educação
PROFISSIONAL.
Universitária; Prática Pedagógica; Fisioterapia; Projeto
Comunitário; FORMAÇÃO
Introdução
As mudanças sócio-culturais, econômicas, planetárias entre muitos outros aspectos, exigem novos
paradigmas da ciência e, conseqüentemente, uma nova visão de educação, que leva a novos enfoques. A Global
Alliance for Transforming Education (GATE), diz que é hora de transformar a educação que vem sendo oferecida
para população, para poder fazer frente aos desafios humanos e do meio ambiente na Sociedade do Conhecimento.
Delors (1998) em seu relatório estabelece os quatro pilares da educação contemporânea: aprender a ser, a
fazer, a viver juntos e a conhecer. A educação universitária tem o papel de formar profissionais que irão intervir na
sociedade assim, precisa ter estes pilares como base, para gerar uma formação contemporânea e voltada para as
necessidades dos cidadãos. Estes conhecimentos devem chegar na área da saúde e, de modo especial, à fisioterapia.
Esta compreensão, da mudança na atual conjuntura educacional é também uma forma de recuperação do
papel da universidade na produção de novos conhecimentos e da formação da competência inovadora. Para o
fisioterapeuta em formação o processo de aprendizagem é fundamental para desenvolver coerência e eficiência em
sua prática técnica e social no futuro junto à comunidade na qual atuará. Para estar preparado para uma mudança
temos que antes mudar a maneira de ver e de perceber para então conseguir assimilar tais mudanças e incorporá-las
em nosso cotidiano escolar.
As mudanças exigidas para atuação do professor centram-se na transposição paradigmática. Porém as
percepções do novo momento, da mudança paradigmática, não podem ser interrompidas por noções já rotuladas
sobre este contexto educacional, ou por modelos conservadores, correndo o risco de acabar por neutralizar as
mudanças devido a visões ultrapassadas. Neste contexto, busca-se superar um modelo educacional conservador que
resulta em um conhecimento fragmentado e desconectado da realidade por “um modo de conhecimento capaz de
apreender os objetos em seu contexto, sua complexidade, seu conjunto” (MORIN, 2004, p. 14).
Surge, então, a necessidade de revisar a proposta educativa direcionando-a para o compromisso social mais
amplo e significativo. O momento da formação acadêmico-profissional na graduação torna-se adequado para a
prática do paradigma da complexidade (MORIN, 2002; BEHRENS, 2005; MORAES, 2004; CAPRA, 2002)
interconectando atividade pedagógica a teoria e prática, o ensino e extensão, o conhecimento científico e a pesquisa.
As ações comunitárias desenvolvidas junto ao Projeto Comunitário representam a busca para formação de
um indivíduo consciente de seu papel social. Estimula-se assim uma visão integrada e interconectada com os avanços
tecnológicos, com a formação ética para a atuação profissional e com uma qualificação crítica e responsável para a
transformação social (BEHRENS, 2003). Assim, a função sócio-educacional do acadêmico de fisioterapia deve ser
estimulada e facilita dentro do processo de sua formação universitária.
Objetivo
Dentro desta perspectiva um projeto comunitário intitulado: FISIOTERAPIA - Prevenção e Qualidade de
Vida em Idosos Institucionalizados- foi desenvolvido por professores e alunos do Curso de Fisioterapia da
universidade, em um asilo na cidade de Curitiba/Paraná, e teve como objetivo uma formação mais integral do aluno
participante, para uma visão social da atuação profissional e o resgatando do conhecimento científico na área
específica da fisioterapia.
Metodologia
Optou-se como metodologia por uma pesquisa-ação que envolveu 6 (seis) alunos universitários e 3 (três)
professores num processo de aprendizagem por projetos na busca da vivência significativa na atuação profissional e
da produção do conhecimento relevante e significativo.
Este projeto comunitário utilizou a metodologia de aprendizagem por projetos (BEHRENS, 2000) como
abordagem pedagógica, pois, possibilitOU o encaminhamento de um processo pedagógico que leve à produção do
conhecimento, segundo (BEHRENS, 2003, p. 135):
A opção por um ensino por projetos proporciona a possibilidade de uma aprendizagem pluralista e permite
articulações diferenciadas de cada aluno envolvido no processo. Propicia a diversidade de atividades
metodológicas e o acesso a maneiras diferentes de aprender.
Tendo a aprendizagem por projetos como caminho norteador o projeto comunitário intitulado: Prevenção e
qualidade de vida em idosos institucionalizados foi desenvolvido por três professoras do curso de Fisioterapia com a
participação de 6 (seis) alunos do quinto período do curso. A participação em atividades comunitárias é um dos
requisitos para a formação acadêmica na universidade, portanto a inscrição dos alunos no projeto foi de forma
voluntária, direto na coordenação geral do projeto comunitário da instituição, no Campus de Curitiba.
Dentro de um encaminhamento metodológico de aprendizagem por projetos, uma seqüência de atividades
teóricas e práticas foram desenvolvidas pelos alunos participantes com orientação das professoras responsáveis pelo
projeto. Na fase inicial do projeto foi realizado a Apresentação e discussão do projeto (BEHRENS, 2003) em uma
reunião preparatória, com um esclarecimento sobre o trabalho proposto dentro daquela instituição e o
reconhecimento do local.
No segundo encontro foi realizada uma reflexão sobre as áreas da Fisioterapia que poderiam ser investigadas
e quais as temáticas possíveis, estabelecendo a problematização do tema (BEHRENS, 2003). Este momento foi
importante para a sensibilização dos alunos com relação à clientela a ser atendida, os cuidados e a função social do
projeto. Neste mesmo encontro os alunos procederam a triagem dos idosos institucionalizados que iriam participar
do projeto.
Em um terceiro encontro ocorreu à contextualização (BEHRENS, 2003) do tema escolhido pelo grupo:
Fisioterapia em Gerontologia. O objetivo deste momento foi despertar o interesse dos alunos para os vários aspectos
do tema que poderiam ser pesquisados. Também foram realizadas as avaliações fisioterapêuticas iniciais dos idosos
participantes do projeto.
O desenvolvimento do projeto envolveu 8 (oito) encontros que foram realizadas por meio de discussões
críticas e coletivas (BEHRENS, 2003) a partir de materiais científicos reunidos pelos alunos participantes em
pesquisa individual (BEHRENS, 2003), e intervenções terapêuticas com propósito de prevenção e qualidade de
vida nos idosos institucionalizados participantes do projeto.
Na fase final do projeto foram realizados encontros com o propósito de criar espaço para a produção
coletiva (BEHRENS, 2003) do grupo. Nesta fase reuni-se alguns temas discutidos e as avaliações iniciais e finais
registradas sobre os idosos, bem como a análise dos dados coletados.
O projeto foi concluído com uma produção final (BEHRENS, 2003) do grupo de alunos participantes. Esta
produção final recebeu correções e sugestões dos professores responsáveis pelo projeto e foi encaminhado para
publicação.
O aproveitamento do aluno neste processo de aprendizagem foi registrado na avaliação pedagógica do
projeto comunitário. A avaliação final do processo foi proposta por meio de questionário respondido pelos alunos
questões fechadas e questões abertas. As perguntas envolveram temáticas sobre: as atividades desenvolvidas neste
projeto comunitário; a organização das atividades; a avaliação das atividades teóricas e práticas do projeto; a
aprendizagem neste processo; a participação no projeto comunitário relacionado com a Fisioterapia; a maior
dificuldade encontrada no projeto; e as possíveis sugestões.
O instrumento permitiu reunir os dados de pesquisa coletados que foram organizados e analisados.
Contribuições da pesquisa
Este projeto comunitário foi proposto por meio da metodologia de aprendizagem por projetos, dentro da
área de atuação da Fisioterapia, em um projeto comunitário com o propósito de resgatar a visão social, a produção
do conhecimento e a sensibilização do ser humano durante a formação profissional.
Com relação às atividades desenvolvidas no projeto todos alunos participantes avaliaram como excelente e
consideram que as atividades envolvidas geraram pesquisa científica, produções individuais, discussões coletivas e
práticas terapêuticas com os idosos. A tendência é manter o projeto uma vez que a universidade precisa desenvolver
atividades para a integração e interação de diversas especialidades no sentido da construção de um saber mais
holístico (ARANHA, 1996).
O trabalho em um projeto comunitário nos possibilitou atividades que vivenciaram novas práticas
pedagógicas, em parceria com outras áreas da saúde do idoso, sendo também um processo de maturação do
próprio professor diante de uma nova abordagem pedagógica.
A avaliação da organização das atividades foi positiva e foram classificadas pelos alunos como muito bom (1
aluno) e excelente (5 alunos). Sendo a primeira vez que este projeto comunitário foi desenvolvido com uma
organização didática, a avaliação das atividades práticas obtiveram melhores resultados, apontada pelos 6 alunos
envolvidos como excelente, sendo que as atividades teóricas tiveram uma variação entre excelente (3 alunos), muito
bom (2 alunos) e bom (1 aluno). A prática profissional era o maior interesse dos alunos participantes o que acabou
por resultar em um melhor empenho e, conseqüentemente, melhor avaliação, deste item na avaliação pedagógica.
O questionamento sobre a aprendizagem neste processo, levou os alunos a apontar como excelente (4
alunos) e muito boa (2 alunos). Nesse sentido cabe a contribuição de Morin (2002, p. 25) quando propõe: "a
Universidade precisa superar-se para encontrar a si própria". O projeto atingiu sua meta no que diz respeito à
produção de novos conhecimentos, em um processo de aprendizagem coletiva entre professor e alunos, que permitiu
uma aliança entre o ensino e a extensão dentro de um projeto comunitário.
O novo paradigma educacional, implica na missão da escola em busca da formação integral do cidadão para
formar profissionais competentes, éticos, comprometidos com seu semelhante e com o conhecimento científico.
Ressalta-se que, buscar o conhecimento está “além do dado e da informação e por trás da aparente objetividade”
(TESCAROLO, 2005, p. 25), pois preocupação dos professores, envolvidos neste projeto, foi também com a
elaboração e a produção individual e coletiva do conhecimento enquanto resultado de um processo de
desenvolvimento pessoal e intelectual de cada aluno.
Considerações Finais
O desafio que se impõe à prática pedagógica num paradigma da complexidade (BEHRENS, 2006) leva
todos os professores da educação superior a analisar os pressupostos e teorias que possam gerar novos caminhos na
ação docente como prática cotidiana. Este projeto demonstrou que existem outros caminhos que podem ser
percorridos pelo professor na busca de uma formação mais completa do aluno, com produção de novos
conhecimentos, ressaltando a característica provisória do conhecimento, e a responsabilidade social deste futuro
profissional. No mesmo sentido, Moraes (1997, p.139) define o paradigma que respalda tal abordagem:
O novo paradigma da ciência, além de reintegrar o sujeito na construção do conhecimento, resgata
também a importância do processo ao reconhecer que pensamento e conhecimento, como tudo na
natureza, estão em holo-movimento. Ao mesmo tempo, valoriza a experiência (...) como um princípio básico
na construção do conhecimento.
As mudanças paradigmáticas desencadeadas pela Sociedade do Conhecimento afetam diretamente a
formação dos profissionais em todas as áreas. Cabe ressaltar que o profissional esperado para atuar na sociedade
contemporânea exige, hoje, uma formação qualitativa diferenciada do que se tem ofertado na maioria das
universidades (BEHRENS; MASETTO; MORAN, 2006). Esta experiência vivenciada no projeto comunitário
buscou este diferencial na formação dos alunos envolvidos.
Dentro de um paradigma da complexidade, optou-se por utilizando a aprendizagem por projetos, como
caminho pedagógico, visando à formação holística do aluno e a busca do papel do professor como profissional que
almeja o aprimoramento na atuação docente. Foi possível observar durante a pesquisa que existem novas
possibilidades na formação profissional e que a junção da proposta do projeto comunitário com uma prática
pedagógica inovadora poder ser um caminho a ser trilhado na busca da superação paradigmática conservadora e da
formação mais integral do aluno em um paradigma inovador.
Referências
ARANHA, M. L. A História da educação. São Paulo: Moderna, 1996.
BEHRENS, M. A. O Paradigma emergente e a prática pedagógica. Curitiba: Champagnat, 2003.
_______________ O Paradigma emergente e a prática pedagógica. Petrópolis: Vozes, 2005.
______________ Aprendizagem colaborativa num paradigma emergente. In: BEHRENS, M. A.; MASETTO, M. ;
MORAN, J. M. Novas tecnologias e mediação pedagógica. 10 ed. Campinas: Papirus, 2006LL.
BEHRENS, M. A. (org.) Docência univesitária na sociedade do conhecimento. Curitiba: Champagnat, 2003.
CAPRA, F. As conexões ocultas. São Paulo: Cultrix, 2002.
DELORS, Jacques. Educação : um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez, 1998.
GLOBAL ALLIANCE FOR TRANSFORMING EDUCATION. Educação 2000: uma perspectiva holística.
1991.
MORAES, M. C. O paradigma educacional emergente. São Paulo: Papirus, 1997.
MORAES, M. C. O pensamento eco-sistêmico. Petrópolis: Vozes, 2004.
MORIN, E.; Almeida, M. C.; Carvalho, E. A. Educação e complexidade: os sete saberes e outros ensaios. São
Paulo: Cortez, 2002.
MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação. São Paulo: Cortez, 2004.
TESCAROLO, Ricardo. A escola como sistema complexo: a ação, o poder e o sagrado. São Paulo: Escrituras,
2004.
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